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A
Purificação
da
Alma
Compilação dos trabalhos de Ibn Rajab Al-Hanbali, Ibn Al-
Qayyim Al-Jawziyya e Abu Hamid Al-Ghazali
SINCERIDADE ...................................................................................................... 3
A NATUREZA DA INTENÇÃO .............................................................................. 7
A EXCELÊNCIA DA INTENÇÃO ................................................................................... 9
A EXCELÊNCIA DO CONHECIMENTO E ENSINO .......................................................... 9
TIPOS DE CORAÇÃO ........................................................................................ 12
CORAÇÃO SAUDÁVEL ............................................................................................ 12
O CORAÇÃO MORTO ............................................................................................. 13
O CORAÇÃO DOENTE ............................................................................................ 13
SINTOMAS DA DOENÇA DO CORAÇÃO E SINAIS DA SUA SAÚDE.............. 15
OS SINAIS DE UM CORAÇÃO DOENTE ..................................................................... 15
OS SINAIS DE UM CORAÇÃO SAUDÁVEL ................................................................. 15
AS CAUSAS DA DOENÇA DO CORAÇÃO................................................................... 17
OS QUATRO VENENOS DO CORAÇÃO ........................................................... 18
CONVERSA DESNECESSÁRIA ................................................................................. 18
OLHARES DESENFREADOS .................................................................................... 22
DEMASIADA COMIDA .............................................................................................. 24
MANTER MÁ COMPANHIA ....................................................................................... 25
O QUE DÁ VIDA E SUSTENTO AO CORAÇÃO ............................................................ 27
LEMBRANÇA DE ALLAH E RECITAÇÃO DO QUR’AN .................................... 28
PROCURAR O PERDÃO DE ALLAH ................................................................. 32
SÚPLICA ............................................................................................................. 34
BOAS ETIQUETAS AO SUPLICAR ............................................................................. 36
INVOCAR BÊNÇÃOS PARA O PROFETA ﷺ.................................................... 38
REZAR À NOITE ................................................................................................. 40
PASSAR SEM OS PRAZERES DESTE MUNDO ............................................... 42
OS ESTADOS DO EGO ...................................................................................... 48
O EGO EM PAZ ...................................................................................................... 49
O EGO CENSURADOR DE SI MESMO ...................................................................... 51
O EGO QUE INCITA AO MAL.................................................................................... 52
RESPONSABILIZAR O EGO ...................................................................................... 54
OS MÉRITOS DE RESPONSABILIZAR O EGO ............................................................ 59
PERSERVERANÇA ............................................................................................ 60
O SIGNIFICADO DA ESSÊNCIA DA PERSEVERANÇA .................................................. 62
TIPOS DE PERSEVERANÇA ..................................................................................... 65
OS MÉRITOS DA PERSEVERANÇA........................................................................... 68
GRATIDÃO ......................................................................................................... 71
CONFIANÇA COMPLETA EM ALLAH ............................................................... 76
AMOR A ALLAH ................................................................................................. 79
CONTENTAMENTO COM O DECRETO DE ALLAH ......................................... 85
A DIFERENÇA ENTRE CONTENTAMENTO E PACIÊNCIA ............................................. 85
ESPERANÇA EM ALLAH ................................................................................... 88
TEMOR A ALLAH ............................................................................................... 92
AQUELES QUE TEMEM ALLAH................................................................................. 93
OS MÉRITOS DO TEMOR A ALLAH........................................................................... 95
A VIDA DESTE MUNDO ................................................................................... 100
O DANO DO AMOR A ESTE MUNDO ....................................................................... 105
ARREPENDIMENTO ........................................................................................ 110
ARREPENDIMENTO SINCERO ................................................................................ 115
OS ASPECTOS SUBTIS E OCULTOS DO ARREPENDIMENTO .................................... 117
2
Prefácio do Autor
Todos os louvores são para Allah. Nós louvamo-Lo e pedimos
pela Sua ajuda. Pedimos pelo seu perdão e pedimos refúgio n’Ele do
mal em nós mesmos e do mal das nossas acções. Aquele a quem Allah
guia nunca será desviado, no entanto, aquele a quem Allah desvia nunca
será guiado. Testemunho que não há divindade para além de Allah, O
Único, Ele não tem parceiros, e testemunho que Muhammad é o Seu
Servo e Mensageiro, que as bênçãos e paz d’Ele estejam com ele e
com a sua família e companheiros.
Umas das tarefas mais importantes pela qual o profeta desta na-
ção, Muhammad ﷺ, foi enviado, foi a purificação da alma. Allah diz, fa-
lando da sua missão:
1
Tem-se tornado difícil, para nós, beneficiarmo-nos directamente
dos livros de raqa’iq (livros sobre assuntos que afectam as emoções) es-
critos pelas primeiras gerações de estudiosos muçulmanos. A maior
parte deles são livros grandes abrangendo muitos volumes e são difíceis
de acessar pela maioria dos muçulmanos. Para, além disto, serem incluí-
dos, frequentemente, relatos fracos e fabricados. Então, nós compila-
mos uma colecção dos relatos mais confiáveis que nos foram apresen-
tados por alguns dos estudiosos cuja especialidade é estabelecida na
da’wah: Imam Shamsudin Ibn Al-Qayyim, Ibn Rajab Al-Hanbali, e Imam
Abu Hamid Al-Ghazali. É o nosso desejo sincero que este livro seja um
recurso útil e ultimamente seja benéfico no Dia onde nem dinheiro, nem
descendência serão benéficos, pois ninguém beneficiará excepto aque-
les que chegam com um coração puro.
2
UM
SINCERIDADE
A sinceridade é a liberdade das intenções de todas as impurezas
para aproximação de Allah. É certificar-se que as intenções por trás de
todos os actos de adoração e obediência a Allah são, exclusivamente,
para o prazer d’Ele. É a perpétua contemplação do Criador, até ao ponto
de esquecer a criação.
A sinceridade é a condição para a aceitação de Allah das boas
acções feitas de acordo com a sunnah do Profeta ﷺ. Allah ordenou isto
no Qur’an:
1
Sahih, an-Nisa’i, Kitab Al-Jihad, 6/25; Al-Hafidh Ibn Hajar, Fath Al-Qadir, 6/28.
2
Sahih, Ibn Majah; também Ibn Hibban, Mawarid adh-Dham’an, p. 47, por Zaid Ibn
Thabit.
3
“Excepto os Teus servos sinceros, entre eles.”
[38:83]
Foi relatado que um homem virtuoso costumava dizer “Ó ego, sê
devoto e serás puro”. Quando qualquer fortuna mundana, na qual o ego
encontra conforto e na direcção da qual o coração se inclina, penetra na
nossa adoração, então esta prejudica a pureza dos nossos esforços e
estraga a nossa sinceridade. O Homem preocupa-se com a sua boa for-
tuna e afunda-se nos seus desejos e apetites; raramente as suas ac-
ções ou actos de adoração são livres de objectivos temporários e dese-
jos deste tipo.
Por esta razão, foi dito que quem assegurar um momento de pura devo-
ção a Allah na sua vida sobreviverá, pois a devoção é rara e preciosa, e
limpar o coração das suas impurezas é um compromisso exigente.
4
Foi relatado que um homem estava acostumado a rezar na pri-
meira fila na mesquita. Um dia, ele chegou tarde para a oração, então
ele rezou na segunda fila. Sentindo-se envergonhado quando as pes-
soas o viram na segunda fila, ele percebeu que o prazer e satisfação do
coração que ele costumava ganhar ao rezar na primeira fila eram por
causa de ele ver pessoas que o viam lá e o admiravam por isso. Esta é
uma condição súbtil e intangível e as acções estão raramente salvas
dela. Excepto aqueles a quem Allah ajudou, poucos estão conscientes
de tais assuntos delicados. Aqueles que não o percebem, só verão as
suas boas acções aparecer como más no Dia da Ressurreição; estes
são aqueles a quem Allah se referiu nas Suas palavras:
5
Suhail foi questionado: “Qual é a coisa mais difícil para o ego?”.
Ele disse “Devoção, quando o ego não tem a boa fortuna de ser dotado
dela”.
6
DOIS
A NATUREZA DA INTENÇÃO
A intenção de uma pessoa não é a sua expressão oral das pala-
vras “Eu tenho intenção de fazer isto e isto”. É um transbordo do coração
que corre como conquistas inspiradas por Allah. Às vezes é fácil, outras
vezes, difícil. Uma pessoa cujo coração é dominantemente virtuoso con-
sidera fácil invocar boas intenções a maior parte do tempo. Tal pessoa
tem um coração geralmente inclinado às raízes da bondade que, a maior
parte do tempo, floresce na manifestação de boas acções. Quanto
àqueles cujos corações se inclinam para, e são dominados por assuntos
mundanos, eles consideram isto difícil de atingir e até actos obrigatórios
de adoração podem tornar-se difíceis e cansativos.
3
Al-Bukhari e Muslim.
4
Al-Bukhari, Kitab Al-Qadar, 11/499.
7
trás delas são diferentes em níveis de bondade e maldade, e de uma
pessoa para outra.
5
Isto é ilustrado num hadith registado pelo Imam Muslim no seu Sahih, no qual é rela-
tado de Abu Dharr que o Profeta Muhammad ﷺdisse: “Vocês receberão a recom-
pensa por sadaqah, mesmo quando forem íntimos com as vossas esposas”. Os com-
panheiros disseram: “Seremos mesmo recompensados por satisfazer os nossos de-
sejos físicos?”. Ele disse: “Se tivessem relações íntimas proibidas, cometeriam um pe-
cado; da mesma forma, se tiverem relações íntimas permitidas, serão recompensados
por isso”.
O Imam an-Nawawi disse: “Este hadith mostra claramente que acções permitidas tor-
nam-se actos de obediência se há uma boa intenção por trás delas; relações íntimas
tornam-se um acto de adoração se forem acompanhadas por uma das seguintes in-
tenções: acompanhar a esposa, sendo gentil com ela, como Allah ta’Ala ordenou; es-
perar ter, como resultado da relação íntima, descendência boa e virtuosa; guardar a
própria castidade e a da esposa; ajudar a evitar olhares e pensamentos proibidos, ou
relações proibidas; e qualquer outra boa intenção.”
8
A Excelência da Intenção
'Umar Ibn Al-Khattab (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨdisse: “Os melhores actos são:
fazer o que Allah ordenou, ficar longe do que Allah proibiu e ter intenções
sinceras no que for que Allah nos exija”.6
Uma vez, Ibn 'Umar ouviu um homem que estava a entrar no es-
tado de ihram dizer: “Ó Allah! Eu tenciono fazer Hajj e 'Umrah”. Então ele
disse: “Não é verdade que são às pessoas a quem você está a informar
sobre as suas acções? Será que Allah não sabe já o que está no seu
coração?”.7 Isto é porque boas intenções são exclusivamente a preocu-
pação do coração, e não as devemos expressar [com a língua] durante
a nossa adoração.
6
Tahdhib Al-‘Asma’ li-Nawawi, 1/173. Abu Ishaq ash-Shirazi uma vez entrou na mes-
quita para comer, como era costume dele, e percebeu que ele tinha deixado cair um
dinar. Ele refez os seus passos e encontrou-o no chão, mas deixou-o onde estava,
dizendo: “Talvez não seja meu; talvez pertença a outra pessoa.”
7
Al-Bukhari e Muslim.
9
Também, em hadith, o Profeta ﷺdiz: “Quando Allah deseja o
bem a alguém, Ele concede-lhe entendimento do din”.8 Ele também
disse “Allah facilita o caminho para o Jardim para quem seguir um cami-
nho em busca de conhecimento.”9 Viajar no caminho que leva ao conhe-
cimento refere-se a duas coisas: andar realmente num caminho, tal
como andar até ao encontro dos 'ulama; e seguir um caminho metafí-
sico, como estudar e memorizar.
Quando 'Ubadah Ibn As-Samit foi questionado sobre este hadith, ele
disse: “Se quiseres, dir-te-ei qual é o conhecimento mais elevado, que
eleva o nível das pessoas: é a humildade”.
8
Muslim, 21/17.
9
Muslim, Kitab at-Tahara, 3/99.
10
é o tipo de conhecimento benéfico. Como Ibn Mas'ud disse: “Eles recita-
rão o Qur'an, mas este não passará das suas gargantas. O Qur'an só é
benéfico quando este atinge o coração e está firmemente plantado
nele.”
11
TRÊS
TIPOS DE CORAÇÃO
Tal como o coração pode ser descrito como estando vivo ou
morto, este pode ser também visto como pertencendo a um de três ti-
pos; estes são: o coração saudável, o coração morto e o coração do-
ente.
Coração Saudável
No Dia da Ressurreição, só os que retornam a Allah com um co-
ração saudável serão salvos. Allah diz:
12
“Ó vós que credes! Não vos antecipeis a Allah e a
Seu Mensageiro. E temei a Allah. Por certo, Allah
é Oniouvinte, Onisciente.” [49:1]
O Coração Morto
Este é o oposto do coração saudável. Este não conhece o seu
Senhor e não o adora como Ele ordenou, da maneira que Lhe agrada, e
com a qual Ele está satisfeito. Em vez disso, inclina-se aos seus desejos
e luxúrias, mesmo que estes, muito provavelmente, invoquem o descon-
tentamento e ira de Allah. Ele adora coisas sem ser a Allah, e os seus
amores e ódios, os seus oferecimentos e retenções, provêm dos seus
caprichos, que lhe são de importância suprema e preferidos acima do
agrado de Allah. Os seus caprichos são o seu Imam. As suas luxúrias
são o seu guia. A sua ignorância é o seu líder. Os seus impulsos brutos
são o seu ímpeto. Está imerso na sua preocupação com objectivos
mundanos. Está bêbedo com as suas próprias fantasias e o seu amor
por prazeres ligeiros e fugitivos. É chamado por Allah e pela akhira de
uma certa distância, mas não responde a conselhos e, em vez disso,
segue qualquer shaytan astuto e intriguista. A vida lhe enfurece e agrada,
e a paixão fa-lo-á cego e surdo10 a qualquer outra coisa excepto o que é
malícia.
Associar-se ou manter companhia com o dono de tal coração é
tentar a doença: viver com ele é como tomar veneno, e ser amigo dele
significa destruição total.
O Coração Doente
Este é um coração com vida nele, mas também com doença. A
vida sustém-no num momento e a doença noutro momento, e ele segue
assim, qualquer das duas consegue dominá-lo. Tem amor por Allah, fé
n'Ele, sinceridade para com Ele, e total dependência e confiança n'Ele, e
isto é o que lhe dá a vida. Mas também tem uma ânsia por luxúria e pra-
zer, e os prefere, e luta por experimentá-los. Está cheio de autoadmira-
ção, que pode levar à sua própria destruição. Ouve dois chamamentos:
um a chamá-lo para Allah e o Seu Mensageiro ﷺe a akhira; e outro a
10
Foi narrado de Abu’d-Darda’ que o Mensageiro de Allah ﷺdisse “O teu amor por
algo, faz-te cego e surdo”. Abu Dawud, Al-Adab, 14/38; Ahmad, Al-Musnad, 5/194.
O hadith está classificado como hasan.
13
chamá-lo para os prazeres fugitivos deste mundo. Ele responde a qual-
quer dos que, no momento, o influenciam mais.
14
QUATRO
SINTOMAS DA DOENÇA DO CORAÇÃO E SI-
NAIS DA SUA SAÚDE
11
Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/233.
15
Este coração saudável continua a transtornar o seu dono até este
voltar para Allah, e estar em paz com Ele, e se encontrar com Ele, como
um amante guiado por compulsão que finalmente alcança a pessoa
amada. Ele não precisa de mais nenhum amor senão o amor por Ele, e
depois de O invocar, nenhuma outra invocação é necessária. Servi-Lo
exclui a necessidade de servir qualquer outro.
Se este coração perde a sua parte de recitação do Qur’an e invo-
cação de Allah, ou não completa um dos actos de adoração prescritos,
o seu dono sofre de mais aflição do que um homem cauteloso que sofra
por causa da perda de dinheiro ou uma oportunidade perdida de fazê-lo.
Ele anseia servir, tal como uma pessoa faminta anseia por comida e be-
bida.
Tal como, e para, além disto, tudo, ele não só testemunha a ge-
nerosidade de Allah ao dar-lhe a oportunidade de executar tais acções,
mas também testemunha a sua própria imperfeição e falhas ao executá-
las.
16
As Causas da Doença do Coração
As tentações às quais o coração é exposto são o que causam a
sua doença. Estas são as tentações dos desejos e luxúrias. O primeiro
causa intenções e a vontade de ser corrompido, e o último causa o es-
morecimento do conhecimento e da crença.
12
Muslim, Kitab Al-Iman, 2/170 (com escolha de palavras diferente).
17
CINCO
OS QUATRO VENENOS DO CORAÇÃO
Devemos saber que todos os actos de desobediência são um ve-
neno para o coração e causam a sua doença e ruína. Eles resultam no
desvio da sua vontade, ficando contra a de Allah, e então a sua doença
espalha-se e aumenta. Ibn Al-Mubarak disse:
Conversa Desnecessária
É relatado de Al-Musnad, pela autoridade de Anas, que o Profeta
ﷺdisse: “A fé de um servo não é retificada até que o seu coração seja
retificado, e o seu coração não é retificado até que a sua língua seja reti-
ficada”.13 Isto mostra que o Profeta ﷺfez a purificação da fé condicional
à purificação do coração, e a purificação do coração condicional à purifi-
cação da língua.
At-Tirmidhi relata num hadith de Ibn 'Umar: “Não fale de forma ex-
cessiva sem se lembrar de Allah, porque essa conversa excessiva sem a
13
Hadith da’if, Al-Mundhari, 3/234; e Al-Iraqi em Al-Ihya, 8/1539.
18
menção de Allah causa a dureza do coração, e a pessoa mais longe de
Allah é uma pessoa com um coração duro”.14
'Umar Ibn Al-Khattab (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨdisse: “Uma pessoa que fala de-
mais é uma pessoa que comete erros frequentemente, e uma pessoa
que comete erros frequentemente, comete más acções frequentemente.
O Fogo tem prioridade para tal pecador frequente”.15
14
Hadith da’if, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/92, gharib; mais ninguém o transmitiu,
excepto Ibrahim Ibn Abdullah Ibn Hatib, quem ath-Thahabi menciona, 1/43, mencio-
nando que este é um dos ahadith gharib atribuídos a ele.
15
Hadith da’if, Ibn Hibban e Al-Baihaqi, e Al-Iraqi na sua edição de Al-Ihya, 8/1541.
16
[Nota da tradutora: Esta expressão era usada pelos árabes como exclamação ou
surpresa e não é para ser levada literalmente.]
17
Hadith sahih, at-Tirmidhi, Al-Hakim, ath-Thahabi.
18
Hadith sahih, at-Tirmidhi e Ahmad; também Al-Hakim e ath-Thahabi.
19
Al-Bukhari em Kitab ar-Riqaq, e Muslim em Kitab az-Zuhud.
19
O mesmo hadith foi transmitido por At-Tirmidhi com pequenas variações:
“O servo diz algo que ele pensa ser inofensivo, e pelo qual ele será ati-
rado para as profundezas do Fogo, tão longe como sete Outonos”.20
'Uqbah Ibn Amir disse: “Eu disse: 'Ó Mensageiro de Allah, qual é a
melhor maneira para sobrevivermos?'. Ele ﷺrespondeu: 'Guardem as
vossas línguas, façam com que a vossa casa seja suficiente para guardar
a vossa privacidade e chorem pelas vossas más acções'”.21
Foi relatado de Sahl Ibn Sa'd que o Profeta ﷺdisse: “Quem pu-
der garantir o que está entre as suas mandíbulas e o que está entre as
suas pernas, eu garanti-lo-ei o Jardim”.22
Logo, falar pode ser bom, sendo neste caso recomendável, ou mau,
sendo neste caso proibido.
20
At-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud; ele disse que o hadith é hasan gharib.
21
At-Tirmidhi em Kitab az-Zuhud com palavras ligeiramente diferentes; ele disse que o
hadith é hasan. Esta versão é relatada por Abu Na’im em Al-Hilya.
22
Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/308 e Kitab Al-Hudud, 12/113.
23
Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/308; Muslim, Kitab Al-Iman, 2/18. O hadith completo
é “Quem acredita em Allah e no Último Dia que fale o bem ou permaneça em silêncio;
e quem acredita em Allah e no Último Dia que seja generoso para o seu vizinho; e
quem acredita em Allah e no Último Dia que seja generoso para com quem o visita.”
24
O hadith é hasan e é relatado por at-Tirmidhi em Kitab az-Zuhud e por Ibn Majah em
Kitab Al-Fitan. At-Tirmidhi classifica-o como hasan gharib. Não temos relato deste ha-
dith excepto de Muhammad Ibn Yazid Ibn Khanis.
25
Hasan de acordo com Abu Ya’la, Baihaqi e as-Suyuti.
20
'Abdullah Ibn Mas'ud disse: “Por Allah, para além do qual não
existe nenhuma divindade, nada mais merece uma longa sentença na
prisão do que a minha língua”. Ele também costumava dizer “Ó língua,
diz o bem e terás proveito; desiste de dizer coisas más e estarás segura;
senão só lamentarás”.
Abu Hurairah relatou que Ibn Al-Abbas disse: “Uma pessoa não
sentirá uma fúria ou ódio maior por qualquer parte do seu corpo no Dia
do Juízo mais do que ele sentirá pela sua língua, a não ser que ele a te-
nha usado para dizer ou encorajar o bem”.
Abu 'Ubaida relatou que Al-Hassan disse: “Um dos sinais de que
Allah abandonou um servo é Ele fazer com que ele se preocupe com o
que não lhe diz respeito”.
Sahl disse: “Quem fala do que não lhe diz respeito é privado de
honestidade”.
26
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 6/607; Ahmad, Al-Musnad, 1/201; as-Sa’ati, Al-
Fath ar-Rabbani, 19/257; hadith número 12 nos Quarenta Ahadith de an-Nawawi.
21
Olhares Desenfreados
O olhar desenfreado causa a atracção da pessoa para o que ela
olha e a impressão dessa imagem no seu coração. Isto pode resultar em
vários tipos de corrupção do coração do servo. Os seguintes são alguns
deles:
Foi relatado que o Profeta ﷺdisse algo como: “O olhar é uma fle-
cha envenenada do shaytan. Quem baixar o olhar por Allah, Ele dar-lhe-á
uma doçura refrescante que ele encontrará no seu coração no dia em
que se encontrar com Ele”.27
O shaytan entra com o olhar, pois viaja nele mais rápido que o
vento que passa por um local vazio. Ele faz o que é visto parecer mais
atraente do que isso realmente é, e transforma-o num ídolo para o cora-
ção adorar. Depois ele lhe promete recompensas falsas, acende o fogo
dos desejos dentro dele, e dá-lhe as acções proibidas como lenha, que
o servo não teria feito se esta imagem distorcida não se tivesse formado.
Isto distrai o coração e fá-lo esquecer das preocupações mais im-
portantes, pois fica no meio do caminho como um obstáculo; e então o
coração perde o caminho reto e cai no abismo do desejo e ignorância.
Allah diz, Glorioso e Todo-Poderoso, diz:
27
Da’if, at-Tabarani, 8/63; Al-Hakim, Al-Mustadrak, 4/314; Ahmad, Al-Musnad 5/264.
22
Por certo, Allah é Conhecedor do que fazem.”
[Qur'an 24:30]
Só aquele que obedece às ordens de Allah está contente neste
mundo, e só o servo que obedece a Allah sobreviverá no próximo.
Para, além disso, deixar o olhar rondar liberto enche o coração de
escuridão, tal como baixar o olhar por Allah enche-o de luz. Depois do
ayah acima, Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, diz na mesma surah do
Qur’an:
23
Demasiada comida
O consumo de pequenas quantidades de alimentos garante a ter-
nura do coração, a força do intelecto, a humildade do ego, a fraqueza
dos desejos, e a gentileza do temperamento. Comer de forma imode-
rada traz o oposto dessas qualidades louváveis.
28
Sahih, Ahmad, Al-Musnad, 4/132; as-Sa’ati, Al-Fath ar-Rabbani, 17/88; at-Tirmidhi,
Kitab az-Zuhud, 7/51.
29
Da’if; este não aparece na maioria das fontes da sunnah, mas é mencionado na Al-
Ihya de Al-Ghazzali, 8/1488.
24
disse: “Desde o momento da sua chegada a Madinah até sua morte ﷺ,
a família de Muhammad ﷺnunca comeu uma refeição de pão de trigo
três noites seguidas”.30
Manter Má Companhia
Companhia desnecessária é uma doença crónica que causa
muito dano. Quantas vezes o tipo errado de companhia e mistura entre
pessoas de sexos opostos privou essas pessoas da generosidade de
Allah, plantando discórdia nos seus corações que até com a passagem
do tempo - mesmo sendo tempo suficiente para montanhas se desgas-
tarem - este não foi capaz de a dissipar. Ao manter tal companhia, nós
podemos encontrar as raízes da perda, ambas nesta vida e na próxima.
30
Al-Bukhari, Kitab at-At’ima, 9/549; e Muslim, Kitab az-Zuhud, 8/105.
25
consulta, etc. Assim que a necessidade de conviver com elas é cum-
prida, conviver mais que isso deve ser evitado.
31
É relatado que Ash-Shafi’, que Allah esteja satisfeito com ele, disse: “Sempre que
uma pessoa aborrecedora se senta ao meu lado, o lado onde ele se senta parece
mais para baixo do que o outro lado.”
26
não deve sentar-se nas suas assembleias nem conviver com elas. O re-
sultado ao fazê-lo será ou a morte do seu coração ou, no mínimo, o
adoecimento sério deste.
27
SEIS
LEMBRANÇA DE ALLAH E RECITAÇÃO DO
QUR’AN
Ibn Taymiyah escreveu: “A lembrança de Allah é para o coração
como água é para o peixe. O que acontece a um peixe quando este é
tirado para fora da água?”.
Mesmo que a lembrança de Allah seja uma das formas mais fá-
ceis de adoração, a misericórdia e honra que esta traz não podem ser
alcançadas por quaisquer outros meios.
28
são registadas para ele, e cem más acções são removidas do seu re-
gisto. E isso é uma protecção para ele contra o shaytan nesse dia até à
noite, e ninguém poderá fazer algo melhor que isto, excepto aquele que
fizer mais do que isto (ou seja, aquele que recitar estas palavras mais do
que cem vezes)”.32
Abdulalh Ibn Busr relatou que um homem uma vez disse ao Pro-
feta ﷺ: “Os caminhos para o bem são muitos e eu sou incapaz de se-
guir a todos, então, por favor, diga-me algo ao qual me possa apegar,
mas não me sobrecarregue, para que eu não me esqueça”. Ele disse
“Certifica-te de que a tua língua está úmida e flexível com a lembrança de
Allah, O Glorioso.”35
32
Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/201; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/16.
33
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/433.
34
Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/208; Al-Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/495.
35
At-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/314.
29
forma errada, tal como criar rumores propagar estórias e coisas seme-
lhantes. Ou a língua está a mencionar Allah e a lembrá-Lo, ou ela está a
falar de forma incorrecta.
30
Quem estuda o Qur’an, e permite que ele seja absorvido pelo co-
ração, reconhecerá a verdade e a falsidade e será capaz de distinguir
entre elas, tal como ele consegue distinguir a noite do dia.
Ibn Mas’ud disse: “Quem amar o Qur’an, ama Allah e o Seu Men-
sageiro”, e Uthman Ibn Affan (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨdisse: “Se os vossos corações
fossem realmente puros, eles nunca se cansariam de recitar as palavras
de Allah”.
36
Da’if, munkar. Ver o comentário deste hadith no Tahdhib at-Tahdhib de Ibn Hajar,
2/222 e Lisan Al-Mizan, 2/185, e em Al-Jami’ as-Saghir de as-Suyuti, 6/150.
31
SETE
PROCURAR O PERDÃO DE ALLAH
Perdão é ser protegido das consequências prejudiciais das más
acções, e tê-las cobertas. Pedir por perdão é mencionado várias vezes
no Qur’an, e em alguns sítios é uma ordem, como Allah disse, Glorifi-
cado e Exaltado:
Foi relatado que Luqman uma vez disse ao seu filho: “Ó meu filho,
faz com que seja um hábito a tua língua dizer as palavras ‘Perdoa-me, ó
Allah’, pois há certos momentos nos quais Allah não decepciona um
servo que O chame”.
32
mercados, nos vossos encontros, onde quer que estejam. Nunca se
sabe quando o Seu perdão será concedido”.
Abu Hurairah relatou que o Profeta ﷺdisse: “Juro por Allah que
suplico pelo perdão de Allah e volto-me para Ele arrependido mais do
que setenta vezes por dia”.37
Ele, Exaltado seja, disse isto três vezes. Isto significa que o ho-
mem foi perdoado porque ele continuou a pedir por perdão a Allah, cada
vez que cometia um pecado. É aparente que isto se aplicaria desde que
a sua procura por perdão não fosse acompanhada pela intenção de re-
petir o mesmo pecado outra vez.
‘A’isha (que Allah esteja satisfeito com ela) disse: “Uma pessoa
afortunada é aquela que (no Dia do Juízo) encontra no seu livro muitas
súplicas por perdão”.
Noutras palavras, pedir pelo perdão de Allah é uma cura para to-
das as más acções.
Ali Ibn Abi Talib (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨdisse: “Allah não inspira a procura por
perdão a nenhum servo que Ele queira castigar”.
37
Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/101.
38
Al-Bukhari, Kitab at-Tawhid, 13/466; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/75.
33
OITO
SÚPLICA
Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, ordenou-nos a suplicar-Lhe e
prometeu responder-nos quando o fizermos. Ele diz:
39
Hasan, at-Tirmidhi, Kitab as-Da’awat, 9/313; Ibn Majah, Kitab ad-Du’a, 2/1258; Al-
Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/491.
34
“E, quando Meus servos te perguntarem por Mim,
por certo, estou próximo, atendo a súplica do su-
plicante, quando Me suplica.” [2:186]
An-Nu’man Ibn Bashir disse: “O Mensageiro de Allah ﷺdisse ‘A
súplica é adoração’. Depois ele recitou a ayah:
Umar Ibn Al-Khattab (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨdisse: “Eu não tenho nenhuma
ansiedade para com a resposta, mas preocupo-me com o próprio du’a,
porque quem é inspirado por Allah a fazer du’a, invoca a Sua resposta
imediatamente quando o faz.”
40
At-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/311; Al-Hakim, Al-Mustadrak, 1/491; an-Nawawi,
Al-Adhkar, p.525.
41
Hasan, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/544; Al-Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/497; Abu
Da’wud, Kitab ad-Du’a, 1/497.
42
Da’if, Al-Hakim, Al-Mustadrak, 1/493; Ibn Hibban, Al-Ad’iyya, p.596.
43
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/923.
35
Boas Etiquetas ao Suplicar
Estas incluem escolher os momentos especiais para suplicar,
como no dia de Arafat, entre os dias do ano; o mês do Ramadan, entre
os meses do ano; Sexta-feira, entre os dias da semana; e as primeiras
horas da manhã, entre as horas do dia.
Abu Hurairah relatou que o Profeta ﷺdisse: “Um servo está mais
perto do seu Senhor enquanto está em prostração, então aumentem a
vossa súplica enquanto prostram.”44
44
Muslim, Kitab as-Salah, 4/200.
45
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab as-Salah, 1/624, e em Kitab ad-Da’awat, 10/53; Abu
Da’wud, Kitab as-Salah, 2/224.
46
Al-Bukhari, Kitab at-Tawhid, 13/448, e em Kitab ad-Da’awat, 11/139; Muslim, Kitab
adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/7.
47
Muslim, Kitab Al-Jihad, 12/152. Isto faz parte de um longo hadith relatado por Abu
Su’ud (!)'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ.
36
É importante que a sua necessidade seja pura e não algo mais ou
algo que possa causar a quebra dos laços de família.
O suplicante não deve insistir na realização imediata dos seus pe-
didos, nem deve dizer ‘Eu supliquei a Allah, mas Ele não respondeu ao
meu du’a’.
Este hadith indica uma das cortesias excelentes ao fazer du’a, in-
formando que aquele que pede deve persistir e não desesperar pela
resposta positiva do seu du’a, pois isto demonstrará a sua submissão e
a sua confiança absoluta no auxílio de Allah.
48
Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/140; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/51.
37
NOVE
INVOCAR BÊNÇÃOS PARA O PROFETA ﷺ
Há um hadith relatado por Abu Hurairah, no qual é relatado que o
Profeta ﷺdisse: “Se alguém invocar bênçãos para mim uma vez, Allah
conceder-lhe-á dez bênçãos”.49 Isto é porque uma boa acção é regis-
tada como dez boas acções, e invocar bênçãos para o Profeta ﷺé
uma das coisas excelentes que um muçulmano pode fazer.
Ibn Al-Arabi disse: “Se alguém perguntasse sobre o mérito das pa-
lavras de Allah ‘Quem chega com uma boa acção terá dez vezes seu o
equivalente…’, nós diríamos ‘Têm grande mérito. O Qur’an mencionou
que uma boa acção é multiplicada dez vezes, e que invocar bênçãos
para o Mensageiro de Allah ﷺé, de acordo com o Qur’an, uma boa ac-
ção que dá àquele que a faz dez níveis acima no Jardim. O Profeta ﷺ
disse que Allah abençoa dez vezes aquele que invoca bênçãos para ele
uma só vez. A lembrança que Allah tem de um servo é bem superior à
multiplicação de boas acções. Isto é ainda apoiado pelo facto de que Al-
lah, Exaltado seja, concedeu ao servo que se lembra d’Ele a recom-
pensa dele próprio ser lembrado por Allah. Da mesma forma, o servo
que se lembrar do Seu Mensageiro ﷺ, é recompensado por ser lem-
brado por Ele também”.
Al-Iraqi disse: “As bênção de Allah para com o servo não é a sua
única recompensa, pois, como nos é dito no hadith seguinte, Ele tam-
bém regista dez boas acções no livro do servo e remove dez más ac-
ções dele, e eleva-o por dez níveis”.
Anas Ibn Malik relatou que o Profeta ﷺdisse: “Se sou mencio-
nado na presença de alguém, ele deve invocar bênçãos para mim e se
alguém invoca bênçãos para mim uma vez, Allah conceder-lhe-á dez
bênçãos”. Noutra versão deste hadith, o Profeta ﷺdisse: “Se alguém in-
vocar bênçãos para mim uma vez, Allah conceder-lhe-á dez bênçãos,
removerá dez más acções e elevá-lo-á por dez níveis”.50
49
Muslim, Kitab as-Salah, 4/128.
50
Sahih, Ibn as-Sunni, ‘Amal Al-Yawm wa’l-Laylah, nº 382. Ver também Muslim, Kitab
as-Salah, 4/127.
38
As palavras do Profeta “ ﷺSe eu sou mencionado na presença
de alguém, ele deve invocar bênçãos para mim” parecem fazer a invoca-
ção das bênçãos para ele obrigatória nesta situação. Há ainda mais pro-
vas disto no hadith “Avarento é aquele em cuja presença sou mencio-
nado e, no entanto, ele não invoca bênçãos para mim”.51
51
Sahih, an-Nisa’i, Fadha’il Al-Qur’an, nº 125; at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/531;
Ahmad, Al-Musnad, 1/201; Al-Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/549.
52
Sahih, Ahmad, Al-Musnad, 1/387; an-Nisa’i, Kitab as-Sahw, 3/43. Ibn Al-Qayyim
disse: “A corrente de narração é sahih”. Ver Jalaa’ ul Afhaam, p. 23.
53
Hasan, at-Tirmidhi, Kitab Al-Witr, 2/607; Ibn Hibban, Mawarid adh-Dham’an, p. 594.
54
Sahih, Ibn Ma’jah, Kitab Al-Jana’iz, 1/524; Abu Da’wud, Kitab as-Salah, 3/370; Ah-
mad, Al-Fath ar-Rabbani, 6/9. Al-Hakim disse: “É sahih”, no seu Kitab Al-Jumu’ah,
1/278.
55
Muslim, Kitab as-Salat, 4/123.
39
DEZ
REZAR À NOITE
Allah diz:
‘A’isha (que Allah esteja satisfeito com ela) disse: “Entre as ora-
ções de ‘isha e fajr, o Profeta ﷺcostumava rezar onze rak’at e rezar um
rak’a de witr”.57
Ibn Mas’ud relatou que, perante o Profeta ﷺ, foi mencionada uma
pessoa que dorme durante a noite até à alvorada (sem rezar). O Profeta
ﷺdisse: “O shaytan urina nos ouvidos desse homem”.58
56
Muslim, 8/54.
57
Al-Bukhari, Kitab Al-Witr, 2/478; Muslim, Kitab Al-Musafirin, 6/16.
58
Al-Bukhari, Kitab at-Tahajjud, 3/28; Muslim, Kitab Al-Musafirin, 6/63.
59
Al-Bukhari, Kitab at-Tahajjud, 3/24; Muslim, Kitab Al-Musafirin, 6/65.
40
Al-Hasan foi uma vez questionado: “Como é que aqueles que fi-
cam acordados durante a noite têm os rostos mais atraentes?”. Ele res-
pondeu: “Porque eles estão em termos íntimos com O Misericordioso, e
Ele cobre-os com alguma da Sua luz”.
Foi transmitido que Sufyan ath-Thawri disse: “Uma vez fui privado
de ficar acordado à noite por cinco meses por causa de um pecado que
cometi”.
41
ONZE
PASSAR SEM OS PRAZERES DESTE MUNDO
Abu’l-Abbas as-Sa’idi disse: “Um homem veio até ao Profeta ﷺe disse:
‘Ó Mensageiro de Allah! Guie-me para uma acção que, quando eu a fi-
zer, Allah me amará e as pessoas também me amarão’. Ele disse: ‘Sê
desapegado a este mundo e então Allah amar-te-á, e não sejas ape-
gado ao que as pessoas têm e as pessoas amar-te-ão’”.60
Este hadith mostra que Allah ama aqueles que vivem de maneira
simples nesta vida. Foi dito que ter amor a Allah é o melhor estado para
se estar, e viver de maneira simples é a melhor condição para se estar.
60
Hasan, Ibn Majah, Kitab az-Zuhud, 2/1373.
42
“Desejais os efêmeros bens da vida terrena, en-
quanto Allah vos deseja a Derradeira Vida”.
[8:67]
E também:
Foi relatado por Ibn Sahl Ibn Sa’ad que o Profeta ﷺdisse: “Se o
mundo valesse uma asa de um mosquito sequer a Allah, Ele não daria
nem sequer um golo de água deste a um kafir”.63
Viver de forma simples significa afastar-se das coisas deste
mundo por estas não terem valor algum. A pessoa não se importa com
elas e permanece desapegada delas.
61
Muslim, Kitab az-Zuhud, 18/93.
62
Muslim, Kitab az-Zuhud, 17/191.
63
Sahih gharib, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 6/611.
43
nas próprias mãos: o seu estado de infortúnio é o mesmo que o seu es-
tado geral; a sua atitude para com aqueles que o criticam com razão e
aqueles que o elogiam com razão é a mesma”.
64
Uma pessoa desapegada da vida mundana.
44
O segundo nível é o de um servo que, quando é afligido por al-
gum infortúnio - como a morte de um filho, ou a perda de riqueza ou
bens - deseja a recompensa pela sua aceitação da perda mais do que
recuperar o que foi perdido. Isto é também uma consequência de ter
completa confiança [em Allah].
‘Ali, que Allah esteja satisfeito com ele, disse: “Quem vive de
forma simples neste mundo, sabe que os infortúnios são fáceis de ultra-
passar”.
Uma pessoa que troca as coisas deste mundo pelo próximo está
a passar sem alguma coisa nesta vida e então podemos chamá-lo de
45
zahid, mas ‘passar sem’ pode também envolver desfrutar de algo neste
mundo em detrimento do próximo mundo; neste caso, a pessoa está a
passar sem algo da akhira.
Foi dito a um homem virtuoso uma vez: “Você vive sem muito
mais do que eu”. O homem respondeu “É você que é mais extremo
nisso, pois eu abstenho-me de coisas numa vida que não permanecerá
e cujas recompensas são incertas, enquanto você abstém-se da akhira.
Ninguém poderia ser mais extremo em ‘passar sem’ do que isto”.
46
A segunda etapa é adquirir desapego deste mundo e ‘passar
sem’ nele, para obter a recompensa por evitá-lo. Aqui é o ‘passar sem’
que preocupa a pessoa. Este é o estado da pessoa que oferece um
dirham para obter dois.
47
DOZE
OS ESTADOS DO EGO
Há acordo entre os que procuram por Allah, apesar das suas dife-
rentes escolas de pensamento e práticas, de que o ego fica entre o co-
ração e o alcance d’Ele. Só silenciando o ego - evitando-o, ignorando os
seus desejos e ultrapassando-o - poderá levar a pessoa para o domínio
de Allah, sendo possível alcançá-Lo.
48
sua essência, e é um dos três tipos principais, dependendo dos atribu-
tos que tem.
O Ego em Paz
Quando o ego consegue descansar na Presença de Allah, e fica
tranquilo quando o Seu Nome é invocado, e sempre deixa todos os as-
suntos para Ele, e volta-se para Ele frequentemente, e fica impaciente
para O encontrar, e experiencia a intimidade da Sua proximidade, então
é uma alma em paz. É a alma à qual será dito no momento da morte:
49
precedência sobre a Sua vontade e ordem; Não pode haver atracção a
qualquer coisa que contradiga qualquer dos Seus Atributos; e não pode
haver desejo que oponha o Seu decreto - e se alguma vez tal coisa
aconteça a tal pessoa, então ele simplesmente repudia-a, como faz
como os sussurros de shaytan. Por certo, ele preferiria cair do céu do
que levar a sério tal coisa dentro dele.
65
Muslim, Kitab Al-Iman, 2/153; relatado pela autoridade de Abu Hurairah, que disse:
“Alguns dos companheiros do Profeta ﷺvieram até ele e disseram: ‘Encontrámos algo
nos nossos corações pelo qual estamos orgulhosos de falar sobre’. Ele perguntou:
‘Encontraram mesmo?’. Eles disseram: ‘Sim.’ Depois ele disse: ‘Essa é a verdadeira
fé. ”
50
“Que aflição a minha, porque descurei de minhas
obrigações para com Allah!” [39:56]
Então ele parte para um novo começo na sua vida, compensando
pelo que ele perdeu e trazendo de volta à vida o que morreu. Agora ele
enfrenta destemidamente as armadilhas que encontrou antes, e apro-
veita o momento com a sua capacidade recentemente descoberta, que,
quando tivesse passado por ele antes, teria causado a sua perda de
todo o bem.
Depois ele percebe, à luz do seu despertar e à luz das dádivas
que Allah lhe deu, que ele é incapaz de medir e contar as bênçãos de
Allah, ou de pagar a sua dívida. Com esta percepção, ele reconhece as
suas falhas e deficiências, as suas más acções e todas as coisas más
que fez, toda a sua desobediência e negligência de tantos deveres e di-
reitos. O seu ego é quebrado e o seu corpo é humilhado e ele aborda
Allah com a sua cabeça baixa. Ele reconhece a generosidade de Allah e
vê ambos os seus próprios delitos e falhas ao mesmo tempo.
51
Foi também dito que o ego culpa a si mesmo no Dia da Ressurrei-
ção: cada um culpa-se pelas suas acções, seja pelas suas más acções,
se ele fazia muitas, ou pelas suas falhas, se ele fazia boas acções. O
Imam Ibn Al-Qayyim diz que tudo isto está correcto.
Quanto ao ego que aceita as suas acções como elas são, sem
auto-censura, e que não aguenta criticismo dos outros - o que significa
que não é sinceramente obediente a Allah - este é o ego que Allah
culpa.
52
Foi-nos ensinado o du’a: “Todo o louvor é para Allah, nós lou-
vamo-Lo e buscamos a Sua ajuda e o Seu perdão. Procuramos refúgio
n’Ele do mal dos nossos egos e do mal das nossas acções.”66
O ego que incita ao mal tem shaytan como aliado. Ele promete-
lhe grandes recompensas e ganhos, mas lança falsidade para ele. Ele
convida-o e incita-o a fazer o mal. Ele lidera-o com esperança atrás de
esperança e apresenta-lhe falsidade de uma forma que ele aceitará e
admirará.
66
Hadith sahih, Abu Dawud, Kitab an-Nikah, 6/153; Ibn Ma’jah, Kitab an-Nikah,
1/609.
53
O desafio mais difícil para o ego em paz é libertar-se da influência
do shaytan e da nafs Al-ammara. Se este entra nesta luta, então torna-
se nafs Al-lawwama - o ego censurador de si mesmo; e se a luta é ven-
cida, então torna-se nafs Al-mutma’inna. Se só uma acção fosse aceite
por Allah, a pessoa que a fizesse teria sucesso pela sua virtude, mas o
shaytan e a nafs Al-ammara recusam-se a encorajar o ego a fazer
mesmo uma só acção deste tipo.
Alguns aos quais foi dado conhecimento por Allah e pelos pró-
prios egos disseram, “Se eu pudesse saber ao certo que mesmo uma
só acção foi aceite por Allah, então eu estaria mais feliz na chegada da
minha morte do que o constante viajante quando vê a sua família”. Ab-
dullah Ibn Umar disse, “Se eu pudesse saber ao certo que Allah aceitou
até uma das minhas prostrações, não haveria nenhum amigo perdido
mais querido para mim do que a própria morte”.
Responsabilizar o Ego
Quando o ego que incita ao mal domina o coração de um crente,
o único remédio é responsabilizá-lo e depois ignorá-lo. O Imam Ahmad
relatou a partir de Umar Ibn Al-Khattab, que Allah esteja satisfeito com
ele, que o Profeta ﷺdisse, “A pessoa inteligente é aquela que respon-
sabiliza o seu ego e age em preparação para o que está depois da sua
morte; e a pessoa insensata é aquela que se abandona aos seus an-
seios e caprichos e espera que Allah cumpra os seus desejos fúteis.”67
O Imam Ahmad também relatou que Umar Ibn Al-Khattab, que Al-
lah esteja satisfeito com ele, disse, “Julguem os vossos egos antes de
67
Da’if, at-Tirmidhi, Kitab Sifat Al-Qiyyamah, 7/155; Al-Hakim, Al-Mustadrak, Kitab Al-
Iman, 1/57.
54
serem julgados [perante Allah]; e pesem os vossos egos na balança an-
tes de serem pesados na balança [perante Allah]. Se vocês forem res-
ponsabilizados amanhã, será muito mais fácil se já se responsabilizaram
hoje - então façam isso, antes de chegarem à Reunião Final pois:
Um crente é distraído por algo que ele gosta, então ele diz: “Por
Allah, eu gosto de ti e eu preciso de ti, mas não há meios pelos quais te
poderei ter, então foste mantido longe de mim”. Quando isso está fora
do seu campo de visão e para além do seu alcance, então ele cai em si
e diz, “Eu não queria isso realmente! O que me fez preocupado com
aquilo? Por Allah, não me preocuparei mais com isso outra vez!”
Os crentes são um povo que foi impedido através do Qur’an de
ceder aos prazeres deste mundo; este fica entre eles e o que poderá
destruí-los. O crente é como um prisioneiro neste mundo, que tenta li-
bertar-se das suas algemas e grilhões, pondo a sua confiança em nada
[mundano], até ao dia que ele encontra o seu Criador. Ele sabe bem que
é responsável por tudo o que ouve, vê e diz, e por tudo o que ele faz
com o seu corpo.69
Malik Ibn Dinar disse, “Que Allah conceda misericórdia a um servo
que diz para o seu ego ‘Não és este e este? Não fizeste isto e isto?’, e
depois repreende-o e fá-lo colocar no seu lugar, e disciplina-o e res-
tringe-o de acordo com o Livro de Allah, Poderoso e Glorioso, e torna-se
o seu guia e mestre.”
68
Ahmad, Kitab az-Zuhud, 7/156; Al-Baghawi, Sharh as-Sunnah, 14/309; Abu Na’im,
Al-Hilya, 1152.
69
Veja Ibn Kathir, Al-Bidaya wa’n-Nihaya, 9/272; Abu Na’im, Al-Hilya, 2/157.
55
Quem a desperdiça, ou a usa para adquirir coisas que podem causar
destruição, sofrerá grandes perdas, que só acontecem pela permissão
das pessoas mais ignorantes, insensatas e imprudentes. A verdadeira
dimensão de tais perdas só será aparente no Dia do Juízo. Allah, O Exal-
tado, diz:
Al-Hasan, que Allah esteja satisfeito com ele, disse: “Que Allah
conceda misericórdia a um servo que hesita no ponto de avaliação e,
quando vê que a acção é por Allah, realiza-a, mas, quando vê que é
para outro senão Allah, então ele evita completá-la.”70
Isto foi explicado como significando que quando o ego parte para
fazer uma coisa ou outra, o servo começa a considerar o valor disso, ele
primeiro pára e pensa para ele próprio “É permitido fazer isto?”. Se a res-
posta é não, ele não realizará a acção. Se a resposta é sim, ele nova-
mente pára e pergunta “É melhor para mim fazê-lo ou não?”. Se a res-
posta é não, ele abandonará a acção e não tentará realizá-la, mas se a
resposta é sim, ele então pausará pela terceira vez e perguntará a si
mesmo “Esta acção é motivada pelo desejo de procurar o agrado de Al-
lah e recompensa, ou é para adquirir poder, admiração e dinheiro?”.
70
Este relato é apoiado por um hadith sahih transmitido por Muslim, Kitab Al-Iman,
2/18, pela autoridade de Abu Hurairah, que disse que o Profeta ﷺdisse: “Quem
acredita em Allah e no Último Dia, deve falar o bem ou permanecer calado; e quem
acredita em Allah e no Último Dia, deve ser generoso para com o seu vizinho; e quem
acredita em Allah e no Último Dia deve ser generoso para com o seu convidado.“
56
fácil para ele, e quanto mais fácil é fazer algo para outro senão Ele, mais
difícil se torna fazer algo intencionado para o Seu agrado.
A última coisa que uma pessoa deve fazer é não ter atenção e ser
negligente ao responsabilizar o seu ego, começando sem qualquer pre-
paração, e tratando dos assuntos levemente, atrapalhando tudo. Isto só
trará a sua ruína. Este é o destino das pessoas que são arrogantes. Tal
57
pessoa fecha os olhos às consequências ao agir desta maneira e de-
pende do perdão de Allah. Ela negligencia a responsabilização do seu
ego e não contempla o resultado do seu comportamento. Se ele faz
este tipo de coisas, ele comete más acções até se acostumar a elas, e
então torna-se difícil retirar-se delas.
Depois, ele deve responsabilizar o seu ego pelas palavras que fa-
lou, pelos passos que os seus pés deram, pelas coisas que as suas
mãos agarraram, e pelo que os seus ouvidos ouviram (voluntariamente).
Ele deve perguntar-se “Eu queria isto para quê? Eu fiz isto por quê? Eu
fiz isto por quem? Por que fiz isto desta maneira?”.
Ele deve saber que cada acção e cada palavra são registadas em
dois livros; um deles tem o título “Fiz isto por quem?”, e o outro tem o tí-
tulo “Quão bem fiz isto?”. A primeira pergunta é relacionada à sinceri-
dade, e a segunda é relacionada à própria acção. Allah, Exaltado seja,
disse:
58
Os Méritos de Responsabilizar o Ego
Isto envolve:
59
TREZE
PERSERVERANÇA
Allah fez da perseverança um cavalo incansável, uma faca cor-
tante implacável, um exército vitorioso e invencível, uma fortaleza formi-
dável e indestrutível. Ela e a vitória são companheiras inseparáveis.
Allah, Glorioso e Poderoso, louvou aqueles que perseveram no
Seu Livro, e diz que lhes dá recompensas sem fim e os apoia com a
Sua orientação, poder e uma vitória certa. Ele diz:
60
“Ó vós que credes! Pacientai e perseverai na
paciência; e sede constantes na vigilância e temei a
Allah, na esperança de serdes bem-aventurados.”
[3:200]
Ele também fala do Seu amor por aqueles que perseveram, que é
o maior incentivo possível para qualquer pessoa que procure pelo Seu
amor:
61
Allah pela metade: se ele encontra algo bom nesta vida, a sua crença é
assegurada, mas se ele é afligido com infortúnio, então ele afasta-se de
Allah e perde tudo nesta vida e na próxima, fazendo um acordo para a
perda.
Foi dito que isso é uma das mais excelentes posses do ego, sem
a qual não é possível fazer nada correctamente. É uma força do ego que
possibilita endireitá-lo e beneficiá-lo.
62
Dhu’n-Nun Al-Misri disse sobre isso: “A perseverança é distanciar-
se de todos os males e transgressões, e permanecer calmo quando se
está envolvido em aflições impossíveis, e aparentar ter o suficiente
quando a pobreza tem residência permanente no seu lar.”
71
Da’if, Al-Haythami, Majma’ az-Zawa’id, 6/35.
63
A arena do poder é mais significativa para o servo do que a arena
da perseverança; como o Profeta ﷺdisse a Allah “Se não estais irado
comigo, não me preocuparei, mas o Teu Poder é mais significativo para
mim.”72
Isto não contradiz o seu dito “Não foi oferecido a alguém melhor
ou maior presente do que a perseverança.”73
Al-Hajjaj disse uma vez: “Verifiquem os vossos egos, pois eles po-
dem aprontar todo o tipo de travessura. Que Allah conceda misericórdia
para quem puser rédeas e viseiras no seu ego, direcionando-o com as
viseiras para a obediência a Allah, e orientando-o longe da desobediên-
cia com as rédeas. Evitar pacientemente o que Allah proibiu é mais fácil
do que aguentar o castigo que Ele inflige.”
64
“É-nos igual que nos aflijamos ou pacientemos;
não há, para nós, fugida alguma.” [14:21]
Tipos de Perseverança
Há três tipos de perseverança, dependendo da intenção por trás
desta: perseverança ao completar actos de adoração e ao ser obedi-
ente; perseverança ao evitar acções proibidas e ao ser desobediente; e
perseverança diante do destino, tanto que o servo não se torna irritado
em tempos de adversidade.
Foi dito sobre estes tipos diferentes: “Um servo deve ter uma or-
dem para obedecer, proibições para evitar, e adversidade para resistir.”
Primeiro, ele não deve colocar a sua confiança neles; nem deve
ser arrogante e mal-educado por causa deles; nem devem eles ser a
65
causa da sua ingratidão; nem deve ele celebrar com eles de maneira
que Allah não aprova.
Primeiro, existe assuntos nos quais o servo tem escolha, que in-
cluem todas as acções que envolvem obediência ou desobediência.
66
especialmente se este é acompanhado por um coração duro sobrecar-
regado por más acções, e é inclinado a seguir os seus próprios desejos
e a misturar-se com pessoas que negligenciam as ordens de Allah. Ao
pagar o zakah, perseverança e resistência são necessárias por causa
das características mesquinhas e avarentas do ego. Ao fazer Hajj e ao
lutar em jihad, a perseverança é necessária, por causa de ambas as ca-
racterísticas mencionadas acima: preguiça e mesquinhez.
67
e contentamento; e o nível de gratitude, no qual o infortúnio é visto como
uma bênção - e então aquele que é afligido agradece Àquele que o
aflige.
Os Méritos da Perseverança
Umm Salama ( )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﺎrelatou que ela ouviu o Mensageiro de
Allah ﷺdizer: “Não há muçulmano que, quando afligido com um infortú-
nio, diga como Allah lhe ordenou dizer ‘‘Somos de Allah e a Ele retorna-
remos’ [2:156], ó Allah, recompensa-me pelo meu infortúnio e dá-me
melhor depois deste’, sem que Allah lhe garanta melhor que isso.”
74
Muslim, Kitab Al-Jana’iz, 6/220.
75
Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/241.
68
um espinho, ser-lhe-á removido das suas más acções, como recom-
pensa.”76
76
Al-Bukhari, Kitab Al-Mardha, 10/111; Muslim, Kitab Al-Birr wa’s-Silah, 16/129.
77
Ahmad, Al-Musnad, 2/287; at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/80; Al-Hakim, Kitab ar-
Riqaq, 4/124.
78
Al-Bukhari, Kitab Al-Ikrah, 12/315, e também Kitab Manaqib Al-Ansar, 7/164.
69
Umar Ibn Abdal-Aziz disse: “Sempre que Allah dá uma bênção a
um servo, e depois retira-a dele, e o servo persevera pacientemente a
sua perda, então Ele recompensa-o com uma bênção melhor do que a
que Ele retirou.”
70
CATORZE
GRATIDÃO
Gratidão é agradecer Àquele que concede bênçãos pela Sua ge-
nerosidade. A gratidão de um servo deve ter três qualidades, sem as
quais não pode ser considerada gratidão. Elas são o reconhecimento ín-
timo e apreciação da bênção, falar sobre ela abertamente, e usá-la
como meio para O adorar.
71
“E, de quando vosso Senhor noticiou: ‘Em verdade,
se agradeceis, acrescentar-vos-ei Minhas graças.
Mas, em verdade, se estais ingratos, por certo,
Meu castigo será veemente.” [14:7]
Nestes versos, Allah faz a concessão de mais bênçãos condicio-
nal à gratidão. Não há limite quanto ao aumento das Suas bênçãos, tal
como não há limite em ser agradecido a Ele. Allah, Todo-Poderoso e
Glorioso, fez uma grande parte da recompensa dependente da Sua von-
tade. Ele diz:
72
É relatado que o Profeta ﷺficou de pé em oração toda a noite
até os seus pés ficarem inchados. Foi-lhe perguntado: “Porque fazeis
isto quando Allah já te perdoou todas as tuas ações, passadas e futu-
ras?”. Ele ﷺdisse: “Não devo eu ser um servo agradecido?”.79
Ibn Abi’d-Dunya relatou que ‘Ali Ibn Abi Talib (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨdisse a
um homem da tribo de Hamazan “A generosidade de Allah está ligada à
gratidão, e a gratidão está ligada ao aumento da Sua generosidade. A
generosidade de Allah não parará de aumentar a não ser que a gratidão
do Seu servo pare.”
79
Al-Bukhari, Kitab at-Tahajjud, 3/14; Muslim, Kitab Sifat Al-Qiyyamah, 17/162.
80
Ahmad, Al-Musnad, 5/245-247; Al-Hakim, Ma’rifat as-Sahabah, 3/273; an-Nisa’i,
Kitab as-Sahw, 3/53.
81
Isto é apoiado por um hadith relatado por at-Tirmidhi, Kitab Al-Adab, 8/106, e por
Al-Hakim, Kitab Al-At’ima, 4/135, pela autoridade de ‘Amr Ibn Shu’aib, trasmitido a ele
pelo seu pai e avô, que o Profeta ﷺdisse: “Allah gosta de ver o efeito da Sua genero-
sidade no Seu servo.” - Sheikh Shakir classificou este hadith como sahih no seu Al-
Musnad, 6708.
73
e incapazes de ser suficientemente agradecidos. Ele é Amabilíssimo para
connosco, mesmo quando Ele não necessita de nós, e nós somos des-
respeitosos para com Ele, mesmo quando somos extremamente depen-
dentes dele.”
74
cheio de comida). O homem perguntou “Qual é a gratidão das partes pri-
vadas?”. Abu Hazim respondeu recitando o verso do Qur’an:
75
QUINZE
CONFIANÇA COMPLETA EM ALLAH
Confiança completa em Allah é a dependência sincera do cora-
ção do servo de Allah na tentativa de procurar os seus interesses e guar-
dar-se contra qualquer coisa que possa ser nocivo para o seu bem-es-
tar, nesta vida e na próxima:
82
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/8; Al-Hakim, Kitab ar-Riqaq, 4/310.
76
Confiança é o estado do Profeta ﷺ, enquanto que esforçar-se
por ganhar a vida é a sua sunnah, e quem se comportar de acordo com
o estado do Profeta ﷺnão deve abandonar a sua sunnah.
Quem não cumprir um dos deveres imposto sobre ele por Allah,
merece ser castigado nesta vida e na próxima, de acordo com a
Shari’ah e como decretado por Allah (ﺗﻌﺎﻟﻰ. !)ﺳﺒﺤﺎﻧ.
Yusuf Ibn Asbat disse “Faça o que fizer como um homem que só
pode ser salvo pelas suas ações, e confie completamente em Allah
como um homem que só pode ser aflito por aflições que já lhe tinham
sido decretadas”.
Terceiro, os actos que Allah fez como parte da vida em geral, sem
estes serem essenciais. Allah pode abrir excepções para os servos que
Ele escolher.
77
Há vários tipos de acções destas, uma delas é tomar medica-
mentos. Os ‘ulama deram várias respostas à seguinte pergunta: É me-
lhor para uma pessoa doente tomar medicamentos ou, no caso daque-
les que confiam completamente em Allah, abster-se de os tomar?
Há duas respostas bem conhecidas para esta pergunta:
83
Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/305; Muslim, Kitab Al-Iman, 3/89.
78
DEZASSEIS
AMOR A ALLAH
Amar Allah, O Glorioso, Exalto, é o objectivo principal de todas as
estações, e o ápice de todos os estados. Ao obter o estado de amor
verdadeiro a Allah, cada estação que o seguir é um dos seus frutos e
um ramo das suas raízes - tal como saudade, intimidade e contenta-
mento. Cada estação que o precede é um passo na sua direção - tal
como arrependimento, perseverança e passar sem, ou zuhud.
Cada boa coisa que é desfrutada pela Sua criação é uma das
suas bênçãos sem limites, e Ele é Um, sem parceiros e associados:
79
E também:
Tudo o que vem d’Ele para os Seus servos, seja isso algo que
eles amam ou algo que eles odeiam, direciona-nos a amá-Lo. O Seu dar
e o Seu restringir, a fortuna e o infortúnio que Ele decreta para os Seus
servos e a Sua humilhação deles e a Sua elevação deles, a Sua justiça e
a Sua graça, a Sua dádiva da vida e o retirar desta novamente, a Sua
compaixão, generosidade e o ocultar das más ações dos Seus servos,
o Seu perdão e paciência, a Sua resposta às súplicas dos Seus servos
mesmo que Ele não esteja necessitado dos Seus servos de maneira al-
guma - tudo isto convida corações a adorá-Lo e amá-Lo.
84
Al-Bukhari, Kitab Al-Iman, 1/58; Muslim, Kitab Al-Iman, 2/15.
85
Al-Bukhari, Kitab Al-Iman wa’n-Nudhur, 11/523.
86
Como Allah diz: “O Profeta tem mais prevalência sobre os crentes que eles mes-
mos não têm entre si.” [33:6]
80
corpo, Aquele Que é constantemente Misericordioso e Generoso para
com ele, apesar das suas más ações?
Além disso, Ele (ﺗﻌﺎﻟﻰ. ! )ﺳﺒﺤﺎﻧcriou-nos para Ele Próprio e Ele criou
tudo para nós, ambos neste mundo e no próximo. Quem mais, então,
merece ser amado e agradado mais do que Allah (ﺗﻌﺎﻟﻰ. !?)ﺳﺒﺤﺎﻧ
81
Ele fica satisfeito com aqueles servos que pedem a Sua assistên-
cia, e Ele fica irado com aqueles que não o fazem. Ele fica desagradado
quando Ele vê um servo a ser desobediente e negligente para com as
suas ações, e, no entanto, Ele oculta as más ações do Seu servo en-
quanto o próprio servo não as oculta. Ele tem misericórdia do Seu servo
enquanto o Seu servo não tem misericórdia de si mesmo.
Ele chamou-o para a sua aceitação e misericórdia através da Sua
compaixão e generosidade - mas ele recusa-as. Ele enviou mensageiros
para ele e deu a conhecer a Sua aliança através dele. Ele (ﺗﻌﺎﻟﻰ. !)ﺳﺒﺤﺎﻧ
até se aproxima dele e diz “Há alguém que esteja a chamar por Mim,
para que eu responda à sua súplica? Há alguém que esteja à procura do
Meu perdão, para que eu possa perdoá-lo?”87
Ele é o Rei, sem parceiros, O Único, Singular, sem igual. Tudo pe-
recerá excepto o Seu Rosto. Ele não é obedecido excepto pela Sua or-
dem, nem é Ele desobedecido sem o Seu conhecimento disso. Ele fica
satisfeito com o servo obediente pela sua obediência, mesmo se isso
não pudesse ter ocorrido sem a Sua ajuda e assistência. Ele perdoa e
indulta, mesmo depois de ter sido desobedecido. E, no entanto, os direi-
tos devidos a Ele são aqueles mais rejeitados e negligenciados.
87
Muslim relatou no seu Sahih, Kitab Salat Al-Musafirin wa Qasruha, 6/36, pela autori-
dade de Abu Hurairah (!)'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ, que o Profeta ﷺdisse: “O nosso Senhor, Pode-
roso e Glorioso, desce todas as noites ao céu mais próximo a nós durante o último
terço da noite e diz ‘Há alguém que esteja a chamar por Mim, para que eu responda à
sua súplica? Há alguém que esteja à procura do Meu perdão, para que eu possa per-
doá-lo?’”
82
Ele é a Testemunha mais próxima, o protector mais sublime, o
mais Verdadeiro à Sua Palavra, e o mais Justo dos juízes. Ele sabe o se-
gredo dos egos:
88
Isto é apoiado por um hadith relatado por Al-Bukhari no seu Sahih, pela autoridade
de Abu Huraira, que disse: O Mensageiro de Allah ﷺdisse: “Allah (ﺗﻌﺎﻟﻰ. ! )ﺳﺒﺤﺎﻧdisse
83
Outro homem disse num poema:
Uma das mulheres dos salaf disse uma vez, quando ela aconse-
lhava as suas crianças “Faz um hábito amar e obedecer a Allah, pois
aqueles que têm taqwa levam a sua obediência ao ponto dos seus cor-
pos experimentarem aversão a qualquer coisa do que à obediência. Se o
amaldiçoado (shaytan) tenta seduzi-las a fazer algo errado, a má ação
fica envergonhada e evita-as, por causa da maneira como esta é rejei-
tada por elas.”
‘Quem mostrar inimizade contra o Meu amigo, Eu estarei em guerra contra ele. O Meu
servo não se aproxima de Mim com nada mais querido para Mim do que o que Eu fiz
como obrigatório, e o Meu servo continua a aproximar-se de Mim com nawafil (ações
voluntárias) até Eu o amar - e quando Eu o amo, sou a sua audição com a qual ele
ouve, e a sua visão com a qual ele vê, e a sua mão com a qual ele agarra, e o seu pé
com o qual ele caminha - e se ele Me pedisse, Eu certamente daria, e se ele Me pe-
disse por refúgio, Eu certamente o concederia.’” Também contido em an-Nawawi, Al-
Arba’in an-Nawawi, hadith nº 38.
84
DEZASSETE
CONTENTAMENTO COM O DECRETO DE AL-
LAH
O servo pode experimentar um de dois estados quanto ao que
ele não gosta: o estado de se estar contente, ou o de ser paciente. Es-
tar contente é uma qualidade louvável, enquanto ser paciente é um de-
ver que o crente deve cumprir.
Este nível só pode ser alcançado por aqueles que têm grande co-
nhecimento e amor. E assim é possível que eles encontrem prazer no
que quer que seja que os afligiu - porque isso veio até eles do seu
Amado.
85
Foi relatado pela autoridade de Anas Ibn Malik que o Profeta ﷺ
disse “Quando Allah ama alguém, Ele põem-no à prova: quanto àquele
que estiver contente - Allah ficará satisfeito com ele; e quanto àquele que
ficar descontente - Allah ficará insatisfeito com ele.”89
Ibn Mas’ud (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨdisse “Allah Todo-Poderoso, na Sua Jus-
tiça e Sabedoria, colocou repouso e alegria na certeza e contentamento,
e Ele colocou tristeza e mágoa na dúvida e descontentamento.”
Ao comentar sobre o verso:
Quanto ao verso:
‘Ali Ibn Abi Talib (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨuma vez viu ‘Adiyy Ibn Hatim com um
aspecto triste e então ele perguntou-lhe “Porque estás triste, Ó ‘Adiyy?”.
‘Adiyy respondeu “Como posso não estar neste estado, quando ambos
os meus filhos foram mortos e o meu olho removido?”. Então ‘Ali disse-
lhe “Ó ‘Adiyy quem estiver contente com o Decreto de Allah experi-
menta-lo-á certamente e será recompensado por ele; e quem não estiver
contente com o Decreto de Allah experimenta-lo-á certamente e Allah
renderá as suas ações como inúteis.”
Abu’d-Darda’ visitou um homem à beira da morte e encontrou-o a
louvar a Allah, então ele disse-lhe “Estás correto! Allah, Poderoso e Glori-
oso, gosta que fiquemos contentes com tudo o que Ele decreta.”
89
At-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/77, classificado como hasan gharib; as-Suyuti, Al-
Jami’ as-Saghir, 2/459, classificado como hasan.
86
Al-Hasan Al-Basri disse: “Quem estiver contente com o que tem,
Allah fa-lo-á suficiente para ele e colocará bênção nisso; e quem não es-
tiver contente, Allah não o fará suficiente para ele e não colocará bênção
nisso.”
‘Umar Ibn Abdal-Aziz disse: “Eu não tenho nada que me dê ale-
gria, excepto que o que foi decretado por Allah acontece”. Ele foi uma
vez questionado “O que desejas?”. Ele respondeu “O que quer que Al-
lah, Poderoso e Glorioso, decrete.”
Abdal-Wahid Ibn Zaid disse: “Estar contente é a melhor porta para
Allah, o Jardim desta vida, e um sítio de descanso para os adoradores.”
Também foi dito “Não haverá nível na próxima vida melhor do que
o daqueles que ficam contentes com o que quer que Allah decrete,
sempre. Quem deseja a qualidade do contentamento será elevado aos
melhores níveis.”
87
DEZOITO
ESPERANÇA EM ALLAH
Este é o estado pacífico de um coração que espera pelo que lhe
é querido. Se os meios - pelo qual o coração espera pelo que pode vir -
não estão presentes, então imbecilidade e insensatez seriam descrições
mais precisas para o seu estado. Se, por outro lado, aquilo pelo qual ele
espera certamente acontecerá, então nem esperança certa pode ser o
termo a ser usado ao descrever o seu estado: não se pode dizer “Eu es-
pero que o sol nasça ao nascer-do-sol”, mas pode-se dizer “Eu desejava
que chovesse.”
88
Então, o termo “esperança” só se aplica a esperar com saudade e
ansiedade por algo acontecer, depois que todos os meios que o ajuda-
rão na realização deste desejo - isto é, todos os meios que estão entre o
poder e escolha do servo - forem utilizados.
As coisas que não estão dentro do controlo do servo, e que estão
completamente dentro do domínio da generosidade de Allah, também
desempenham um papel. Allah (ﺗﻌﺎﻟﻰ. ! )ﺳﺒﺤﺎﻧé capaz de impedir todos os
fenômenos e obstáculos prejudiciais, se Ele assim quiser.
89
Se esperança não está ligada a qualquer destes pré-requisitos,
então é só uma ilusão - esperança é um assunto completamente dife-
rente.
90
Hasan, at-Tirmidhi, Sifat Al-Qiyyama, 7/146, classificado como hasan gharib; tam-
bém Al-Hakim, Kitab ar-Raqa’iq, 4/307.
Explicação: Este hadith significa que cada pessoa que tem um lugar no Para-
íso, também tem um lugar no Inferno, incluindo o muçulmano. Então, se um
muçulmano entrar no Paraíso, o lugar dele no Inferno estará vazio. E assim,
este é ocupado pelas pessoas (pecadores, descrentes, opressores, etc.) que
não foram para o Paraíso, visto que Allah declarou que o Inferno estaria cheio
de pessoas descrentes, injustas, opressoras, pecadoras, que não se arrepen-
deram, nem se voltaram a Allah durante a sua vida.
91
Muslim, Kitab at-Tawba, 17/85.
90
Foi transmitido pela autoridade de ‘Umar Ibn Al-Khattab ( 'ﺿﻲ ﷲ
! )ﻋﻨque alguns prisioneiros foram trazidos perante o Mensageiro de Allah
ﷺ. Entre eles estava uma mulher que procurava por alguém na multi-
dão. Quando ela encontrou um bebê entre os prisioneiros, ela pegou-o
nos seus braços, apertou-o perto do seu peito, e amamentou-o. Depois,
o Mensageiro de Allah ﷺdisse: “Vocês pensam que esta mulher al-
guma vez atiraria a sua criança para o Fogo?”. Nós dissemos “Por Allah,
desde que estivesse no seu poder, ela nunca atiraria a sua criança no
Fogo!”. Depois o Mensageiro de Allah ﷺdisse “Allah é mais misericordi-
oso para os Seus servos do que esta mulher é para a sua criança.”92
Foi relatado pela autoridade de Abu Huraira que ele ouviu o Men-
sageiro de Allah ﷺdizer: “Quando Allah criou a criação, Ele decretou
algo para Ele Mesmo, e um registro claro está com Ele a confirmar isso,
‘Por certo, a Minha misericórdia permanece acima da Minha ira.”93
92
Al-Bukhari, Kitab Al-Adab, 10/426; Muslim, Kitab at-Tawba, 17/70.
93
Al-Bukhari, Kitab Bad’ Al-Wahiy, 6/287; Muslim, Kitab at-Tawba, 17/68.
94
Hasan, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/524; classificado como hasan gharib.
95
Ibn Hibban relatou no seu livro, Rawdhat Al-‘Uqala’, p.284, que o poeta Abu’l-
‘Atahiyya disse: “Fui ver Harun ar-Rashid, o líder dos crentes, e quando ele me viu, ele
91
DEZANOVE
TEMOR A ALLAH
Temor é o incentivo com o qual Allah impulsiona os Seus servos
na direção do conhecimento e da ação para que eles se possam aproxi-
mar mais d’Ele. É a dor e angústia do coração quando este sente que o
dano é iminente. Temor é o que impede o corpo de ser desobediente e
encoraja-o na adoração e serviço. Quando o temor está em falta, isto
leva a negligência e ousadia ao cometer pecados, enquanto que dema-
siado temor resulta num estado de desânimo e desespero.
A pessoa que mais teme o Seu Senhor é a que tem mais conhe-
cimento sobre Ele e sobre si mesma. É por isto que o Profeta ﷺdisse
disse: ‘És o Abu’l-‘Atahiyya, o poeta?’. Eu disse: ‘Sim’. Ele disse: ‘Dá-me algum conse-
lho em algumas linhas de poesia, e sê breve!’. Eu recitei para ele:
92
“Por Allah, de todas as pessoas, eu sou o que tem mais conhecimento
sobre Allah, e eu sou quem mais O teme.”96
O Imam ash-Sha’bi foi uma vez referido como “Ó sábio”. Ele res-
pondeu “Eu não sou - pois o sábio é aquele que teme Allah, como Ele
(ﺗﻌﺎﻟﻰ. ! )ﺳﺒﺤﺎﻧdiz:
Abu’l Qassim Al-Hakim disse: “Quem teme algo, corre para longe
disso, enquanto que quem teme Allah, corre na Sua direção.”
96
Al-Bukhari, Kitab Al-Adab, 10/513; Muslim, Kitab Al-Fadha’il, 15/106; pela autori-
dade de ‘A’isha ()'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﺎ.
93
como o de uma pessoa que está presa nas garras de um leão, não sa-
bendo se este a vai deixar e permiti-la escapar, ou se a atacará, ma-
tando-a. Assim ela torna-se internamente e externamente ocupada com
o que ela teme. Não há espaço nela para qualquer coisa excepto aquilo
que ela teme. Este é o estado de uma pessoa que está dominada por
temor a Allah.
94
Os Méritos do Temor a Allah
Allah (ﺗﻌﺎﻟﻰ. ! )ﺳﺒﺤﺎﻧconcede orientação, misericórdia, conheci-
mento e aceitação àqueles que O temem:
Al-Fudayl Ibn ‘Iyyad disse “Quem teme a Allah será orientado por este te-
mor a tudo o que é bom.”
97
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab Fadha’il Al-Jihad, 5/260 e Kitab az-Zuhud, 6/600; classifi-
cado como um hadith sahih.
95
Yahya Ibn Mu’adh disse “Qualquer má ação cometida por um
crente é seguida por duas consequências: medo do castigo e espe-
rança pelo perdão.”
Foi relatado pela autoridade de Abu Dharr (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨque o Men-
sageiro de Allah ﷺrecitou a surah do Qur’an começando pelo verso:
98
As-Siddiq - significando ‘o verdadeiro’ - é o nome que foi dado ao pai de ‘A’isha,
Abu Bakr ()'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﻢ, por causa da sua honestidade, sinceridade e retidão - e por-
que ele sempre confirmava a verdade da mensagem do Profeta ﷺe das suas palavras
e ações.
99
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab at-Tafsir, 9/19; Al-Hakim, Kitab at-Tafsir, 2/393.
100
Sahih, Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/319; at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 6/601.
96
Este hadith indica que se soubéssemos tanto quanto o Profeta ﷺ
sabia sobre o Poder de Allah, e a Sua retribuição para quem o desobe-
dece, então o nosso choro e mágoa e temor pelo que nos espera dura-
ria bastante. Talvez nem sorríssemos novamente.
Abu Bakr as-Siddiq (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨdisse “Eu desejava ser não mais
do que um pêlo no lado de um servo crente”. Sempre que ele se levan-
tava para a oração, ele tremia como uma folha por temor a Allah.
‘Umar Ibn Al-Khattab (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨestava uma vez a ler a Surat at-
Tur e quando ele se deparou com o verso:
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab ash-Shama’il, p.337; an-Nisa’i, Kitab as-Sahw, 3/13; Abu
102
97
Quando ele costumava recitar o Qur’an à noite e lia um verso que
o enchia de temor, ele ficava em casa por dias a fio e as pessoas vi-
nham visitá-lo, pensando que ele estava doente. O seu choro frequente
deixou duas linhas escuras na sua cara.
Ibn ‘Abbas disse-lhe uma vez “Allah trouxe muitos países para a
Ummah Muçulmana através de ti, e através de ti, muitas vitórias foram
ganhas.” ‘Umar respondeu “Tudo o que eu quero é ser salvo. Não de-
sejo nem recompensa, nem castigo.”
‘Uthman Ibn ‘Affan (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨcostumava chorar até a sua barba
estar encharcada cada vez que ele ficava perante uma sepultura. Ele
costumava dizer “Se eu estivesse entre o Jardim e o Fogo, não sabendo
em qual chegaria a entrar, eu preferiria ser transformado em cinzas antes
de saber o meu destino.”
A pele por baixo dos olhos de Ibn ‘Abbas parecia couro de sandá-
lia, por causa do seu choro frequente.
‘Ali Ibn Abi Talib (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨficou uma vez dominado por tristeza
depois de acabar a oração da alvorada; ele disse “Nunca antes tinha
visto algo como os companheiros do Mensageiro de Allah ﷺ. Os seus
cabelos eram despenteados, e o espaço entre os seus olhos eram
como os joelhos de cabras. Eles passavam a noite em oração e recita-
ção do Qur’an, de pé ou em prostração. Quando a alvorada chegava,
eles passá-la-iam com lembrança de Allah, bamboleando como árvores
num dia tempestuoso, com lágrimas fluindo dos seus olhos até que as
suas roupas ficavam encharcadas. Por Allah, parece-me que as pessoas
que estão ao meu redor passaram a noite a dormir profundamente”. De-
pois ele levantou-se e não foi visto a rir novamente, até ele ser apunha-
lado até à morte por Ibn Muljim.
103
Da’if; Este hadith não é só atribuído a Abu’d-Darda’, mas também gravado por as-
Suyuti, Al-Jami’ as-Saghir, 3/318, como um hadith relatado por Ibn ‘Asakir. Al-Hakim
gravou um hadith semelhante mas com palavras diferentes em Al-Mustadrak, 4/579,
e atribui-o a Abu’d-Darda’.
98
Mussa Ibn Mas’ud disse “Sempre que nos sentávamos na com-
panhia de Suffian, nós sentíamos como se o Fogo nos tivesse cercado
por causa do medo e pânico que víamos nos seus olhos.”
Al-Hasan foi descrito uma vez como o seguinte: “Sempre que ele
se aproximava de nós, parecia como se ele tivesse acabado de vir do fu-
neral do seu melhor amigo; sempre que ele se sentava com companhia,
ele parecia um prisioneiro que tinha acabado de ser sentenciado à morte
por decapitação; e sempre que o Fogo era mencionado, era como se
este tivesse sido especialmente criado só para ele.”
Foi relatado que Zurarah Ibn Abu Awfa liderou algumas pessoas
na oração da alvorada e recitou a Surat Al-Mudathir do Qur’an. Quando
ele alcançou as palavras:
Abdullah Ibn Amr Ibn Al-As foi relatado como tendo dito “Chorem,
e se não puderem chorar, então finjam que choram! Eu juro por Aquele
em Cuja Mão está a minha vida, se qualquer um de vós realmente sou-
besse, imploraria até que a sua voz desaparecesse, e rezaria até que as
suas costas se quebrassem.”105
104
Ad-Dhahabi, Kitab Al-‘Ibar, 1/109.
105
Sahih, Al-Hakim, Kitab Al-Ahwal, 4/578.
99
VINTE
A VIDA DESTE MUNDO
A desaprovação deste mundo que aparece no Livro e nos Ahadith
não é direcionada ao aspecto do seu tempo, que é a alternação da noite
e do dia até ao Dia do Juízo. Allah (ﺗﻌﺎﻟﻰ. ! )ﺳﺒﺤﺎﻧconcedeu isso para que
as pessoas que quisessem, invocassem o Seu Nome e fossem agrade-
cidas durante estes.
Foi dito uma vez “A noite e o dia são como duas arcas de tesouro,
então tem cuidado com o que fazes neles.”
O Profeta ﷺdisse “Quem disser ‘Exaltado seja Allah e d’Ele são as Bên-
çãos’, terá uma palmeira plantada para ele no Jardim.”106
Um homem uma vez disse a um ‘alim “Pare, para que eu fale con-
sigo!”. O ‘alim respondeu “Primeiro pare o sol!”
106
Sahih, at-Tirmidhi.
100
A desaprovação deste mundo que aparece no Livro e nos Ahadith
também não é direcionada ao seu aspecto de espaço, que é a terra e
todas as suas montanhas, e mares, e rios, e os tesouros neles. Tudo
isto são as bênçãos de Allah para os Seus servos, para que eles pos-
sam pô-las em uso, e contemplá-las e assim reconhecer a Unicidade e
Grandeza do seu Criador (ﺗﻌﺎﻟﻰ. !)ﺳﺒﺤﺎﻧ.
101
O segundo tipo são aqueles que aceitam que há uma morada de-
pois da morte, onde há recompensa e castigo. Estes são os que se-
guem os mensageiros. Eles estão numa de três categorias: aqueles que
são injustos consigo mesmos, aqueles que são maus consigo mesmos,
e aqueles que são rápidos em fazer boas ações, pela permissão de Al-
lah.
‘Umar Ibn Al-Khattab (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨdisse “Se não fosse pelo facto
de que o meu nível no Jardim pudesse diminuir, eu ter-vos-ia imitado na
vossa vida de facilidades; mas Allah avisou algumas pessoas dizendo:
102
Isto significa que Allah colocou o que está nesta terra para nos
testar, para ver quem é que evitará os prazeres deste mundo e procurar
pelo sucesso no próximo, pois:
Yahya Ibn Mu’adh disse “Como posso não amar este mundo no
qual fui abençoado com sustento que me dá vida, quando eu uso esta
vida para adoração por meio da qual posso ganhar a recompensa do
Jardim?”
Abu Safwan ar-Ra’ini foi questionado uma vez “Qual é a vida deste
mundo que é criticada no Qur’an, e a qual aqueles que são prudentes
devem evitar?”. Ele respondeu “Tudo o que fazes neste mundo com a in-
tenção de obter lucro neste mundo é censurável, e tudo o que fazes
107
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/48; Al-Hakim, Kitab ar-Riqaq, 4/310; pela au-
toridade de Abdullah Ibn Mas’ud e de ‘Umar ()'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﻢ.
108
Sahih, Al-Bukhari.
109
Sahih, Muslim, Kitab Al-Imara, 12/207; e atribuído a Mu’adh.
103
para obter lucro no próximo mundo não tem nada a ver com este
mundo.”
110
Da’if, Ahmad Ibn Hanbal, Al-Musnad, 4/412; Al-Hakim, Kitab ar-Riqaq, 4/308; é
classificado como sahih, mas adh-Dhahabi refeitou-o devido a uma quebra no seu is-
nad.
111
Abu Nu’aym, Al-Hilya, 1/136.
104
O Dano do Amor a este Mundo
O Imam Ahmad escreveu, pela autoridade de Suffian, que Jesus,
filho de Maria ()ﻢ ﺳﻠﻢ5 )ﻋﻠcostumava dizer “Amor por este mundo é a raiz
de todo o mal, e ter dinheiro é uma doença séria”. Foi-lhe perguntado
“Que maus efeitos têm?” Ele respondeu “Quem o tem nunca está seguro
contra orgulho e auto-ilusão”. Eles disseram “E se alguém não tiver estes
defeitos?” Ele disse “A sua preocupação com fazer o bem distraí-lo-á da
lembrança de Allah (ﺗﻌﺎﻟﻰ. !)ﺳﺒﺤﺎﻧ.”112
112
Da’if, veja Majmu’at Al-Fatawa, 18/123.
113
Um verso de poesia com o mesmo significado menciona:
105
Primeiro, o amor por este mundo leva a demasiada ênfase sobre
a sua importância - quando este é insignificante para Allah. É uma das
piores más ações, dar importância ao que Allah considera trivial.
Segundo, Allah condenou-o. Ele repugna e desaprova-o, excepto
pelo que ele contém que é de direito d’Ele. Quem ama o que Allah con-
dena, repugna e desaprova, deixou-se vulnerável à confusão e tentação,
tal como a Sua desaprovação e ira.
Terceiro, uma pessoa que ama este mundo, faz dos prazeres e
sucessos desta vida o seu objectivo. Para os adquirir, ela utilizará as
mesmas maneiras e caminhos que, de facto, Allah concedeu para a ori-
entar na direção d’Ele e da próxima vida. Tal pessoa rebela-se contra o
que Allah pretende para ela se esforçar e alcançar: ela torna os meios
um fim por si só, e usa os meios que devem levar à próxima vida, para
adquirir os prazeres deste mundo. Isto é uma completa perversão do
propósito destes meios, o que indica um coração muito perverso. Allah
(ﺗﻌﺎﻟﻰ. ! )ﺳﺒﺤﺎﻧdiz:
106
fez abundantemente rico e a quem Ele concedeu todo o tipo de riqueza.
Ele será trazido perante Allah e Ele pedir-lhe-à para recontar as Sua bên-
çãos, e então ele reconta-las-à. E então Allah perguntará ‘O que costu-
mavas fazer?’. Ele dirá ‘Eu gastei dinheiro de todas as formas que Tu de-
sejavas que este fosse gasto’. Allah dirá “Estás a mentir. Tu fizeste isso
para que pudesse ser dito que eras um homem generoso, e assim foste
referido’. E então Allah dará a ordem e ele será arrastado pelo rosto e ati-
rado no Fogo.’”114
Neste hadith nós podemos ver como foi o amor pela vida deste
mundo que impediu estas três pessoas da recompensa e rendeu as
suas ações como inúteis, fazendo delas as primeiras a entrar no Fogo.
Quarto, o amor pela vida deste mundo também faz o servo ficar
preocupado com ele e impede-o de realizar ações que poderiam benefi-
ciá-lo no próximo mundo. Há muitos tipos de pessoas nesta categoria:
há aquelas cuja preocupação com esta vida distrai-as do Islam e as
suas leis completamente; aquelas que estão distraídas de muitos dos
seus deveres religiosos; aqueles que são distraídas de qualquer dever
que entrave os seus planos e esquemas para o adquirir; aquelas que
são distraídas de cumprir as suas obrigações religiosas nos tempos e
maneiras certos, assim desperdiçando o seu tempo e negligenciando os
seus deveres; aquelas cujos corações estão demasiado preocupados
com esta vida para serem capazes de dar atenção total à sua adoração
quando elas cumprem os seus deveres religiosos; e aquelas cujos cora-
ções não são devotos a Allah, e assim o cumprimentos destes deveres
é só uma exibição exterior sem qualquer sinceridade interior - e estas
são o tipo menos comum dentre os amantes desta vida.
Uma forma menos extrema de amor pela vida deste mundo é o
que apenas distrai o servo da sua verdadeira fonte de felicidade: que é
dedicar o seu coração ao amor pelo seu Senhor, e a sua língua à lem-
brança d’Ele. Amor e obsessão pela vida deste mundo limitam, inevita-
velmente, as oportunidades de um servo no próximo mundo, da mesma
maneira que amor pelo próximo mundo limita a sua vida neste mundo.
107
as pessoas do seu redor, e só o que foi decretado para ele neste
mundo, virá até ele.”115
Sexto, aquele que mais ama a vida deste mundo é aquele que
mais sofre nesta. O seu sofrimento é de três tipos: o sofrimento nesta
mesma vida como resultado do seu esforço em alcançar ganhos mun-
danos e a sua competição com outras pessoas sobre eles; o seu sofri-
mento no barzakh porque ele perdeu nesta vida e arrepende-se das
suas oportunidades perdidas - pois agora ele está no seu caminho para
encontrar Allah em tal estado que ele deseja nunca encontrá-Lo; e o seu
sofrimento porque ele não teve êxito em encontrar um substituto para Ele
nesta vida. Tal homem sofre o tormento mais severo na sua sepultura.
Amargura, depressão e arrependimento, tudo isso devora a sua alma, da
mesma forma que os vermes devoram o seu corpo.
Resumindo, aquele que ama a vida deste mundo sofre neste
mundo, na sua sepultura e no Dia em que ele encontrar o seu Senhor.
Allah (ﺗﻌﺎﻟﻰ. ! )ﺳﺒﺤﺎﻧdiz:
115
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 6/165; Ibn Ma’jah, Kitab az-Zuhud, 2/1375.
108
Ó povo que encontra prazer
num mundo que desaparecerá,
apaixonar-se por uma sombra que se desvanece
é pura estupidez!
Yunus Ibn Abdal-‘Ala disse “Para mim, a vida deste mundo pode
ser comparada com um homem que adormece, e num sonho ele vê
tudo o que ele gosta e tudo o que ele não gosta, e enquanto ele está
neste estado, ele de repente acorda!”
Uma das coisas que pode facilmente ser comparada a esta vida é
a sombra: parece ser permanente, mas na realidade é um estado cons-
tante de encurtar e ampliar, e quando se tenta persegui-la e agarrá-la -
não é possível! Também pode ser comparada a uma miragem no de-
serto que:
109
VINTE E UM
ARREPENDIMENTO
Desviar-se de más ações voltando para o Ocultador de falhas e o
Conhecedor de todos os segredos é o princípio daqueles que viajam
para Ele, o investimento inicial daqueles que finalmente obtêm lucro, o
primeiro passo na busca pelo Seu Rosto, a chave para corrigir o que
não está correto, e o primeiro nível na seleção daqueles que Lhe serão
aproximados.
116
Sahih, Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/101.
110
O arrependimento é o voltar do servo para Allah e o seu desvio da
companhia daqueles que se desviam da senda reta e aqueles que con-
vidam a ira de Allah.
Há três condições para o arrependimento ser válido se a má ação
tem a ver com o que é devido a Allah (ﺗﻌﺎﻟﻰ. !)ﺳﺒﺤﺎﻧ: sentir remorso, aban-
donar a má ação, e resolver nunca mais repeti-la.
117
Sahih, Ahmad Ibn Hanbal, Al-Musnad, 1/376, pela autoridade de Ibn Mas’ud.
Sheikh Shakir diz que o seu isnad é sahih. Também relatado por Al-Hakim, Al-Musta-
drak, 4/243.
118
Al-Bukhari, Kitab Al-Mashalim, 5/101 e Kitab Ar-Riqaq, 11/395, pela autoridade de
Abu Huraira.
111
Há vários tipos particulares de arrependimento, dos quais mencio-
namos os seguintes:
Foi relatado que Ibn Mas’ud (! )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨuma vez comprou uma
escrava de um homem. Quando ele foi pagar, o homem tinha desapare-
cido. Ibn Mas’ud esperou em vão que o homem voltasse, e eventual-
mente deu o dinheiro em caridade, dizendo “Ó Allah, esta sadaqa é em
112
nome daquele homem. Se ele aprovar esta sadaqah, então a sua re-
compensa será dele, e se ele não aprovar, então a recompensa será mi-
nha e ele recebe uma recompensa igual à minha recompensa.”
Um grupo de ‘ulama diz que ele volta para o mesmo nível que ele
estava antes de cometer essa má ação, porque o arrependimento apaga
a má ação completamente, e é como se a ação nunca tivesse aconte-
cido.
Outro grupo diz que ele não volta ao mesmo nível, argumentando
que visto que ele estava a avançar antes de cometer essa má ação, e
visto que cometê-la fê-lo andar para trás, então quando ele se arre-
pende, ele perde o equivalente da distância que ele poderia ter feito en-
tão, se ele não tivesse cometido a má ação!
113
Por exemplo, o Profeta Dawud (! ﺳﻠﻢ5 )ﻋﻠestava num nível melhor
depois de se arrepender do que ele estava antes de ter cometido a má
ação.
114
Arrependimento Sincero
Allah (ﺗﻌﺎﻟﻰ. ! )ﺳﺒﺤﺎﻧdiz:
Al-Kalbi disse “É quando o servo pede por perdão com a sua lín-
gua, sente remorso com o seu coração, e restringe os seus membros.”
115
O primeiro elemento do arrependimento sincero diz respeito à
ação pela qual o arrependimento é feito. O segundo diz respeito à pró-
pria pessoa que se arrepende. O terceiro diz respeito Àquele perante
Quem ele se arrepende.
116
O arrependimento tem um início e um fim:
Terceiro, ele deve considerar o facto de que Allah lhe deu a possi-
bilidade e a capacidade de se voltar em arrependimento, quando Ele po-
deria tê-lo impedido de cometer a má ação em primeiro lugar.
117
Esta compreensão abre para o servo jardins de conhecimento, e
fé, e os segredos do decreto, e sabedoria, e o domínio das palavras é
demasiado limitado para os conter e exprimir.
Algo do que pode ser dito é que o servo aprende sobre o Poder
de Allah, que é manifestado no Seu decreto - isto é, que Ele (ﺗﻌﺎﻟﻰ. !)ﺳﺒﺤﺎﻧ
decreta o que Ele quer. Ele também aprende que através da perfeição
do Seu Poder, Ele decretou que o coração do servo deve inclinar-se, e
será direcionado para o que quer que Ele deseje, e que Ele vem entre o
servo e o seu próprio coração.
118
Allah orienta o Seu servo através das estações da humildade,
submissão, rendição e expressando a sua necessidade de ajuda - que
estão em quatro etapas: a humildade que surge por necessidade e po-
breza, que é um atributo geral de todas as criaturas; a humildade da
obediência e submissão, que só pertence aos que O obedecem; a hu-
mildade do amor, pois o que ama é especialmente humilde, e o nível da
sua humildade está em proporção direta ao seu amor; e a humildade
que surge como resultado de desobediência e má ação que são elas
próprias uma consequência da pobreza e necessidade na qual resultam.
Isto foi notado pelo mais sábio de toda a criação de Allah, o Seu
Mensageiro ﷺ, quando ele disse “Se vocês não cometessem más
ações, Allah removê-los-ia e substitui-los-ia por um povo que cometesse
más ações, para que eles pudessem procurar pelo perdão de Allah e Ele
conceder-lhes-ia o Seu perdão.”120
Anas Ibn Malik Al-Ansari relatou que o Mensageiro de Allah ﷺdisse “Al-
lah fica mais satisfeito com o arrependimento do Seu servo do que uma
pessoa montando um camelo num deserto sem água e perde o seu ca-
melo e todas as suas provisões de comida e bebida que este carrega.
Tendo abandonado toda a esperança de encontrar o camelo, ele senta-
se na sombra de uma árvore que encontra. Enquanto ele descansa, ele
de repente vê o camelo parado à sua frente. Ele agarra nas suas cordas
e depois, em plena felicidade, profere abruptamente ‘Ó Senhor, Tu és o
meu Servo e eu sou o Teu senhor!’. Ele comete este erro por plena felici-
dade.”121
120
Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/65.
121
Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/102; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/63,
pela autoridade de Anas (!)'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ.
119
Vamos assumir que uma pessoa a quem você ama muito foi cap-
turada por um inimigo e impedida de o encontrar, e você sabe que este
inimigo infligirá todo o tipo de torturas na sua amada e destrui-la-á, e que
você é muito melhor para ela do que o seu inimigo - pois ela é alguém
que você nutriu. Depois imagine que ela escapa deste inimigo e vem até
você sem deixá-lo saber antecipadamente, e você fica surpreendido em
vê-la à sua porta, elogiando-o, e esperando pelo seu agrado, com o seu
rosto manchado com o pó da sua entrada. Quão feliz você estaria com
este retorno, vendo que você já a tinha feito sua antes, aprovando a sua
aproximação a você, e favorecendo-a acima de toda a gente?
120
121