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Londrina - Paraná
2018
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Londrina - Paraná
2018
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BANCA EXAMINADORA
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AGRADECIMENTOS
Ayn Rand
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RESUMO
ALBERTI, Yann Gustavo Rosa. Civil liability due to affective abandonment. 2018.
Número 78. Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Direito – Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, 2018.
ABSTRACT
It demonstrates the responsibility that the parents have in taking care of their
children, as well as the duty to indemnify that arises from the disrespect to this
obligation.The growing number of children living in unstructured homes, without the
presence of one of the parents, has caused this to become commonplace in the
social environment. This monography, intends to dissect the social consequences of
this abandonment in the development of children and adolescents, as well as their
consequences in their adult life. The nature of this consequences calls for a legal
analysis of the topic. That is what are the legal implications of the escape of parents
from the family environment ? To this end, we will use as basis, the study of the
jurisprudence, of the doctrinal understandings on the subject, the current legislation,
as well as the cientific perspective of other areas of knowledge. Another point to be
dealt with circumscribes the monetary side of compensation for the abandonment of
affection, since some criticize this aspect of the judcial decisions imposed on
deserting parents. There is also the need to bring new ideas and understandings on
this subject, since new conceptions are worked at all times in the legal field.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 64
REFÊRENCIAS ......................................................................................................... 66
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1 INTRODUÇÃO
2 NOÇÃO DE FAMÍLIA
(...) família é uma instituição social, composta por mais de uma pessoa
física, que se irmanam no propósito de desenvolver, entre si, a
solidariedade nos planos assistencial e da convivência ou simplesmente
descendem uma da outra ou de um tronco comum. (NADER, 2016, p. 40).
'As relações familiares não são criadas pelo Direito de Família; este apenas
dispõe sobre o fato natural, espontâneo, que é a formação da associação
doméstica. Enquanto a família é um prius, o Direito que a disciplina é
posterius. A constituição da família é de livre iniciativa dos indivíduos, mas
os efeitos jurídicos são os previstos pelo ordenamento. (NADER, 2016, p.
41)
o poder familiar, de seu exercício e a sua extinção, dos alimentos e da união estável.
Obviamente o Código buscou organizar outros aspectos da vida familiar, contudo,
para o presente estudo, os títulos elencados acima são de extrema importância.
2.2 Responsabilidade legal dos genitores para com os filhos a luz do estatuto
da criança e do adolescente e do código civil.
Do numeroso rol de direitos protegidos por este artigo, muito nos interessa,
por exemplo, os que dizem respeito à dignidade, a convivência familiar, e a proteção
contra a negligência e discriminação. Isto por que, tratando-se de abandono afetivo,
nota-se que a dignidade do filho é deixada de lado a se ver desamparado
afetivamente por algum dos genitores, bem como a convivência familiar acaba sendo
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Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos
filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de
cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e
deveres e responsabilidades compartilhados no cuidado e na educação da
criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas
crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta
Lei. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016). (LEI Nº 8.069, 1990)
Fica claro, portanto, que esta proteção concedida pelo Código Civil,
principalmente no que tange a guarda compartilhada, visa proteger os filhos das
relações em que o contato ocorre apenas com um dos pais. A Lei em questão da
especial enfoque a este tipo de guarda para que melhor atenda os interesses da
criança, isto por que, sabe o legislador que o convívio com ambos os genitores é
essencial para o desenvolvimento da criança e do adolescente.
Nota-se pelo parágrafo terceiro e incisos que o legislador buscou deixar claro,
principalmente no que tange ao inciso III, que o convívio familiar se faz necessário
na presença física dos menores.
Interessa a este estudo também o parágrafo único adicionado ao artigo 5ª do
Estatuto da Criança e do Adolescente, que resolveria a divergência jurisprudencial e
doutrinaria quanto ao cabimento de indenização civil por danos morais decorrente de
abandono afetivo. O texto legal desta forma explicita o caráter de ilicitude de todo
ato que ferir direito fundamental da criança e do adolescente previsto na referida Lei.
Art. 232-A. Deixar, sem justa causa, de prestar assistência moral ao filho
menor de dezoito anos, nos termos dos §§ 2º e 3º do art. 4º desta Lei,
prejudicando-lhe o desenvolvimento psicológico e social. Pena – detenção,
de um a seis meses. (SENADO, 2007, p. 4)
A Lei não tem o poder de alterar a consciência dos pais, mas pode prevenir
e solucionar os casos intoleráveis de negligência para com os filhos. Eis a
finalidade desta proposta, e fundamenta-se na Constituição Federal, que, no
seu art. 227, estabelece, entre os deveres e objetivos do Estado,
juntamente com a sociedade e a família, o de assegurar a crianças e
adolescentes – além do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao lazer – o direito à dignidade e ao respeito.
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Contudo, mais do que o vínculo jurídico que liga os pais aos filhos, ainda faz-
se necessário demonstrar o vinculo afetivo existente entre os entes familiares. Este
vinculo é decorrente, em um primeiro momento, do chamado poder familiar cujo
nosso ordenamento jurídico derroga aos pais sob os filhos menores. Neste diapasão
expõe o art. 1.634 do Código civil:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste enquanto aos
filhos. (LEI NO 10.406, 2002)
emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único; III - pela maioridade; IV - pela
adoção; V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638 do mesmo código.
Insta ressaltar que o poder familiar sobre os filhos cessa com a maioridade,
em vista do expresso no artigo 1630 do Código Civil, expondo que os filhos estão
sujeitos ao poder familiar apenas enquanto menores, salvo exceções previstas no
ordenamento.
O artigo 1.634 do Código Civil elenca quais são as responsabilidades e
deveres que os pais têm na condição de detentores deste poder. Dentre os deveres
que interessam a este estudo temos que os pais são responsáveis pela criação e a
educação de sua prole e por manter a sua efetiva guarda. Sob este aspecto está
descrita a redação do art. 229 da Constituição federal:
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e
os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade. (CONSTITUIÇÃO, 1988)
No que diz respeito à criação dos filhos, pode-se inferir que se trata de tudo
aquilo necessário ao desenvolvimento digno da criança, por exemplo, o acesso à
cultura ao lazer e ao afeto familiar. Este ultimo aspecto, chamado de afetivo, pode se
desdobrar em diversos outras necessidades da criança. Neste mesmo sentido
justifica Maria Helena Diniz:
Ainda quanto à educação descrita no artigo 229, não se pode confundir, neste
momento, a educação técnica fornecida pelo Estado, cuja entidade possui o
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Como bem apontado pelo autor, o pai que deixa de comungar o lar com os
filhos em virtude da separação, não deixa de exercer o poder familiar, restando
inabaláveis os deveres inerentes a esta condição, exceto no que diz respeito à
guarda. Desta analise, o pai não poderia se escusar quanto à acusação de
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Não há amparo legal, por mais criativo que possa ser o julgador, que
assegure ao filho indenização por falta de afeto e carinho. Muito menos já
passados mais de quarenta anos de ausência e descaso. Por óbvio,
ninguém está obrigado a conceder amor ou afeto a outrem, mesmo que seja
filho. Da mesma forma, ninguém está obrigado a odiar seu semelhante. Não
há norma jurídica cogente que ampare entendimento diverso, situando-se a
questão no campo exclusivo da moral, sendo certo, outrossim, que, sobre o
tema, o direito positivo impõe ao pai o dever de assistência material, na
forma de pensionamento e outras necessidades palpáveis, observadas na
lei. (DESEMBARGADOR MÁRIO DOS SANTOS PAULO, 2004)
(...) evidente e incontestável dever que têm os pais de assegurar aos filhos
a convivência familiar, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (CF,
art. 227)
Mais do que cuidar, a expressão velar, que também não foi utilizada pelo
ordenamento jurídico, compreende toda a classe de cuidados materiais e
morais, estando integrados em seu conceito os deveres relativos à
educação e formação integral dos filhos. Têm os pais o dever de se esforçar
para o desenvolvimento de todas as faculdades físicas, morais e intelectuais
de seus filhos, de modo a que logrem alcançar com o auxílio dos genitores a
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Nesta perspectiva, Paulo Lôbo também indica em sua obra que o abandono
afetivo é tratado sob a ótica do abandono do convívio familiar pelo pai:
Sendo dever dos pais visitarem seus filhos sob a convivência e guarda de
outrem, não há como afastar o dever de indenização diante desta
deliberada falta de imensurável gravidade, como já procedeu a justiça
mineira em caso-paradigma, ao condenar o pai por abandono moral do filho,
autor de ação indenizatória aos 23 anos de idade, por abandono moral e
afetivo do pai, quando tinha seis anos de idade, deixando o genitor de visitá-
lo, apesar de pagar habitual e pontualmente a pensão alimentícia.
(MADALENO, 2013, p. 386)
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demonstrado que o réu não tratava sua prole com afeto, mas, caracterizada a
negligência não poderá fugir desta responsabilidade.
Observa-se, no processo a seguir, que Relator Ministro José Percival Albano
Nogueira Júnior, negou o pedido de indenização por Dano Moral sob o preceito de
que o afeto não está amparado no âmbito jurídico:
dano imaterial quando o cônjuge causa algum tipo de dano ao outro, por exemplo,
nas hipóteses de conduta infiel, relacionamentos extraconjugais ou que firam a
honra.
devem ser espontâneos, não pode prosperar, haja vista que estes direitos estão
protegidos de forma expressa nos artigos da Constituição, do Código Civil e do
Estatuto da Criança e do adolescente.
Sobre o mesmo tema, existe o posicionamento de que, se considerada a
hipótese de indenização por abandono imaterial estaria se abrindo o leque de
possibilidades de atos que, hoje vistos como um mero dissabor amanha seriam
puníveis sob o pretexto de ser um direito imaterial do lesado. Neste sentido, Rolf
Madaleno (MADALENO, 2013, p. 363):
Fato é que, o dano imaterial supostamente lesa uma gama de direitos que
estão expressos na Constituição Federal, principalmente no que diz respeito aos
artigos 226 a 229, enquanto o abandono afetivo, na visão de alguns juristas, é
deveras controverso para ser objeto de uma lide, já que sequer está regulado de
forma expressa. Nas palavras de Fabíola Freire de Albuquerque,
De fato, ante o exposto, parece ser essa forma de tratamento dos casos de
negligência no âmbito familiar uma solução interessante para a resolução de
conflitos judiciais, já que impede a alegação de não proteção do ordenamento
jurídico àqueles que se sentem mal amados. Isto por que, ao se caracterizar o
abandono da prole, o pai estará automaticamente ferindo diversos direitos da
criança, dentre os quais o direito a convivência familiar.
Apesar da riqueza em se trazer o abandono imaterial como algo sério a ser
tratado pela doutrina e pela jurisprudência, principalmente por que confere uma
tutela de proteção integral da criança e do adolescente, vêm encontrando
dificuldades em ganhar respeito nos Tribunais superiores. Tem entendido o poder
judiciário brasileiro que o abandono imaterial restringe-se apenas ao campo afetivo.
A apelação de n.ª 0284985-06.2009.8.26.000 do Tribunal de Justiça de São Paulo,
pelo relator Sebastião Carlos Garcia, traz a seguinte ementa:
Estado do Paraná, que de maneira louvável entender não possuir ligação entre o
amor e o abandono afetivo e imaterial propriamente dito. Ementa a seguir:
A conclusão lógica se faz em torno de que a pensão alimentícia não pode ser
considerada como o necessário para o desenvolvimento pleno da criança, bem
como a questão do abandono afetivo surge para reclamar a falta de regulação do
nosso ordenamento jurídico que não fora suprida expressamente pela Constituição
de 1988. A teoria do abandono imaterial, contudo, defende que os direitos lesados já
estariam expostos em nossos códigos, ficando a regulamentação do abandono
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afetivo propriamente dito para outra discussão que envolva a obrigação do pai em
amar seus filhos.
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O comodatário que por sua culpa permite o perecimento e por isso deixa de
entregar o objeto emprestado; o segurador que dolosamente se furta de
pagar a indenização devida ao segurado; o escritor que por mera
negligência se omite de entregar ao editor, no prazo fixado por contrato, a
obra prometida e já anunciada, todos esses são devedores inadimplentes,
que causam prejuízo a seus credores. A todos eles o art. 389 do Código
Civil impõe a responsabilidade de reparar as perdas e danos
experimentados pelo credor. No primeiro caso, ou seja, no do comodatário,
do segurador, do escritor, trata-se de responsabilidade derivada do contrato,
portanto, responsabilidade contratual; no segundo, responsabilidade
derivada do ilícito extracontratual, portanto, responsabilidade aquiliana.
(RODRIGUES, 2002, p. 8)
cada um desses tópicos, mas é necessária a atenção a eles para a analise dos
casos de abandono afetivo no âmbito familiar. Neste mesmo sentido a
jurisprudência vem entendendo ser necessário para a caracterização da
responsabilidade do pai infrator, nas palavras da Ministra Nancy Andrighi:
''Aquele que, por ato ilícito causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo''. A regra
advém do art. 186 do mesmo código, que preceitua que ''aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito''.
No estudo do abandono afetivo o fundamento para o pleito da indenização é o
dano moral. Esta modalidade de dano esta protegida pela Constituição Federal, na
forma de clausula pétrea, no art. 5 incisos V e X, segundo qual é assegurado o
direito de indenização por dano material, moral ou à imagem, sendo invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas.
Um dano nada mais é que do que, segundo o Dicionário online de português
(PORTUGUÊS, 2018), a ''ação ou efeito de danificar, causar prejuízo; estrago. Ação
ou efeito de danificar, causar prejuízo; estrago''. Sendo a moral, a partir de um viés
filosófico, segundo o mesmo dicionário (PORTUGUÊS, 2018), '' A parte da filosofia
que trata dos costumes, dos deveres e do modo de proceder dos homens nas
relações com seus semelhantes''. Esta também é a linha de entendimento sobre
dever e moral exposta na obra de Immanuel Kant, conforme fichado pelo site Brasil
Escola:
Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu
patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como
a honra, a dignidade, intimidade, a imagem, o bom nome, etc., como se
infere dos art. 1º, III, e 5º, V e X, da Constituição Federal, e que acarreta ao
lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação. (GONÇALVES,
2008, p. 359)
João de Lima Teixeira Filho define dano moral como sendo a lesão a direitos
da personalidade:
50
(...) o sofrimento provocado por ato ilícito de terceiro que molesta bens
imateriais ou magoa valores íntimos da pessoa, os quais constituem o
sustentáculo sobre o qual sua personalidade é moldada e sua postura nas
relações em sociedade é erigida. (FILHO, 1996, p. 1.169)
Nesta esteira, o jurisconsulto Silvio Rodrigues diz ser o dano moral ''... A dor,
a mágoa, a tristeza infligida injustamente a outrem''. Quanto a isso, segue o
supracitado professor (ANDRADE, 2008, p. 5) a fazer uma crítica a esta visão do
dano moral. Segundo o auto, estaria equivocada a doutrina que traz a relação entre
o dano moral e alguma forma de sofrimento, já que esta séria a consequência do
dano.
Sergio Cavalieri Filho, citado por Fábio Caetano Freitas de Lima (LIMA, 2016)
acertadamente discorre sobre o dano moral, inclusive demonstrando não haver,
necessariamente, nexo entre o dano moral e alguma reação psíquica da vítima,
adotando, desta forma, uma teoria objetiva conquanto a flexibilização de um dos
pressupostos da responsabilidade civil, qual seja o dano experimentado pela vítima:
dor, vexame, sofrimento, assim como pode haver dor, vexame e sofrimento
sem violação da dignidade. Dor, vexame, sofrimento e humilhação podem
ser consequências, e não causas. Assim como a febre é o efeito de uma
agressão orgânica, a reação psíquica da vítima só pode ser considerada
dano moral quando tiver por causa uma agressão à sua dignidade. Com
essa ideia abre-se espaço para o reconhecimento do dano moral em
relação a várias situações nas quais a vítima não é passível de detrimento
anímico, como se dá com doentes mentais, as pessoas em estado
vegetativo ou comatoso, crianças de tenra idade e outras situações
tormentosas. Por mais pobre e humilde que seja uma pessoa, ainda que
completamente destituída de formação cultural e bens materiais, por mais
deplorável que seja seu estado biopsicológico, ainda que destituída de
consciência, enquanto ser humano será detentora de um conjunto de bens
integrantes de sua personalidade, mais precioso que o patrimônio. (FILHO,
2002)
Evidencia-se que a família não pode ser vista como um instituto alheio ao
Estado de Direito, onde se suspendem as garantias individuais, daí por que
se deve reconhecer a aplicação das normas gerais da responsabilidade civil
quando um membro da família, através de ato ilícito, atinge um legítimo
interesse extrapatrimonial do outro familiar, tais como os esponsais (pré-
familiar), em que um dos noivos às vésperas do matrimônio abandona o
outro sem justo motivo; lesões físicas por agressão de um dos cônjuges,
expondo o outro a situação vexatória; transmissão ao outro consorte de
doenças venéreas; injúria proferida por um dos cônjuges ao outro,
acarretando prejuízos à imagem social ou profissional deste; propositura de
ação de interdição de pessoa que tem plena capacidade civil; investigado
(suposto pai) que se utiliza de subterfúgios processuais para postergar o
reconhecimento parental, esquivando-se de exame pericial, mesmo
havendo outras provas que indiquem o vínculo de parentesco com o
investigante, sendo ao final a ação julgada procedente, desencadeando
prejuízos irreparáveis ao investigante, que passou parte de sua vida sem o
apelido paterno etc. Em sendo negada a reparação por danos materiais e
morais causados por um membro da família ao outro, estar-se-ia
estimulando a sua reiteração, que, provavelmente, aceleraria o processo de
desintegração familiar. (CARDIN, 2012, p. 46)
Em desfecho a autora expõe que apesar de ser mais do que justo a analise
deste instituto sobre o prisma familiar, deve-se tomar cuidado para não vulgarizar do
dano moral:
Os autores deixam de observar que o afeto, o carinho negado pelo pai a seu
filho não pode ser suprido pelo afeto de terceiros, muito menos pode o Estado
suplantar a ausência paterna (CANEZIN, 2006, p. 79). É nesta linha que Rolf
Madaleno apresenta uma resposta a este tipo de posicionamento:
Entende ser oportuno trazer á baila as mais recentes decisões dos tribunais
de alguns estados brasileiros. Isto por que, dada a imensidão do país e a
individualidade de cada tribunal, pode-se observar desta analise qual rumo está
tomando este tema.
Desta feita, o egrégio Tribunal de justiça do estado de São Paulo, no recurso
de Apelação n. 1001678-63.2017.8.26.0543, de 30 de maio de 2018, em um caso
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que versa sobre um pai que se comprometeu a visitar seu filho mas que,
posteriormente, veio a não honrar este acordo, decidiu pelo não entendimento de
cabimento de abandono afetivo, seguindo a linha do Resp 757.411 do STJ, nos
seguintes termos:
Indenização por danos morais - Abandono afetivo pelo genitor – Visitas não
cumpridas – A simples ausência e distanciamento da figura paterna não
configura ato ilícito passível de indenização – Improcedência da ação –
Sentença confirmada – RECURSO NÃO PROVIDO.
(TJ-SP 10016786320178260543 SP 1001678-63.2017.8.26.0543, Relator:
Elcio Trujillo, Data de Julgamento: 30/05/2018, 10ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 30/05/2018)
Assim, nas palavras do relator Elcio Trujillo (TRUJILLO, 2018), ''Em realidade,
tem-se que a indenização pleiteada pelo autor não altera, no âmago, a própria
condição da ausência de atenção e cuidados pelo pai e apenas sustenta, diante
termos apontados, busca de um revide em forma de revolta.''.
Do mesmo modo decidiu o Tribunal de Justiça do Rio Grande do sul ao julgar
improcedente a apelação cível n. 70076093442, de 24 de maio de 2018.
mais recentes vêm dando conta de denegar aos filhos uma compensação pela
negligência de seus pais, criando precedente para que os pais deixem cada vez
mais de se importar com a criação de sua prole.
Diante da analise dos mais novos julgados, constata-se certa resistência dos
tribunais em reconhecerem a indenização moral por abandono afetivo na relação
paterno-filial. Da mesma maneira conclui Flávio Tartuce em seu artigo ''Da
indenização por abandono afetivo na mais recente jurisprudência brasileira'', ao
atestar a divergência doutrinária e jurisprudencial.
De todo modo, fazendo uma pesquisa mais atual, posterior ao último aresto
superior, notei que há ainda grande vacilação jurisprudencial na admissão
da reparação civil por abandono afetivo, com ampla prevalência de julgados
que concluem pela inexistência de ato ilícito em casos tais, notadamente
pela ausência de prova do dano.
(...) Em suma, parece que a doutrina contemporânea foi bem festiva em
relação à admissão da reparação imaterial por abandono afetivo, em
especial após o julgamento do REsp 1.159.242/SP, em 2012. Porém, no
âmbito da jurisprudência, há certo ceticismo, com numerosos julgados que
afastam a indenização. Muitos deles o fazem também com base na
existência de prescrição da pretensão, tema a ser tratado no futuro, neste
mesmo canal. (TARTUCE, 2017)
pela afirmação de que não basta a prova da simples ausência de convivência para
que caiba a indenização. ''. Deste modo abre-se a discussão acerca da realização da
prova nestes processos.
Quanto à prova do dano moral, conforme exposto acima, os tribunais estão
entendendo que para os casos de alegação de abandono afetivo, não se pode
apenas demonstrar que houve o descumprimento as normas de direito de família
como deixar a convivência familiar, desrespeitando o princípio da solidariedade
familiar e da paternidade responsável. No novíssimo entendimento jurisprudencial,
está sendo requerida a prova do efetivo dano, tal como relatórios psicológicos e
psiquiátricos.
Na doutrina, existe divergência quanto à forma de se provar o dano moral.
Alguns autores defendem que apenas demonstrando a veracidade dos fatos seria
suficiente para gerar o direito a indenização. Em outro espectro é alegado que
seria necessário produzir provas do dano assim como no direito material. Neste
meio termo há aqueles que defendem que a prova do dano é feita através da
presunção do chamado homem médio. Assim explica Jeová da Silva Santos:
O prejuízo moral que alguém diz ter sofrido é provado in re ipsa. Acredita
que ele existe porque houve a ocorrência do ato ilícito. Quando a vítima
sofre um dano, que pela sua dimensão é impossível o homem comum não
imaginar que o prejuízo aconteceu. Ninguém, em sã consciência, dirá que a
perda do pai ou de um filho não gera desgosto e mal-estar, tanto físico
como espiritual, ou que alguém que teve a perna ou um braço amputado
não vai passar o resto da vida sofrendo por essa diminuição física. A só
consumação do ilícito que faz surgir fatos desta natureza, mostra o prejuízo,
a prova in re ipsa. (SANTOS, 2003, p. 555)
Por fim, ainda destaca-se que, segundo Valeria Silva Galdino Cardin
(CARDIN, 2012), o prazo para a apresentação de ação de indenização por
abandono afetivo é de três anos, conforme exposto no inciso V do parágrafo 3 do
art. 206 do Código Civil, já que se trata de uma reparação civil.
poderia proporcionar justiça àqueles que se vêm nesta situação de lesa a dignidade
da pessoa humana.
É preciso observar cuidadosamente está situação que esta acometendo
diversos lares familiares, tamanha é a importância que, nas palavras de Mariana
Cardoso (CARDOSO, 2018) ''O pai ou a mãe que não cumpre com a obrigação de
dar suporte para o desenvolvimento psicossocial da criança deve saber que isso
poderá lhe acarretar futuramente danos psicológicos causados pelo arrependimento
e frustração.''
A autora segue alertando para a importância do afeto na vida da criança
desde cedo e que o seu descumprimento pode gerar grandes problemas para o
resto da vida da pessoa:
Como dito anteriormente, a criança depende do amor e afeto dos pais (ou
responsáveis) para se desenvolver saudavelmente, os mesmos são
espelhos para a criança, e quando ela se vê sem a convivência com um
deles, se sente perdida. Somente com o apoio, intervenção e amor dos pais,
a criança pode se tornar um adulto capaz de também cumprir com suas
obrigações de forma natural.
Os estímulos de carinho devem começar antes mesmo do bebê nascer e é
extremamente importante também na primeira infância (de 0 a 3 anos).
O sofrimento da criança abandonada pode ocasionar deficiências no seu
comportamento mental e social para o resto da vida, a criança pode se
isolar do convívio de outras pessoas, apresentar problemas escolares,
depressão, tristeza, baixa autoestima, além de problemas de saúde.
(CARDOSO, 2018)
Há, ainda, matéria da Folha de São Paulo, que apresenta estudo sobre o qual
dois em três menores infratores não possuem a figura do pai em casa.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
descaso ou negligência dos pais, surge um dano moral a ser indenizado pelo
causador. O abandono afetivo compreende tanto o afastamento físico quanto o
moral e não pode ser confundido com o abandono material, que versa
exclusivamente sobre a sobrevivência material do beneficiário.
Os posicionamentos da doutrina majoritária vêm de acordo com esta teoria e
entende ser possível a responsabilização do genitor que não cumprir com suas
obrigações expressas na Constituição, isto por que não, como dito, não há a
imposição do dever de amar ou monetarização do afeto. O que se tem, de fato, são
direitos importantíssimos sendo violados e que, se não forem protegidos pelo
judiciário podem acarretar em uma situação de risco para o desenvolvimento da
sociedade brasileira como um tudo.
Contudo, este não é posicionamento que está sendo externado pela
jurisprudência pátria. Os últimos julgados sobre o assunto não vêm reconhecendo o
abandono afetivo como passível de reparação, o que demonstra um claro retrocesso
de um ponto de vista humanístico. Neste caminho surgem novas teorias como a do
abandono afetivo imaterial, que supostamente resolve algumas obscuridades
trazidas pelos defensores da responsabilização pelo abandono afetivo. Dentre elas,
a exclusão total da ideia de obrigação afetiva no sentido de amor entre pai e filho,
mantendo apenas o conceito de descumprimento de obrigações expressas na
legislação.
Por derradeiro, os danos causados ao indivíduo que sofrem deste tipo de
negligência, estão postos em diversos estudos e entendimentos de especialistas.
Isto, aliado ao fato de que no Brasil ocorrem cada vez mais casos de abandono
paterno-filial, torna necessário uma intervenção do Estado para que seja
solucionado este problema. Claramente, descriminalizando a situação e passando a
mão na cabeça dos pais infratores não é a melhor resposta por quanto incentiva
ainda mais a prática deste comportamento. Não obstante, o tratamento legislativo
,assim como busca realizar o Projeto de Lei n. 700 de 2007, que vise métodos
punitivo àqueles que infringirem a responsabilidade da paternidade responsável
pode ser considerado uma medida justa, contribuindo para a formação de pessoas
mais responsáveis e uma sociedade melhor estruturada, começando de baixo pelo
núcleo familiar.
66
REFÊRENCIAS
CÓDIGO PENAL, C. Decreto Lei n. 2.848. Código Penal, Brasília, DF, 07 Dezembro
1940.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 23. ed. São
Paulo: Saraiva, v. 5, 2008.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 27. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.
68
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 3. ed. São Paulo: [s.n.], v. IV, 2008.
69
REDAÇÃO PAIS E FILHOS. paisefilhos.uol. Rejeição de pai dói mais que de mãe,
diz pesquisa, 2014. Disponivel em: <https://paisefilhos.uol.com.br/familia/rejeicao-
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