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As metáforas da família na

transmissão do poder
político:questões de método*

Letícia Bicalho Canêdo**

Cad. CEDES vol. 18 n. 42 Campinas Aug. 1997

http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32621997000100004

RESUMO: Como explicar o uso feito pela sociedade democrática de um vocabulário político
que funciona sobre bases de alusões à família como princípio de realidade social? Atualizadas
pela mídia, essas alusões (afilhado político, os pais do partido, herança partidária, herdeiro
político...) oferecem uma visão esparsa de significação da democracia e revelam a existência
possível de duas esferas teoricamente inconciliáveis, onde uma se realiza mascarando a outra:
as idéias de democracia, partido moderno e eleições dissimulando os sinais de família, isto é,
do mundo social no político. Com base numa pesquisa empírica realizada sobre a transmissão
do poder político em Minas Gerais, o artigo discute um método para examinar os fundamentos
da indagação acima, com reflexões sobre as fontes de dados para realizar tal estudo. Não se
trata de considerar essas fontes como caso técnico, mas como uma problemática diretamente
ligada à metodologia da sócio- história do político.

Palavras-chave: transmissão, família, hereditariedade, redes política

Na campanha para as eleições municipais de 1996, a mídia sublinhou a expressão transmissão


de poder, com ênfase, mais freqüentemente nos casos de São Paulo e do Rio de Janeiro, às
palavras afilhado e herdeiro ao se referir ao candidato "do Maluf" ou do "César Maia".
Secundariamente, difundiu o partido ao qual pertenciam os candidatos.
Nesses dois casos específicos, a passagem mais marcada pelo conjunto dos meios de
comunicação, e bem aproveitada pelos publicitários das campanhas, é a já célebre frase do
prefeito Paulo Maluf, responsabilizando-se pelo "seu afilhado" Celso Pitta: "Se ele não fizer um
bom governo, não votem mais em mim". Uma idéia que leva à consideração do voto como
propriedade transferível, apagando dele o sentido político clássico da manifestação do eleitor
que, como indivíduo, decide tendo em vista programas partidários de caráter geral.

A mídia é hoje a intermediária mais importante na difusão do discurso político. Nesse sentido,
a metáfora familiar, sustentada por ela na campanha eleitoral, torna-se inquietante como
sintoma de negação da tese clássica da democracia — posta ao longo do século XIX —, a qual
pretendia retirar todo o sinal do familiar existente no político, a fim de se alcançar o princípio
ideal individualista e igualitário. Aludir à transferência de votos, exibir imagens televisivas
insinuando esta transferência como uma promissória para a guarda do mandato eletivo para
uma pessoa, ou a manutenção desse mandato dentro de um mesmo grupo de aliados, ou de
uma mesma linhagem, contradiz a idéia de alternância de poder, que se associa à idéia de
eleição, e introduz um elemento de permanência no lugar da esperança de mudança e de livre
acesso. São alusões que alteram a concepção de indivíduo-cidadão, ao sugerir, de um lado,
apropriação da autonomia e da liberdade de escolha do cidadão-eleitor; de outro lado,
contestar a igualdade de chances: os candidatos sem padrinhos, sem pais eleitos, sem tios
seriam bastardos?

Em resumo, as expressões transmitirão do poder, afilhado, ou herdeiro, ao mergulharem as


eleições nos seus determinantes sociais, trazem à tona as manifestações do "espírito família",
e não do "espírito público". Nesse sentido, invertem o que está contido na visão
institucionalizada da cidadania cívica, ao exibirem o eleito impondo a escolha de seu sucessor
e, conseqüentemente, retirando do eleitor certos atributos invocados pela ¨cartilha
democrática", como o modo de seleção do pessoal político (a eleição pelos "cidadãos") e o
princípio de legitimidade ("o povo" como fonte de poder).

Assim, não é uma questão menor inquietar-se com um vocabulário político que funciona com
base em alusões à família como princípio de avaliação da realidade social, pois essas alusões
tocam de frente o que se deveria admitir como intocável: a fratura entre o "privado" e o
"público", entre o indivíduo-cidadão e o grupo social ao qual pertence.

Escolhi experimentar essa visão pouco idealizada das eleições para abrir minha exposição
porque o alvo de minha pesquisa atual é justamente a transmissão do poder político, que
mostrarei aqui como passível de ser, ao mesmo tempo, um instrumento e um objeto de
análise política. Farei isso com base em uma reflexão sobre o vocabulário político usual,
sobrecarregado de referências à família e ao parentesco, e sobre os dados de uma pesquisa,
em curso, que enfoca os mecanismos de transmissão do patrimônio político em Minas Gerais.
Por uma questão prática, dividirei esta exposição em cinco partes. Em primeiro lugar, colocarei
em evidência o porquê da escolha de Minas Gerais para um estudo sobre transmissão do
poder político. Em segundo lugar, procurarei mostrar o tipo de orientação metodológica que
sigo neste trabalho, para discutir, com base nela, a ordenação dos dados empíricos. Por fim,
após explicitar o trabalho realizado, discutirei dois problemas, que não devem ser
considerados somente técnicos, mas diretamente ligados à metodologia da pesquisa: um
problema de fontes e um de escrita.

Famílias mineiras num estudo sobre transmissão do poder político

A escolha de Minas Gerais para um estudo sobre a transmissão do poder político tem sentido
porque as questões concernentes à política mineira ultrapassam os limites regionais, como
testemunha a presença de suas elites em cargos de poder ao longo do Império e da República:
cinco presidentes da República, numerosos ministros nos postos mais decisivos (Justiça e
Finanças), sete vice-presidentes da República, uma forte representação nas principais
Comissões de Finanças e de Justiça da Assembléia Nacional e nas principais funções em todos
os Ministérios. Desde o início da Nova República, dois presidentes da República, entre quatro,
saíram de Minas Gerais e constituíram governos de mineiros.

Este sucesso da elite mineira na preservação de seu poder no nível nacional está associado ao
que se conhece sob o nome de "mineirice". No folclore político brasileiro, mais do que uma
referência regional, trata-se de uma maneira especial de fazer política, utilizando astúcia e
sagacidade com a habilidade de negociar, conciliar e acomodar. A "arte da conciliação
mineira", que une senso prático e espírito conservador, é conhecida como o segredo de Minas.
"Os políticos mineiros vestem a fantasia de políticos mineiros e passam a alimentar-se do mito
criado por eles próprios", diz Maria Arminda N. Arruda.1

Ora, na medida em que este segredo é vivido como fazendo parte da ordem natural das coisas,
a "mineirice" torna-se motivo de reflexão científica, pois revela a internalização de um sistema
de categorias de percepção, de pensamento e de ação legitimado, continuadamente, pela
mídia: "Quem pode entender o código dos mineiros?", pergunta uma colunista do jornal O
Estado de S. Paulo.2
Por outro lado, como já demonstrou o sociólogo Cid Rebelo Horta, numa célebre pesquisa de
1956,3 esta elite esteve presa numa rede de 27 famílias que, por longo tempo, controlou a
política do Estado do nível local ao nacional.

Freqüentemente citada, mas raramente solicitada pelos trabalhos que tratam dos valores que
governam as práticas políticas, esta pesquisa de Rebelo Horta foi retomada em 1990 pela
historiadora americana Frances Hagopian, que a utilizou na sua tese sobre as elites tradicionais
do Brasil contemporâneo.4 Ela afirma que membros das famílias mais tradicionais ainda
podem ser encontrados nos postos mais elevados da administração. Afirma também que as
novas elites devem suas responsabilidades e seus lugares às antigas...

A existência, hoje, dos mesmos sobrenomes mineiros não só em cargos administrativos, mas
também eletivos,5 parece sustentar tanto a tese de Hagopian como o comentário irônico do
ex-deputado Eugênio Klein Dutra, quando se referiu à transmissão hereditária das posições de
poder, tão chocantes ao senso comum democrático: "É impressionante como Minas se renova
de geração em geração", disse ele.6 Atualmente, encontram-se em postos mais elevados:
Eduardo Azeredo (PSDB), atual governador de Minas Gerais e filho do ex-deputado Renato
Azeredo (antigo PSD, fundador do MDB) e bisneto do senador João Antônio de Avelar; o
procurador-geral do Congresso Nacional, Bonifácio José Tamm de Andrada (PTB), tetraneto de
José Bonifácio, neto de Antonio Carlos, filho de Lafaiette de Andrada (Zezinho Bonifácio) e
irmão do deputado José Bonifácio de Andrada; o atual ministro da Indústria e Comércio —
Francisco Dornelles (PPB), neto de Francisco de Paula Neves, sobrinho de Tancredo Neves e de
Ernesto Dornelles, além de primo do deputado Aécio Neves. Entre muitos outros, podem-se
mencionar ainda, o deputado pelo PT Virgílio Guimarães, neto do senador João Lima
Guimarães e filho de Evaristo de Paula, atuante na política mineira como filiado ao antigo PSD;
Israel Pinheiro Filho (PTB), neto do ex-presidente da República João Pinheiro, filho do ex-
governador Israel Pinheiro.7

A escolha de Minas Gerais para este estudo sobre a transmissão prende-se também ao estudo
que venho realizando, desde 1987, sobre uma família da Zona da Mata de Minas Gerais,
reconhecida em sua região eleitoral como "uma família de homens políticos", dado o fato que,
há mais de um século, geração após geração, alguns de seus membros vêm obtendo sucesso
na ocupação de posições legítimas no espaço de poder. Com base numa genealogia
publicada,8 a pesquisa constatou desde um presidente da República a senadores e
governadores fazendo parte deste conjunto familiar, também citado na categoria das "famílias
governamentais de Minas Gerais". Mas mais do que ¨governamentais", este conjunto familiar
se sobressai pelos recursos políticos advindos de sua posição no interior da administração
estatal e acumulados na esfera tanto dos poderes centrais como locais. Considerados bons
técnicos e bons administradores, os políticos registrados nessa genealogia assim se fizeram
reconhecer como autoridades competentes por aqueles que os elegem.
Mas o interesse maior pela pesquisa advém do fato de que o caso mineiro não é o único no
que se refere à transmissão do poder político por via familiar, mas um entre outros. Pode-se
exemplificar esta observação com César Maia, atual prefeito do Rio de Janeiro, que elegeu
«seu afilhado». Ele é sobrinho de Agripino Maia, de uma poderosa família de políticos da
Paraíba,9 um fato não levado em consideração, tanto pelo cientista político que escreveu o
livro de onde retirei a informação,10 como até mesmo pelo próprio Maia, que se julga
independente de sua socialização. Ou, o caso de Roberto Magalhães (PFL), que ganhou as
eleições municipais no Recife, em 1996. Justifica-se a larga margem de vantagem do candidato
em função do apoio que lhe é dado por Jarbas Vasconcelos (PMDB), considerado um bom
prefeito e "legítimo herdeiro das grandes lides do antigo MDB". Recolhi, para a pesquisa, a
informação de que Roberto Magalhães é sobrinho de Agamenon Magalhães,11 e que com ele
aprendeu as artes da política e viveu um tipo de ética, praticada nos anos 50, que lhe deu
grande segurança em toda sua carreira como governador de Pernambuco, na década de 1980,
e deputado federal, considerado de grande competência política nos difíceis primeiros anos da
década de 1990. O epíteto dos jornalistas para Roberto Magalhães foi, assim, substituído na
últimas eleições: de filho da ditadura militar para candidato contra as oligarquias do
governador Miguel Arraes. Ora, Miguel Arraes, ao contrário de Roberto Magalhães, já foi
considerado herói das esquerdas por ocasião do golpe de 64.

No Recife, os eleitores votaram em Roberto Magalhães, candidato do PFL, para dizer não à
oligarquia do Governador Miguel Arraes, do PSB. O senador Roberto Freire (PPS), candidato de
Arraes à prefeitura, conseguiu apenas 3,6% dos votos. ("Oligarquias sofrem derrota nas urnas",
OESP, 13/10/1996).

A escolha da transmissão como objeto de estudo, portanto, prende-se à persistência de um


fenômeno, claramente identificável: a hereditariedade na política e o uso de um vocabulário
político sobrecarregado de referências à família. As referências familiares, atualizadas pela
mídia, trazem uma dispersão do significado das eleições e revelam a possibilidade da
convivência de coisas contrárias, uma se realizando ao esconder a outra, ou melhor, as idéias
de democracia, dentro de partidos modernos, escondendo o sinal do familiar na política.

A orientação metodológica e a ordenação dos dados empíricos

O tema transmissão do poder está num terreno movediço e ainda mal explorado pelos
historiadores, sociólogos e cientistas políticos. A pesquisa explora este terreno utilizando a
trajetória vivida pelos herdeiros políticos como meio de investigação. Pois, se a política é um
negócio eminentemente coletivo, para apreendê-la nas diferentes facetas, os fatos
apresentados acima sugerem que a experiência individual pode se transformar numa fonte
muito rica de estudo. Nela se cruzam significações, determinações e capacidades de iniciativas
que, no conjunto, desenham os contornos daquilo que constitui nossa representação política
imediata. Num domínio balizado e banalizado pela palavra pública, pelo discurso do partido e
pela paráfrase permanente do jornalismo, essa trajetória, unida aos estudos das relações e dos
significados desenvolvidos dentro de determinados grupos familiares, confrontaria o indivíduo
com a coisa pública.12 É um filão importante a ser descoberto.

A orientação metodológica está voltada para o que vem sendo conhecido como sócio-história
do político, isto é, trabalhar empiricamente sobre o político, no sentido maior do termo, com
base em um material histórico informado pelas problemáticas e pelos métodos das ciências
sociais. Nesse sentido, o trabalho situa-se em face de dois paradigmas que dominam hoje o
estudo do político: a filosofia política, que olha com certa condescendência a pesquisa
empírica ao pretender a universalidade pela lógica de seu próprio discurso; e a história
política, que responde à percepção do mundo político por ele mesmo, a partir de uma
representação já dada durante o processo de institucionalização da disciplina.13

Minhas interrogações, seguindo essa orientação, concentram-se no fenômeno da duração em


política. Procuro compreender por que e como o mundo político dura, preserva-se dentro das
pessoas, resguardando nelas o conjunto das relações que constituem sua ordem.

Ora, a política é conhecida como a arte de jogar a curto prazo, em razão das instabilidades
facilmente visualizadas no campo institucional. Este prisma, entretanto, é preocupante,
porque oculta o fato de que, além das instabilidades, o campo institucional contém também as
possibilidades de atuar dentro de um jogo com regulamentos bastante complexos. É um
campo tenso, instável, onde os menos preparados encontram dificuldades para permanecer
bem situados junto ao centro do poder, atropelados pelos mais experimentados que dominam
melhor os regulamentos conhecidos, os quais, no mais das vezes, não são regras escritas. É
ocioso insistir no longo tempo de preparação que o domínio desses regulamentos exige. Não
tanto pelo aprendizado deles, mas pela prática em aplicá-los. Essa prática implica a
desenvoltura de uma performance experiente incorporada.

Considero, assim, a duração em política uma problemática importante, principalmente porque


é mal pensada pelos cientistas sociais e cientistas políticos, que ainda não encontraram
motivação necessária para refletir sobre as normas de conduta política interiorizadas nos
cérebros e nos corpos por meio, principalmente, dos rituais familiares. Ora, em geral, é ainda
no interior das famílias e das redes de amizade que se transmitem as chamadas vocações
(domínio das regras) e as convicções ideológicas, sem querer insistir em mencionar o gosto, ou
até mesmo a postura corporal, a maneira de andar e a de falar. Mesmo assim, a maioria dos
estudos que tomam por objeto os mecanismos pelos quais são gerados os processos de troca
característicos da democracia representativa não vem se preocupando em relacionar o político
com os acontecimentos vividos no cotidiano familiar. Contraditoriamente, é a mídia que vem
tornando possível uma apresentação mais clara da luta política, utilizando-se de modelos
familiares já introjetados no "grande público". Melhor dizendo, revelando pedaços do que as
pessoas querem ouvir, ou que gostariam de ver realizados com base no modelo familiar que
lhes foi inculcado, citando aqui como exemplos, entre outros, a fidelidade e a honra.

O material empírico da pesquisa, atendendo à problemática exposta, está sendo construído


para informar sobre a maneira como as redes de todas as ordens (familiares, de amizade,
associativas etc.) afetariam, ou não, a estrutura dos partidos, os votos ou os processos de
decisão de escolha de candidaturas.

Falo em construir o material da pesquisa porque as informações recolhidas foram organizadas


de forma a não duplicar as questões já postas pelos políticos profissionais, pelos jornalistas,
pelos publicitários, pelos cientistas políticos (quem eleger e sobre quais formas, quem vota,
quem vota por qual partido, quem ganhou, quem vai ganhar, como se pode ganhar etc.); ou
pelos historiadores que, trabalhando com base em arquivos classificados dentro de repertórios
usuais (como eu própria já fiz), acabam prisioneiros de "evidências herdadas" de uma visão
institucional que, ao delimitar "os períodos" ou "os domínios" da história, pensa a história
política como uma sucessão de etapas legais encaminhando ao sufrágio universal; ou de uma
visão intelectualizante do processo de cidadania, a qual, se contentando com os discursos que
produzem o indivíduo como autônomo, encaminha os estudos para a idéia do voto individual,
produto de uma opinião.14

Assim, o material da pesquisa foi qualificado dentro do princípio de que um arquivo deve ser
procurado em função das perguntas que se lhe quer fazer, tendo em vista um problema a ser
compreendido. Dentro deste princípio, as informações recolhidas foram organizadas para
focalizar não só a realidade dos laços familiares e seu caráter operatório no universo político,
como também as coisas que podem ser ditas e pensadas politicamente numa democracia.
Mais precisamente, interessei-me pela utilização da linguagem metafórica como dimensão que
organiza as idéias sobre o mundo social e político, fechando-o com o selo da significação. Por
exemplo, político mineiro significa astúcia, habilidade na arte de negociar, de conciliar, de se
adaptar. Democracia significa autonomia e liberdade de escolha. Selados, estes rótulos ficam
protegidos contra qualquer mudança. Isto porque os ingredientes usados na fabricação do selo
que serviu para imprimi-los e lhes dar validade não são divulgados, ou sequer questionados. O
que é celebrado é o produto final que sintetiza as idéias a serem divulgadas: este é o "segredo
de Minas"; este é o "milagre democrático".
Problemas na definição do objeto de estudo

Com o selo da significação protegendo o sentido democrático de qualquer mudança, a menção


direta ao parentesco na política fica relegada ao indizível e ao impensável, pois participa de um
processo que, na sua origem, procurou separar, ou melhor, desencastrar, o mundo político do
mundo social. Tanto assim que, numa campanha eleitoral, os adversários a estigmatizam,
denunciando o parentesco de sangue como nepotismo, "arcaísmo político", e, dessa forma,
também utilizando-o para impedir a eleição de um adversário.15 Mas, paradoxalmente, ao
mesmo tempo em que se clama pela estrita igualdade e a igual dignidade dos competidores
numa eleição, observa-se, durante seu desenrolar, o largo uso do parentesco para as coisas do
político.

Sendo a metáfora uma figura pela qual falando uma coisa queremos significar outra, poderia
ser dito que o vocabulário do parentesco na política diz uma coisa, mas significa
incansavelmente outra; fala da possibilidade de a democracia realizar-se, mas permite a
convivência de seu contrário, e a celebra como parte da ordem natural das coisas.

Assim, é interessante observar como os personagens que utilizam a metáfora familiar, ou


encarnam as qualidades abstratas aludidas por ela (fidelidade, honra, proteção, segurança
contra mudanças), permitem fazer existir a idéia democrática dentro de partidos políticos, ao
esconder o sentido da reprodução familiar. Sob este aspecto, não é surpreendente constatar
que os políticos com longa duração na atividade, para realizar a possibilidade democrática,
procuram dissociar seu nome de família da política, excluindo dela qualquer ismo possível
(populismo, janismo, ademarismo, malufismo etc.).16

Os ismos, utilizados de forma personalista, são vistos pelos políticos de longa duração como
"despreparo para a política", utilizados por "improvisadores". Como declarou Pio Canêdo, na
atividade política desde os anos 20, em substituição ao seu tio, que por sua vez havia
substituído o pai, sobrinho de um estadista do Império:

Não me considero herdeiro de uma pessoa, mas herdeiro de um partido (...). Na política não se
herda. Política é um investimento difícil, que exige sacrifícios pessoais e a vocação para a vida
pública.17
...Quem seria sucessor de João Pinheiro na política era Paulo (filho mais velho), que inclusive
havia sido eleito deputado estadual para a legislatura de 1915-1918, com apenas 25 anos de
idade. Mas ele era um temperamento muito difícil, com pouca paciência para ouvir, o que
acabou levando-o a se afastar da política, depois de conseguir um mandato de deputado
federal em 30. A revolução fechou, temporariamente, o Legislativo e ele nunca mais se
candidatou.18

Daí identificarmos três modos de transmissão do poder político:

- grandes ancestrais podem ser homens bem vivos, capazes de assegurar uma continuidade,
garantindo àqueles que se servem de sua imagem uma maior credibilidade dentro do grupo
político que o apóia, desde que assegurada pela sigla partidária. Nesse caso, a filiação de
sangue corresponderia, pois, a uma exigência de estabilidade e de continuidade na ordem
política;

- a presença das alianças familiares no funcionamento da competição política, que são de


grande importância para o esclarecimento, não só dos diversos tipos de transmissão, como
também de casos de fracassos sucessórios, como o de Paulo Pinheiro, entre outros.

O Carlos Luz deu todo o apoio ao Milton Campos em 1947 porque foi casado, em primeiras
núpcias, com uma irmã de D. Déa, mulher de Milton. O Tancredo tinha uma tia que foi casada
com um irmão do Ernesto Dornelles. O Zequinha Bonifácio e o Bias Fortes eram concunhados,
assim como Juscelino e o Gabriel Passos.19

- a incidência das redes políticas, uma questão que merece ser melhor examinada porque, na
menção de Hagopian de que as novas elites devem suas responsabilidades e seus lugares às
antigas, por exemplo, observamos que a transmissão incide menos sobre laços fundados sobre
sangue e alianças e mais diretamente nas redes políticas. Melhor dizendo, considerando que a
elegibilidade é uma qualidade relacional, o pertencer a uma rede traz um potencial
considerável de sucesso para um candidato às funções públicas. Nesse caso, trata-se não mais
de grupos identificáveis, mas de um conjunto de indivíduos considerados como
potencialidades atualizáveis que se impõem em função de situações concretas. Ou, na análise
feita por Marc Abélès sobre as redes (familiar, amigáveis, associativas), um "potencial que se
realiza pela ação de seus membros e pelas operações simbólicas efetuadas a partir do exterior
e consistindo na atribuição de filiações".20

Para Hidenburgo Pereira Diniz, a projeção de Tancredo Neves, nacionalmente, não se deu
(...) pelas mãos do governador de Minas (à época Juscelino), mas pelas suas próprias virtudes.
Em função, a juízo de uns, das vinculações familiares, vinculação ao Major Dornelles. Mas o
fato é que se houve essa razão, se ela foi a determinante, não se pode negar que o valor
pessoal dele não tenha influído, sobretudo porque ele teve oportunidade de fazer um grande
discurso na Câmara, o que impressionou Getúlio.21

(...) então ele tinha que acomodar os princípios trabalhistas, que havia auferido de Getúlio,
com a realidade política mineira. Agora, ele era um homem com grande jogo de cintura.22

Com o suicídio de Getúlio,

Tancredo não retornou mais ao Ministério da Justiça, entregando a Pasta a um oficial-de-


gabinete. Junto com Oswaldo Aranha e João Goulart, acompanhou o corpo de Vargas até São
Borja (RS), onde presenciou o sepultamento e pronunciou violento discurso contra o novo
governo chefiado por Café Filho.23

Nesse caso, as redes mais amplas tenderiam a assegurar uma dinâmica à mudança, o que se
daria em contextos de transição. Os candidatos às funções políticas, filiados a uma "família
política", ou "rede política", necessitariam responder às solicitações do momento para manter
o capital político familiar que fundamenta suas pretensões; ao mesmo tempo, jogariam seus
próprios recursos acumulados: presidência de associações locais e nacionais, postos ocupados
independentes de mandatos, bagagem técnica etc.24

Assim, considerar a transmissão de mandato somente como sinal tangível do familiar na


política deixaria de lado a dinâmica do fenômeno, ao abranger unicamente os aspectos mais
visíveis do reencastramento do político dentro do social. Melhor dizendo, deixaria de lado as
práticas de cooptação que presidem a seleção das candidaturas.25

Interrogar sobre a transmissão em política não é, pois, tão fácil, uma vez que exige problemas
anteriores de definição do objeto a tratar.

Em primeiro lugar, porque não se trata aqui de restringir o objeto da investigação a uma
simples "transmissão parental de mandatos eletivos", mas refletir sobre a especificidade dos
laços familiares em relação a outros que também são mobilizados na competição política. Isso
implicaria uma distinção entre hereditariedade política (socialização na política),
hereditariedade eletiva (transmissão de mandatos) e transmissão de patrimônio político e
eletivo.

Em segundo lugar, porque a teoria geral da autonomização do político, ao se chocar com a


abordagem metafórica, exige a definição do sentido dos espaços políticos e do sentido da
representação política. Isto mergulharia o estudo da transmissão numa discussão importante
sobre a existência, ou não, de mercados políticos locais autônomos, e sobre o encastramento
contínuo do político e de seus determinantes nas redes regionais (inclusive familiares). Uma
discussão complexa porque, como se pode bem observar numa eleição municipal, o espaço
político de um Estado centralizado está sob uma influência diferente da de uma sociedade
local onde se justapõem segmentos de linhagem. Entretanto, as políticas local e regional só
adquirem sentido legal se existir uma política nacional, o que implica um vaivém entre as duas
dimensões.26

A transmissão: um terreno a construir

Este terreno está intelectualmente a construir. Mas uma incursão importante na área foi
iniciada a partir de algumas reflexões feitas sobre três pesquisas, realizadas com as normas, as
regras e os hábitos específicos que regem hoje três disciplinas separadas institucionalmente
pela lógica acadêmica: ciência política, sociologia política e história. Por si só, essas pesquisas
deixam a desejar, mas juntas mostram a importância da comunicação entre pesquisadores, na
sua maior parte fechados em seus departamentos e comunicando-se em congressos
específicos. Mais ainda, mostram a necessidade de se imprimir uma conduta coletiva ao
trabalho sobre o político.

A pesquisa desenvolvida na área da ciência política versa sobre o "perfil do poder em


Minas",27 realizada recentemente por Olavo Brasil de Lima Júnior e seus assistentes, na
UFMG. A da sociologia política, mais antiga, foi realizada por Lucia Hippolito, sobre o PSD, o
partido político mais poderoso do período 1945-1965,28 A terceira, realizada por mim, trata
das estratégias familiares de políticos mineiros.29

Para os autores da pesquisa sobre o perfil do poder em Minas Gerais, dos 309 parlamentares
eleitos nas quatro últimas legislaturas, 87,2% deles foram eleitos no interior do estado por um
partido de médio ou grande porte. A capital seria reduto dos pequenos partidos (legendas que
obtiveram 3% dos votos válidos). Na redistribuição da representação parlamentar no estado
por região, entretanto, lembram os autores que a diversificação apresentada nas últimas
eleições não faz parte de estratégia de partido. O ponto de partida para este estudo, portanto,
é a idéia da existência de partidos políticos programáticos, pressupondo a autonomia dos
mercados políticos. Ora, um partido não existe por si mesmo. Ao dar o tom de naturalidade
aos partidos por meio de números agregados de eleitores por partido, apaga-se todo o
trabalho político e social de produção, tanto da organização partidária, quanto da dos
profissionais da política. As redes de dependência, com os rituais de transmissão política, bem
como todas as outras dimensões do trabalho dos homens políticos (as diversas maneiras de
manter relações diretas com as populações e as associações, as formas de participação nas
discussões de diferentes assembléias etc.),30 ficam reduzidas a porcentagens e escondidas por
detrás dos discursos da racionalidade dos partidos modernizados em siglas ou estilizados nos
símbolos e slogans imaginados pelos profissionais do marketing. Dessa maneira, nesta
pesquisa realizada dentro das técnicas da ciência política, fica-se sem a compreensão do
porquê de os 87,2% dos deputados eleitos no interior do estado, por partidos de médio e
grande portes, não creditarem sua eleição a estratégias de partido. Que estratégias políticas
transformaram-nos em deputados? Na verdade, não dar atenção à existência de redes, em
especial as de parentesco na política, elimina as experiências individuais, aquelas capazes de
esclarecer o que Paul Veyne chamou de intriga,31 "uma mistura muito humana e muito pouco
científica de causas materiais, de fins e de acasos", e que podem levar à compreensão das
relações estabelecidas para o sucesso das estratégias.

A segunda pesquisa citada, realizada por Lucia Hippolito sobre o PSD, lança pistas mais
importantes sobre o trabalho político e social necessário para a construção de um partido
político, embora o ponto de partida da autora seja também a definição de um partido político
a priori. Entretanto, é um trabalho que encaminha para a necessidade de se estudar a
socialização do pessoal político, cruzando-o com as vias de acesso à competição política, tanto
oficiais como oficiosas. As falas dos políticos pessedistas, registradas pela autora, deixam
entrever as combinações que se fazem no cotidiano do mundo político, com base em um longo
aprendizado, ou "sargenteação", no termo da época. São elementos que levam à competência
administrativa, de acordo com Ulisses Guimarães e Amaral Peixoto:

O PSD foi uma verdadeira escola política. Os deputados estaduais, em geral, tinham sido
prefeitos ou vereadores. Depois de serem deputados estaduais, e freqüentemente em várias
legislaturas, é que alçavam vôo para o plano nacional, como deputados federais ou senadores.
Isto foi muito interessante, porque evitava os improvisadores. Estes homens, quando
chegavam no cenário nacional, já tinham tido um aprendizado no estado e no município e
traziam a vivência desses problemas. Por isso o PSD tinha um estado-maior composto de
homens já com muita experiência, o que não acontecia com outros partidos. Então, chegavam
aqui figuras de quem nunca se tinha ouvido falar e que se comportavam com muita
ingenuidade, não tinham malícia política, experiência, não conheciam o ofício (...) Se se fizesse
um pesquisa sobre a trajetória política desses homens (do PSD), seria verificado que uma
percentagem muito grande era de prefeitos ou governadores; depois é que vinham para o
plano federal. No PSD, como regra — e essa era a razão de sua força —, não havia a
improvisação. O partido era uma verdadeira escola.32

Os grandes administradores eram do PSD, afirma Amaral Peixoto. Os dirigentes do partido


eram quase todos homens experimentados na administração, nos governos estaduais ou nos
ministérios. Tinham uma noção muito maior das responsabilidades do governo.33

O fato de vários "descendentes" desses políticos pessedistas continuarem na atividade política,


em partidos os mais diversos, do PT ao PTB, ajuda a refletir, com base no atual desmoronar
dos fundadores do PMDB, na declaração que Pio Canêdo deu à pesquisadora, em 1986:

PMDB, você diz? É formado por gente improvisada. É um fenômeno da rebelião contra o
governo militar. Não tem futuro político.34

No que se refere à questão de noção "das responsabilidades do governo" e da ausência de


"improvisação", por exemplo, a pesquisa levada a efeito por mim, sobre as estratégias
familiares de políticos mineiros,35 mostra que a aquisição desses elementos (responsabilidade
de governo e profissionalismo na política) se dá por meio de um processo educativo, fruto de
uma aprendizagem adquirida num grupo social que precisa garantir sua integridade, isto é, a
soma dos ativos de todos os seus membros. Esta aquisição e a forma de sua transmissão
ajudam a esclarecer o porquê de os interesses familiares e coletivos se confundirem dentro
desses grupos. Para eles, mais do que escolher um sucessor para ganhar uma eleição, importa
a manutenção no poder por meio de toda uma mobilização daqueles que se poderia chamar
de "oblatos" da família. Para tanto, os patrimônios políticos, econômicos, sociais, culturais e
simbólicos do grupo adquirem uma dimen

são pessoal, familiar, e uma forma coletiva, representada pelo partido político. A
representação comum, que assimila conservadorismo político, profissionalização e "espírito
público", esconde a coesão fundamental para o sucesso do grupo. Uma coesão inscrita no
tempo e que possui uma memória capaz de assegurar uma identidade transmitida de geração
em geração.36

Esses elementos encaminham para a compreensão do tipo especial de educação que marca
"uma família de políticos", inscrita no tempo. Tendo por princípio moral "servir aos outros", é
uma educação voltada para a duração e baseada em experiências que devem ser transmitidas
por meio de exemplos concretos, visando juntar as pessoas a partir de uma mesma visão do
mundo, oferecendo-lhes uma identidade. Dessa maneira, procura misturar, na mente dos
indivíduos, a memória específica familiar com as lembranças ligadas à sociedade em geral.
Assim, faz parte das atividades de qualquer criança dessas famílias participar dos
acontecimentos sociais locais, cumprimentar convidados, parentes e amigos, aprender a sorrir,
deixar brinquedos e freqüentar festas de casamento na roça, escutar distraidamente
conversações de políticos, acompanhar o trabalho entre os eleitores e a "elevação da
temperatura" na vida familiar às vésperas das eleições, e perceber os pequenos cuidados
necessários para dominar os detalhes do jogo básico do homem político. Entre esses detalhes,
sobressai o aprender a conviver com os "deserdados" com o respeito que lhes é devido como
eleitores, isto é, com todo o tratamento respeitoso e cerimonioso, a recobrir uma distância
negada. Posso sintetizar esta observação com a fala de um dos entrevistados, explicando as
lutas de prestígio político na cidade: "É saber ficar na convivência e não bancar o importante.
O pessoal da UDN é muito arrogante. O eleitor não gosta disso".37

Vale insistir, ainda, que na educação recebida dentro desses grupo familiares, o parentesco
adquire um significado fundamental: ele está na base da circulação de informação, de visitas
obrigatórias, de trocas de serviço e de ajuda recíproca em caso de necessidade, pois as
condições de dominação do grupo, que necessitam ser reproduzidas, exigem a produção de
herdeiros aptos. Para essa produção, faz-se qualquer coisa, porque se pertence à família:
hospedar um parente ou o filho de um correligionário que vem à capital para estudar, ajudar
em caso de doença, apresentar um sobrinho do interior, ou um afilhado, a pessoas em
condições de encaminhá-lo na profissão, levá-lo a locais onde aprenderá qual o
comportamento de seu grupo fora do meio provinciano etc.

No que tange à garantia do poder local, no qual situam-se as eleições básicas, isto é, os votos,
esta solidariedade familiar é fundamental. Para tal, a pesquisa mostra a importância da
educação escolar gerando a existência de bons técnicos, saídos de escolas superiores
consagradas que lhes garantiram habilidades profissionais diversificadas (em planejamento
urbano, advocacia, informática etc.). São técnicos que se aperfeiçoaram politicamente em
contato com os seus, pois numa "família de políticos", a profissão está a serviço da política,
que é a sua atividade principal. Nesse sentido, todos estão sempre prontos a ajudar seus
parentes nas prefeituras locais, acrescidos das outras ligações de parentesco ou de profissão
que possuem com as direções das agências dos governos estadual e federal. Ora, a luta política
no campo administrativo exige negociação e poder de barganha de agentes políticos
específicos, capazes de levar adiante planejamentos urbanos com independência das
prefeituras em face de empreiteiras e escritórios de projeto, colocando-as diretamente no
interior das agências burocráticas estatais. É o que torna, ainda, os homens políticos, saídos
desses grupos familiares, indispensáveis à população que os elegem, e verdadeiramente
representantes dos eleitores que os escolhem por seus "dotes" políticos, capacidade
administrativa e interesse demonstrado pelo bem público, ou melhor, pelos negócios do
Estado.
Mas nem todos da família tornam-se mandatários. A transmissão de mandatos implica a
existência de indivíduos dispostos a se tornar detentores de mandatos eletivos, sem
improvisações. À guisa de ilustração, lembro aqui, por meio de entrevista com antigo prefeito,
e atual secretário adjunto da Secretaria da Saúde do Estado de Minas Gerais, a influência que a
existência de tios e primos detentores destes mandatos, e bem instruídos pela escola, exerce
na predisposição para a política. O interessante é a explicação da escolha para a sucessão, bem
como o longo aprendizado necessário para a apreensão das categorias de percepção que
orientam a visão política ordinária dos que foram excluídos ou desapossados pela delegação:

Fui criado no meio de políticos começando pelo tio Antonio, depois o tio Pio e o Ronaldo
(primo). Estudei medicina por influência e convivência com o tio Antonio. Tem influência.
Estudei no Rio, na Medicina e Cirurgia, como ele. Como ele, larguei a cirurgia para fazer
pediatria. Voltando para M., minha experiência toda é na área social, como o tio Antonio: Casa
da Criança, Hospital São Paulo, posto de saúde na zona rural, uma convivência direta com a
população de baixa renda. Esta convivência durou 10, 15 anos, até que saiu minha indicação
para a Secretaria de Saúde do Município. Como Secretário da Saúde entrei mais para dentro da
política (...). O vovô e o tio Zezé falavam sim no meu nome na política. Acho que era por eu
conviver mais na Casa da Criança, quando o tio Antonio era prefeito. Mais do que os outros. E
no birô eleitoral do tio Zezé quem ficava lá dentro, o dia inteiro, era eu. Eu também estava
sempre no meio das catadeiras (de café) com ele. Eu penso que por isso eles falavam no meu
nome para a política.38

Questões de método

Tendo evocado a realidade dos laços de família e seu caráter operatório no universo político,
por meio de um longo e profundo trabalho de pesquisa, a questão no momento é refletir
sobre a problemática das fontes de pesquisa para a redação de um estudo sobre a
transmissão. Uma problemática que não é somente técnica, mas está diretamente ligada à
metodologia da sócio-história do político.Em primeiro lugar porque a forma, ou as formas, de
transmissão de um patrimônio político é um objeto mal constituído, como se viu
anteriormente. Tratada com insignificância em relação às formas legítimas da competição
política (lutas eleitorais, parlamentares ou ministeriais), a transmissão de um patrimônio
político ou das posições de poder é pouco interrogada quanto à sua influência sobre a vida
política.
Se é mal constituído, é porque é mal definido. As formas de transmissão das posições de poder
político são conhecidas dentro de outros objetos, em geral como forma depreciativa derivada
da moralidade política. Não são abordadas por elas mesmas, mas em referência às idealizações
produzidas pelos atores da "modernidade" e, como tal, como "problemas a resolver pela ação
pública", ou pela "vontade política": nepotismo, moralização da representação política,
apadrinhamento...

A tentativa de definir o objeto transmissão por ele mesmo implica defrontar-se com um
conjunto de problemas que envolvem as fontes de pesquisa. No caso específico do trabalho
que venho realizando, estas fontes estão, em grande parte, compostas de entrevistas, isto é,
do que se convencionou chamar de "história oral", a memória seletiva das pessoas:
lembranças, experiências vividas etc. Os documentos escritos, por sua vez, são esparsos e de
grande variedade: cartas, orçamentos familiares, cadernos de anotações, tanto domésticas
quanto políticas, além das anotações de sentenças jurídicas, datadas do século XIX. Há ainda a
genealogia, que, como se sabe, é uma construção interessada em assegurar, no seu traçado, a
legitimidade de parentescos criados sobre diversas manipulações.39

A redação de um texto baseado nessas fontes impõe, portanto, lidar com a heterogeneidade
delas, a questão do tempo e a variação existente no espaço social em relação às categorias de
percepção de diversos agentes. Ordená-las cronologicamente pode significar a perda de vários
fios importantes. Centrar a redação nas entrevistas significa a perda do "sentido do jogo
político", pois pela fala dos entrevistados fica difícil encadear fatos da aprendizagem cotidiana
banal, amarrando-os uns aos outros. Por outro lado, os políticos, nas entrevistas realizadas,
não demonstraram conseguir dominar explicitamente os mecanismos da condição de seu
êxito. As frases saem contraditórias, com lugar para o imaginário camuflado na objetividade
dos acontecimentos lembrados.40 Não aparentam, também, condições de dar conta, em
palavras, das emoções que a política provoca neles, e por quê.

Para lidar com este conjunto de problemas, separei dois eixos de análise a partir do material
recolhido. De um lado, o patrimônio de famílias, como objeto de uma gestão, em grande
parte, combinada. A complexidade dos aspectos econômicos dessa gestão, as formas políticas
e culturais assumidas por essa prática gestionária, o papel decisivo do capital social,
submetendo a vida cotidiana a uma cooptação constante fundamentam uma espécie de
confraria de grandes famílias. Ela pode ser observada na maneira como os políticos
transmitem seus cargos e suas posições dominantes, na apreensão dos diferentes
componentes do patrimônio político (cultural, ético, escolar, simbólico e econômico), e
verificando como eles funcionam para a criação de uma determinada identidade ou moral
familiar. Este método vem me ajudando a relativizar as classificações do pessoal político feitas
pela imprensa, em vários momentos da história. Como se sabe, estas classificações, tais como
as realizadas pelas agências de opinião e pelos dicionários biográficos, são medidas por
indivíduos. Sendo assim, mascaram núcleos de poder que funcionam através de ramificações
familiares e redes políticas (associativas), que se organizam por meio de operações
simbólicas.41 Em outras palavras, elas escondem o fenômeno mais profundo e mais
permanente da transmissão, pois os primeiros classificados, em geral, vêm de mandatos
recentes, saídos de conjunturas específicas. Não tiveram a oportunidade para testar a partilha
desse mandato entre herdeiros de muitas gerações. Ora, o resultado mais importante da
pesquisa realizada é o fato de que para que um patrimônio político se estabeleça sobre bases
sólidas, é preciso que se inscreva no tempo.

O segundo eixo concerne à forma como se entrelaçam, entre os homens políticos, as relações
de cooperação e concorrência, quando trabalham para fazer existir este tipo de relação tão
particular quanto é a relação partidária no Brasil, dentro do fenômeno da longa duração
política. Pois não se trata de fenômenos ligados a "ismos" (populismo, janismo ou
ademarismo), que são passageiros e ligados a movimentos sociais e presos a uma pessoa. Este
eixo procura tratar da forma como os homens políticos agem para preservar dentro das
pessoas, e com a cooperação delas, o conjunto de relações que constitui uma determinada
ordem política. Nestas relações, o voto deixa de ser uma promissória para a guarda do
mandato eletivo e se transforma em protagonista das eleições. É o voto que reafirma, eleição
após eleição, o poder das linhagens políticas.42 Nesse sentido, longe de consolidar o espaço
nacional, o voto reforça as tradições locais, legitima atores coletivos — os cidadãos — bem
diferentes do imaginário oficial.

Espero, no limite deste estudo, ter conseguido explicitar a dupla preocupação levantada no
início desta exposição. De uma parte, mostrar como, e de que forma, o vocabulário político
sobrecarregado de referências metafóricas à família torna-se um meio de ação aceito,
tolerado, reconhecido e utilizado como recurso inserido no repertório da democracia
representativa. Melhor dizendo, como estas metáforas, veiculadas pela mídia e pelos
profissionais da política em seu trabalho cotidiano, concorrem para a produção de um sentido
próprio à vida política, dando-lhe, paradoxalmente, a duração. De outra parte, considerar a
transmissão como um fenômeno dotado de múltiplas significações e de múltiplos usos, e,
dessa forma, evitar reduzi-la por meio de um defeituoso olhar positivista ou objetivista.

Notas

1. Declarações feitas à revista Veja, 7/10/1992. Maria Arminda Nascimento Arruda é autora do
livro Mitologia da mineiridade, Brasiliense,1990. Os termos mineirice, mineiridade ou
mineirismo foram introduzidos na linguagem corrente durante o Estado Novo, procurando
distinguir as qualidades dos habitantes de Minas Gerais dos de outras regiões: Nordeste, Sul
etc. Os termos foram cunhados junto à idéia de políticas regionais, daí saindo o político
regional, que se opunha à idéia do político nacional, existente no período Imperial.

2. Cristiana Lobo, "Coluna do Estadão", OESP, 4/10/1996. Com o titulo de "Mineirices", a


colunista comenta o jogo das eleições municipais de Belo Horizonte.

3. Cid Rebelo Horta, "Famílias Governamentais em Minas Gerais", in: II Seminário de Estudos
Mineiros, UFMG, 1956.

4. Frances Hagopian, "The Politics of oligarchy: The persistence of the tradicional elites in
contemporany Brazil", tese de doutorado. Massachussets, Massachussets Tecnology
University,1990.

5. Para uma comparação, ver Leôncio Martins Rodrigues, Quem é quem na Constituinte, São
Paulo, OESP/Maltese, 1987. Pelas tabelas do autor, embora não organizadas por origem
familiar e oligárquica, e sim por uma frágil origem partidária de momento, é possível observar
que em Minas Gerais e em Pernambuco, mais de 50% dos deputados constituintes ainda
pertenciam às antigas famílias. É significativo o fato de a pesquisa ter sido realizada no ano de
1986, quando boa parte dos membros da elite mineira não retornou à Assembléia, dado o
momento político intitulado popularmente Muda Brasil, que mobilizou boa parte da população
contra qualquer coisa que pudesse ser considerada "arcaica", "não democrática". Esta elite
retornou a seus cargos nas eleições posteriores, em especial a partir dos anos 90, conforme
dados da pesquisadora extraídos da composição das Assembléias Legislativas e dos cargos de
governo em Minas Gerais.

6. Entrevista de pesquisa, 20/7/87.

7. Norma de Góis Monteiro (org.). Dicionário Biográfico de Minas Gerais (período republicano),
UFMG/Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 1994.

8. Waldemar Alves Pequeno, Raízes mineiras e cearenses, Belo Horizonte, Imprensa Oficial,
1971. Essa genealogia completa-se com um outro trabalho do gênero: Barbacena, a terra e o
homem, de Nestor Massena. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1985. Estes trabalhos foram
inteiramente reconstruídos com o auxílio da informática. Parte dos resultados do estudo
encontra-se nos artigos de Letícia Canêdo, "Estratégias Familiares na Construção Social de uma
Qualificação Política", Educação e Sociedade, ano XII, agosto, 1991; "Caminhos da memória:
Parentesco e poder", Texto de História, UnB, vol. 2, n° 3, 1994; "Metáforas do parentesco e a
duração em política", Textos de História, UnB, vol. 3, n° 1, 1995.

9. A família Maia foi bem estudada por Linda Lewin, Política e parentela na Paraíba, Rio de
Janeiro, Record, 1993, que localiza os Agripino Maia, de Catolé do Rocha, no fim do Império e
no início da República, solidificando, por meio de casamentos, sua base eleitoral e
estabelecendo redes através dos municípios, da zona e, algumas vezes, do estado. Na
Constituinte de 1988 atuaram dois senadores e cinco deputados federais da família Maia.
Informação recolhida de Leôncio Martins Rodrigues, Quem é quem na Constituinte, op. cit.

10. Leôncio Martins Rodrigues, op. cit.

11. Agamenon Magalhães, como se sabe, foi interventor em Pernambuco, durante o Estado
Novo, poderoso ministro da Justiça de Getúlio Vargas e membro do primeiro Diretório
Nacional do PSD, partido fundado pelos interventores durante o governo Vargas. O Decreto-
Lei n° 7.586, de 28/5/1945, que restabeleceu a Justiça Eleitoral, recebeu o nome de Lei
Agamenon.

12. Marc Abélés, Jours tranquilles en 89, Paris, Odile Jacob, 1989.

13. Cf. Manifesto da Association pour la socio-histoire du politique (SHiP), Paris, 2 de junho de
1994 (sem local mencionado).

14. Para uma discussão sobre a ambigüidade democrática, ver Patrick Champagne "Les
sondages, le vote et la démocratie", ARSS, n° 109, set. 1995, em especial, pp. 81-83.

15. Lembro aqui o caso estudado, que pode ser considerado um entre muitos outros, de um
membro da genealogia analisada que não conseguiu se reeleger, após quatro mandatos como
deputado federal, em razão do movimento Muda Brasil, da década de 1980. Este movimento
teve por característica denunciar o arcaico, assim considerado tudo o que se ligava a uma
ordem que o discurso democrático procurava eliminar, como o clientelismo político ligado à
ordem familiar. Os adversários políticos e os interessados em entrar no mundo político
estigmatizaram uma série de políticos nessa ocasião. Para uma discussão sobre o dualismo
político, ver Jean-Louis Briquet, La tradition en moviment, Paris, Belin, 1977.
16. Ver Letícia Canêdo, "La construction de la mémoire politique dans le Minas Gerais
brésilien". Paris, Université Paris I (mim.).

17. Entrevista de pesquisa (20/7/86).

18. Alisson Mascarenhas Vaz, Israel, uma vida para a história, Rio de Janeiro, Cia. Vale do Rio
Doce, 1966, p. 28. Declaração de Pio Canêdo ao autor.

19. Entrevista concedida por Pio Canêdo - Mascarenhas Vaz, op. cit.., p. 181.

20. Marc Abélès, op. cit. , 1989, p. 101.

21. Idem , p. 252.

22. Entrevista concedida por Eugênio Klein Dutra - Mascarenhas Vaz, op. cit. p. 253.

23. Citado por Mascarenhas Vaz, op. cit. p. 253, a partir de Valentina da Rocha Lima e Plínio de
Abreu Ramos, Tancredo fala de Getúlio. Porto Alegre, L&PM, 1986.

24. Bernard Ménager, "Typologie de dynasties parlementaires", Claude Patriat, Jean-Luc Parodi
(dir.), L'hérédité en politique, Paris, Economica,1992, em especial pp. 131-134.

25. A noção genérica de herança política "pode, com efeito, se revestir de muitas significações,
enviando a três formas diferentes de reprodução do pessoal político: de uma parte,
hereditaridade partidária e eletiva, fundada sobre a interiorização pela `impregnação' familiar
de predisposições valorizando a ação política, mas só se traduzindo por uma sucessão no
sentido estrito; de outra parte, transmissão hereditária de um mandato particular ou de um
conjunto maior de funções eletivas localizadas; enfim, transmissão não hereditária, portanto,
não familiar, por adoção e cooptação. No primeiro caso, são as normas e os valores que são
legados, enquanto que nos outros casos há a transmissão tanto do capital político e eleitoral
como também de um território. A noção de herança política não pode, portanto, ser reduzida
às sucessões familiares, formas mais visíveis mas menos numerosas ou correntes de
reprodução do pessoal político". Cf. Philippe Garraud, "La ville en hérigage". In: Patriat, Claude,
op. cit., p. 220.

26. Ver Letícia Canêdo, "As listas eleitorais e o processo de nacionalização da cidadania no
Brasil (1822-1945)", Proposições, nov. 1995, onde demonstro como as normas nacionais que
regulam o registro oficial do cidadão dependem, na sua aplicação, de quem tem o controle
político sobre a qualificação do eleitor, que é feita localmente.

27. "Estudo traça o perfil do poder em Minas", Hoje em dia, Belo Horizonte, 26/5/96.

28. Lucia Hippolito, De raposas e reformistas: o PSD e a experiência democrática brasileira. Rio
de Janeiro, Paz e Terra, 1985.

29. Letícia Canêdo, "Estratégias familiares na produção social de uma qualificação política", op.
cit "Groupes et groupements familiaux a Minas Gerais", Centre de Sociologie de l'éducation et
de la culture, EHESS, 1991 (mim.), Memorial, defendido no meu concurso de livre-docência
como tese, Faculdade de Educação, Unicamp, 1993. "Caminhos da Memória; parentesco e
poder", op. cit., "Metáforas do parentesco e a duração em política", Textos de História, op. cit.
"Les listes electorales et le processus de nationalisation de la citoyenneté au Brésil" (1822-
1945), Instituto Universitário Europeu, Florença, Itália, 1995 (mim.). "La construction de la
mémoire politique dans le Minas Gerais brésilien", op. cit.

30. Remi Lenoir, "Réponses et répondants", ARSS, n° 73, jun. 1988.

31. Paul Veyne, Como se escreve a História, Lisboa, Edições 70, 1983, p. 48.

32. Entrevista de Ulisses Guimarães a Hippolito, PSD — De raposas e reformistas, op. cit., p. 47.

33. Entrevista de Amaral Peixoto a Lucia Hippolito, op. cit., p. 48.

34. Entrevista de pesquisa, realizada com Pio Soares Canêdo em 20/7/1986.


35. Ver, em especial, Canêdo, "Estratégias Familiares na Produção Social de uma Qualificação
Política", op. cit.

36. "La construction de la memoire politique", op. cit.

37. Entrevista de pesquisa realizada com José Canêdo, maio de 1992.

38. Entrevista de pesquisa, realizada em abril de 1991, com Christiano Canêdo.

39. Letícia Canêdo, "Caminhos da memória: Parentesco e poder", op. cit., e Memorial, op. cit.

40. Um exemplo da dificuldade para analisar essas falas está no risco de um recorte arbitrário
do objeto, que uma posição positivista e objetivista poderia reduzir, tal como foi feito no livro
do jornalista Alisson Mascarenhas Vaz sobre Israel Pinheiro, op. cit. Como jornalista, ele revive
os "fatos objetivos" da política mineira do início da República até o fim do mandato de Israel
no governo do Estado. Utiliza, além das entrevistas feitas por ele mesmo, trechos de outras
retiradas de arquivos da "história oral". A leitura deixa o gosto da curiosidade por um enredo
bem montado do que se passou, sem levar à compreensão e dar conta dos diversos pontos de
vista dos diversos agentes que contribuíram para fazer da personalidade e da atuação política
de um homem um acontecimento carregado de significações.

41. Ver Letícia Canêdo, "Metáforas do Parentesco", op. cit.,1955. Ver também, para uma
comparação, Michel Pinçon e Monique Pinçon-Charlot, Grandes Fortunes, Paris, Payot, 1996.

42. Ver Letícia Canêdo, "La construction de la mémoire politique dans le Minas Gerais
brésilien", op. cit. "Metáforas do parentesco e a duração em política", op. cit. E o Memorial,
também já citado.
Family Metaphors in the transmission of political power: Methodical questions

ABSTRACT: How do we explain the use made in a democratic society of political vocabulary
that functions by alluding to the family as the principal of social reality? Updated by the media,
these references offer a scattered vision of the significance of democracy and reveal the
possible existence of two theoretical fields that are irreconcilable. One of these fields masks
the other; the democratical ideas, modern party and elections dissimulating familial
characteristics, i.e., the political-social world characteristics. Based on an empirical research
about the transmission of political power in Minas Gerais, the article discusses a method to
examine the fundamentals of the above investigation. The sources of information used in the
study are also commented on. The text does not consider these sources as technical cases, but
as problems directly linked to the methodology of political socio-history.

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* Versão modificada de uma exposição feita em 11/9/1996 no seminário organizado pelo
Focus — Grupo de Pesquisa sobre Instituições Escolares e Organizações Familiares —,
Faculdade de Educação, Unicamp. A pesquisa é financiada pelo CNPq e sua realização deve-se
muito às discussões e reflexões realizadas com meu colega Milton de Almeida.

** Professora do Departamento de Administração e Supervisão Educacional, Faculdade de


Educação, Unicamp.

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