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lusofonias
nº 19 | 18 de Novembro de 2013
COORDENAÇÃO:
Ivo Carneiro de Sousa
TEXTOS:
Guiné-Bissau:
• Crises recenetes
e uma longa história por contar
• Macau e Guiné-Bissau:
um longa história entres
escravos e arroz
• O Reconhecimento da
República Popular da China
e a transferência para Taiwan
Macau China
e
• As relações actuais entre a
China e a Guiné-Bissau: pouco
a
comércio, investimento limitado
e cooperação generosa
• i ka ten problema (não tem
problema)
Dia 25 de Novembro:
Aquilino Ribeiro:
no centenário de
história,
O Jardim das Tormentas
APOIO:
muita
pouco
desenvolvimento
Guiné-Bissau, Macau
que, em 1753, originou nova capitania, mas já
em período de progressiva presença francesa na
região. Meio século decorrido, também o Reino
Unido procurava instalar-se pela Guiné, reivin-
ea
China: muitas histórias, dicando a tutela sobre a ilha de Bolama, o arqui-
pélago dos Bijagós e o litoral de Buba. Apenas
tardiamente, em 1870, com a inetermediação
diplomática do Presidente dos Estados Unidos,
A história do país independente que é hoje a todos os rios africanos eram afluentes do Nilo, Lisboa, criticado pelo republicanismo nascente,
Guiné-Bissau está largamente por fazer. Mui- cortando a África de Norte a Sul a partir das suas suscitando mesmo a única intervenção crítica
tos manuais e livros que se querem de história fontes nas chamadas montanhas da Lua. Apesar conhecida de Alexandre Herculano durante o
continuam a insistir – mal e muito fragmentaria- dos textos e mapas trazidos da Itália por D. Pe- curto período de tempo em que foi deputado às
mente – em sumariar com excessiva brevidade dro, testemunhando o influxo de saber oriental, Cortes da monarquia constitucional.
a história do país como uma herança ou legado colocarem muitas dúvidas à ciência ptolomaica, Estes acordos, conferências coloniais e afins
coloniais portugueses, vazados nessas listas de incluindo a sua crença de que o Índico era um tinham naturalmente muito pouco a ver com as
nomes e datas em que se confundem navegado- oceano fechado e as zonas equatoriais inabita- populações locais e o seu efectivo domínio que
res com comerciantes, negreiros com lançados, das, a ciência náutica reunida pelo infante D. a fragmentária presença portuguesa pela Gui-
portugueses com outros europeus e até africa- Henrique continuava tão agarrada ao que se co- né demorou décadas a consolidar política e ad-
nos, mais exploração muita para promessas de nhecia da geografia de Ptolomeu como a vários ministrativamente. As campanhas militares su-
civilização pouca. Recorde-se que a região li- mitos medievais. cederam-se tanto
toral em que hoje se encontra a Guiné-Bissau Em termos mais como os elogiados
foi sendo identificada e percorrida por várias precisos, felizmen- heróis coloniais da
embarcações portuguesas ainda na década de te, a crónica oficial (...) Escravos negros foram propagação da ci-
1440, vinte anos antes da morte, em 1460, do de Zurara esclarece
famoso e muito mitificado infante D. Henrique terem sido os rios
de imediato comprados a vilização ocidental
como João Teixeira
que poderoso duque de Viseu era, mas de Sa- da Guiné e as ilhas traficantes muçulmanos, Pinto e o seu nati-
gres passou à história que nos impunham sem de Cabo Verde os vo ajudante Abdul
reticências e quaisquer críticas desde os ban- primeiros espaços enquanto intérpretes Indjai, seu auxi-
cos das antigas escolas primárias. Estas costas de frequência eco-
africanas haveriam mesmo de receber a atenção nómica portuguesa
e escribas locais foram liar e aliado, logo
a seguir revoltado
de uma crónica célebre, mas polémica, da au- em busca na costa forçados a trabalhar para as e preso, episódio
toria de Gomes Eanes de Zurara que, intitulada ocidental africana dessas estratégias
Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné de ouro, escravos e, aventuras dos tratos lusos. do dividir para rei-
(em versões mais recentes, Crónica dos Feitos mais importante ain-
da Guiné), é arranjadamente responsável por da, intérpretes al-
Alguns régulos locais foram nar com que o co-
lonialismo europeu
vazar em exclusividade os chamados primeiros fabetizados capazes convertidos ao cristianismo, por toda a África
descobrimentos portugueses na figura tutelar de se exprimirem em inventou, mani-
do infante D. Henrique, assim marginalizando árabe e nas línguas firmando alianças com os pulou e excitou
vários outros protagonistas grupais e individuais de comércio local
coevos, incluindo o seu malogrado irmão, esse designados na cróni-
portugueses com quem dramaticamente
divisões e afron-
infante D. Pedro derrotado na tristemente céle- ca de Zurara por tur- intermediavam o comércio tamentos étnicos.
bre batalha de Alfarrobeira, mas responsável por gimãos. Assim, por Tão tarde como em
trazer para Portugal conhecimentos, geografias 1446, Nuno Tristão, escravista(...) 1936, a revolta dos
e cartografias do Renascimento sem os quais pa- morto em rio gui- bijagós de Canha-
rece mais difícil organizar as viagens marítimas neense, Álvaro Fer- baque continuava a
que exigiam ciências e técnicas sérias. A crónica nandes, Diogo Gomes e Cadamosto exploraram ilustrar as dificuldades muitas da efectiva domi-
de Zurara, descontado o exagerado panegírico sistematicamente as regiões costeiras e fluviais nação colonial portuguesa por terras da Guiné.
encomendado do infante D. Henrique, descre- da Guiné. Escravos negros foram de imediato Tiveram de se fazer, como convinha, entre 1925
ve pormenorizadamente a chegada de explo- comprados a traficantes muçulmanos, enquan- e 1940, as primeiras obras de fomento primá-
radores e embarcações portugueses às regiões to intérpretes e escribas locais foram forçados rio com a abertura de algumas estradas, pontes
da Senegâmbia na década de 1440, incluindo a a trabalhar para as aventuras dos tratos lusos. e cais no que então se consagrava como Guiné
identificação do grande rio Senegal, longo de Alguns régulos locais foram convertidos ao cris- Portuguesa, ao mesmo tempo que se entregava
quase 1800km. Um achamento que parece ter tianismo, firmando alianças com os portugueses a maior parte do seu comércio interno e exter-
excitado o próprio infante que logo modificou com quem intermediavam o comércio escravis- no, largamente centrado no amendoim, à pode-
a iconografia da sua famosa divisa do “talant ta. Apesar destas aventuras ainda quatrocen- rosa CUF através da Casa Gouveia instalada em
de bien faire” com a inclusão de duas vistosas tistas, a instalação lusa em solo da Guiné faz- Bissau. O que obrigou, desde 1941, a sediar por
pirâmides. D. Henrique e os servidores da sua -se muito mais tarde em plena monarquia dual aqui a capital da colónia em detrimento de Bo-
opulenta casa ducal, detentora de ricos mono- filipina, no Cacheu, à roda de 1588, por aí se lama. Nove anos mais tarde, em 1950, organiza-
pólios nas pescas, no sal, no sabão e no comér- erguendo uma fortaleza para apoiar o trato de -se um muito precário censo de populações em
cio ultramarino, acreditavam que, alcançado o escravos, sendo preciso aguardar por 1630 para constante movimento e normalmente fugidias
rio Senegal, estavam abertas as portas para se se organizar uma primeira capitania largamen- de tentativas de controlo demográfico e fiscais.
chegar ao Nilo e às especiarias orientais distri- te responsável pela fixação comercial em Farim Apuraram-se então 512.255 residentes, mas
buídas a partir do Cairo para as grandes cidades e Ziguinchor, mais a circulação na foz do Casa- apenas 8320 conseguiram chegar à categoria de
italianas que, depois, as vendiam mais do que mansa, Geba e Buda. O comércio de escravos civilizados (2273 brancos, 4568 mestiços, 1478
lucrativamente nos vários mercados europeus. permanecia o motivo principal destes esforços, negros e 11 indianos), mas entre os quais 3824
O infante e os seus continuavam a acreditar apoiados a seguir com a edificação de uma for- eram analfabetos (541 brancos, 2311 mestiços e
na vetusta geografia ptolomaica ensinando que taleza em Bissau, pelos finais do século XVII 772 negros).
As
pelo menos, quatro versões diferentes do dos ao exílio em presídios guineenses. Os
ataque holandês a Macau: os relatos pro-
pagados pelos jesuítas, a informação do
primeiros três chineses de Macau presos
por crimes de ofensas corporais enviados relações actuais
pouco comércio, inv
capitão-geral, as queixas dos grandes co- para a Guiné documentam-se em 1822,
merciantes que dominavam o Leal Sena- depois encontrando-se notícias mais re-
do e o muito detalhado relatório da Com- gulares. Algumas com impacto económi-
panhia Holandesa das Índias Orientais, co na Guiné. Assim, o Anuário da Guiné
a célebre VOC que financiou a frustrada Portuguesa, do ano de 1948, conta por-
investida contra o estabelecimento por-
tuguês no Delta do Rio das Pérolas. Fun-
dada em 1602, primeiro exemplo, segun-
menorizadamente a introdução do cultivo
e comercialização do arroz na Guiné por
dois chineses presos em Macau. Chamados
A pesar dos muitos riscos políticos, económicos e sociais que
infelizmente o presente da Guiné-Bissau, a China tem p
ampliar a sua relação comercial e, sobretudo, a expressão qua
do Marx, de uma grande empresa capita- Alassam e Catcham, chegaram ao porto de e qualitativa da sua cooperação num período em que, após
lista, a VOC era companhia com muitos Bolama vindos de Macau em 1902, presos anti-constitucional de 2012, depondo um governo democrati
accionistas e capitais privados, muitas e exilados, acusados de homicídio e (qua- eleito, o país africano de língua oficial portuguesa cavou ai
embarcações e abundantes mercenários se se adivinhava...) jogo clandestino. Os fundo o seu isolamento internacional e sentiu a pressão asfixi
dos vários cantos da Europa. Estava, por dois andaram depois pelos matos de Tom- bretudo dos EUA, na identificação e captura dos principais r
isso, obrigada a relatar com o máximo bali, fixaram-se em Catió, começaram a veis que, nas forças armadas e no estado, precipitaram o terr
detalhe investimentos, lucros, activida- cultivar arroz e rapidamente a vendê-lo plataforma giratória do narco-tráfico. A detenção pelos EUA d
des comerciais e, naturalmente, sem- nos mercados de Bolama e Bissau. chefe da Marinha da Guiné-Bissau, Bubo Na Tchuto, no início
pre que ocorriam, prejuízos. O malogra- O envio destes chineses indesejáveis deste ano em águas internacionais é mesmo mais do que u
do ataque a Macau deixou a companhia em Macau para as colónias portuguesas era Uma situação que, ao contrário do que muitas vezes se insinu
com perdas significativas, o que implicou processo recorrente e geral. Chegou mes- cupa também a China que experimentou problema semelha
relatório pormenorizado, identificando mo a suscitar reflexões mercantilistas so- atrás em Myanmar, logo colaborando no desenvolvimento da s
mesmo os responsáveis pela mal sucedida bre a utilidade do seu uso no fomento agrí- de narco-tráficos que ameaçavam as suas próprias fronteiras.
acção. Assim, cruzando as quatro versões cola e industrial colonial. Figura poderosa Seja como for, os volumes dos intercâmbios comerciais b
actualmente disponíveis, com a excepção e dominante das duas primeiras décadas do entre a China e a Guiné-Bissau são ainda, desde 2003, tão
do relato pouco verosímil dos jesuítas, século XIX macaense, o muito conservador como extremamente favoráveis às exportações da RPC. Assim,
todas as outras três referem com diferen- ouvidor Manuel de Arriaga chegou a escre- ano, o comércio bilateral chegava a inexpressivos 1,2 milhõe
tes acentos a participação aguerrida de ver sobre as vantagens de introduzir a plan- lares, descendo em 2004 para pouco mais de 600 mil, descen
escravos africanos nos combates que, em tação de ópio na Guiné e em São Tomé. O mais em 2005 para 579 mil e, em 2006, para 568 mil, subind
terra, desbarataram a invasão holandesa. seu dedicado amigo e apoiante, o coronel mente em 2007 para 745 mil, saltando significativamente em 2
A versão muito detalhada da VOC vai mais de artilharia José Aquino de Guimarães e muito escassos 2,4 milhes de dólares. Em 2010, as relações co
longe e atribui a derrota das suas orga- Freitas, antigo governador de Minas Gerais bilaterais continuavam ainda mais do que limitadas: as exp
nizadas hostes à ferocidade dos escravos e reformador militar das esparsas tropas da Guiné-Bissau para a China valeram 3.438.284 de dólares (
africanos que, embriagados e drogados macaenses, deixou-nos na sua Memória so- total), enquanto as importações representaram o triplo cheg
pelos portugueses, lutavam como ani- bre o território, impressa em Coimbra, em 9.415.767 de dólares. Em 2011, o comércio bilateral foi apr
mais selvagens, destacando-se na versão 1828, um conjunto de propostas para o de- mente de 17 milhões de dólares americanos, com exportações
holandesa os ferozes fulas da Guiné. Em senvolvimento comercial de todas as coló- no valor de 13 milhões de dólares americanos e as importaçõe
consequência, nos dois séculos seguin- nias portuguesas que, através de uma com- né a ficarem-se por 4 milhões. Tendência alargada no ano pas
tes, as várias milícias privadas da grande panhia sediada em Macau, incluía a Guiné, 2012, quando o comércio bilateral se situou em cerca de 22,5
burguesia mercantil de Macau passaram propondo-se a introdução e exploração do de dólares, mas com as exportações guineenses a ficarem-se
a preferir associar escravos guineenses algodão em terras guineenses para que pu- co mais de 1,5 milhões. Em termos gerais, a China exporta p
e macondes do Norte de Moçambique na desse vender-se nos mercados da Ásia e, mente cereais, manufacturas têxteis, motores, veículos de du
vigilância das suas casas, barcos, viagens com a intermediação de Macau, nos mer- e produtos mecánicos e eléctricos, importando quase exclusi
marítimas e negócios que se estendiam cados chineses. Um veradadeiro Fórum de castanha de caju, apesar de ter isentado 442 produtos agríc
do Sudeste Asiático ao Oceano Índico. Os Macau com quase dois séculos de avanço. neenses de taxas de exportação. Interesses e volumes comerci
de
Agostinho Neto
na arquitectura da Nação Literária Angolana
Ideias
A s nações são entidades recentes, susceptíveis de
serem estudadas, estando distantes de ultimar
a sua evolução. Quando colocamos a questão da sua
cultural». Instalemo-nos então na implicação mais
visível deste gesto de leitura, que é reconhecer
que, na Sagrada Esperança, ocorre o gesto funda-
existência, seja ela literária ou não, emergem logo cional da literatura angolana: o da construção da
duas formulações: a que a encara na sua unicida- sua arqueologia, para a equipar de ferramentas ne-
de, e a que a encara na sua irrelevância, por força cessérias que a coloquem no terreno de lutas sim-
da globalização das trocas comerciais, globalização bólicas. Há, portanto, na poética de Sagrada Espe-
M. J. Aires essa que faz emergir no mundo configurações ino- rança o pensamento subjacente de que só o tempo
dos Reis* vadoras em termos políticos, económicos e cultu- outorga a uma nação a força e o poder necessários
rais. Quer dizer, quando falamos de nações, ou es- para que ela possa ser ela própria. Este pensamento
colhemos uma série de casos particulares – e neste estratégico resulta de uma equação simples: o capi-
caso somos forçados tal cultural de uma
a contemplá-las de nação engendra-se
forma justaposta, em sobretudo no tempo
“(...) A relação de unidades separadas e arquivado, transfor-
cerradas, sem relação mado em recursos.
forças é tambem entre elas, sem histó- Agostinho Neto terá
estrutural, devendo rias comuns, sobera- feito deste capital
nas e auto-suficientes temporal (concebi-
nós atentar no –, ou postulamos que a do a partir de pas-
nação é uma unidade sado preservado),
espaço formado pela de medida perimétri- transformado em
ca, uma espécie de riqueza específica,
totalidade dos universos antigualha conceptual uma das duas condi-
que não deve ser le- ções de legitimação
nacionais como um vada a sério. Se adop- de uma nação:
tarmos esta ultima Lá vai ele/o ho-
incomensurável acepção, estaríamos mem/com os olhos
universo de competição libertos de entraves no chão./Vê-se-lhe
antiquadas, que nos o dorso sob a ca-
generalizada. Qualquer confinam a fronteiras misa rota/e carre-
nacionais, aliás cada ga o pesado fardo/
escritor representativo vez mais obsoletas, da ignorância e do
sendo-nos reconheci- temor./Não grita
de um espaço nacional é dos verdadeira cida- seus anseios/no re-
dania global. ceio de perturbar
fortemente delimitado Existe, no entanto, um mundo/que o
uma terceira forma ofusca/com o falso
pelo lugar que ele de colocar a questão, brilho dos seus ou-
próprio ocupa na fintando as duas pers- ropéis./Contudo/já
pectivas que parecem foi senhor/foi sábio/
estrutura mundial, com simétricas: é possível antes das leis de Ke-
recusar a oposição pler/foi destemido/
a qual aliás se defronta, entre o nacional e o antes dos motores
internacional, como termos de uma escolha exclu- de explosão./É dos seus dias de glória/que tenho
enquanto estrutura siva. Mais do que decidir entre o quadro nacional saudade/Saudade de mim […]? (Neto, 1974: 63)
e o panorama global, proponho observar os fenó-
de poder, no momento menos literários (que é o que aqui nos interessa) O RITMO CONSTRUTIVO DO NOVO
à escala nacional, mas a partir do «promontorio» O facto de as nações serem engendradas na base
em que se dá a ler. mundial, se quiser fazer uso de uma metáfora cara da sua antiguidade é prova da luta que as contra-
No entanto, malgrado a Fernand Braudel (BRAUDEL, s/d.: 9). Estou em põem à antiguidade como facto ou como construção.
crer que, por esta via, se compreenderá melhor os É por isso, aliás, que elas se tornam imediatamen-
a proclamações e as fenómenos nacionalistas e literários, ainda que as te objectos de disputa, de rivalidades. A finalidade
produções possam ser inseparavelmente nacionais será só uma: o desígnio de delas fruir. A antiguida-
aparências que se lhes e internacionais. Além disso, mais do que definir a de (como a modernidade) é obviamente uma noção
nação e o nacionalismo como entidades concretas, relativa. Uma identidade não se pode proclamar ou
imprimem, os espaços tente-se, por hipótese – esta palavra é relevante mesmo reclamar “arcaica” a não ser em relação
–, caracterizá-los, antes de tudo, como formas de a outras entidades que se afirmam da mesma for-
nacionais, mesmo crença numa sociedade, esta mesma como forma ma. Em termos históricos Ocidentais, a antiguida-
suprema de identificação. Marcel Mauss mostra, de de um grupo aristocrático deduz-se a partir de
quando se digladiam, aliás, que tal crença nacional é simultaneamente uma estimação (fantasmática, mas fundada numa
não são iguais (...)” interna e externa à nação. Mauss designa-a «cré- crença partilhada) da sua filiação com os Gregos e
dit national», sublinhando que é um sistema circu- os Romanos, por conseguinte da pertença directa a
lar: «l’ ensemble des citoyens d’un Etat», escreve, uma genealogia antiga e nobre. De acordo com os
«forme une unité où l’on a la même croyance dans dados da história, Herder, inspirando-se em James
la mesure où ils ont confiance dans cette unité» Macpherson (1736-1796), terá promovido, a partir
(MAUSS, 1969: 590). do século XVIII, uma nova forma de medir o tempo
Entender a nação como crença colectiva parece na contenda internacional. No seu sistema de con-
estar na base do engendramento da poesia do pen- cepção inédito, será sempre a construção social do
samento de Agostinho Neto. A ser assim, leiamos
Sagrada Esperança como tese da criação de uma
nação, a partir da sua percepção como «artefacto CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE >