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os meus meninos

antonia costa
os meus meninos

antonia costa
Quatro que valiam por 12

Um dia saindo do hotel


O camareiro me perguntou
“One, two, three, four,
They are all yours?
You must be crazy”
Sou meio maluca,
mas não por ter quatro filhos,
(embora valessem, segundo o pediatra, por 12)

Eram sempre muitos


Se multiplicavam no barulho e nas brigas

Tinha o que enfiou o garfo no braço do outro


Tinha os cartazes desenhados lembrando
Que lugar de copo e louça era na cozinha
E latas de leite condensado melando os lençóis
(porque ele comia direto da lata enquanto lia)
Tinha o que queria ir pra sala
Mas que não ia sozinho porque tinha a saiona
E arranjava o outro como companhia
Tinha o que experimentava tudo que é comida
Até ração de gato
E o que fugia pra casa da avó sem roupa mas de botas
E o que ia pra livraria em vez de voltar pra casa
Tinha a que trazia as amigas e mais um pouco se pudesse

Eles eram muitos


E eu tão pouco
Nove meses

Esperei nove meses


a germinação,
a transformação.

Esperei me transformando,
as veias,
a pele esticada,
a disforme e redonda forma.

Recebi vocês de braços abertos e brilho nos olhos,

agradecendo a vida.
Ver um filme de 007

Quando chega a noite envolvente


o menino fica seduzido e dividido:

“Droga,
eu sabia que vendo o filme
não ia conseguir dormir.
Agora vou passar a noite inteira acordado,
pensando na morte.”
Conferências

O menino dava aulas, conferências, explicações


o dia inteiro, todo dia.

Então,
ele foi proibido,

como ninguém é de ferro


e era grande a vontade de contar
ele sempre arranjava um jeitinho de recomeçar:

“Para saber porque houve reis após a revolução


Devemos retornar não aos Luíses, mas aos Carlos ...”
No Museu de História Natural

Enquanto um dizia:
“Mãe,
quando eu tiver 12 anos venho trabalhar aqui,
com os tiranossaurus rex,
os mamutes, os estegossaurus”.

O outro pedia:
“Mãe,
leva esse filhotinho pra casa
ele é tão bonitinho “.
Menino pequeno

Menino pequeno dedo na tomada.


Ah, mas ele,
era dedo colado no grampo enfiado na tomada.

Menino pequeno dirigindo carro.


Ah, mas ele
era muro, portão junto com carro, e tudo o mais, abaixo.

Menino pequeno
brinca de se afogar?

Ele brincava,
até que um dia
ele puxou a “Ia”
E foram os dois pro fundo da piscina.

Ela quebrou a perna


e ele nem se deu conta.
Anjo de pau oco,
ainda bem que a infância passa rápido.
Porta pantográfica

Porta pantográfica O anjo da guarda


fascinante nome. foi tão competente,
Fascinante espaço que os únicos danos foram
entre a parede e o elevador. uma bota perdida e um dedão furado.

Os dois meninos se mediam:


Você tem coragem? Tenho.

O pé fica preso no exíguo espaço


preso e arrastado
um andar, dois andares.
A cara é de susto, de medo, de culpa.
Explicação sobre a morte

“Já que o meu avô morreu,


porque ele não volta aqui
para me explicar o que é a morte ?”

Assim se desenrolava naquele menino comprido,


nu, enrolado numa toalha,
as primeiras perguntas metafísicas.
Meninos

Os mesmos gestos,
parecenças, sorrisos,
cheiro de menino.

Menino acorda,
tá na hora,
abre o olho.
Gato não escova dente.
Cadê a mochila?
Come devagar.
Pra quê o casaco?

Cresçam e lembrem
desse gostoso tempo nosso.
O espetáculo vai começar

Atenção, atenção!!!
e temos de compenetrados
assistir ao desfile
de changemans,
ginastas,
acrobatas,
cantores ...
do menino magrelo
com os cabelos louros que balançam.

Agora todo cuidado:


precisa bater palma, senão o tal menino
precisa ficar quieto, dá uma bronca danada e
precisa inclusive gostar, começa tudo de novo
Corrigindo o português

Eu quero Coca.
Passa o arroz.
Tuninha me dá a cenola,
ele brincou com ela.
E ela respondeu séria,
do alto dos seus três anos:
“Não é cenola, é cenouuula.”

Cenouuula !!!
Buquinando com filhos

Ver um livro,
folhear outro
e esquecer o mundo.

O menino aproveita a liberdade,


sai correndo e
desliga a escada rolante.
O guarda furioso interpela meu irmão
que ingenuamente tinha ido ao encalce da peste.
Meu irmão furioso me interpela.
Afirmo muito tranquila
só o que queria era buquinar um pouco
e mais, não conheço essa criança,
porque meus filhos são sempre bem educados.
Brincando com máquina

Felipe pequeno entra para brincar


na máquina de secar roupa. Havia esquecido
Entra e sonha que eles sempre conseguem.
como num parque de diversões.
“Cuidado, não fecha a porta.”
Ele não vai conseguir
fechar a porta por dentro
e continuo a escrever.

Corrooo!! Corrooo!! Corrooo!


socorro! saio correndo à procura.
Encontro ele dentro da máquina.
Vermelho, tonto, olhos arregalados
Mas salvo, são e salvo.
Morte

Morte imperdoável,
morte inexplicável.

Vovô morreu, querida,


foi pro céu ...

No dia de voltar de avião,


ela não queria ir, não tinha jeito.
Mas ela explicou, que não queria
encontrar o vovô e nunca mais ver os outros.
Conversa entre pais e filho

Filho, eu preciso sair. Seu filho perdeu a chave.


Mas pai, eu não quero que saia. Manda ele achar.
Mas eu tenho que sair. Já tentei.
Eu perdi a chave. Deixa eu falar com ele.
Vai, abre a porta.
Que porta? Mãe, oi.
Menino, eu vou te dar uma palmada. Tiago, abre essa porta agora...
Você disse que nunca mais ia me bater...
Por favor, meu filhinho ... Num passe de mágica
a chave apareceu.
O telefone:
Eu não faço juramentos.
Estou atrasado e não consigo sair.
Como assim?
Menina

Menina do sorriso escondido,


o mundo sempre foi assunto sério.

Menina você parece boba,


assim séria na vida.

Menina que quando se zanga,


sai do sério, fica brava,
é lata de lixo na cabeça dos outros.

Menina,
às vezes você parece sua mãe
você parece onça.
Hoje, amanhã

Hoje Lucas,
amanhã atleta,
depois de amanhã trapezista,
no outro dia pintor,
mas o mais fácil é ser poeta
(segundo ele só precisa ensinar
como o avô fazia).

Sonhar, sempre sonhar.


Lucas

O mundo é nosso, Tudo é pergunta


dos desesperados, tudo é resposta
dos que têm esperança, tudo é alegria
dos que amam sem fim, tudo é rima.
dos que amam demais.
Tudo é vida.
O mundo é desses,
que sempre se perguntam,
que sempre estão perdidos
e sempre se encontrando.

Vida engraçada
vida com nexo
vida desconexa.
Felipe

Eu gostaria,
que quando te olhassem,
te vissem.

Eu gostaria,
que te vissem sem angústias
sem temores
sem piedade, caridade ou fantasia.

Felipe, não te queria diferente,


queria pessoas diferentes.
Para Antonia

Minhas buscas, minhas dúvidas


são todas suas.

Minhas loucuras, meus sonhos


tudo seu.

De herança te legarei
as inquietações e minhas emoções.

Como conhecimento lhe transmitirei


as perguntas sem respostas.

E como fé a verdade
de que sempre e ainda sempre, precisaremos continuar acreditando.
Dos direitos de escolha

Todos deveríamos poder escolher


irmãos, pais, padrinhos
Assim fez ele:
elegeu, escolheu e contratou
com estipulação de preço,
a Maria como madrinha.
O estalo do Tiago

Menino desce da escada, quase que bato e nada.


Então sobe de uma vez.
Menino desce, você cai. Olhos fechados, corpo mole,
Sobe, vem aqui com a mamãe. e um gemido constante,
durante intermináveis três horas.
O riso gostoso do menino que foge.
De repente, o voo lento e rápido Depois
espaço abaixo até o chão.
bem, depois saiu correndo, brincando
Corro, levo ao colo,
aperto, e ele que ainda não sabia palavra
mexo, teve um estalo
chamo, e desandou a falar.
sacudo
O batizado

Os gestos mágicos do batizado


encantaram o menino.

Assim durante meses,


os gestos se repetiram
os gestos
a água,
o sinal da cruz
a toalha

Ele repetia todo dia


com carinho, respeito e seriedade
o ritual de fé
Análises, terapias, processos

Menino ainda necessárias procuras de caminhos.

Um dia durante uma sessão a terapeuta pergunta como ele se sente e ele
explica:

“Eu me sentia na primeira terapia como um ratinho de laboratório, na outra


que eu fiz me sentia como um robô, aperta um botão, exerce tal função. E aqui
nesse divã, eu me sinto, como um cadáver sendo dissecado”.

Mesmo criança, os caminhos podem ser difíceis.


FOGO !!!

Não é permitida a permanência no local,


ainda existe risco de incêndio.
Salvemos rapidamente nossos mais caros pertences:
Felipe
seus iogurtes e danoninhos
Lucas
os ursinhos num guarda-chuva de Batman e uma bolsa de carrinhos
Tiago, numa fronha (não usa a minha!),
todos os livros que conseguiu pegar
Antonia, por sua vez,
pegou todas as bonecas que conseguiu abraçar
E eu?
Eu levei o bolo de chocolate
que estava muito bom pra jogar fora.
Disney

Naquele mundaréu
eu e cinco meninos,
na volta de um quiosque de informação desaparece o Tiago.

Rua acima, parque abaixo


Ele sumiu, evaporou.
Nós, os outros, aflitos e famintos ficamos procurando.
Ele deve estar faminto, aflito, chorando.

Dei comida aos que ficaram,


deixei uns nos brinquedos,
fiquei aflita, agoniada,
quase chorando, à espera da ovelha desgarrada.
Então, ele aparece,
a cara mais tranquila,
talvez um choro escondido
de menino perdido.

“Eu tive de ir em todos os brinquedos para procurar vocês!”


Ainda não descobri quem perdeu quem, mas detesto parque de diversão
Declaração de fé

“Agora não preciso mais pensar


em me morte,
como vou fazer a primeira comunhão,
eu vou acreditar em Deus.”

Ah, meu Deus me dê essa fé.


Cuidado com a Alpha Centauro.

Barulho de explosão
explosão de choro

A culpa foi dele


ele não parou
a Alpha Centauro caiu na barriga dele

Dor de soco na boca do estomago


é que nem
dor de dente
dor de ouvido
ou de cotovelo.
Frido

Tenho andado com saudades suas


gato de menino é assim mesmo,
gosta do que menino gosta.

Frido tomava banho,


virava bola,
brincava de pique,
mas escovar os dentes,
aí é exagero, Felipe.
Eu não tenho nada

Eu não tenho nada


eu não tenho ninguém
eu não tenho nem mãe
(é o Lucas desconsolado infeliz porque eu saí).

Eu tenho tudo
eu tenho todas as coisas
eu tenho todos os amigos
(é o Lucas realizado porque ganhou presente).

Ele é assim trágico por natureza.


Aprendendo as palavras

Dinossauro,
pterossauro,
tiranossauro, mastodonte.

Nomes que fascinam a infância.

Mas o nome mais engraçado,


aprendi com o Tiago pequeno:
ranforrinco.
Raiva

A discussão
a briga,
depois a raiva
que continua.

As lágrimas explodem,
as veias ardem
os olhos secam.

Quanta raiva
raiva dele e de todo o mundo
e ao mesmo tempo
dava qualquer coisa
pra passar a raiva.
Viajando

Viajar com eles era sempre muito bom

Dessa vez,

O frango com aji era, claro, com pimenta e não com alho
E tinha batata de tudo que é jeito e em toda a parte
A inca-cola era muito ruim
O refrigerante nunca era gelado
O Tiago dava aulas sobre Machu Pichu
E o Chacaltaia era lindo

No trem mais alto do mundo que pegamos para ir de Cuzco a Puno e depois
para o Titicaca e a Bolívia Antonia e Felipe passaram mal com o soroche
A viagem demorou uma vida e sem água ou comida decente
No dia seguinte, depois de dormirmos em Puno
Pegamos o ônibus para a Bolívia
O Felipe só repetia

“Cabou Peru, né mãe?”


Fogo de novo

Ele sempre gostou de brincar com fogo


Um dia encontro uma vela acesa
debaixo da cama da minha tia
Furiosa, peguei a vela e sacodi em cima dele
Nem queimou, mas ele reclamou.
E eu me senti culpada.
De uma outra vez , ele fez uma experiência
Estávamos todos num hotel, de repente
uma fumaça danada
Mas antes de chamar os bombeiros me lembrei dele no banheiro
Tinha posto fogo em todos os rolos de papel
É que queria ver se as chamas se propagariam na banheira
Ele cresceu...
Agora só põe fogo nos fogões
Um dia desses ...

Um dia desses eles


se matam
se engolem
se trucidam
Ainda bem que, no café da manhã
a gente consegue comer panquecas.

Um dia desses
um quebra a cabeça
mas a gente gosta de fazer biscoito.

Um dia desses
os vizinhos nos expulsam
mas a gente desenha e faz origamis.
Pode
não pode
para
larga menino!
Eu não vou mais repetir.
Vai tomar banho menino!

Um dia desses
meu vocabulário fica
minimalista.
Indivíduos

Levava os quatro ao parque de diversões


e gostava de perceber que eram quatro distintos

Um dia resolvi fazer uma experiência


vesti os meninos com a mesma roupa
(a menina não, seria exagero)

No final do dia de brincadeiras no parque

um tinha a roupa desarrumada


o outro toda rasgada
e o terceiro continuava impecável
juro que vi ele brincando
e a menina danada porque tinha sujado a roupa.
A certeza Carinho é isso

Não tinham dúvida


De proteger o pequeno Ao contrário da fé
Que pra existir
Das palavras ruins necessita da dúvida
Dos gestos, dos socos
Esse carinho
Não tinham dúvida Era absoluto
De ajudar o pequeno

Carregavam nas costas


Ficavam do lado

Sem dúvida

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