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Oliveira Júnior, Vlademir Fernandes de.

Cristianismo na prática: sermões na epístola de


Tiago / Vlademir Fernandes de Oliveira Júnior, Porto
Velho, Rondônia: ---, 2018.

1. Sermões 2. Teologia Prática 3. Devocional


I. Título.

-3-
Dedico à minha amada esposa Katiely,
nesse momento gestando nossos gêmeos.
À Igreja Batista Reformada de Porto Velho,
primeiros destinatários dos sermões.
Não fosse a oportunidade de ministrar a essa comunidade,
possivelmente tais mensagens nunca teriam sido produzidas!

-4-
ÍNDICE

PROVAÇÃO E PERSEVERANÇA ................................................................. 06

EM BUSCA DE SABEDORIA NA PROVAÇÃO .............................................. 12

A RELAÇÃO DE DEUS PARA COM O BEM E O MAL .................................. 18

COMO VIVER A FÉ CRISTÃ? ..................................................................... 23

NÃO À ACEPÇÃO DE PESSOAS ................................................................. 30

O TIPO DE FÉ QUE NÃO DEVEMOS TER .................................................. 36

CUIDADO COM A LÍNGUA! ........................................................................ 43

A SABEDORIA DO ALTO ............................................................................ 48

A AMIZADE DO MUNDO É INIMIGA DE DEUS .......................................... 53

SE DEUS QUISER ..................................................................................... 60

RIQUEZA CORROMPIDA ........................................................................... 65

PACIÊNCIA ................................................................................................ 70

ORAI UNS PELOS OUTROS PARA SERDES CURADOS .............................. 77

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 85

INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR ............................................................. 86

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PROVAÇÃO E PERSEVERANÇA
Tiago 1:1-4

1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da Dispersão, saúde.
2 Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações,
3 sabendo que a aprovação da vossa fé produz a perseverança;
4 e a perseverança tenha a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não
faltando em coisa alguma.

INTRODUÇÃO

Ao começar a análise de um livro é importante conhecer seu autor,


contexto de escrita, destinatários e mensagem. Tais informações dão melhor
entendimento acerca do conteúdo.
O livro de Tiago porta o nome de seu autor. Mas, não é dado nenhum
detalhe sobre que Tiago é esse de que se fala. Uma vez que existiam muitos
“Tiagos” naquela época, ficamos com a missão de decidir qual deles é o autor
da epístola. Estudiosos encontraram vários motivos para crer que esse Tiago
é o irmão de Jesus Cristo (Gálatas 1.19)1.
O local de origem é possivelmente Jerusalém. Ele poderia ter escrito
durante o período em que liderou a igreja cristã naquela localidade. A data
gira em torno de 40 d.C.2
Tiago escreve para “às doze tribos da Dispersão”. Mas, sabemos que
eram “seus irmãos” (v.2), ou seja, cristãos. Logo, a expressão “às doze tribos
da Dispersão” faz uma referência, não tão clara, à Igreja do Senhor.
Possivelmente esse público fosse composto por judeus cristãos outrora
espalhados pela perseguição em Jerusalém para as regiões da Fenícia, Chipe
e Antioquia3. Logo, a carta foi direcionada a um grupo muito amplo, várias
igrejas; por isso, ela é incluída num grupo de escritos conhecido como
“Epístolas Gerais”.
A mensagem aborda a necessidade da igreja colocar em prática aquilo
que professava4. Tiago afirma que “a fé sem obras é morta”. Assim, é preciso
que os cristãos mostrem seus bons frutos como resultado de sua vida cristã.
Nesse primeiro sermão, trabalharemos a temática de “provações e
perseverança”. Vamos analisar a função das provações e perceber que elas
também são instrumentos de Deus para edificação de seus filhos.

I – DE INCRÉDULO A CRENTE

Tiago tem interesse em falar sobre o “nascimento” do cristão. Ele


mostra que após o pecado consumado, e a “entrada” da morte, há uma
dádiva de Deus, que vem do alto, e, “segundo a sua própria vontade, ele nos
gerou pela palavra da verdade” (1.18). Ou seja, Deus nos deu uma nova vida.

1 CARSON, D. A. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. pp. 454-458.
2 Idem.
3 Ibid.
4 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 11.

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O próprio autor viveu essa experiência de transformação. A Bíblia nos
mostra que Tiago era incrédulo (João 7.2-5). Contudo, mais tarde veio a ser
um líder na igreja em Jerusalém. Sua proeminência foi tal que diversas
passagens o mencionam. Teve a incrível oportunidade de se encontrar com o
Senhor Jesus após a ressurreição (1 Coríntios 15.7), estava no pentecoste
(Atos 1.14), Paulo diz que encontrou com Tiago em Jerusalém e ele parecia
ser coluna (liderança) (Gálatas 2.9). Tiago também foi o líder do chamado
“Concílio de Jerusalém” (Atos 15.13). De incrédulo o homem passou a ser
um dos principais defensores e propagadores do evangelho.
Tiago se identifica como servo (v. 1). A verdadeira conversão
justamente é aquela que promove a humildade do ser. Ele poderia se arrogar
como o “Irmão de Jesus”. Como alguém que teria maiores privilégios ou
autoridade. Contudo, sua apresentação é como um humilde servo. Servo de
Deus e de Jesus Cristo.
A palavra grega doulos (escravo, servo) refere-se a uma posição de
obediência completa, humildade absoluta e lealdade inabalável. A
obediência era a tarefa, a humildade, a posição, e a lealdade, o
relacionamento que o senhor esperava de um escravo... Não há
maior tributo para o crente, que ser conhecido como servo de Jesus,
obediente, humilde e legal.5

A vida e postura humilde de Tiago nos mostra como deve ser o


procedimento daquele que nasceu de novo, daquele que foi transformado
pelo poder de Deus: ser obediente, humilde e fiel.

II – DE CRENTE A PERSEGUIDO

Como visto antes, a carta foi enviada “às doze tribos da dispersão”. A
menção de uma dispersão tão cedo no início do cristianismo já antecipa os
comentários sobre perseguição, sofrimento e provação. Os crentes eram
perseguidos pelo império romano, eram “foras da lei”.
Eles eram cidadãos dos céus, mas viviam dispersos na terra. Eles
eram crentes, mas tiveram seus bens saqueados. Eram crentes, mas pobres
e, muitos deles, estavam sendo oprimidos pelos ricos. Eles eram crentes,
mas ficavam enfermos. Crentes, mas sofriam. A vida cristã não é uma
redoma de vidro.6
“O convertido que esperar uma vida cristã fácil terá uma grande
decepção”7.
A vida cristã não significa triunfalismo. Apesar de realmente sermos
bem-aventurados imensamente pela graça de Deus, ainda vivemos neste
mundo de sofrimento. Precisamos confiar em Deus sabendo que Ele não nos
livrará DO sofrimento, mas NO sofrimento. Não nos livrará DAS aflições, mas
NAS aflições da vida.

5 GEORGE, Elizabeth (p.15) apud LOPES (2006, p. 14).


6 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
15.
7 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo André
– SP: Geográfica Editora, 2006. p. 435.

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III – DE PERSEGUIDO A PERSEVERANTE

Ao contrário das tentações, as provações são permitidas por Deus e


visam a um bem maior na vida do crente. As provações, como o próprio texto
aponta, visa trazer perseverança, ou seja, qualidades para o crescimento
espiritual. Lembrando que a maturidade espiritual não se alcança somente
por meio de leitura de livros, mas, também nos embates da vida, nos dilemas
da existência, nas provações de nossa fé.

a) Alegria no sofrimento.

Uma primeira recomendação da carta é que devemos ter por motivo de


grande gozo passar por provações. As lutas são consideradas, são reais;
fazem parte da vida. Jesus Cristo admitiu: “No mundo tereis aflições” (João
16.33). Jó afirmou: “...o homem nasce para tribulação, como as faíscas voam
para cima” (Jó 5.7). As provações procedem de várias fontes: nossa
humanidade, depravação, vida cristã e aquelas que visam exclusivamente a
glória de Deus!
Contudo, todas elas visam fazer o servo do Senhor crescer. Assim, a
postura diante da provação deve ser a de alegria, sabendo que o final de
tudo será benéfico e proveitoso para a fé a para o reino de Deus.
Com certeza temos medo das doenças, da carência, do exílio, da prisão, do
opróbrio, da morte, porque consideramos essas coisas como males; mas
quando entendemos que, pela bondade de Deus, se convertem em socorros e
auxílios para nossa salvação, murmurar seria ingratidão, e não se submeter
voluntariamente a elas é renunciar a paternidade divina.8

b) A provação é passageira.

As provações são passageiras, graças a Deus! Ninguém consegue viver


a vida inteira só no sofrimento. Jó sofreu muito, mas seu sofrimento não
durou a vida inteira. Tiago alerta que: “...tende por motivo de grande gozo o
passardes por várias provações”. A alegria está atrelada ao “passar” pela
provação.
A provação passa. Fica para traz. “O choro pode durar uma noite, mas
a alegria vem pela manhã”. (Salmo 30.5).
A diferença é como se passa pela provação. Uns passam mais rápido,
outros mais lentamente. Uns aprendem mais, outros menos. Mas, todos
passarão por elas.

c) A provação é variada.

O texto diz que existem “várias provações”, “passardes por várias


provações”. Assim, reconhecemos as variedades de provações que nos
acometem. Não são duas ou três provações; não são limitadas há um período
da vida. Na verdade, as provações são diversas, perpassando por toda
nuança de nossa vida. Podemos esperar sermos alcançados por várias
provações: na vida pessoal, familiar, no trabalho, na igreja, na saúde, nos

8 CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015. p. 35.

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relacionamentos, nas amizades. Praticamente tudo em nossa vida é
propenso a ser melhorado e, portanto, alvo de provações e tentações.
Hernandes Dias Lopes9 comenta que a palavra para várias vem do
grego poikilos e significa diversas cores, multicolorido. Assim, as tentações
seriam de várias “cores”, “multicoloridas”. Contudo, a graça de Deus também
é poikilos, multiforme (1 Pedro 4.10).
Calvino10 explica que “O Senhor, pois, nos aflige de várias maneiras,
porque a ambição, a avareza, a inveja, a glutonaria, a intemperança, o
excessivo amor do mundo, e as inumeráveis concupiscências nas quais nos
vemos enredados, não podem ser curadas pela mesma medicina”.
Assim, para cada provação existe uma graça de Deus que nos socorre
e nos ajuda nas dificuldades. Se as provações são diversas, a graça de Deus
muito mais!

Não esqueçamos que o motivo de toda provação é para que alcancemos


a perseverança. Se é para ter “alegria nas provações”, é porque elas nos
conduzirão à perseverança. Se temos que reconhecer que a provação é
passageira, novamente é para fortalecer nossa fé e, por fim, se a provação é
variada, igualmente ela age em todas as áreas de nossa vida para nos trazer
a firmeza, força e continuidade. O fim da provação é a perseverança.

IV – DE PERSEVERANTE A COMPLETO

Como dito anteriormente, a provação é para nos trazer perseverança.


Perseverança é definida como a “paciência com as circunstâncias, ou seja,
coragem e perseverança em face do sofrimento e das dificuldades”11.
A maturidade é caracterizada por essa qualidade. Os imaturos são
impacientes e a impaciência gera precipitações. Temos muitos péssimos
exemplos bíblicos de pessoas que foram impacientes: Abraão (quando
coabitou com Agar), Jacó (quando usurpou a primogenitura do irmão),
Moisés (quando matou o egípcio), Sansão (quando contou seu segredo a
Dalila), Pedro (quando decepou a orelha de Malco), etc.
Deus quer trabalhar em nós para que sejamos melhores, pacientes,
corajosos e perseverantes diante dos dilemas da vida. Ele quer trabalhar em
nós para depois trabalhar através de nós!12 Ele quer trabalhar em nós
visando a nos tornar perfeitos, completos; esse é o objetivo! “e a
perseverança tenha a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos,
não faltando em coisa alguma”.
A provação, assim, tem um caráter pedagógico, de formação de mente
e caráter, para que sejamos santos! “se Deus não nos provasse, mas nos
deixasse livres de problemas, não haveria paciência, a qual outra coisa não é
senão fortaleza da mente em suportar os males”13. O fim é que em
santidade glorifiquemos ao Senhor em nossas vidas e obras.
Para finalizar, qual deve ser nossa atitude em meio às provações?

9 LOPES, 2006, p. 16-17


10 CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015. p. 34.
11 CHAMPLIN, Russel Norman (Vol. 6., p. 16) apud Lopes (2006, p. 18).
12 LOPES, 2006, p. 18
13 CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015. p. 36.

-9-
Em vez de murmurar, de reclamar, de ficar amargo, de enfiar-se em
uma caverna, devemos nos alegrar intensamente. Essa alegria é
confiança segura na soberania de Deus, de que Ele está no controle,
de que Ele sabe o que está fazendo e sabe para onde está nos
levando. (LOPES, 2006, p. 18).

Glória a Deus, que tenhamos essa disposição de vida.

APLICAÇÕES

Vejamos algumas aplicações dessa mensagem.

1. Sejamos servos de Deus. Devemos ser servos, escravos, do Senhor. As


principais características que um servo é ser obediente, humilde e fiel.
Temos tido tais qualidades para com o Senhor? Temos sido servos
obedientes? Humildes? E fieis? Faça uma autoanálise e veja se tais
qualidades estão presentes em sua vida, caso contrário, peça perdão a
Deus e auxílio para ser um servo verdadeiro!
2. Compreendamos a compatibilidade do sofrimento com o evangelho.
Conseguimos entender que a vida cristã não está isenta dos sofrimentos?
Devemos conseguir encarar as circunstâncias, até mesmo as mais
adversas, como doenças, acidentes e calamidades, como algo que é
suscetível até mesmo para cristãos. Devemos compreender que a
ausência de todo mal se dará apenas na eternidade, no céu, na glória.
Aqui, na terra, ainda passaremos por aflições. Portanto, como anda nosso
coração diante do sofrimento? Da provação? Temos tido uma postura
confiante em Deus ou temos nos desesperado? Temos glorificado a Deus,
ou temos blasfemado? Temos passado com alegria, sabendo que o fim de
tudo isso resultará em maior glória ao nome do Senhor, ou nos
arrastamos com tristeza e depressão? A grande pergunta é: qual tem sido
minha postura diante da provação?
3. Entendamos: a provação é diversa, mas passageira. Precisamos
compreender que toda provação é passageira. Como diz o salmista: “o
choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Salmo
30.5). Saibamos ainda que para cada provação Deus nos dá uma graça,
um livramento. Para cada situação, Deus tem um escape, pois “não nos
sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é
fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a
tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela” (1 Coríntios
10.13). Tenhamos essa perspectiva, pois tal conhecimento nos ajudará a
enfrentar as provações.
4. Provações e aperfeiçoamento. As provações não são meros jogos ou
brincadeiras arbitrárias com nossas vidas. Deus tem um belo propósito
para se utilizar delas para nosso crescimento. O fim das provações é
glorificar a Deus construindo em nós um caráter semelhante ao de Jesus
Cristo. A provação é um instrumento útil para a maturidade cristã. O
conhecimento meramente teórico, sem prática, pode não ser suficiente
para a construção do caráter cristão. É preciso que o conhecimento se
torne sabedoria de vida. Não podemos apenas ler o texto bíblico ou

- 10 -
pronunciar para outras pessoas o amor ao próximo, e até aos nossos
inimigos; mas temos, que de fato, amar nossos inimigos! Temos
conversado com aquelas pessoas que não gostam de nós? Temos buscado
fazer o bem a outras pessoas fora no nosso estreito círculo de amizades?
Tenho conseguido perdoar incondicionalmente? A qualquer pessoa?
Mesmo? Tenho tido domínio próprio ou tenho explodido em cólera contra
cônjuge, parentes, amigos e conhecidos? Tenho rejeitado os vícios ou sido
dominado por eles? A maturidade cristã reside em justamente conseguir
passar por mais provas em nossa vida e glorificar a Deus.

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EM BUSCA DE SABEDORIA NA PROVAÇÃO
Tiago 1:5-12

5 Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e
não censura, e ser-lhe-á dada.
6 Peça-a, porém, com fé, não duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar,
que é sublevada e agitada pelo vento.
7 Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa,
8 homem vacilante que é, e inconstante em todos os seus caminhos.
9 Mas o irmão de condição humilde glorie-se na sua exaltação,
10 e o rico no seu abatimento; porque ele passará como a flor da erva.
11 Pois o sol se levanta em seu ardor e faz secar a erva; a sua flor cai e a beleza do seu
aspecto perece; assim murchará também o rico em seus caminhos.
12 Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receberá a
coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam.

INTRODUÇÃO

O livro de Tiago porta o nome de seu autor. Mas, não é dado nenhum
detalhe sobre que Tiago é esse de que se fala. Uma vez que existiam muitos
“Tiagos” naquela época, ficamos com a missão de decidir qual deles é o autor
da epístola. Estudiosos encontraram vários motivos para crer que esse Tiago
é o irmão de Jesus Cristo (Gálatas 1.19)14.
O local de origem é possivelmente Jerusalém. Ele poderia ter escrito
durante o período em que liderou a igreja cristã naquela localidade. A data
giraria em torno de 40 d.C.15
Tiago escreve para “às doze tribos da Dispersão”. Mas, sabemos que
eram “seus irmãos” (v.2), ou seja, cristãos. Logo, a expressão “às doze tribos
da Dispersão” faz uma referência, não tão clara, à Igreja do Senhor.
Possivelmente esse público fosse composto por judeus cristãos outrora
espalhados pela perseguição em Jerusalém para as regiões da Fenícia, Chipe
e Antioquia16. Logo, a carta foi direcionada a várias igrejas; por isso, ela é
incluída num grupo de escritos conhecido como “Epístolas Gerais”.
A mensagem aborda a necessidade da igreja colocar em prática aquilo
que professava17. Tiago afirma que “a fé sem obras é morta”. Assim, é
preciso que os cristãos mostrem seus bons frutos como resultado de sua
vida cristã.
Nesse sermão, trabalharemos “a busca da sabedoria para lidar com as
provações”. Vamos aprender como alcançar a bênção da sabedoria para
tratar as provações a fim de que sejamos aprovados e edificados por Deus.

14 CARSON, D. A. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. pp. 454-458.
15 Idem.
16 Ibid.
17 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 11.

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I – SE ALGUÉM TEM FALTA DE SABEDORIA

a) Que tipo de sabedoria?

É preciso pensarmos sobre o tipo de sabedoria que o autor está


tratando aqui. Muitas vezes as pessoas leem esse texto e começam a orar
para que tenham mais sabedoria para passar no ENEM, em algum concurso
público ou coisa parecida. Outros desejam uma espécie de sabedoria que
lhes impulsione os negócios, alguma estratégia ou descoberta. Contudo, a
sabedoria de que trata o contexto em questão não é um conhecimento
técnico ou habilidades científicas. Na verdade, a sabedoria aqui está ligada
ao conhecimento de Deus para tratar com as provações em nossas vidas. É
mais fácil entender esse pedido lendo a paráfrase da Versão Palavra Viva,
Novo Testamento (VPVNT). “Se algum de vocês precisa de sabedoria para
saber o que Deus quer que faça, peça a ele que dá a todos liberalmente” (grifo
nosso). Logo, tal sabedoria faz referência à vontade de Deus para que
possamos proceder diante das provações. É uma sabedoria, ainda, que nos
faz compreender como viver a orientação anterior: “tende por motivo de
grande gozo o passardes por várias provações”. “Como posso entender a
provação desse ponto de vista? Necessita-se de uma sabedoria mais
elevada”18.
É uma sabedoria no sentido de aplicação ética da Palavra de Deus. É
uma ferramenta para vencer provações e não ganhar vantagens ou dinheiro!

b) Em busca de sabedoria.

Praticamente todas as Bíblias em Português traduzem o versículo 5


incluindo um sonoro “se”, “se alguém...”. Parece que a falta de sabedoria é
indicada aqui como uma exceção, e não a regra. De modo geral, é necessário
que o cristão tenha conhecimento de Deus, de sua Palavra e possua uma
sabedoria tal que lhe seja suficiente para enfrentar muitos dilemas na vida.
O apóstolo João escreveu: “Ora, vós tendes a unção da parte do Santo, e
todos tendes conhecimento.” (1 João 2.20). Contudo, caso a sabedoria lhe
seja pouca para enfrentar novas provações, há um caminho aberto para que
ela seja renovada ou ampliada. O texto diz que aquele que não tiver tal
sabedoria deve pedi-la a Deus.
Há três passos notáveis para alcançarmos a sabedoria: 1) pedir; 2)
pedir a Deus e 3) pedir com fé19.
É importante notarmos um detalhe. Este aspecto da caminhada na
provação é bem pessoal. Claro que temos orientações bíblicas para orarmos
uns pelos outros, ajudarmos uns aos outros, contudo, há um aspecto
bastante individual para o crescimento do cristão que deve ser ressaltado. A
busca individual por sabedoria para solução do problema! Então, o ensino é
expressivo no sentido de que a maioria das situações de nossas vidas devem

18 CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
p. 156.
19 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
19-20.

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ser resolvidas por nós mesmos e carecem de atenção, busca e dedicação
pessoal. É preciso a compreensão do problema, mediante a sabedoria divina,
e a disposição em obedecer a Deus para tomar decisões certas, e resolvê-lo.
Desta forma, somos convencidos de que há um processo extremamente
importante de busca, amadurecimento, entendimento, renúncia e obediência
à Deus para vencermos as provações. Assim, não somos autorizados a
resumir a solução a meros atos instantâneos e aparentemente mágicos. Não
se resolve uma provação jogando sal grosso nos cantos da casa, nem mesmo
bebendo alguma água milagrosa! Este é o ponto! Não podemos desmerecer o
método bíblico de lidar com provações!

c) Alcançando a sabedoria.

Após o pedido sincero, o texto afirma que Deus dá a todos e


liberalmente, sem censura! É um consolo sabermos que nosso Deus nos dá
sabedoria e liberalmente, com muita fartura e extensão. É uma promessa e
devemos acreditar. Ninguém sairá com as “mãos abanando” depois de se
curvar ao Senhor em busca de socorro, orar com fé e clamar por sabedoria a
Deus. O Senhor também falou isso por meio de um belo salmo quando disse:
“Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; aconselhar-te-ei,
tendo-te sob a minha vista”. (Salmo 32.8).
A questão da falta de censura igualmente nos alivia e libera para maior
sinceridade e intimidade nas orações. Quando o texto diz que Deus não
censura significa: que ele não “lança em rosto” (ACF2007), sem “os
repreender por terem pedido” (VPVNT), que “é com muita alegria que ele os
ajudará” (Bíblia “A Mensagem”). “Isto é adicionado para que ninguém
temesse chegar perto demais de Deus”20.
A imagem pode ser ilustrada como um professor que mesmo após
várias e insistentes perguntas de seus alunos continua a orientá-los com
tranquilidade, sem os repreender pela “falta de inteligência”, atenção ou
mesmo disciplina. O Senhor é paciente e se dispõe a nos discipular.

II – SE ALGUÉM TEM FALTA DE FÉ

Tudo até aqui parece muito bom e fácil, contudo temos um grande
obstáculo: a falta de fé! “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11.6)
escreveu o autor aos Hebreus. Tiago também aponta a importância da fé,
mas especificamente no momento da petição. “Peça com fé” foi o seu clamor!
É óbvio que um pedido sem fé será quase um escárnio a Deus, logo não
poderá ser atendido de fato.
O coração dividido não é caminho para triunfar na provação. Se
estivermos com o coração dividido, vamos receber somente a metade
— ou menos! (...) Em nosso comportamento em relação a Deus não
deve haver inconstância, em que queremos que parcialmente as
coisas ocorram do nosso jeito e parcialmente do jeito de Deus21.

20 CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015. p. 39.
21 CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
p. 157.

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A falta de fé indica não só um problema no pedido, mas mais
essencialmente, um problema no próprio cristão. O texto aponta duas
características do incrédulo.

a) Como as ondas do mar.

“Aquele que duvida é semelhante à onda do mar”. O incrédulo é


inconstante. Seus caminhos são incertos. Ora obedece a Deus e está “por
cima” da onda, mas a qualquer vento contrário já se desespera e naufraga
no “vale” entre ondas. Amanhece glorificando a Deus e anoitece praguejando
a vida. Tal pessoa não consegue consistência na vida porque não tem fé! Não
tem fé suficiente para se entregar completamente a Deus e seus desígnios,
nem mesmo fé para abandoná-lo completamente. Desta forma, fica sendo
levada para lá e para cá ao sabor do vento!

b) Como um bipolar.

“Homem vacilante que é”. A palavra vacilante neste versículo vem do


grego dipsychoi que significa duas almas. Almas divididas22.
Assim, mostra que a pessoa fica coxeando entre dois caminhos, duas
opções. Fica sempre com a mente dividida. Tem dupla mente! Seria um
“bipolar” espiritual. Lembremos da orientação do Senhor Jesus Cristo:
“Ninguém pode servir a dois senhores”. Este é o problema da falta de fé.
Pois, inevitavelmente estaremos servindo a dois Senhores. Quando
estivermos crendo e obedecendo a Deus, tudo bem; mas vem inevitavelmente
o momento em que “outro senhor” fala mais alto, por causa da falta de fé. Às
vezes esse outro senhor somos nós mesmos, quando desejamos fazer nossa
vontade, a vontade da carne. Outras vezes esse senhor é externo, encarnado
no mundo ou mesmo na figura do diabo. São todas vozes externas que
tentam nos convencer assim como a serpente convenceu Eva! São vozes,
alternativas, opções até atraentes, que parecem boas, mas no final dão em
caminhos de morte.

A palavra firme do Senhor para esse tipo de pedido e esse tipo de


pessoa é: “Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa”. A
resposta é não! Então, lembre-se, nem toda a oração é respondida ou aceita
pelo Senhor. Esse tipo de oração é uma que não é aceita.

III – UMA APLIÇÃO DE SABEDORIA EM MEIO ÀS TRIBULAÇÕES

Tiago faz uma rápida aplicação da sabedoria nos problemas práticos


que possivelmente a comunidade estaria passando. Ele trata com o
problema da pobreza e da riqueza, uma vez que ambas as condições não
estão imunes aos dilemas da vida.

22 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 21.

- 15 -
(a) O humilde.

Para o irmão humilde, pobre, que passa por dificuldades devido sua
condição, o escritor encoraja a encontrar sabedoria para resolver a situação
na realidade de que o “pobre” pode ser “rico” em Deus. Sua leve e
momentânea tribulação, quando encarada com os olhos fitos no Senhor, e
preservando a vida de comunhão e santidade a Deus, resulta em grande
exaltação futura. O humilde será exaltado e deve-se olhar para tal realidade.

(b) O rico.

Em seguida Tiago fala especificamente aos ricos e abastados. A


orientação é quase uma repreensão. O rico deve perceber que sua riqueza
não o livrará das provações. O rico deverá ser humilde e reconhecer que sua
riqueza para nada serve em termos espirituais; ela não garantirá vitória
nenhuma na batalha espiritual! O conselho é para o rico ser humilde
sabendo que sua riqueza é passageira; ele deve passar pelas tribulações
fitando seus olhos em sua condição, que mesmo sendo abastada, não lhe
garante as conquistas da alma! Assim, o rico deve confiar em Deus.

IV – CONSOLO E RECOMPENSAS

Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado,


receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam.

Já se sabe que há diferença entre “provação” e “tentação”. A tentação


visa a destruição do servo de Deus, aprovação não; ela quer trabalhar em
nós para edificação. O fim da provação é nos moldar segundo a vontade de
Deus, à medida da estatura do varão perfeito.
O texto diz que depois de aprovado, o servo receberá a “coroa da vida”.
O prêmio é a vida eterna, a salvação. A graça de viver com Deus pela
eternidade. Não há prêmio melhor a ser oferecido. Seria até ultraje o Senhor
falar algo como: “Ao que vencer terá um carro novo”, ou “ao que vencer
ganhará um milhão de dólares!”. Blasfêmia! Acaso qualquer bem material
seria de tão alto valor a ponto de suplantar o próprio Deus? Como
recompensa final Deus concede, portanto, o melhor. O maior valor do
universo: Ele mesmo!
O prêmio tão alto mostra a importância da prova. A provação é para
ser vencida. É para ser trabalhada e concluída. Não se joga a provação para
o lado, não se foge da batalha e não se desiste dela. “Deus não nos ajuda
removendo as provações, mas sim fazendo com que elas trabalhem em nosso
favor”23. Essa visão é generalizada, pois estamos considerando o conjunto
de toda provação, o conjunto que inclui o processo inteiro de crescimento de
nossa vida.
Aquele que não for capaz de superar as provas, aquele que não crê,
que não se entrega à providência de Deus, não poderá alcançar a coroa da

23 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume III. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006. p. 439.

- 16 -
vida! Um paralelo desse entendimento é visto em Apocalipse. “Ao que vencer,
dar-lhe-ei a comer da árvore da vida” (Ap 2.7); “Ao que vencer darei do maná
escondido” (Ap 2.17); “Ao que vencer, e ao que guardar as minhas obras até
o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações” (Ap 2.26); “Ao que vencer, eu
lhe concederei que se assente comigo no meu trono” (Ap 3.21).

APLICAÇÕES

Vejamos algumas aplicações.

1- Precisamos de sabedoria para viver. Para alcançar a sabedoria divina é


preciso “pedir”, “pedir a Deus” e “pedir com fé”. Às vezes buscamos
sabedoria em diversos lugares, menos em Deus! No momento do
aperto, conversamos com amigos, ouvimos parentes, buscamos livros,
etc. E Deus? E o conhecimento do Senhor? Precisamos, na verdade, é
saber e obedecer à vontade de Deus. “(...) somente o Senhor pode
curar nossas doenças e aliviar nossas carências”24.
2- Na oração é preciso fé. Se não houver fé de que Deus pode nos ouvir e
responder, a oração não será bem-sucedida. “Sem fé é impossível
agradar a Deus!”. Assim, esse ensino nos serve de alerta de que nem
toda oração é ouvida por Deus. Não é possível agradar a Deus com
mente dividida!
Toda tribulação e provação vencida tem o propósito de nos tornar
melhor. Há uma grande recompensa para quem é vencedor diante de Deus:
a “coroa da vida”! Tenhamos em mente que “aflições deste tempo presente
não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada”.
(Romanos 8.18).

24 CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015. p. 38.

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A RELAÇÃO DE DEUS PARA COM O BEM E O MAL
Tiago 1:13-18

13 Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado
pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.
14 Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.
15 Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez
consumado, gera a morte.
16 Não vos enganeis, meus amados irmãos.
17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem
não pode existir variação ou sombra de mudança.
18 Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos
como que primícias das suas criaturas.

INTRODUÇÃO

Tiago deseja mostrar, nessa passagem, o caráter de Deus ante o mal,


sua distância ontológica do pecado, bem como mostrar, como contraste, a
fraqueza do homem e sua condição de potencial “fabricante” de pecado. Na
sequência, o autor mostra que todo bem procede de Deus, Ele é a origem; em
contraposição, o homem é dependente dessas dádivas e receptáculo de tais
bênçãos.

I – PROVAÇÃO E TENTAÇÃO

Podemos relembrar a diferença entre provação e tentação. O versículo


12 mostra como é feliz o homem que suporta a provação, pois depois disso
receberá a coroa da vida. A provação, assim, visa amadurecimento,
crescimento na vida do crente. Ela tem por objetivo final bênção e não
maldição. A vida eterna e não condenação.
A tentação, ao contrário, sobrevém justamente visando a destruição.
Ela tem um carácter intrinsicamente mal com objetivos pérfidos.
Normalmente é orquestrada pelo diabo e seus demônios. Wiersbe (2006)
afirma que “As tribulações podem ser provas enviadas por Deus ou tentações
enviadas por Satanás e estimuladas por nossa própria natureza decaída”25.
Hernandes Dias Lopes comenta: “Deus nos prova como provou a
Abraão, mas Ele não nos tenta. A prova é para santificar-nos. A tentação é
para derrubar-nos”26.
O fato é que todos estão sujeitos à provações e tentações. Quanto a
estas, o Senhor Jesus nos ensinou a orar pedindo livramento: “(...) não nos
deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal’ (Mateus 6.13).

II – DEUS E A ORIGEM DO MAL

Um aspecto do caráter de Deus e de sua perfeição é mostrado no


versículo 13. Aqui, Deus é retratado como um ser puro, perfeito, santo e que

25 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006. p. 441.
26 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
25.

- 18 -
não é suscetível, em hipótese alguma, ao erro, falha, pecado ou mal. Ou,
como diria o apóstolo Paulo, o Senhor “habita em luz inacessível” (1 Timóteo
6.16). Ou seja, o Senhor Deus nunca foi, não é, e nem será capaz de falhar,
errar ou pecar. Sua natureza é de extrema santidade.
Jesus Cristo, o filho Unigênito do Pai, compartilhando da mesma
substância da divindade, igualmente mostrou que sua natureza era
incorruptível quando desafiou: “Quem dentre vós me convence de pecado?”
(João 8.46, ARA), “Qual de vocês pode me acusar de algum pecado?”(NVI), ou
ainda, “Qual de vocês pode provar que eu tenho algum pecado?” (NTLH).
Jesus Cristo foi perfeito, incorruptível e sem pecado. O mal não
poderia lhe tocar. Sua essência era totalmente santa.
Como Deus não pode ser tentando, não pode ter mácula ou pecado,
igualmente não poderia praticar o que é ruim. O mal não pode proceder dele.
Assim é que o escritor enfatiza que Deus não pode tentar a ninguém. Não é
do caráter de Deus nem de sua missão tentar pessoas. Usar de artifícios
maliciosos e corruptores para tratar com a humanidade.

APLICAÇÃO: Muitas vezes as pessoas se esquecem desse fato ou mesmo


não creem nele e passam a atribuir falhas a Deus. Alguns acusam Deus pelo
mal porque passam. “Se sou ou estou assim, é por culpa de Deus!”. Aquela
pergunta que rotineiramente surge: “onde estava Deus quando aquela
catástrofe ocorreu?” também traz um tom de acusação. Que possamos nos
conscientizar de uma vez por todas, ainda que não entendamos as situações
ou circunstâncias da vida, nunca devemos acusar a Deus de ser o autor do
mal! O Senhor é puro, santo e habita em “luz inacessível!”.

III – O HOMEM E O MAL

Diante da impossibilidade de Deus tentar o homem está a realidade de


que o homem é tentado por sua própria cobiça quando esta o atrai e o seduz.
Não se pode desconsiderar o fato de que somos os responsáveis por nossos
próprios fracassos. O maior tentador habita em nós mesmos. Não podemos
fazer como Adão que culpou Eva. Nem mesmo agir como Eva que culpou a
serpente. O texto traz a realidade de que cada um tem em si mesmo desejos
que podem exercer influência pecaminosa para nos fazer cair em tentação. A
tônica do ensino recai sobre a responsabilidade individual. Sejamos
honestos e não façamos joguetes de responsabilidade. A responsabilidade
sobre o pecado é “minha”, devemos conseguir compreender isso.
Portanto, o maior problema do homem não é o “mundo” ou mesmo o
Diabo. A maior fonte do mal encontra-se dentro de cada um. É a cobiça, o
desejo, a vontade interior do homem que o atrai e o seduz para realizar o que
quer. E esse querer corrompido gera a morte.
No versículo 14, há uma ilustração da construção do pecado como
concepção de um bebê. Assim, Tiago vê o pecado não apenas como um ato,
mas um processo. Existe o jogo da atração e sedução, primeiramente. A
cobiça faz exatamente isso, primeiramente atrai e seduz o coração para ficar
interessado, desejoso. Interessante que o desejo não precisa ser mal ou
impuro por natureza! “A palavra cobiça pode se referir a qualquer tipo de

- 19 -
desejo”27. Contudo, a ação de transformar um desejo legítimo em pecado é
obra própria da cobiça. Assim, “a cobiça é a tentativa de satisfazer um desejo
fora da vontade de Deus”28. Nesse flerte a cobiça pode alcançar maiores
conquistas até o ponto de conceber, havendo, então, a fecundação do
pecado. Depois da concepção, segue-se normalmente o parto. Após se ter
dado “à luz” ao pecado, este gera a morte. Há todo um trajeto interno, de
sugestão, planejamento e execução do mal até o ápice de sua ação que é
considerado como morte.
Contudo, não somos obrigados a cair em tentação e a tentação em si
não é pecado. Jesus nos ensinou a orar para não cairmos em tentação, mas
não ensinou a pedirmos pela total imunidade a ela. Assim, podemos até ser
tentados, mas igualmente temos a possibilidade de livramento de Deus para
escaparmos delas. Lutero dizia: “Você não pode impedir que um pássaro voe
sobre a sua cabeça, mas você pode impedir que ele faça ninho em sua
cabeça” (TUCK, 1996 apud LOPES, 2006)29.
O contraste é que anteriormente foi exposto que Deus não era passível
de pecar e não tentava ninguém. Logo, Ele é a origem de todo bem. Ao
contrário, chegamos aqui com a visão de que o homem é uma verdadeira
“fábrica” em potencial para produzir o pecado. Assim, coloca-se os valores
nos seus devidos lugares: Deus é bom; porém o homem, pecador.
Tiago traz um alerta no versículo 16: “não vos enganeis, meus amados
irmãos”. Se ele precisou fazer esse alerta é porque o tema poderia ter sido
alvo de dúvidas, contradições e enganos. Poderiam existir pessoas que
pensavam e viviam de modo diferente. Poderiam haver pessoas que
culpassem a Deus ou aos outros por seus fracassos, delitos e pecados. Mas,
a orientação bíblica é clara: “não vos enganeis!”.

APLICAÇÃO: Devemos ser capazes de assumir nossas responsabilidades.


Somos pecadores. Nós é que pecamos e pecamos por causa de nossa cobiça.
Precisamos evitar aquela postura de jogar a culpa nos outros; acusando o
Diabo, as pessoas ou mesmo Deus por nossas falhas. Em essência o que nos
faz corrompidos é nossa própria natureza. O que nos derrota, nossas
próprias ações. Algumas pessoas acusam os pais por não serem bem-
sucedidas na vida. Outras acusam os chefes por não permitirem o
“merecido” crescimento profissional. Muitos acusam o governo por sua
condição social. O problema de não ser cristão é porque tal líder seria
corrupto, a igreja estaria cheia de falhas. Mas, a bem da verdade, a culpa é
nossa! A culpa é de cada um! Oremos, então, para termos esse nobre caráter
de assumirmos nossas falhas. Assumirmos nossa corrupção e clamar a
Deus que nos ajude a vencer as tentações.

27 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006. p. 441.
28 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 26.
29 Idem. p. 27.

- 20 -
IV – DEUS E A ORIGEM DO BEM

Bem distante de uma atuação tentadora, ou pecaminosa, o Senhor é


retratado como a origem de todo bem. Toda dádiva, todo dom procede dele.
Ele é chamado de Pai das luzes, termo que remete à pureza e santidade.
Assim, somos ensinados que as coisas boas que se manifestam na vida não
surgem por acaso e nem mesmo emanam de outro a não ser Deus.
“Todo dom” aponta ainda que todas as pessoas são devedoras diante
de Deus. Qualquer que seja a habilidade, o belo ou o bom que exista e se
manifeste em nós, tem sua origem em Deus mediante a graça comum. Desta
forma, precisamos ainda mais tributar louvores e agradecimentos ao bom
Deus.
Mas, por que não poderíamos produzir o que é bom e agradável por
nós mesmos? Jó nos deu a resposta: “quem da imundícia poderá tirar coisa
pura?” (Jó 14.4, ARA) ou “Como pode exigir que o homem, impuro por
natureza, aja com justiça?” (Jó 14.4, VIVA). Ora, como poderemos retirar o
que é bom, reto e puro do homem se, como vimos antes, este é vulnerável às
suas cobiças? É um ser instável, de ânimo dobre.
Por isso, o autor insiste que as dádivas, e aquilo que é bom só podem
emergir de uma fonte: Deus! Todo o resto recebe por derivação divina sua
presteza.
Certa vez um homem foi ao encontro de Jesus e lhe perguntou: “Bom
Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Marcos 10.17). A pergunta
parecia boa e sincera. Contudo, a resposta de Jesus se iniciou com uma
advertência: “Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é
bom senão um, que é Deus”. (Marcos 10.18).
Mas, por que a fonte é Deus? A resposta é fácil. Pois, ele é o Pai das
luzes, ele é puro. Ele não está sujeito à tentação, ao mal e ao pecado. Ele é
Santo. Ele não muda e não é instável. Não há variação nele. Ou seja, Ele é
tão completo que não necessita de mudança para se aperfeiçoar. Ele é tão
seguro que não precisa rever suas opiniões. Ele tem uma natureza tão santa
que não está sujeito a evoluções. Este é o ponto em questão. “Deus não pode
mudar para pior porque ele é santo. Ele não pode mudar para melhor
porque Ele é perfeito”30. A imutabilidade de Deus aponta para seu caráter
completo e perfeito.
Uma ilustração dessa dádiva é que Deus nos “gerou pela palavra”.
Esse novo nascimento é um bem operado pelo Senhor, é uma bênção dada
gratuitamente a nós, é uma boa dádiva vinda dos céus. Ninguém conseguiria
ser “regenerado” por si só, ou por algum bem intrínseco, mas apenas pela
dádiva de Deus. Desta forma, podemos dizer que esta obra de “novo
nascimento” foi usada aqui como uma prova de que o que é bom vem de
Deus e não pode proceder de outra fonte!

APLICAÇÃO: Uma música evangélica afirma: “Deus é bom, o tempo todo, o


tempo todo, Deus é bom!”. Deus, de fato, é o único verdadeiramente bom!
Ele é o bom Mestre! É a essência do bem. Então, ao contrário da vã

30 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
27.

- 21 -
suposição de que Deus poderia tentar alguém está a realidade de que Ele é
completamente íntegro e bom. Todas as suas obras são boas. Todo o seu
desígnio é correto. Ele é completamente santo. A repetição “santo, santo,
santo” (Isaías 6.3) evidencia e intensifica tal condição de perfeição. Então,
não nos enganemos, Deus é bom. Sempre bom, o tempo todo! Então, diante
das provações ou tentações lembremo-nos de que Deus é bom. Diante dos
sofrimentos e dos momentos mais difíceis de nossa vida, Ele continua sendo
bom. Nossa vida espiritual foi uma dádiva de sua bondade. É prova de que
Ele é bom para conosco! “Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom,
porque a sua misericórdia dura para sempre”. (Salmo 136.1).

- 22 -
COMO VIVER A FÉ CRISTÃ?
Tiago 1.19-27

19 Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir,
tardio para falar, tardio para se irar.
20 Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus.
21 Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão,
a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.
22 Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós
mesmos.
23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que
contempla, num espelho, o seu rosto natural;
24 pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua
aparência.
25 Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera,
não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que
realizar.
26 Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio
coração, a sua religião é vã.
27 A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as
viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.

INTRODUÇÃO

Como viver a verdadeira fé cristã? Tiago se dirige a cristãos que


possivelmente necessitavam de orientações sobre como viver na prática seu
cristianismo. A questão das boas obras começa a ser considerada e a
verdadeira religião é evidenciada pelos seus frutos. O escritor enfatiza a
necessidade de praticar a Palavra e não apenas ouvir. A conclusão no final
do texto é que a verdadeira religião é aquela que se expressa em boas obras e
não apenas em especulações!

I –A IRA DO HOMEM NÃO PRODUZ A JUSTIÇA DE DEUS

O começo do versículo 19 soa como a introdução de alguns conselhos


que Tiago pretende dar aos seus leitores. “Sabeis estas coisas...”. Ele tem
orientações para dar à comunidade cristã. Assim, temos a primeira
instrução sobre a vida cristã que gira em torno do tema paciência.
O homem deve ser paciente para suportar as provações e agir com
serenidade de modo a glorificar a Deus. Logo, deve ser “pronto para ouvir,
tardio para falar, tardio para se irar”. Considerando que Tiago acabara de
sair de uma seção que envolvia provação e tentação, esta parte deve ter uma
ligação, mesmo que tênue, com o contexto anterior, ou seja, a prontidão
para ouvir, a sobriedade no falar e a lentidão para se irar deve ter relação
com as provações e tentações pelas quais passamos.
Não é difícil vermos como o crente age mal em meio às provações ou
tentações porque não ouve com atenção, com presteza e com rapidez. Não
entende o que está acontecendo. Não busca informações sólidas sobre a
realidade das coisas. O conselho sobre ser pronto a ouvir traz essa
conotação de ter capacidade de obter informações, prontidão e rapidez em

- 23 -
alcançar a mesma. “O termo ‘pronto’, no grego, é táxys, de onde vem nossa
palavra táxi (rápido)” (LOPES, 2006, p. 34)31.
Por outro lado, a moderação no falar traz a ideia de que tal informação
deve ser melhor processada e analisada antes de se devolver respostas ou
julgamentos. Diante das dificuldades, além de se ter muitas informações, de
ouvir muito, é importante a análise cautelosa dos dados antes da emissão de
juízos. O falar normalmente está recheado de acusações, conclusões e
julgamentos, que se feitos de modo prematuro causará mais transtorno e
não resolverá a situação.
“A palavra ‘tardio’, no grego, é brádys. Essa palavra dá a ideia de uma
pessoa que tem dificuldades intelectuais para compreender logo de início o
que lhe foi dito; e necessita, portanto, de tempo para reflexão”. (LOPES,
2006, p. 37)32.
Mas, por que normalmente não conseguimos agir assim? A resposta
está em nós mesmos! Por causa de nossa ira! A ira arrebata o homem e
atropela os processos. O homem irado perde o controle da situação, não tem
paciência para ouvir e quer falar muito!
O que é mais prejudicial é o fato de que a “ira do homem não produz a
justiça de Deus”. Certamente o homem conduzido por sua irá deixará de
cumprir a vontade de Deus. Suas ações não glorificação ao Senhor, pelo
contrário, serão motivo de vergonha e arrependimento futuro. Quantas vezes
não passamos por situações em que demos vazão a nossa ira e
posteriormente nos arrependemos amargamente pelos absurdos que fizemos!
Alguns chegam a considerar que “estavam fora de si” quando fizeram tal e
tal coisa! Mas, não podemos agir assim, “fora de si”. Como cristão,
precisamos manter o domínio próprio, o controle de nossa vida, para agir
conscientemente evitando o mal e praticando o bem. Essa é a orientação.

APLICAÇÃO: O viver cristão pede moderação! Já ofendemos alguém por não


ouvir e falar precipitadamente? Já tivemos algumas experiências
desagradáveis envolvendo uma explosão de ira? Temos sido moderados como
chefes de nossas empresas? Temos tido paciência ao tratar com funcionários
e clientes? Somos exemplo de pessoas que transbordam a justiça de Deus?
Temos sido bons funcionários? Os pais têm conseguido amar os filhos e
controlar a ira? Os filhos têm sido bons aos pais? Como estamos agindo no
trânsito? Temos conseguido mandar a calma e paciência? Saibamos que em
todas as circunstâncias aplica-se o que Tiago nos ensina aqui: “seja pronto
para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”. Peçamos a Deus perdão por
nossas falhas e por termos agido, em alguns momentos, ao sabor de nossa
ira e não sob a vontade de Deus!

II – DEIXANDO O PECADO E CRENDO NA PALAVRA IMPLANTADA EM


NÓS

Podemos destacar o segundo conselho para o viver cristão a partir da


narrativa de Tiago. Esse conselho é para que nos despojemo-nos de toda

31 Lopes, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
32 Idem.

- 24 -
impureza! O verbo despojar é dominante. É preciso o cristão se esbulhar da
velha vida, cheia de impureza e maldade. Nosso coração deve estar limpo,
leve diante de Deus. Como conseguiremos alcançar a vontade sublime do
Senhor a ponto de conseguirmos estar prontos para ouvir, tardios para falar
e tardios para se irar? Apenas quando tivermos um coração mais leva das
tranqueiras do pecado! Uma vida mais solta das amarras do mal. Então, a
orientação do servo do Senhor, neste ponto, é negativa, no sentido de
retirarmos todo entulho de nossa vida.
A vida cristã possui sempre dois aspectos que devem ser nutridos
simultaneamente. Um deles diz respeito a algo que se deve DEIXAR, outro, a
algo que se deve ASSUMIR. O que se deve deixar, que foi apontado por Tiago,
é impureza e maldade!
Mas, o que se deve ASSUMIR? A palavra implantada em nós! É preciso
assumir e crer que ela é poderosa para salvar a nossa alma. Acolher a
palavra é dar espaço para a mesma. É tornar-se solo fértil para que a
semente possa nascer, crescer e produzir. Acolher a palavra é obedecê-la, é
viver por ela. É nutrir o respeito tento-a como autoridade em nossa vida.
Ademais, considerando-a suficiente para nortear nossa alma.
Essa palavra é poderosa para salvar a nossa alma. Precisamos crer
que a palavra do Senhor é eficaz para salvar nossa vida. Não podemos nem
precisamos adicionar adendos na obra de Deus, somente crer e confiar.
Creiamos que o Senhor é poderoso e sua palavra viva e eficaz! Ele pode
salvar o pecador, livrar do mal e resgatar as vidas.
A importância desses dois movimentos, um de deixar algo e outro de
assumir pode ser ilustrada por essa história contada pelo pastor Augustus
Nicodemus.
Em 1985, minha esposa e eu estávamos na África do Sul, por causa
dos meus estudos, e fomos visitar Kwasizabantu, o centro de um
grande avivamento espiritual que havia começado em 1967na tribo
Zulu. Lá, ouvimos uma história interessante. Uma senhora Zulu
idosa converteu-se a Cristo e vinha regularmente a todos os cultos.
Todos estavam muito felizes por ela, mas havia um pequeno
problema: há anos ela não tomava banho. Aquilo começou a criar
um problema, pois quando ela entrava no local das reuniões, seu
mau cheiro perturbava a todos. Todo mundo sabia que ela havia
chegado. As senhoras Zulus crentes resolveram tomar uma
providência: reuniram-se, fizeram uma festa para ela, e lhe deram
um vestido novo de presente, dizendo que gostariam muito de vê-la
com o vestido novo na reunião seguinte. Ela ficou muito feliz e
prometeu que na próxima reunião viria trajada assim. E de fato veio.
Na reunião seguinte chegou de vestido novo, mas quando entrou e
sentou-se, o velho e conhecido mau cheiro estava lá. Ela
simplesmente vestira o novo vestido por cima dos trapos! (LOPES,
2007, p. 48)33.

Da mesma forma, não é conveniente servirmos a Deus com vestes


novas, mas trajando ainda os trapos fedidos do pecado.

APLICAÇÃO: O viver cristão exige deixar muita coisa para trás. Estamos
deixando o pecado para trás? Estamos se desfazendo de nossa bagagem de

33 LOPES, Augustus Nicodemus. Cheios do espírito. São Paulo: Editora Vida, 2007.

- 25 -
carnalidade e ampliando nossas conquistas no baú dos tesouros celestes? É
notório em nossa vida que estamos deixando a impureza e maldade e
assumindo a palavra de Deus? Oremos para que o Senhor nos ajude nisso.
Ponha diante de Deus situações práticas em que você percebe que necessita
de mudança, necessita deixar algumas práticas para reviver em outras mais
honrosas que glorifiquem a Deus.

III – TORNADO-SE PRATICANTE DA PALAVRA

Já sabemos da importância da prática da Palavra de Deus. O próprio


Senhor Jesus Cristo enfatizou que “Todo aquele, pois, que ouve estas
minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que
edificou a sua casa sobre a rocha”. (Mateus 7.24).
Tiago, em uníssono, reafirma esse precedente, confirmando o ensino
de Cristo. “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes,
enganando-vos a vós mesmos”. O detalhe é que Tiago diz que estamos nos
enganando quando apenas ouvimos a palavra, mas não praticamos. É uma
ilusão, um evangelho fictício. Não praticar a palavra de Deus é como sermos
filhos que ouvem, ouvem e ouvem a voz do pai, mas não obedecem e fazem
tudo ao contrário! Qual sentimento terá esse pai diante de tal filho? Como
será esse relacionamento de pai e filho, com o filho rebelde? Assim somos
nós, filhos rebeldes quando não praticamos a vontade de Deus!
Tiago mostra uma ilustração de como é a vida daquele que só ouve a
palavra, mas não a pratica. O que acontece com a vida de tal pessoa?
“assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural;
pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como
era a sua aparência”. Ou seja, é a pessoa que ouve, mas logo logo esquece da
instrução, esquece da palavra e continua sua vida comumente. A palavra se
esvai tão rapidamente como a lembrança de sua aparência contemplada no
espelho se dispersa. Como tal palavra poderá surtir efeito? Mudar vida? Se é
descartada quase de imediato? Quando não se pratica a palavra é assim que
ocorre, ela se esvai rapidamente, não deixando vestígios.
Contudo, aquele que considera a “lei perfeita” e “lei da liberdade”, e
nela persevera, sendo praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.
Notemos que é preciso considerar a “lei perfeita”, “lei da liberdade”. Há uma
lei para a qual o crente deve ainda obediência, essa lei é a lei de Deus,
chamada por Tiago de “lei perfeita” e “lei da liberdade”. Ele não falou que era
a “lei de Moisés” porque para os cristãos há uma diferença importante na
compreensão da lei, pois em muitos sentidos a lei foi cumprida em Cristo,
logo, não é todo aspecto da lei de Moisés que ainda nos é implicada. Mas,
não podemos concordar com o antinomianismo que prega que em nome da
graça de Deus haja uma indiferença quanto a lei, em todos os sentidos. Pois,
apesar de não estarmos mais obrigados a obedecer a toda diretriz da lei de
Moisés (por isso Tiago chama de “lei da liberdade”), temos ainda que prestar
reverência e obediência a lei moral de Deus, que é eterna. Assim, o “não
matarás”, “não furtarás”, “não adulterarás” e tantos outros princípios são
eternos e emanam diretamente do caráter de Deus e, portanto, devem ser

- 26 -
observados. Neste sentido não somos contra a lei, pelo contrário, a
reafirmamos!
Logo, obedecendo a lei de Deus e continuando na prática da mesma,
perseverantemente, o texto diz que seremos bem-aventurados.

APLICAÇÃO: Temos obedecido ao Senhor? Tenho tido consciência de que


existe uma lei a ser seguida pelo cristão? A lei da liberdade? Conseguimos
enxergar claramente quais são os preceitos de Deus aos quais devemos
obediência? Um detalhe é que Jesus disse: “Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda, esse é o que me ama”. (João 14.21). O apóstolo
João ainda nos informa que temos confiança e sabemos que temos
conhecido, de fato, a Cristo quanto o obedecemos: “Ora, sabemos que o
temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos. Aquele que
diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele
não está a verdade. Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele,
verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que
estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar
assim como ele andou” (1 João 2.3-6).

IV – SEGUINDO A VERDADEIRA RELIGIÃO

Por fim, mas não menos importante, Tiago traz a relação entre boas
obras e a religiosidade/religião verdadeira. Mas, é válida uma observação.
“Tiago não está enfocando a questão doutrinária, mas um assunto de prática
cristã. O conteúdo da fé é a morte expiatória de Cristo e Sua ressurreição
gloriosa. O cuidado dos necessitados não é o conteúdo do cristianismo, mas
sua expressão”. (LOPES, 2006, p. 42)34.
Tiago basicamente mostra uma implicação importante resumida na
sentença lógica:
Se a religião é verdadeira então há prática boas obras
Não é possível estar numa religião verdadeira sem que a prática de
boas obras seja evidente e real. A verdadeira religião não deve ser apenas um
compêndio filosófico de abstrações, mas deve mostrar-se efetiva em boas
obras. Como diz o próprio escritor: “Se alguém supõe ser religioso, deixando
de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã”.
Note a insistência de Tiago em mostrar o autoengano quanto ao evangelho.
Antes (v. 22) ele já tinha afirmado também que quem é somente ouvinte da
palavra estaria enganando-se a si mesmo. Aqui ele reafirma que a
religiosidade de quem não pratica, da mesma forma, é um engano. Ademais,
a própria religião seria vã, ou seja, nula, imaginativa, não produtiva, irreal,
irrelevante, etc.
É preciso se fazer uma observação quanto ao tema. Tiago traz a
realidade de que existe a religião verdadeira, e como é o caráter dela.
Entretanto, existe em nossa atualidade um pensamento que diz “não à
religião” e “sim a Jesus”, como se religião e Jesus Cristo não se
combinassem. Muitos são avessos à religião, pois, segundo eles, religião só
representaria manipulação, institucionalização inútil e aprisionamento.

34 Lopes, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.

- 27 -
Ademais, religião não salva. Muitos propõe até um cristianismo sem religião,
feito em casa, às vezes individualmente. Surgiram desse movimento os
chamados “desigrejados”. Crentes que não vão à igreja. Que não querem se
envolver com a religião.
Em muitos aspectos a crítica contra a religião é oportuna, pois vemos
muitos equívocos em nome da religião. Não obstante, a religião verdadeira
existe! Tiago mostra isso e ainda a natureza de tal religião! Assim, não
podemos ser contra a religião verdadeira e contra rituais e práticas
intrinsicamente religiosas, senão estaremos indo contra a própria vontade de
Deus. Por exemplo, o aspecto de se reunir em culto coletivo é frisado em
Hebreus 10.25: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns;
antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se
aproxima”. As ordenanças como a Ceia do Senhor e o batismo devem ser
praticadas em rituais prescritos e públicos. Enfim, a Bíblia mostra que existe
a verdadeira religião. Assim, sigamos nela para glória de Deus.
Essa religião tem a natureza de propagar boas obras. Tiago diz que
aquele que se diz religioso e não refrear a língua está se enganando e sua
religião não é verdadeira! Ou seja, não é possível estar na verdadeira religião
e manter os mesmos hábitos pecaminosos agindo livremente em sua vida.
Tal religião é vã.
Mas, qual seria a natureza da religião verdadeira? “A religião pura e
sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as
viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do
mundo”. Trata-se da prática do evangelho tão recomendada anteriormente e
a esquiva da contaminação mundana!
A verdadeira religião é aquela que glorifica a Deus nas ações de seus
servos. Ora, se somos sal da terra e luz do mundo, é claro que a Igreja
formada por nós será uma bênção na vida das pessoas. Produzirá muito
para glória de Deus Pai. Não poderá ser omissa e não se contaminará com o
pecado do mundo! Se afastará do mundo porque “os que são de Cristo Jesus
crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (Gálatas
5.24).
A religião verdadeira é aquela que só existe pelo poder do Espírito
Santo, pois para se produzir, de fato, boas obras é necessário ter o fruto do
Espírito (Gálatas 5.22). Ademais, o poder do Espírito é evidenciado contra as
carnalidades do mundo, pois só na religião verdadeira, ou seja, naquela
baseada no poder do Espírito e na obra de Cristo, é que se tem vitória contra
as tentações, pois a falsa religião, cheia de preceitos humanos, ritos
arbitrários, proibições e rigor ascético não tem o poder de refrear o
mundanismo. “Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como
culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não
têm valor algum contra a sensualidade” (Colossenses 2.23).
Boas obras só são feitas em Jesus Cristo, pois ele mesmo disse: “Eu
sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá
muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15.5).
Assim, podemos resumir que a verdadeira religião é aquela firmada no
Senhor Jesus Cristo!

- 28 -
APLICAÇÃO: Posso considerar minha religião como sendo a verdadeira
religião de Deus? Minha religião passaria no teste de Tiago, ou seja, estaria
baseada no amor do Pai, na obra de Cristo, no poder do Espírito,
produzindo, como consequência boas obras para humanidade? Na minha
religião as pessoas refreiam a língua ou existe a propagação de fofocas,
boatos e calúnias? Quais foram minhas boas obras realizadas no último mês
que glorificaram ao Senhor Deus? Oremos ao Senhor para que Ele nos ajuda
a viver a verdadeira religião.

- 29 -
NÃO À ACEPÇÃO DE PESSOAS
Tiago 2:1-13

1 Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença
entre as pessoas, tratando-as com favoritismo.
2 Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas finas, e
também entre um homem pobre com roupas velhas e sujas.
3 Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas finas e disserem:
"Aqui está um lugar apropriado para o senhor", mas disserem ao pobre: "Você, fique de pé ali",
ou: "Sente-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés",
4 não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados?
5 Ouçam, meus amados irmãos: não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo
para serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam?
6 Mas vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem vocês? Não são eles os
que os arrastam para os tribunais?
7 Não são eles que difamam o bom nome que sobre vocês foi invocado?
8 Se vocês de fato obedecerem à lei real encontrada na Escritura que diz: "Ame o seu próximo
como a si mesmo", estarão agindo corretamente.
9 Mas se tratarem os outros com favoritismo, estarão cometendo pecado e serão condenados
pela Lei como transgressores.
10 Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de
quebrá-la inteiramente.
11 Pois aquele que disse: "Não adulterarás", também disse: "Não matarás". Se você não
comete adultério, mas comete assassinato, torna-se transgressor da Lei.
12 Falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade;
13 porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A
misericórdia triunfa sobre o juízo!

INTRODUÇÃO

Tiago traz uma perspectiva do evangelho bastante prática. Assim, ele


já falou que quem não pratica a Palavra está se enganando (1.22). Ele
continuará falando sobre uma fé viva e operosa pelo resto de sua epístola.
Nesta seção teremos mais uma aplicação prática da Palavra: uma
proibição de fazer acepção de pessoas! Veremos o quão anticristão é essa
atitude, perceberemos o engano de juízo que se comete na discriminação,
além disso, notaremos as consequências em relação à santificação e em
relação lei da liberdade de nosso Deus.

I – ENTENDENDO A DISCRIMINAÇÃO

a) Igualdade espiritual.

A questão da discriminação social é abordada por Tiago nesse texto. É


interessante notar que antes mesmo de qualquer grupo reivindicar a
igualdade entre as pessoas, antes de qualquer ONG trabalhar neste sentido,
antes mesmo dos muitos alardes dos movimentos de Direitos Humanos
ecoarem pela terra, já tínhamos essa passagem tão límpida esclarecendo que
entre os filhos de Deus não se pode haver discriminação alguma!
Fazer acepção de pessoas significa dar preferência ou honra a uma
pessoa com parcialidade, favoritismo, baseando-se na aparência, status,

- 30 -
condição social, qualidade financeira ou outros elementos externos
discriminatórios.
No reino de Deus não deve haver qualquer diferenciação
discriminatória entre os irmãos, pois todos igualmente são amados, aceitos e
abençoados por Deus. Não há ninguém melhor do que ninguém. Não existe
pessoa mais digna ou menos digna. Deus nos tem por seus filhos em igual
consideração.
O apóstolo Paulo chegou a afirmar que entre os filhos de Deus: “Não
há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são
um em Cristo Jesus”. (Gálatas 3.28). Assim, o judeu não é melhor que um
grego, em termos espirituais. Por mais que o judeu tenha vivido uma
tradição bíblica, tenha nascido na nação eleita, palco das maiores ações do
Senhor, mesmo que seja descendente de Abraão, ainda assim não possui
nenhum privilégio em relação a um grego, gentio, que andava distante de
Deus, sem qualquer noção de adoração, sem nenhuma lei, mas que agora
conheceu a Jesus Cristo e foi salvo pela sua graça. Não há privilégio algum,
pois tanto o judeu como o grego, aos olhos do Senhor não passam de
pecadores carentes da graça. Ambos foram salvos pela graça e pela mesma
misericórdia de Deus. Ambos devem suas vidas ao Senhor. Se foi pela graça
não há mérito humano, logo, o judeu não tem nenhum mérito a mais do que
o grego!
Assim, podemos dizer que “favoritismo e acepção de pessoas não são
atitudes de um cristão”. (LOPES, 2006, p. 47)35.

b) Diversidade humana.

Apesar de termos consciência da igualdade espiritual diante de Deus,


precisamos compreendê-la melhor para não passarmos ao extremo de não
encontrar diferença nenhuma entre as pessoas. É necessário saber que o
evangelho não é uma uniformização. Não é uma padronização de
personalidades. Assim, a nível de personalidade ou funcionalidade, as
pessoas são diferentes e tem suas características próprias, assim como o
homem é diferente da mulher em muitos aspectos.
O apóstolo Paulo ensinou que cada crente tem um característica, lugar
e missão no corpo, mas todos em conjunto formam o corpo de Cristo! Uns
são mãos, outros pés. Alguns podem servir como braços outros como dedos.
Enfim, a visão do corpo é extremamente importante neste sentido. Preserva
a diversidade humana, ao mesmo tempo em que mantém a igualdade
espiritual. O evangelho sempre afirmou a diversidade humana na igualdade
espiritual entre os filhos de Deus.

APLICAÇÃO: Temos compreendido que há diferenças humanas entre as


pessoas, mas igualdade espiritual das mesmas diante de Deus? Temos, de
fato, compreendido que ninguém é melhor do que ninguém diante do
Senhor? Não há na igreja pessoa “mais” privilegiada do que outra. Até
mesmo aqueles que estão em cargos de liderança na igreja não devem ser
estimados como melhores do que os outros, mais próximos de Deus, mais

35 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.

- 31 -
abençoados, mais santos, etc. O fato de terem cargos e exercerem
determinada função no reino não os pode diferenciar espiritualmente, pois
todo serviço que prestam é pela graça e favor de Deus. Eles não têm em si
mesmo nenhuma prerrogativa que os supere aos outros, mas pela graça de
Deus é que agem, logo não há mérito humano nisso. Não podem se
vangloriar, pois a glória pertence ao Senhor! Assim, prossigamos com o
pensamento conhecido como “sacerdócio universal”, ou seja, do conceito de
que todo crente tem acesso direto ao Pai não precisando de intermediadores!
Os servos chamados pelo Senhor para servir à Igreja não são mediadores
entre Deus e os homens, mas cooperadores de Deus junto à Igreja; Igreja
que é o corpo de Cristo, que tem livre acesso a Deus!

II – PROBLEMAS DA DISCIMINAÇÃO

a) A discriminação entre o rico e o pobre.

Bem mais simples do que nossas abordagens quanto à discriminação e


bem mais objetivo do que nossos milhares de exemplos contemporâneos é a
admoestação feita por Tiago quanto à prática de acepção de pessoas
cometida nos círculos cristãos da época.
Talvez esse mal hábito tenha sido herdado dos costumes da
aristocracia judaica; abastada financeiramente, mas discriminadora
socialmente. Eram seletivos em suas amizades ignorando os pobres e as
classes baixas da comunidade. Recebiam melhores tratamentos nos
recintos, melhores lugares nas sinagogas. Normalmente eram bajulados e
paparicados por todos.
Na verdade, havia uma competição por honrarias na época. Os judeus
daqueles tempos buscavam reconhecimento e honra e competiam uns com
os outros por louvores. As parábolas de Jesus contadas em Lucas 14.7-14
tratam dessa questão, como também o faz a condenação dos fariseus em
Mateus 23. (WIERSBE, 2006, p. 452)36.
Diante de tal figura, Tiago deseja exatamente o contrário para a Igreja.
Que não haja “nobres” discriminadores, nem mesmo competidores de
honrarias. Ou seja, quando entrar um homem rico, com anéis de ouro,
trajando finas roupas, que seja tratado sem maiores deferências, do mesmo
modo que se trataria um irmão mais humilde, simples.
O irmão pobre não pode ser tratado com menor honra do que o rico. A
visão que o texto traz é extremamente nítida. “Se entrar algum homem com
anéis de ouro nos dedos, em trajos de luxo, e entrar também algum pobre
andrajoso...”. Ou seja, se tiver um homem muito rico e um pobre
esfarrapado não se deve tratar um melhor do que o outro. Não se pode
colocar o rico em lugar de honra, em assentos especiais, em lugares
privilegiados e o pobre em qualquer canto, num lugar qualquer, até mesmo
lugar de desonra!

36 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006.

- 32 -
b) A discriminação implica em juízo perverso

i) Problema: exclusão do pobre.

O problema é que agindo assim fazemos distinção entre nós mesmos.


Tiago diz que desta forma nos tornamos “juízes tomados de perversos
pensamentos!”. Passamos a ser juízes emitindo continuamente decretos de
honra e desonra; juízos de valor sobre a dignidade das pessoas, algo que não
nos compete. Aliás, neste absurdo de usurpar uma posição que não nos
compete, comumente proferimos um juízo contra a própria vontade de Deus,
pois o pobre que recusamos é justamente aquele a quem o Senhor chamou.
Os pobres que muitas vezes são preteridos, são os primeiros a serem
chamados ao Evangelho. Como podemos excluir aquilo que é o principal?
Como podemos agir assim se Deus escolheu aqueles que “para o mundo são
pobres”?
Tiago é sensível aos maus tratos dados aos pobres e às ações muitas
vezes insensíveis e desumanas dos ricos (cf. 5.1-6). Mas ele não defende os
pobres por causa da sua pobreza, nem ataca os ricos por causa da sua
riqueza. Em vez disso, sua defesa e ataque são baseados em outros fatos.
(HAPMAN, 2005, p. 166)37.
O juízo assim é tão deturpado que geralmente se baseia mais em
aspectos externos do que internos. Atribui uma condição espiritual com base
nas aparências materiais! Se não vejamos. Que tipo de pensamento estava
tendo a comunidade? 1) Que a vestimenta fina era a marca de homens finos
e que roupa comum significava caráter comum. 2) Que a riqueza é um
marco do valor das pessoas. 3) Que a posição financeira fazia diferença na
aceitação na igreja. 4) Que “sistemas de castas” sociais e econômicas são
aceitáveis para Cristo e apropriados para sua Igreja. (HAPMAN, 2005, p.
166)38.

ii) Problema: Inclusão forçada do rico.

Se um problema cometido pelos crentes no uso de seus juízos


perversos foi excluir o pobre, que de fato foi chamado por Deus para sua
Igreja, outro pior foi incluir forçadamente o rico como penetra na Igreja de
Cristo.
O homem nobre, portador de anel de ouro e trajes elegantes
possivelmente era um nobre romano ou um senador. Suas vestes apontavam
ainda para alguém que aspirava a um cargo político. (HAPMAN, 2005, p.
166)39.
O rico aqui é possivelmente aquela pessoa abastada de dinheiro, mas
que não tem sua vida entregue ao Senhor Jesus Cristo. O senso comum
mostrou a Tiago que tais pessoas eram as que mais oprimiam os pobres
inclusive aqueles cristãos que os tratavam com tanta pompa dentro da
Igreja.

37 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
38 Idem.
39 Idem.

- 33 -
Esses ricos eram carnais, pessoas que levavam os simples aos
tribunais, que os oprimiam e, além de tudo, blasfemavam o nome de Deus. A
pergunta é: por que tais pessoas recebiam, na Igreja, tão nobre tratamento
em detrimento dos outros? Wiersbe (2006, p. 453) talvez nos dê a resposta:
“Agradamos aos ricos, pois esperamos obter algo deles, e evitamos os pobres,
porque nos envergonham”.
A lógica humana é exposta como leviana! É isso que Deus está
mostrando! Nosso julgamento é infundado! Excluímos a quem Deus incluiu
e incluímos a quem Deus não incluiu! Agimos, assim, contra a vontade de
Deus. Quebramos seus mandamentos. Rompemos seu querer!
Mas, qual mandamento quebramos com isso? Veremos em seguida.

APLICAÇÃO: Temos que evitar tratamentos diferenciados, em nossa Igreja,


por conta de condição social, status, aspectos financeiros ou outros
elementos. Tratemos igualmente a todos com respeito, cuidado e amor.
Saibamos amar a todos sem acepção de pessoas. O tratamento deve ser o
mesmo tanto em relação à pessoa mais distinta e bem vestida no templo
quanto ao “humilde pobre esfarrapado!”. Senhor, dá sabedoria, amor e
humildade à tua Igreja!

III – CONSEQUÊNCIAS DA DISCRIMINAÇÃO

Nossos juízos impróprios estilhaçam a lei de Deus. Quando tratamos


melhor o rico do que o pobre, em nossa Igreja, estamos rasgando a lei áurea
de relacionamentos. Jesus disse: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”
(Mateus 22.39). Tiago indica que esse mandamento é quebrado quando
agimos com discriminação, pois, de fato, não estaremos amando ao próximo
como a nós mesmo! Num sentido estaremos amando a mais, noutro, a
menos!

a) Os pequenos detalhes são tão importantes quanto os supostos


“maiores” mandamentos.

Evidentemente essa atitude é pecaminosa! Mas, o pecado não deve ser


menosprezado por conta de aparentemente ser menos ofensivo do que os
outros. Talvez seja esse o motivo de Tiago ter trazido a ideia de que a
transgressão de um único ponto da lei torna o transgressor culpado de toda
a lei! “Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei”.
Para evidenciar que tão importante quanto não matar é amar ao próximo! E,
da mesma forma que o adúltero é transgressor da lei, a pessoa que
discrimina também.
Espiritualmente podemos dizer que não há diferença entre pecados.
Todos eles são igualmente condenáveis e um único e mínimo que seja é
capaz que condenar uma pessoa afora da graça de Deus.
Contudo, Tiago não quer dizer que quebrar um mandamento é tão
ruim em suas consequências quanto quebrar todos os dez. Ele também não
quer dizer que as consequências de uma falha pequena são tão sérias

- 34 -
quanto os resultados de um pecado flagrante. (HAPMAN, 2005, p. 166)40.
Assim, aprendemos que apesar de espiritualmente todos os pecados serem
perniciosos e condenáveis diante de Deus, há uma diferenciação quanto às
suas consequências. Neste ponto eles são diferentes e roubar um centavo é
diferente de roubar um bilhão!

b) Advertências sobre a inobservância da lei da liberdade.

A seção finaliza com uma advertência: “Falem e ajam como quem vai
ser julgado pela lei da liberdade”. É importante notar o “como quem”
indicando uma comparação. À luz das Escrituras do Novo Testamento, não
há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. Contudo, seu
proceder, sua vida devocional e de santidade tem uma referência. Essa é
aqui chamada de lei da liberdade. A lei moral de Deus ainda subsiste como
referência para a Igreja quanto à natureza ética pela qual a Igreja deve viver!
Não é uma lei que garanta em si salvação, mas uma lei que conduz às boas
obras! Não é uma lei de prisão, mas da liberdade! Não é exercida por
obrigação, mas praticada voluntariamente em gratidão.
Assim, o viver “como quem vai ser julgado” é uma advertência para o
crente balizar sua vida moral pelos mais altos padrões de Deus. Estes devem
ser valorizados, pois, apesar de o crente não mais ser condenado, conquanto
a graça de Cristo já o livrou, tem a maior consideração pelos mesmos, não
banalizando a graça, antes mostrando gratidão em obediência “como quem
fosse de fato ser julgado!”.

APLICAÇÃO: Como estamos tratando os nossos pecados? Com displicência?


Estamos categorizando os melhores e piores pecados? Estamos colocando
diferença espiritual entre a gula e o adultério? Entre a homossexualidade e a
mentira? Apesar de sabermos que socialmente eles têm consequências
diferentes, estamos tendo consciência de que espiritualmente são igualmente
nocivos? Estamos sendo prudentes e vivendo uma vida santa com o cuidado
como se “fôssemos ser julgados”?

40 Idem.

- 35 -
O TIPO DE FÉ QUE NÃO DEVEMOS TER
Tiago 2:14-26

14 Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode,
acaso, semelhante fé salvá-lo?
15 Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento
cotidiano,
16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes
dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?
17 Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
18 Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu,
com as obras, te mostrarei a minha fé.
19 Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem.
20 Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante?
21 Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o
próprio filho, Isaque?
22 Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé
se consumou,
23 e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado
para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus.
24 Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente.
25 De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os
emissários e os fez partir por outro caminho?
26 Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.

INTRODUÇÃO

Tiago deseja orientar os irmãos sobre o dinamismo da fé verdadeira em


oposição a uma fé morta. A fé inoperante é perigosa, é aquela sem obras,
somente intelectual que não se envolve e não age. A conclusão do escritor é
que “assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras
é morta”.

I – O PERFIL DA VERDADEIRA FÉ

Antes de comentarmos o texto de Tiago é preciso analisar rapidamente


a natureza da fé cristã. Muitos irmãos têm dúvida ou dificuldade quanto à
compreensão dessa questão básica. Precisamos saber qual é o tipo de fé que
Deus aprova, pois, a Escritura, em toda parte, requer tal fé dos homens.
“Crê no Senhor Jesus e serás salvo” (Atos 16.31).
Ademais, precisamos refinar nosso conhecimento para não cairmos em
ciladas ou equívocos quanto ao tema. Por exemplo, há uma corrente que
encara a fé bíblica de modo místico, como se fosse um poder místico forjado
pelo homem ou pela força de seu querer para agir em determinada realidade
mudando-a. Assim, muitos trabalham a fé como um atleta trabalha seus
músculos! Existem “desafios” à fé. Confrontos para aumentar a fé. E
diversas coisas do gênero. Mas, vejamos o que o Novo Testamento nos fala
sobre a fé genuína.
A fé consiste de dois elementos. O primeiro diz respeito a “acreditar no
que alguém diz, aceitar uma afirmação (especialmente de natureza religiosa)

- 36 -
como verdade”41. Um exemplo desse sentido é 1 João 4.1: “Amados, não
deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de
Deus”. Ou seja, não acreditem, não aceitem uma afirmação se não for de
Deus.
O outro elemento da fé, não menos importante, é a “confiança pessoal
em contraposição ao mero crédito ou crença”42. O apóstolo João traz um
uso da expressão com esse sentido quando afirma: “Mas, a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que
crêem no seu nome” (João 1.12). Crer no seu nome, para os judeus, quase
equivalia a crer na pessoa!
Desta forma entendemos que a fé está atrelada à uma prática de se
lançar ao Senhor em confiança. Inclui igualmente boas obras produzidas em
nome de Deus, pois conforme Paulo: “Porque somos criação de Deus
realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus
preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Efésios 2.10). No
momento em que nos lançamos à Deus isso significa que viveremos
conforme sua vontade e tal viver certamente será luz para às nações!
Assim, conclui-se que “o tipo de fé necessária para a salvação implica
tanto crer que como crer em, ou aceitar fatos e confiar numa pessoa”43.
Outro ponto muito negligenciado por muitos é o fato de que essa fé
não é um construto humano, não é uma produção da pessoa, mas uma
dádiva dos céus! O autor aos Hebreus disse que Jesus é o “autor e
consumador da nossa fé” (Hebreus 12.2). O apóstolo Paulo igualmente disse
que “pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom
Deus” (Efésios 2.8). Isso o quê? Toda a salvação incluindo a fé! Logo, a fé
também vem de Deus. Em Atos é descrito algo interessante para nós. “Ao
chegar, ele auxiliou muito os que pela graça haviam crido” (Atos 18.27). O
texto fala que Apolo auxiliou os recém convertidos com sua mensagem.
Contudo, esses pela graça é que haviam crido, ou seja, tiveram fé pela graça
de Deus e não por uma obra própria do homem.

ILUSTRAÇÃO: “A fé e a corda”. Certo alpinista buscava superar mais e mais


seus desafios. Ele resolveu, depois de muitos anos de preparação, escalar o
Aconcágua. Foi sozinho sem nenhum companheiro, o que era natural numa
escalada dessa dificuldade. Ele começou a subir e foi ficando cada vez mais
tarde, porém ele não havia se preparado para acampar. Mesmo assim
resolveu seguir a escalada, decidido a atingir o topo. Escureceu, e a noite
caiu como um breu nas alturas da montanha e não era possível mais
enxergar um palmo à frente do nariz, não se via absolutamente nada. Tudo
era escuridão, zero de visibilidade, não havia lua e as estrelas estavam
cobertas pelas nuvens. Subindo por uma “parede” a apenas 100 metros do
topo, ele escorregou e caiu...Caía a uma velocidade vertiginosa, somente
conseguia ver as manchas que passavam cada vez mais rápidas na mesma
escuridão, e sentia a terrível sensação de ser sugado pela força da gravidade.
Ele continuava caindo e nesses angustiantes momentos, passaram por sua

41 ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 397.
42 Idem.
43 Idem, p. 398.

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mente todos os momentos felizes e tristes que ele já havia vivido em sua
vida. De repente ele sentiu um puxão forte que quase o partiu pela
metade...Como todo alpinista experimentado, havia cravado estacas de
segurança com grampos a uma corda comprida que fixou em sua cintura.
Nesses momentos de silêncio, suspenso pelos ares na completa escuridão,
não sobrou para ele nada além do que gritar: “Oh, meu Deus! Me ajude!”. De
repente uma voz grave e profunda vinda do céu respondeu: “O que você quer
de mim, meu filho?”. “Me salve, meu Deus, por favor!”. “Você realmente
acredita que eu possa te salvar?” “Eu tenho certeza, meu Deus”. “Então corte
a corda que te mantém pendurado...”. Houve um momento de silêncio e
reflexão. O homem se agarrou mais ainda a corda e refletiu que se fizesse
isso morreria...Conta o pessoal de resgate que ao outro dia encontrou um
alpinista congelado, morto, agarrado com força com as suas duas mãos a
uma corda...a tão somente dois metros do chão44.

APLICAÇÃO: Nossa fé precisa ter as características pregadas no Novo


Testamento. Precisamos ter uma fé que compreenda, sim, mas também uma
fé que se lança aos braços do Pai. Temos tido conhecimento sobre a fé?
Temos conhecido os elementos principais da revelação do evangelho? Temos
vivido por eles? Temos lançado nossa vida em total confiança na vontade de
Deus ou temos tido reservas? Quando o Senhor nos mandou soltar a corda,
soltamos? Se ele nos mandar, soltaremos?

II – O TIPO DE FÉ QUE NÃO DEVEMOS TER

Uma vez compreendidos elementos básicos da fé podemos avançar


para as orientações de Tiago. Ele tem o propósito de evidenciar que a fé
cristã não exclui boas obras. Na verdade, ele mostra com firmeza que é até
mesmo impossível ter uma fé verdadeiro ausente de obras! E tal fé não
poderá salvar!
Possivelmente o escritor quisesse repreender a Igreja quanto ao seu
testemunho público alertando que não era condizente com o evangelho o
crer sem ter um bom testemunho público. Ou seja, a fé não deveria ser
apenas um falatório, mas precisava se evidenciar na prática. Para que não
houvesse engano quanto ao que ele estava dizendo acerca da prática, Tiago
mostrou vários exemplos.

a) O tipo de obra da fé.

Quais deveriam ser as obras, então, produzidas pela fé? Tiago mostra um
primeiro exemplo. “Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do
alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e
alimente-se até satisfazer-se’, sem porém lhe dar nada, de que adianta
isso?”. Esse é um tipo de obra ilustrada por Tiago para ser realizada pela
verdadeira fé. Ora, como podemos dizer que somos cristãos e servimos ao
Senhor Jesus, que amamos ao nosso próximo como a nós mesmos, se não

44 A fé e a corda. Disponível em: < http://www.vidanet.org.br/mensagens/a-fe-e-a-corda>. Acesso em


12 maio. 2018.

- 38 -
nos compadecemos daquele que passa verdadeiramente por sofrimentos
privado de suprimentos para suas necessidades básicas? Como podemos
dizer que somos cristãos se em nossa condição de abastados não ajudamos
ao irmão suprir as necessidades de fome e nudez!
Tiago diz que essa suposta fé é morta!

b) O tipo de fé que não devemos ter.

Essa fé morta é justamente o tipo de fé que não devemos ter! Uma fé


apenas teórica, intelectual. Uma fé que concorda, mas não age. Uma fé que
entende, mas não se lança em confiança! O portador dessa fé esta mais para
aluno do que para discípulo. Está mais para ouvinte do que praticante. O
pior é que quem tem esse tipo de fé se iguala aos demônios! Na verdade
podem até mesmo perder em “fé” para os demônios! Eles também creem, diz
o texto! Creem que existe Deus e que existe um só Deus! Os demônios estão
superando os ateus! Os demônios, neste aspecto, tem maior respeito e
consideração ao Senhor! E mais, os demônios creem e TREMEM! A crença
deles alcança até o afeto, os sentimentos. Eles tremem! Muitos de nós não
trememos diante de Deus! Muitos estão perdendo para os demônios nesse
quesito.
O fato é que crer de modo intelectual, abstrato, sem compromisso não
significa muita coisa. Essa fé não é a verdadeira e não é a fé salvífica! Dizer
que acreditamos que Jesus Cristo é o santo de Deus significa alguma coisa?
Lembremos que um espírito imundo reconheceu a mesma coisa: “O que
queres conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Sei quem tu és:
o Santo de Deus!” (Marcos 1.24).
Essa é uma crítica até mesmo para aqueles que prezam por uma fé mais
inteligível, compreensível e equilibrada. Para os intelectuais da fé. Não
adianta conhecermos a teologia de Charles Hodge, Berkof, Geisler, Grudem,
Agostinho, Calvino, Lutero; não vale nada termos perícia em conhecer os
pais da Igreja, a história da Igreja, credos e confissões, se não tivermos real
entrega pessoal, de vida e obra, diante de Deus. Se nossa vida não produzir
o que é bom, as boas obras do Senhor, tal conhecimento intelectual não
salvará o homem!
Crer e tremer não são experiências que produzem salvação. Uma
pessoa pode ser esclarecida em sua mente e até tocada em seu
coração e, ainda assim, perder-se para sempre. A verdadeira fé
salvadora envolve algo mais, que pode ser visto e reconhecido: uma
vida transformada45.

APLICAÇÃO: Temos que ter o cuidado de não nutrir uma fé apenas


intelectual, abstrata. Conhecemos a verdade, mas não praticamos? Sabemos
o que se deve fazer, mas nos esquivamos disso? Caso isso ocorra devemos
ter muito cuidado, pois são indícios de uma fé superficial. Tiago disse que,
se pudermos, devemos ajudar aos necessitados que tem fome, sede e falta de
vestimenta. Uma pergunta para nossa reflexão: qual foi a última vez que
contribui para saciar a fome de alguém? Qual foi minha contribuição?

45 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006. p. 458.

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Quando foi a última vez que ajudei alguém que estava precisando de
vestimenta? Com o que contribui? Que o Senhor nos ajude a ter uma fé mais
ativa, que produza frutos que glorifiquem a Deus.

III – PROVA DE QUE A FÉ VERDADEIRA É ACOMPANHADA POR OBRAS

Tiago propõe: “Quer certificar-se de que a fé sem obras é inútil?”. E,


então, começa a traçar argumentos para convencer o leitor de que realmente
é necessário boas obras na verdadeira fé.
Abraão teve seu momento de provação diante de Deus. O Senhor lhe
pediu que oferecesse seu único filho. Somente uma fé verdadeira poderia ser
impulsionada igualmente a agir radicalmente diante da vontade de Deus. Ele
não se negou a agir, mas ouvindo atentamente o que o Senhor lhe pedira, de
pronto providenciou a execução. Assim, Tiago diz que tanto a fé quanto as
obras estavam atuando juntas! Podemos dizer que Abraão teve seu desafio
de “soltar a corda”, contudo, ao contrário do alpinista incrédulo, ele confiou
no Senhor e obteve a vitória e belo testemunho de fé para incontáveis
gerações futuras.
Agora, seria contraditório à fé Abraão ter respondido assim: Não! Não
vou oferecer meu filho no altar, isso é um absurdo! Deixe-me apenas crer em
Ti, mas sem maiores envolvimentos! Deixe-me quieto com minha família e
meus bens. Estou bem, obrigado! Tal atitude pode servir de descrição para
aquele que crê em Deus? Que realmente se entregou ao Senhor? Claro que
não!
Outro exemplo de Tiago foi da atitude de Raabe. Ela acolheu aos
espias de Israel e acobertou-os. Ou seja, ela fez uma boa ação para com os
servos e Deus e o fez motivada pela que ouvira acerca do Deus de Israel e da
obra que Ele fazia. Colocou sua vida em perigo, pois se tivesse sido
descoberta morreria. Ainda mais, confiou em estrangeiros, pois, caso Israel
não conseguisse a vitória, igualmente ela estaria em perigo de morte.
Contudo, a fé lhe bateu no coração da forma adequada que lhe fez tomar
decisões e agir consonante a isso. Ela teve seu momento de “soltar a corda”
igualmente. Notemos que tal atitude não era comum e ninguém se propôs a
fazê-lo. Somente Raabe teve tal ação. Somente ela e sua família foi salva!
Além disso, a obra de Raabe foi tão marcante e importante que ela foi
inclusa na nação, casou-se, teve filhos que fazem parte da própria
ascendência genealógica de Jesus Cristo. Raabe foi mãe de Boaz que se
casou com Rute. Rute gerou Obede, que teve por filho Jessé e este foi o pai
de Davi (Mateus 1.5).

APLICAÇÃO: Consigo elencar um momento em minha vida em que ofertei


uma “grande” obra ao Senhor? Obra decisiva tal qual as de Abraão e Raabe?
Quais são as boas obras que comumente pratico? O que posso fazer mais
para Deus em gratidão a tudo que Ele tem feito por mim?

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IV – COMPREENDENDO A APARENTE CONTRADIÇÃO ENTRE
JUSTIFICAÇÃO POR FÉ E POR OBRAS

Jamais devemos confundir fé e obras como um elemento sobrepujando


o outro. Devemos olhar a verdadeira fé como uma moeda. Numa face temos
a fé, na outra, a consequência natural da fé: as boas obras. Assim, não é
possível separar a fé das obras. A existência da fé, sem obras, é impossível.
Igualmente, obras sem a verdadeira fé são vazias.
Muitos tem dificuldade de compreender a ideia de Tiago, pois
aparentemente se contrapõe à justificação como traçada pelo apóstolo Paulo.
Paulo afirma que “se de fato Abraão foi justificado pelas obras, ele tem
do que se gloriar, mas não diante de Deus. Que diz a Escritura? Abraão creu
em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça” (Romanos 4.2-3). Enquanto
Tiago afirma que: “Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras,
quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar?” (Tiago 2.22).
Há uma aparente contradição entre as falas, contudo, devemos notar o
seguinte. Paulo fala contra as obras, mas aquelas obras desprovidas de fé. É
claro que simples obras não podem salvar a ninguém, caso contrário a
salvação já não seria por graça, mas sim mediante pagamento! Então,
concordamos com Paulo, sem sombra de dúvidas. Tiago, ao contrário, fala
que a justificação é por “obra”, mas ele não fala que essa obra é qualquer
tipo de obra, mas aquele tipo que se caracteriza como a outra face da moeda,
ou seja, é aquela obra resultado da fé! Assim, foi preciso haver, de fato, a
verdadeira fé, e que esta produzisse suas obras, e tais obras, então,
evidenciariam a justificação. Neste ponto Tiago estaria dizendo que a
salvação não aconteceria baseada apenas numa fé intelectual, abstrata, mas
deveria ser uma fé que produzisse boas obras. Assim, igualmente
concordamos com Tiago. A justificação não é produzida por uma fé inerte,
volátil e indiferente, mas por uma fé que produz obra! Ou seja, por obra da
fé!
Tem sido argumentado que o ensino de Paulo de que a salvação é
somente pela fé e o de Tiago que inclui também as obras, não estão
face a face, lutando um contra o outro, mas de costas um para o
outro, combatendo inimigos opostos; os dois ensinamentos estão do
mesmo lado, embora possa parecer que sejam contrários46.

Podemos abordar essa questão em termos de justificação diante de Deus e diante


dos homens conforme a proposta de Wiersbe (2006, p. 460).
De que maneira Abraão “foi justificado” (Tg 2.21), quando ofereceu
Isaque, se já havia sido “justificado pela fé”? (ver Rm 4). Pela fé, ele
foi justificado diante de Deus, e sua justiça foi declarada; pelas
obras, ele foi justificado diante dos homens, e sua justiça foi
demonstrada47.

Assim, os pensamentos de Paulo e Tiago são complementares e não


exclusivos porque Deus não é Deus de confusão!

46 CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
p. 169.
47 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006. p. 460.

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APLICAÇÃO: Que o Senhor nos auxilie a compreender sua Palavra. As
realidades espirituais do Reino de Deus são amplas e, às vezes, suas
dimensões estão muito além de nossa parca capacidade humana de
compreender. Assim, temos o tema da Fé e Obras. Não consideramos
somente a fé (intelectual) e nem só obra (obra desprovida de fé), mas a
verdadeira fé do Senhor é aquela que produz boas obras. Há uma
interrelação sutil entre fé e obras que não pode ser quebrada.
Compreendamos e vivamos a verdadeira fé no Senhor! Glória a Deus!

- 42 -
CUIDADO COM A LÍNGUA
Tiago 3:1-12

1 Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber
maior juízo.
2 Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão,
capaz de refrear também todo o corpo.
3 Ora, se pomos freio na boca dos cavalos, para nos obedecerem, também lhes dirigimos o
corpo inteiro.
4 Observai, igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos de rijos ventos, por um
pequeníssimo leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro.
5 Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma
fagulha põe em brasas tão grande selva!
6 Ora, a língua é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de
nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da
existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno.
7 Pois toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido
domada pelo gênero humano;
8 a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de
veneno mortífero.
9 Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à
semelhança de Deus.
10 De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas
coisas sejam assim.
11 Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?
12 Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco
fonte de água salgada pode dar água doce.

INTRODUÇÃO

Tiago continua seus conselhos práticos para Igreja. Desta vez ele
aborda o falar do cristão, o controle da “língua” é enfatizado. “Tiago está
preocupado com as palavras bem como com as obras do cristão”.
(CHAPMAM, 2005, p. 173)48. Assim, a língua é enfatizada em sua
mensagem. Mas, não apenas língua no sentido de órgão do paladar, mas
língua no sentido do homem interior, da sede das vontades e desejos. A
conclusão é que um falar torpe revela um coração poluído e tal procedimento
não é próprio para o cristão. Controlemos nosso coração, e, por
consequência, nossa língua.

I – UM CONSELHO PARA OS ASPIRANTES À DOCÊNCIA NA IGREJA (v.


1-2a)

Tiago não está desestimulando as pessoas de serem mestres na Igreja.


Na verdade, o próprio Jesus Cristo proveu esse ministério e dom para suprir
sua Igreja: “E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros
como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do
corpo de Cristo” (Ef 4.11-12). Ao contrário de restringir, Tiago está
advertindo as pessoas acerca dos movidos adequadas e orientando da
realidade de tal ministério.

48 CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.

- 43 -
Mas, qual o ponto de atenção em relação a exercer o dom de ensino? O
escritor mostra dizendo que aquele que exerce o ensino terá um juízo mais
criterioso. Ou seja, quem ensina tem maior responsabilidade de praticar
aquilo que fala. Quem orienta aos irmãos não pode se dar ao luxo de estar
amarrado por tais pecados, caso contrário, uma nova classe de fariseu
estaria surgindo dentro da Igreja.
No capítulo anterior Tiago adverte que a fé sem obras é morta! Ou seja,
não adianta apenas falar e não praticar. Crer e não agir! Ensinar e não viver!
Aquele que ensina a não roubar não pode ser um ladrão! Quem ensina
a não caluniar não pode ser caluniador! Caso contrário, o mesmo receberá
maior juízo! Além de receber o juízo, receberá “maior” juízo! Por que maior
juízo?
A lógica de Deus inclui o seguinte fato: “De todo aquele a quem muito
é dado, muito será requerido; e daquele a quem muito é confiado, mais
ainda lhe será exigido” (Lucas 12:48). Ou seja, o juízo é proporcional ao
conhecimento, à sabedoria, às dádivas recebidas. Quanto mais luz
recebemos, mais deveremos andar neles e mais seremos cobrados.
Aquele que peca sem conhecimento receberá o juízo em um nível,
contudo, aquele que sabe o que deve fazer e não faz terá juízo ainda mais
severo por conta de sua consciência e o nível de comprometimento com o
pecado! “Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operara a
maior parte dos seus milagres, o não se haverem arrependido, dizendo: Ai de
ti, Corazin! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem
operado os milagres que em vós se operaram, há muito elas se teriam
arrependido em cilício e em cinza. Contudo, eu vos digo que para Tiro e
Sidom haverá menos rigor, no dia do juízo, do que para vós. E tu,
Cafarnaum, porventura serás elevada até o céu? até o hades descerás;
porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se
operaram, teria ela permanecido até hoje. Contudo, eu vos digo que no dia
do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para ti” (Mateus
11.20-24).
Assim, a responsabilidade do mestre é muito maior do que a dos
outros. Tiago adverte que “todos tropeçamos em muitas coisas”. Sugerindo
que aquele que ensina não está isento de falhas, contudo, deve assumir a
responsabilidade e ter a coragem de abraçar uma vida, que mesmo
imperfeita, está sujeita a maior juízo. “Todos nós temos grandes chances de
cometer equívocos e somos propensos a errar; por isso, corremos sérios
riscos ao assumir voluntariamente o papel de guia”49.
O foco do autor era acalmar um pouco a ânsia que existia na época
entorno do ensino na Igreja. O objetivo era fazer as pessoas refletirem
apropriadamente sobre tal responsabilidade para que elas não se
precipitassem.

APLICAÇÃO: Aqueles que almejam a função de mestre, que desejam ensinar


ou exercer liderança na Igreja devem estar atentos a este conselho sabendo
que “a quem muito é dado muito é cobrado”. Estamos convictos de nossas
aspirações? Estamos cientes da responsabilidade envolvida? Que o Senhor

49 Idem. p. 174.

- 44 -
nos dê graças e entendimento. E que Ele nos conduza com firmeza para
realizar a sua obra e exercer os dons, talentos e liderança do seu agrado.

II – O HOMEM MADURO DOMINA A LÍNGUA E O CORPO (v. 2b)

Após as orientações sobre o exercício do ensino na Igreja, Tiago passa


a dar mais uma de suas orientações práticas. Agora, adverte sobre a
“língua”.
“Se alguém não tropeça em palavra, esse homem é perfeito, e capaz de
refrear também todo o corpo” (v. 2b).
As orientações acerca da “língua” não devem ser confundidas como se
tratando do simples órgão do paladar. Refere-se a algo maior, ou seja, à
fonte de pensamentos e desejos humanos; ao “coração”, ao interior do
homem. Jesus disse que “a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus
12.34), e que: “do interior do coração dos homens vêm os maus
pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os
adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a arrogância e a insensatez”
(Marcos 7.21-22). “Se o coração, por ser a fonte de toda essa iniquidade, está
ligado à língua, não podemos admirar que a língua repasse aquilo que a
fossa suja do coração esteja criando. Tiago, evidentemente, está expressando
a realidade da língua não conectada ao Espírito no coração do filho de
Deus.” (SHEDD, 2010, p. 104)50.
A “língua” é apresentada tendo um enorme potencial de influência
sobre a pessoa. A “língua”, ou a palavra, como centro de direção deve ser
controlada. Tiago diz que quem controla isso, controla todo o resto do corpo.
O homem que não tropeça em palavras é considerado “perfeito”. Esse
termo perfeição significa maturidade. Esse homem, servo do Senhor é
maduro e consegue ter o domínio próprio, controlando sua fala, seus
desejos, seu coração, e, por consequência, refreando todo o corpo, pois se
consegue refrear o mais difícil, também consegue dominar o mais fácil!
Assim, quando a “língua” é “domada” pelo filho de Deus, toda a pessoa
segue sob controle.
Desta forma, a “língua” tem papel importante. É o “pequeno
dominando o grande”.

APLICAÇÃO: Precisamos ser pessoas perfeitas, completas, não faltando em


nada. Como cristão maduro precisamos controlar nossa língua e, por
consequência, refrear todo o nosso corpo para a glória de Deus. Estou
disposto a trabalhar essa maturidade diante de Deus?

III – O PODER DA LÍNGUA (v. 3-4)

Quem nunca ouviu o ditado: “há poder nas palavras”? Ele reflete
justamente o poder da língua. O pastor Tiago também fala sobre a
potencialidade da língua através de ilustrações. O cavalo, por exemplo, é

50 SHEDD, Russell P., BIZERRA, Edmilson F. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São
Paulo: Shedd Publicações, 2010.

- 45 -
grande e imponente, contudo, domado e guiado por freios em sua boca.
Navios grandes e impetuosos igualmente são guiados por um pequeno leme
e vão para onde o timoneiro orienta. Mesmo quando a embarcação é grande
e os ventos são contrário, vemos a eficiência do leme.
Notemos quão nobre tarefa é atribuída à língua: a condução da vida.
O cuido que devemos ter é que tanto essa língua pode conduzir o navio
adequadamente, quando o servo de Deus é maduro e submisso à Sua
vontade, como causar um naufrágio, quando o homem é carnal e dominado
pela língua.
Assim, devemos considerar adequadamente como anda nossa fala,
nossas expressões. O que estamos expressando é aquilo que está
direcionando nossos passos. Nosso caminho é “aquilo que falamos”.

APLICAÇÃO: Tenhamos consciência do por da palavra. Vejamos como anda


nossas conversas e expressões. Qual tem sido nosso palavreado? Como são
nossas palavras? De paz, de bênção, de Deus ou palavra de maldição, de
amargura, de derrota, de infelicidade? Cuidemos, pois nossas palavras
indicam “nosso caminho”!

IV – O HOMEM CARNAL NÃO CONSEGUE DOMINAR A LÍNGUA E ESTA É


DOMINADA PELO INFERNO (v. 5-8)

A língua é pequena, mas apesar de sua aparente insignificância, tem


grande poder. Quando só pode ser dominada pelo servo de Deus, caso
contrário ela toma a dianteira e domina o homem. Tiago mostra dificuldade e
até impossibilidade do homem natural conseguir vencer seu coração
mundano. “Toda espécie de animais tem sido dominada pelo homem,
contudo, a língua não se consegue domar. Às vezes é um mal irrefreável
cheio de veneno”! A língua não se consegue domar! Triste realidade e aponta
ainda mais a necessidade de buscarmos de Deus o livramento.
A língua que domina o homem o faz para o mal. É como fagulha que
incendeia um bosque inteiro, ou seja, ela pode incendiar todo o corpo.
Ela de gaba de conquistas. Se exalta. Como um pequeno fogareiro
inflama todo o corpo com contaminação e iniquidade. O problema é que a
fonte que incendeia a língua, ou o coração da pessoa, é o inferno.
Desta forma é possível as pessoas estarem sendo incentivadas pelo
inferno, agindo mediante as orientações e fomentações do inimigo. Por isso
suas vidas são inundadas de violência, pestilência e praguejamento. As
línguas são como fossas, jorrando um odor fétido de enxofre.
Esse mal incontido pode guiar o homem para o erro. Uma pena, pois
língua que deveria promover a luz, ao contrário, pode trazer densas trevas!

APLICAÇÃO: Não podemos desconsiderar o poder destruidor da nossa


língua. É preciso cuidar daquilo que falamos, para que não fiquemos
contaminados por inteiro. “Louvar ao Senhor no domingo e soltar palavras
hostis na segunda-feira contra um cliente, contra um motorista que nos
cortou a frente ou contra um filho que nos irritou, mostra quão longe

- 46 -
estamos de reproduzir a imagem do Filho de Deus (Rm 8.29)” (SHEDD,
2010, p. 106)51.

V – AMBIGUIDADE DA LÍNGUA (v. 9-12)

Como visto antes, somente o servo de Deus pode controlar sua língua
por causa da bênção de Deus em sua vida. Ao contrário, o homem natural
não a pode domar e é sujeito aos seus caprichos.
Na última parte, vemos como a língua pode ser ambígua. “Com ela
glorificamos a Deus e, em seguida, amaldiçoamos aos homens”. Que
contradição, uma boca produzindo bênção e maldição ao mesmo tempo! É
possível da mesma fonte sair água doce e amargosa? Uma figueira pode
produzir uvas e a videira produzir figos? Todo esse questionamento de Tiago
tenta mostrar que é inadequado para o cristão possuir uma língua
indomada.
Doutra forma, as figuras mostram que não será possível glorificar a
Deus de fato, pois “não é possível uma fonte de água salgada dar água doce”
(v.12)! Não é possível adorar a Deus com os lábios num momento e, em
seguida, proferir maldições. De fato, não houve adoração a Deus, a fonte é
salgada e não há nela uma “adoração” verdadeira. Ela é totalmente
contaminada.
A maior lição de Tiago pode ser resumida nessa frase: “Não convém,
meus irmãos, que se faça assim” (v. 10).
Não é adequado para o crente ter um palavrado reprovado, ser
inflamado e consumido pelo pecado e pela iniquidade. Não é possível sermos
guiados pelas concupiscências de nossos pensamentos tolos. “Mas eu lhes
digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra
inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e
por suas palavras serão condenados” (Mateus 12.36-37).

APLICAÇÃO: Nossa língua precisa ser sempre fonte de vida e bênção. A


língua é uma espécie de medidor de espiritualidade, revelando onde está
nosso coração. Um discípulo maduro, que busca a perfeição, domina sua
língua. Sua fonte é doce e não amarga. Os seus frutos são bons. A língua de
um coração transformado, cheio de vida, produz transformação de vida, não
morte nem destruição, como muitas línguas fazem.

51 Idem.

- 47 -
A SABEDORIA DO ALTO
Tiago 3:13-18

13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras
em mansidão de sabedoria.
14 Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis,
nem mintais contra a verdade.
15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
16 Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má.
17 Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada,
tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.
18 Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz.

INTRODUÇÃO

O tema trabalhado nesta perícope (passagem bíblica selecionada para


estudo) é a sabedoria. Tiago mostra basicamente dois tipos de sabedoria: a
do alto e a terrena. A primeira é cheia de qualidades e promove a edificação
do ser; a segunda, cheia de problemas. A conclusão é que se deve ter a
verdadeira sabedoria para em paz semear e viver a justiça de Deus.

I – EVIDÊNCIAS DA SABEDORIA DO ALTO

Quem dentre vós é sábio e entendido? É uma pergunta misturada com


desafio. De fato, toda a Igreja deveria responder afirmativamente, pois não é
certo que vivemos o evangelho para sermos sábios e entendidos no Senhor?
Responder afirmativamente não significa ser orgulhoso ou altivo, mas ser
servo de Deus maduro em muitas questões. É assumir que tem a sabedoria
correta de Deus que implica em muitas boas obras.
Na verdade, o desafio para os que se acham sábios e entendidos é
mostrar com as obras tal sabedoria. A sabedoria de Deus não é algo tanto
para se dizer, quanto para se fazer. A verdadeira sabedoria é aquela que vem
do alto e é cheia de boas obras.
O desafio é mostrar a sabedoria em boas obras e mansidão. Mansidão
que deve ser notada também. O sábio, em Cristo, não deve ser orgulhoso,
altivo, mas humilde e sábio. Deve imitar seu mestre que disse ser “manso e
humilde de coração” (Mateus 11.29).
Na antiguidade, sabedoria e humildade eram praticamente inimigas.
A visão grega da sabedoria pressupunha o orgulho. Uma pessoa
“sábia” tinha que se orgulhar de sua posição. Para Tiago, porém,
afirmar que se prova ser uma pessoa sábia executando obras com
humildade era algo totalmente contra aquela cultura. Algo que é
também contra nossa cultura hoje. A tendência que temos é de
exaltar-nos e orgulhar-nos de nossos próprios feitos52.

Essa sabedoria do alto é a que devemos ter. Ela é produtiva, iluminada


e abençoadora. Mas, “O que é sabedoria? Sabedoria é o uso correto do

52 SHEDD, Russell P., BIZZERRA, Edmilson F. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São
Paulo: SHEDD PUBLICAÇÔES, 2010. p.111.

- 48 -
conhecimento”53. Não é um tipo de expertise para os negócios, não são
macetes para concursos, nem mesmo palpites para o sucesso financeiro.
Essa sabedoria está liga ao caráter, à moral e à ética. Está ligada ao viver
cristão diante de Deus. “Sabedoria é também olhar para a vida com os olhos
de Deus. A pergunta do sábio é: em meus passos, o que faria Jesus? Como
ele falaria, como agiria, como reagiria?”54. Ela é diferente do conhecimento e
da inteligência. O conhecimento está mais ligado à um acúmulo de
informações. Já a inteligência seria a faculdade de adaptar esse
conhecimento para resolução de alguns desafios. Seria a possibilidade de
seleção e uso das informações. Contudo, a sabedoria supera estas
faculdades, pois tem a capacidade de relacionar aspectos éticos, morais e
espirituais numa prática de vida que glorifique a Deus. A sabedoria faz o
homem se amoldar à vontade de Deus.
Assim, a verdadeira sabedoria, do alto, não é só teórica, pelo contrário,
deve ser mostrada em obras e com mansidão.

APLICAÇÃO: Somos sábios diante de Deus? Estamos tendo a verdadeira


sabedoria? Caso ela nos falta, o caminho para alcançá-la é pedindo, orando.
“Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
liberalmente e não censura, e ser-lhe-á dada”. (Tiago 1.5). Lembremos que
tal sabedoria deve se expressar com boas obras e mansidão. Nossa sabedoria
está produzindo boas obras? Estamos sendo mansos em nossos
procedimentos, diálogos e confrontos?

II – EVIDÊNCIAS DA SABEDORIA TERRENA

Ao contrário da verdadeira sabedoria, da sabedoria do alto, está a


denominada por “terrena”, ou seja, da terra, humana e carnal. Na verdade,
Tiago dá três adjetivos iniciais para ela: é terrena, animal e diabólica! (v. 15).
Quando Tiago fala que ela é terrena já a identifica com aquela
sabedoria que Paulo chamou de “sabedoria deste mundo” (1Co 1.20,21), ou
seja, aquele tipo de sabedoria que é loucura para Deus. “A sabedoria do
homem vem da razão, enquanto a sabedoria de Deus vem da revelação. A
sabedoria do homem desemboca no fracasso, a sabedoria de Deus dura para
sempre”55.
Depois, essa sabedoria é animal em oposição à espiritual. “Essa
sabedoria está em oposição à nova natureza que temos em Cristo. É uma
sabedoria totalmente à parte do Espírito de Deus”56.
Por último, ela é demoníaca. Influenciada pelo inimigo. Uma sabedoria
própria do Diabo. Ou seja, é um tipo de sabedoria que se vangloria dos feitos
e dos conhecimentos, mas que está longe da obediência e submissão à Deus.
É uma sabedoria mentirosa. Induz a se agir contrariamente à Palavra de
Deus. É um engodo do diabo que traz outra vertente de informação. É como

53 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 71.
54 Idem. p. 72.
55 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
73.
56 Idem.

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aconteceu na tentação de Adão e Eva. Deus disse: “não coma”, o inimigo
disse: “coma”. Deus disse: “certamente morrerás”, o inimigo disse: “não
morrerás”. Ele sempre age com mentiras. É o pai da mentira e consegue
enganar a muitos ainda hoje.
Quem tem a sabedoria do alto mostra em obras. É manso e cheio de
bons sentimentos. Mas, a sabedoria que é terrena está recoberta de
sentimentos ruins.
A sabedoria terrena é ciumenta e cheia de sentimento faccioso. Em
outras traduções os sentimentos mudam um pouco. Aparecem, portanto:
“inveja, amargura e egoísmo” (NTLH), “ciúme amargo e espírito de rivalidade”
(PAST).
A sabedoria terrena se manifesta por meio de uma inveja amargurada.
Ao contrário de se pensar nos outros, esse sentimento puxa e suga toda
força para si próprio, para o eu. O desejo é promoção própria, pessoal em
detrimento dos outros. Os discípulos de Jesus passaram por isso. Em
determinado momento discutiram entre si quem era o maior. “O invejoso, em
vez de alegrar-se com o triunfo do outro, alegra-se com seu fracasso. Ele não
apenas deseja ter como o outro, mas tem tristeza porque não tem o que é do
outro. O invejoso é alguém que tem uma super preocupação com a sua
posição, dignidade e direitos”57.
A sabedoria terrena ainda se manifesta por sentimento faccioso. “A
palavra que Tiago usa, erithia, significa espírito de partidarismo”58. Mostra o
equivoco impulsionado por esse sentimento quando move o crente a agir
com partidarismo, com espírito faccioso, de divisão, de racha na igreja. Tudo
isso para que a vontade egoísta seja atendida. Esse quadro de rachas e
divisões nas igrejas tem sido frequentes nas últimas décadas. E muitos deles
promovidos por tal ação.
O fato é que onde se manifestar esses sentimentos não se poderá dizer
que exista a atuação da verdadeira sabedoria. É um contrassenso. Não é
possível ser cheio da sabedoria de Deus e, ao mesmo tempo, viver com o
coração cheio de sentimentos e práticas ruins. Quem se percebe como sábio
deve mostrar-se distante dessas manifestações carnais.
Mas, quem insistir que é sábio e viver nesses sentimentos perversos
está, na realidade, faltando com a verdade. Não se glorie nessa sabedoria, diz
Tiago, e não “mintais contra a verdade”. Viver, se gloriar e se intitular sábio
vivendo numa condição dissonante da verdadeira sabedoria é um grave
problema, uma séria deturpação da realidade. Tal atitude é extremamente
prejudicial.
Onde há esse sentimento de ciúme e facção aí haverá, ao contrário do
que se exige a verdadeira sabedoria, confusão, bagunça, intrigas e toda sorte
de obras más. Neste ponto será notório que em meio a este caos, a sabedoria
de Deus não está presente.

APLICAÇÃO: A sabedoria terrena é uma verdadeira desventura. Devemos


orar ao Senhor para que nossa sabedoria não seja desse tipo. Ela não é
apropriada para o cristão. Um teste para vermos a origem de nossa

57 Idem. p. 75.
58 Idem.

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sabedoria é perceber se há em nós ciúmes, inveja, amargura, egoísmo,
sentimento faccioso ou espírito de rivalidade. Se tais sentimentos e atitudes
estiverem reinando em nossa vida devemos repensar nossa sabedoria, pois a
verdadeira sabedoria não se manifesta nestes termos. Oremos ao Senhor em
busca de perdão e clamemos pela graça da verdadeira sabedoria vinda do
Espírito Santo.

III – CARACTERÍSTICAS DA SABEDORIA DO ALTO

A sabedoria do alto é bem diferente da falsa sabedoria. Ela é pura.


Shedd diz que: “A sua pureza é de uma “virgem” (2Co 11.2) sem qualquer
contaminação moral”59. “Tal sabedoria é pura, ‘não misturada com o mal’.
Essa pureza divina (cf. 1Pe 1.22) é, às vezes, entendida como o equivalente
da sinceridade, que excluiria toda inconstância, todo coração dividido (1.8;
4.8) e os olhos maus (Mt 6.22)”60. Ela não está maculada pelo mal, por
intrigas, pelo pecado, por pensamentos ruins.
Depois, ela é pacífica. Ao invés de promover a confusão, ela traz a paz.
Longe de incitar os ânimos, ela traz a tranquilidade. “A sabedoria divina não
é contenciosa nem facciosa e nem beligerante”61.
Outra característica dessa bênção é sua moderação. A qualidade de
moderação nos direciona a evitar extremos, radicalismos. Deve trabalhar em
termos equilibrados visando a propostas e soluções adequadas.
Radicalismos e extremismos têm sido ruins para qualquer povo.
Normalmente os extremos extrapolam tanto para um lado como para o
outro. É algo como o ditado: “oito ou oitenta”.
Essa sabedoria ainda é tratável. Ou seja, há espaço para o diálogo. É
possível “tratar” algo com ela. Não é obstinada. Não é uma posição
absolutista. Não é uma sabedoria no sentido de “sabe-tudo”, autossuficiente,
completa e acabada. É uma sabedoria que ouve. Que conversa e se convence
também em prol do outro.
A misericórdia e bons frutos devem estar presentes também. “A
palavra misericórdia significa lançar o coração na miséria do outro. É
inclinar-se para socorrer o aflito”62.
Outra qualidade dessa sabedoria é a imparcialidade, ou seja, ela não é
dada a acordos espúrios em favor de A ou B. Não age com preferência em
relação às pessoas por conta de qualidades, favores ou condições especiais.
“A palavra grega adiákritos significa ‘não dividido em julgamento’”63.
Por fim, essa sabedoria não é hipócrita! Não é falsa, mentirosa nem
ilusória. É legítima.
É uma sabedoria que gera a paz. E em paz se semeia a justiça, ou seja,
tal qualidade é a recomendável e propícia para o crescimento da palavra. Nas

59 SHEDD, Russell P., BIZZERRA, Edmilson F. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São
Paulo: SHEDD PUBLICAÇÔES, 2010. p. 115.
60 CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
p. 179-180.
61 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p. 77.
62 Idem. p. 78.
63 Idem.

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palavras de Tiago: “o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que
promovem a paz”.

APLICAÇÃO: Podemos notar as características dessa sabedoria do alto


agindo em nós? Temos tido essas qualidades imperando em nossas vidas?
Quando foi a última vez que se expressou em nossa prática esse tipo de
sabedoria? Oremos para que o Senhor continue nos abençoando para
preservar esta bênção em nós. Caso precisemos dela, repetimos, a caminho é
orar e buscar a bênção de Deus. Pois, ele “a todos dá liberalmente e não
censura”. (Tiago 1.5).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Resumidamente, podemos dizer que a sabedoria humana e terrena é


cheia de problemas. Traz consigo sentimentos espúrios tais como ciúmes,
inveja e espírito faccioso. O pior é que esses sentimentos e essa falsa
sabedoria alcança espaço até mesmo no meio do povo de Deus. Dentro da
Igreja.
Já a sabedoria que vem do alto é uma verdadeira bênção. Traz consigo
uma vida reta! O verdadeiro sábio mostrará com suas boas obras essa
sabedoria. Tal sabedoria produz um pacote de qualidade tal qual o fruto do
Espírito. Ela promove a paz, é moderada, tratável, cheia de misericórdia e
bons frutos. Imparcial e não fingida. Ou seja, cheia de qualidades do Senhor
para edificar seu povo.

- 52 -
A AMIZADE DO MUNDO É INIMIGA DE DEUS
Tiago 4:1-12

1 De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que
militam na vossa carne?
2 Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer
guerras. Nada tendes, porque não pedis;
3 pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.
4 Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que
quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
5 Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que
ele fez habitar em nós?
6 Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos
humildes.
7 Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
8 Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que
sois de ânimo dobre, limpai o coração.
9 Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em
tristeza.
10 Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.
11 Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão
fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz.
12 Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que
julgas o próximo?

INTRODUÇÃO

Tiago nos conduz neste texto por um confronto de amizade. Somos


amigos de Deus ou amigos do mundo? Ele faz saber que essas amizades são
excludentes, ou seja, ser amigo do mundo significa ser inimigo de Deus e
vice-versa. Evidentemente que nosso objetivo é sermos amigos de Deus, logo,
é preciso renunciar ao mundo, ao pecado, aos desejos carnais que nos
assediam. O versículo-chave é “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós
outro”. Chegar a Deus, deixando o pecado, se arrependendo, purificando as
mãos, chorando e se humilhando é o processo que conduz a uma vida de
amizade legítima com o Senhor.
Assim, o alvo da admoestação é que o crente deixe os desejos
mundanos e se aproxime de Deus.

I – GUERRA PELOS PRAZERES CARNAIS (v 1-3)

a) Origem das guerras e contendas.

Tiago inicia o texto considerando que há guerras e contendas entre o


povo, no meio da igreja. Isso por si só já é uma lástima. Guerras e contendas
dentro da igreja é uma visão bem desagradável e carnal. Contudo, não
devemos ser ingênuos e pensar que na igreja tudo são flores ou que o povo
de Deus já esteja completamente perfeito. É possível sim que haja intrigas e
confusão dentro da comunidade cristã, apesar de ainda acharmos que isso é
lamentável!
Mas, Tiago faz uma pergunta: De onde vem isso? Certamente não
podemos atribuir à Deus tais sentimentos. Não é fruto do Espírito Santo.

- 53 -
Não é obra digna do reino de Deus. Ou seja, há um intruso que milita para
fomentar essas situações. A resposta é que tais guerras e contenda provém
dos prazeres que militam na carne!
Guerras, discussões, dissenções, intrigas não vem de Deus, não vem
do Alto. Elas são geradas bem perto de nós, em nós mesmo, nos nossos
prazeres e desejos impróprios. “Na conversão recebemos uma nova natureza,
mas não perdemos a velha. Ela precisa ser crucificada. Essas duas
naturezas estão em conflito (Gl 5.17)”64.
Agora duas palavras nos chamam atenção. A primeira é prazeres
(ἡδονή, hedone): deleite sensual, deleite, prazer. Vejamos que é um deleite,
um prazer aquilo que tenta nos seduzir e nos arrebatar. Trata-se de um
prazer para a carne, daí a dificuldade do homem carnal vencer tal desejo.
Não estamos falando de um espinho, de uma cruz, mas de um prazer.
Vencer um prazer para a carne é o desafio porque ele é um prazer, é bom
para a carne, traz satisfação e deleite. Contudo, tal deleite e satisfação, como
dito, é carnal, para o homem carnal, para a vida mundana.
A outra palavra de destaque é militam (στρατεύομαι, strateuomai):
servem numa companhia militar, guerreiam. Os prazeres guerreiam, militam
em nossa carne. A ação deles é enérgica, decidida, bélica, militar! Há uma
força considerável para implantar tais desejos em nós. A pergunta que
fazemos é: Será que estamos nos contrapondo com a mesma intensidade
contra essa milícia? Estamos lutando, batalhando, militando contra as
forças carnais em nós ou estamos em desvantagem? Há uma milícia armada
contra nós, o que faremos a este respeito?

APLICAÇÃO: Precisamos pensar se vivemos diante de tal realidade de


guerras e contendas. Estamos envolvidos em alguma? Conseguimos
reconhecer que tal conflito não vem de Deus? (Independentemente de quem
esteja ou não com a “razão”). Devemos evitar as guerras, conflitos e intrigas
na igreja para o bem do povo de Deus. Tenho combatido o pecado com uma
forte milícia ou tenho sido brando e conivente com o mesmo? Ele já declarou
guerra contra nós, o que faremos a respeito? Não devemos declarar guerra
também? Não devemos lutar contra nossos desejos e prazeres? A mensagem
aqui é de confronto ao pecado. Não deixemos ele se instalar, nos cativar ou
controlar. Não deixemos nossa carne desguarnecida, vulnerável aos ataques
dos prazeres. Oremos e vigiemos para que nossa vontade seja sempre cativa
ao Senhor.

b) Objetivo das guerras e contendas.

O objetivo das guerras e contendas é para alcançar o desejo do


coração, a cobiça, a inveja, etc. As obras carnais de que falamos
anteriormente. Mas, é inútil cobiçar, invejar, matar para obter tais coisas. O
pensamento é que o plano de fundo é a igreja. O povo está no contexto da
comunidade cristã, logo devemos considerar constantemente o agir de Deus
e sua intervenção para disciplinar e guiar seu povo. Assim, as cobiças,

64 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
87.

- 54 -
invejas e contendas não poderão ser bem-sucedidas, pois o próprio Deus
está contra isso. Logo, o crente irá cobiçar, matar, invejar e praticar,
possivelmente, coisas semelhantes e piores, contudo, esse método não
poderá ser eficaz para trazer a satisfação para o crente, caso contrário seria
uma contradição! Assim, é dito que nada podeis obter. Esse método não
trará legitimamente nada de bom e útil para o crente.
Então, viveis a lutar e fazer guerras, mas em vão! Nada podereis obter
assim. É a franca mensagem de Deus. Esse não é o caminho.
Mas, porque não se alcança? Já dissemos que o caminho é
equivocado. Mas, outro motivo é que, além de deixar o caminho errado, o
povo deve seguir o caminho certo. Não tendes porque não pedis. Não se
alcança nada porque não se ora, não se pede a Deus, não há uma
dependência do Senhor.
Assim, é necessário deixar o caminho errado e seguir o caminho
correto. É necessário pedir! Pedir a Deus em oração. Há, portanto, uma
crítica subjacente em relação à falta de oração do povo. Ore! Peça a Deus.
Mas, a igreja não agia assim. Não se utilizava dos métodos adequados.
Utilizava atalhos e alternativas humanas.
Mas, além de não pedir, era possível pedir inadequadamente. Pedir
com motivação errada. Pedidos voltados apenas para a satisfação carnal e
para o deleite próprio, em oposição à vontade de Deus! Então, o povo nada
tinha porque não pedia, e quando pedia, fazia de modo errado.
A oração não é para se pedir qualquer coisa e de qualquer maneira,
caso contrário poderemos ter uma oração como essa, não respondida! Pois,
um pedido feito por motivos errados não pode ser atendido. Pedir para se
esbanjar em prazeres carnais não seria um pedido adequado!

APLICAÇÃO: Qual tem sido o objetivo da nossa vida: glorificar a Deus em


tudo ou conseguir satisfação? Como tem sido nossos pedidos? Será que a
frase: “vocês só querem o que dará prazer a vocês” (Bíblia VIVA) se aplica a
nós?

II – PERIGO DO MUNDANISMO (v 4-6)

No versículo 4, Tiago inicia o texto chamando os destinatários da carta


de infiéis. De modo objetivo e até áspero se conclui que as pessoas que vivem
para satisfazer sua carne se constituem traidoras de Deus. É uma pena
existir dentro da igreja pessoas que possam ser identificadas como traidoras
de Deus, que não vivem para o Senhor, mas para seu ventre.
Essa postura hedonista, na verdade, é identificada como “amizade do
mundo”, um mundanismo. E tal mundanismo representa inimizade a Deus.
Não há como servir a dois Senhores: ao mundo e a Deus. Viver no
mundanismo é ser inimigo de Deus.
E como a igreja tem sido atraída pelo mundanismo! Por esse sistema
vaidoso e hedonista, distante e oposto a Deus. “Esse sistema que rege o
mundo é anti-Deus. Se o mundo valoriza a riqueza, começamos a valorizar a

- 55 -
riqueza também. Se o mundo valoriza o prestígio, começamos a valorizar o
prestígio. Temos a tendência de assimilar esses valores do mundo”65.
Notemos que essa ligação com o mundo está relacionada aos desejos e
cobiças. Neste ponto somos mundanos, quando nossos desejos e querer são
hedonistas, são para satisfação da carne. O entendimento não pode ser
extrapolado. Não significa, então, outra espécie de ligação com o mundo a
não ser esta semelhança quanto aos desejos e motivações carnais.
“O mundo aqui é a sociedade humana com seus valores, princípios e
filosofia vivendo à parte de Deus”66.
Assim, não é próprio interpretar a “amizade do mundo” como sendo as
amizades que temos com pessoas não crentes. Também não significa algum
uso e associação com elementos da cultura como música, arte, educação e
outros. O mundo não é simplesmente um espaço físico, mas, uma região
espiritual, de princípios, desejos, vontades e objetivos.
Nesse sentido, em que o mundo é representado como um sistema de
ética e valores opostos aos de Deus e que o apóstolo João igualmente afirma:
“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o
mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida,
não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como
a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece
eternamente” (1 João 2.15-17).
O mundo aqui é esse sistema carnal de desejos, vaidades e futilidades
onde Deus é preterido. Nele existem e dominam as diversas concupiscências
e tal sistema não é apropriado ao cristão. Esse sistema perverso, a “Grande
Babilônia” (Ap 18.2), há de passar, de ser destruído para que a vontade de
Deus reine eternamente.
Deus deseja exclusividade. Não é possível servir a dois senhores! É por
isso que Tiago enfatiza o texto: “É com ciúme que por nós anseia o Espírito”.
Deus nos quer em exclusividade e tem ciúme de nós. Ciúme no bom sentido,
quando tem cuidado de nós em relação a outras influências, quando nos
quer em atenção e fidelidade, em oposição a uma elasticidade perniciosa de
influências de toda parte. Deus nos quer exclusivamente para Ele. O outro
texto citado por Tiago traz um consolo: “Deus resiste aos soberbos, mas dá
graça aos humildes”. Encorajando-nos a entender que apesar da
malignidade do mal, o Senhor dá graça ao humilde a vencer as barreiras.
Nos dá livramento e escape para vivermos exclusivamente para Ele.

APLICAÇÃO: Temos sido infiéis para com Deus? Temos agido de forma
mundana? O mundanismo é uma ameaça para a Igreja. Os banquetes dessa
terra têm atraído e seduzido a muitos, contudo, o preço é muito caro a
pagar: a própria vida. Por isso tomemos cuidado. Sejamos como Daniel,
Hananias, Misael e Azarias que não se contaminaram com os banquetes do
rei. Que não se negociaram sua fé e não abraçaram o “mundo”. Que nossas

65 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
86.
66 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado. São Paulo: Editora Candeia,
2000. Vol. 6. p. 64.

- 56 -
mentes e coração estejam diante do trono de Deus para cumprir a vontade
dEle e não o nosso vão e fútil desejo mundano.

III – COMO FUGIR DO MUNDANISMO (v. 7-10)

a) Submetendo-se à Deus e resistindo ao Diabo.

A primeira observação de Tiago sobre como podemos vencer o


mundanismo é: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele
fugirá de vós”. A sujeição a Deus é o primeiro passo. O crente deve se
submeter ao Senhor. Reconhecê-lo como Rei. Obedecer aos seus
mandamentos. Considerar sua vontade.
“Essa palavra [submeter] é um termo militar que significa fique no seu
próprio posto, ponha-se no seu lugar. Quando um soldado quer se colocar
no lugar do general ele tem grandes problemas. Renda-se
incondicionalmente. Ponha todas as áreas da sua vida sob a autoridade de
Deus”67.
Enquanto não houver tal atitude, todo procedimento, ritual ou
alternativa será inútil para vencer o mundo. Deve haver submissão à Deus
até porque ele resiste ao soberbo! Àquele que se acha autossuficiente, que é
o dono da verdade, e está certo de si mesmo, não pode alcançar vitória
contra o mundo, pois já é em si mesmo mundano com tais considerações.
Outro ponto é que o crente deve resistir ao Diabo. A figura do maligno
estava oculta até aqui, mas, agora notamos que ele também age no contexto
do mundanismo. Ele trabalha na ilusão, no engano, na motivação, na
influência para pecar. O fato é que o Diabo deve ser resistido! Deus proverá
poder e autoridade para o crente, que é submisso a Ele, vença o Diabo.
Portanto, essas são as primeiras atitudes do crente para se livrar do
mundanismo.

b) Purificando as mãos e limpando o coração.

Tendo sido o cristão realinhado nos trilhos da salvação e desviado do


rumo do mundo, segue o segundo passo: a santificação. Purificar as mãos e
limpar o coração apontam para isso.
É preciso achegar-se a Deus. Buscá-lo em devoção. Como venceremos
o mundo sem Deus? Precisamos buscar a Deus, nos aproximarmos dEle.
Entregarmos nossa vida em sacrifício vivo, santo e agradável para que
possamos experimentar a boa e perfeita vontade de Deus. Como poderemos
experimentar as maravilhas de Deus estando longe dEle? Como podemos
nos deleitar nEle se estivermos distantes? Acheguemo-nos a Deus. Só assim
alcançaremos a possibilidade de purificar as mãos e limpar o coração!
A confissão de pecados igualmente deve ser constante. As nossas
muitas falhas não devem ser jogadas para debaixo do tapete. Mas, resolvidas
da maneira correta. Aos que são de ânimo dobre, que em alguns momentos

67 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 89.

- 57 -
estão animados e, de repente, totalmente distantes da fé, devem, também,
limpar o coração.

c) Arrependimento.

Tiago recomenda agora o arrependimento e a conversão. O cristão deve


lamentar sua postura mundana, deve encontrar motivo de vergonha e pranto
em tal procedimento e não riso. O riso e a felicidade mundana devem ser
rejeitados, pois de fato não representar felicidade, mas engano e escárnio à
Deus. A alegria do mundo é condenável pois é motivada e nutrida pela
corrupção moral. Assim, o cristão deve perceber que o que tinha era perda e
não ganho, que os valores que tinha e os sentimentos de que nutria são
equivocados.
O lamento deve ser a tônica como reconhecimento do grande equívoco
que foi a vida carnal!

d) Humilhando-se na presença do Senhor.

Todo esse procedimento representa uma humilhação diante do


Senhor, quando o crente se submete a Ele, quando há arrependimento,
tristeza invés de riso e todo desejo mundano é rejeitado. E qual o fim disso?
Quando sentirmos essa indignidade diante do Senhor, aí sim, Ele se
levantará e nos ajudará. Ele nos exaltará dando condições para vencermos o
mundo!
“Temos a tendência de tratar o nosso pecado de forma muito leve e
condescendente. Tiago exorta-nos a enfrentar seriamente o nosso pecado
(4.9). A porta da exaltação é a humilhação diante de Deus (4.10). Deus não
despreza o coração quebrantado (Sl 51.17)”68.

APLICAÇÃO: Talvez a grande pergunta que necessitamos nos fazer é: “existe


lágrimas nos nossos olhos por causa de nossa vida mundana ou nos
acostumamos com este século? É preciso um retorno ao Senhor. É
necessário lágrimas nos olhos em relação ao pecado. É preciso de humilhar
na presença de Deus para que ele, no devido tempo, nos exalte!

IV – CONTRA UM MUNDANISMO ESPECÍFICO: A MALEDICÊNCIA (v. 11-


12)

Tiago fecha a seção com a denuncia de um mundanismo específico: a


maledicência. Ele já havia feito advertências no capítulo 3 quanto aos
perigos da língua. Agora, reforça o alerta contra o falar mal do próximo.
O argumento é que aquele que julga o irmão está julgando a própria
lei, pois indiretamente afirma que a lei, neste sentido é ruim. Assim, o
maledicente além de não se tornar observador da lei, torna-se juiz da
mesma, criticando-a sobre sua relevância ou não. Contudo, nosso papel não
é o de juiz ou legislador, pois, como o escritor disse, só há um Legislador! E

68 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 90.

- 58 -
um único Juiz! Assim, se não somos legisladores e nem mesmo juízes da lei,
por que julgamos a lei não a obedecendo? Por que continuamos a falar mal
uns dos outros?

APLICAÇÃO: A maledicência é condenada, é um mundanismo que afeta a


cristandade e destrói as relações de irmandade. Assim, não devemos julgar
nosso irmão, mas observar a lei do Senhor que nos proíbe de falar mal uns
dos outros. Devemos obedecer a lei e não sermos juízes dela. Devemos
observar e não criticar. Temos conseguido controlar nossa língua ou somos
maldizentes? Que o Senhor dê sabedoria e livramento de toda carnalidade.

- 59 -
SE DEUS QUISER
Tiago 4:13-17

13 Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos
um ano, e negociaremos, e teremos lucros.
14 Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina
que aparece por instante e logo se dissipa.
15 Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos
isto ou aquilo.
16 Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância
semelhante a essa é maligna.
17 Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando.

INTRODUÇÃO

Tiago continua suas orientações à Igreja. Agora ele ataca o erro dos
planejamentos presunçosos, o erro de uma vida altiva, orgulhosa e sem
Deus! O homem aqui é retratado como tendo o total domínio de sua
existência em detrimento do Soberano! O escritor orienta, em termos gerais,
que tal procedimento não cabe ao cristão, antes, nossa vida e planos devem
considerar sempre a vontade e misericórdia de Deus! Até o fato de se estar
vivo no dia seguinte deve ser tributado à vontade de Deus! Se Deus quiser
viveremos! “Se Deus quiser” deve vir antes de qualquer planejamento!

I – PLANEJAMENTO PRESUNÇOSO (v. 13)

Tiago direciona seu conselho para um grupo específico de pessoas,


aquelas que possuem pensamentos e planejamentos presunçosos.
Entendemos presunção como “opinião excessivamente boa acerca de si
mesmo; expressão de vaidade; segurança ou confiança que se tem em si
mesmo”69. “Presunção é fazer os nossos planos como se estivéssemos no
total controle do futuro. Presunção é viver como se nossa vida não
dependesse de Deus”70. Para essas pessoas, que nutriam uma
autoconfiança em detrimento da dependência de Deus é que o autor se
dirige. As pessoas viviam como se Deus não existisse ou não fizesse parte de
suas vidas, de seus planos, seus destinos. Essa perspectiva de viver cristão,
independente de Deus, é simplesmente um absurdo. A essência do
evangelho é viver para glória de Deus e de acordo com sua vontade santa.
Aqueles crentes planejavam com jactância o que, quando e onde
fariam determinada empreitada, contudo sem considerar a vontade de Deus!
Suas vidas estavam completamente em suas mãos. Seus caminhos eram
arquitetados por suas próprias vontades.
“Hoje ou amanhã” indica o tempo do planejamento, a data, a fixação
do período em que ocorreria determinada ação. Onde? A cidade, o local
igualmente foi determinado. A duração também “passaremos um ano”. Para
quê? Qual objetivo? Para se negociar e obter lucro. Todo um planejamento
sem Deus, num contexto completamente mundano e carnal de negociações e

69 Disponível em: <https://www.dicio.com.br/presuncao/>. Acesso 17 jun. 2018.


70 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 92.

- 60 -
lucros. O próprio Senhor Jesus já dizia: “a vida de um homem não consiste
na abundância dos bens que ele possui” (Lucas 12.15).
O quadro mostrado acima evidencia o que ocorre com muitos crentes
hoje em dia. Vivem um cristianismo sem Deus! Teoricamente confessam
servir ao Senhor, contudo, em sua prática, na sua vida cotidiana, Deus não
existe! O Pr. Augustus Nicodemos chama isso de ateísmo cristão. A pessoa
tem uma ideia sobre Deus, mas “na prática, vive como se ele não
existisse”71. Deus não cabe nos planos dessa pessoa. Deus não dirige a vida
dessa pessoa.
Tiago afirmou que pretensões como essas e toda jactância em
planejamentos independentes de Deus são malignos. Não provêm de Deus,
mas do inimigo (v. 16).

ILUSTRAÇÃO: A parábola do “homem rico” pode ilustrar a futilidade de uma


vida sem Deus. “O campo de um homem rico produziu com abundância. E
arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher
os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-
los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens.
Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos;
descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te
pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é o que
entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus. (Lucas 12.16-21).

APLICAÇÃO: Em alguns momentos somos iguais àqueles de quem Tiago


critica. Fazemos planos, temos ideias, projetos, ações e trabalhos, mas Deus
permanece distante de tudo isso! Não damos espaço para Deus em nossa
vida, no nosso cotidiano. Não basta falarmos que Deus é soberano e é nosso
Senhor se, na prática, só fazemos a nossa vontade. Namoros, casamentos,
empregos, negócios, viagens e muito mais são decididos independentemente
de Deus. Nossa vida segue como se Deus não existisse! Quantas vezes
dobramos nosso joelho para buscar orientação divina quanto aos destinos do
nosso próximo final de semana? Quanto aos próximos negócios? Se essa
realidade de independência de Deus tem sido vivida por nós, peçamos
perdão, é um erro grave. Precisamos nos render ao Senhor e buscar Sua
vontade. Precisamos realinhar nossa vida à vida de Deus, ao desejo de Deus!
Pois, o motivo de nossa existência não é meramente satisfazer nossos
desejos, mas glorificar ao Senhor! “Trazei meus filhos de longe e minhas
filhas, das extremidades da terra, a todos os que são chamados pelo meu
nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz”. (Isaías 43.6-7,
grifo nosso).

II – A FRAGILIDADE DA VIDA (v. 14)

Tiago utiliza argumentos naturais para tentar convencer seus ouvintes


do equívoco de olvidarem a Deus. Basicamente são dois os motivos: 1) Não
sabemos o que acontecerá amanhã e 2) Nossa vida é frágil e passageira.

71 NICODEMUS, Augustus. O ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja. São Paulo: Mundo
Cristão, 2011. p. 78.

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a) Não sabemos do amanhã

Os planos tão arrogantes que os homens fazem considerando o


amanhã são extremamente absurdos porque simplesmente ninguém sabe,
de fato, o que ocorrerá amanhã! Então, Tiago está falando algo do tipo:
“Vocês não devem confiar nos seus próprios planos, em suas estratégias, em
seus negócios futuros porque simplesmente vocês não sabem de fato o que
ocorrerá!”. “Não te glories do dia de amanhã; porque não sabes o que
produzirá o dia” (Provérbios 27.1).
Como se pode viver tão confiadamente, com tanta segurança no
futuro, sendo que não se sabe o que acontecerá? A tolice do homem se nota
quando ele troca a confiança num Deus Todo-Poderoso, no Senhor do
Universo, para confiar em suas próprias conjecturas furadas! Os homens
estão trocando a firmeza em Deus pela incerteza dos palpites! Planejar o
futuro sem Deus é viver por conjecturas humanas!

ILUSTRAÇÃO: O caso que ocorreu com Abrão e Ló nos ilustra um pouco


sobre a limitação humana em seus planos. Consideramos que Ló representa
justamente a pessoa que escolhe e decide conforme sua visão, seus desejos.
Abraão representa aquele que está submisso à vontade de Deus. “Disse
Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os
teus pastores, porque somos parentes chegados. Acaso, não está diante de ti
toda a terra? Peço-te que te apartes de mim; se fores para a esquerda, irei
para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda. Levantou Ló os
olhos e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada (antes de
haver o SENHOR destruído Sodoma e Gomorra), como o jardim do SENHOR,
como a terra do Egito, como quem vai para Zoar. Então, Ló escolheu para si
toda a campina do Jordão e partiu para o Oriente; separaram-se um do
outro” (Gênesis 13.8-11). Ló escolheu a campina de Sodoma e Gomorra para
habitar. Mas, como nosso argumento insiste, não sabemos do amanhã! Ló
igualmente não sabia, caso contrário não teria ido para aquela região, pois, o
própria texto já antecipou, ela foi destruída. Ló deve ter sofrido muito
naquela cidade e precisou sair às pressas dela para não morrer! Triste
escolha! Uma escolha possivelmente independente de Deus!

b) Nossa vida é passageira

Outro ponto a considerar é que nossa vida é passageira. Tiago utiliza a


neblina para representar a fragilidade e brevidade da vida. “Sois, apenas,
como neblina que aparece por instante e logo se dissipa”. Ou seja, como
podemos planejar tanto e ter tanta certeza do futuro (independentemente de
Deus) uma vez que nossa vida, como neblina, pode ser dissipada a qualquer
momento? Não sabemos nem mesmo se ainda estaremos aqui amanhã! Da
mesma forma, como podemos confiar em nós mesmos se não somos donos
nem de nossa própria vida? Hoje existimos e, daqui a pouco não somos
mais! Não sabemos o momento em que se dirá: “esta noite te pedirão a tua
alma”!.

- 62 -
Assim, não devemos confiar em nós mesmos, em nosso poder. Não
podemos ser orgulhosos e jactanciosos em nossos planos. Eles são muito
frágeis. Precisamos depender sempre de Deus.
Outros textos bíblicos nos apontam a fragilidade da vida humana:
“Como sombra que declina, assim os meus dias, e eu me vou secando
como a relva”. (Salmo 102. 11, grifo nosso). “Lembra-te de que a minha vida
é um sopro; os meus olhos não tornarão a ver o bem” (Jó 7.7, grifo nosso).
“Faze-me conhecer, ó Senhor, o meu fim, e qual a medida dos meus dias,
para que eu saiba quão frágil sou” (Salmo 39.4, grifo nosso). “Nossos dias
sobre a terra são uma sombra” (Jó 8.9). “O homem, nascido da mulher, é de
poucos dias e cheio de inquietação. Nasce como a flor, e murcha; foge
também como a sombra , e não permanece” (Jó 14.1,2).

APLICAÇÃO: Não sabemos do amanhã e nossa vida é passageira. Duas


considerações que nos mostram a ingenuidade do homem fiar sua esperança
na carne e não em Deus. Enquanto, por um lado, nosso “eu” promove
pensamos de que amanhã faremos isso ou aquilo e teremos êxito nisso ou
naquilo, o conselho bíblico adverte a confiar em Deus porque não sabemos
se amanhã faremos isso ou aquilo mesmo e tampouco temos condições de
garantir nossa própria vida no dia de amanhã!
Conseguimos perceber que os planos humanos são extremamente
frágeis e palpites incertos? Temos colocado nossa confiança em nossos
planos ou em Deus?

III – PLANEJAMENTO ADEQUADO (v. 15)

Uma observação importante deve ser feita. O ensino bíblico não é


contrário ao planejamento, o que está sendo evidenciado é o problema de se
agir sem Deus, de planos arrogantes que excluem a vontade de Deus.
Tiago não quis dizer que não devemos jamais fazer qualquer tipo de
planejamento. Jesus mesmo disse, que o próprio discipulado requer
de nós planejamento, como ele mostrou em Lucas 14.25. (...) Ou
seja, o planejamento não é proibido nem ignorado, mas submisso a
vontade de Deus. Ele é importante e necessário, mas não substitui a
vontade de Deus, ele depende dela72.

O planejamento adequado de um cristão deve envolver a vontade de


Deus. “Obviamente Tiago não está combatendo a questão do planejamento,
mas combatendo o planejamento sem levar Deus em conta”73. Na oração do
“pai nosso” Jesus nos ensina a pedir: “Seja feita a tua vontade” (Mateus
6.10). Igualmente, Tiago nos ensina a ser mais humildes e considerar a
vontade de Deus. “Se o Senhor quiser”. Se Deus quiser é que faremos isso ou
aquilo.
A questão do “amanhã” e “fragilidade da vida” também são sanadas.
Pois, “Se o Senhor quiser”, nós viveremos. Tiago nos ensina a creditar a
própria vida à vontade e dádiva de Deus. Só vivemos pela vontade e

72 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 153-154.
73 BOYCE, James Montgomery (1999, p. 100) apud LOPES (2006, p. 92-3).

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misericórdia de Deus. Se, portanto, Ele assim desejar, estaremos vivos
amanhã! E, caso Ele queira, além de estarmos vivos, poderemos fazer isso ou
aquilo! Assim, tornamos a ter segurança nos braços do Senhor, pois,
segundo sua boa vontade, viveremos e agiremos! “Somente quando estamos
dentro da vontade de Deus é que podemos ter confiança no futuro”74.
Da mesma forma, nosso proceder cristão deve considerar sempre a
opção de planejar, contudo, tais planos devem estar diante da vontade de
Deus, pois Ele é quem decide sobre o destino dos povos. “O coração do
homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do SENHOR”
(Provérbios 16.1).
John Piper, no devocional intitulado “Bebendo suco de laranja para a
glória de Deus”75, mostra uma realidade tão envolvida com Deus que até
mesmo as ações consideradas triviais devem se tornar momentos que
glorifiquem a Ele. A base para tal pensamento encontra-se no texto: “Quer
comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória
de Deus” (1 Coríntios 10.31). Na visão dele, pecado “é quando deixamos
Deus fora de consideração nas realizações triviais de nossa vida. Pecado é
qualquer coisa que fazemos, que não seja feito para a glória de Deus”76.
De certa forma já temos conhecimento de que o planejamento
adequado envolve colocar a vontade de Deus em primeiro plano, contudo, na
prática, muitas vezes não conseguimos agir assim. Por isso, Tiago arremata
a seção com outra advertência: “aquele que sabe que deve fazer o bem e não
o faz nisso está pecando”. Em outra tradução, temos: “Lembrem-se também
de que, saber o que deve ser feito e não fazer, é pecado” (VIVA). Saber que é
preciso alinhar a vida à vontade do Senhor e não agir de tal forma é pecado!
Sabemos que nossos planos devem depender de Deus, mas agir presunçosa
e independentemente de Deus é pecado. Como Tiago tem uma perspectiva
mais prática e vivencial da Palavra, assim ele traz alertas sobre esse tópico
para ser vivido, mais do que apenas conhecido!

APLICAÇÃO: Façamos planos, sim, contudo, que Deus esteja presente


neles. Que nossa vida esteja de acordo com a vontade do Senhor. Nosso
viver, mover e existir deve ser para glorificar ao Senhor, então, busquemos
empolgadamente colocar nossas vidas na órbita do Reino de Deus. O que
Deus deseja de nós? Qual a vontade dele para nós amanhã? E no próximo
final de semana? Como estão nossos planos, centrados na vontade de Deus
ou baseados em nossa vontade própria? Que de agora em diante façamos
nossos planos mediante aquilo que ouvirmos do Senhor, mediante o desejo
santo e firme de Deus, para louvor de sua glória.

74 LOPES (2006, p. 94).


75 PIPER, John. Penetrado pela Palavra: trinta e uma meditações para sua alma. São José dos
Campos-SP: FIEL, 2005. p. 27.
76 Idem. p. 28.

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RIQUEZA CORROMPIDA
Tiago 5:1-6

1 Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos
sobrevirão.
2 As vossas riquezas estão corruptas, e as vossas roupagens, comidas de traça;
3 o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por
testemunho contra vós mesmos e há de devorar, como fogo, as vossas carnes. Tesouros
acumulastes nos últimos dias.
4 Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido
com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor
dos Exércitos.
5 Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado o
vosso coração, em dia de matança;
6 tendes condenado e matado o justo, sem que ele vos faça resistência.

INTRODUÇÃO

Tiago mostra uma denúncia, julgamento e punição sobre aqueles que


adquirem riquezas de formada corrompida. A crítica atinge àqueles ricos que
usurpam o pagamento dos trabalhadores para manter sua vida luxuosa e de
regalias. Algo desumano! O escritor enfatiza que tal procedimento não
passará impune e que Deus agirá com juízo contra esses corruptos.

I – O ANÚNCIO DO JUÍZO (v.1)

Tiago direciona seu discurso para os ricos. Ele não dá maiores


detalhes de quem sejam eles, mas em textos anteriores fora dito: “murchará
o rico em seus caminhos” (1.11) e ainda “não são os ricos que vos oprimem e
não são eles que vos arrastam para tribunais? Não são eles que blasfemam o
bom nome que sobre vós foi invocado?” (2.6-7). Aparentemente esses ricos
são ímpios que exercem certo domínio na sociedade. “Essa descrição de
Tiago não se refere aos ricos cristãos, visto que não existe nenhum chamado
ao arrependimento”77.
Ele não critica a riqueza em si, mas os ricos que conseguiram suas
posses por meio da fraude, da usurpação, da ilegalidade. Assim, esse tipo de
atitude é condenado. “Não é pecado ser rico. Davi disse que riquezas e
glórias vêm de Deus (1Cr 29.12). Moisés disse que é Deus quem nos dá
sabedoria para adquirirmos riqueza (Dt 8.18). O problema é colocar o
coração na riqueza. A raiz de todos os males não é o dinheiro, mas o amor ao
dinheiro. (1Tm 6.10)78”.
O escritor traz uma notícia ruim, o juízo de Deus sobre aquela classe
de ricos. Ele fala: “chorai lamentando”! Porque um castigo viria sobre
aqueles que praticavam essa falcatrua. Certamente chegaria o dia do acerto
de contas. “(...) para Tiago, estava claro que os ricos deveriam dar um

77 MOTYER, J. A. apud LOPES (2006). LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em
triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p. 99-100.
78 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
99-100.

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carinho muito especial para aquilo que ele estava dizendo, pois o juízo do
Senhor estava sobre eles”79.

APLICAÇÃO: Devemos nos lembrar do texto: “Não vos enganeis: de Deus


não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará”
(Gálatas 6.7). E, como diz o sábio, “quem semeia vento colhe tempestade”
(Provérbios 22.8). Deus age no mundo com justiça e não pensemos que a
injustiça permanecerá sem o devido juízo, sem a devida punição. Às vezes
temos a falsa impressão de que a fraude compensa, principalmente em
nosso país (com fama e jeito malandro). Contudo, isso é um engano. A Bíblia
assegura que nada passará impune. Em termo populares poderíamos dize
que “o crime não compensa!”. Por outro lado, a passagem é encorajadora,
“principalmente para aqueles que se sentem injustiçados e talvez queiram
resolver seus problemas com suas próprias forças. Nada melhor do que ter
Deus como aquele que trava nossas lutas. Enfrentamos guerras, sentimo-
nos humilhados e muitas vezes totalmente exaustos prontos para desistir.
Independentemente da exploração, Tiago diz que o Senhor não está
indiferente nem alheio ao nosso problema. Muito ao contrário, o Senhor dos
Exércitos está atento ao nosso choro. Em vez de brigar e lutar com armas
carnais, devemos lutar e guerrear com armas espirituais, não em pé, mas de
joelhos dobrados”80.

II – AS PROVAS DO JUÍZO I: ACÚMULO DESONESTO DE RIQUEZA (vv. 2-


3)

O fato em questão gira em torno das riquezas mal adquiridas. Tiago


fala que “as riquezas estão corruptas”. Foram adquiridas a preço de fraude.
Tiago também aponta para o “mal das riquezas que são acumuladas de
maneira egoísta, em vez de gastas ou investidas para um propósito que Deus
aprova”81.
As riquezas foram acumuladas por ganância e vaidade. Não havia um
uso adequado nem a partilha com os necessitados. Os ricos só queriam
saber de ter mais e mais. Essas riquezas estocadas não tinham muita
utilidade, pelo contrário, algumas delas até pereciam. Isso é expresso pela
linguagem: “o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugem”. Da
mesma forma, as belas roupas estavam apodrecendo, se tornando trapos
comidos de traças.
Tais bens, tão apreciados, ao invés de trazerem a segurança almejada
pelos ricos, seriam, de fato, o motivo de sua destruição. Esse acúmulo
indevido, esse esbanjar de vaidade e egoísmo seria testemunha contra a
própria ganância. Como diz o texto: “(...) e a sua ferrugem há de ser por
testemunho contra vós mesmos”.

79 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 155.
80 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 159.
81 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005. p.
189.

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É esse tipo de tesouro amaldiçoado que Tiago diz ter aqueles ricos
acumulado. Uma riqueza corrompida e infrutífera.

APLICAÇÃO: Percebemos que as riquezas mal adquiridas e egoisticamente


acumuladas lesam o pobre, usurpam as possibilidades de ajudar o
necessitado e representam um péssimo uso dos recursos materiais. O
egoísmo e a vida esbanjadora fazem com que a riqueza seja mal utilizada.
Ela se perde algumas vezes. Ela fica ociosa num depósito. Ela fica parada
enquanto o pobre passa fome; o ouro e a prata “enferrujam” enquanto
muitos estão na miséria. Contudo, o Senhor diz que essa “ferrugem” será
testemunha contra os gananciosos. O Senhor deseja que sejamos bons
despenseiros. Que utilizemos adequadamente nossos recursos tanto para
nosso sustento como para auxílio do próximo. Caso contrário, nosso próprio
ganância testemunhará contra nós no juízo final!

III – AS PROVAS DO JUÍZO II: EXPLORAÇÃO DO POBRE (v. 4)

Outros problemas causados pelos ricos desonestos. O versículo 4


esclarece o esquema. O pagamento dos trabalhadores estava sendo retido
indevidamente. As pessoas não estavam sendo pagas por seu trabalho. O
texto se assemelha a uma denúncia moderna. Tiago tem uma preocupação
social extrema neste ponto. Não é possível o cristão deixar de criticar tais
absurdos! Não é possível o cristão ficar indiferente aos crimes que ocorrem
ao seu redor, sejam eles praticados por crentes ou ímpios. O próprio escritor
já havia dito anteriormente que “aquele que sabe que deve fazer o bem e não
o faz nisso está pecando” (4.17). Logo, não seria possível desprezar tal
situação.
Moisés escreveu: “Não se aproveitem do pobre e necessitado, seja ele
um irmão israelita ou um estrangeiro que viva numa das suas cidades.
Paguem-lhe o seu salário diariamente, antes do pôr-do-sol, pois ele é
necessitado e depende disso. Se não, ele poderá clamar ao Senhor contra
você, e você será culpado de pecado” (Deuteronômio 24.14-15).
Os trabalhadores estavam clamando a Deus e o Senhor ouviu essa
petição! A intervenção é divina, como está explicito desde o começo. O
Senhor é quem intervém com justiça.
O ensino deve tocar no coração do cristão para agir de modo diferente.
Paulo exortou Timóteo a ordenar ‘aos que são ricos mundo que não
sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da
riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente para a
nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em
boas obras, generosos e prontos a repartir. Dessa forma eles
acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para
a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida’ (1Tm 6.17-
19). Paulo queria que os membros da igreja de Éfeso, capital da Ásia,
não imitassem os ricos da Palestina e da Síria que Tiago desafiava
nessa carta82.

82 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 156-157.

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APLICAÇÃO: O fato relatado acima é uma verdadeira maldade.
Trabalhadores sendo privado de seu pagamento, sendo explorados. Pessoas
humildes que precisam de salário para viver e ainda não recebem é um
absurdo. É desumano! Que os cristãos não imitem tais atitudes mundanas.
Que sejamos diferentes em nossos negócios. “O crente precisa ser honesto
para pagar suas dívidas e cumprir com os seus compromissos
financeiros”83. Além do mais, que não sejamos indiferentes diante da
corrupção que graceja no Brasil. Muitos estão exatamente em tais condições
na atualidade, pessoas que trabalham e não recebem; há muito trabalho
escravo persistindo em pleno século XXI. Existem muitas fraudes e golpes
contra o trabalhador simples. É nosso dever agir em favor dessas pessoas
extorquidas. Que o Senhor nos ajude a ser instrumento de sua justiça.

IV – A MATERIALIDADE DO CRIME: VIDA LUXUOSA MEDIANTE


CORRUPÇÃO (vv. 5-6).

O que causa maior espanto é saber que tal corrupção é feita para
manter a vida regalada de alguns. Os luxos de uma elite corrupta são
mantidos pelo suor dos trabalhadores escravos! Não, os trabalhadores não
estavam sendo caloteados por conta de crises financeiras, por conta de
catástrofes ou intempéries no campo, não. Simplesmente eles estavam sendo
usurpados para manter o luxo, o capricho, isso mesmo, uma vida de regalias
para alguns.
Tiago interpreta tal condição como uma matança! “tendes condenado e
matado o justo, sem que ele vos faça resistência”. A ação é séria, é um
assassinato! É matar o justo, sugando-lhe a vida em trabalhos não
remunerados.

APLICAÇÃO: Irmãos, devemos vigiar constantemente para que os desejos da


carne por luxo, conforto, satisfação não se sobreponham à honestidade,
justiça e equidade. Caso seja possível, não há problema algum em ter uma
vida com luxo e conforto, contudo, não é possível que tal padrão seja
buscado e adquirido por meio de fraude. O mais importante para nós não
são essas coisas, mas viver uma vida que mostre a honestidade e justiça de
Deus. Assim, se Deus quiser, além de nos fazer honestos e justos, ele pode
nos dar uma vida mais confortável. Contudo, nunca a preço de corrupção.
O fato em tela também serve para os fiéis não invejarem as fortunas
dos ricos. Tiago fala contra a avareza. Cabe ao cristão fugir do desejo de
riquezas ilícitas. Jesus afirmou: “Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo
tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus
bens” (Lucas 12.15). Por isso, se temos sofrido com o problema da inveja da
prosperidade; se temos priorizado o enriquecimento pessoal; se temos
perdido o sono na tentativa de enriquecer; o que Tiago coloca diante de nós
é: choremos com lamento, em outras palavras, busquemos o

83 83 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 101.

- 68 -
arrependimento. Não fiquemos namorando o mundo, que nada tem a nos
oferecer a não ser condenação e destruição84.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após as denúncias, julgamento e punição vistos da parte de Deus


contra aqueles que adquirem riquezas de formada corrompida, que usurpam
o pagamento dos trabalhadores para manter a vida luxuosa e cheia de
regalias, resta o sábio ensino de que o cristão não deve jamais praticar tais
atos.
Ademais, não podemos ficar calados quanto à corrupção; não somente
dentro da igreja, mas igualmente fora de nossos redutos eclesiásticos, na
sociedade. Devemos denunciar os erros, a fraude, os desmandos em nossa
nação e proclamar que o Senhor do Universo agirá com julgamento e
punição dos criminosos. O Senhor exigirá prestação de contas e trará
condenação ao perverso e resgate ao aflito e oprimido.
Senhor, tem misericórdia de nossa pátria!

84 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 156-161.

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PACIÊNCIA
Tiago 5:7-12

7 Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com
paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas.
8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está
próxima.
9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às
portas.
10 Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em
nome do Senhor.
11 Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e
vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.
12 Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por
qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo.

INTRODUÇÃO

Tiago fala sobre paciência. É preciso tê-la constantemente, por vários


motivos, sabendo que o Senhor está agindo para nos livrar da provação.
Nesse sentido, é importante não murmurar, não se queixar dos irmãos. Uma
postura de confiança no Senhor e resiliência é adequada. Deve-se imitar os
profetas e mesmo Jó que foram exemplos de resiliência quanto ao sofrimento
e paciência. Assim, deve-se cuidar da língua também para não fazer
juramentos tolos e votos equivocados. Nossa palavra deve ser sincera e
honesta, pois confiamos no Senhor e não precisamos de subterfúgios para
fugir da provação; mas com paciência aguardamos em Deus o livramento.

I – PACIÊNCIA ATÉ O FIM (v.7-8)

Tiago anteriormente falou aos ricos que possivelmente não eram


cristãos. Mas, agora ele torna a direcionar sua mensagem aos irmãos. “Tiago
se volta agora dos ricos para os pobres que estavam sendo oprimidos e dá-
lhes uma palavra de encorajamento”85. O tema gira entorno da paciência.
Primeiramente é preciso observar que Tiago dá conselhos aos irmãos
serem pacientes. Se é dado esse conselho é porque de alguma forma a
paciência pode ser trabalhada na vida do homem. Não estamos fechados
num determinismo inconsequente e imutável. Muitas pessoas dizem que não
conseguem ser pacientes, que não conseguem mudar. Contudo, é preciso
mudar esse discurso diante da possibilidade expressa por Tiago. É possível
ser paciente sim!
Mas, em relação a que devemos ser pacientes? De acordo com o
contexto bem próximo, os irmãos deveriam ser pacientes diante da
exploração do rico ímpio até que o Senhor executasse justiça. Deveria
aguardar no Senhor e confiar que Deus agiria em seu favor, mas no tempo e
hora adequada. Não é possível fazer uma petição pela manhã e à tarde exigir
a resposta. Deus tem seu tempo adequado para agir e muitas vezes nosso

85 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 109.

- 70 -
tempo não está sincronizado com o tempo de Deus. Portanto, é preciso
esperar.
Pensando mais amplamente, a paciência é importante para passar
pelas provações que tanto Tiago abordou ao longo do texto. A paciência é
ingrediente necessário para vencer provações. Paciência é importante para
analisar nossa vida. Pensar adequadamente e agir com maior segurança.
A paciência deve ser exercida até a vinda do Senhor. Ou seja, a
paciência deve permanecer até o fim! Não há tempo prescrito para a
paciência. Não há uma limitação para a mesma. A duração dela não é um
dia ou uma semana. Mas, ele deve existir sempre, todos os dias, até a vinda
de Cristo.
Tiago igualmente fala da necessidade de fortalecer o coração. Além da
paciência, fortalecer o coração é preciso! Essa ideia está relacionada a
firmeza de fé, “quer dizer ‘sejam fortes e confiantes’, uma vez que as
promessas do Senhor não podem falhar”86. O crente, então, não deveria
desanimar diante das circunstâncias, das provações, mas com paciência e
fervor de fé, aguardar. Essa firmeza ganha maior sentido à medida em que
se vislumbra a vinda do Senhor. Assim, deve-se ser paciente e firme porque
o Senhor está voltando.
Tiago usa o argumento do retorno de Cristo para motivar os cristãos a
serem firmes. Ele lança a visão de todo crente além para que por meio das
realidades mais amplas os dilemas do presente sejam superados. É uma
ótima estratégia. Quando se tiver passando por provação, por dilemas;
quando se precisar de paciência, de firmeza, de avivamento, é preciso olhar
para frente, adiante, para os eventos escatológicos. Assim, nossa tribulação
torna-se leve e momentânea.

ILUSTRAÇÃO

Tiago ilustra a necessidade dessa paciência. “Eis que o lavrador


aguarda com paciência o precioso fruto da terra até receber as primeiras e as
últimas chuvas”. Com isso ele quis dizer que o cristão deve ser paciente
como o lavrador. O lavrador semeia e tem que ter paciência e aguardar as
primeiras chuvas. Sua semente fica depositada no solo por vários dias e até
semanas até vir as primeiras precipitações. Não adiante agonia, ansiedade.
Nada irá acelerar o processo ou pular etapas. É preciso esperar. Mas, a
produção não é feita imediatamente após as primeiras chuvas. Depois disso
ainda é preciso esperar. Um, dois ou três meses, o tempo que for adequado.
As chuvas tardias vêm para concluir o processo de produção e trazer o
reforço necessário para a plantação. Após isso, espera-se mais um pouco até
que vem a colheita. A conclusão do ciclo exige paciência. Nenhuma etapa
pode ser eliminada, adiantada ou apressada, caso contrário pode-se pôr em
risco a colheita. Assim, o cristão deve ser paciente em sua vida, aguardando
as devidas chuvas e esperando a colheita na hora certa!

86 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 163.

- 71 -
APLICAÇÃO

Conforme vimos, o contexto mais próximo que exigia paciência do


cristão era em relação ao seu padrão rico que fraudava os pagamentos. E
nós? Estamos diante de alguma situação empregatícia em que estamos
sendo prejudicados? Estamos clamando ao Senhor por socorro em alguma
área trabalhista por conta de não sermos valorizados? Ou mesmo
explorados? Apresentemos nossas causas ao Senhor, mas, o ponto central
neste momento é termos paciência! É preciso se conter e perceber que, no
tempo certo, o Senhor agirá em nosso favor, livrando-nos do mal, das
injustiças e nos abençoando. Confie no Senhor e tenha paciência.

II – NÃO MURMUREIS (v.9)

É comum murmurarmos quando estamos passando pelo sofrimento. E


o sofrimento, algumas vezes, tem sua gênese em relacionamentos, na
convivência com as pessoas da comunidade. Logo, o irmão passa a ser
origem desse sofrimento.

a) Não se queixem, pois vocês são pacientes.

Contudo, não devemos nos queixar uns dos outros. Viver em


comunidade é realmente um desafio. E é preciso maturidade para lidar com
as pessoas e sabedoria para refrear os impulsos e reações. O que Tiago quer
dizer? Ele está orientando a igreja para evitar um clima de críticas
excessivas, evitar a fomentação de contendas. Essa característica é uma
consequência da paciência que foi requerida anteriormente. Se o povo tem
paciência e espera em Deus, não ficará cochichando e murmurando o tempo
todo.
A orientação não é no sentido de refrear todo julgamento, até porque é
preciso o cristão “julgar os espíritos” (1 João 4.1), “não dar ouvidos aos
falsos profetas” (2 Pe 2.1). A ideia é refrear aquele clima ruim na comunidade
de constante murmuração, críticas e desentendimentos. A questão parece
girar em torno de questões secundárias e da vida comum. Nesse sentido, não
há necessidade de um confronto tão grande para tratar com elementos mais
triviais que podem esperar e ser resolvidos mais tranquilamente. Por isso a
necessidade de paciência!

b) Não se queixem, pois vocês não são juízes.

Por outro lado, não devemos nos queixar uns dos outros porque não
somos juízes. Quem se queixa e critica o outro deve ter o cuidado, pois pode
estar agindo como juiz e não como servo. “(...) não devemos assumir o papel
de julgar os outros; quer fora quer dentro da Igreja”87. O servo deve
obedecer aos mandamentos, não analisar ou julgar os outros. Há quem
julgue. Existe o supremo juiz que se encarrega da execução de sua lei. A ele

87 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005. p.
192.

- 72 -
cabe essa função. Quem sempre está fiscalizando e exigindo determinada
prática torna-se um juiz e assumir esse lugar é errado! Novamente a
orientação deve ser compreendida com a sutileza com que foi comentada a
situação anterior, ou seja, não quer dizer que não seja possível o irmão
admoestar o outro, ou alertá-lo quanto à desobediência aos mandamentos
do Senhor, até porque isso também é bíblico: “ensinai-vos e admoestai-vos
uns aos outros” (Colossenses 3.9). Mas, há um limite entre admoestações
sinceras, por causas justas, visando a edificação, e uma postura constante
de juiz.

c) Não se queixem, pois o Juiz está às portas.

“Não se queixem, pois o juiz está às portas”. Novamente o reforço


escatológico foi evocado. Olhar para os acontecimentos do fim auxiliarão a
manter uma vida reta. O Juiz está às portas, então, quem se atreverá a
tomar seu lugar? O Juiz está às portas, porque não ter paciência e esperar
que ele execute justiça? O Juiz está às portas, logo, tenhamos confiança
nele.

APLICAÇÃO

Temos algum problema com as pessoas, em relacionamentos na


igreja? A orientação de Tiago é: Não se queixe uns dos outros! Simples.
Tenhamos paciência e maturidade em Cristo para resolver os problemas. Da
mesma forma, não julguemos nosso irmão, pois o Juiz de toda a terra está
de olho e prestará contas de nossas ações indevidas. Não somos juízes, logo
deixemos o juízo para o Senhor. Por fim, tenhamos a visão de que o Senhor,
o Juíz, está as portas. Confiemos que ele executará perfeitamente a justiça,
confiemos no Senhor, sejamos pacientes.

III – MODELO DE RESILIÊNCIA (v.10-11)

Mas, existe alguém que teve essa paciência requerida por Tiago? Sim,
o escritor faz questão de mostrar pelo menos dois exemplos: os profetas e Jó.

a) O exemplo dos profetas no sofrimento.

“Tomais por modelo no sofrimento e na paciência os profetas”. Por que


modelo de sofrimento? Simples, porque os profetas sofreram muito, mas com
confiança no Senhor de que estavam realizando adequadamente a obra de
Deus. De modo geral podemos utilizar Hebreus 11 para mostrar o que esses
profetas sofreram: “(...) passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até
de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio,
mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e
de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo
não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos
antros da terra”. (Hebreus 11.36-38). Assim, somos convocados a ter essa
resiliência diante do sofrimento. Sofrer com paciência e esperança.

- 73 -
b) O exemplo dos profetas na paciência.

“Tomais por modelo no sofrimento e na paciência os profetas”. Por que


modelo de paciência? Simples, pois os profetas falaram a mensagem de Deus
e em inúmeros casos não chegaram a ver a concretização da mesma. Eram
mensagens futuras, que exigiam tempo para sua concretização, contudo,
eles agiram com paciência e aguardando confiantemente a resposta de Deus.
Lemos que: “Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas;
vendo-as, porém, de longe, e saudando-as”; “Todos estes que obtiveram bom
testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da
promessa”. (Hebreus 11.13). Assim, somos convocados a ter tal paciência
que espera em Deus confiantemente. Mesmo que não vejamos a ação de
Deus, ele está no controle e no tempo certo agirá.
Essa paciência e longanimidade é aprovada nas Escrituras. “Eis que
temos por felizes os que perseveraram firmes”. É uma ação cristã digna. É
um modelo a ser seguido.

c) O exemplo de Jó.

Dentre os modelos de paciência ninguém supera Jó. Essa história é de


conhecimento universal. Tiago diz que “tendes ouvido da paciência de Jó”.
Ela é um clássico obrigatório. Jó teve paciência para esperar em Deus. Seu
mundo desabou. Passou por sofrimentos indizíveis, por dores absurdas. Foi
testado, esquadrinhado, cirandado, mas obteve bom testemunho do Senhor.
Conservou-se firme e confiante.
Tiago evidencia o final da vida de Jó, “vistes que fim o Senhor lhe deu;
porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo”. O Senhor é
misericordioso e gracioso para dar um final abençoado para os seus servos
que se mantem fieis e pacientes.
Se Tiago utilizou anteriormente o recurso escatológico, ou seja,
olhando para frente para afirmar seus argumentos; agora, ele remete a visão
do povo para trás, para olhar Jó e os profetas e ver a fidelidade de Deus.

APLICAÇÃO

Devemos ter a paciência dos profetas e de Jó. A paciência dos profetas


pode indicar aquela espera e calma em relação as promessas de Deus para
nossa vida, já a paciência de Jó tem a ver com a tranquilidade para lidar
com o sofrimento. Em qualquer caso, estamos tendo essa paciência em
nossa vida? Estamos aguentando o sofrimento com confiança no Senhor e
aguardando suas promessas com resignação?

IV – VOTO PRECIPITADO (v.12)

Outro conselho de Tiago é para os irmãos não jurar. Esse


mandamento remonta ao ensino de Jesus Cristo no sermão do monte,
quando disse: “Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu,

- 74 -
por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem
por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça,
porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, a tua
palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mateus
5.34-37).
Em momentos de provação os fieis são tentados a prometer, fazer
votos e jurar para se livrar das aflições, numa espécie de barganha. Nessa
tentativa de escape, não raras vezes, promete-se aquilo que não se pode
cumprir, firma-se o que não se pode realizar e acaba-se colocando o nome de
Deus em situações vãs. Acaba-se escandalizando o nome do Senhor.
Superficialmente, a admoestação desse versículo não parece estar
relacionada com o contexto. Há, no entanto, uma conexão com o
pensamento do versículo 9. Debaixo da pressão das circunstâncias,
há uma tendência de se falar explosivamente e se usar o nome de
Deus em vão em juramentos precipitados e irreverentes. Talvez seja
com relação ao versículo 9 que Tiago diz: Mas, sobretudo – i.e.,
acima de todas as formas desprotegidas do falar emocional e
queixoso – não jureis88.

É assim que Tiago trabalha essa orientação, de não usar o nome de


Deus em vão. Ele não quer proibir completamente o juramento, mas proibir
seu uso equivocado, leviano. “Nem Tiago nem Jesus tinham a intenção de
proibir o juramento sério ou oficial ordenado nas Escrituras (cf. Dt 6.13,
10.20; Is 65,16; Jr 4.2; 12.16). Ambos estavam preocupados com o uso
irreverente do nome de Deus e advertiam contra o falar desonesto que
requeria um juramento para apoiar cada afirmação”89. Nesse sentido a
Confissão de Fé Batista de 1689 afirma que
É somente pelo nome de Deus que os homens devem jurar, e este
deve ser usado com todo o santo temor e reverência; pois, jurar em
vão ou temerariamente, por esse nome glorioso e terrível, ou jurar
por qualquer outra coisa é pecado, e abominável. No entanto, como,
em matéria de peso e momento, para confirmação de verdade e
término de toda contenda, um juramento é autorizado pela Palavra
de Deus, tanto sob o Novo Testamento, bem como sob o Antigo, como
um juramento lícito, sendo exigido pela autoridade legal, em tais
casos deve ser feito90.

Tiago quer que os crentes tenham uma palavra mais firme e sejam
mais honestos em suas negociações. Que o sim seja sim, de fato, e o não,
não! Ele estimula a honestidade, sinceridade. Os crentes não podem ser
“malandros”, agir com esperteza maliciosa.

APLICAÇÃO

Não devemos usar o nome de Deus em vão. O nosso sim deve ser sim e
o não, não! Temos tido esse tipo de firmeza de caráter para sustentar nossa
palavra? Como pessoas honestas em nossos acordos? Em nossas

88 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005. p.
192.
89 Idem. p. 193.
90 Confissão de Fé Batista de 1689. Tradução e Revisão: William e Camila Teixeira. 9ª ed. Corrigida
e Ampliada em Português. [S.l.], Estandarte de Cristo, 2018. p. 85.

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promessas? Em nossos contratos? O cristão deve ser reconhecido como uma
pessoa de palavra, uma pessoa confiável, séria. Assim, tenhamos maior
cuidado em nossos acordos. Tenhamos cuidado com aquilo com o que nos
comprometemos. Seja o nosso sim, sim, e o nosso não, não!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Paciência é uma bela virtude e o escritor orienta a nutri-la na igreja. A


paciência ajuda nas provações e tribulações, auxilia nos relacionamentos,
refreando a língua quanto a murmurações e juramentos descabidos. Deve-se
olhar para os modelos de paciência, os profetas e Jó, e assim, desenvolver
em esta virtude.
Que o Senhor nos ajude.

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ORAI UNS PELOS OUTROS PARA SERDES CURADOS
Tiago 5:13-20

13 Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores.
14 Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre
ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor.
15 E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados,
ser-lhe-ão perdoados.
16 Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes
curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.
17 Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com
instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu.
18 E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos.
19 Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter,
20 sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma
dele e cobrirá multidão de pecados.

INTRODUÇÃO

Tiago fala sobre a oração. Existem alguns elementos de auxilio à Igreja


que devem ser acessados como esse caso em tela. Diante da dor, da doença
a recomendação é orar. Orar com os oficiais da Igreja e orar
comunitariamente, uns pelos outros. Esses meios não devem ser
negligenciados, pois por eles a graça de Deus se manifesta e a bênção na
vida da Igreja é liberada. O incentivo para se acreditar na oração (não nela
por ela mesma, mas como instrumento da vontade de Deus) é feito por meio
da vibrante história de Elias. Sua oração é exemplo de fé, ousadia e
perseverança. Por fim, Tiago fala do auxilio aos que estão doentes, não
fisicamente, mas espiritualmente. É de extrema importância a Igreja não os
desprezar, mas “lutar” com eles para a reconciliação e salvação.

I – ENTRE O SOFRIMENTO E A ALEGRIA (v.13)

Dois estados de espírito são postos lado a lado: sofrimento e alegria.


Duas realidades das quais todos estão sujeitos. Às vezes numa mesma
comunidade há alegria e choro, satisfação e sofrimento. Mas, uma notícia
interessante é que ninguém vive apenas sofrendo e, muito menos, apenas
em alegria. Como diz o sábio: “Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo
para todo o propósito debaixo do céu. Há (...) tempo de chorar, e tempo de
rir; tempo de prantear, e tempo de dançar”. (Eclesiastes 3.1-4). “Deus
equilibra a nossa vida, dando-nos horas de sofrimento e horas de
regozijo”.91
Mas, como viver adequadamente em cada caso? A orientação do
escritor é que tenhamos a sensibilidade de viver cada momento da melhor
maneira possível.
Na dor, no sofrimento, a recomendação é orar ao Senhor. É viver a
“luta”. Buscar auxilio em Deus e clamar por socorro. No momento de
sofrimento as atenções têm que estar voltadas para a solução do mesmo.

91 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 118.

- 77 -
Não é momento de distração, nem mesmo de festividades. Festejar no
momento de extrema dor é insensibilidade, incoerência.
Ademais, Tiago deixa claro que a dor, o sofrimento é essencialmente
desconfortante à natureza humana. Ele não fala para que aceitemos e
“desfrutemos” a dor como um masoquista. Isso seria uma psicopatia, uma
doença mental. Não, o sofrimento realmente dói e não é errado buscar
caminhos para se livrar dele. Jesus, no Getsêmani, orou: “Meu Pai, se é
possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas
como tu queres” (Mateus 26:39). No momento da dor é próprio buscarmos
solução. Mas, é preciso que a solução seja correta, pelos caminhos
adequados.
Por outro lado, ninguém vive apenas sofrendo. Há momentos de
alegria, de paz, de satisfação e esses devem ser aproveitados também. Na
alegria, cantemos louvores. Alegremo-nos, aproveitemos o dia que o Senhor
nos deu. Viver somente em tristeza, em melancolia é do mesmo modo uma
patologia.
Mas, em ambos os casos, na tristeza ou na alegria, a reação adequada
do cristão é “puritana”, digamos assim. É uma atitude que inclui o louvor e
honra a Deus. Na tristeza, não há choro e melancolia desmedidos e
desesperados, não há lástimas vazias, não há desespero, nem
autocomiseração, mas, uma busca por Deus. Existe oração! Por outro lado,
na alegria, não há festejos triviais, não há festas carnais, não há o riso pelo
riso, mas existe uma alegria que redunda em louvores a Deus! Existe uma
satisfação em Deus. Deus faz parte da vida! Das alegrias e das tristezas!

APLICAÇÃO

Temos sido sábios diante dos momentos alegres e tristes em nossa


vida, no sentido de saber lidar com eles adequadamente, orando na tristeza e
louvando na alegria? Nos momentos de tristeza temos confiado no socorro do
Senhor? Temos orado perseverantemente ou temos desistido da situação? Na
alegria temos incluído o louvor a Deus ou apenas satisfações canais? Temos
honrado ao Senhor por causa de nossa alegria? Que ações mostram isso? O
que temos feito na prática diante da alegria que redunde em visível louvor a
Deus?

II – COMO AGIR DIANTE DA DOENÇA? (vv.14-16)

Diante da doença, Tiago mostra basicamente dois tipos de atitudes


que os cristãos deveriam ter.

a) Chame os presbíteros da igreja

A primeira orientação é para que sejam chamados os presbíteros da


igreja. Ou seja, seria preciso chamar ajuda dos líderes da igreja para
socorrer na situação. Os presbíteros teriam a responsabilidade de orar e
auxiliar espiritualmente o doente.

- 78 -
Antes mesmo de recomendar médicos e tratamentos diversos, pois já
existiam na época, Tiago coloca a responsabilidade de, em primeiro lugar,
clamar ao Senhor, pois a cura, em última instância só provém dele; seja por
meios naturais ou sobrenaturais. É o Senhor quem governa todas as coisas,
logo, a Ele deve-se clamar.
A Bíblia ensina a doutrina da cura divina e cabe a nós procurar fazer
a oração da fé pela cura do doente. No entanto, recursos e
intervenções providenciais, quando necessários, não deveriam ser
rejeitados. Aqueles que não conhecem a Cristo recorrem à medicina e
cirurgia sem oração. Nós que confiamos nEle devemos usar todos os
meios salutares que a ciência moderna tem nos oferecido e ao
mesmo tempo confiar a nossa cura inteiramente ao seu soberano
poder92.

Nota-se que a igreja deveria estar envolvida na situação, em


coletividade. O cristão não deveria enfrentar a dor sozinho, afastado,
individualmente. Ao contrário, o cuidado e ajuda dos irmãos seria
imprescindível.
O texto prossegue assegurando confiadamente que a “oração da fé
salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados,
ser-lhe-ão perdoados”.
Há uma promessa de que o “Senhor levantará” o enfermo. Claro que
precisamos colocar essa afirmação no contexto da soberania de Deus. A cura
de pessoas pela ação divina, bem como quaisquer outras dádivas, estão
diante da vontade soberana de Deus. Não há aqui um determinismo de que
sempre deve ocorrer assim, ou que sempre haverá a cura. Depende da
vontade de Deus. O que o escritor orienta é para que tenhamos fé e
confiança em todas as orações, pois é assim que deve ser nossa postura.
Mas, que cabe ao Senhor levantar o doente.
Em alguns casos não há a cura e deve-se, da mesma forma, confiar em
Deus sabendo que Ele é o Senhor sobre todas as coisas. “Certamente o
ensino geral das Escrituras não sustenta a tese de que a unção e a oração
são instrumentos infalíveis para a cura de qualquer enfermidade, de
qualquer pessoa, em qualquer tempo. (...) Também não podemos, baseados
em Tiago 5.14, defender a tese de que sempre é da vontade de Deus
curar”93. Jesus pediu para que seu cálice fosse afastado, se possível! Mas,
neste caso, sua oração pedindo um escape não foi atendida. Não era da
vontade de Deus! Sempre que falamos em cura precisamos pensar também
na soberania de Deus para não existir conflitos.
Tiago ainda assegura que os pecados serão perdoados daqueles
enfermos. O Senhor agirá com graça, poder e perdão! Muitas doenças físicas
são ocasionadas pelo pecado, logo, o perdão é a cura para elas. “Fica claro
que a conexão entre a doença e o pecado, em alguns casos é o(s) pecado(s)
cometido(s). Tal foi o caso do homem curado por Jesus em Marcos 2.1-12. O
perdão dos pecados do paralítico ficou intimamente relacionado com sua
cura. No entanto, nem toda enfermidade indica que o doente trouxe sobre si

92 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005. p.
195.
93 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 150.

- 79 -
o castigo que tomou a forma de doença”94. Contudo, todas as doenças
espirituais são causadas pelo pecado, logo, a maior cura, a espiritual, só
vem pelo perdão de Deus. Notemos que Ele simplesmente perdoa. Não há
uma iniciativa humana, não há necessidade de procedimentos. O que existe
notoriamente aqui é a misericórdia de Deus e a decisão em perdoar. Assim
como o paralítico teve seus pecados perdoas por uma declaração direta e
espontânea do Senhor (Marcos 2.5) assim também Ele libera perdão
gratuitamente, sem necessidades de obras, para curar seu povo!

b) Confessem os pecados e orem uns pelos outros

A confissão de pecados é um mandamento! É preciso falarmos uns


com os outros sobre nossas falhas. O acerto de contas, principalmente entre
pessoas com litígio, igualmente é necessário. Tal ação não é um mero ritual,
nem mesmo misticismo, mas uma prática que envolve confissão,
arrependimento e restauração. Na confissão fica evidente o desejo do cristão
de corrigir suas falhas. Acertar seus rumos. Sabemos que nenhum ser
humano é perfeito e todos somos pecadores (1João 1.8). Logo, é preciso
tomar uma atitude em relação às falhas.
Entre os judeus, a doença geralmente era atribuída ao pecado. Jesus
rejeitou essa visão como um princípio universal (Jo 9.1-2), mas em
outro texto sugere o que sabemos ser um fato, que em muitos casos
o pecado é a causa de uma enfermidade específica (cf. Jo 5.14)95.

Esse princípio da confissão retoma a função da coletividade na cura. A


comunidade cristã deve ser como uma família, viver em união e em
comunhão. Aquele que se isola possivelmente está buscando seus próprios
interesses e se esquivando da vida em comum. Há um aspecto egoísta nessa
atitude. Deve-se considerar que tanto no bem quanto no mal a vivência em
comunidade é necessária, é o padrão para a igreja.
Em comunhão, a resolução dos problemas pode tornar-se mais fácil. O
partilhar das dificuldades, dos pecados, pode trazer luz sobre a crise e ajuda
por parte dos irmãos. A igreja deve ser justamente essa comunidade
“terapêutica” que sabe lidar e ajudar uns aos outros nos seus dilemas.
Assim como confessar é preciso, da mesma forma a oração. “Orai uns
pelos outros” passa a ser mandamento para o cristão. A igreja é um corpo e
para fazer jus a esta metáfora deve se comportar como tal. Orar uns pelos
outros é uma atividade orgânica em favor do corpo. A mão precisa dos dedos
e estes das juntas, mas as juntas se articulam porque há uma estrutura nos
dedos. Como o dedo pode ser indiferente às dores da mão? Como a mão se
articulará tranquilamente sem os dedos? Essa ilustração nos mostra a
necessidade da união. A dor do meu irmão não deve ser indiferente para
mim. Devemos “chorar com os que choram” (Romanos 12.15). A lágrima não
deve estar somente na face de quem sofre, mas também na face do irmão
que se compadece.

94 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 170-171.
95 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005. p.
195.

- 80 -
APLICAÇÃO

Será que temos tido uma perspectiva da vida mais naturalista (e


menos espiritual) das coisas? Será que no momento da doença, da dor,
buscamos primeiramente a Deus, chamamos os presbíteros da igreja para
orar ou corremos para o hospital? Chamamos os servos de Deus para orar
ou o médico para examinar? Claro que a instrução não é contrária ao uso da
medicina, mas é extremamente contrária a primazia desta em detrimento da
confiança no Senhor! Busquemos primeiramente a Deus! Estamos
compartilhando nossas alegrias e tristezas? Estamos “sorrindo com os que
sorriem e chorando com os que choram”? Temos nos compadecido de nossos
irmãos em sofrimento? Temos orado, visitado, prestado apoio? Essa é a
vontade de Deus!

III – A ORAÇÃO DO JUSTO (v.17-18)

O poder da oração é retratado na história de Elias. Ele era um homem


como qualquer um. Mas, orou com fé e perseverança, em conformidade com
a vontade de Deus. Então, o céu se fechou, não choveu na região por três
anos e meio! Depois desse período, orou novamente e o céu se abriu,
trazendo chuvas torrenciais. É comum entendermos a oração de Elias
popularmente como um exemplo de poder humano e possibilidades
ilimitadas para realizar nossas vontades. Tal postura é equivocada. Toda
ação de Elias estava diante da vontade de Deus. Sua oração foi fervorosa,
mas para fazer aquilo que a “mão” do Senhor havia direcionado. “Não
podemos separar a Palavra de Deus da oração. Em Sua Palavra Deus nos dá
as promessas pelas quais devemos orar”.96
Na verdade, o milagre tinha um sentido religioso maior. Não era
simplesmente uma disputa entre o profeta Elias e o rei Acabe, não era um
desafio entre homens. Era uma manifestação de Deus contra o falso culto.
Ele estava demonstrando como a adoração a Baal e a honra a ele como o
“Senhor da fecundidade, das chuvas” que recebia o epíteto “o que vai
montado sobre as nuvens”97 era um enorme equívoco, pois Ele, o Senhor
Jeová, era o único Deus.
Nesse contexto faz sentido o profeta ter orado para não chover, pois
não era um mero capricho do homem, mas a reivindicação de que Deus, o
verdadeiro Senhor, é que controla e domina sobre todas as coisas, incluindo
a fecundidade, as chuvas e a produtividade da terra. O “Senhor das chuvas”,
aquele que “vai montado sobre as nuvens” simplesmente ficou sem água!
Não pode fazer chover. As pessoas clamavam, cultuavam, invocavam a Baal,
mas nenhuma gota caía do céu. A terra permaneceu árida, seca e infrutífera.
Esse quadro permaneceu por três anos e meio. Deveria ficar bem claro
também que a situação só mudaria mediante a intervenção do verdadeiro
Deus, somente depois daquele período de tempo seu profeta orou e os céus

96 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 122.
97 https://pt.wikipedia.org/wiki/Baal_(dem%C3%B3nio). Acesso em: 08 jul. 2018.

- 81 -
voltaram a despejar as chuvas! E a terra fez germinar seus frutos! Quem era,
de fato, o Senhor da fecundidade? Da chuva? Quem dominava as nuvens?
Podemos compreender agora o poder da oração. Ela é extremamente
eficaz e poderosa para realizar a obra de Deus, contudo ineficaz quando não
está de acordo com o desejo do Senhor. “Se permanecerdes em mim, e as
minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será
feito” (João 15.7).
Tiago pode não ter mostrado toda essa envergadura da oração no seu
discurso, contudo ele também não a contradisse. O objetivo dele era mais
prático, incentivando a igreja a orar. Para quem estivesse esmorecido, acerca
da oração, tais palavras de ânimo seriam necessárias.
Além de tudo, esse é o papel do cristão. A oração faz parte de nossa
vida devocional. Jesus ensinou os discípulos a orar (Mateus 6.8-9), falou
sobre a oração insistente da viúva concluindo que Deus semelhantemente
faria justiça aos seus servos que clamassem a Ele noite e dia (Lucas 18.7).
Paulo afirmou que devemos: “Orar sem cessar” (1 Tessalonicenses 5.17).

APLICAÇÃO

Será que temos feito orações com fé? Temos crido realmente no poder
de Deus para solucionar os problemas, a dor, o sofrimento e trazer cura por
meio desse instrumento? Quanto tempo temos dedicado, por dia, a oração?
Quantos testemunhos podemos dar acerca de orações atendidas? Temos
feito isso para a glória do Senhor?

IV – O RESGATE DA DOENÇA ESPIRITUAL (v.19-20)

Por fim, Tiago finaliza sua epístola escrevendo sobre a cura de uma
doença, não física, mas espiritual. Aquele que se desvia dos caminhos do
Senhor é uma pessoa enferma, cheia de pecados e condenada à morte.
A indicação era para que a igreja não fosse indiferente àqueles que se
desviavam. O texto parece indicar que ao ocorrer esse fato, logo, logo uma
pessoa deveria tomar a iniciativa de auxiliar o irmão tendo em vista sua
reedificação. “Os termos alguém (v. 19) e aquele (v. 20) deixam claro que esse
ministério da evangelização pessoal amorosa é dever e privilégio de todos os
cristãos, não apenas para ‘os presbíteros da igreja’”98.
Os crentes deviam mostrar, ao desviado, outro caminho, convertendo-
o da morte para a vida. Salvando a vida dele através da propiciação de
Cristo, que ‘cobre’ multidão de pecados. “Precisamos nos esforçar para
salvar os perdidos. Mas também precisamos nos esforçar para salvar
restaurar os salvos que se desviam”99.
Não há tarefa mais urgente. Na verdade, esse é o resumo do chamado
cristão: pregar a palavra para salvação de vidas.

98 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
p. 197.
99 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 123.

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Tiago finaliza seu livro de modo meio abrupto, sem maiores
considerações, reflexões ou despedidas. Isso condiz com seu modo de
construir a epístola, por meio da junção (não tão elaborada) de sermões
objetivos e práticos.

APLICAÇÃO

Temos tido o cuidado com os irmãos da igreja que passam por doenças
espirituais? Temos dado a devida atenção a eles? Em relação aos que se
desviam da fé e se afastam dos caminhos do Senhor, qual tem sido nossa
atitude? Temos buscado ajudar tais pessoas ou simplesmente a deixamos
seguir seu caminho? Temos lutado para salvar as almas da morte ou
vivemos indiferentemente ao próximo? Quantos desviados conseguimos
trazer de volta à Cristo? Com quantas pessoas em crise espiritual temos
trabalhado em visita, oração e ensino? Se nossas estatísticas quanto às
questões anteriores estiverem baixas é sinal de que precisamos agir mais e
servir melhor ao Senhor. Como igreja essa é nossa responsabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar esta série de sermões em Tiago precisamos fazer dois tipos


de considerações, uma para esta mensagem e outra acerca de todo o
material.
Nessa passagem vimos, basicamente, a importância da oração. A Igreja
precisa orar com fé. Orações oficiais e comunitárias devem ser realizadas a
fim de trazer a cura ao povo. Elias é o exemplo-mor de como uma oração
diante da vontade de Deus pode ser poderosa! Ela pode até causar um
fenômeno na natureza! Assim, a prática da mesma é incentivada. Por fim,
Tiago traz uma lembrança acerca dos desviados. Como é importante
alcançá-los e trazê-los de volta a vida; fazendo isso a igreja estará salvando
uma alma e “cobrindo” uma multidão de pecados, pela graça de Deus. Essas
são ótimas reflexões para a vida comum da cristandade. Palavras diretas e
objetivas. Palavras pastorais, sem rodeios, que indicam com firmeza práticas
saudáveis para crescimento da espiritualidade do povo de Deus.
Em relação à epístola como um todo, Tiago abordou diversos temas,
em várias seções, de forma bastante firme, algumas vezes, e amorosas, em
outras. O pastor tinha o interesse que suas ovelhas fossem aperfeiçoadas na
fé e mostrassem um bom testemunho cristão em meio a uma sociedade
corrompida.
Tiago quebra diversos paradigmas, e com voz firme orienta à Igreja a
seguir na contramão do mundo. Ele inicia falando sobre fé em meio a
provações. Ou seja, fica claro que a vida cristã não se dará numa redoma,
inerte aos sofrimentos desta vida. Mas, que viveremos e teremos “provações”
em nossa caminhada. Essa declaração é um contrassenso a respeito daquela
ideia de que o cristão não pode mais sofrer, que não terá mais aflições, que
será uma espécie de super-homem. Tiago insiste em que sejamos praticantes
da palavra e não somente ouvintes. Aos que apenas ouvem, estes estão se
enganando! A questão da discriminação foi abordada também. O rico e o

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pobre se encontram na Igreja e não deve haver tratamento diferenciado a um
em detrimento do outro. Esta foi mais uma orientação na contramão dos
costumes. Ele bradou com força: não deve ser assim! O tema da fé voltou à
tona. Uma fé sem testemunho, sem obras pode ser apenas um
convencimento e não a verdadeira fé salvífica. Ele exclama nesse ponto: a fé
tem que produzir testemunho visível! Nessa perspectiva do testemunho, a
língua deve ser controlada. Da mesma boca não deve sair bênçãos e
maldições! O uso correto da língua é evidenciado na oração. A boca é feita
para falar o bem, para louvar a Deus. Tiago fala também da verdadeira
sabedoria que vem de Deus. Uma sabedoria pura, perfeita e que edifica a
Igreja. Orienta os crentes a não serem mundanos, pois “a amizade do mundo
é inimiga de Deus”. Não se deve também viver um ateísmo prático, ou seja,
viver como se Deus não existisse, pois muitos estavam fazendo planos,
tomando decisões sem a menor consideração por Deus. Deus é o motivo de
nossa existência. Chegando ao final da epístola, Tiago faz uma grande
reprimenda aos ricos corruptos, que nem mesmo são considerados cristãos.
Aos crentes oprimidos ele orienta a ter calma e paciência, pois Deus agirá
em seu favor. Por fim, ele incentiva a Igreja na prática da oração. Elias é o
modelo, a oração é importante e o Senhor agirá!
Tiago é, portanto, uma coletânea de ótimas mensagens. São vários
temas, abordando diversas situações, de forma embrionária, mas que em
firmeza, finca marcos indeléveis para a vida cristã da Igreja. Uma verdadeira
pérola diante do povo do Senhor. Deus seja louvado.

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REFERÊNCIAS

CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015.

CARSON, D. A. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,


1997.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado. São Paulo:


Editora Candeia, 2000.

CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de


Janeiro RJ: CPAD, 2005.

Confissão de Fé Batista de 1689. Tradução e Revisão: William e Camila


Teixeira. 9ª ed. Corrigida e Ampliada em Português. [S.l.], Estandarte de
Cristo, 2018.

ERICKSON, Millard. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida


Nova, 1997.

LOPES, Augustus Nicodemus. O ateísmo cristão e outras ameaças à


Igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.

____________________. Cheios do espírito. São Paulo: Editora Vida, 2007.

LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São


Paulo: Hagnos, 2006.

PIPER, John. Penetrado pela Palavra: trinta e uma meditações para sua
alma. São José dos Campos-SP: FIEL, 2005.

SHEDD, Russell P., BIZERRA, Edmilson F. Uma exposição de Tiago: a


sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento.


Volumes III, VI. Santo André – SP: Geográfica Editora, 2006.

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INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR

Vlademir Fernandes

Identificação

Vlademir Fernandes de Oliveira Júnior (OLIVEIRA JÚNIOR, V. F.), cristão evangélico,


brasileiro, nascido em 09/04/1983. Casado com Katiely Silva Oliveira.

Formação/Experiência Profissional

Possui Licenciatura Plena em Matemática (UNIR). Tem Especialização em Metodologia e


Didática do Ensino da Educação Matemática (FAROL) e Especialização no Programa
Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de
Educação de Jovens e Adultos - PROEJA (IFRO). É mestre em Matemática pelo programa
PROFMAT e Graduado em Teologia pela UNINTER (2018). Atualmente é professor de
Matemática do IFRO (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia).

Formação/Experiência Teológica

Bacharel em Teologia pela UNINTER (2018). Fez o curso Médio em Teologia SETEBAN-
RO/AC (Seminário Teológico Batista Nacional de Rondônia e Acre - 2008). Participou do I
Simpósio de Docência em Escola Bíblica (SETEBAN-RO/AC - 2006). Foi professor do
NETEVA (Núcleo de Ensino Teológico Vida Abundante, em Ji-Paraná-RO) e professor
convidado do SETEBAN (Seminário Batista Nacional, em Seringueiras-RO - 2011); Exerceu
o cargo como vice-moderador da IBNVA (Igreja Batista Nacional Vida Abundante, em Ji-
Paraná-RO), vice-superintendente e professor da Escola Bíblica (no mesmo local). Concluiu
o Curso Fiel de Liderança – CFL – intitulado “Pregação Expositiva” (2018).

Atuou como professor de teologia no SETEBAN-RO/AC (2012-2018).

Linha Teológica

Tem uma cosmovisão baseada na chamada ortodoxia, considerando a inspiração, inerrância


e suficiência das Escrituras. De modo geral se aproxima mais da Teologia Reformada por
compreender que tal postura melhor se coaduna com os ensinos da Palavra de Deus.

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