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ARCO (parte B)
“et pur si muove”
Curadoria de Maria de Fátima Lambert
Espaço t, espaço de integração pela arte, numa perspetiva de inclusão total, sem tabus,
estereótipos, preconceitos e tudo aquilo que segrega o valor humano. Valorizamos apenas
a aceitação incondicional do outro.
Numa perspetiva transversal da sociedade, dos ricos dos pobres, dos coxos aos
esteticamente intitulados de belos, todos cabem no conceito.
Num mundo cada vez mais desumanizado, solitário, onde todos são “colocados em
gavetas”, verificamos que o homem apenas representa o papel que lhe é dado, e quase
nunca mostra o seu verdadeiro interior.
Com o Espaço t, aqueles que por ele passam ou passaram, crescem e entendem que o
verdadeiro homem não é o do “gaveta” mas o do seu interior e entenderam também o que
há na sua verdadeira essência, quer ela seja arte bruta, naïf ou apenas arte de comunicar,
é por si só a linguagem das emoções, a linguagem da afirmação do maior valor humano.
O pensar e o libertar esse pensamento crítico sobre uma forma estética. Esse produto
produz uma interação entre o produtor do objeto artístico e o observador desse mesmo
objeto; promovendo assim sinergias de identidade e afirmação melhorando dessa forma a
auto estima e o auto conceito daqueles que interagem neste binómio e se multiplica de uma
forma exponencial.
Este é o Espaço t,
E apesar de sempre termos vivido sem a preocupação de um espaço físico, pois sempre
tivemos uma perspetiva dinâmica, e de elemento produtor de ruído social positivo, ruído
esse que queremos que possa emergir para além das paredes de um espaço físico.
Apesar de não priorizarmos esse mesmo espaço físico, pois ele é limitador e castrador foi
para esta associação importante conseguirmos um espaço adaptado às necessidades reais
e que fosse propriedade desta associação que um dia foi uma utopia.
Com a ajuda do Estado, mecenas, e muitos amigos do Espaço t, ele acabou por
naturalmente surgir. Com o surgir do espaço do Vilar, outros projetos surgiram tendo uma
perspetiva de complementaridade e crescimento desse espaço, que apesar de real o
queremos também liberto desse conjunto de paredes, fazendo do espaço apenas um ponto
de partida para algo que começa nesse espaço e acaba onde a alma humana o quiser
levar.
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Surgiu assim a ideia de nesse lugar criarmos outro lugar, também ele figurativo embora
real, chamado Quase Galeria.
Uma galeria de arte contemporânea com um fim bem definido: apresentar arte
contemporânea Portuguesa nesse espaço, dentro de outro espaço, onde cada exposição
será uma fusão de espaços podendo mesmo emergir num só espaço.
Com este conceito pretendemos criar uma nova visão do Espaço t, como local onde outros
públicos, outros seres podem mostrar
a sua arte, desta vez não terapêutica mas sim uma arte no sentido mais real do termo que
forçosamente será também terapêutico, pois tudo o que produz bem estar ao individuo que
o cria é terapêutico.
Com o apoio das galerias: Graça Brandão, Carpe Diem – Arte e Pesquisa, Carlos Carvalho,
Presença, Reflexus /Nuno Centeno, Modulo, 3 +1, Jorge Shirley, Alecrim 50, Ateliê Fidalga
(São Paulo/BR), Progetti (Rio de Janeiro/BR), Ybakatu (Curitiba/BR), Mercedes Viegas (Rio
de Janeiro/BR), Waterside (Londres/UK), Módulo, Vera Cortês (Contemporary Art Agency),
Filomena Soares, Fernando Santos e com a Comissária e amiga Fátima Lambert, temos o
projeto construído para que ele possa nascer de um espaço e valorizar novos conceitos
estéticos contribuindo para a interação de novos públicos no espaço com os públicos já
existentes promovendo assim, e mais uma vez a verdadeira inclusão social, sem
lamechices, mas com sentimento, estética e cruzamentos sensoriais humanos entre todos.
Queremos que com esta Quase Galeria o Espaço t abra as portas ainda mais para a cidade
como ponto de partida para criar sinergias de conceitos, opiniões e interações entre
humanos com o objetivo com que todos sonhamos – A Felicidade.
Jorge Oliveira
O Presidente do Espaço t
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Arco (parte B) – e pur si muove…
Isabel Aboim Inglez
Um arco cronológico não necessariamente tem de ser sincopado. Tampouco têm de ser
assinaladas, com traços ou marcas, as divisórias necessárias, para que se situe a passagem dos
dias com nitidez. Mais do que ser a soma, o acúmulo dos dias, a história de cada pessoa, assim
como a História das sociedades e culturas, retrata-se – muito frequentemente e de modo quase
impensado – perante a relevância de datas que celebram tragédias ou conquistas – menores ou
maiores mas sempre acontecimentos “supostamente” dignos de destaque. Quanto ao que se
denomina, se considera, serem “coisas pequenas” [Nietzsche dixit que nelas residia a felicidade],
banalidades ou grandiosidades peculiares, todas oscilam entre a pertinência singularizada e a
certeza da invisibilidade gregária. As datas especificadas revelam-se picos de um gráfico onde, por
vezes a verdade reside nas linhas menos sinuosas…linhas de planície da correnteza dos dias (e
das noites).
Nós organizamos o tempo mensurável. Acreditamos que – igualmente – se organiza o tempo
vivido, sentido, sensibilizado em termos psicoafectivos e não apenas na sua dominante objetiva,
suscetível de registo e cálculo.
Isabel Aboim Inglez regista a evidência do decurso dos dias, nas suas ressonâncias diurnas e
noturnas, inertes na sua visibilidade direta. A artista-fotógrafa, ao longo de mais de um ano,
aguardou todos os dias - e aguarda (o processo ainda não foi dado por concluído) tempos situados
no espaço, onde resistem permanências arquiteturais e urbanísticas, pontuadas por inéditas
circunstâncias fora de controlo.
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O relevante mesmo consistirá em contabilizar (=evidenciar) os dias em que o céu nos caia em
cima. Talvez subvertendo as acrobacias supersticiosas - “…peur que le ciel tombe sur moi…” -
dignas de Astérix e Obelix. Mas tudo, afinal, se reorganiza e sobrevive. E o céu não caiu totalmente
sobre nós. Apenas de, quando em vez, isso acontece. Mas não ao mesmo tempo, para toda a
gente.
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« Le passé récent, le passé qui est arrivé ce matin ou qui est arrivé la
veille est encore gonflé de ces récits. »1
As nuvens, cativadas por Isabel Aboim Inglez, convocam e muitos mais autores, sedimentados na
pintura, na fotografia assim como na poesia. Destacam-se duas grandes ampliações fotográficas,
onde um Constable suspende as suas nuvens poderosas e poéticas sobre uma cidade cujo
recorde de edifícios não poderia conhecer; Zeus certamente dialoga com um fragmento denso e
volumétrico que todavia se insinua numa leveza translúcida lembrando Turner, em dias nebulados
nas não demasiado tristes, ou as instalações contemporâneas de Latifa Echakhc (L'Air du temps,
4 Gaston Bachelard, L’Air et les Songes - Essai sur l’imagination du mouvement. (1943) [1990], p.213. “Nenhum sonhador
atribuiu à nuvem a significação grave de outros « signos » do céu. Enfim, o sonho (devaneio) das nuvens recebe um carácter
psicológico particular: é uma fantasia sem responsabilidade.”
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2014)… ou talvez esta artista-fotógrafa queira agarrar nuvens como se vê nas fotografias
encenadas de Robert and Shana ParkeHarriso (Suspension, Série Earth Elegies, 1999)... As
nuvens estejam elas quietas ou em reboliço são motivações lentas que asseguram a
transitoriedade do tempo e garantem regressos grandiosos e expectáveis. Haverá sempre nuvens,
de algum modo e configuração para interpelarem os aviões, os guindastes ou os arvoredos
excessivamente altos em cotas lisboetas que divertem a topografia pacata dos observadores
escondidos atrás das janelas dos edifícios em condição de silhueta.
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A cidade está de permeio, plasmada na polissemia do conceito. Dá-se a ver, parafraseando Paul
Éluard, através da metodologia e do processo que subjazem ao registo dos dias, dias, dias. Torna-
se verbico-visual, lembrando o poema de Augusto Campos:
“DIAS
DIAS
DIAS”5
Neste poema “DIAS DIAS DIAS” o poeta brasileiro usa seis cores diferentes na escrita. É um
ideograma, segundo José Augusto Miranda.6 O poema depois da iconografia tripla DIAS avança
para “esperança de um só dia”7
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5. Todas as imagens anunciam todas as manhãs do mundo, convocando Pascal Quignard8:
Ou seja, ideias e vivências, na sua maioria que assinalam muito daquilo que consegue subverter –
ainda que acatando - a forma como se vive na contemporaneidade, na atualidade da cidade.
Estas imagens, como todo significarão a capacidade de, em moldes singulares, a artista-fotógrafa
tomar posse. Ainda que por breves momentos, o que está em seu redor para ser visto torna-se
cheio, preenchido por todos os sentidos, pois concentra-se (converge) para ser vivenciado em
direto, em sincronia. Configura-se pela cativação mais duradoira, em imagens capazes de
desafiarem a possível temporalibilidade; capazes de atribuir resiliência ao mundo dos DIAS. Assim,
se contradiz a irreversibilidade do ritmo de vida na cidade. Que não é mais ambicionada como
metropólis ou cosmopólis mas “vécue” - coisa vivida em - e de algum modo - ainda que
ilusoriamente dominada. A ideia da cidade convertida em propriedade mental, introspetiva, única e
[in]capaz a cada pessoa.
No registo do momento que antecede sair de casa e no registo do momento que assinala a
chegada a casa, depois da ausência do dia, fica a persistência da memória, parafraseando o título
de Salvador Dalí (1931). Não me fixando no conteúdo da pintura, mas antes da explanação do
8 Cf. Pascal Quignard, Tous les matins du monde, Paris, Gallimard, 1991.
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título, torna-se implícita a atitude em contraria o esquecimento que a espera poderá suscitar.
Relembre-se, de Maurice Blanchot, um outro título, o do pequeno volume “L’attente, l’oubli” (1962).
Como se um termo se aglutinasse no outro, numa viagem de dois sentidos numa mesma direção.
As fotografias de Isabel Aboim Inglez contrariam, numa certa aceção, Maurice Blanchot:
« L'attente commence quand il n'y a plus rien à attendre, ni même la fin de l'attente. L'attente ignore
et détruit ce qu'elle attend. 9» Maurice Blanchot
9“A espera começa quando não há mais nada a esperar, nem mesmo o fim da espera. A espera ignora e destrói tudo o que
aguarda.” (tradução minha)
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Isabel Coelho de Aboim Inglez. N. 2 Abr1971
Direcção de Fotografia: MERGULHO NO ANO NOVO (1993) * CORTE DE CABELO (1995 - As) *
CINCO DIAS, CINCO NOITES (1996 - As) * O DESPERTADOR (1996) * TENTAÇÃO (1997 - As) * É SÓ
UM MINUTO... (1998) * CINEMAAMOR (1999) * O PEDIDO DE EMPREGO (1999) * SOPA FRIA (2000) *
QUE TENHAS TUDO O QUE DESEJAS (2001).
FILMOGRAFIA
Rel: O ARMÁRIO (1988) * INCLINADO (1988) * EXISTO! (1989) * ECCE CANIS (1990) * GATA PARDA
(1994) * DE CABEÇA PERDIDA (1999) * TÁXI! (2001) * SELO OU NÃO SÊ-LO (2004) * VACAS –
ACONTECEU A OESTE (2006) * DO CÉU E DA TERRA (2007/2011) * DORA (2009).* IDADE ÓSSEA
(2016/ )
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Isabel Aboim Inglez - Arco – Trajetória do Tempo ou // ARCO – Entreluz
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Na sequência do que é o meu trabalho de investigação fotográfica, trata-se também aqui da
‘escavação num mesmo sítio’10, a procura nas várias camadas da fotografia, a descoberta da
mudança da alteração por camadas chegar ao amago da imagem. É um trabalho minucioso, de
peneirar, em que mais do que a técnica fotográfica ou do resultado artístico da mesma, é a
10Robert Bresson diz no seu ‘Notas sobre o Cinematógrafo’ – Escava esse lugar. Não deslize para
outro sítio. Duplo, triplo fundo das coisas. (p.29)
Let nothing be changed and all be different.(p.71)
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presença dessa observação, da sistematização dessa observação. É e claramente a noção de
‘mudança’ de ‘transformação’ que inevitavelmente ocorre. Que nada mude, pra que tudo seja
diferente. A mesma imagem, a mesma referência em tudo diferente. E como se vê essa mudança?
Essa observação não é evidente, requer tempo. Teve-se que parar o tempo, delimitar os pontos no
espaço, A e B, e variando no tempo, nos dias, nos meses, no ano. Fixa-se o tempo. A mudança
inscrita pelo tempo. O Arco que se desenha dessa deslocação entre A e B, é a secção elíptica feita
dessa revolução anual que o sol descreve. É necessário para que o tempo se dê para que esse
tempo se revele, ver o todo e não a parte da ‘trajetória’ feita pelo sol.
Aqui a luz é a matéria primeira da vida e da fotografia!
A janela não existe mas existe o edifício (Sheraton) como marco geodésico, não de onde se vê
mas para onde se olha. A sua forma horizontal e vertical é particular e identificável. Não é a torre
Eiffel, mas perscrutando com o olhar a cidade é um marco! O ‘marco’ que se estabelece da-minha-
janela e que fixa essa referencia edificada para a imagem. É o fixo desta imagem.
Os aviões cruzam o céu, mais, e mais … No espaço de observação, pontuam ritmicamente esses
trajetos, alinhando-se em rotas imaginárias são igualmente congelados (pela fotografia) no ponto
em que se perfilam com o edifício. O edifício é um, os aviões são todos diferentes mas são também
- o avião, uma vez que é a constância da sua passagem que é registada.
A passagem dos dias – o tempo (…)
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Ficha Técnica
Promotor:
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