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Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ

Volume 1, n.5, 2018.

Gênero nas Artes

Ana Paula Alves Ribeiro (UERJ), Fabiene Gama (UnB),


Nathanael Araújo (UNICAMP), Patricia Reinheimer (UFRRJ)

pessoa caminhava na calçada com um carrinho de bebê, quando outra parou e elogiou: - como é lindo seu
bebê. A primeira, sem se fazer de rogada, retrucou: - você não viu nada, espere até ver a fotografia.
(Autor desconhecido)

Na modernidade artística, isto é, entre o final do século XIX e o início do XX, as formas
de atribuição de valor às obras de arte deixaram de ter relação com a capacidade
narrativa e a representação realista do mundo. Surgiram sucessivamente novas formas
de expressão, cada uma procurando maneiras inusitadas de retratar realidades
subjetivas, representativas de um indivíduo criador. As qualidades estéticas dos
artefatos artísticos passaram a ser medidas frente a novos critérios, expressivos de uma
sensibilidade emergente que considerava o dom de forma laicizada, como a capacidade
inata do criador de produzir coisas autênticas.
Um dos autores mais importantes para a reflexão acerca desse período e suas
especificidades é Georg Simmel, que procurou compreender a ideia de singularidade
como uma das dimensões do indivíduo, fundamentando o mundo do contrato, na
subjetividade e no individualismo em oposição às variadas formas de coletividade.
Foi na arte abstrata que a ideia de autonomia artística, baseada em um discurso sobre
estética que não levava em conta a prática da percepção sensível aos fenômenos
artísticos (Cf. Campbell, 2010), chegou ao seu auge. Como afirma Schapiro (1937), a
arte abstrata tinha “o valor de uma demonstração prática” das propostas modernistas. A
ausência aparente de relação com a realidade empírica tornava ainda mais concebível a
ideia de que o pensamento e os sentimentos estéticos fossem anteriores ao mundo
representado.
Ainda segundo a autora, as ideias subjacentes à arte abstrata penetraram profundamente
todas as teorias artísticas, mesmo as de seus adversários. A linguagem dos absolutos e
das fontes puras, seja de sentimento, razão, intuição ou do subconsciente, apareceram
mesmo nas escolas que renunciavam à abstração. Os pintores "objetivos" se esforçavam
em ser "objetivamente puros", prezando pela "essência" e completude de seus objetos,
supostamente sem um ponto de vista. Os surrealistas, por exemplo, pretenderam derivar
suas imagens de um pensamento teoricamente puro, liberado das perversões da razão e
da experiência cotidiana.
Uma das principais características desse período histórico foi seu a-historicismo. A
própria história do período era apresentada como interna, um processo imanente aos
artistas. A ideia do talento como algo inato foi potencializada pelas experiências com
“loucos” e crianças. No Brasil, Osório César iniciou por esse caminho, mas foi Nise da
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Silveira, em parceria com Mário Pedrosa, que pavimentou o caminho para os valores da
modernidade artística a partir das experiências estéticas entre os “insanos”. No mesmo
período, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro apresentava os resultados das
aulas que o artista Carlos Scliar dava para crianças em exposições pelo Brasil, Japão e
EUA. Paradoxalmente, o modernismo artístico pretendia que a arte fosse modificar a
própria realidade da qual se desvinculava.
Esse mesmo modernismo foi marcado por uma contínua ruptura com as hierarquias do
que era considerado ou não arte. Foi próprio desse período a tentativa de totalizar a arte
nos ismos, generalizando suas prerrogativas. A partir da segunda metade do século XX,
vimos serem desenvolvidas novas articulações entre as experiências pessoais e as
representações do mundo. Esses novos desenvolvimentos vieram a ser denominados
“arte contemporânea”.
A ideia de arte contemporânea, surgiu também como uma forma elusiva de tentar
abarcar certa totalidade que lhe escapava. Toda a arte produzida contemporaneamente é
contemporânea? Ou a arte contemporânea é um estilo? Essas são perguntas colocadas
por diversos autores (Smith, 2012, Heinich, 1993).Heinich (1993) pensa a arte
contemporânea a partir da reiteração dos valores artísticos consagrados no começo do
século XX, isto é, a transgressão de fronteiras de forma a trazê-las à tona e torná-las
visíveis. Vera Zolberg (2009) já utiliza a incerteza como critério para definir o estatuto
da arte e do artista contemporâneo. No entanto, a própria expansão da ideia de arte para
novos e variados contextos resulta em uma multiplicidade de propostas que torna
qualquer forma de totalização reducionista. Como coloca Terry Smith, o
“contemporâneo” significa também “múltiplas formas de ser com, em e fora do tempo,
junto e ao mesmo tempo separado, com outros e sem eles” (1993:21).
Uma das vertentes dessa arte produzida na contemporaneidade é uma volta renovada ao
social. Questionamentos, provocações e proposições fazem com que artistas apresentem
propostas que se relacionam com tempos, lugares e pertencimentos diversos. Superada a
era dos grandes relatos, essa arte contemporânea engajada no social coloca desafios à
prática e à interpretação do mundo rechaçando certas afirmações simbólicas. No
entanto, essa produção, para ser reconhecida, precisa que a subjetividade seja
apresentada de forma a superar a particularidade individual, constituindo os
fundamentos de um acordo comum. É assim que vemos esses artistas se apoiarem no
potencial dos diferentes meios materiais e das redes de comunicação virtual para captar,
algumas vezes com humor, a natureza plural das formas do desejo e da afetividade para
questionar valores tidos por muitos como fundamentais e familiares.
Neste número dedicado à discussões de gênero, apresentamos trabalhos de diversas
formas, gêneros, mídias, estilos: poesia, vídeo, colagem, densenho, pintura, fotografia,
performance etc. Elas abordam discussões sobre o feminino, a masculinidade, ser
mulher, ativismos, sexualidades (heteronormativas e dissidentes) e apontam para
diversas interseccionalidades de gênero, raça e classe. Vemos diferentes corporalidades:
homens, mulheres, hermafrodita, pessoas jovens, idosas, brancas, negras, corpos
adequados e desviantes aos padrões sociais.
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Volume 1, n.5, 2018.

Assim, começamos o trajeto pelo conjunto de trabalhos aqui reunidos a partir de um


diário em versos que não é exatamente, ou estritamente, individual, mas a reconstrução
sempre inacabada de um dado corpo, gênero e sexo. Nele, Ana Kifer joga com frases e
palavras marcadas por pontuações e quebras como se estivesse por aprender a dizer. Se
durante muito tempo as mulheres foram apagadas da História oficial, escrita pelos e
para os homens, que narraram, sobretudo, as faces da guerra, aqui a poeta percorre as
tecituras da dor. Diário de [micro] revoluções não trata de ser um modo menor de
habitat, mas o reconhecimento potente desta mirada que varre desertos refletidos em
espelhos onde nos reconhecemos na pura linguagem do silêncio.
Dízima Periódica - Jerk Off, trabalho de Alice Miceli, por sua vez, põe em
questionamento tudo aquilo que não possui representação exata. São aquelas frações de
coisas, gestos ou atos que produzem repetições periódicas e inumeráveis. Nesse jogo de
ir e vir, a infinidade de possibilidades tornam a exatidão mera combinação ilusória,
convenção para a apreensão do ordinário como pressuposto comum e banal. Carine Caz
dá prosseguimento ao regime de inexatidão a partir de sua série Ofuscadas, onde conflui
em sua obra azulejos portugueses, esboços de corpos borrados e muros de ruas de uma
cidade insinuada. Seu trabalho, feito para ver, ser visto e apreendido, ganha maior
densidade quando fundido ao texto Luzes que não iluminam: série Ofuscadas, de
Carine Caz, escrito por Bárbara de Andrade Silva sobre a obra da artista. Juntas,
apreendemos uma preciosa leitura que revela novas potências sobre as dinâmicas das
expressões artísticas e suas apreensões no e do mundo social da qual fazem parte.
Desorganizar o que fora ordenado é ponto de partida da obra de Martha Niklaus em
Rosáceas, onde propõe um caleidoscópio humano no qual marcadores sociais da
diferença como gênero, classe, raça, gênero e idade não agrupam os indivíduos de modo
definitivo. Embora saibamos da existência lógica do caos, caberia a nós na condição de
público, em seguida também desorganizar ordenamentos cromáticos e ousar com o
limite - se houver. Catu Rizo traz um ensaio de perguntas sem respostas certas. O que
pode um corpo? Fronteiras, limites e devires apresenta um cenário repleto de panos
estampados ou lisos, coloridos ou pretos que envolvem-se e são envolvidos em corpos
enquadrados a frente de uma janela-buraco, moldura para o expressar e o ver. Como na
interpretação de Barbara Andrade sobre o trabalho de Carine Caz, Catu, questiona uma
natureza inalienável aplausível no corpo; conhecer para além do apreendido, visando
capturar aquilo que não reside à luz das obviedades da rapidez sem mistério e
imaginação pode bem ser uma mirada possível para a imersão em seu trabalho.
Com Mulher– Sanduíche, Silvana Andrade questiona as representações midiáticas que
formulam e impõe determinados padrões de beleza e feminilidade aos corpos das
mulheres. Sua performance pelas ruas da cidade torna o estático móvel, flexível,
exigindo novos arranjos cognoscíveis. As mulheres da revista são incorporadas no
corpo da artista. E se a performance dessa artista se dá a partir de “revistas femininas”,
Júnia Azevedo, em Imaginário Cor de Rosa, circunscreve um imaginário do universo
feminino por meio do que denominou de “estética barbie”. Com o auxílio das lentes
atinadas do fotógrafo Diogo Calil, as bonecas barbies, ícones de beleza e virtuosidade
desejável para as mulheres desde a mais tenra idade, encenam momentos em que a
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plasticidade é contorcida até o seu limite, ético e estético, passando a habitar o mundo
concreto e não mais estando fora dele.
A performance Re-banho de Tales Frey é uma crítica incisiva ao movimento reacionário
e aos moralismos e conservadorismos que crescem no país, tentando controlar os
comportamentos e corpos, definindo uns como “normais” e outros como “desviantes”,
“abjetos”. Neste trabalho, cinco pessoas se banham em frente a uma igreja em Portugal,
tentando alcançar cada pedaço do próprio corpo se movendo entre vestimentas que
camuflam quase tudo. Já em “8M”: Visibilidades e diferenças, Kita Pedroza documenta
uma manifestação do dia da mulher no Rio de Janeiro em 2017, ano em que foi
convocada uma greve internacional de mulheres. A foto apresenta diversas mulheres,
faixas, símbolos, frases pintadas nos corpos, cartazes, seus punhos cerrados, também
apontando uma diversidade geracional. O texto aponta para o contexto e dados de
pesquisas sobre violências contra as mulheres e desigualdades as quais estão
submetidas: com corte de raça e classe, impacto nos salários, da educação, nos acessos
são algumas questões trazidas. O ensaio de Kita Pedroza também reflete os movimentos
de mulheres na fotografia e no audiovisual, as ocupações das ruas com marchas e
protestos, luta pela manutenção de direitos historicamente conquistados e a emergência
de novos campos de visibilidade.
Nomes do Amor, de Simone Rodrigues, apresenta algumas imagens de um projeto mais
amplo (multiplataforma) de documentação de casais LGBTQ que teve início em 2014.
O objetivo da fotógrafa é aumentar a visibilidade em torno das experiências familiares,
contribuindo com a diversidade não apenas dos dircursos e experiências, mas também
de suas representações. De Cris Cabus vemos dois desenhos que abordam fronteiras
entre o masculino e o feminino. Em Fronteiras do Corpo e o Desejo, a artista busca
realçar subjetividades que ultrapassem as fronteiras do sexo. Seu desejo é que elas
sejam compreendidas andrógicamente como forma de transceder os conceitos de
sexualidade e gênero, a fim de diluir as fronteiras do corpo e, por consequência, dos
desejos.
A série de fotografias Por trás das Portas, de Ana Paula Silva e Thadeus Blanchette,
chama a atenção para os impactos dos megaeventos esportivos, em especial no mercado
do sexo. As portas, que sozinhas dizem muito pouco ou quase nada sobre as atividades
desenvolvidas em seu interior, assim como sobre o público e as profissionais que as
frequentam, apenas ganham sentido através do texto. É através dele que a dimensão do
silêncio é sentida. Suely Farhi se propõe e nos convida a termos Motivos para
Casamentos Grupais, projeto que incita reflexões sobre casamento e monogamia como
eixos fundamentais para as relações afetivo-sexuais em nossa sociedade.
Uma pichação é mote para o trabalho de Neli de Almeida, Fêmeas Agressivas, onde a
própria artista apresenta uma leitura interpretativa para os escritos em um muro da
cidade; temos aqui as “muitas coisas” que o escrito lhe diz e faz pensar, e como os
muros das cidades têm sido um suporte sempre presente das mulheres e suas relações
com os espaços de circulação. Amanda Sarmento e Lene Gil explodem com a unicidade
representativa com o projeto Menina Mulher da Pele Preta, onde objetivaram fotografar
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30 mulheres negras a fim de discutir sobre a pluralidade de corpos, cores, tamanhos,


pesos e belezas.
Por fim, um conjunto de trabalhos de jovens artistas, selecionados por uma também
jovem curadora, Agrippina Manhatan, procuram expressar as dores e potências dos
corpos. A pergunta que guia a curadoria é Até onde pode ir o corpo? Fotografia,
manipulação digital, desenho, poesia, fotoperformance e vídeo são as linguagens para
desafiar a própria ideia de gênero. O que deve ser desejado, por quem, como e onde?
Sociólogo, poeta e fotógrafo, Jean Baudrillard (1995) refletiu sobre os impactos da
comunicação e das mídias na sociedade e na cultura contemporâneas. A anedota usada
na epígrafe poderia ser uma ilustração de suas teorias. O autor argumenta que a
sociedade de consumo é uma hiper-realidade, uma realidade virtual construída pela
mídia. Questionando a ideia de uma “verdade absoluta”, ele lembra que as coisas
possuem, além de valor de uso e de troca, um valor de signo determinante nas práticas
de consumo que se pautam nessa virtualidade criada.
Outro autor, Tim Ingold, nos ajuda a compreender a relação entre essa sociedade que
consume signos e a importância que podemos atribuir aos trabalhos artísticos que se
dedicam ao tema do gênero. Ingold propõe pensar não mais o antagonismo entre
antropologia e arte, mas suas aproximações para enriquecimento mútuo. Segundo o
autor, tanto uma como outra são formas de conhecer o mundo – “uma investigação
constante e disciplinada das condições e potenciais da vida humana” (Ingold, 2015:25)
–, no entanto, a arte – assim como a arquitetura, argumenta o autor – tem a liberdade de
propor formas nunca antes encontradas, sem primeiro ter que descrever uma realidade.
Foucault (2003) mostrou que a heteronormatividade não existe desde sempre, mas foi
constituída ao longo dos últimos séculos como parte do processo de formação das
sociedades burguesas. Relendo a epígrafe à luz da proposição de Ingold, muito mais do
que a virtualidade de uma realidade construída pela cultura, os trabalhos aqui
apresentados – e muitos outros que têm sido censurados como pornografia – propõe que
se perceba a complexidade – beleza, estranheza, intolerância, sensualidade, violência,
entre outras – presentes nas múltiplas formas de desejo e afeto. Parafraseando o autor,
as obras aqui apresentadas moldam o mundo que vivemos, ao mesmo tempo em que
moldam nossa própria humanidade (Ingold, 2015:178).

Referências bibliográficas
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Rio de Janeiro, Edição Elfos, Lisboa,
Edições 70, 1995
BOLTANSKI, Luc e Laurent De la justification. Les economies de la grandeur. Galimard,
Paris, 1991.
CAMPBELL, Shirley. A estética dos outros In Revista Proa, n°02, vol.01, 2010.
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Volume 1, n.5, 2018.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade vol. 1: A vontade de saber. Graal, São


Paulo, 2003[1978].
HEINICH, Nathalie. Le triple jeu de l’art contemporain, Les Éditions de Minuit, 1993.
INGOLD, Tim. Estar vivo. Ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Editora
Vozes, Rio de Janeiro, 2015.
SCHAPIRO, Meyer. Nature of Abstract Art. Marxist Quarterly. Vol.1, janeiro/março 1937.
p. 78-97. HTTP://cepa.newschool.edu/~quigleyt/vcs/schapiro-naa.pdf
SMITH, Terry. ¿Qué es el arte contemporáneo? Siglo veintiuno editores, Buenos Aires,
2012.
ZOLBERG, Vera. Incerteza estética como novo cânone. Ciências Humanas e Sociais
em Revista. Seropédica: EDUR, 2009. do.
Parte1.
diário de [micro]
revoluções
Ana Kiffer

são histórias perdidas. apagadas. as histórias


delas. desimportantes.
elas escrevem. sem história.
os desaparecimentos de um mundo.
e essa formidável potência da dor.
o dia que lhe arrancaram as mãos.
escreveria assim.
por entre os vãos de mim.
sob o viaduto. uma ferrugem ocre de tudo.
e a cor da pele. sobre um pedaço de carne
retorcida.
há um mundo. ela escrevia.
que desaparece no corpo.
um passo. em queda. há a dor.
a potência da dor. ela escrevia.
em cada traço dela.
há um sem número delas. há ela.
e uma só hora. seguidas vezes.
até o arquear das costas.
o tropeço. e todos os grandes enganos.
há uma hora daquele dia.
e um passo. em volta.
em volta.
em volta.
em revolta.
em revolução.
os gritos anteriores. ela escrevia.
era a solidão de muitas.
escavando a mesma terra.
nenhuma insurreição teria lugar sem ela.
sem elas. eram mais de cem. uma peste.
infestando caminhos e brechas.
uma vez. uma só hora. era um deserto.
ela veio despovoar o mundo.
era um deserto.
ela veio despovoar o mundo.
[contra-senso. volta. revolta. revolução].
ela veio despovoar o mundo.
ela veio despovoar o mundo.
com o seu deserto

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azul sideral.
branco vento.
bing. agarra.
essa espécie de delírio em navegar no ar.
um movimento dentro dele. irrespirável.
mesmo a filosofia. sobretudo a filosofia. precisa do
deserto.
ela disse no seu oco. todo usado. o corpo gasto.
exatamente dali. da circunvolução. da volta.
agarra. a revolta.
do esgotamento.
a revolução

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um mundo sem nada. sem cães.
sem gêneros. um mundo trans-tudo.
trans-passa.
sem pressupostos. sem plumas.
a terra sem tempo. leve.
sem metafísica. erode.
um novo deserto. despovoado.
pleno de um povo. porvir. gritando.
um ponto. gira.
e o solo. atravessando o seu corpo.
só um traço. no meio das costas.
e os nomes disso.
a tremular extremidades.
vá ao deserto.
vá ao deserto.
vá ao deserto.
revolta.
e
revolução.
re. volta. re. volução.

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Jerk off

Alice Miceli
Projeto dízima periódica. 2007, 1’47” https://vimeo.com/251714759

Dízima Periódica - Jerk Off


O “Projeto da Dízima Periódica” é uma série de vídeos baseados no princípio matemáti- co homônimo, que em si investiga os espaços entre os
números e seus limites, como ponto de partida para explorar experiências nas quais questões de limite e intervalo são intrínsecas, tais quais a morte,
o desempenho atlético e o prazer sexual.
Como figurar o espaço infinito entre dois pontos? Como atravessar uma distância em um determinado espaço? Como dar conta, visualmente, da
mudança qualitativa e da transformação conceitual que podem ocorrer quando passamos de A a B, quando cruza- mos um limite, ou uma fronteira?
Quais são as possíveis naturezas de um limite?
Fazendo referência ao clássico filme de Andy Warhol Blow Job (1964), a série Jerk Off, o terceiro e último episódio integrante do Projeto da Dízima
Periódica, parte deste prin- cípio matemático como forma de dar a ver, em momentos estilhaçados, o fugidio espaço sublime do gozo

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Série Ofuscadas

Carine Caz

Luzes que não iluminam: série Ofuscadas, de Carine Caz


Bárbara de Andrade Silva*

Mulheres que têm seus corpos murados por uma padronagem de azulejos portugueses
e cujos rostos não podemos ver por causa de um feixe de luz que, ao invés de iluminá-
-las, ofusca suas identidades: assim são os trabalhos da série chamada Ofuscadas, da
artista visual Carine Caz. Seu trabalho traz justamente à tona a questão de como a
mulher parece estar sempre em evidência: basta ver a grande quantidade de nus que
foram pintados na história da arte ou como a figura feminina é abundantemente explo-
rada na publicidade. Entretanto, o que podemos pensar com as ofuscadas é que esta
evidência é incompleta, pois o que se salienta são os corpos femininos e não a mulher
enquanto sujeito histórico; ofuscam nossas identidades e transformam-nos em simples
objetos de contemplação.
Ao mesmo tempo, o azulejo português, símbolo da fachada da casa e da hierarquia
patriarcal que existe nela por excelência, fronteira entre o público e o doméstico, toma
outros significados quando é colocado na rua e com uma linguagem urbana como o
lambe-lambe: ao invés de aprisionar esses corpos femininos, propõe-se a discutir o
papel da mulher enquanto agente de transformação social.
Deste modo, mais do que ilustrar as questões da mulher-objeto e do papel doméstico,
ao qual a mulher foi relegada, Ofuscadas questiona essas ideias preestabelecidas. E
enquanto arte no espaço público tem a possibilidade de gritá-las e agir sobre todas,
todos e todes que se depararem com suas figuras femininas no cotidiano da cidade.

* Estudante de graduação em História da Arte da Universidade Federal do Rio de Janeiro e (EBA/ UFRJ) e
licenciada em História pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal).
Ofuscadas 1, Série Ofuscadas, 2017

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Ofuscadas 2, Série Ofuscadas, 2017

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Ofuscadas 3, Série Ofuscadas, 2017

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Ofuscadas 4, Série Ofuscadas, 2017

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Rosáceas
Martha Niklaus

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Rosáceas, 2017.
www.marthaniklaus.com/video-rosaceas

No seu desejo/necessidade de se apropriar do mundo, os seres humanos tendem a orga-


nizar o suposto caos. Nesta ordem, que procura dar conta de um entendimento de
mundo, os critérios são sempre limitados e limitantes. Faixa etária, classe social, cor de
pele, gênero etc etc, grupos e subgrupos criam uma estrutura social organizada e partida.
A obra Rosáceas vem falar do colecionismo, da catalogação, da vontade de apreensão –
memória (museu) e também daquilo que foge ao controle, do fluxo, do liquefeito. Ao
eleger a “cromática momentânea” como critério de agrupamento, incorpora o acaso e o
tempo. Os azuis, os vermelhos, as verdes e turquesas, os amarelos e laranjas, os pretos e
brancos, os brancos e cinzas, e os pretos, são os grupos nos quais a mesma pessoa pode
estar inserida nas Rosáceas. Ao ser fotografada em dias diferentes, com vestimentas
diferentes, vai se encaixando e desencaixando, sendo o elemento mutante a cor da sua
roupa.
As Rosáceas são compostas por afinidades cromáticas, apenas. E ela gira, gira, como o
caleidoscópio das múltiplas combinações. Impensáveis correspondências sociais e
humanas se tornam possíveis. Uma nova ordem, mais flexível e variável em suas combi-
nações, permite o movimento. Vida é movimento e não cabe nas horizontais e verticais
do cartesianismo, da lógica que aprisiona. A vida escapa e quer mais.

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Fronteiras, limites e devires

Catu Rizo
O que pode um corpo?

Este ensaio aconteceu em 2016, no canto de um quarto. As pessoas fotografadas não são
modelos. Em uma janela buraco, três peças de roupa eram ofertadas e funcionava como
um disparador para a performance do corpo diante da câmera. A roupa serviu como más-
cara. Mais como um objeto e menos como vestuário. A proposição desejava uma investi-
gação poética do corpo no espaço e da presença que tal corpo emana. Se alguém ‘é’ uma
mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém é (...)Tal afirmação feita por Butler
me colocou no movimento de compreender as interseções que nos constituem e a
potência do entre-lugar que nosso corpo, enquanto expressão, assume.
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Mulher Sanduíche

Silvana Andrade
https://www.youtube.com/watch?v=333-ZX6ClWA

Mulher – Sanduíche

Performance realizada em 12 de agosto de 2107, na Praça Luís de Camões na Glória,


inspirada nos tradicionais vendedores de ouro dos centros das cidades. A artista carre-
gou nos ombros o peso de oito meses de revistas femininas voltadas para a beleza e
moda que circularam nas bancas durante o período de janeiro a agosto de 2017, tornan-
do-se uma espécie de display humano.
Qual é o peso das representações que circulam do corpo ideal? Qual o peso dessa capa?
Mulher-Sanduíche que na compra e venda do “ouro” do padrão ideal também da-se a ser
consumida, comida ao desejo do olhar do outro.

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Imaginário Cor de Rosa

Júnia Azevedo
Diogofotografias
Calilde

O trabalho em desenvolvimento reflete sobre a formação do imaginário feminino a partir


da estética Barbie. Em contraponto ao mundo ideal e ilusório prometido pela indústria
de brinquedos, bonecas do tipo Barbie são representadas em situações dramáti- cas da
vida real, confrontando a imagem da mulher linda, delicada, feliz, jovem, atraen- te, bem-
sucedida, elegante, frágil e comportada. Como mulheres de verdade, as bonecas sofrem,
lutam, erram e enfrentam situações duras, violentas e cruéis.
O trabalho é fruto de uma parceria da artista e escritora júnia Azevedo com o fotógrafo
Diogo Calil. A série de fotos faz parte do ‘work in progress’ Imaginário Cor de Rosa. O
projeto é um desdobramento do romance ‘O Ser-se’, de Júnia Azevedo, lançado pela
Editora Circuito, em novembro de 2014.

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Barbie Samarco, Projeto Imaginário cor de rosa, 2017

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Barbie Passista, Projeto Imaginário cor de rosa, 2017

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Barbie Refugiada, Projeto Imaginário cor de rosa, 2017

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Barbie Auschwitz, Projeto Imaginário cor de rosa, 2017

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“8M”: visibilidades e
diferenças
Kita Pedroza
No dia 8 de março de 2017, mulheres paralisaram suas atividades em dezenas de países
e foram às ruas clamar por direitos, protestar contra a violência de gênero, pela liberdade
de decidir sobre seus corpos, suas emoções, seus desejos, bem como em relação a quais-
quer domínios de suas vidas. No Brasil, foram convocadas manifestações na maioria dos
estados, abrangendo em torno de 70 cidades e contando com a cobertura de grandes
veículos da imprensa. Seria precipitado, no entanto, pensar que todas essas mobiliza-
ções estiveram relacionadas a amplas adesões na sociedade brasileira (para permanecer
apenas no terreno nacional) em torno de causas comprometidas com mudanças estrutu-
rais no sentido de enfrentar realidades brutais ainda persistentes. Entres essas situações
cotidianas está, por exemplo, o fato de cerca de 40% das mulheres brasileiras já terem
experimentado algum tipo de violência baseada em gênero, seja ela física, sexual ou
psicológica, ao menos uma vez em suas vidas. Por outro lado, estas violências não são
distribuídas da mesma forma dentro desse conjunto da população.
De acordo com estudo recente do Banco Mundial, se houve avanços, nas últimas duas
décadas, em alguns quesitos ligados ao universo social das mulheres no Brasil - como
melhorias nos níveis de educação, na saúde materna e relacionadas à redução de índices
de gravidez na adolescência -, não foram para todas. Foram avanços, digamos, seletivos:
ao considerar diferenças de raça, etnia, classe e localização geográfica, o cenário muda.
Por exemplo: adolescentes das regiões Sul e Sudeste têm maiores chances de inserção
no sistema escolar do que colegas do Norte, Nordeste ou Centro-Oeste; em 2014, houve
maior incidência de mortes maternas entre as afrodescendentes; diferenças salariais
entre homens e mulheres atualmente persistem e aumentam caso se leve em conta a
desigualdade racial. E por aí vai.
Naquele 8 de março, saí de casa estimulada pelo desejo de conhecer as motivações
(comuns e contrastantes) de diferentes mulheres para estarem nas ruas. Junto à vontade
de fotografar. Mas, ao mesmo tempo, pensava que as invisibilidades e os silêncios asso-
ciados aos mesmos desequilíbrios de poder, que geram distorções de direitos, também
estavam presentes - todos os dias (ao fazerem parte de tantas das nossas histórias).
Decidi acompanhar, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a preparação para o
ato que ocorreria na região central da cidade e, em seguida, participar da marcha no Rio.
Entre as falas que registrei (sem a pretensão de serem representativas), a necessidade de
lutar por direitos foi recorrente (pontuadas por diferentes contextos).
Outros impulsos contribuíram para me colocar em movimento, como os grupos de
mulheres produtoras de imagens, que começaram a se articular meses antes, Fotógrafas
Brasileiras e YVY Mulheres da Imagem (à época denominado Associação Brasileira das
Mulheres da Imagem). Cada qual, à sua maneira, passou a constituir novos espaços de
construção de visibilidades e de expressão de modos de ser e estar no mundo. Entre as
ações realizadas na ocasião, o primeiro organizou projeções de fotos durante a manifes-
tação e o segundo articulou uma cobertura voluntária do evento em diferentes estados
brasileiros, compartilhando posteriormente o material produzido – incluindo o que
compõe esse ensaio visual. Sou grata a ambos pela acolhida nesses espaços.
Kita Pedrosa, 2017

Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018


Kita Pedrosa, 2017

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Kita Pedrosa, 2017

Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018


Kita Pedrosa, 2017

Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018


Kita Pedrosa, 2017

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Nomes do Amor

Simone Rodrigues

Nomes do Amor é um projeto de documentação de casais LGBTQ através de imagens e


depoimentos. É um trabalho em andamento a que venho me dedicando desde 2014.
Decidi desenvolvê-lo por me sentir incomodada com o tipo de representação que a
sociedade faz da população que não se encaixa no padrão heteronormativo. Tanto nas
imagens correntes na mídia quanto no imaginário social, trata-se de uma representação
bastante estereotipada, caricatural mesmo, muito distante da realidade da vida das
pessoas que valorizam a diversidade e exercitam modos de existência mais livres e
experimentais, o que costuma incluir (mas não se reduz a) a sexualidade.
Meu objetivo principal é promover a visibilidade da experiência familiar de gays e trans.
Por incrível que pareça, essa faceta trivial e de aparência ingênua é das que mais assus-
tam os conservadores homotransfóbicos, porque a partir desse momento, já não se
sustentam mais os argumentos de que os LGBTQ são uma ameaça à instituição familiar.
Até há muito pouco tempo atrás, a família homoafetiva era absolutamente ignorada por
todos, inclusive pela justiça brasileira. No início dos anos 2000, essa situação começa a
mudar e vivemos uma crescente abertura ao debate público das questões de gênero e
sexualidade, com algumas importantes conquistas no campo jurídico. Porém, antes que
pudéssemos consolidar mais efetivamente uma cultura de igualdade de direitos e respei-
to à diversidade, eis que as ondas de retrocesso social e político retornam com seus
discursos falso-moralistas e hipócritas e suas práticas que trazem se volta a ameaçadora
sombra fascista. Enquanto isso, as estatísticas gritam para o mundo inteiro que o Brasil
é o mais triste recordista dos crimes de abuso e violência contra gays, trans, mulheres e
crianças...
Até o momento, o projeto inclui o livro, o site (www.nomesdoamor.com) e o vídeo de
making-of https://www.youtube.com/watch?v=Q17eRYc3KR8. No site é possível visu-
alizar o livro em formato PDF, mas se fizer o download, a resolução é melhor e mais
adequada à leitura dos textos. Temos também uma página no Facebook (www.face-
book.com/nomesdoamor.lgbt).

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Joana e Ique

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Dalia e Eva

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Vlad e Beto

Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018


Robson e Steve

Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018


Cláudia e Flávia

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Fronteiras do corpo
e o desejo

Cris Cabus

As obras ora apresentadas – dois desenhos da série Andróginos e o pastel seco Tirésias
– fazem parte de uma coletânea de imagens que buscam estabelecer novas interpreta-
ções, formas de ver e sentir o corpo como protagonista de experiências geradoras de
subjetividades que transcendem as fronteiras do sexo propriamente dito. Transcendên-
cia abre espaço para conhecimentos de naturezas múltiplas e, assim como no mito de
Tirésias, aquele que vivenciou os dois sexos como um andrógino, adquirindo sabedoria
pela transformação, podemos compreender e ampliar os conceitos de sexualidade para o
de gênero ao sermos capazes de conceber o corpo diluindo as fronteiras dele mesmo.
Nesse sentido, quando os conteúdos teóricos de feminilidade e masculinidade tornam-
-se incertos, quando se dissolvem esses estereótipos, amplia-se a consciência do sujeito
em se re-conhecer dentre as tantas possibilidades de gênero, transcendendo inclusive as
formas variadas e disponíveis de desejo dessa condição.

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Da Série Andróginos (1.2) - desenho grafite 30cm x 42cm

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Tirésias - desenho em pastel seco 42cm x 60cm

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Por trás das portas

Ana Paula Silva &


Thaddeus Blanchette
Os megaeventos esportivos atraem acusações de todo tipo, mas o mais tradicional e
divulgado é que eles aumentam a "exploração sexual" em suas cidades sedes. A previsão
emitida pelas autoridades federais, estaduais e municipais era que a Copa do Mundo de
2014 aumentaria entre 30-200% os casos de "exploração sexual", "tráfico de mulheres",
e a "exploração sexual de crianças" no Rio. Zero casos desses crimes foram relatados às
autoridades cariocas durante os jogos. De fato, o comércio sexual na cidade sofreu uma
queda de em torno de 15%, de acordo com as pesquisas feitas pelo Observatório da
Prostituição da UFRJ. Eis porque o comércio do Centro - onde tem a principal concen-
tração de bordéis no Rio - fechava por volta de duas vezes por semana durante a Copa,
em função dos Jogos da Seleção ou jogos no Maracanã.
Aqui podemos ver uma amostra das +/-90 casas e pontos de prostituição no Centro do
Rio que fecharam suas portas durante a Copa por falta de clientes.

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Portas de bordéis

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Portas de bordéis

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Portas de bordéis

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“para enxoval de casamentos plurais”
Suely Farhi
A primeira versão deste trabalho
foi feito para a Galeria Camelô
no início dos anos 2000. São
estudos para bordados para
enxoval de casamento grupal,
vários conjuntos pluri-sexuais,
em relações cíclicas com possi-
bilidades infinitas. É uma ironia
a institucionalização dos relacio-
namentos. Tudo pode entrar
dentro do sistema. Cada vez a
linha de fuga fica menor. Amor e
sexo como base de cada indiví-
duo, como base de tudo! Viva o
amor! Vivam os sexos!

Manipulação digital.
Tamanho A4.
2010 / 2018

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Fêmeas agressivas

Neli de Almeida

As mensagens veiculadas nas pichações em espaços públicos sempre querem dizer


muita coisa! Aliás, estão ali para isso: dizer, manifestar algo para um público ampliado.
Essa manifestação chamou muito a minha atenção por ser um recado direto: fêmea
agressiva respeita a mina. Em uma simples frase estão lá indicadas algumas posições.
Uma ideia de mulher, ou melhor dizendo, várias ideias de se ver e dizer a mulher. Haverá
pelo menos uma fêmea e uma mina. A mulher agressiva é lançada ao reino animal e sua
condição de espécie humana aparece: a fêmea. A fêmea agressiva deve respeitar a mina.
Aí outra representação da mulher associada a uma necessidade de ser protegida e
respeitada. Podemos analisar que é uma frase que expulsa as mulheres de si mesmas. Na
condição de fêmea ou de mina parece que o legislador anônimo (ou a legis- ladora
anônima) já sabe exatamente como essas mulheres devem se comportar e a que tipo de
reino pertencerão em função de seu comportamento, se à natureza na condição de "fêmea
agressiva" ou à cultura na condição de "mina". Contudo, ambas estarão coabitando
naquele transporte público, e daí a necessidade de uma legislação apropriada para colocar
cada uma em seu lugar!

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Menina Mulher da Pele Preta
Lene Gil &
Amanda
Sarmento

Menina Mulher da pele preta é um projeto que quer mostrar a diversidade de mulheres
negras que existem. Numa sociedade onde a mídia impõe um padrão estético a ser segui-
do, as mulheres negras são as mais atingidas por não preencherem esse estimado padrão.
É importante que todas as mulheres negras possam se ver representadas com essas fotos,
se reconhecer, se espelhar, e perceber que há beleza na diversidade e que precisamos
descontruir essa bobagem que “toda preta é igual” porque nós somos únicas e somos
bonitas, sim! Não precisamos nos encaixar em nenhum padrão. Cada uma com seus
traços, seu peso e seu estilo de lidar com o mundo.
Cerca de trinta mulheres negras participaram das fotos que foram expostas, poucas delas
se conheciam de fato. O que as uniu durante a execução do projeto foram suas experiên-
cias de vida semelhantes. A mesmas inseguranças com a aparência, as mesmas crises
durante a infância...
Cada vivência contada unia e fortificava as mulheres que estavam envolvidas nesse
projeto, um laço foi criado, de repente todas pareciam amigas intimas. As fotos foram
feitas de maneira amadora e em um estúdio improvisado, porém já se via o objetivo do
projeto sendo alcançado durante o processo de fotografia.
O reconhecimento de que não estamos sós na luta é um instrumento importante para o
empoderamento feminino. Serve como espelho, reflexo, inspiração do que somos e do
que podemos ser não só esteticamente, como também intelectualmente e de diversas
outras formas.

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Pluralidade como resistência:
luta estética, visualidades subversivas
Agrippina R. Manhattan
curadoria
Quando fui convidada a pensar uma curadoria que dialogasse com a questão de gênero
fique extremamente emocionada. Pensei em todos as dificuldades que o meu corpo e
outros como o meu passam. Falo corpo, pois gênero pra mim é sentido na pele. Lembrei
que o Brasil é o país que mais mata travestis no mundo e o quão curioso era que coubes-
se a uma travesti elaborar um projeto como esse. Fiquei pensando na potência que havia
nessa ironia. E foi da força dessa potência que escolhi os trabalhos dxs 6 artistas que
integram essa seleção. Nela os trabalhos se enlaçam criando ressignificações e questio-
namentos que a todo momento trazem à tona a pergunta: o que pode um corpo? Ou
melhor, reformulando com minhas palavras essa frase deleuziana: Até onde pode ir o
corpo? Até onde os corpos à margem podem ir? Até aonde eu posso ir?
Cada um dos trabalhos elabora questões acerca de uma subjetividade e das marcas que
ela inflige neles. Homem, Mulher, Travesti, Cis, Trans, Negra, Branca. Rótulos que
limitam. Identidades que se afirmam. Todos são jovens artistas que experimentam
cotidianamente a rea-lidade dos corpos desviantes. Artistas cujo trabalho porventura
corre o risco de ser lido rasamente, devido a perpetuação dos estereótipos que os
marcam. No entanto, aqui, eles aparecem totalmente cientes deste cenário e muitas
vezes operam dentro de sua lógica para subvertê-lo.
Esses trabalhos trazem para o concreto as questões debatidas nos estudos de gênero,
questões que esses artistas sentem em primeira mão. A proposta da exposição me anima
na medida em que podemos demonstrar que o gênero é mais que um debate acadêmico,
é uma questão de luta e principalmente de vida. Na academia ou na vida os corpos são
políticos e estamos constantemente lidando com os mais diversos atravessamentos.
Afinal, não podemos falar de gênero sem falarmos de raça, condição social e todos os
demais fatores constituintes da subjetividade plural dos indivíduos. Foi o que tentei
fazer nesta breve seleção de trabalhos.

artistas
Giorgia Narciso
Beatriz Lopes
Mateus A. Krustx
Bia Kalutor
Victor Oliveira
Nelson Almeida
.

L2 udere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018 109
Hermaphroditus, 2015, Giorgia Narciso
Lápis sobre papel, Coleção da Artista

5Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018


A origem do nude,2015, Beatriz Lopes. Fotografia manipulada digitalmente.

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Licantropia, 2017, Mateus A. Krustx. Vídeo: http://vimeo.com/225520827.

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Não me dão emprego
Não me dão possibilidades
Não nos dão chance a oportunidade
Não nos dão chance a saúde
Não nos dão chance a educação
E depois querem o currículo na mão

Não dá
Fui expulsa da escola por desobediência
Mas ainda assim sei ler e escrever
Sou inteligente e aprendo rápido
Por isso ainda estou viva

Viva
Vivaaaaaa-
aaaaaaaaa Obrigada pela atenção
Sem Título, 2018, Bia Kalutor
Poesia. Coletivo Xíca Manicongo

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Um dia eu vi a lua, 2017, Victor Oliveira. Fotoperfomance

Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018


Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018
Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ
O close da bicha preta, 2017, Nelson Almeida. https://www.youtube.com/watch?v=yyoYwRgYFqo&t=77s
Sobre @s artistas
Alice Miceli

Nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, Brasil, onde atualmente mora e trabalha. O trabalho de Miceli se
aplica a viagens investigativas e pesquisas históricas para traçar as manifestações virtuais, físicas e cultu-
rais dos traumatismos infligidos nas paisagens sociais e naturais. Seu trabalho foi amplamente divulgado
em locais que incluem a Bienal de São Paulo, a Galeria Nara Roesler, em São Paulo e a Galeria Max
Protetch, em Nova York. Miceli expôs no Japan Media Arts Festival, em Tóquio, o festival TRANSI-
TIO_MX, na Cidade do México, o Transmediale Festival, em Berlim e o Centro ZKM, em Karlsruhe. Foi
ganhadora de prêmios, como o Prêmio PIPA, no Rio de Janeiro e o Prêmio Cisneros Fontanals Grants and
Comissions Award, em Miami. https://alicemiceli.works/

Amanda Sarmento
Fotógrafa amadora e idealizadora do Projeto “Menina Mulher da Pele Preta”, Amanda Sarmento é gradu-
anda em Ciências Sociais na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Co-fundadora do
primeiro coletivo de mulheres negras da UFRRJ – Coletivo de Mulheres Negras Alice Bruno. Produziu e
dirigiu o Documentário “Mama África” e atualmente participa da pesquisa O Personagem Negro na
Literatura Infanto Juvenil Afro-Brasileira. https://www.facebook.com/Menina-Mulher-da-Pele-Preta-
-917103995046554/

Ana Kiffer
Professora Associada da Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio,
escritora, colunista da Revista Pessoa, curadora da Exposição ‘Cadernos do Corpo’ (CCJF, 2016), uma
das fundadoras da Revista DR, pesquisadora da obra do francês Antonin Artaud, vem desenvolvendo há
muitos anos uma investigação dos diversos modos de relação entre os corpos e a escrita. Autora dos livros
A punhalada [poesia], (7Letras, 2016, coleção Megamini), Antonin Artaud (EDUERJ, 2016), A Perda de
Si (org.) (Rocco, 2017) e das coletâneas Sobre o Corpo (7Letras, 2016), Expansões Contemporâneas –
literatura e outras formas (UFMG, 2014), Experiência e Arte Contemporânea (Ed. Circuito, 2013), entre
outros artigos e ensaios

Ana Paula Silva e Thaddeus Blanchette


Ambos têm escrito extensamente sobre prostituição, turismo sexual e tráfico de mulheres no Brasil para
revistas acadêmicas e populares no país e nos Estados Unidos. Em suas pesquisas, eles têm mapeado a
indústria do comércio de sexo e do turismo sexual do Rio. Co-fundadores do Observatório da Prostitui-
ção, um núcleo de extensão e pesquisa que opera na Universidade Federal do Rio de Janeiro, são também
representantes nos conselhos de combate ao tráfico de pessoas no Brasil e no Rio de Janeiro da associação
Davida – organização local pelos direitos das prostitutas e no combate à estigmatização das profissionais
do sexo. Essa foi a primeira oportunidade de apresentar visualmente parte dessas pesquisas. Ana Paula da
Silva é professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Thaddeus Blanchette atualmente é
professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Catu Gabriela Rizo


Cineasta, fotógrafa e pesquisadora pelo Programa de Pós-graduação de Cultura e Territorialidades da
UFF. Seu primeiro longa-metragem "Com o terceiro olho na terra da profanação" foi premiado na Mostra
do Filme livre e circulou em vários cineclubes e festivais. Este ano, Catu Rizo está desenvolvendo um
projeto multimídia instalativo "Uma câmera na mão e Sertão mulher da Baixada na cabeça". https://me-
dium.com/@caturizo

Cris Cabus
Nasceu no Rio de Janeiro em 1994. Artista-pesquisadora, graduanda do curso de Artes Visuais da Escola
de Belas Artes da UFRJ, desenvolve uma pesquisa que se refere à ocupação dos espaços pelas mulheres,
articulando-se de modo a subverter a ideia do corpo feminino como um território de livre ocupação.
https://www.facebook.com/Atelier-Cris-Cabus-252157507961/

Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018


Sobre @s artistas
Diogo Callil

Fotografo, Diretor de Arte e de Criação, formado em Belas Artes pela USP, desenvolveu sua carreira na
área de publicidade. Com passagens em agências de médio e grande portes de São Paulo, veio para o Rio
de Janeiro após um período de um ano em Arraial d'Ajuda, como proprietário e "chef de cuisine" de um
pequeno bistrô. No Rio de Janeiro, juntou-se à equipe de criação da RedCafé Comunicação, emprestando
o seu tempero criativo. Instagram: @diogocalil

Junia Azevedo
Formada em comunicação social pela PUC-RJ, Júnia Azevedo trabalhou com criação publicitária por 11
anos, em diversas agências de publicidade no Rio de Janeiro. Depois migrou para as áreas de Marketing
e de Comunicação. Atualmente, é assessora de imprensa na área de cultura e arte. Em 2014, publicou seu
primeiro romance, O Ser-se, que descreve o processo de remontagem da identidade de uma mulher, a
partir de um profundo processo de psicanálise. O livro desdobrou-se em um projeto artístico, no qual a
personagem ganhou corpo a partir de intervenções em bonecas.

Kita Pedroza
Fotógrafa e cientista social, formada em Jornalismo (UFRJ, 1995), com pós-graduação em Fotografia
como Instrumento de Pesquisa nas Ciências Sociais (UCAM, 2001) e mestrado em Sociologia e Antropo-
logia (UFRJ, 2005). Atualmente, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UERJ,
2015). Como fotógrafa independente, concentrou sua atividade entre o fotojornalismo, a fotografia
institucional e a documentação de temáticas sociais, manifestações culturais e artísticas. Ao longo de treze
anos, dedicou-se à coordenação de projetos de comunicação e Direitos Humanos em favelas cariocas.
http://kitapedroza.com/

Lene Gil
Fotógrafa amadora e idealizadora do Projeto “Menina Mulher da Pele Preta”, Lene Gil é graduanda em
Ciências Sociais na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Produziu e dirigiu o Docu-
mentário “Mama África” e trabalha como arte-educadora voluntária no Teatro Mário Lago, localizado na
Vila Kennedy. É produtora de eventos e DJ. https://www.facebook.com/Menina-Mulher-da-Pele-Preta-
-917103995046554/

Martha Niklaus
Artista Visual com formação em Arte Educação, trabalhou 30 anos nos museus do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, na área educativa e de exposições. Criou e dirigiu por 10 anos a Galeria do
Lago, no Museus da República (RJ). Deste os anos 80 participa de mostras no Brasil e no exterior. Ganhou
uma série de prêmios, sendo o último, Redes de Artes Visuais da Funarte - 12ª edição, em 2015.
https://www.marthaniklaus.com/

Neli de Almeida
Formada pelo Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é Mestre em Psicologia
Social e das Organizações pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - ISCTE - Lisboa,
Portugal, e doutora em Serviço Social da PUC-Rio. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio de Janeiro. Coordenadora do Projeto de Incubadora Tecnológica de Cooperativas
Populares - ITCP/campus Realengo-IFRJ, apoiado pelo edital 89/2013-MTE/Senaes-CNPq. Atua nas
áreas de Política Educacional de Extensão, Reforma Psiquiátrica brasileira, direitos humanos dos pacien-
tes psiquiátricos e pessoas com deficiência, saúde mental e economia solidária através da arte e do artesa-
nato. Fotógrafa nos tempos vagos.

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Sobre @s artistas
Silvana Andrade

Artista visual e professora. Doutora em História pela Fundação Getúlio Vargas – FGV/CPDOC desenvol-
vendo pesquisa sobre gênero e Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais pela mesma instituição.
Graduada em Administração de Empresas pela UFRRJ. Autora do livro “Eu sou uma Pessoa de Tremendo
Sucesso” sobre trajetórias e representações de mulheres executivas.
https://silvanarandrade.wixsite.com/arte

Simone Rodrigues
Artista visual, historiadora e curadora independente. Mestre em História Social da Cultura (PUC-Rio),
diretora na NAU Editora e professora na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Trabalha há mais de 20
anos com projetos que articulam ensino, produção e mostras de arte e fotografia. Realizou pesquisa e
curadoria da exposição A Pintura em Pânico – fotomontagens de Jorge de Lima. É autora do projeto
Nomes do Amor – o amor que ousa dizer seu nome, com retratos e histórias de casais LGBTQI. www.si-
monerodrigues.com.br

Sueli Fahri
Artista e arquiteta, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Sua pesquisa abrange o espaço com as suas multifce-
tadas abordagens: territorialidades, escrita dos objetos, objeto-escrita e, objetos relacionais. Realizou
trabalhos em instituições culturais, museus e na rua. Organiza vários grupos de pensamento e de ações em
seu atelier, como o Leilão do Vade Retro Abacaxi e os in}ventos. Recebeu prêmios tal como no X Vitor
Meirelles em Santa Catarina e o prêmio Projetéis Artes Visuais da FUNARTE. Realizou sete exposições
individuais e mais de 150 exposições coletivas no Brasil e no exterior, tais como Bienal MercoSul, TRIO
– Bienal Tridimencional, Antologia de Poesia Visual Latino-Americana em Cuba, Obra Nome em Portu-
gal e tem publicações em revistas brasileiras e internacionais. www.suelyfarhi.com

Tales Frey
Artista transdisciplinar, vive e trabalha entre Portugal e o Brasil. Realiza obras amparadas tanto pelas artes
visuais como cênicas, sendo que o ritual, o corpo e a performatividade são motes de especulação tanto nas
suas pesquisas acadêmicas em âmbito de suas formações (graduação, mestrado, doutorado e pós-doutora-
do) como nas suas práticas criativas apresentadas em mais de vinte países. Tales é membro fundador da
Cia. Excessos e da eRevista Performatus. www.ciaexcessos.com.br e www.performatus.net

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Sobre @s artistas
Agrippina Roma Manhattan

Artista, curadora, pesquisadora e travesti. Nascida em São Gonçalo, seus trabalhos dialogam com
questões de gênero, instituições e identidades. Aluna da Escola de Belas artes da UFRJ, já integrou expo-
sições coletivas como BA Photo/Tijuana em Buenos Aires (2017), Esquenta para Jack Smith (Capacete,
curadoria de Andreas Valentim e Marcos Bonisson 2017), Carpintaria para Todos (Fortes D`Aloia e
Gabriel, 2017), PEGA – encontro de alunos de artes do Rio de Janeiro (Centro Municipal Hélio Oiticica,
2017). Como pesquisadora já participou Do Seminário Contingências promovido pelo PPGARTES-UERJ
(2017) e do XII Congresso de História da Arte da Unicamp (2017).

Beatriz Lopes
Essa jovem carioca, estudante de Gravura na UFRJ, trabalha com autopublicação desde 2014. Em 2017
começou uma pesquisa com performance de gênero em ambientes virtuais interativos. Utilizando selfies
e informações descartáveis de plataformas sociais procura criar uma mitologia a partir de clichês contem-
porâneos. Além de zines trabalha também com gravura, pintura e intervenção urbana.

Bianca Kalutor
Mulher trans, negra e poeta. Integrante do Coletivo Xica Manicongo, coletivo trans de reafirmação da
cultura nordestina que se apresenta a partir de uma ocupação LGBT interseccional da Feira de São Cristó-
vão

Giorgia Narciso
Essa jovem travesti carioca é graduanda em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Corpo,
imagem, beleza, gênero, dinâmicas de relações, resgastes sociais, políticas, moda e afetos são as formas
através das quais usa sua arte para se colocar no mundo.

Mateus A. Krunstx
Nascido em Mutum, interior de Minas Gerais e residente no Rio de Janeiro desde 2001, sempre teve
grande aptidão para arte. Ainda assim, sua produção artística começou a tomar forma somente em 2015,
quando já cursava Artes Visuais na UERJ. Nesse período, junto com alguns amigos deram forma ao
Coletivo de “ações estético-políticas”, “Seus Putos”. Essa experiência, resultou em algumas produções
coletivas para, depois, se tornar uma espécie laboratório de pensamento e discussão sobre os processos
individuais.

Nelson Almeida
Estudante de artes visuais, esse jovem carioca usa das provocações do seu corpo no mundo para materiali-
zar produções em diversas possibilidades na arte. Esse corpo, permeia entre o medo de estar presente e a
vontade de holofote. A pressão da vitória, os problemas na academia e a curiosidade do marginal imagéti-
co, estão inseridos numa categoria maior nessas relações, a negritude como necessidade, junto com o
medo da limitação desse espaço.

Victor Oliveira
graduando em Dança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, atua como intérprete-bailarino da
Companhia de Dança Contemporânea da mesma universidade. Sua trajetória se deu na investigação e
criação em dança, através da pesquisa em linguagens coreográficas, buscando redimensionar o lugar do
corpo que dança. Seus trabalhos mais recentes são: Missa do Corpo, Mycobacterium e Camélia, que
investigam questões de gênero, o corpo andrógeno e a possibilidade de criar novos corpos alterando a
própria imagem corporal.

Ludere Revista da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRuralRJ Volume 1, n. 5, Janeiro de 2018

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