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A
Purificação
da
Alma
Compilação dos trabalhos de Ibn Rajab Al-Hanbali, Ibn Al-
Qayyim Al-Jawziyya e Abu Hamid Al-Ghazali

Tradução, edição e design: Cláudia Sofia Simões


Revisão: Virgínia Moreira
A Purificação da Alma
de acordo com as primeiras fontes.

Compilação dos trabalhos de Ibn Rajab Al-Hanbali, Ibn Al-


Qayyim Al-Jawziyya e Abu Hamid Al-Ghazali

Colecção e arranjo por Ahmad Farid

Al-Firdous Ltd., Londres


Sumário
PREFÁCIO DO AUTOR ........................................................................................ 1

SINCERIDADE ...................................................................................................... 3
A NATUREZA DA INTENÇÃO .............................................................................. 7
A EXCELÊNCIA DA INTENÇÃO ................................................................................... 9
A EXCELÊNCIA DO CONHECIMENTO E ENSINO .......................................................... 9
TIPOS DE CORAÇÃO ........................................................................................ 12
CORAÇÃO SAUDÁVEL ............................................................................................ 12
O CORAÇÃO MORTO ............................................................................................. 13
O CORAÇÃO DOENTE ............................................................................................ 13
SINTOMAS DA DOENÇA DO CORAÇÃO E SINAIS DA SUA SAÚDE.............. 15
OS SINAIS DE UM CORAÇÃO DOENTE ..................................................................... 15
OS SINAIS DE UM CORAÇÃO SAUDÁVEL ................................................................. 15
AS CAUSAS DA DOENÇA DO CORAÇÃO................................................................... 17
OS QUATRO VENENOS DO CORAÇÃO ........................................................... 18
CONVERSA DESNECESSÁRIA ................................................................................. 18
OLHARES DESENFREADOS .................................................................................... 22
DEMASIADA COMIDA .............................................................................................. 24
MANTER MÁ COMPANHIA ....................................................................................... 25
O QUE DÁ VIDA E SUSTENTO AO CORAÇÃO ............................................................ 27
LEMBRANÇA DE ALLAH E RECITAÇÃO DO QUR’AN .................................... 28
PROCURAR O PERDÃO DE ALLAH ................................................................. 32
SÚPLICA ............................................................................................................. 34
BOAS ETIQUETAS AO SUPLICAR ............................................................................. 36
INVOCAR BÊNÇÃOS PARA O PROFETA ‫ ﷺ‬.................................................... 38
REZAR À NOITE ................................................................................................. 40
PASSAR SEM OS PRAZERES DESTE MUNDO ............................................... 42
OS ESTADOS DO EGO ...................................................................................... 48
O EGO EM PAZ ...................................................................................................... 49
O EGO CENSURADOR DE SI MESMO ...................................................................... 51
O EGO QUE INCITA AO MAL.................................................................................... 52
RESPONSABILIZAR O EGO ...................................................................................... 54
OS MÉRITOS DE RESPONSABILIZAR O EGO ............................................................ 59
PERSERVERANÇA ............................................................................................ 60
O SIGNIFICADO DA ESSÊNCIA DA PERSEVERANÇA .................................................. 62
TIPOS DE PERSEVERANÇA ..................................................................................... 65
OS MÉRITOS DA PERSEVERANÇA........................................................................... 68
GRATIDÃO ......................................................................................................... 71
CONFIANÇA COMPLETA EM ALLAH ............................................................... 76
AMOR A ALLAH ................................................................................................. 79
CONTENTAMENTO COM O DECRETO DE ALLAH ......................................... 85
A DIFERENÇA ENTRE CONTENTAMENTO E PACIÊNCIA ............................................. 85
ESPERANÇA EM ALLAH ................................................................................... 88
TEMOR A ALLAH ............................................................................................... 92
AQUELES QUE TEMEM ALLAH................................................................................. 93
OS MÉRITOS DO TEMOR A ALLAH........................................................................... 95
A VIDA DESTE MUNDO ................................................................................... 100
O DANO DO AMOR A ESTE MUNDO ....................................................................... 105
ARREPENDIMENTO ........................................................................................ 110
ARREPENDIMENTO SINCERO ................................................................................ 115
OS ASPECTOS SUBTIS E OCULTOS DO ARREPENDIMENTO .................................... 117

2
Prefácio do Autor
Todos os louvores são para Allah. Nós louvamo-Lo e pedimos
pela Sua ajuda. Pedimos pelo seu perdão e pedimos refúgio n’Ele do
mal em nós mesmos e do mal das nossas acções. Aquele a quem Allah
guia nunca será desviado, no entanto, aquele a quem Allah desvia nunca
será guiado. Testemunho que não há divindade para além de Allah, O
Único, Ele não tem parceiros, e testemunho que Muhammad é o Seu
Servo e Mensageiro, que as bênçãos e paz d’Ele estejam com ele e
com a sua família e companheiros.
Umas das tarefas mais importantes pela qual o profeta desta na-
ção, Muhammad ‫ﷺ‬, foi enviado, foi a purificação da alma. Allah diz, fa-
lando da sua missão:

“Ele é Quem enviou aos iletrados um Mensageiro


vindo deles - o qual recita, para eles, Seus versícu-
los, e dignifica-os, e ensina-lhes o Livro e a sa-
bedoria; e, por certo, estavam, antes, em evidente
descaminho.” [62:2]
Então quem realmente espera por Allah e o Último Dia deve ter
um interesse especial na purificação da sua própria alma, pois Allah ligou
o sucesso do Seu servo com a pureza da sua alma, depois de fazer
onze juramentos consecutivos. Não há no Qur’an outro juramento como
este. Allah diz:

“Pelo sol e por sua plena luz matinal! E pela lua,


quando sucede! E pelo dia, quando mostra, em
plenitude! E pela noite, quando o encobre! E pelo
céu e por Quem o edificou! E pela terra e por Quem
a distendeu! E pela alma e por Quem a formou!
Então, lhe inspirou sua impiedade e sua piedade!
Com efeito, bem-aventurado é quem a dignifica. E,
com efeito, mal-aventurado é quem a degrada.”
[91:1-10]
A palavra tazkiat significa purificar ou limpar; a palavra zakat vem
da mesma raiz, visto que zakat purifica a riqueza pelo reconhecimento
do direito de Allah sobre uma porção dela.

1
Tem-se tornado difícil, para nós, beneficiarmo-nos directamente
dos livros de raqa’iq (livros sobre assuntos que afectam as emoções) es-
critos pelas primeiras gerações de estudiosos muçulmanos. A maior
parte deles são livros grandes abrangendo muitos volumes e são difíceis
de acessar pela maioria dos muçulmanos. Para, além disto, serem incluí-
dos, frequentemente, relatos fracos e fabricados. Então, nós compila-
mos uma colecção dos relatos mais confiáveis que nos foram apresen-
tados por alguns dos estudiosos cuja especialidade é estabelecida na
da’wah: Imam Shamsudin Ibn Al-Qayyim, Ibn Rajab Al-Hanbali, e Imam
Abu Hamid Al-Ghazali. É o nosso desejo sincero que este livro seja um
recurso útil e ultimamente seja benéfico no Dia onde nem dinheiro, nem
descendência serão benéficos, pois ninguém beneficiará excepto aque-
les que chegam com um coração puro.

Todos os louvores são para Allah e todo o poder é d’Ele.


Ele é o nosso Senhor e para Ele é o fim de todos os caminhos.

2
UM
SINCERIDADE
A sinceridade é a liberdade das intenções de todas as impurezas
para aproximação de Allah. É certificar-se que as intenções por trás de
todos os actos de adoração e obediência a Allah são, exclusivamente,
para o prazer d’Ele. É a perpétua contemplação do Criador, até ao ponto
de esquecer a criação.
A sinceridade é a condição para a aceitação de Allah das boas
acções feitas de acordo com a sunnah do Profeta ‫ﷺ‬. Allah ordenou isto
no Qur’an:

“E não lhes fora ordenado senão adorar a Allah,


sendo sinceros com Ele na devoção, sendo mono-
teístas…” [98:5]
Abu Umama relatou que um homem uma vez veio até ao Profeta
‫ ﷺ‬e disse: “O que seria de um homem que se juntou a nós na luta,
sendo a sua intenção para fama e riqueza?”. O Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Ele
não recebe nada”. O homem repetiu a pergunta três vezes e todas as
vezes o Profeta disse “Ele não recebe nada”. Depois ele disse: “Allah só
aceita acções intencionadas puramente para o Seu agrado.”1

Abu Sa’id Al-Khudri relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse na sua khutbah


durante a última peregrinação: “Allah abençoará quem ouvir estas pala-
vras e entendê-las, pois pode ser que aqueles que passarem este co-
nhecimento não sejam os que o entendam melhor. Há três coisas a res-
peito das quais o coração do crente não deve sentir qualquer inimizade
ou malícia: devotar as suas acções a Allah, dar conselho aos Imams dos
muçulmanos, e ser leal à maioria”.2
O que se entende aqui é que estas três coisas reforçam o cora-
ção, e quem se distinguir nelas terá um coração purificado de todas as
formas de decepção, corrupção e mal.

Um servo só se pode libertar do shaytan através da devoção sin-


cera, pois Allah diz-nos no Qur’an que Iblis Lhe disse:

1
Sahih, an-Nisa’i, Kitab Al-Jihad, 6/25; Al-Hafidh Ibn Hajar, Fath Al-Qadir, 6/28.
2
Sahih, Ibn Majah; também Ibn Hibban, Mawarid adh-Dham’an, p. 47, por Zaid Ibn
Thabit.

3
“Excepto os Teus servos sinceros, entre eles.”
[38:83]
Foi relatado que um homem virtuoso costumava dizer “Ó ego, sê
devoto e serás puro”. Quando qualquer fortuna mundana, na qual o ego
encontra conforto e na direcção da qual o coração se inclina, penetra na
nossa adoração, então esta prejudica a pureza dos nossos esforços e
estraga a nossa sinceridade. O Homem preocupa-se com a sua boa for-
tuna e afunda-se nos seus desejos e apetites; raramente as suas ac-
ções ou actos de adoração são livres de objectivos temporários e dese-
jos deste tipo.
Por esta razão, foi dito que quem assegurar um momento de pura devo-
ção a Allah na sua vida sobreviverá, pois a devoção é rara e preciosa, e
limpar o coração das suas impurezas é um compromisso exigente.

Na verdade, devoção é a purificação do coração de todas as im-


purezas, sejam estas poucas ou muitas, em que a intenção de se apro-
ximar a Allah é liberta de todos os outros motivos, excepto o motivo de
procurar pelo Seu agrado. Isto só poderá vir de alguém que ama Allah,
que está tão absorvido na contemplação do próximo mundo que não
permanece no seu coração lugar para o amor a este mundo. Tal pessoa
deve ser devota e pura em todas as suas acções, até ao comer, beber
e aliviar-se. Com raras excepções, quem não for assim encontrará a
porta da devoção fechada na sua cara.

As acções diárias de uma pessoa que está dominada pelo seu


amor a Allah e do akhira são caracterizadas por este amor e são, de
facto, devoção pura. Da mesma forma, qualquer pessoa cuja alma é do-
minada por amor e preocupação para com este mundo, ou para com o
seu estatuto e autoridade, será tão dominada por estas coisas que ne-
nhum acto de adoração, seja oração ou jejum, será aceite, excepto em
casos muito raros.

O remédio para o amor a este mundo é quebrar os desejos mun-


danos do ego, acabando com a sua ganância deste mundo e purifi-
cando-o, preparando-o para o próximo mundo. Isto se tornará, então, o
estado do coração e a devoção sincera tornar-se-á mais fácil de obter.
Há muitas acções onde uma pessoa age, pensando que estas são in-
tencionadas puramente para o agrado de Allah, mas ela é iludida, pois
não consegue ver os defeitos nelas.

4
Foi relatado que um homem estava acostumado a rezar na pri-
meira fila na mesquita. Um dia, ele chegou tarde para a oração, então
ele rezou na segunda fila. Sentindo-se envergonhado quando as pes-
soas o viram na segunda fila, ele percebeu que o prazer e satisfação do
coração que ele costumava ganhar ao rezar na primeira fila eram por
causa de ele ver pessoas que o viam lá e o admiravam por isso. Esta é
uma condição súbtil e intangível e as acções estão raramente salvas
dela. Excepto aqueles a quem Allah ajudou, poucos estão conscientes
de tais assuntos delicados. Aqueles que não o percebem, só verão as
suas boas acções aparecer como más no Dia da Ressurreição; estes
são aqueles a quem Allah se referiu nas Suas palavras:

“E mostrar-se-lhes-á, da parte de Allah, o que


nunca haviam suposto. E mostrar-se-lhes-á as más
obras que cometiam.” [39:47-48]
E também:

“Dize, Muhammad: “Informar-vos-emos dos mais


perdedores, em obras? São aqueles cujo esforço, na
vida terrena, se descaminha, enquanto supõem que
eles fazem o bem.” [18:103-104]
Yaqub disse: “Uma pessoa devota é alguém que esconde coisas
que são boas [vindas dela], da mesma maneira que esconde coisas que
são más”.

As-Sousi disse: “Verdadeira devoção é perder a capacidade de


estar consciente da sua devoção; pois alguém que identifica devoção na
sua devoção é uma pessoa cuja devoção precisa de devoção”. Contem-
plar a devoção é admirá-la, e admiração é uma aflição; e aquilo que é
puro é tudo o que está liberto de aflições. Isto significa que as acções
devem ser purificadas de qualquer auto-admiração em relação aos actos
que elas implicam.

Ayyub disse: “É muito mais difícil para as pessoas de acção purifi-


carem as suas intenções do que executarem qualquer das suas ac-
ções”.

Algumas pessoas disseram: “Ser devoto por um curto espaço de


tempo é sobreviver para sempre, mas a devoção é rara”.

5
Suhail foi questionado: “Qual é a coisa mais difícil para o ego?”.
Ele disse “Devoção, quando o ego não tem a boa fortuna de ser dotado
dela”.

Al-Fudayl disse: “Abandonar a acção em prol de outras pessoas é


procurar a sua admiração. Agir em prol da sua admiração é associar ou-
tros com Allah. Devoção é quando Allah te liberta de ambos estes esta-
dos”.

6
DOIS
A NATUREZA DA INTENÇÃO
A intenção de uma pessoa não é a sua expressão oral das pala-
vras “Eu tenho intenção de fazer isto e isto”. É um transbordo do coração
que corre como conquistas inspiradas por Allah. Às vezes é fácil, outras
vezes, difícil. Uma pessoa cujo coração é dominantemente virtuoso con-
sidera fácil invocar boas intenções a maior parte do tempo. Tal pessoa
tem um coração geralmente inclinado às raízes da bondade que, a maior
parte do tempo, floresce na manifestação de boas acções. Quanto
àqueles cujos corações se inclinam para, e são dominados por assuntos
mundanos, eles consideram isto difícil de atingir e até actos obrigatórios
de adoração podem tornar-se difíceis e cansativos.

O Profeta ‫ ﷺ‬disse: “As acções são de acordo com a intenção, e


todo o homem terá só o que intencionou. Então, aquele cuja hijrah (mi-
gração) foi para Allah e o Seu Mensageiro, a sua hijrah foi para Allah e o
Seu Mensageiro; e aquele cuja hijrah foi para atingir algum benefício
mundano ou ter uma mulher em casamento, a sua hijrah foi para o qual a
fez”3

O Imam ash-Shafi'i disse: “Este hadith é um terço de todo o conheci-


mento”.

As palavras “acções são de acordo com a intenção” significam que as


acções que são realizadas de acordo com a sunnah só serão aceites e
recompensadas se as intenções por trás destas forem sinceras. É como
o que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “As acções dependem do seu resultado”.4

Da mesma forma, as palavras “todo o homem terá só o que intencio-


nou”, significam que a recompensa por uma acção depende da intenção
por trás desta. Depois de mencionar este princípio, o Profeta ‫ ﷺ‬deu
exemplos disso dizendo “Então, aquele cuja hijrah (migração) foi para Al-
lah e o Seu Mensageiro, a sua hijrah foi para Allah e o Seu Mensageiro; e
aquele cuja hijrah foi para atingir algum benefício mundano ou ter uma
mulher em casamento, a sua hijrah foi para o qual a fez”. Então, acções
que são aparentemente idênticas podem diferir, porque as intenções por

3
Al-Bukhari e Muslim.
4
Al-Bukhari, Kitab Al-Qadar, 11/499.

7
trás delas são diferentes em níveis de bondade e maldade, e de uma
pessoa para outra.

Boas intenções não mudam a natureza de acções proibidas. O


ignorante não deve interpretar erradamente o significado do hadith e
pensar que boas intenções podem transformar acções proibidas em ac-
ções permitidas. O relato acima do Profeta ‫ ﷺ‬refere-se especificamente
a actos de adoração e acções permitidas, não as proibidas. A adoração
e acções permitidas podem ser transformadas em acções proibidas por
causa das intenções por trás delas, e acções permitidas podem tornar-
se boas ou más de acordo com a intenção; mas acções erradas não
podem tornar-se actos de adoração, mesmo com boas intenções.5
Quando as más intenções são acompanhadas por falhas nas próprias
acções, então a sua gravidade e castigo são multiplicados.

Qualquer acto louvável deve estar enraizado em boas intenções;


só assim é que pode ser merecedor de recompensa.

O princípio fundamental deve ser que o acto é intencionado para


a adoração de Allah, somente. Se a nossa intenção é para nos exibir-
mos, então estes mesmos actos de adoração tornar-se-ão actos de de-
sobediência. Quanto às acções permissíveis, todas elas envolvem inten-
ções – que podem potencialmente torná-las em actos excelentes que
aproximam uma pessoa a Allah e conceder-lhe a dádiva de proximidade
a Ele.

5
Isto é ilustrado num hadith registado pelo Imam Muslim no seu Sahih, no qual é rela-
tado de Abu Dharr que o Profeta Muhammad ‫ ﷺ‬disse: “Vocês receberão a recom-
pensa por sadaqah, mesmo quando forem íntimos com as vossas esposas”. Os com-
panheiros disseram: “Seremos mesmo recompensados por satisfazer os nossos de-
sejos físicos?”. Ele disse: “Se tivessem relações íntimas proibidas, cometeriam um pe-
cado; da mesma forma, se tiverem relações íntimas permitidas, serão recompensados
por isso”.

O Imam an-Nawawi disse: “Este hadith mostra claramente que acções permitidas tor-
nam-se actos de obediência se há uma boa intenção por trás delas; relações íntimas
tornam-se um acto de adoração se forem acompanhadas por uma das seguintes in-
tenções: acompanhar a esposa, sendo gentil com ela, como Allah ta’Ala ordenou; es-
perar ter, como resultado da relação íntima, descendência boa e virtuosa; guardar a
própria castidade e a da esposa; ajudar a evitar olhares e pensamentos proibidos, ou
relações proibidas; e qualquer outra boa intenção.”

8
A Excelência da Intenção
'Umar Ibn Al-Khattab (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse: “Os melhores actos são:
fazer o que Allah ordenou, ficar longe do que Allah proibiu e ter intenções
sinceras no que for que Allah nos exija”.6

Alguns dos nossos antecessores disseram: “Muitas acções pe-


quenas tornam-se grandes pelas intenções por trás delas. Muitas ac-
ções grandes, por outro lado, tornam-se pequenas porque as intenções
por trás delas estão em falta”.

Yahya Ibn Abu Kathir disse: “Aprenda sobre intenções, porque a


sua importância é maior do que a importância das acções”.

Uma vez, Ibn 'Umar ouviu um homem que estava a entrar no es-
tado de ihram dizer: “Ó Allah! Eu tenciono fazer Hajj e 'Umrah”. Então ele
disse: “Não é verdade que são às pessoas a quem você está a informar
sobre as suas acções? Será que Allah não sabe já o que está no seu
coração?”.7 Isto é porque boas intenções são exclusivamente a preocu-
pação do coração, e não as devemos expressar [com a língua] durante
a nossa adoração.

A Excelência do Conhecimento e Ensino


Há muitas provas no Qur’an sobre a excelência do conhecimento
e da sua transmissão. Allah, Todo-Poderoso e Glorioso, diz:

“Allah elevará, em escalões, os que crêem entre


vós, e àqueles aos quais é concedida a ciência.”
[58:11]

“Igualam-se os que sabem e os que não sabem?”


[39:9]

6
Tahdhib Al-‘Asma’ li-Nawawi, 1/173. Abu Ishaq ash-Shirazi uma vez entrou na mes-
quita para comer, como era costume dele, e percebeu que ele tinha deixado cair um
dinar. Ele refez os seus passos e encontrou-o no chão, mas deixou-o onde estava,
dizendo: “Talvez não seja meu; talvez pertença a outra pessoa.”
7
Al-Bukhari e Muslim.

9
Também, em hadith, o Profeta ‫ ﷺ‬diz: “Quando Allah deseja o
bem a alguém, Ele concede-lhe entendimento do din”.8 Ele também
disse “Allah facilita o caminho para o Jardim para quem seguir um cami-
nho em busca de conhecimento.”9 Viajar no caminho que leva ao conhe-
cimento refere-se a duas coisas: andar realmente num caminho, tal
como andar até ao encontro dos 'ulama; e seguir um caminho metafí-
sico, como estudar e memorizar.

O que o Profeta ‫ ﷺ‬disse significa, provavelmente, que Allah faci-


lita a aprendizagem de conhecimento útil para aquele que a procura, ti-
rando os obstáculos no seu caminho e suavizando a sua viagem. Alguns
dos nossos antecessores costumavam dizer: “Há alguém à procura de
conhecimento para que o ajudemos a encontrá-lo?”

O hadith também faz alusão ao caminho que leva ao Jardim no


Dia do Juízo, que é a senda reta – e ao que vem antes e depois deste.

O conhecimento é também o caminho mais curto para Allah.


Quem viaja no caminho do conhecimento alcança Allah e o Jardim pelo
percurso mais curto. O conhecimento também elimina os obstáculos da
escuridão, ignorância, dúvida e cepticismo. Isto é a razão pela qual Allah
chamou o Seu Livro de “Luz”.

Al-Bukhari e Muslim relataram de 'Abdullah Ibn 'Umar que o Men-


sageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse: “Por certo, Allah não removerá o conheci-
mento arrancando-o das pessoas, mas tirando as vidas das pessoas
com conhecimento, uma por uma, até que nenhuma delas sobreviva.
Depois as pessoas adoptarão ignorantes como líderes. Ser-lhes-á pe-
dido que julguem e eles julgarão sem conhecimento, consequentemente
eles serão desviados e desviarão os outros.”

Quando 'Ubadah Ibn As-Samit foi questionado sobre este hadith, ele
disse: “Se quiseres, dir-te-ei qual é o conhecimento mais elevado, que
eleva o nível das pessoas: é a humildade”.

Ele disse isto porque existem dois tipos de conhecimento. O primeiro


produz o seu fruto no coração. É o conhecimento sobre Allah, O Altís-
simo – os Seus Nomes, os Seus Atributos, os Seus Actos – que orde-
nam temor, respeito, exaltação, amor, suplicação e confiança n'Ele. Este

8
Muslim, 21/17.
9
Muslim, Kitab at-Tahara, 3/99.

10
é o tipo de conhecimento benéfico. Como Ibn Mas'ud disse: “Eles recita-
rão o Qur'an, mas este não passará das suas gargantas. O Qur'an só é
benéfico quando este atinge o coração e está firmemente plantado
nele.”

Al-Hasan disse: “Há dois tipos de conhecimento: o conhecimento


da língua, que pode ser usado contra o filho de Adão, como é mencio-
nado no hadith do Profeta ‫ﷺ‬: 'O Qur'an pode ser usado a teu favor ou
contra ti'; e o conhecimento do coração, que é conhecimento benéfico.
O segundo tipo é o tipo benéfico que eleva o nível das pessoas; é o co-
nhecimento interno que é absorvido pelo coração e o corrige. O conhe-
cimento que está na língua é menosprezado pelas pessoas: nem aque-
les que o possuem, nem qualquer outra pessoa, agem de acordo com
ele, e depois este desaparece quando os seus donos desaparecem no
Dia do Juízo, quando a criação prestará contas.”

11
TRÊS
TIPOS DE CORAÇÃO
Tal como o coração pode ser descrito como estando vivo ou
morto, este pode ser também visto como pertencendo a um de três ti-
pos; estes são: o coração saudável, o coração morto e o coração do-
ente.

Coração Saudável
No Dia da Ressurreição, só os que retornam a Allah com um co-
ração saudável serão salvos. Allah diz:

“Um dia, quando a ninguém beneficiarem nem


riquezas nem filhos, exceto a quem chegar a Allah,
com coração imaculado.” [26:88-89]
Ao definir o coração saudável, foi dito o seguinte: “É um coração
limpo de qualquer paixão que desafie o que Allah ordena, ou argumente
contra o que Ele proíbe. É livre de quaisquer impulsos que contradigam a
Sua bondade. Como resultado, é protegido contra a adoração de qual-
quer coisa excepto Ele, e procura o julgamento de ninguém excepto do
Seu Mensageiro ‫ﷺ‬. Os seus serviços são exclusivamente reservados
para Allah, voluntária e carinhosamente, com toda a dependência e con-
fiança, relatando todos os assuntos a Ele, com temor, esperança e dedi-
cação sincera. Quando este ama, o seu amor é de acordo com o cami-
nho de Allah. Se este detesta, detesta na luz do que Allah detesta.
Quando este dá, ele dá por Allah. Se este retém, retém por Allah.
Mesmo assim, tudo isto não será suficiente para a sua salvação até que
este esteja livre de seguir, ou de ter como guia, qualquer pessoa que
não seja o Seu Mensageiro ‫ﷺ‬.”

Um servo com um coração saudável deve dedicá-lo ao fim da


sua viagem e não deve basear as suas acções e discurso nos de qual-
quer pessoa excepto o Mensageiro de Allah ‫ﷺ‬. Ele não deve dar prece-
dência a qualquer outra fé ou palavras ou acções acima das de Allah e
do Seu Mensageiro ‫ﷺ‬. Allah diz:

12
“Ó vós que credes! Não vos antecipeis a Allah e a
Seu Mensageiro. E temei a Allah. Por certo, Allah
é Oniouvinte, Onisciente.” [49:1]

O Coração Morto
Este é o oposto do coração saudável. Este não conhece o seu
Senhor e não o adora como Ele ordenou, da maneira que Lhe agrada, e
com a qual Ele está satisfeito. Em vez disso, inclina-se aos seus desejos
e luxúrias, mesmo que estes, muito provavelmente, invoquem o descon-
tentamento e ira de Allah. Ele adora coisas sem ser a Allah, e os seus
amores e ódios, os seus oferecimentos e retenções, provêm dos seus
caprichos, que lhe são de importância suprema e preferidos acima do
agrado de Allah. Os seus caprichos são o seu Imam. As suas luxúrias
são o seu guia. A sua ignorância é o seu líder. Os seus impulsos brutos
são o seu ímpeto. Está imerso na sua preocupação com objectivos
mundanos. Está bêbedo com as suas próprias fantasias e o seu amor
por prazeres ligeiros e fugitivos. É chamado por Allah e pela akhira de
uma certa distância, mas não responde a conselhos e, em vez disso,
segue qualquer shaytan astuto e intriguista. A vida lhe enfurece e agrada,
e a paixão fa-lo-á cego e surdo10 a qualquer outra coisa excepto o que é
malícia.
Associar-se ou manter companhia com o dono de tal coração é
tentar a doença: viver com ele é como tomar veneno, e ser amigo dele
significa destruição total.

O Coração Doente
Este é um coração com vida nele, mas também com doença. A
vida sustém-no num momento e a doença noutro momento, e ele segue
assim, qualquer das duas consegue dominá-lo. Tem amor por Allah, fé
n'Ele, sinceridade para com Ele, e total dependência e confiança n'Ele, e
isto é o que lhe dá a vida. Mas também tem uma ânsia por luxúria e pra-
zer, e os prefere, e luta por experimentá-los. Está cheio de autoadmira-
ção, que pode levar à sua própria destruição. Ouve dois chamamentos:
um a chamá-lo para Allah e o Seu Mensageiro ‫ ﷺ‬e a akhira; e outro a

10
Foi narrado de Abu’d-Darda’ que o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse “O teu amor por
algo, faz-te cego e surdo”. Abu Dawud, Al-Adab, 14/38; Ahmad, Al-Musnad, 5/194.
O hadith está classificado como hasan.

13
chamá-lo para os prazeres fugitivos deste mundo. Ele responde a qual-
quer dos que, no momento, o influenciam mais.

O primeiro coração está vivo, submisso a Allah, humilde, sensível


e alerta; o segundo está quebradiço e morto; o terceiro oscila entre a
sua segurança e ruína.

14
QUATRO
SINTOMAS DA DOENÇA DO CORAÇÃO E SI-
NAIS DA SUA SAÚDE

Os Sinais de um Coração Doente


O coração de um servo pode estar doente, e a deteriorar seria-
mente, enquanto ele permanece ignorante da sua condição. Pode até
morrer sem ele se aperceber. Os sintomas da sua doença, ou os sinais
da sua morte, são que o seu dono não está consciente do mal que re-
sulta do dano causado por más acções, e está inalterado pela sua igno-
rância da verdade ou pelas suas crenças falsas.

Visto que o coração vivo sofre de dor como resultado de qualquer


feiúra que encontra e através do seu reconhecimento da sua ignorância
da verdade (até ao ponto de corresponder ao seu nível de consciência),
é capaz de reconhecer o começo da deterioração - e o aumento na se-
veridade do remédio que será necessário para parar - mas algumas ve-
zes prefere suportar a dor, a passar pela tribulação árdua da cura!

Alguns dos sinais da doença do coração são o seu afastamento


de comidas saudáveis e aproximação de comidas prejudiciais, de bons
remédios para doença desenfreada. Um coração saudável prefere o que
é benéfico e curador e não o que é prejudicial e nocivo; o coração do-
ente prefere o oposto. O sustento mais benéfico para o coração é a fé e
o melhor medicamente é o Qur’an.

Os Sinais de um Coração Saudável


Para o coração ser saudável, ele deve partir desta vida e chegar à
próxima, e depois deve acomodar-se lá como se fosse um dos seus ha-
bitantes; só veio a esta vida como um transeunte, levando quaisquer
previsões necessárias para depois voltar para casa. Como o Profeta ‫ﷺ‬
disse a ‘Abullah Ibn ‘Umar: “Está neste mundo como se fosses um estra-
nho ou um transeunte”.11 Quanto mais doente é o coração, mais ele de-
seja este mundo; ele reside nele até se tornar um dos seus residentes.

11
Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/233.

15
Este coração saudável continua a transtornar o seu dono até este
voltar para Allah, e estar em paz com Ele, e se encontrar com Ele, como
um amante guiado por compulsão que finalmente alcança a pessoa
amada. Ele não precisa de mais nenhum amor senão o amor por Ele, e
depois de O invocar, nenhuma outra invocação é necessária. Servi-Lo
exclui a necessidade de servir qualquer outro.
Se este coração perde a sua parte de recitação do Qur’an e invo-
cação de Allah, ou não completa um dos actos de adoração prescritos,
o seu dono sofre de mais aflição do que um homem cauteloso que sofra
por causa da perda de dinheiro ou uma oportunidade perdida de fazê-lo.
Ele anseia servir, tal como uma pessoa faminta anseia por comida e be-
bida.

Yahya Ibn Mu’adh disse: “Quem estiver satisfeito ao servir Allah,


tudo estará satisfeito a servi-lo; e quem encontra contentamento na con-
templação de Allah, todas as pessoas encontrarão contentamento ao
contemplá-lo”.

Este coração só tem uma preocupação: que todas as suas ac-


ções, e os seus pensamentos interiores e expressões orais, sejam obe-
dientes a Allah. Ele é mais cauteloso com o seu tempo do que as pes-
soas mais pobres são com o seu dinheiro, para que este não seja des-
perdiçado. Quando ele entra na oração, todas as suas preocupações e
ansiedades mundanas desaparecem e ele encontra o seu conforto e
alegria ao adorar o seu Senhor. Ele não pára de mencionar Allah, nem se
cansa de servi-Lo, e não encontra companhia íntima com mais ninguém
a não ser uma pessoa que o guie a Allah e lhe lembre d’Ele.

A sua atenção à retidão da sua acção é maior que a sua atenção


à acção em si. É minucioso ao certificar-se de que as intenções por trás
das suas acções são sinceras e puras e que resultam em boas acções.

Tal como, e para, além disto, tudo, ele não só testemunha a ge-
nerosidade de Allah ao dar-lhe a oportunidade de executar tais acções,
mas também testemunha a sua própria imperfeição e falhas ao executá-
las.

16
As Causas da Doença do Coração
As tentações às quais o coração é exposto são o que causam a
sua doença. Estas são as tentações dos desejos e luxúrias. O primeiro
causa intenções e a vontade de ser corrompido, e o último causa o es-
morecimento do conhecimento e da crença.

Hudhayfah Ibn Al-Yamani (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse: “O Mensageiro de Al-


lah ‫ ﷺ‬disse ‘As tentações são apresentadas ao coração, uma por uma.
O coração que as aceitar, ficará com uma mancha negra, mas o cora-
ção que as rejeitar, ficará com uma marca de pureza, tanto que cora-
ções são de dois tipos: um coração negro que se desviou e se tornou
como um recipiente derrubado, e um coração puro que nunca será pre-
judicado por tentação enquanto a terra e os céus existirem. O coração
negro só reconhece o bem e denuncia o mal quando isso está de
acordo com os seus desejos e caprichos.’”12

Ele ‫ ﷺ‬colocou os corações, quando expostos a tentação, em duas ca-


tegorias:

Primeiro, o coração que, quando exposto a tentação, absorve-a


como uma esponja absorve água, deixando uma mancha negra nele. Ele
continua a absorver cada tentação que lhe é oferecida até ficar negro e
corrupto, que é o entendido por “como um recipiente derrubado”.
Quando isto acontece, duas doenças perigosas tomam conta dele e
mergulham-no na ruína:
A primeira é a sua confusão entre bem e mal, a tal ponto que este
não reconhece o bem e não denuncia o mal. Esta doença pode até do-
miná-lo tanto que ele acaba por crer que o que é bom é mau e vice-
versa, que sunnah é bid’a e vice-versa, que a verdade é falsa e a falsi-
dade é verdadeira.
A segunda é que este faz dos seus desejos o seu juiz, para além
e acima do que o Profeta ‫ ﷺ‬ensinou, estando escravizado e guiado pe-
los seus caprichos e luxúrias.

Segundo, um coração puro no qual a luz da fé é brilhante e no


qual o esplendor reluz. Quando a tentação é apresentada aos corações
puros como este, eles opõem-na e rejeitam-na, e então a sua luz e ilumi-
nação só aumenta.

12
Muslim, Kitab Al-Iman, 2/170 (com escolha de palavras diferente).

17
CINCO
OS QUATRO VENENOS DO CORAÇÃO
Devemos saber que todos os actos de desobediência são um ve-
neno para o coração e causam a sua doença e ruína. Eles resultam no
desvio da sua vontade, ficando contra a de Allah, e então a sua doença
espalha-se e aumenta. Ibn Al-Mubarak disse:

“Eu tenho visto más acções matando corações,


E a sua degradação pode levar ao seu vício.
Afastar-se de más acções
dá vida aos corações,
E opor-se ao seu ego é o melhor para este.”

Quem estiver preocupado com a saúde e vida do seu coração,


deve livrá-lo dos efeitos de tais venenos, e depois protegê-lo, evitando
venenos posteriores. Se ele toma algum por erro, deve, então, apressar-
se a limpar o seu efeito, voltando-se arrependido e procurando pelo per-
dão de Allah, tal como fazendo boas acções que removerão as suas
más acções.

Pelos quatro venenos, queremos dizer: conversa desnecessária,


olhares desenfreados, demasiada comida e manter má companhia. De
todos os venenos, estes são os mais comuns e têm maior efeito no
bem-estar de um coração.

Conversa Desnecessária
É relatado de Al-Musnad, pela autoridade de Anas, que o Profeta
‫ ﷺ‬disse: “A fé de um servo não é retificada até que o seu coração seja
retificado, e o seu coração não é retificado até que a sua língua seja reti-
ficada”.13 Isto mostra que o Profeta ‫ ﷺ‬fez a purificação da fé condicional
à purificação do coração, e a purificação do coração condicional à purifi-
cação da língua.

At-Tirmidhi relata num hadith de Ibn 'Umar: “Não fale de forma ex-
cessiva sem se lembrar de Allah, porque essa conversa excessiva sem a

13
Hadith da’if, Al-Mundhari, 3/234; e Al-Iraqi em Al-Ihya, 8/1539.

18
menção de Allah causa a dureza do coração, e a pessoa mais longe de
Allah é uma pessoa com um coração duro”.14
'Umar Ibn Al-Khattab (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse: “Uma pessoa que fala de-
mais é uma pessoa que comete erros frequentemente, e uma pessoa
que comete erros frequentemente, comete más acções frequentemente.
O Fogo tem prioridade para tal pecador frequente”.15

Num hadith relatado de Mu'adh, o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Deverei di-


zer-te como controlar tudo isso?”. Eu disse: “Sim, Ó Mensageiro de Al-
lah”. Então ele segurou a sua língua entre os seus dedos e disse: “Con-
tém isto”. Eu disse: “Ó Profeta de Allah, somos responsáveis pelo que di-
zemos?”. Ele ‫ ﷺ‬disse: “Que a tua mãe seja desolada pela tua perda!16
Existirá qualquer outra coisa, senão o semeio das línguas, que atirará
pessoas pelos seus rostos (ou pelos seus narizes) para o Fogo?”.17

O que é entendido aqui pelo “semeio das línguas” é o castigo que


se aplica ao dizer coisas proibidas. Um homem, através das suas ac-
ções e palavras, semeia as sementes do bem ou do mal. No Dia da
Ressurreição ele colhe os seus frutos. Aqueles que semeiam as semen-
tes das boas palavras e acções colhem honra e bênçãos; aqueles que
semeiam sementes de más palavras e acções só se lamentam e sentem
remorso.

Um hadith relatado por Abu Hurairah menciona o seguinte: “O que


majoritariamente causa o envio das pessoas para o Fogo são duas aber-
turas: a boca e as partes íntimas”.18

Abu Hurairah também relatou que o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse: “O


servo fala palavras de cujas consequências ele não se apercebe, e pelas
quais ele é enviado para as profundezas do Fogo, mais longe que a dis-
tância entre o leste e o oeste”.19

14
Hadith da’if, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/92, gharib; mais ninguém o transmitiu,
excepto Ibrahim Ibn Abdullah Ibn Hatib, quem ath-Thahabi menciona, 1/43, mencio-
nando que este é um dos ahadith gharib atribuídos a ele.
15
Hadith da’if, Ibn Hibban e Al-Baihaqi, e Al-Iraqi na sua edição de Al-Ihya, 8/1541.
16
[Nota da tradutora: Esta expressão era usada pelos árabes como exclamação ou
surpresa e não é para ser levada literalmente.]
17
Hadith sahih, at-Tirmidhi, Al-Hakim, ath-Thahabi.
18
Hadith sahih, at-Tirmidhi e Ahmad; também Al-Hakim e ath-Thahabi.
19
Al-Bukhari em Kitab ar-Riqaq, e Muslim em Kitab az-Zuhud.

19
O mesmo hadith foi transmitido por At-Tirmidhi com pequenas variações:
“O servo diz algo que ele pensa ser inofensivo, e pelo qual ele será ati-
rado para as profundezas do Fogo, tão longe como sete Outonos”.20

'Uqbah Ibn Amir disse: “Eu disse: 'Ó Mensageiro de Allah, qual é a
melhor maneira para sobrevivermos?'. Ele ‫ ﷺ‬respondeu: 'Guardem as
vossas línguas, façam com que a vossa casa seja suficiente para guardar
a vossa privacidade e chorem pelas vossas más acções'”.21

Foi relatado de Sahl Ibn Sa'd que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Quem pu-
der garantir o que está entre as suas mandíbulas e o que está entre as
suas pernas, eu garanti-lo-ei o Jardim”.22

Foi relatado de Abu Hurairah (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬que o Profeta ‫ ﷺ‬disse:


“Quem acredita em Allah e no Último Dia que fale o bem ou permaneça
em silêncio”.23

Logo, falar pode ser bom, sendo neste caso recomendável, ou mau,
sendo neste caso proibido.

O Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Tudo o que os filhos de Adam dizem será


contra eles, excepto o encorajamento do bem e a proibição do mal, e a
lembrança de Allah, Glorioso e Todo-Poderoso”. Isto foi relatado por Al-
Tirmidhi e Ibn Majah, de Umm Habibah (que Allah esteja satisfeito com
ela).24
'Umar Ibn Al-Khattab visitou Abu Bakr (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬e encontrou-o
puxando a sua língua com os seus dedos. 'Umar disse “Pára! Que Allah
te perdoe!”. Abu Bakr respondeu “Esta língua trouxe-me a sítios perigo-
sos”.25

20
At-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud; ele disse que o hadith é hasan gharib.
21
At-Tirmidhi em Kitab az-Zuhud com palavras ligeiramente diferentes; ele disse que o
hadith é hasan. Esta versão é relatada por Abu Na’im em Al-Hilya.
22
Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/308 e Kitab Al-Hudud, 12/113.
23
Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/308; Muslim, Kitab Al-Iman, 2/18. O hadith completo
é “Quem acredita em Allah e no Último Dia que fale o bem ou permaneça em silêncio;
e quem acredita em Allah e no Último Dia que seja generoso para o seu vizinho; e
quem acredita em Allah e no Último Dia que seja generoso para com quem o visita.”
24
O hadith é hasan e é relatado por at-Tirmidhi em Kitab az-Zuhud e por Ibn Majah em
Kitab Al-Fitan. At-Tirmidhi classifica-o como hasan gharib. Não temos relato deste ha-
dith excepto de Muhammad Ibn Yazid Ibn Khanis.
25
Hasan de acordo com Abu Ya’la, Baihaqi e as-Suyuti.

20
'Abdullah Ibn Mas'ud disse: “Por Allah, para além do qual não
existe nenhuma divindade, nada mais merece uma longa sentença na
prisão do que a minha língua”. Ele também costumava dizer “Ó língua,
diz o bem e terás proveito; desiste de dizer coisas más e estarás segura;
senão só lamentarás”.

Abu Hurairah relatou que Ibn Al-Abbas disse: “Uma pessoa não
sentirá uma fúria ou ódio maior por qualquer parte do seu corpo no Dia
do Juízo mais do que ele sentirá pela sua língua, a não ser que ele a te-
nha usado para dizer ou encorajar o bem”.

Al-Hassan disse: “Quem não contém a sua língua não consegue


compreender o seu din”.
O defeito menos prejudicial de uma língua é falar daquilo que não
lhe diz respeito. O seguinte hadith do Profeta ‫ ﷺ‬é suficiente para indicar
o dano deste defeito: “Um dos méritos do Islam de uma pessoa é aban-
donar o que não lhe diz respeito”.26

Abu 'Ubaida relatou que Al-Hassan disse: “Um dos sinais de que
Allah abandonou um servo é Ele fazer com que ele se preocupe com o
que não lhe diz respeito”.

Sahl disse: “Quem fala do que não lhe diz respeito é privado de
honestidade”.

Como já dissemos acima, este é o defeito menos prejudicial da


língua. Existem coisas muito piores, como: falar pelas costas, criar rumo-
res, falar de maneira obscena e enganosa, conversa hipócrita, exibição,
discutir por tudo e por nada, mesquinhez, canto, mentira, escárnio e fal-
sidade; e existem muitos outros erros que podem afectar a língua de um
servo, arruinando o seu coração e causando a perda da sua felicidade e
prazer nesta vida, e o seu sucesso e proveito na próxima. Allah é Aquele
a Quem voltamos para nos ajudar.

26
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 6/607; Ahmad, Al-Musnad, 1/201; as-Sa’ati, Al-
Fath ar-Rabbani, 19/257; hadith número 12 nos Quarenta Ahadith de an-Nawawi.

21
Olhares Desenfreados
O olhar desenfreado causa a atracção da pessoa para o que ela
olha e a impressão dessa imagem no seu coração. Isto pode resultar em
vários tipos de corrupção do coração do servo. Os seguintes são alguns
deles:

Foi relatado que o Profeta ‫ ﷺ‬disse algo como: “O olhar é uma fle-
cha envenenada do shaytan. Quem baixar o olhar por Allah, Ele dar-lhe-á
uma doçura refrescante que ele encontrará no seu coração no dia em
que se encontrar com Ele”.27
O shaytan entra com o olhar, pois viaja nele mais rápido que o
vento que passa por um local vazio. Ele faz o que é visto parecer mais
atraente do que isso realmente é, e transforma-o num ídolo para o cora-
ção adorar. Depois ele lhe promete recompensas falsas, acende o fogo
dos desejos dentro dele, e dá-lhe as acções proibidas como lenha, que
o servo não teria feito se esta imagem distorcida não se tivesse formado.
Isto distrai o coração e fá-lo esquecer das preocupações mais im-
portantes, pois fica no meio do caminho como um obstáculo; e então o
coração perde o caminho reto e cai no abismo do desejo e ignorância.
Allah diz, Glorioso e Todo-Poderoso, diz:

“E não obedeças àquele cujo coração tornamos de-


satento à Nossa lembrança e que segue sua paixão
e cuja conduta excede os limites.” [18:28]
O olhar desenfreado causa todas estas três aflições.

É dito que entre o olho e o coração há uma conexão imediata; se


os olhos são corruptos, então o coração segue-os. Este se torna como
um montão de lixo onde toda a sujeira e imundície são coleccionadas, e
então fica sem espaço para o amor a Allah, o acto de deixar todos os
nossos assuntos com Ele, consciência de que Ele nos vê, e felicidade
quando se está próximo d'Ele – só o oposto disto tudo poderá habitar tal
coração.

Visão fixa e olhares sem restrições são desobediências a Allah:

“Dize aos crentes, Muhammad, que baixem suas


vistas e custodiem seu sexo. Isso lhes é mais digno.

27
Da’if, at-Tabarani, 8/63; Al-Hakim, Al-Mustadrak, 4/314; Ahmad, Al-Musnad 5/264.

22
Por certo, Allah é Conhecedor do que fazem.”
[Qur'an 24:30]
Só aquele que obedece às ordens de Allah está contente neste
mundo, e só o servo que obedece a Allah sobreviverá no próximo.
Para, além disso, deixar o olhar rondar liberto enche o coração de
escuridão, tal como baixar o olhar por Allah enche-o de luz. Depois do
ayah acima, Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, diz na mesma surah do
Qur’an:

“Allah é a luz dos céus e da terra. O exemplo da


Sua luz é como o de um nicho, em que há uma lâm-
pada. A lâmpada está num cristal. O cristal é
como se fora um astro brilhante. É aceso pelo óleo
de uma bendita árvore olívea, nem de leste nem de
oeste; o seu óleo quase se ilumina, ainda que não
lhe toque fogo algum. É luz sobre luz. Allah guia a
Sua luz a quem quer. E Allah propõe, para os
homens, os exemplos. E Allah, de todas as cousas,
é Onisciente.” [24:35]
Quando o coração é uma luz, bens inumeráveis vêm até ele de
todas as direcções. Se este é escuro, então nuvens do mal e aflições
vêm de todas as direcções para cobri-lo.

Deixar o olhar rondar também faz o coração cego quanto à distin-


ção entre a verdade e a falsidade, entre o que é sunnah e o que é inova-
ção; enquanto que baixá-lo por Allah, Exaltado e Glorificado seja, dá-lhe
um discernimento penetrante, verdadeiro e distinto.
Um homem piedoso disse, um dia: “Quem enriquecer o seu com-
portamento exterior ao seguir a sunnah, e enriquecer a sua alma interior
através da contemplação, e desviar o seu olhar do que é proibido, e evi-
tar qualquer coisa de natureza duvidosa, e alimentar-se só do que é halal
– o seu discernimento interior nunca irá falhar.”

As recompensas vêm consoantes as acções. Quem desviar o


seu olhar do que Allah proibiu, Allah dará luz abundante à sua visão inte-
rior.

23
Demasiada comida
O consumo de pequenas quantidades de alimentos garante a ter-
nura do coração, a força do intelecto, a humildade do ego, a fraqueza
dos desejos, e a gentileza do temperamento. Comer de forma imode-
rada traz o oposto dessas qualidades louváveis.

AI-Miqdam Ibn Ma'd Yakrib disse: “Eu ouvi o Mensageiro de Allah


‫ ﷺ‬dizer: 'O filho de Adão não enche nenhum vaso mais desagradável a
Allah do que o seu estômago. Alguns pedaços de comida são suficien-
tes para ele preservar a sua força. Se ele tem de enchê-lo, então deve
permitir um terço para a sua comida, um terço para a sua bebida e dei-
xar um terço vazio para respirar facilmente”.28

Comer excessivamente induz muitos tipos de danos. Faz com


que o corpo se incline à desobediência a Allah e faz a adoração e a obe-
diência parecerem trabalhosas - tais males são o suficiente por si só.
Um estômago cheio e ingestão excessiva têm causado muitas acções
reprováveis e inibido muita adoração. Quem se proteger contra os males
do preenchimento excessivo do seu estômago impedirá um grande mal.
É mais fácil para o shaytan controlar uma pessoa que tem o seu estô-
mago cheio com alimentos e bebidas, e é por isso que é dito muitas ve-
zes: “Restrinja os caminhos do shaytan pelo jejum”.29

Foi relatado que enquanto um grupo de jovens da tribo de Israel


adorava a Allah, a hora de quebra do jejum tinha chegado. Um homem
levantou-se e disse: "Não comam demais, senão beberão demais, e,
consequentemente, acabarão por dormir tempo demais, e no final terão
perdido demais”.

O Profeta ‫ ﷺ‬e os seus companheiros, que Allah esteja satisfeito


com eles, costumavam passar fome com bastante frequência. Embora
isto tenha sido devido a uma escassez de alimentos, Allah decretou as
melhores e mais favoráveis condições para o Seu Mensageiro ‫ﷺ‬. É por
isso que Ibn 'Umar e o seu pai, apesar da abundância de comida dispo-
nível para eles - modelaram os seus hábitos de comer como o do Pro-
feta ‫ﷺ‬. Foi relatado que ‘A’isha (que Allah esteja satisfeito com ela)

28
Sahih, Ahmad, Al-Musnad, 4/132; as-Sa’ati, Al-Fath ar-Rabbani, 17/88; at-Tirmidhi,
Kitab az-Zuhud, 7/51.
29
Da’if; este não aparece na maioria das fontes da sunnah, mas é mencionado na Al-
Ihya de Al-Ghazzali, 8/1488.

24
disse: “Desde o momento da sua chegada a Madinah até sua morte ‫ﷺ‬,
a família de Muhammad ‫ ﷺ‬nunca comeu uma refeição de pão de trigo
três noites seguidas”.30

Ibrahim Ibn Adham disse: “A pessoa que controla o seu estô-


mago, controla o seu din, e quem controla a sua fome, controla o seu
comportamento. A desobediência para com Allah é mais próxima de
uma pessoa satisfeita, com o seu estômago cheio, e mais afastada de
uma pessoa com fome.”

Manter Má Companhia
Companhia desnecessária é uma doença crónica que causa
muito dano. Quantas vezes o tipo errado de companhia e mistura entre
pessoas de sexos opostos privou essas pessoas da generosidade de
Allah, plantando discórdia nos seus corações que até com a passagem
do tempo - mesmo sendo tempo suficiente para montanhas se desgas-
tarem - este não foi capaz de a dissipar. Ao manter tal companhia, nós
podemos encontrar as raízes da perda, ambas nesta vida e na próxima.

Um servo deve beneficiar de companheirismo. Para fazê-lo, deve


dividir as pessoas em quatro categorias, e ter cuidado para não as con-
fundir, pois assim que uma é confundida por outra, o mal pode infiltrar-se
através dessa confusão:

A primeira categoria é as pessoas cuja companhia é como co-


mida: é indispensável, de noite ou de dia. Assim que um servo satisfaz a
sua necessidade dela, ele deixa-a até precisar dela outra vez, e assim
por diante. Estas são as pessoas com conhecimento sobre Allah - das
suas ordens, das tácticas dos Seus inimigos, e das doenças do coração
e os seus remédios - que querem o bem para Allah, para o Seu Mensa-
geiro ‫ ﷺ‬e para os Seus servos. Associar-se com este tipo de pessoa é
um sucesso por si mesmo.

A segunda categoria é as pessoas cuja companhia é como um


medicamento. Ela só é necessária quando uma doença se instala.
Quando se está saudável, ela não é necessária. No entanto, conviver
com elas é, por vezes, necessário para o nosso meio de vida, negócios,

30
Al-Bukhari, Kitab at-At’ima, 9/549; e Muslim, Kitab az-Zuhud, 8/105.

25
consulta, etc. Assim que a necessidade de conviver com elas é cum-
prida, conviver mais que isso deve ser evitado.

A terceira categoria é as pessoas cuja companhia é prejudicial.


Conviver com este tipo de pessoa é como uma doença, em todas as
suas variedades e graus, forças e fraquezas. Associar-se com uma ou
algumas delas é como uma doença crónica incurável. Não beneficiamos
nem nesta vida, nem na próxima, se as temos como companhia, e per-
deremos certamente, um ou ambos, o nosso din e o nosso meio de vida
por causa delas. Se a sua companhia nos domina e é instalada, então
esta se torna uma doença terrível e fatal.
Entre tais pessoas estão aquelas que não falam nenhum bem que
nos possa beneficiar, nem nos ouvem atentamente para que elas benefi-
ciem de nós. Elas não conhecem as próprias almas e, consequente-
mente, põem os seus egos no lugar delas. Se elas falam, as suas pala-
vras caem nos corações dos seus ouvintes como chicotadas de um
bastão, enquanto durante o tempo todo elas estão cheias de admiração
e deleite pelas suas próprias palavras.
Elas causam angústia aos que estão na sua companhia, en-
quanto acreditam que são o aroma doce da reunião. Se elas estão em
silêncio, são mais pesadas que uma pedra de moinho enorme - demasi-
ado pesada para carregar ou até arrastar pelo chão.31
Concluindo, conviver com quem é mau para a alma não durará,
mesmo sendo inevitável. Pode ser um dos aspectos mais angustiantes
da vida de um servo, ser atormentado por tais pessoas, com as quais
pode ser necessário associar-se. Em tal relação, um servo deve apoiar-
se no bom comportamento, apresentando-se só com a sua aparência
exterior, enquanto disfarça a sua alma interior, até Allah lhe oferecer um
caminho para fora desta aflição e os meios de fuga para fora desta situa-
ção.

A quarta categoria é as pessoas cuja companhia é destruição por


si só. É como tomar veneno: ou a vítima encontra o antídoto ou morre.
Muitas pessoas pertencem a esta categoria. Elas são as pessoas de
inovação religiosa e desvio, aquelas que abandonam a sunnah do Men-
sageiro de Allah ‫ ﷺ‬e defendem outras crenças. Elas chamam o que é
sunnah de bid’ah e vice-versa. Uma pessoa com o mínimo de intelecto

31
É relatado que Ash-Shafi’, que Allah esteja satisfeito com ele, disse: “Sempre que
uma pessoa aborrecedora se senta ao meu lado, o lado onde ele se senta parece
mais para baixo do que o outro lado.”

26
não deve sentar-se nas suas assembleias nem conviver com elas. O re-
sultado ao fazê-lo será ou a morte do seu coração ou, no mínimo, o
adoecimento sério deste.

O que dá Vida e Sustento ao Coração


Devemos saber que actos de obediência são essenciais para o
bem-estar do coração do servo, da mesma maneira que comida e be-
bida são para o bem-estar do corpo. Todas as más acções são o
mesmo que comidas venenosas, e elas prejudicam o coração inevitavel-
mente.

O servo sente a necessidade de adorar o seu Senhor, Glorioso e


Todo-Poderoso, pois ele está naturalmente em constante necessidade
da Sua ajuda e auxílio.

Para manter o bem-estar do seu corpo, o servo segue uma dieta


estrita cuidadosamente. Ele, habitualmente e constantemente, ingere co-
mida boa em intervalos regulares, e apressa-se a libertar o seu estô-
mago de elementos prejudiciais se ele come algo mau por erro.

O bem-estar do coração do servo, no entanto, é muito mais im-


portante do que o bem-estar do seu corpo, pois, enquanto o bem estar
do seu corpo lhe permite ter uma vida livre de doença neste mundo, o
bem estar do coração garante-lhe não só uma vida afortunada neste
mundo, mas também felicidade eterna no próximo. Da mesma forma,
enquanto a morte do corpo corta o servo deste mundo, a morte do seu
coração resulta em angústia eterna.

Um homem virtuoso disse uma vez: “Quão estranho é que algu-


mas pessoas lamentam por aquele cujo corpo morreu, mas nunca la-
mentam por aquele cujo coração morreu - e, no entanto, a morte do co-
ração é bem mais séria!”

Logo, actos de obediência são indispensáveis para o bem-estar


do coração. Vale a pena mencionar os seguintes actos de obediência,
visto que são necessários e essenciais para o coração do servo: Dhikr
de Allah ta’ala, recitação do Nobre Qur’an, procurar pelo perdão de Allah,
fazer du’a, invocar a paz e bênçãos de Allah sobre o Profeta ‫ﷺ‬, e orar à
noite.

27
SEIS
LEMBRANÇA DE ALLAH E RECITAÇÃO DO
QUR’AN
Ibn Taymiyah escreveu: “A lembrança de Allah é para o coração
como água é para o peixe. O que acontece a um peixe quando este é
tirado para fora da água?”.

O Imam Shams ad-Din Ibn Al-Qayyim escreveu cerca de oitenta


benefícios que se obtém através de dhikrullah no seu livro Al-Wabil Al-
Sayyib. Nós citaremos alguns deles aqui, no entanto, recomendamos a
leitura deste mesmo livro por causa do seu grande valor.

A lembrança de Allah é sustento para ambos o coração e o espí-


rito. Se o servo é privado dela, ele torna-se como um corpo privado de
comida.
A lembrança de Allah também afasta o shaytan, suprimindo-o e
quebrando-o; é agradável ao Misericordioso, Glorioso e Todo-Poderoso,
dissipa preocupações e melancolia do coração, adorna-o com deleite e
felicidade, enche o coração e rosto com luz, e cobre aquele que se lem-
bra de Allah com dignidade, gentileza e frescura. Incute amor a Allah, te-
mor a Ele, e o acto de deixar todos os assuntos para Ele. Também au-
menta a possibilidade de Allah lembrar-se do Seu servo, como Allah diz:

“Então, lembrai-vos de Mim, Eu Me lembrarei de


vós.” [2:152]
Mesmo que esta fosse a única recompensa para a lembrança de
Allah, seria misericórdia e honra suficientes, pois tal coração está sempre
alerta e livre de más acções.

Mesmo que a lembrança de Allah seja uma das formas mais fá-
ceis de adoração, a misericórdia e honra que esta traz não podem ser
alcançadas por quaisquer outros meios.

Abu Hurairah relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Quem recitar as pa-


lavras ‘Não há divindade além de Allah, O Único, Ele não tem parceiro al-
gum. A soberania pertence-Lhe e todos os louvores são para Ele, e Ele é
Poderoso acima de todas as coisas’, cem vezes todos os dias, há uma
recompensa igual à emancipação de dez escravos, e cem boas acções

28
são registadas para ele, e cem más acções são removidas do seu re-
gisto. E isso é uma protecção para ele contra o shaytan nesse dia até à
noite, e ninguém poderá fazer algo melhor que isto, excepto aquele que
fizer mais do que isto (ou seja, aquele que recitar estas palavras mais do
que cem vezes)”.32

Jabir relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Quem recitar as palavras


‘Glória a Allah e para Ele são todos os louvores’, terá uma palmeira plan-
tada para ele no Jardim”.33
Ibn Mas’ud (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse: “Louvar a Allah, Exaltado seja, é-me
mais querido do que gastar o mesmo número de dinars (quanto o nú-
mero de louvores) pela causa de Allah.”

A lembrança de Allah é um remédio para os corações duros. Um


homem disse uma vez a Al-Hassan: “Ó Abu Sa’id, eu queixo-me da du-
reza do meu coração”. Ele disse: “Amacia-o com a lembrança de Allah”.
Makhul disse: “A lembrança de Allah é (um sinal de) saúde, en-
quanto que a lembrança de pessoas é como uma doença”.

Um homem uma vez perguntou a Salman: “Quais são as melhores


acções?”. Ele disse “Não leste no Qur’an:

‘…a lembrança de Allah é maior’ [29:45]?”


Abu Musa uma vez relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “A diferença
entre aquele que se lembra do seu Senhor e aquele que não o faz é
como a diferença entre os vivos e os mortos”.34

Abdulalh Ibn Busr relatou que um homem uma vez disse ao Pro-
feta ‫ﷺ‬: “Os caminhos para o bem são muitos e eu sou incapaz de se-
guir a todos, então, por favor, diga-me algo ao qual me possa apegar,
mas não me sobrecarregue, para que eu não me esqueça”. Ele disse
“Certifica-te de que a tua língua está úmida e flexível com a lembrança de
Allah, O Glorioso.”35

A lembrança de Allah contínua aumenta as boas testemunhas do


servo no Dia da Ressurreição. É um meio que o impede de falar de

32
Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/201; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/16.
33
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/433.
34
Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/208; Al-Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/495.
35
At-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/314.

29
forma errada, tal como criar rumores propagar estórias e coisas seme-
lhantes. Ou a língua está a mencionar Allah e a lembrá-Lo, ou ela está a
falar de forma incorrecta.

Quem tem as portas da lembrança abertas para Ele tem uma


abertura para o seu Senhor, Glorioso e Todo-Poderoso, através da qual
ele encontrará aquilo que procura. Se ele encontrar Allah, ele encontrou
tudo. Se ele perde a oportunidade, ele perdeu tudo.

Há vários tipos de lembrança. A lembrança dos Nomes de Allah,


Glorioso e Todo-Poderoso, a lembrança dos Seus Atributos, e louvando-
O e agradecendo-Lhe. Todas estas lembranças podem assumir a forma
de dizer, por exemplo, “Glória a Allah”, “Louvado seja Allah”, “Não há di-
vindade para além de Allah”. Um servo pode também lembrar-se de Al-
lah referindo-se aos seus Nomes e Atributos, dizendo, por exemplo, “Al-
lah, Glorioso e Todo-Poderoso, ouve tudo o que os Seus servos dizem e
fazem”; ou mencionando o que Ele ordenou e o que Ele proibiu, como
dizer “Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, ordena isto e isto, ou proíbe isto
e isto”.

Um servo pode também lembrar-se de Allah falando sobre as


Suas bênçãos. No entanto, o melhor tipo de lembrança é a recitação do
Qur’an, porque este contém remédios para curar o coração de todas as
doenças. Allah, O Exaltado, diz:

“Ó humanos! Com efeito, uma exortação de vosso


Senhor chegou-vos e cura para o que há nos peitos
e orientação e misericórdia para os crentes.”
[10:57]
E também:

“E fazemos descer, do Qur’an, o que é cura e mis-


ericórdia para os crentes.” [17:82]
Todas as doenças do coração resultam dos desejos e dúvidas, e
o Qur’an é uma cura para ambos. Este tem sinais e provas suficientes e
claros que distinguem entre a verdade e a falsidade e, então, este cura
as doenças da dúvida que arruinam o conhecimento, entendimento e
percepção, permitindo à pessoa ver as coisas como elas realmente são.

30
Quem estuda o Qur’an, e permite que ele seja absorvido pelo co-
ração, reconhecerá a verdade e a falsidade e será capaz de distinguir
entre elas, tal como ele consegue distinguir a noite do dia.

Quanto a curar as doenças que surgem dos desejos, é porque


este contém sabedoria e bons conselhos. Ele recomenda evitar ganhos
mundanos e inspira uma ânsia pela akhira.

O Profeta ‫ ﷺ‬disse uma vez: “Quem quiser amar Allah e o Seu


Mensageiro deve ler o Qur’an”.36

O Qur’an é também o melhor meio para aproximar um servo ao


seu Senhor, Glorioso e Exaltado.

Khabbab Ibn Al-Arat disse a um homem: “Aproxima-te de Allah o


máximo que puderes, e lembra-te que não o podes fazer por nenhum
meio mais agradável a Ele, do que usando as Suas próprias palavras.”

Ibn Mas’ud disse: “Quem amar o Qur’an, ama Allah e o Seu Men-
sageiro”, e Uthman Ibn Affan (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse: “Se os vossos corações
fossem realmente puros, eles nunca se cansariam de recitar as palavras
de Allah”.

Concluindo, a coisa mais benéfica para o servo é lembrar-se de


Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, constantemente:

“Ora, é com a lembrança de Allah que os corações


se tranquilizam.” [13:28]
O melhor tipo de lembrança é recitar o Livro de Allah, Glorioso e
Exaltado.

36
Da’if, munkar. Ver o comentário deste hadith no Tahdhib at-Tahdhib de Ibn Hajar,
2/222 e Lisan Al-Mizan, 2/185, e em Al-Jami’ as-Saghir de as-Suyuti, 6/150.

31
SETE
PROCURAR O PERDÃO DE ALLAH
Perdão é ser protegido das consequências prejudiciais das más
acções, e tê-las cobertas. Pedir por perdão é mencionado várias vezes
no Qur’an, e em alguns sítios é uma ordem, como Allah disse, Glorifi-
cado e Exaltado:

“E implorai perdão a Allah. Por certo, Allah é


Perdoador, Misericordiador.” [73:20]
Noutros sítios, Allah louva aqueles que pedem pelo Seu perdão, tal
como na ayah:

“…e os que imploram perdão, nas madrugadas.”


[3:17]
E noutros sítios, Allah diz-nos que Ele perdoa aqueles que pedem pelo
Seu perdão, como na ayah:

“E quem faz um mal ou é injusto consigo mesmo,


em seguida, implora perdão a Allah, encontrará
que Allah é Perdoador, Misericordiador.” [4:110]
Pedir por perdão é associado frequentemente com arrependi-
mento e, neste caso, este toma a forma de pedir por perdão com a lín-
gua. O arrependimento é afastar-se de más acções com ambos o cora-
ção e o corpo. Pedir por perdão é semelhante a suplicar que Allah, se
Ele assim quiser, responda e perdoe a pessoa que pede pelo Seu per-
dão. Isto é especialmente verdadeiro se o du’a veio directamente de um
coração atribulado por más acções, ou se este foi pronunciado durante
os momentos mais favoráveis à Sua resposta, tal como nas primeiras
horas da manhã ou imediatamente depois da oração.

Foi relatado que Luqman uma vez disse ao seu filho: “Ó meu filho,
faz com que seja um hábito a tua língua dizer as palavras ‘Perdoa-me, ó
Allah’, pois há certos momentos nos quais Allah não decepciona um
servo que O chame”.

Al-Hassan disse: “Peçam pelo perdão de Allah frequentemente -


nas vossas casas, às vossas mesas, nas vossas estradas, nos vossos

32
mercados, nos vossos encontros, onde quer que estejam. Nunca se
sabe quando o Seu perdão será concedido”.
Abu Hurairah relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Juro por Allah que
suplico pelo perdão de Allah e volto-me para Ele arrependido mais do
que setenta vezes por dia”.37

Abu Hurairah disse: “Eu ouvi o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬dizer: ‘Um


servo cometeu um pecado e disse: ‘Ó Allah, eu cometi um pecado, en-
tão, perdoa-me’. Allah disse: ‘O Meu servo sabe que ele tem um Senhor
que perdoa pecados e o ajuda? Eu perdoo o Meu servo’. Depois de um
tempo, o homem cometeu outro pecado, então ele disse: ‘Ó meu Se-
nhor, eu cometi outro pecado, então, perdoa-me’. O seu Senhor disse:
‘O Meu servo sabe que ele tem um Senhor que perdoa pecados e o
ajuda? Eu perdoo o Meu servo’. Depois de um tempo, o homem come-
teu ainda outro pecado, então ele disse: ‘Ó meu Senhor, eu cometi outro
pecado, então, perdoa-me’. O seu Senhor disse: ‘O Meu servo sabe
que ele tem um Senhor que perdoa pecados e o ajuda? Ó servo, faz
como quiseres. Eu concedi-te perdão’.”38

Ele, Exaltado seja, disse isto três vezes. Isto significa que o ho-
mem foi perdoado porque ele continuou a pedir por perdão a Allah, cada
vez que cometia um pecado. É aparente que isto se aplicaria desde que
a sua procura por perdão não fosse acompanhada pela intenção de re-
petir o mesmo pecado outra vez.

‘A’isha (que Allah esteja satisfeito com ela) disse: “Uma pessoa
afortunada é aquela que (no Dia do Juízo) encontra no seu livro muitas
súplicas por perdão”.
Noutras palavras, pedir pelo perdão de Allah é uma cura para to-
das as más acções.

Qatada disse: “Este Qur’an orienta-nos para o reconhecimento


das nossas doenças e para o seu remédio. As nossas doenças são os
nossos pecados e o nosso remédio é pedir por perdão a Allah”.

Ali Ibn Abi Talib (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse: “Allah não inspira a procura por
perdão a nenhum servo que Ele queira castigar”.

37
Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/101.
38
Al-Bukhari, Kitab at-Tawhid, 13/466; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/75.

33
OITO
SÚPLICA
Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, ordenou-nos a suplicar-Lhe e
prometeu responder-nos quando o fizermos. Ele diz:

“Suplicai-Me, Eu vos atenderei.” [40:60]


Depois Ele segue dizendo:

“Por certo, os que se ensoberbecem diante da


Minha adoração entrarão no Inferno, humilha-
dos.” [40:60]
Louvor a Allah, Todo-Poderoso, que tem generosidade sem limi-
tes e misericórdia sem fim. Ele fez da súplica do servo, um meio para a
realização das suas necessidades e o alcance dos seus esforços, um
acto recompensável de adoração que Ele lhe pediu para fazer, repreen-
dendo-o severamente, descrevendo-o como arrogante, se este a negli-
cencia.

Abu Hurairah relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Quem não suplica a


Allah, invoca a Sua ira”.39

Certo está aquele que disse:

Não peças ao filho de Adão para satisfazer uma necessidade,


Pede Àquele cujas portas nunca são ocultadas.
Allah enfurece-se quando não Lhe suplicas,
Enquanto o filho de Adão enfurece-se se lhe pedes [por algo].

Allah, Glorioso e Todo-Poderoso, diz:

“Não é Ele Quem atende o infortunado, quando


este O invoca, e remove o mal e vos faz sucessores,
na terra?” [27:62]
E também:

39
Hasan, at-Tirmidhi, Kitab as-Da’awat, 9/313; Ibn Majah, Kitab ad-Du’a, 2/1258; Al-
Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/491.

34
“E, quando Meus servos te perguntarem por Mim,
por certo, estou próximo, atendo a súplica do su-
plicante, quando Me suplica.” [2:186]
An-Nu’man Ibn Bashir disse: “O Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse ‘A
súplica é adoração’. Depois ele recitou a ayah:

“E vosso Senhor disse: ‘Suplicai-Me, Eu vos


atenderei. Por certo, os que se ensoberbecem diante
de Minha adoração entrarão no Inferno, humilha-
dos’.” [40:60]40
De acordo com a ayah acima, qualquer súplica que cumpra os re-
querimentos correctos será, quase de certeza, respondida por Allah. Isto
é confirmado pelos ahadith seguintes:

“Allah é O Eterno, Generosíssimo, e se um homem levanta as


suas mãos suplicando, Ele envergonha-Se de deixá-las descer vazias,
desapontando-o.”41

Anas relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Não abandonem a súplica,


pois ninguém que suplica é arruinado.”42
Abu Sa’id Al-Khudri relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Nenhum mu-
çulmano faz du’a a Allah, sem que Allah lhe conceda uma de três coisas:
rapidez na realização daquilo que ele pediu; ou isso [que foi pedido] é
guardado para o Dia do Juízo; ou esse [pedido] impedirá um problema
semelhante de lhe acontecer - a não ser que ele tenha pedido por algo
errado, ou algo que quebra os laços de família.”43

Umar Ibn Al-Khattab (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse: “Eu não tenho nenhuma
ansiedade para com a resposta, mas preocupo-me com o próprio du’a,
porque quem é inspirado por Allah a fazer du’a, invoca a Sua resposta
imediatamente quando o faz.”

40
At-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/311; Al-Hakim, Al-Mustadrak, 1/491; an-Nawawi,
Al-Adhkar, p.525.
41
Hasan, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/544; Al-Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/497; Abu
Da’wud, Kitab ad-Du’a, 1/497.
42
Da’if, Al-Hakim, Al-Mustadrak, 1/493; Ibn Hibban, Al-Ad’iyya, p.596.
43
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/923.

35
Boas Etiquetas ao Suplicar
Estas incluem escolher os momentos especiais para suplicar,
como no dia de Arafat, entre os dias do ano; o mês do Ramadan, entre
os meses do ano; Sexta-feira, entre os dias da semana; e as primeiras
horas da manhã, entre as horas do dia.

Estas também incluem escolher condições favoráveis, tal como


nos momentos de chuva, nos momentos em que exércitos que lutam
pela causa de Allah marcham [para o campo de batalha], e nos momen-
tos em que se faz sujud.

Abu Hurairah relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Um servo está mais
perto do seu Senhor enquanto está em prostração, então aumentem a
vossa súplica enquanto prostram.”44

O mesmo aplica-se ao momento entre o adhan e iqamah. O Men-


sageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse: “A súplica durante o momento entre o adhan
e iqamah nunca é feita em vão”.45

É bom ser firme ao suplicar e confiante na resposta de Allah. O


Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Ninguém, entre vocês, deve dizer ‘Ó Allah, perdoa-
me, se quiseres’ ou ‘Ó Allah, tem misericórdia de mim, se quiseres’; ele
deve ser sempre firme ao pedir a Allah, pois ninguém pode obrigar Allah
a fazer algo contra a Sua vontade”.46

É também algo benéfico estar com wudu’, em direcção a Makkah,


e repetir o du’a três vezes.47

A súplica deve começar por louvar a Allah, referindo-se aos Seus


Nomes e Atributos e as Suas bênçãos, seguida de invocação das Suas
bênçãos para o Mensageiro de Allah ‫ﷺ‬. Depois, o suplicante deve des-
crever as suas necessidades e fazer o seu pedido e, finalmente, concluir
com mais súplicas para o Profeta ‫ ﷺ‬e louvor a Allah, Glorioso e Todo-
Poderoso.

44
Muslim, Kitab as-Salah, 4/200.
45
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab as-Salah, 1/624, e em Kitab ad-Da’awat, 10/53; Abu
Da’wud, Kitab as-Salah, 2/224.
46
Al-Bukhari, Kitab at-Tawhid, 13/448, e em Kitab ad-Da’awat, 11/139; Muslim, Kitab
adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/7.
47
Muslim, Kitab Al-Jihad, 12/152. Isto faz parte de um longo hadith relatado por Abu
Su’ud (!‫)'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬.

36
É importante que a sua necessidade seja pura e não algo mais ou
algo que possa causar a quebra dos laços de família.
O suplicante não deve insistir na realização imediata dos seus pe-
didos, nem deve dizer ‘Eu supliquei a Allah, mas Ele não respondeu ao
meu du’a’.

Abu Hurairah relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “A súplica de qual-


quer um de vós será cumprida (por Allah), desde que ele não se torne
impaciente, dizendo ‘Eu pedi, mas o meu pedido não me foi conce-
dido’.”48

Ibn Battal disse: “O que é implicado aqui é que a pessoa deses-


pera e, por isso, abandona o acto de fazer du’a completamente - em tal
caso, é como se ele fosse o que se dignou a fazer du’a, ou que ele con-
sidera o seu du’a o suficiente para exigir uma resposta, e então ele es-
pera por uma resposta imediata, sem qualquer atraso, do Senhor Gene-
roso - quando nem a Sua resposta ao du’a diminui o Seu poder abso-
luto, nem os pedidos que Ele concede às suas criaturas diminuem o que
Ele tem, no mínimo que seja.”

Este hadith indica uma das cortesias excelentes ao fazer du’a, in-
formando que aquele que pede deve persistir e não desesperar pela
resposta positiva do seu du’a, pois isto demonstrará a sua submissão e
a sua confiança absoluta no auxílio de Allah.

48
Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/140; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/51.

37
NOVE
INVOCAR BÊNÇÃOS PARA O PROFETA ‫ﷺ‬
Há um hadith relatado por Abu Hurairah, no qual é relatado que o
Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Se alguém invocar bênçãos para mim uma vez, Allah
conceder-lhe-á dez bênçãos”.49 Isto é porque uma boa acção é regis-
tada como dez boas acções, e invocar bênçãos para o Profeta ‫ ﷺ‬é
uma das coisas excelentes que um muçulmano pode fazer.

Ibn Al-Arabi disse: “Se alguém perguntasse sobre o mérito das pa-
lavras de Allah ‘Quem chega com uma boa acção terá dez vezes seu o
equivalente…’, nós diríamos ‘Têm grande mérito. O Qur’an mencionou
que uma boa acção é multiplicada dez vezes, e que invocar bênçãos
para o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬é, de acordo com o Qur’an, uma boa ac-
ção que dá àquele que a faz dez níveis acima no Jardim. O Profeta ‫ﷺ‬
disse que Allah abençoa dez vezes aquele que invoca bênçãos para ele
uma só vez. A lembrança que Allah tem de um servo é bem superior à
multiplicação de boas acções. Isto é ainda apoiado pelo facto de que Al-
lah, Exaltado seja, concedeu ao servo que se lembra d’Ele a recom-
pensa dele próprio ser lembrado por Allah. Da mesma forma, o servo
que se lembrar do Seu Mensageiro ‫ﷺ‬, é recompensado por ser lem-
brado por Ele também”.

Al-Iraqi disse: “As bênção de Allah para com o servo não é a sua
única recompensa, pois, como nos é dito no hadith seguinte, Ele tam-
bém regista dez boas acções no livro do servo e remove dez más ac-
ções dele, e eleva-o por dez níveis”.

Anas Ibn Malik relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Se sou mencio-
nado na presença de alguém, ele deve invocar bênçãos para mim e se
alguém invoca bênçãos para mim uma vez, Allah conceder-lhe-á dez
bênçãos”. Noutra versão deste hadith, o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Se alguém in-
vocar bênçãos para mim uma vez, Allah conceder-lhe-á dez bênçãos,
removerá dez más acções e elevá-lo-á por dez níveis”.50

49
Muslim, Kitab as-Salah, 4/128.
50
Sahih, Ibn as-Sunni, ‘Amal Al-Yawm wa’l-Laylah, nº 382. Ver também Muslim, Kitab
as-Salah, 4/127.

38
As palavras do Profeta ‫“ ﷺ‬Se eu sou mencionado na presença
de alguém, ele deve invocar bênçãos para mim” parecem fazer a invoca-
ção das bênçãos para ele obrigatória nesta situação. Há ainda mais pro-
vas disto no hadith “Avarento é aquele em cuja presença sou mencio-
nado e, no entanto, ele não invoca bênçãos para mim”.51

Ibn Mas’ud relatou que o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse: “Allah tem


anjos a vaguear que vêm e informam-me das bênçãos que a minha
Ummah invoca para mim”.52 Ibn Mas’ud também relatou que o Mensa-
geiro de Allah ‫ ﷺ‬disse: “Os mais próximos de Mim no Dia do Juízo se-
rão aqueles que invocam bênçãos para mim frequentemente”.53
A melhor altura para invocar bênçãos frequentemente para o Men-
sageiro de Allah ‫ ﷺ‬é à sexta-feira. Aws Ibn Aws relatou que o Mensa-
geiro de Allah ‫ ﷺ‬disse: “Entre os vossos dias mais excelentes está a
sexta-feira porque, nesse dia, Adão foi criado, e nesse dia ele morreu, e
nesse dia a Trompa irá soar, e nesse dia virá a Hora. Então invoquem
bênçãos para mim frequentemente nesse dia, pois as vossas bênçãos
ser-me-ão trazidas”. Foi-lhe questionado “Ó Mensageiro de Allah, como
serão as nossas bênçãos transmitidas até si quando o seu corpo se tor-
nará parte da terra decadente?”. Ele respondeu “Allah proibiu a terra de
destruir os corpos dos profetas.”54
Quanto à forma como a invocação das bênçãos para o Profeta
‫ ﷺ‬deve ser feita, Abu Mas’ud Al-Ansari relatou: “Nós estávamos a sentar
na companhia de Sa’d Ibn Ubada, quando o Mensageiro de Allah ‫ﷺ‬
veio até nós. Bashir Ibn Sa’d disse: ‘Ó Mensageiro de Allah, Allah orde-
nou-nos a pedir por bênçãos para si, mas como é que devemos fazê-
lo?’. O Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬permaneceu em silêncio. Nós estávamos
tão perturbados quanto ao seu silêncio que desejámos que ele não ti-
vesse perguntado sobre isto. Finalmente, o Mensageiro de Allah ‫ﷺ‬
disse: ‘Diz: ‘Ó Allah, abençoa Muhammad e a família de Muhammad
como abençoaste Ibrahim e a família de Ibrahim. Ó Allah dá baraka a
Muhammad e à família de Muhammad como deste baraka a Ibrahim e à
família de Ibrahim. Certamente, Tu és merecedor de Louvor e Glorioso”,
e depois diz o taslím como aprendeste’.”55

51
Sahih, an-Nisa’i, Fadha’il Al-Qur’an, nº 125; at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/531;
Ahmad, Al-Musnad, 1/201; Al-Hakim, Kitab ad-Du’a, 1/549.
52
Sahih, Ahmad, Al-Musnad, 1/387; an-Nisa’i, Kitab as-Sahw, 3/43. Ibn Al-Qayyim
disse: “A corrente de narração é sahih”. Ver Jalaa’ ul Afhaam, p. 23.
53
Hasan, at-Tirmidhi, Kitab Al-Witr, 2/607; Ibn Hibban, Mawarid adh-Dham’an, p. 594.
54
Sahih, Ibn Ma’jah, Kitab Al-Jana’iz, 1/524; Abu Da’wud, Kitab as-Salah, 3/370; Ah-
mad, Al-Fath ar-Rabbani, 6/9. Al-Hakim disse: “É sahih”, no seu Kitab Al-Jumu’ah,
1/278.
55
Muslim, Kitab as-Salat, 4/123.

39
DEZ
REZAR À NOITE
Allah diz:

“Por certo, teu Senhor sabe que te levantas para


orar, durante menos de dois terços da noite, ou du-
rante sua metade, ou seu terço…” [73:20]
E também:

“E os que passam a noite prosternando-se, diante


de seu Senhor, e orando de pé” [25:64]
O Profeta ‫ ﷺ‬disse: “A melhor oração, depois das orações obriga-
tórias, é a oração da noite”.56

‘A’isha (que Allah esteja satisfeito com ela) disse: “Entre as ora-
ções de ‘isha e fajr, o Profeta ‫ ﷺ‬costumava rezar onze rak’at e rezar um
rak’a de witr”.57

Ibn Mas’ud relatou que, perante o Profeta ‫ﷺ‬, foi mencionada uma
pessoa que dorme durante a noite até à alvorada (sem rezar). O Profeta
‫ ﷺ‬disse: “O shaytan urina nos ouvidos desse homem”.58

O Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Quando um de vocês dorme, o shaytan ata


três nós atrás da sua cabeça. Em cada nó ele repete e expira as seguin-
tes palavras: ‘A noite é longa, então continua a dormir’. Se vocês acorda-
rem e lembrarem-se de Allah, um nó é desfeito; e se fizerem wudu’, o
segundo nó é desfeito; e se rezarem, o terceiro nó é desfeito; e levantar-
se-ão de manhã cheios de energia e com um coração limpo. Senão, le-
vantar-se-ão sentindo-se preguiçosos e com um coração confuso”.59

Ibn Mas’ud costumava levantar-se enquanto outros dormiam, e


um zumbido constante, como o zumbido das abelhas, podia ser ouvido
dele até ao nascer do dia.

56
Muslim, 8/54.
57
Al-Bukhari, Kitab Al-Witr, 2/478; Muslim, Kitab Al-Musafirin, 6/16.
58
Al-Bukhari, Kitab at-Tahajjud, 3/28; Muslim, Kitab Al-Musafirin, 6/63.
59
Al-Bukhari, Kitab at-Tahajjud, 3/24; Muslim, Kitab Al-Musafirin, 6/65.

40
Al-Hasan foi uma vez questionado: “Como é que aqueles que fi-
cam acordados durante a noite têm os rostos mais atraentes?”. Ele res-
pondeu: “Porque eles estão em termos íntimos com O Misericordioso, e
Ele cobre-os com alguma da Sua luz”.

Ele também disse: “Um homem comete um pecado e então (por


causa deste) é-lhe privado levantar-se durante a noite.”

Um homem uma vez disse a um homem virtuoso: “Sou incapaz


de ficar acordado de forma constante durante a noite; dê-me uma solu-
ção”. O homem virtuoso disse: “Não O desobedeças durante o dia e Ele
manter-te-á acordado, entre as Suas Mãos, durante a noite”.

Foi transmitido que Sufyan ath-Thawri disse: “Uma vez fui privado
de ficar acordado à noite por cinco meses por causa de um pecado que
cometi”.

Ibn Al-Mubarak disse:

Quando a noite está completamente escura,


encontra-os levantados durante ela.
Medo perseguiu o seu sono,
então eles ficam levantados,
enquanto os que se sentem seguros nesta vida,
dormem continua e silenciosamente.

Abu Sulaiman disse: “As pessoas da noite ficam mais contentes


ao ficarem acordadas durante a noite, do que as pessoas do recreio fi-
cam com o seu jogo. Se não fosse pela noite, eu não gostaria de conti-
nuar a viver neste mundo”.

Ibn Al-Munkadir disse: “Só três prazeres permanecem nesta vida:


ficar acordado durante a noite, encontrar-se com o seu irmão, e fazer as
orações obrigatórias em congregação”.

41
ONZE
PASSAR SEM OS PRAZERES DESTE MUNDO
Abu’l-Abbas as-Sa’idi disse: “Um homem veio até ao Profeta ‫ ﷺ‬e disse:
‘Ó Mensageiro de Allah! Guie-me para uma acção que, quando eu a fi-
zer, Allah me amará e as pessoas também me amarão’. Ele disse: ‘Sê
desapegado a este mundo e então Allah amar-te-á, e não sejas ape-
gado ao que as pessoas têm e as pessoas amar-te-ão’”.60

Este hadith mostra que Allah ama aqueles que vivem de maneira
simples nesta vida. Foi dito que ter amor a Allah é o melhor estado para
se estar, e viver de maneira simples é a melhor condição para se estar.

Viver de maneira simples significa abster-se do desejo por coisas


mundanas na esperança de receber algo melhor no seu lugar. Para al-
cançar isto mais facilmente, devemos primeiro perceber que as coisas
pelas quais as pessoas anseiam neste mundo são, de facto, inúteis
quando comparadas com o que esperamos no próximo mundo.

Se soubermos que o que Allah tem permanecerá e que a próxima


vida é melhor e eterna, então percebemos que a vida deste mundo é re-
almente um pedaço de gelo deixado ao sol - ele logo se derreterá e de-
saparecerá. A akhira, no entanto, nunca desaparecerá essencialmente.
O desejo que temos de trocar esta vida pela que está para vir é refor-
çado pela certeza de que não há comparação alguma entre esta vida e
a próxima.

No Qur’an encontramos que este mundo e o próximo descritos


nos seguintes termos:

“Mas vós dais preferência à vida terrena, enquanto


a Derradeira Vida é melhor e mais permanente”.
[88:16-17]
E também:

60
Hasan, Ibn Majah, Kitab az-Zuhud, 2/1373.

42
“Desejais os efêmeros bens da vida terrena, en-
quanto Allah vos deseja a Derradeira Vida”.
[8:67]
E também:

“E eles jubilam com a vida terrena. E a vida ter-


rena, ao lado da Derradeira Vida, não é senão
gozo efêmero”. [13:26]
Os ahadith que desprezam os bens mundanos e descrevem o
quão inúteis estes são aos Olhos de Allah são muitos:

Jabir Ibn Abdullah relatou que o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬andava


pelo mercado. Algumas pessoas reuniram-se de ambos os lados dele.
Então ele deparou-se com um cabrito morto com orelhas muito curtas,
ele pegou-o e disse: “Quem entre vós quer isto por um dirham?”. Eles
disseram “Nós não gostaríamos de o ter nem que fosse de graça, por-
que não nos é útil”. Ele disse “Gostariam de o ter de graça?”. Eles disse-
ram “Por Allah, mesmo se estivesse vivo, porque as suas orelhas são de-
masiado curtas; e agora também está morto”. Então o Mensageiro de Al-
lah ‫ ﷺ‬disse: “Por Allah, este mundo é mais insignificante aos Olhos de
Allah do que isto aos vossos olhos”.61
Foi relatado por Ibn Shaddad Al-Fahri que o Profeta ‫ ﷺ‬disse:
“Este mundo, em comparação com o próximo, é o mesmo que se um
de vocês pusesse um dedo no oceano. Considerem o quanto teriam ao
tirarem-no de lá.”62

Foi relatado por Ibn Sahl Ibn Sa’ad que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Se o
mundo valesse uma asa de um mosquito sequer a Allah, Ele não daria
nem sequer um golo de água deste a um kafir”.63
Viver de forma simples significa afastar-se das coisas deste
mundo por estas não terem valor algum. A pessoa não se importa com
elas e permanece desapegada delas.

Yunus Ibn Maisarah disse: “Ser desapegado deste mundo não


significa que se deva proibir o que Allah permitiu, nem que se deva des-
perdiçar dinheiro. Pelo contrário, é um estado no qual se está mais certo
do que está na Mão de Allah do que se está certo quanto ao que se tem

61
Muslim, Kitab az-Zuhud, 18/93.
62
Muslim, Kitab az-Zuhud, 17/191.
63
Sahih gharib, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 6/611.

43
nas próprias mãos: o seu estado de infortúnio é o mesmo que o seu es-
tado geral; a sua atitude para com aqueles que o criticam com razão e
aqueles que o elogiam com razão é a mesma”.

Ele explicou isto em três fases, ou níveis, que dizem respeito ao


coração e não à acção física. Esta é a razão pela qual Abu Sulaiman
costumava dizer que não se deve chamar ninguém de zahid.64

O primeiro nível é o de um servo que está mais certo do que está


na Mão de Allah do que o que está nas suas próprias mãos. Este nível
surge de uma convicção forte e saudável.

Abu Hazim az-Zahid foi questionado: “Qual é a tua riqueza?”. Ele


disse: “Dois tipos de riqueza dissipam todo o medo de pobreza: confi-
ança em Allah e não ser apegado ao que as pessoas têm”. Foi-lhe per-
guntado: “Não temes ser pobre?”. Ele disse: “Como posso temer a po-
breza quando o meu Senhor é Dono de tudo o que está nos céus e na
terra e o que está entre eles e o que está por baixo do solo?”.

Al-Fudayl disse: “A essência de viver de forma simples é estar


contente com Allah, Exaltado e Todo-Poderoso”.
Ele também disse: “Aquele que está contente é aquele que vive
simples, e é ele que é rico. Aquele que alcançou a fé verdadeira, que
confia em Allah sobre todos os seus assuntos, e está contente com o
que Ele lhe dá, e permanece desapegado à criação, com medo e espe-
rança – e, fazendo-o, encontra que perseguir ganhos mundanos não
vale a pena - alcançou os benefícios da simplicidade. Ele é o mais rico
das pessoas, mesmo que ele não possua uma única coisa no mundo”.

Como Ammar disse: “A morte é professora suficiente, a verdadeira


fé é riqueza suficiente, e adoração é acção suficiente”.

Ibn Mas’ud disse: “A verdadeira crença é não tentar agradar as


pessoas, fazendo coisas que trarão o desagrado de Allah para ti; não in-
vejar ninguém pelo que Allah lhe deu; e não culpar ninguém pelo que Al-
lah não te deu. Pois a provisão de Allah não é atraída simplesmente pelo
acto cuidadoso de um homem, nem é desviada pela malícia de outro
homem. Allah, na Sua Justiça, Omnisciência e Sabedoria, fez do deleite
e felicidade companheiros da fé e contentamento, e do desespero e tris-
teza companheiros da desconfiança e insatisfação”.

64
Uma pessoa desapegada da vida mundana.

44
O segundo nível é o de um servo que, quando é afligido por al-
gum infortúnio - como a morte de um filho, ou a perda de riqueza ou
bens - deseja a recompensa pela sua aceitação da perda mais do que
recuperar o que foi perdido. Isto é também uma consequência de ter
completa confiança [em Allah].

‘Ali, que Allah esteja satisfeito com ele, disse: “Quem vive de
forma simples neste mundo, sabe que os infortúnios são fáceis de ultra-
passar”.

Alguns dos nossos antepassados costumavam dizer: “Se não


fosse pelos infortúnios deste mundo, nós chegaríamos ao próximo
mundo sem nada”.

O terceiro nível é o de um servo que toma o elogio e a crítica


igualmente. Se o mundo ocupasse um lugar de importância no seu co-
ração, então ele preferiria o elogio à culpa, o que em troca poderia fazê-
lo abandonar muito benefício por medo de ser censurado, e faria muito
mal na sua procura por elogio. Isto significa que no seu coração as opini-
ões das outras pessoas quanto a ele não lhe são importantes - de facto,
o que é importante para ele é o seu amor pela Verdade e a sua ânsia
pelo agrado de Allah.

Ibn Mas’ud disse: “A verdadeira fé não é tentar agradar outras


pessoas fazendo coisas que desagradam a Allah”.

Allah elogiou aqueles que lutam na Sua causa, sem se preocupa-


rem sobre as opiniões dos outros. Al-Hasan disse: “A pessoa que vive
de forma simples é a pessoa que tem [coragem] no seu coração para di-
zer que outra pessoa fez melhor”. O Imam Ahmad, creio, foi questionado
uma vez sobre se um homem rico poderia viver de forma simples. Ele
disse: “Sim, se não se alegrar quando a sua riqueza aumenta, nem en-
tristecer quando ela diminui, assim ele pode.”

Ibrahim Ibn Adham disse: “Há três tipos de zuhud, ou ‘passar


sem’: o primeiro é o resultado de ter de o fazer, o segundo é o de fazer
uma acção notável e o terceiro é o de ter cuidado. Evitar as coisas ha-
ram é obrigatório, evitar coisas que são halal pode ser notável, e evitar
coisas que são duvidosas é prudente”.l

Uma pessoa que troca as coisas deste mundo pelo próximo está
a passar sem alguma coisa nesta vida e então podemos chamá-lo de

45
zahid, mas ‘passar sem’ pode também envolver desfrutar de algo neste
mundo em detrimento do próximo mundo; neste caso, a pessoa está a
passar sem algo da akhira.
Foi dito a um homem virtuoso uma vez: “Você vive sem muito
mais do que eu”. O homem respondeu “É você que é mais extremo
nisso, pois eu abstenho-me de coisas numa vida que não permanecerá
e cujas recompensas são incertas, enquanto você abstém-se da akhira.
Ninguém poderia ser mais extremo em ‘passar sem’ do que isto”.

Normalmente, no entanto, quando falamos de zuhud, queremos


dizer que negamos a nós próprios alguns dos prazeres deste mundo em
vez dos prazeres do próximo. No entanto, só é possível abster-nos de
coisas às quais temos acesso. Isto é a razão pela qual Ibn Al-Mubarak
disse, quando uma pessoa lhe chamou “Ó Zahid!”: “O verdadeiro zahid é
‘Umar Ibn Abdal-Aziz, pois ele rejeitou os prazeres e riquezas tremendos
deste mundo que foram postos aos seus pés, enquanto que eu não te-
nho muito para deixar”.

Al-Hasan Al-Basri disse: “Eu conheci pessoas e mantive compa-


nhia com grupos que não regozijaram quando coisas deste mundo lhes
foram entregues, nem lamentaram quando perderam qualquer coisa
neste mundo. A vida neste mundo era mais insignificante para eles do
que poeira. Um deles podia viver por um ano ou por sessenta anos sem
ter uma vestimenta que o cubra inteiramente, e sem ter qualquer coisa
que o separe do chão, e sem ter qualquer comida que ele peça para lhe
ser preparada na sua própria casa.
Quando a noite chegava, eles estariam acordados, com as suas
testas lisas contra a terra, lágrimas a correr pelas suas faces, invocando
a Allah secretamente para os salvar no Dia do Juízo. Se eles fizessem
algo bom, nunca parariam de ser gratos por isso, e sempre pediam a Al-
lah para aceitá-lo. Se eles fizessem algo mau, ficavam tristes por isso, e
continuavam a pedir a Allah para os perdoar por isso. Por Allah, eles não
estavam salvos de más acções, e foram salvos só pelo seu arrependi-
mento constante. Que Allah esteja satisfeito com eles e lhes conceda da
Sua misericórdia.”

Há três estações de zuhud:

A primeira etapa é retirar-se da vida deste mundo, mesmo se tiver


ainda um grande desejo por ela e o coração for ainda atraído por ela. O
ego ainda está preocupado com o mundo, mesmo ao esforçar-se com
ele e ao restringi-lo.

46
A segunda etapa é adquirir desapego deste mundo e ‘passar
sem’ nele, para obter a recompensa por evitá-lo. Aqui é o ‘passar sem’
que preocupa a pessoa. Este é o estado da pessoa que oferece um
dirham para obter dois.

A terceira etapa é a de deixar o mundo de lado voluntariamente


sem pensar duas vezes pelo que abandonou. É aquele que trocou um
fragmento de um vaso partido por uma jóia.

Ou é como alguém que, procurando entrar para ver o Rei, pode


ser impedido por um cão no portão. Atirando uma migalha ao cão, dis-
traio, e isso possibilita a sua entrada para a câmara de audiência do Rei.
O Shaytan é como esse cão, esperando nos portões de Allah. Ele tenta
impedir as pessoas de entrar, mesmo que os portões estejam bem
abertos e o mundo seja só uma migalha que pode ser atirada de lado
sem pensar duas vezes.

47
DOZE
OS ESTADOS DO EGO
Há acordo entre os que procuram por Allah, apesar das suas dife-
rentes escolas de pensamento e práticas, de que o ego fica entre o co-
ração e o alcance d’Ele. Só silenciando o ego - evitando-o, ignorando os
seus desejos e ultrapassando-o - poderá levar a pessoa para o domínio
de Allah, sendo possível alcançá-Lo.

Há dois tipos de pessoas: um deles é aqueles cuja nafs as derro-


tou e as levou à ruína porque se renderam e obedeceram aos seus im-
pulsos; o outro tipo é aqueles que superaram a sua nafs e a fizeram
obedecer às suas ordens.

Alguns dos que têm conhecimento disseram: “O caminho daque-


les que procuram por Allah termina quando eles superam os seus egos,
porque quem triunfa acima do seu ego tem sucesso e ganha, e quem
cujo ego triunfa acima dele perde.”

Allah, O Exaltado, diz:

“Então, quanto a quem cometeu transgressão e deu


preferência à vida terrena, por certo, o Inferno lhe
será morada. E quanto a quem temeu a preeminên-
cia de seu Senhor e coibiu a alma das paixões, por
certo, o Paraíso lhe será a morada.” [79:37-41]
O ego incita às más acções, e à preferência desta vida acima da
próxima; enquanto que Allah diz aos Seus servos para O temerem, e
para restringirem o ego de seguir os seus impulsos. O coração é dividido
entre estes dois. Este ouve um lado por um momento e o outro no mo-
mento seguinte. Aqui reside a fonte de aflição, e um desafio.

No Qur’an, Allah descreveu três estados do ego: o ego em paz, o


ego censurador de si mesmo, e o ego que incita ao mal. De acordo,
muitas pessoas variaram nas suas opiniões quanto a se um servo tem
um ego, do qual estes três estados são atributos, ou três egos.

A primeira opinião é das pessoas de conhecimento e explicação,


enquanto que a segunda foi atribuída aos sufis. A verdade é que não há
contradição entre as duas. O ego é uma entidade singular em relação à

48
sua essência, e é um dos três tipos principais, dependendo dos atribu-
tos que tem.

O Ego em Paz
Quando o ego consegue descansar na Presença de Allah, e fica
tranquilo quando o Seu Nome é invocado, e sempre deixa todos os as-
suntos para Ele, e volta-se para Ele frequentemente, e fica impaciente
para O encontrar, e experiencia a intimidade da Sua proximidade, então
é uma alma em paz. É a alma à qual será dito no momento da morte:

“Ó alma tranquila! Retorna a teu Senhor,


agradada e agradável; Então, entra para junto de
Meus servos, e entra em Meu Paraíso.” [89:27-30]
Ibn Al-Abbas (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse: “É a alma crente e tranquila.”

Qatada disse: “É a alma do crente, acalmada pelo que Allah pro-


meteu. O seu dono está em completo descanso e contente com o seu
conhecimento dos Nomes e Atributos de Allah, e com o que Ele disse
sobre Ele Próprio e o Seu Mensageiro ‫ﷺ‬, e com o que Ele disse sobre
o que espera a alma depois da morte - sobre a partida da alma, a vida
no barzakh, e os eventos do Dia da Ressurreição que seguirão - tanto
que um crente assim poderia quase ver com os seus próprios olhos. En-
tão ele submete-se à vontade de Allah e rende-se a Ele contentamente,
nunca insatisfeito ou queixoso, e com a sua fé nunca abalada. Ele não
se regozija com os seus ganhos, nem as suas aflições o fazem desespe-
rar, pois ele sabe que estes foram decretados bem antes de lhe aconte-
cerem, mesmo antes de ele ser criado, visto que Allah diz:

‘Nenhuma desgraça ocorre sem que seja com a per-


missão de Allah, E quem crê em Allah, Ele lhe
guiará o coração. E Allah, de todas as cousas, é
Onisciente.’ [64:11]”
Muitos dos nossos antepassados disseram que tal alma pertence
ao servo que, quando afligido por infortúnio, sabe que este vem de Allah
e aceita-o e submete-se à Sua vontade.

A paz que vem com ihssan brota de uma familiaridade tranquiliza-


dora com o decreto de Allah, que é refletido na submissão, sinceridade
e adoração. Nenhum desejo, ou vontade, ou força de hábito, podem ter

49
precedência sobre a Sua vontade e ordem; Não pode haver atracção a
qualquer coisa que contradiga qualquer dos Seus Atributos; e não pode
haver desejo que oponha o Seu decreto - e se alguma vez tal coisa
aconteça a tal pessoa, então ele simplesmente repudia-a, como faz
como os sussurros de shaytan. Por certo, ele preferiria cair do céu do
que levar a sério tal coisa dentro dele.

Isto, como o Profeta ‫ ﷺ‬disse, é fé clara e verdadeira.65 Por ela,


ele é salvo da preocupação que acompanha más acções, da ansiedade
quanto a elas, graças à paz e doçura que vêm ao voltar-se para Ele.

Se ele se apoiar na crença firmemente depois de ter duvidado, ou


no conhecimento depois da ignorância, ou na lembrança depois da ne-
gligência, ou no arrependimento depois da rebeldia, ou na sinceridade
depois do exibicionismo, ou na honestidade depois do engano, ou no
esclarecimento depois da confusão, ou na humildade da proximidade
depois da impetuosidade do desejo, ou na modéstia depois da ostenta-
ção, então a sua alma estará em paz.

Tudo isto é devido à conscientização que liberta o coração do


sono ocioso e ilumina os palácios do Jardim à sua frente - tal como um
homem clamou:

“Ó alma, cuidado! Ajuda-me com o teu esforço


na escuridão das noites,
para que no Dia da Ressurreição
ganhes uma boa vida nessas alturas!”

Ele reconheceu, pela luz do despertar, o propósito da sua cria-


ção, e o que encontraria, do momento da sua morte ao momento que
entraria na morada eterna (isto é, o Jardim ou o Fogo). Ele reconheceu o
quão depressa passa este mundo, e o quão incerto é para as suas cri-
anças, e como este destrói quem o ama. Então ele levantou-se nesta
luz, cheio de determinação, e disse:

65
Muslim, Kitab Al-Iman, 2/153; relatado pela autoridade de Abu Hurairah, que disse:
“Alguns dos companheiros do Profeta ‫ﷺ‬vieram até ele e disseram: ‘Encontrámos algo
nos nossos corações pelo qual estamos orgulhosos de falar sobre’. Ele perguntou:
‘Encontraram mesmo?’. Eles disseram: ‘Sim.’ Depois ele disse: ‘Essa é a verdadeira
fé. ”

50
“Que aflição a minha, porque descurei de minhas
obrigações para com Allah!” [39:56]
Então ele parte para um novo começo na sua vida, compensando
pelo que ele perdeu e trazendo de volta à vida o que morreu. Agora ele
enfrenta destemidamente as armadilhas que encontrou antes, e apro-
veita o momento com a sua capacidade recentemente descoberta, que,
quando tivesse passado por ele antes, teria causado a sua perda de
todo o bem.
Depois ele percebe, à luz do seu despertar e à luz das dádivas
que Allah lhe deu, que ele é incapaz de medir e contar as bênçãos de
Allah, ou de pagar a sua dívida. Com esta percepção, ele reconhece as
suas falhas e deficiências, as suas más acções e todas as coisas más
que fez, toda a sua desobediência e negligência de tantos deveres e di-
reitos. O seu ego é quebrado e o seu corpo é humilhado e ele aborda
Allah com a sua cabeça baixa. Ele reconhece a generosidade de Allah e
vê ambos os seus próprios delitos e falhas ao mesmo tempo.

Ele também vê, à luz do seu despertar, o quão precioso é o


tempo, e o quão importante este é. Ele reconhece que este é a capital
do seu bem-estar futuro que não deve ser desperdiçado, e ele torna-se
tão poupado com ele que só o gasta em acções e obras que o aproxi-
marão de Allah - pois desperdiçar tempo é a semente do fracasso e ar-
rependimento, e ser cuidadoso com este é a raíz do sucesso e prazer.

Estas são então as consequências de estar consciente e o que


as aumenta. Estes são os primeiros passos da alma em paz no seu ca-
minho para Allah e para a akhira.

O Ego Censurador de Si Mesmo


Foi dito que este tipo de ego é aquele que não pode descansar
em qualquer estado em particular. Ele muda frequentemente, lembra-se
e esquece-se, submete-se e transgride, ama e odeia, alegra-se e entris-
tece-se, aceita e rejeita, obedece e rebela-se.

Foi também dito que é o ego do crente. Al-Hasan Al-Basri disse:


“Você sempre verá o crente a censurar a si mesmo e a dizer coisas
como ‘Eu queria isto? Porque é que fiz aquilo? Isto é melhor que
aquilo?’”.

51
Foi também dito que o ego culpa a si mesmo no Dia da Ressurrei-
ção: cada um culpa-se pelas suas acções, seja pelas suas más acções,
se ele fazia muitas, ou pelas suas falhas, se ele fazia boas acções. O
Imam Ibn Al-Qayyim diz que tudo isto está correcto.

Há dois tipos de ego censurador de si mesmo: aquele que é cul-


pável e aquele que não é culpável. O culpável é o ego ignorante e deso-
bediente que Allah e os Seus anjos culpam. O ego que não é culpável é
o ego que se culpa pelas suas falhas na obediência a Allah, apesar de
todos os seus esforços nessa direcção. Este ego não é realmente cul-
pável.

Os egos mais louváveis são aqueles que se culpam por causa


das suas falhas em obedecer Allah. Este é o ego que aguenta o criti-
cismo dos outros na busca pelo Seu agrado. Este escapou de ser cul-
pado por Allah.

Quanto ao ego que aceita as suas acções como elas são, sem
auto-censura, e que não aguenta criticismo dos outros - o que significa
que não é sinceramente obediente a Allah - este é o ego que Allah
culpa.

O Ego que Incita ao Mal


Este é o ego que traz castigo para si mesmo. Pela sua própria na-
tureza, este guia o seu dono em direcção a todas as más acções. Nin-
guém pode livrar-se do seu mal sem a ajuda de Allah. Como Allah diz
sobre a esposa de Al-Aziz, na história de Yusuf:

“E não absolvo minha alma do pecado. Por certo,


a alma é constante incitadora do mal, exceto a de
quem meu Senhor tem misericórdia. Por certo, meu
Senhor é Perdoador, Misericordiador.” [12:53]
Allah também diz:

“E, não fora o favor de Allah para convosco, e Sua


misericórdia, Ele jamais dignificaria a nenhum de
vós, mas Allah dignifica a quem quer. E Allah é
Oniouvinte, Onisciente.” [24:21]

52
Foi-nos ensinado o du’a: “Todo o louvor é para Allah, nós lou-
vamo-Lo e buscamos a Sua ajuda e o Seu perdão. Procuramos refúgio
n’Ele do mal dos nossos egos e do mal das nossas acções.”66

O mal reside escondido no ego, e é isto que o guia a fazer o que


é errado. Se Allah deixasse o servo sozinho com o seu ego, o servo se-
ria destruído entre o seu mal e o mal a que este anseia; mas se Allah lhe
garantir sucesso e ajuda, então ele sobreviverá. Procuramos refúgio em
Allah, Todo-Poderoso, do mal dos nossos egos e do mal das nossas
acções.

Então o ego é uma entidade única, apesar do seu estado mudar:


do ego que incita ao mal (an-nafs Al-ammara), ao ego censurador de si
mesmo (an-nafs Al-lawwama), ao ego em paz (an-nafs Al-mutma’inna),
que é o objectivo final de perfeição.

O ego em paz tem um anjo a ajudá-lo, que auxilia e orienta. O


anjo lança bondade ao ego, para que este deseje o que é bom e esteja
consciente da excelência de boas acções. O anjo também mantém o
ego longe de más acções e mostra-lhe a feiúra das más acções. Con-
tudo, tudo o que é para Allah e por Ele, sempre vem da alma que está
em paz.

O ego que incita ao mal tem shaytan como aliado. Ele promete-
lhe grandes recompensas e ganhos, mas lança falsidade para ele. Ele
convida-o e incita-o a fazer o mal. Ele lidera-o com esperança atrás de
esperança e apresenta-lhe falsidade de uma forma que ele aceitará e
admirará.

A nafs Al-mutma’inna, o ego em paz, e o seu anjo requerem o se-


guinte: firme crença em Allah, O Único, sem parceiros; excelência moral;
bom comportamento para com Allah, pais, companheiros, etc.; temor a
Allah; total confiança e dependência de Allah; voltar-se arrependido a Al-
lah; deixar todos os assuntos para Allah; aproximar-se de Allah; restringir
expectativas; e estar preparado para a morte e o que vem depois desta.

O Shaytan e os seus ajudantes, por outro lado, requerem a nafs


Al-ammara, o ego que incita ao mal - o oposto de tudo isto.

66
Hadith sahih, Abu Dawud, Kitab an-Nikah, 6/153; Ibn Ma’jah, Kitab an-Nikah,
1/609.

53
O desafio mais difícil para o ego em paz é libertar-se da influência
do shaytan e da nafs Al-ammara. Se este entra nesta luta, então torna-
se nafs Al-lawwama - o ego censurador de si mesmo; e se a luta é ven-
cida, então torna-se nafs Al-mutma’inna. Se só uma acção fosse aceite
por Allah, a pessoa que a fizesse teria sucesso pela sua virtude, mas o
shaytan e a nafs Al-ammara recusam-se a encorajar o ego a fazer
mesmo uma só acção deste tipo.

Alguns aos quais foi dado conhecimento por Allah e pelos pró-
prios egos disseram, “Se eu pudesse saber ao certo que mesmo uma
só acção foi aceite por Allah, então eu estaria mais feliz na chegada da
minha morte do que o constante viajante quando vê a sua família”. Ab-
dullah Ibn Umar disse, “Se eu pudesse saber ao certo que Allah aceitou
até uma das minhas prostrações, não haveria nenhum amigo perdido
mais querido para mim do que a própria morte”.

A nafs Al-ammara encoraja o mal e opõem-se abertamente à nafs


Al-mutma’inna. Sempre que a última apresenta uma boa acção, a pri-
meira apresenta uma má acção como resposta. A nafs Al-ammara diz à
nafs Al-mutma’inna que jihad não é nada mais que suicídio, uma esposa
viúva, crianças órfãs, e desperdício de riqueza. Ela tenta convencer a
nafs Al-mutma’inna de que zakat e sadaqah não são nada mais que uma
despesa desnecessária e um fardo, um buraco no seu bolso, que levará
à dependência de outros, até se tornar como os pobres.

Responsabilizar o Ego
Quando o ego que incita ao mal domina o coração de um crente,
o único remédio é responsabilizá-lo e depois ignorá-lo. O Imam Ahmad
relatou a partir de Umar Ibn Al-Khattab, que Allah esteja satisfeito com
ele, que o Profeta ‫ ﷺ‬disse, “A pessoa inteligente é aquela que respon-
sabiliza o seu ego e age em preparação para o que está depois da sua
morte; e a pessoa insensata é aquela que se abandona aos seus an-
seios e caprichos e espera que Allah cumpra os seus desejos fúteis.”67

O Imam Ahmad também relatou que Umar Ibn Al-Khattab, que Al-
lah esteja satisfeito com ele, disse, “Julguem os vossos egos antes de

67
Da’if, at-Tirmidhi, Kitab Sifat Al-Qiyyamah, 7/155; Al-Hakim, Al-Mustadrak, Kitab Al-
Iman, 1/57.

54
serem julgados [perante Allah]; e pesem os vossos egos na balança an-
tes de serem pesados na balança [perante Allah]. Se vocês forem res-
ponsabilizados amanhã, será muito mais fácil se já se responsabilizaram
hoje - então façam isso, antes de chegarem à Reunião Final pois:

‘Nesse dia, sereis expostos; nenhum segredo vosso


se ocultará.’ [69:18]”68
Al-Hasan disse, “Um crente é responsável pelo seu ego, e ele res-
ponsabiliza-o para agradar a Allah. O julgamento será mais leve no Dia
do Juízo para as pessoas que responsabilizaram os seus egos nesta
vida, mas será severo para as pessoas que não se prepararam para ele,
responsabilizando os seus egos antecipadamente.”

Um crente é distraído por algo que ele gosta, então ele diz: “Por
Allah, eu gosto de ti e eu preciso de ti, mas não há meios pelos quais te
poderei ter, então foste mantido longe de mim”. Quando isso está fora
do seu campo de visão e para além do seu alcance, então ele cai em si
e diz, “Eu não queria isso realmente! O que me fez preocupado com
aquilo? Por Allah, não me preocuparei mais com isso outra vez!”
Os crentes são um povo que foi impedido através do Qur’an de
ceder aos prazeres deste mundo; este fica entre eles e o que poderá
destruí-los. O crente é como um prisioneiro neste mundo, que tenta li-
bertar-se das suas algemas e grilhões, pondo a sua confiança em nada
[mundano], até ao dia que ele encontra o seu Criador. Ele sabe bem que
é responsável por tudo o que ouve, vê e diz, e por tudo o que ele faz
com o seu corpo.69
Malik Ibn Dinar disse, “Que Allah conceda misericórdia a um servo
que diz para o seu ego ‘Não és este e este? Não fizeste isto e isto?’, e
depois repreende-o e fá-lo colocar no seu lugar, e disciplina-o e res-
tringe-o de acordo com o Livro de Allah, Poderoso e Glorioso, e torna-se
o seu guia e mestre.”

É, sem dúvida, responsabilidade de quem acredita em Allah e no


Dia do Juízo, e de quem deseja manter os seus assuntos em ordem,
certificar-se de responsabilizar o seu ego. Ele deve controlar o que este
faz e o que não faz, mesmo as actividades mais insignificantes, pois
cada exalação durante a sua vida é preciosa. Pode ser usada para ad-
quirir um dos tesouros que garantem um estado de felicidade eterno.

68
Ahmad, Kitab az-Zuhud, 7/156; Al-Baghawi, Sharh as-Sunnah, 14/309; Abu Na’im,
Al-Hilya, 1152.
69
Veja Ibn Kathir, Al-Bidaya wa’n-Nihaya, 9/272; Abu Na’im, Al-Hilya, 2/157.

55
Quem a desperdiça, ou a usa para adquirir coisas que podem causar
destruição, sofrerá grandes perdas, que só acontecem pela permissão
das pessoas mais ignorantes, insensatas e imprudentes. A verdadeira
dimensão de tais perdas só será aparente no Dia do Juízo. Allah, O Exal-
tado, diz:

“Um dia, cada alma encontrará presente o que fez


de bem e o que fez de mal; ela almejará que haja
longínquo termo entre ela e ele (o mal).” [3:30]
Há duas formas de responsabilizar o ego: uma antes da acção, e
outra depois da acção.

A primeira forma é a decisão que é feita quando um crente hesita


antes de agir. Este é o momento de avaliação antes da intenção ser for-
mada. Ele não procede até estar certo de que é uma acção boa e genu-
ína. Se não o é, então ele abandona-a.

Al-Hasan, que Allah esteja satisfeito com ele, disse: “Que Allah
conceda misericórdia a um servo que hesita no ponto de avaliação e,
quando vê que a acção é por Allah, realiza-a, mas, quando vê que é
para outro senão Allah, então ele evita completá-la.”70
Isto foi explicado como significando que quando o ego parte para
fazer uma coisa ou outra, o servo começa a considerar o valor disso, ele
primeiro pára e pensa para ele próprio “É permitido fazer isto?”. Se a res-
posta é não, ele não realizará a acção. Se a resposta é sim, ele nova-
mente pára e pergunta “É melhor para mim fazê-lo ou não?”. Se a res-
posta é não, ele abandonará a acção e não tentará realizá-la, mas se a
resposta é sim, ele então pausará pela terceira vez e perguntará a si
mesmo “Esta acção é motivada pelo desejo de procurar o agrado de Al-
lah e recompensa, ou é para adquirir poder, admiração e dinheiro?”.

Se é a última opção que solicitou a ideia da acção, então ele não


a realizará, mesmo que ela resultasse em adquirir esses ganhos munda-
nos que solicitaram a ideia da acção em primeiro lugar - pois, pelo con-
trário, isto resultaria no seu ego a acostumar-se a associar outros com
Allah, e faria agir por causa de algo ou alguém para além de Allah mais

70
Este relato é apoiado por um hadith sahih transmitido por Muslim, Kitab Al-Iman,
2/18, pela autoridade de Abu Hurairah, que disse que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Quem
acredita em Allah e no Último Dia, deve falar o bem ou permanecer calado; e quem
acredita em Allah e no Último Dia, deve ser generoso para com o seu vizinho; e quem
acredita em Allah e no Último Dia deve ser generoso para com o seu convidado.“

56
fácil para ele, e quanto mais fácil é fazer algo para outro senão Ele, mais
difícil se torna fazer algo intencionado para o Seu agrado.

Se é a primeira opção que solicitou a ideia da acção, ele pára


mais uma vez e pergunta a si mesmo “Terei ajuda ao fazer isto? Tenho
companheiros que me possam ajudar e auxiliar se precisar de ajuda ao
realizar esta acção?”. Se ele vir que não tem aliados para o ajudar, ele
adiaria fazer esta acção, tal como o Profeta ‫ ﷺ‬adiou a jihad contra o
povo de Makkah até que tivesse aliados e forças suficientes que garan-
tissem sucesso.
Se ele vir que há ajuda confiável para realizar a acção proposta,
então, finalmente, ele deverá começá-la, e ele terá sucesso, pela per-
missão de Allah. O fracasso só poderá ocorrer se uma destas salvaguar-
das estiver em falta, pois quando elas são todas combinadas, elas ga-
rantem o sucesso. Estes são os quatro passos que um servo precisa de
dar ao responsabilizar o seu ego antes de fazer qualquer coisa.

A segunda forma é a de responsabilizar o ego depois de uma ac-


ção. Há três categorias disto:

Primeiro, responsabilizar o ego por um acto de obediência no qual


o que é devido a Allah não foi cumprido completamente ou feito da me-
lhor maneira possível. Há seis coisas que são devidas a Allah em actos
de obediência: sinceridade ao fazê-los, dedicá-los só a Allah, seguir o
exemplo do Profeta ‫ﷺ‬, ter atenção em fazê-los bem, reconhecer as
bênçãos de Allah neles e, depois disto tudo, estar consciente das suas
próprias falhas ao fazê-los. Uma pessoa pode responsabilizar o seu ego,
mas será que ela deu a devida atenção e esforço a estes pré-requisitos?
Ela cumpriu-os no seu acto de obediência?
Segundo, responsabilizar o ego por qualquer acção que seria me-
lhor ter sido deixada do que realizada.

Terceiro, responsabilizar o ego quanto à intenção ao realizar uma


acção permitida. Foi esta realizada para o agrado de Allah, Exaltado seja,
e sucesso na akhira, garantindo o sucesso - ou foi, na verdade, para
procurar os ganhos passageiros desta vida, perdendo assim o que po-
deria, ao contrário, ser ganho?

A última coisa que uma pessoa deve fazer é não ter atenção e ser
negligente ao responsabilizar o seu ego, começando sem qualquer pre-
paração, e tratando dos assuntos levemente, atrapalhando tudo. Isto só
trará a sua ruína. Este é o destino das pessoas que são arrogantes. Tal

57
pessoa fecha os olhos às consequências ao agir desta maneira e de-
pende do perdão de Allah. Ela negligencia a responsabilização do seu
ego e não contempla o resultado do seu comportamento. Se ele faz
este tipo de coisas, ele comete más acções até se acostumar a elas, e
então torna-se difícil retirar-se delas.

Concluindo, o crente deve primeiro responsabilizar o seu ego


quanto aos seus actos obrigatórios de adoração. Se ele estiver em falta
nestes, então ele deve apressar-se a retificar a sua situação, seja com-
pensar pela adoração que negligenciou, ou corrigir o que ele pode ter
feito de forma errada na sua adoração.

A seguir, ele deve responsabilizar o seu ego quanto a actos proi-


bidos. Se ele vir que fez algum, ele deve arrepender-se rapidamente,
procurar pelo perdão de Allah, e fazer boas acções para erradicar as
más acções que foram gravadas no seu livro (de acções).

De seguida, ele deve responsabilizar o seu ego quanto aos as-


suntos que negligenciou. Se ele vir que foi negligente ao fazer aquilo
para o qual ele foi criado, ele deve apressar-se à lembrança de Allah e
aproximar-se d’Ele com um coração aberto.

Depois, ele deve responsabilizar o seu ego pelas palavras que fa-
lou, pelos passos que os seus pés deram, pelas coisas que as suas
mãos agarraram, e pelo que os seus ouvidos ouviram (voluntariamente).
Ele deve perguntar-se “Eu queria isto para quê? Eu fiz isto por quê? Eu
fiz isto por quem? Por que fiz isto desta maneira?”.

Ele deve saber que cada acção e cada palavra são registadas em
dois livros; um deles tem o título “Fiz isto por quem?”, e o outro tem o tí-
tulo “Quão bem fiz isto?”. A primeira pergunta é relacionada à sinceri-
dade, e a segunda é relacionada à própria acção. Allah, Exaltado seja,
disse:

“Para que Ele interrogasse os verídicos acerca de


sua verdade.” [33:8]
Se os verídicos serão questionados sobre a sua verdade, e serão
julgados de acordo com quão verídicos foram, o que se pode imaginar
no caso das pessoas da falsidade?

58
Os Méritos de Responsabilizar o Ego
Isto envolve:

Primeiro, identificar as falhas do ego. Aquele que não reconhece


as suas falhas não poderá livrar-se delas. Yunus Ibn Ubaid disse: “Eu co-
nheço cerca de cem atributos da bondade e, no entanto, não encontro
nem um deles no meu ego.”

Muhammad Ibn Wasi disse: “Se as más acções produzissem fla-


tulência, ninguém conseguiria sentar-se na minha companhia.”

O Imam Ahmad escreveu que Abu’d-Darda’ disse: “Nenhum ho-


mem ganha entendimento e conhecimento completo, a não ser que de-
teste todas as pessoas que não são próximas a Allah, e volte a sua aten-
ção ao seu ego e o deteste ainda mais.”

Segundo, saber quais os direitos de Allah. Isto é importante por-


que faz com o que o servo deteste o seu ego e liberta-o de arrogância e
de se auto-satisfazer com as suas acções. Isto abre as portas da sub-
missão e humildade para ele, e resulta na purificação da sua alma pelas
Mãos do seu Senhor. Ele desespera pelo seu ego e acredita firmemente
que a sua sobrevivência não será alcançada sem o perdão, generosi-
dade e misericórdia de Allah. É direito d’Ele ser constantemente obede-
cido, lembrado e agradecido.

59
TREZE
PERSERVERANÇA
Allah fez da perseverança um cavalo incansável, uma faca cor-
tante implacável, um exército vitorioso e invencível, uma fortaleza formi-
dável e indestrutível. Ela e a vitória são companheiras inseparáveis.
Allah, Glorioso e Poderoso, louvou aqueles que perseveram no
Seu Livro, e diz que lhes dá recompensas sem fim e os apoia com a
Sua orientação, poder e uma vitória certa. Ele diz:

“E obedecei a Allah e a Seu Mensageiro, e não dis-


puteis, senão, vos acovardareis, e vossa força se
irá. E pacientai. Por certo, Allah é com os perse-
verantes.” [8:46]
Por virtude deste companheirismo, aqueles que perseveram ga-
nham em ambas nesta vida e na próxima como merecem; eles ganham
as Suas bênçãos, ambas evidentes e escondidas.
Allah fez da liderança no seu din dependente de perseverança e
certeza. Ele diz:

“E fizemos deles próceres, que guiaram os homens,


por Nossa ordem, quando pacientaram (persever-
aram). E eles se convenciam dos Nossos sinais.”
[32:24]
E Ele diz que a perseverança dos que perseveram é algo bom
para eles, e Ele afirmou isto com um juramento:

“E, em verdade, se pacientais, isso é melhor para


os perseverantes.” [16:126]
E Ele diz que através da perseverança e do temor a Allah, os es-
quemas do inimigo não causarão qualquer dano aos Seus servos cren-
tes, mesmo se esses esquemas forem os piores:

“E, se pacientardes e fordes piedosos, sua insídia


em nada vos prejudicará. Por certo, Allah está
sempre abarcando o que fazem.” [3:120]
Allah fez o sucesso condicional à perseverança e piedade:

60
“Ó vós que credes! Pacientai e perseverai na
paciência; e sede constantes na vigilância e temei a
Allah, na esperança de serdes bem-aventurados.”
[3:200]
Ele também fala do Seu amor por aqueles que perseveram, que é
o maior incentivo possível para qualquer pessoa que procure pelo Seu
amor:

“E Allah ama os perseverantes.” [3:146]


Allah dá boas novas àqueles que perseveram e promete-lhes três
coisas, e cada uma é bem melhor que qualquer coisa pela qual as pes-
soas deste mundo se invejam:

“E, em verdade, pomo-vos à prova, com algo do


medo e da fome e da escassez de riquezas e de pes-
soas e de frutos. E alvissara o Paraíso aos perse-
verantes; Àqueles que, quando uma desgraça os al-
cança, dizem: ‘Por certo, somos de Allah e, por
certo, a Ele retornamos’. Sobre esses são as
bênçãos e misericórdia de Seu Senhor. E esses são
os guiados.” [2:155-157]
Allah fez o alcance de um lugar no Jardim e a evitarão de um lugar
no Fogo a recompensa exclusiva dos que perseveram pacientemente:

“Por certo, recompensei-os, hoje - porque pacienta-


ram - com serem eles os triunfadores.” [23:111]
Ao fazê-los os beneficiários particulares dos Seus versos, Allah
distinguiu aqueles que aguentam e perseveram e são agradecidos por
tal fortuna imensa. Ele diz, em quatro sítios diferentes no Qur’an:

“Por certo, há nisso sinais para todo o perse-


verante, agradecido.” [14:5, 31:31, 34:19 e
42:33]
A perseverança é um verdadeiro atributo do crente. Ele circula em
torno e volta para este. É o pilar que apoia a fé, sem o qual ele não po-
deria permanecer em pé. Quem não tem perseverança, não pode ter fé,
ou se ele realmente tiver fé, esta é escassa e fraca. Tal pessoa adora a

61
Allah pela metade: se ele encontra algo bom nesta vida, a sua crença é
assegurada, mas se ele é afligido com infortúnio, então ele afasta-se de
Allah e perde tudo nesta vida e na próxima, fazendo um acordo para a
perda.

As boas novas proclamadas pelo Profeta Jesus (que a paz esteja


com ele) foram só apreciadas pelos afortunados por causa da sua per-
severança, e eles ascenderam aos níveis mais altos por causa da sua
gratidão. Eles voaram com as asas da perseverança e gratidão até aos
Jardins da Bem-Aventurança.

“Emulai-vos por um perdão de vosso Senhor e por


um Paraíso, cuja amplidão é como a do céu e da
terra, preparado para os que crêem em Allah e em
Seus Mensageiros. Esse é o favor de Allah: con-
cede-o a quem quer. E Allah é possuidor de Mag-
nífico favor.” [57:21]
Visto que a perseverança e a gratidão são dois elementos da fé,
quem estiver preocupado sobre o bem-estar da sua alma - desejando a
sua salvação e esperando pela sua boa fortuna - não deve negligenciar
estes dois essenciais.
Ele deve aproximar-se de Allah com eles, para que Ele os coloque entre
os bem-sucedidos no Dia em que ele O encontrar.

O Significado da Essência da Perseverança


A palavra sabr em árabe, significando “perseverança” ou “paciên-
cia”, implica auto-restrição e retenção. No contexto da shari’ah, esta sig-
nifica impedir o ego de se tornar agitado, a língua de se queixar, e as
mãos de baterem no rosto e rasgarem as roupas (como expressão de
luto).

Foi dito que isso é uma das mais excelentes posses do ego, sem
a qual não é possível fazer nada correctamente. É uma força do ego que
possibilita endireitá-lo e beneficiá-lo.

Quando o Imam Junaid foi questionado sobre o que isso é, ele


disse: “Engolir algo amargo sem mostrar qualquer desagrado no seu
rosto.”

62
Dhu’n-Nun Al-Misri disse sobre isso: “A perseverança é distanciar-
se de todos os males e transgressões, e permanecer calmo quando se
está envolvido em aflições impossíveis, e aparentar ter o suficiente
quando a pobreza tem residência permanente no seu lar.”

Também foi dito que a perseverança é: “Ser firme e permanecer


amável quando a aflição açoita, e permanecer contente quando afligido
por infortúnio, sem mostrar quaisquer sinais de queixa.”

Um dia, um homem virtuoso viu uma pessoa a queixar-se ao seu


irmão, então ele disse-lhe “Por Allah, o que estás a fazer realmente é a
queixar-te sobre Aquele que é misericordioso para contigo, enquanto
apresentas a tua queixa a alguém que não tem misericórdia própria para
te dar.”

Também foi dito:

“Quando te queixas ao filho de Adão,


estás de facto a queixar-te do Misericordioso
a alguém que não tem misericórdia própria.”

Há dois tipos de queixa:

O primeiro tipo de queixa é a queixa a Allah, Poderoso e Glorioso,


que não é inconsistente com a perseverança, como disse o Profeta
Ya’qub:

“Apenas queixo-me a Allah de minha aflição e


tristeza…” [12:86]
E também:

“Então, cabe-me bela paciência.” [12:83]


O Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Ó Allah! Eu queixo-me a Ti sobre a fraqueza
da minha força e a falha da minha capacidade.”71

O segundo tipo de queixa é a queixa sobre aflição, opondo-se à


sua natureza e carácter. Este tipo é incompatível com a perseverança,
ele contradiz e cancela-a.

71
Da’if, Al-Haythami, Majma’ az-Zawa’id, 6/35.

63
A arena do poder é mais significativa para o servo do que a arena
da perseverança; como o Profeta ‫ ﷺ‬disse a Allah “Se não estais irado
comigo, não me preocuparei, mas o Teu Poder é mais significativo para
mim.”72
Isto não contradiz o seu dito “Não foi oferecido a alguém melhor
ou maior presente do que a perseverança.”73

Isto aplica-se a alguém que foi afligido por um infortúnio. A arena


da perseverança no seu caso é a melhor, mas, antes da aflição açoitar,
a arena da força e saúde é mais significativa.

O ego é o animal que carrega o servo para o Jardim ou para o


Fogo. A perseverança é para o ego o que as rédeas e viseiras são para
o animal - se não tivesse nenhum destes, vaguearia em todas as dire-
ções.

Al-Hajjaj disse uma vez: “Verifiquem os vossos egos, pois eles po-
dem aprontar todo o tipo de travessura. Que Allah conceda misericórdia
para quem puser rédeas e viseiras no seu ego, direcionando-o com as
viseiras para a obediência a Allah, e orientando-o longe da desobediên-
cia com as rédeas. Evitar pacientemente o que Allah proibiu é mais fácil
do que aguentar o castigo que Ele inflige.”

Há dois tipos de impulso que dirigem o ego: um é o impulso ac-


tivo da coragem, e o outro é a força inibidora da restrição.

A verdadeira essência da perseverança é abrir caminho para o pri-


meiro tipo de energia em direcção ao que é benéfico, e usar o segundo
tipo de energia para evitar fazer algo nocivo.

Há pessoas que perseveram ao fazer a oração da noite regular-


mente e ao aguentar o fardo do jejum, e, no entanto, elas não têm o po-
der de restringir de um olhar proibido. Há outras que conseguem fazer
isto, e, no entanto, não têm a energia para preservar ao ordenar o bem e
proibir o mal, ou ao lutar em jihad.
Foi dito que “Resistência, paciência e perseverança são o que
constituem a bravura do ego”. Semelhante a este dito é o provérbio “Co-
ragem é ser capaz de perseverar por um momento.”
Resistir pacientemente é o oposto de se tornar agitado. Como Al-
lah, Poderoso e Glorioso, diz das pessoas do Fogo e o que elas dizem:
72
Da’if, parte do hadith anterior.
73
Al-Bukhari, Kitab az-Zakat, 3/335; Muslim, Kitab az-Zakat, 7/144.

64
“É-nos igual que nos aflijamos ou pacientemos;
não há, para nós, fugida alguma.” [14:21]

Tipos de Perseverança
Há três tipos de perseverança, dependendo da intenção por trás
desta: perseverança ao completar actos de adoração e ao ser obedi-
ente; perseverança ao evitar acções proibidas e ao ser desobediente; e
perseverança diante do destino, tanto que o servo não se torna irritado
em tempos de adversidade.

Foi dito sobre estes tipos diferentes: “Um servo deve ter uma or-
dem para obedecer, proibições para evitar, e adversidade para resistir.”

Há outra maneira de categorizar a resistência e a perseverança,


nomeadamente, perseverança onde há escolha e perseverança onde
não há escolha. A primeira é melhor e tem uma significância maior do
que a última, pois a perseverança onde não há escolha é o tipo que é
comum a todas as pessoas; é exercida por todos aqueles que não mos-
tram perseverança por escolha.

Por esta razão, a perseverança do Profeta Yusuf, que a paz esteja


com ele, ao recusar as propostas da esposa de Al-Aziz é mais significa-
tiva do que a sua resistência ao que os seus irmãos lhe infligiram quando
eles o atiraram no poço.

O Homem nunca poderá sobreviver sem perseverança. Ele flutua


entre uma ordem que ele deve obedecer e cumprir, proibições que ele
deve evitar e ignorar, destino que deve tomar o seu percurso, e bênçãos
pelas quais ele deve agradecer o Provedor. Como a situação humana
nunca muda, o Homem tem de perseverar até ao dia da sua morte.

Tudo o que o servo encontra nesta vida é um de dois tipos: um


tipo combina com os seus desejos e corresponde à sua vontade, e o
outro não o faz.
Ele precisa de ter paciência para ambos os tipos, mas o primeiro
tipo - tal como ter saúde, riqueza e poder - requer mais paciência dele
em vários aspectos:

Primeiro, ele não deve colocar a sua confiança neles; nem deve
ser arrogante e mal-educado por causa deles; nem devem eles ser a

65
causa da sua ingratidão; nem deve ele celebrar com eles de maneira
que Allah não aprova.

Segundo, ele não se deve tornar preocupado com a sua aquisi-


ção.

Terceiro, ele deve perseverar ao cumprir o que é direito de Allah


sobre eles.

Quarto, ele deve persistir nos seus esforços em não despender


deles ao fazer lucro haram.

Foi dito: “Ambos o mu’min e o kafir são capazes de perseverar em


tempos de dificuldade, mas só o crente é capaz de perseverar em tem-
pos de facilidade.”
Abdur-Rahman Ibn Awf disse: “Nós fomos afligidos com dificul-
dade, e perseverámos e resistimos, mas quando desfrutámos de tempos
de facilidade, fomos incapazes de perseverar.”
Isso é a razão pela qual Allah avisa os Seus servos contra tornarem-se
envolvidos e preocupados com dinheiro, esposas e crianças. Ele, Pode-
roso e Glorioso, diz:

“Ó vós que credes! Que vossas riquezas e vossos


filhos não vos entretenham, afastando-vos da lem-
brança de Allah.” [63:9]
O outro tipo, que não corresponde às suas vontades e desejos, é
ou relacionado a assuntos onde o servo tem uma escolha - como em
actos de obediência ou desobediência - ou a assuntos nos quais o
servo não tem escolha - como calamidades. Talvez ele tenha uma esco-
lha logo no início, mas não quanto ao seu fim quando elas já se desen-
volveram.

Assim, deste segundo tipo há três categorias:

Primeiro, existe assuntos nos quais o servo tem escolha, que in-
cluem todas as acções que envolvem obediência ou desobediência.

No caso das acções que envolvem obediência, o servo precisa


de perseverar ao fazê-las porque o ego, por conta da sua natureza,
opõe-se a muito do que faz parte da adoração e servitude. Ao fazer a
oração, por exemplo, o ego é preguiçoso e prefere levar o seu tempo,

66
especialmente se este é acompanhado por um coração duro sobrecar-
regado por más acções, e é inclinado a seguir os seus próprios desejos
e a misturar-se com pessoas que negligenciam as ordens de Allah. Ao
pagar o zakah, perseverança e resistência são necessárias por causa
das características mesquinhas e avarentas do ego. Ao fazer Hajj e ao
lutar em jihad, a perseverança é necessária, por causa de ambas as ca-
racterísticas mencionadas acima: preguiça e mesquinhez.

Um servo precisa de perseverar em três circunstâncias:

Primeiro, antes de cumprir um acto de obediência, prestando


atenção à sua sinceridade ao fazer este acto de obediência.
Segundo, durante o acto de obediência, persistindo em com-
pletá-lo sem quaisquer omissões e sem se tornar negligente, de acordo
com as suas intenções sinceras, e sem permitir que a execução física
da acção distraia o coração de descansar em submissão total perante
Allah, O Altíssimo.
Terceiro, depois de completar o acto de obediência, evitando pa-
cientemente qualquer coisa que apague a sua recompensa. Este tipo de
paciência significa que ele não deve ficar satisfeito por ter sido obediente
e vangloriar-se sobre isso, trazendo-o do reino do segredo velado para o
da análise pública.

O acto do servo é um segredo entre ele e Allah, Altíssimo, e é


gravado como tal no reino dos segredos. Se ele falar sobre isso, este é
removido de lá e trazido para o reino do conhecimento público. Então ele
não deve pensar que não há mais necessidade da perseverança assim
que a acção física é terminada.

No caso dos actos de desobediência, o assunto é claro e sim-


ples. A maior ajuda para o servo evitar pacientemente tais actos é desis-
tir dos seus maus hábitos e evitar contacto com aqueles que encorajam
tais hábitos através de companheirismo e conversa.

Segundo, há assuntos nos quais o servo não tem escolha, e os


quais ele não pode evitar, tais como infortúnios, que podem não ser
causados pelo Homem - como a morte e a doença - ou podem ser cau-
sados pelo Homem - como violência física e verbal.

Em relação ao primeiro tipo de infortúnio, há quatro níveis: o nível


de incapacidade de lidar (com a situação), que inclui agitação e reclama-
ção; o nível de resistência paciente e perseverança; o nível de aceitação

67
e contentamento; e o nível de gratitude, no qual o infortúnio é visto como
uma bênção - e então aquele que é afligido agradece Àquele que o
aflige.

Em relação ao segundo tipo de infortúnio, que é causado pelo


Homem, há quatro níveis, e outros quatro: o nível de perdão; o nível de
purificação do coração quanto a qualquer vontade de satisfazer desejos
de vingança; o nível de estar em posição de fazer isso (e mesmo assim
não o fazer); e o nível de tratar o malfeitor com gentileza.
Terceiro, há assuntos que são trazidos por escolha do próprio
servo, mas assim que estes acontecem e se apoderam da sua situação,
não lhe é deixada mais nenhuma escolha quanto à sua mudança ou li-
berdade dos seus efeitos.

Os Méritos da Perseverança
Umm Salama (‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﺎ‬relatou que ela ouviu o Mensageiro de
Allah ‫ ﷺ‬dizer: “Não há muçulmano que, quando afligido com um infortú-
nio, diga como Allah lhe ordenou dizer ‘‘Somos de Allah e a Ele retorna-
remos’ [2:156], ó Allah, recompensa-me pelo meu infortúnio e dá-me
melhor depois deste’, sem que Allah lhe garanta melhor que isso.”

Ela continuou: “Quando Abu Salama morreu, eu disse ‘Quem dos


muçulmanos será melhor que Abu Salama, cuja família foi a primeira a
seguir o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬ao fazer hijrah?’. Depois eu disse o que
Allah nos ordenou dizer, e Ele concedeu o meu casamento com o Seu
Mensageiro ‫ﷺ‬.”74

Abu Huraira relatou que o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse: “O Glori-


oso e Todo-Poderoso disse: ‘Não tenho nada excepto o Jardim como
recompensa para o Meu servo crente que, quando retiro uma das me-
lhores pessoas deste mundo (isto, é através da morte), permanece paci-
ente e espera pela recompensa de Allah.”75

Nos dois livros de as-Sahih, é relatado que ‘A’isha (‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﺎ‬re-


latou que o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse: “Qualquer crente que for afli-
gido por um infortúnio, mesmo que seja tão pequeno como o picar de

74
Muslim, Kitab Al-Jana’iz, 6/220.
75
Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/241.

68
um espinho, ser-lhe-á removido das suas más acções, como recom-
pensa.”76

Abu Hurairah relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “O crente continua a


ser afligido com dificuldades no seu corpo, riqueza e crianças, até ele ou
ela encontrar-se com Allah completamente livre de todas as suas más
acções.”77

Khabbab Ibn Al-Arath relatou, “Nós queixámo-nos ao Mensageiro


de Allah ‫ ﷺ‬sobre a nossa situação enquanto ele estava sob a sombra
da Kaabah, com a sua cabeça a descansar no seu manto. Nós disse-
mos ‘Pedirá a Allah para nos ajudar? Poderá suplicar a Allah por nós?’.
Ele disse: ‘Dentre os vossos antepassados, um crente foi apreendido e
colocado num buraco cavado especialmente para ele; depois uma serra
foi trazida e posta na sua cabeça que seria cortada à metade, depois da
sua carne ser fatiada com pentes de ferro e separada dos seus ossos -
e mesmo isso tudo não fez com que ele abandonasse o seu dín. Por Al-
lah, este dín será completado, e um homem será capaz de viajar de
San’a a Hadramout, sem temer ninguém excepto Allah e o lobo - pois
este poderia espantar as suas ovelhas - mas vós estais impacientes!’”78

Alguns dos nossos antepassados costumavam dizer, “Se não


fosse pelos infortúnios, entraríamos na próxima vida completamente des-
tituídos.”

Sufyan Ibn ‘Uyaynah disse, ao comentar sobre o verso seguinte


do Qur’an:

“E fizemos deles próceres, que guiaram os homens,


por Nossa ordem, quando pacientaram. E eles se
convenciam de Nossos sinais.” [32:24]
“Quando queriam amputar a perna de Urwah Ibn az-Zubair, disseram-lhe
‘Podemos oferecer-te uma bebida (alcoólica) para que não sintas a
dor?’. Ele respondeu ‘Allah deu-me esta aflição para testar a minha per-
severança - devo então agir contra a Sua vontade?’”

76
Al-Bukhari, Kitab Al-Mardha, 10/111; Muslim, Kitab Al-Birr wa’s-Silah, 16/129.
77
Ahmad, Al-Musnad, 2/287; at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/80; Al-Hakim, Kitab ar-
Riqaq, 4/124.
78
Al-Bukhari, Kitab Al-Ikrah, 12/315, e também Kitab Manaqib Al-Ansar, 7/164.

69
Umar Ibn Abdal-Aziz disse: “Sempre que Allah dá uma bênção a
um servo, e depois retira-a dele, e o servo persevera pacientemente a
sua perda, então Ele recompensa-o com uma bênção melhor do que a
que Ele retirou.”

Quando Abu Bakr as-Siddiq (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬adoeceu e as pessoas o


visitavam, elas disseram “Deveremos chamar um médico para te ver?”.
Ele disse “O Médico já me viu”. Elas disseram “O que é que Ele te
disse?”. Ele disse “O que Eu desejo, Eu faço acontecer.”
Foi relatado que Sa’id Ibn Jubair disse, “Perseverança é a aceita-
ção do servo perante Allah da aflição que Ele causou para ele, o seu re-
conhecimento de que Allah a levou em conta, e a sua esperança do que
Allah o recompensará por ela. O servo pode estar interiormente num es-
tado de medo e pânico, mas ao exercer o autocontrole, nada excepto a
perseverança pode ser observada na sua aparência.”

O dito de Ibn Jubair “a aceitação do servo perante Allah da aflição


que Ele causou para ele” é como uma explicação das palavras “Certa-
mente, a Allah pertencemos”. Aqui, o servo aceita que ele pertence a Al-
lah e Allah faz o que Ele deseja com as Suas possessões.
O seu dito “a sua esperança do que Allah o recompensará por
ela” é como uma explicação das palavras “e, certamente, para ele retor-
naremos”. Isto significa que quando retornarmos para o nosso Senhor,
Ele recompensar-nos-á pela nossa perseverança - pois a recompensa
por perseverança nunca é perdida.

70
CATORZE
GRATIDÃO
Gratidão é agradecer Àquele que concede bênçãos pela Sua ge-
nerosidade. A gratidão de um servo deve ter três qualidades, sem as
quais não pode ser considerada gratidão. Elas são o reconhecimento ín-
timo e apreciação da bênção, falar sobre ela abertamente, e usá-la
como meio para O adorar.

A gratidão é um assunto do coração, da língua e dos membros. O


coração é para o conhecimento e amor a Ele; a língua é para Lhe agra-
decer e louvar; e os membros são para ser usados na obediência
Àquele que está a ser agradecido, e para se abster de cometer actos
desobedientes.

Allah, Glorioso e Altíssimo, ligou a gratidão com a crença. Ele diz


que ele não precisa punir as Suas criaturas se elas Lhe agradecem e
creem n’Ele. Ele (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz:

“Que faria Allah com vosso castigo, se agradeceis


e credes?” [4:147]
O Glorioso e Todo-Poderoso também diz que as pessoas gratas
são distinguidas do resto dos Seus servos por causa da misericórdia
que Ele mostra para com eles. O Todo-Poderoso e Glorioso diz:

“E, assim, nós os provamos uns pelos outros, a fim


de que digam: ‘São estes aqueles a quem Allah fez
mercê, entre nós?’. Não é Allah bem Sabedor dos
agradecidos?” [Qur’an 6:53]
Ele divide as pessoas entre gratas e ingratas; e a coisa mais de-
sagradável para Ele é a ingratidão do seu povo; e a coisa mais preciosa
para Ele é a gratidão do seu povo:

“Por certo, guiamo-lo ao caminho, fosse grato,


fosse ingrato.” [76:3]
E também:

71
“E, de quando vosso Senhor noticiou: ‘Em verdade,
se agradeceis, acrescentar-vos-ei Minhas graças.
Mas, em verdade, se estais ingratos, por certo,
Meu castigo será veemente.” [14:7]
Nestes versos, Allah faz a concessão de mais bênçãos condicio-
nal à gratidão. Não há limite quanto ao aumento das Suas bênçãos, tal
como não há limite em ser agradecido a Ele. Allah, Todo-Poderoso e
Glorioso, fez uma grande parte da recompensa dependente da Sua von-
tade. Ele diz:

“E, se temeis penúria, Allah enriquecer-vos-á com


Seu favor, se quiser. Por certo, Allah é Onisciente,
Sábio.” [9:28]
E também:

“…e Ele perdoa a quem quer.” [5:40]


E também:

“E Allah volta-Se para quem quer, remindo-o.”


[9:15]
Ele não põe limites na Sua recompensa pela gratidão quando Ele
se refere a ela:

“E recompensaremos os agradecidos.” [3:145]


Quando o inimigo de Allah, shaytan, soube do valor da gratidão -
e que esta é um dos estados mais exaltados e elevados - ele direcionou
os seus esforços para a distração das pessoas quanto a isso:

“Em seguida, achegar-me-ei a eles, por diante e por


detrás deles, e pela direita deles e pela esquerda de-
les, e não encontrarás a maioria deles agradecida.”
[7:17]
Allah descreveu os agradecidos dentre os seus adoradores como
sendo poucos em número:

“Enquanto poucos, dentre Meus servos, são os


agradecidos.” [34:13]

72
É relatado que o Profeta ‫ ﷺ‬ficou de pé em oração toda a noite
até os seus pés ficarem inchados. Foi-lhe perguntado: “Porque fazeis
isto quando Allah já te perdoou todas as tuas ações, passadas e futu-
ras?”. Ele ‫ ﷺ‬disse: “Não devo eu ser um servo agradecido?”.79

O Profeta ‫ ﷺ‬disse uma vez a Mu’adh: “Por Allah, és-me querido!


Então não te esqueças de dizer no final de toda a oração ‘Ó Allah, ajuda-
Me a lembrar de Ti, em ser-Te agradecido e em servir-Te apropriada-
mente.’”80

A gratidão está ligada à generosidade de Allah e é o que a faz au-


mentar. ‘Umar Ibn Al-Khattab disse: “Liga a generosidade de Allah para
contigo à tua gratidão para com Ele.”

Ibn Abi’d-Dunya relatou que ‘Ali Ibn Abi Talib (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse a
um homem da tribo de Hamazan “A generosidade de Allah está ligada à
gratidão, e a gratidão está ligada ao aumento da Sua generosidade. A
generosidade de Allah não parará de aumentar a não ser que a gratidão
do Seu servo pare.”

Al-Hasan disse: “Fale da generosidade d’Ele frequentemente, pois


falar dela é gratidão.”

Allah ordenou ao Seu Mensageiro ‫ ﷺ‬a falar da generosidade do


seu Senhor no verso:

“E, quanto à graça de teu Senhor, proclama-a.”


[93:11]
Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬fica satisfeito quando o efeito da Sua generosidade no
Seu servo se torna aparente, pois isso é uma forma de gratidão que fala
por si mesma.81

Quando Abu Al-Mughirah costumava ser questionado sobre como


ele estava, ele diria “Estamos mergulhados na generosidade do Senhor,

79
Al-Bukhari, Kitab at-Tahajjud, 3/14; Muslim, Kitab Sifat Al-Qiyyamah, 17/162.
80
Ahmad, Al-Musnad, 5/245-247; Al-Hakim, Ma’rifat as-Sahabah, 3/273; an-Nisa’i,
Kitab as-Sahw, 3/53.
81
Isto é apoiado por um hadith relatado por at-Tirmidhi, Kitab Al-Adab, 8/106, e por
Al-Hakim, Kitab Al-At’ima, 4/135, pela autoridade de ‘Amr Ibn Shu’aib, trasmitido a ele
pelo seu pai e avô, que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Allah gosta de ver o efeito da Sua genero-
sidade no Seu servo.” - Sheikh Shakir classificou este hadith como sahih no seu Al-
Musnad, 6708.

73
e incapazes de ser suficientemente agradecidos. Ele é Amabilíssimo para
connosco, mesmo quando Ele não necessita de nós, e nós somos des-
respeitosos para com Ele, mesmo quando somos extremamente depen-
dentes dele.”

Sharih disse “Sempre que um servo é aflito com um infortúnio, Al-


lah concede-lhe três coisas: que isso não afecte a sua fé; que não seja
mais severo do que poderia ter sido; e que, como foi decretado, já pas-
sou e acabou.”

Yunus Ibn ‘Ubaid relatou que Abu Ghunaimah foi questionado


uma vez “Como está?”. Ele respondeu “Fui apanhado entre duas bên-
çãos cuja natureza é tal que não sei qual delas é mais excelente: as mi-
nhas más ações que Allah ocultou para mim, para que ninguém me con-
frontasse sobre elas; ou a afeição por mim que Allah colocou nos cora-
ções das Suas criaturas, e as quais, por causa das minhas ações e
obras, eu não mereço.”

Suffian disse sobre este verso do Qur’an:

“Então, deixa-Me com aqueles que desmentem esta


Mensagem. Fá-los-emos se abeirarem de seu
aniquilamento, por onde não saibam.” [68:44]
… que Allah faz as suas bênçãos agradáveis para eles, enquanto Ele
restringe a habilidade de ser agradecido deles.

Outros disseram que sempre que tais pessoas (agradecidas) co-


metem um pecado, Ele confere uma bênção para elas (por causa desta
qualidade).

Um homem perguntou uma vez a Abu Hazim “Ó Abu Hazim, qual


é a gratidão dos olhos?”. Ele respondeu “É não revelar o bem que eles
veem e ocultar o mal que eles veem.” O homem disse “E qual é a grati-
dão dos ouvidos?”. Ele respondeu “Quando ouves algo bom com eles,
tu tentas entender, e quando ouves algo mau, tu rejeita-lo”. O homem
perguntou “E qual é a gratidão das mãos?”. Ele disse “Não as uses para
tirar o que não é teu, e não as restrinjas de dar o que é o direito de Al-
lah”. O homem perguntou “E qual é a gratidão do estômago?”. Ele res-
pondeu “Que a sua parte mais baixa seja para comida, e que a sua parte
mais alta seja para sabedoria” (isto é, não deve estar completamente

74
cheio de comida). O homem perguntou “Qual é a gratidão das partes pri-
vadas?”. Abu Hazim respondeu recitando o verso do Qur’an:

“E que são custódios de seu sexo, exceto com suas


esposas, ou com as escravas que possuem; então,
por certo, não serão censurados. E quem busca
algo, além disso, esses são os transgressores.”
[23:5-7]
O homem perguntou “Qual é a gratidão dos pés?”. Ele respondeu “Se
sabes da morte de um homem virtuoso que costumava usar os seus pés
para fazer o bem e actos de adoração, então usa-os da mesma maneira
que ele os usou; e se o homem que morreu era alguém desprezível para
ti, então desvia-te do que ele costumava fazer e sê agradecido a Allah. E
quanto àquele que só usa a sua língua para expressar a sua gratidão, ele
é como um homem que só se cobre com a bainha da sua vestimenta
sem a vestir. Esta não lhe é útil assim seja no calor ou no frio, ou com
neve ou chuva.”

Um homem sábio escreveu uma vez para o seu irmão “Foram-nos


concedidas tantas das bênçãos de Allah - apesar de muitos dos nossos
actos de desobediência - que é impossível que nós as contemos. Não
sabemos por quais sermos agradecidos - a melhor das nossas boas
ações, que ele nos permitiu fazer, ou a mais feia das nossas más ações,
que ele ocultou por nós.”

75
QUINZE
CONFIANÇA COMPLETA EM ALLAH
Confiança completa em Allah é a dependência sincera do cora-
ção do servo de Allah na tentativa de procurar os seus interesses e guar-
dar-se contra qualquer coisa que possa ser nocivo para o seu bem-es-
tar, nesta vida e na próxima:

“E quem teme a Allah, Ele lhe fará saída digna, e


lhe dará sustento, por onde não suporá. E quem
confia em Allah, Ele lhe bastará.” [65:2-3]
Uma pessoa que teme a Allah e confia completamente n’Ele, en-
contrará que estas duas qualidades são suficientes para ela, ambos em
assuntos deste mundo e do seu din.

‘Umar Ibn Al-Khattab (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse: “Eu ouvi o Mensageiro de


Allah ‫ ﷺ‬dizer ‘Se vocês confiassem em Allah como devem confiar n’Ele,
Ele certamente proveria para vós como Ele provê aos pássaros. Eles
acordam com fome de manhã e voltam com estômagos cheios ao pôr-
do-sol.’”82

Abu Hatim ar-Razi disse que este hadith estabelece o princípio


fundamental de que a confiança em Allah é um dos mais importantes
meios de adquirir sustento e provisão.

Sa’id Ibn Jubair disse “Confiança em Allah é uma parte essencial


da fé”. Possuir um estado de confiança, no entanto, não nos impede de
utilizar os caminhos e meios que Allah decretou para a Sua criação. Es-
tas são as Suas leis, e Ele ordenou-nos a usar caminhos e meios en-
quanto, ao mesmo tempo, Ele instruiu-nos a confiar n’Ele. Tentar usar os
meios e caminhos no Seu Universo com os nossos membros é obedi-
ência, e confiar n’Ele com os nossos corações é fé n’Ele. Allah diz:

“Ó vós que credes! Tomai vossas precauções!”


[4:71]
Sahl disse “Quem questiona ações (ex.: esforçar-se para ganhar a
vida), questiona a própria validade da sunnah, e quem questiona confi-
ança em Allah, questiona a fé em si.”

82
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/8; Al-Hakim, Kitab ar-Riqaq, 4/310.

76
Confiança é o estado do Profeta ‫ﷺ‬, enquanto que esforçar-se
por ganhar a vida é a sua sunnah, e quem se comportar de acordo com
o estado do Profeta ‫ ﷺ‬não deve abandonar a sua sunnah.

Foi dito “Ignorar meios e caminhos é duvidar da necessidade da


Shari’ah do Islam, enquanto que confiar completamente em meios e ca-
minhos é duvidar da Realidade do Tawhid (a existência de Allah)”.

Há três tipos de ações que um servo tem:

Primeiro, os actos de obediência que Allah ordenou os Seus ser-


vos a fazer, visto que Ele os fez como meios para os salvarem do Fogo e
a sua entrada para o Jardim. Estes devem ser feitos, enquanto ao
mesmo tempo deve-se confiar em Allah ao fazê-los e procurando este
resultado - pois não há força nem poder excepto d’Ele. O que quer que
Ele (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬desejar ser, já aconteceu, e o que quer que Ele deseje
não ser, nunca acontecerá.

Quem não cumprir um dos deveres imposto sobre ele por Allah,
merece ser castigado nesta vida e na próxima, de acordo com a
Shari’ah e como decretado por Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫)ﺳﺒﺤﺎﻧ‬.

Yusuf Ibn Asbat disse “Faça o que fizer como um homem que só
pode ser salvo pelas suas ações, e confie completamente em Allah
como um homem que só pode ser aflito por aflições que já lhe tinham
sido decretadas”.

Segundo, os actos que Allah fez como parte da vida neste


mundo, e das quais Ele disse para os Seus servos participarem - tal
como comer quando se está com fome, beber quando se está com
sede, procurar sombra no calor, permanecer quente no tempo frio, e ou-
tras tais coisas. Estar envolvido em tais ações é também um dever.
Quem não as fizer, até ao ponto de se prejudicar ao abandoná-las -
mesmo sendo perfeitamente capaz de as fazerem - será negligente e
merecerá castigo.

Terceiro, os actos que Allah fez como parte da vida em geral, sem
estes serem essenciais. Allah pode abrir excepções para os servos que
Ele escolher.

77
Há vários tipos de acções destas, uma delas é tomar medica-
mentos. Os ‘ulama deram várias respostas à seguinte pergunta: É me-
lhor para uma pessoa doente tomar medicamentos ou, no caso daque-
les que confiam completamente em Allah, abster-se de os tomar?
Há duas respostas bem conhecidas para esta pergunta:

O Imam Ahmad diz que confiança em Allah para quem a tem é


melhor. O Imam cita o hadith do Profeta ‫“ ﷺ‬Setenta mil pessoas da mi-
nha ummah entrarão no Jardim sem serem levadas a contas ou castiga-
das. Elas são as que nunca fazem talismãs, ou os procuram, ou procu-
ram por presságios, ou tratam os seus corpos queimando-os, e elas
confiam completamente em Allah.”83

Os ‘ulama que aprovam tomar medicamentos dizem que o Profeta


‫ ﷺ‬costumava tomá-los, e ele só fazia o que era melhor; e que o hadith
acima só se aplica ao uso de talismãs, que são olhados com muita sus-
peita porque eles podem levar a confiança para além de Allah, e estes
são igualados, portanto, com procura de presságios e tratamento por
queimadura.

Mujahid, ‘Ikrimah, An-Nukha’i e vários dos nossos predecessores


disseram “Não foi dada permissão a ninguém para abandonar a tentativa
de usar os caminhos e meios deste mundo para tratar as suas aflições,
excepto aquele cujo coração parou de se relacionar completamente com
a criação.”

Ishaq Ibn Rahawayh foi questionado “Pode um homem participar


em guerra sem fazer qualquer preparação para esta?”. Ele respondeu
“Ele pode, se ele for como ‘Abdullah Ibn Jubair - caso contrário, não
pode.”

83
Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/305; Muslim, Kitab Al-Iman, 3/89.

78
DEZASSEIS
AMOR A ALLAH
Amar Allah, O Glorioso, Exalto, é o objectivo principal de todas as
estações, e o ápice de todos os estados. Ao obter o estado de amor
verdadeiro a Allah, cada estação que o seguir é um dos seus frutos e
um ramo das suas raízes - tal como saudade, intimidade e contenta-
mento. Cada estação que o precede é um passo na sua direção - tal
como arrependimento, perseverança e passar sem, ou zuhud.

O mais benéfico, o mais sincero, o mais elevado e o mais exalto


tipo de amor é certamente o amor Àquele O Qual os corações foram cri-
ados para amar, para O Qual a criação foi trazida à existência para ado-
rar. Allah é Aquele ao Qual os corações se voltam em amor, exaltação,
glorificação, humildade, submissão e adoração. Tal adoração não pode
ser direcionada a outro senão Ele. É a perfeição do amor acompanhada
por submissão completa e humildade. Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬é amado por Si
só em todos os aspectos. Todos excepto Ele são amados pelo amor
que lhes é dado de volta. Todos os Livros revelados, e as mensagens
de todos os profetas, prestam testemunha ao amor que é devido a Ele,
tal como o impulso natural que Ele criou em todos os Seus servos, o in-
telecto que Ele lhes deu, e as bênçãos que Ele lhes derramou.

Os corações, à medida que maturam, aprendem a amar quem é


misericordioso e gentil para com eles. Então quão maior é o seu amor a
Ele de Quem toda a bondade provém!

Cada boa coisa que é desfrutada pela Sua criação é uma das
suas bênçãos sem limites, e Ele é Um, sem parceiros e associados:

“E toda graça, que está convosco, vem de Allah.


Em seguida, quando o infortúnio vos toca, é a Ele
que dirigis o rogo.” [16:53]
E também:

“E, dentre os homens, há quem, em vez de Allah,


tome semelhantes, em adoração, amando-os como
se ama a Allah. E os que creem são mais veementes
no amor a Allah.” [2:165]

79
E também:

“Ó vós que credes! Quem de vós apostata de sua


religião, Allah fará chegar, em seu lugar, um povo
que Ele amará e que O amará; e que será humilde
com os crentes, poderoso com os renegadores da
Fé. Lutará no caminho de Allah e não temerá
repreensão de quem quer que seja.” [5:54]
O Profeta ‫ ﷺ‬jurou que nenhum servo crê verdadeiramente até
que ele ‫ ﷺ‬seja mais querido a esse servo do que o seu próprio filho,
pai, e toda a humanidade.84

O Profeta ‫ ﷺ‬também disse a ‘Umar Ibn Al-Khattab (!‫)'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬


“até eu ser mais querido para ti que tu mesmo.”85

Isto significa que não somos crentes verdadeiros até o nosso


amor pelo Profeta ‫ ﷺ‬atingir este nível.

Se o Profeta ‫ ﷺ‬deve ter precedência sobre nós próprios86


quando diz respeito ao que nós amamos e o que isso implica, então não
é Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬ainda mais merecedor do nosso amor e adoração
do que nós mesmos?

Tudo o que vem d’Ele para os Seus servos, seja isso algo que
eles amam ou algo que eles odeiam, direciona-nos a amá-Lo. O Seu dar
e o Seu restringir, a fortuna e o infortúnio que Ele decreta para os Seus
servos e a Sua humilhação deles e a Sua elevação deles, a Sua justiça e
a Sua graça, a Sua dádiva da vida e o retirar desta novamente, a Sua
compaixão, generosidade e o ocultar das más ações dos Seus servos,
o Seu perdão e paciência, a Sua resposta às súplicas dos Seus servos
mesmo que Ele não esteja necessitado dos Seus servos de maneira al-
guma - tudo isto convida corações a adorá-Lo e amá-Lo.

Se um ser humano fosse fazer a menor porção destas coisas a


outro ser humano, essa pessoa não poderia restringir o seu coração de
o amar. Como pode um servo não amar, com todo o seu coração e

84
Al-Bukhari, Kitab Al-Iman, 1/58; Muslim, Kitab Al-Iman, 2/15.
85
Al-Bukhari, Kitab Al-Iman wa’n-Nudhur, 11/523.
86
Como Allah diz: “O Profeta tem mais prevalência sobre os crentes que eles mes-
mos não têm entre si.” [33:6]

80
corpo, Aquele Que é constantemente Misericordioso e Generoso para
com ele, apesar das suas más ações?

A misericórdia de Allah desce ao Seu servo dos céus, enquanto


as más ações do servo elevam até Ele da terra.

Allah procura a amizade e amor do Seu servo por meio da Sua


generosidade para com ele, mesmo quando Ele não necessita dele. O
servo, por outro lado, convida a ira de Allah através da sua desobediên-
cia e más ações, mesmo quando este necessita da Sua assistência.

Nem a misericórdia de Allah, nem a sua generosidade para com o


servo o desencorajam de desobedecer ao seu Senhor. Da mesma ma-
neira, nem a desobediência do servo, nem as suas más ações detêm
Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬de lhe conceder as Suas bênçãos.

Além disso, enquanto qualquer pessoa que amemos e que nos


ame pode comportar-se assim para um interesse pessoal, Allah ( !‫ﺳﺒﺤﺎﻧ‬
‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬.), fá-lo para nos beneficiar.

Além disso, enquanto qualquer pessoa com a qual negociamos


não negociará connosco se ela não esperar fazer lucro da transferência -
e ele fará o possível para obter lucro de uma maneira ou de outra - Allah
(‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬negocia connosco para nos permitir fazer o melhor e o
maior lucro para nós, com a nossa transferência com Ele. Assim, uma
boa ação conta como entre dez e setecentas boas ações, ou até mais,
enquanto que uma má ação é gravada como só uma má ação e pode
até ser prontamente apagada.

Além disso, Ele (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬criou-nos para Ele Próprio e Ele criou
tudo para nós, ambos neste mundo e no próximo. Quem mais, então,
merece ser amado e agradado mais do que Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫?)ﺳﺒﺤﺎﻧ‬

Além disso, tudo o que nós - e toda a criação, aliás - requer e


precisa está com Ele. Ele é O Generosíssimo. Ele dá aos Seus servos
mais do que eles precisam, mesmo antes de eles Lhe pedirem. Ele fica
satisfeito com até uma pequena boa ação e aumenta a sua recom-
pensa. Ele perdoa más ações não reveladas e apaga-as. O que quer
que esteja nos céus e na terra suplica a Ele. Cada dia Ele cuida de um
caso diferente. A multiplicidade das coisas nunca O desorienta, nem Ele
se cansa pela insistência dos pedidos dos Seus servos. De facto, Ele
fica satisfeito com aqueles que persistem na sua suplicação.

81
Ele fica satisfeito com aqueles servos que pedem a Sua assistên-
cia, e Ele fica irado com aqueles que não o fazem. Ele fica desagradado
quando Ele vê um servo a ser desobediente e negligente para com as
suas ações, e, no entanto, Ele oculta as más ações do Seu servo en-
quanto o próprio servo não as oculta. Ele tem misericórdia do Seu servo
enquanto o Seu servo não tem misericórdia de si mesmo.
Ele chamou-o para a sua aceitação e misericórdia através da Sua
compaixão e generosidade - mas ele recusa-as. Ele enviou mensageiros
para ele e deu a conhecer a Sua aliança através dele. Ele (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫)ﺳﺒﺤﺎﻧ‬
até se aproxima dele e diz “Há alguém que esteja a chamar por Mim,
para que eu responda à sua súplica? Há alguém que esteja à procura do
Meu perdão, para que eu possa perdoá-lo?”87

Como, então, podem os corações não amá-Lo, Aquele que - e


ninguém para além d’Ele - concede recompensas, responde a súplicas,
perdoa erros, perdoa pecados, oculta más ações, dissipa a mágoa e
afasta a tristeza?

Ele (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬somente é Merecedor de lembrança, gratidão,


adoração e louvor. Ele é O Mais Generoso a ser pedido, O Mais Liberal
a dar, O Mais Misericordioso a perdoar, O Mais Poderoso a ajudar e O
Mais Seguro para ser confiado. Ele é mais misericordioso para o Seu
servo do que uma mãe é para o seu bebé. Ele fica também mais satis-
feito com o arrependimento do pecador penitente do que um homem
fica radiante em encontrar o seu animal com todas as suas provisões
ainda em cima deste, depois de o ter perdido numa terra infértil e ter per-
dido toda a esperança de sobrevivência.

Ele é o Rei, sem parceiros, O Único, Singular, sem igual. Tudo pe-
recerá excepto o Seu Rosto. Ele não é obedecido excepto pela Sua or-
dem, nem é Ele desobedecido sem o Seu conhecimento disso. Ele fica
satisfeito com o servo obediente pela sua obediência, mesmo se isso
não pudesse ter ocorrido sem a Sua ajuda e assistência. Ele perdoa e
indulta, mesmo depois de ter sido desobedecido. E, no entanto, os direi-
tos devidos a Ele são aqueles mais rejeitados e negligenciados.

87
Muslim relatou no seu Sahih, Kitab Salat Al-Musafirin wa Qasruha, 6/36, pela autori-
dade de Abu Hurairah (!‫)'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬, que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “O nosso Senhor, Pode-
roso e Glorioso, desce todas as noites ao céu mais próximo a nós durante o último
terço da noite e diz ‘Há alguém que esteja a chamar por Mim, para que eu responda à
sua súplica? Há alguém que esteja à procura do Meu perdão, para que eu possa per-
doá-lo?’”

82
Ele é a Testemunha mais próxima, o protector mais sublime, o
mais Verdadeiro à Sua Palavra, e o mais Justo dos juízes. Ele sabe o se-
gredo dos egos:

“Não há ser animal algum, sem que Ele lhe apanhe


o topete.” [11:56]
Ele grava as ações e decide o tempo de vida dos Seus servos.
Para ele os segredos nos corações são conhecidos e o Invisível é reve-
lado. Toda a gente anseia por Ele, rostos humilham-se perante a Luz do
Seu Rosto, e mentes são completamente incapazes de entender a Es-
sência do Seu Ser. Toda a evidência que confronta o coração e a mente
presta testemunho à impossibilidade de haver qualquer coisa como Ele.
Pela Luz do Seu Rosto cada forma de escuridão é iluminada, os céus e
a terra são iluminados, e toda a criação é posta em ordem. Ele não
dorme, nem Lhe é apropriado fazê-lo. As ações da noite são-Lhe apre-
sentadas antes do nascer do dia, e as do dia antes do nascer da noite.
Ele é velado por luz pura, e se o véu fosse removido, então o esplendor
da Sua Luz engoliria toda a Sua criação que a Sua visão contém.

Amor a Allah, Todo-Poderoso, dá vida ao coração e sustenta a


alma. O coração não experiencia nenhum prazer, nem sente alegria,
nem prova nenhum sucesso - nem mesmo a vida - se não tem este
amor. Se o coração perde este amor, então a perda que ele sofre é
mais severa do que o olho que é privado da sua visão, e o ouvido que é
privado da sua audição.

Até pior que isto, a decadência do coração quando este é des-


provido de amor ao seu Criador, Fonte, e Deus Verdadeiro, é bem pior
do que o corpo quando este não contém mais a sua alma. Esta verdade
só é reconhecida por pessoas que estão vivas, pois uma ferida não ma-
goa os mortos.

Fath Al-Mawsili disse “O amante não encontra qualquer outro pra-


zer na vida e não negligencia a lembrança de Allah por um instante.”
Um homem virtuoso disse uma vez “O amante está sempre com
Ele: ele lembra-se d’Ele continuamente e constantemente com saudade,
usando cada meio e nawafil possível para O agradar.”88

88
Isto é apoiado por um hadith relatado por Al-Bukhari no seu Sahih, pela autoridade
de Abu Huraira, que disse: O Mensageiro de Allah ‫ﷺ‬disse: “Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬disse

83
Outro homem disse num poema:

“E ama o teu Senhor servindo-O,


pois amantes são meros servos do Amabilíssimo.”

Uma das mulheres dos salaf disse uma vez, quando ela aconse-
lhava as suas crianças “Faz um hábito amar e obedecer a Allah, pois
aqueles que têm taqwa levam a sua obediência ao ponto dos seus cor-
pos experimentarem aversão a qualquer coisa do que à obediência. Se o
amaldiçoado (shaytan) tenta seduzi-las a fazer algo errado, a má ação
fica envergonhada e evita-as, por causa da maneira como esta é rejei-
tada por elas.”

‘Abdullah Ibn Al-Mubarak recitou:

“Tu desobedeces a Allah,


e no entanto, ainda alegas amá-Lo.
Por Allah, tal comportamento é repugnante,
por qualquer padrão!
Teria-Lo obedecido se o teu amor tivesse sido verdadeiro,
pois o amante é sempre obediente ao Amado!”

‘Quem mostrar inimizade contra o Meu amigo, Eu estarei em guerra contra ele. O Meu
servo não se aproxima de Mim com nada mais querido para Mim do que o que Eu fiz
como obrigatório, e o Meu servo continua a aproximar-se de Mim com nawafil (ações
voluntárias) até Eu o amar - e quando Eu o amo, sou a sua audição com a qual ele
ouve, e a sua visão com a qual ele vê, e a sua mão com a qual ele agarra, e o seu pé
com o qual ele caminha - e se ele Me pedisse, Eu certamente daria, e se ele Me pe-
disse por refúgio, Eu certamente o concederia.’” Também contido em an-Nawawi, Al-
Arba’in an-Nawawi, hadith nº 38.

84
DEZASSETE
CONTENTAMENTO COM O DECRETO DE AL-
LAH
O servo pode experimentar um de dois estados quanto ao que
ele não gosta: o estado de se estar contente, ou o de ser paciente. Es-
tar contente é uma qualidade louvável, enquanto ser paciente é um de-
ver que o crente deve cumprir.

Algumas vezes, as pessoas do contentamento testemunham a


Sabedoria e a Beleza d’Aquele Que Põe à Prova quando Ele testa os
Seus servos, e elas veem que Ele está sempre Certo em tudo o que ele
decreta.

Algumas vezes, elas testemunham o Poder, a Majestade e a Per-


feição d’Aquele Que Põe à Prova, a tal ponto que elas ficam completa-
mente mergulhadas nestes Atributos de Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫)ﺳﺒﺤﺎﻧ‬, e assim não
experimentam qualquer dor.

Este nível só pode ser alcançado por aqueles que têm grande co-
nhecimento e amor. E assim é possível que eles encontrem prazer no
que quer que seja que os afligiu - porque isso veio até eles do seu
Amado.

A Diferença entre Contentamento e Paciência


Ser paciente envolve restringir o ego e impedi-lo de ceder ao res-
sentimento, apesar do sofrimento que este experimenta - na esperança
de que o infortúnio que o aflige acabe - e também restringir os membros
de se comportarem mal, por impaciência.

Estar contente, por outro lado, envolve sentir-se à vontade em


aceitar o Decreto Divino, e estar despreocupado com quando qualquer
sofrimento parará, mesmo que este esteja a ser experimentado no mo-
mento. Estar contente alivia qualquer sofrimento, porque o coração é
imerso no espírito da certeza e conhecimento. Se o contentamento au-
menta na sua intensidade, então este remove a experiência de qualquer
sofrimento totalmente.

85
Foi relatado pela autoridade de Anas Ibn Malik que o Profeta ‫ﷺ‬
disse “Quando Allah ama alguém, Ele põem-no à prova: quanto àquele
que estiver contente - Allah ficará satisfeito com ele; e quanto àquele que
ficar descontente - Allah ficará insatisfeito com ele.”89
Ibn Mas’ud (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse “Allah Todo-Poderoso, na Sua Jus-
tiça e Sabedoria, colocou repouso e alegria na certeza e contentamento,
e Ele colocou tristeza e mágoa na dúvida e descontentamento.”
Ao comentar sobre o verso:

“Nenhuma desgraça ocorre sem que seja com a per-


missão de Allah. E quem crê em Allah, Ele lhe
guiará o coração. E Allah, de todas as cousas, é
Onisciente.” [64:11]
‘Alqamah disse: “Isto diz respeito ao infortúnio que aflige o servo: ele
sabe que isto veio de Allah, e então ele aceita-o e contenta-se com ele.”

Quanto ao verso:

“A quem faz o bem, seja varão ou varoa, enquanto


crente, certamente, fá-lo-emos viver vida benigna.
E Nós recompensá-los-emos com prêmio melhor
que aquilo que faziam.” [16:97]
Abu Mu’awiyya Al-Aswar disse: “Vida benigna’ significa estar satisfeito e
contente.”

‘Ali Ibn Abi Talib (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬uma vez viu ‘Adiyy Ibn Hatim com um
aspecto triste e então ele perguntou-lhe “Porque estás triste, Ó ‘Adiyy?”.
‘Adiyy respondeu “Como posso não estar neste estado, quando ambos
os meus filhos foram mortos e o meu olho removido?”. Então ‘Ali disse-
lhe “Ó ‘Adiyy quem estiver contente com o Decreto de Allah experi-
menta-lo-á certamente e será recompensado por ele; e quem não estiver
contente com o Decreto de Allah experimenta-lo-á certamente e Allah
renderá as suas ações como inúteis.”
Abu’d-Darda’ visitou um homem à beira da morte e encontrou-o a
louvar a Allah, então ele disse-lhe “Estás correto! Allah, Poderoso e Glori-
oso, gosta que fiquemos contentes com tudo o que Ele decreta.”

89
At-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/77, classificado como hasan gharib; as-Suyuti, Al-
Jami’ as-Saghir, 2/459, classificado como hasan.

86
Al-Hasan Al-Basri disse: “Quem estiver contente com o que tem,
Allah fa-lo-á suficiente para ele e colocará bênção nisso; e quem não es-
tiver contente, Allah não o fará suficiente para ele e não colocará bênção
nisso.”

‘Umar Ibn Abdal-Aziz disse: “Eu não tenho nada que me dê ale-
gria, excepto que o que foi decretado por Allah acontece”. Ele foi uma
vez questionado “O que desejas?”. Ele respondeu “O que quer que Al-
lah, Poderoso e Glorioso, decrete.”
Abdal-Wahid Ibn Zaid disse: “Estar contente é a melhor porta para
Allah, o Jardim desta vida, e um sítio de descanso para os adoradores.”

Também foi dito “Não haverá nível na próxima vida melhor do que
o daqueles que ficam contentes com o que quer que Allah decrete,
sempre. Quem deseja a qualidade do contentamento será elevado aos
melhores níveis.”

Ao descobrir uma manhã que tinha perdido um número conside-


rável de camelos, um árabe do deserto disse: “Por Aquele de quem eu
sou um dos Seus servos, se não fosse por inimigos maliciosos e invejo-
sos, eu não teria estado contente em ver os meus camelos ainda vivos e
no seu curral - e algo que Allah decretou não ter ocorrido.”

87
DEZOITO
ESPERANÇA EM ALLAH
Este é o estado pacífico de um coração que espera pelo que lhe
é querido. Se os meios - pelo qual o coração espera pelo que pode vir -
não estão presentes, então imbecilidade e insensatez seriam descrições
mais precisas para o seu estado. Se, por outro lado, aquilo pelo qual ele
espera certamente acontecerá, então nem esperança certa pode ser o
termo a ser usado ao descrever o seu estado: não se pode dizer “Eu es-
pero que o sol nasça ao nascer-do-sol”, mas pode-se dizer “Eu desejava
que chovesse.”

Aqueles que estudam o coração têm ensinado que este mundo é


como terra que é cultivada para obter os seus frutos no próximo mundo:
que o coração é como a terra, que a crença é como sementes, e que
actos de adoração são como aração do solo e limpeza para plantação e
escavação de canais para lhe trazer água.

O coração que está enamorado por este mundo é como uma


terra infértil, da qual sementes não podem brotar. O Dia da Ressurreição
é como o dia da colheita, e ninguém colhe o que ele não plantou. Ne-
nhuma semente que não seja a semente da crença pode crescer, e
crença raramente traz quaisquer frutos se o coração estiver podre e com
falta de moralidade.

Da mesma forma que sementes não brotam da terra infértil, assim


a esperança de um servo pelo perdão de Allah pode ser comparada à
esperança de um agricultor:

Se alguém procura por solo fértil, planta-o com sementes saudá-


veis e boas, supre-o com o que este necessita quando este necessita,
retira as ervas daninhas e tudo o que possa impedir ou arruinar o cresci-
mento da colheita, e depois se senta esperando pelas bênçãos de Allah,
na forma do Seu impedimento de tempo desfavorável e pestes destruti-
vas longe da colheita até esta acabar o crescimento e ficar madura - en-
tão a sua espera pode ser descrita como esperança.

Se, no entanto, ele plantar sementes em solo duro e infértil demasiado


elevado para a água o alcançar, e não fizer nada para cuidar das semen-
tes, e depois esperar por uma colheita - então a sua espera é descrita
como imbecilidade e insensatez, não esperança.

88
Então, o termo “esperança” só se aplica a esperar com saudade e
ansiedade por algo acontecer, depois que todos os meios que o ajuda-
rão na realização deste desejo - isto é, todos os meios que estão entre o
poder e escolha do servo - forem utilizados.
As coisas que não estão dentro do controlo do servo, e que estão
completamente dentro do domínio da generosidade de Allah, também
desempenham um papel. Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬é capaz de impedir todos os
fenômenos e obstáculos prejudiciais, se Ele assim quiser.

Se o servo plantar sementes de crença, e as regar com obediên-


cia e adoração a Allah, e purificar o seu coração de maus elementos, e
depois esperar pelas bênçãos de Allah na forma de Ele o manter firme
nesse estado até à sua morte, e depois conceder-lhe um fim excelente
e o Seu perdão - então a sua espera é verdadeiramente esperança pelo
melhor.

Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz:

“Por certo, os que creram e os que emigraram e lu-


taram no caminho de Allah, esses esperam pela
misericórdia de Allah. E Allah é Perdoador, Miser-
icordiador.”[2:218]
Isto significa que tais pessoas são merecedoras de esperança pela mi-
sericórdia de Allah. Allah não pretendeu confinar esperança n’Ele só a
eles, pois outros também podem ter esperança, mas Ele distingue-os
como as únicas pessoas cuja esperança é bem fundada.

Aquele cuja esperança o oriente à obediência a Allah e desenco-


raja-o de se rebelar contra Ele tem esperança verdadeira; enquanto que
a esperança que leva uma pessoa a ociosidade e imersão em más
ações é só imbecilidade disfarçada.

Deve ser notado que qualquer pessoa que tiver esperança em


algo deve satisfazer três condições:

•! Primeiro, aquilo pelo qual ela espera deve-lhe ser querido;


•! Segundo, ela deve temer perdê-lo;
•! Terceiro, ela deve esforçar-se por alcançar aquilo pelo qual ela es-
pera.

89
Se esperança não está ligada a qualquer destes pré-requisitos,
então é só uma ilusão - esperança é um assunto completamente dife-
rente.

Toda a gente que é esperançosa é temerosa. Quem caminha


numa direção, apressa-se quando ele teme perder o objectivo pelo qual
espera.
Foi relatado por Abu Huraira que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Quem temer
ser saqueado pelo inimigo, parte na primeira parte da noite, e quem
parte cedo, alcança o seu objectivo. Tenham cuidado! Os tesouros de
Allah são queridos e preciosos. Acordem! O tesouro de Allah é o Jar-
dim.”90

Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz:

“Dize: ‘Ó Meus servos, que vos excedestes em


vosso próprio prejuízo, não vos desespereis da mis-
ericórdia de Allah. Por certo, Allah perdoa todos
os delitos. Por certo, Ele é O Perdoador, O Miseri-
cordiador.’” [39:53]
E também:

“E, por certo, teu Senhor é Possuidor de perdão


para os homens, apesar de sua injustiça.” [13:6]
‘Umar Ibn Abdal-Aziz relatou pela autoridade do seu pai ( ‫'ﺿﻲ ﷲ‬
‫ )ﻋﻨ)ﻢ‬que o Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Sempre que um muçulmano morre, Allah
atira um judeu ou um cristão no Fogo no seu lugar.”91

90
Hasan, at-Tirmidhi, Sifat Al-Qiyyama, 7/146, classificado como hasan gharib; tam-
bém Al-Hakim, Kitab ar-Raqa’iq, 4/307.

Explicação: Este hadith significa que cada pessoa que tem um lugar no Para-
íso, também tem um lugar no Inferno, incluindo o muçulmano. Então, se um
muçulmano entrar no Paraíso, o lugar dele no Inferno estará vazio. E assim,
este é ocupado pelas pessoas (pecadores, descrentes, opressores, etc.) que
não foram para o Paraíso, visto que Allah declarou que o Inferno estaria cheio
de pessoas descrentes, injustas, opressoras, pecadoras, que não se arrepen-
deram, nem se voltaram a Allah durante a sua vida.

91
Muslim, Kitab at-Tawba, 17/85.

90
Foi transmitido pela autoridade de ‘Umar Ibn Al-Khattab ( ‫'ﺿﻲ ﷲ‬
!‫ )ﻋﻨ‬que alguns prisioneiros foram trazidos perante o Mensageiro de Allah
‫ﷺ‬. Entre eles estava uma mulher que procurava por alguém na multi-
dão. Quando ela encontrou um bebê entre os prisioneiros, ela pegou-o
nos seus braços, apertou-o perto do seu peito, e amamentou-o. Depois,
o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse: “Vocês pensam que esta mulher al-
guma vez atiraria a sua criança para o Fogo?”. Nós dissemos “Por Allah,
desde que estivesse no seu poder, ela nunca atiraria a sua criança no
Fogo!”. Depois o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse “Allah é mais misericordi-
oso para os Seus servos do que esta mulher é para a sua criança.”92

Foi relatado pela autoridade de Abu Huraira que ele ouviu o Men-
sageiro de Allah ‫ ﷺ‬dizer: “Quando Allah criou a criação, Ele decretou
algo para Ele Mesmo, e um registro claro está com Ele a confirmar isso,
‘Por certo, a Minha misericórdia permanece acima da Minha ira.”93

Foi relatado pela autoridade de Anas que ele ouviu o Mensageiro


de Allah ‫ ﷺ‬dizer: “Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬disse: ‘Ó filho de Adão, desde que
Me chames e Me supliques, Eu perdoarei o que fizeste, e não Me impor-
tarei. Ó filho de Adão, se os teus pecados alcançassem as nuvens do
céu e se Me pedisses por perdão depois, Eu perdoar-te-ia. Ó filho de
Adão, se viesses até Mim com pecados tão grandes como a Terra, e se
Me fosses encontrar então sem ter associado qualquer coisa Comigo,
Eu trazer-te-ia perdão tão grande como estes.’”94
Yahya Ibn Mu’adh disse “Na minha opinião, o pior tipo de auto-ilu-
são é da pessoa que peca excessivamente e depois espera pelo perdão
sem qualquer remorso; ou da pessoa que espera aproximar-se de Allah
(‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫)ﺳﺒﺤﺎﻧ‬, sem O obedecer ou adorar; ou da pessoa que espera pe-
los frutos do Jardim depois de só ter plantado as sementes do Fogo; ou
da pessoa que procura o lugar dos obedientes cometendo más ações;
ou da pessoa que espera uma recompensa depois de não ter feito nada
que valha a pena; ou da pessoa que espera de Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬depois
de ter excedido todos os limites.”

Você espera por perdão quando não pisou esse caminho? Um


navio não navega em terra seca.95

92
Al-Bukhari, Kitab Al-Adab, 10/426; Muslim, Kitab at-Tawba, 17/70.
93
Al-Bukhari, Kitab Bad’ Al-Wahiy, 6/287; Muslim, Kitab at-Tawba, 17/68.
94
Hasan, at-Tirmidhi, Kitab ad-Da’awat, 9/524; classificado como hasan gharib.
95
Ibn Hibban relatou no seu livro, Rawdhat Al-‘Uqala’, p.284, que o poeta Abu’l-
‘Atahiyya disse: “Fui ver Harun ar-Rashid, o líder dos crentes, e quando ele me viu, ele

91
DEZANOVE
TEMOR A ALLAH
Temor é o incentivo com o qual Allah impulsiona os Seus servos
na direção do conhecimento e da ação para que eles se possam aproxi-
mar mais d’Ele. É a dor e angústia do coração quando este sente que o
dano é iminente. Temor é o que impede o corpo de ser desobediente e
encoraja-o na adoração e serviço. Quando o temor está em falta, isto
leva a negligência e ousadia ao cometer pecados, enquanto que dema-
siado temor resulta num estado de desânimo e desespero.

Temor a Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬algumas vezes surge do conhecimento


que temos d’Ele e dos Seus Atributos - o conhecimento de que seria
despreocupante para Ele obliterar os céus e a terra, e que nada O pode
parar de o fazer se Ele assim quiser.

Noutras vezes é causado pela enormidade de más ações que o


servo comete.

Noutras vezes é causado por uma combinação de todas estas


coisas: o nível do temor de um servo depende da conscientização das
suas próprias falhas, e da conscientização da Glória, Poder e Auto-Sufi-
ciência de Allah - e o facto de que Ele não é levado a contas pelo que
Ele faz, enquanto que os Seus servos são.

A pessoa que mais teme o Seu Senhor é a que tem mais conhe-
cimento sobre Ele e sobre si mesma. É por isto que o Profeta ‫ ﷺ‬disse

disse: ‘És o Abu’l-‘Atahiyya, o poeta?’. Eu disse: ‘Sim’. Ele disse: ‘Dá-me algum conse-
lho em algumas linhas de poesia, e sê breve!’. Eu recitei para ele:

’Não fiques seguro da morte em qualquer momento:


Mesmo se procurares proteção
nos teus conselheiros e guardas,
sabe que as flechas da morte
estão sempre a apontar na tua direção,
quer seja a armadura e escudos que tenhamos.
Tens esperança no perdão
quando não pisaste o seu caminho?
Um navio não navega em terra seca.’”

92
“Por Allah, de todas as pessoas, eu sou o que tem mais conhecimento
sobre Allah, e eu sou quem mais O teme.”96

O Imam ash-Sha’bi foi uma vez referido como “Ó sábio”. Ele res-
pondeu “Eu não sou - pois o sábio é aquele que teme Allah, como Ele
(‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz:

‘Apenas, os sábios receiam a Allah, dentre Seus


servos.’ [35:28]”

Aqueles que Temem Allah


Aquele que experimenta temor não é aquele que chora e limpa as
suas lágrimas, mas sim aquele que abandona o que possa trazer castigo
para ele. Dhu’n-Nun Al-Misri foi questionado uma vez “Quando é que um
servo teme realmente?”. Ele respondeu “Quando ele está no mesmo es-
tado que um homem doente que procura a proteção de Allah por medo
que a sua doença seja prolongada.”

Abu’l Qassim Al-Hakim disse: “Quem teme algo, corre para longe
disso, enquanto que quem teme Allah, corre na Sua direção.”

Al-Fudayl Ibn ‘Iyyad disse: “Se alguém te perguntar sobre se te-


mes Allah, não respondas; pois se disseres ‘sim’, estarás a mentir, e se
disseres ‘não’, isso significaria que não crês n’Ele.”

O temor queima desejos proibidos, e as más ações que podem


ser tão queridas para um servo logo se tornam desagradáveis, tal como
o mel se torna rpugnante a alguém que o deseja, se descobre que este
está envenenado. O temor doma os membros e enche o coração com
submissão, humildade e tranquilidade. Arrogância, ódio e inveja saem
dele, e este é enchido por Allah, através do temor a Ele e através da
contemplação do perigo do Seu castigo - e assim este fica ocupado
com nada senão Ele, e não tem preocupação para além da contempla-
ção, fazendo-se responsável e esforçando-se na causa de Allah.

Um servo com tal coração torna-se vigiante sobre cada exalação


e cada momento, e repreende o ego constantemente pelos seus pensa-
mentos internos, as suas ações e as suas palavras. O seu estado é

96
Al-Bukhari, Kitab Al-Adab, 10/513; Muslim, Kitab Al-Fadha’il, 15/106; pela autori-
dade de ‘A’isha (‫)'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﺎ‬.

93
como o de uma pessoa que está presa nas garras de um leão, não sa-
bendo se este a vai deixar e permiti-la escapar, ou se a atacará, ma-
tando-a. Assim ela torna-se internamente e externamente ocupada com
o que ela teme. Não há espaço nela para qualquer coisa excepto aquilo
que ela teme. Este é o estado de uma pessoa que está dominada por
temor a Allah.

94
Os Méritos do Temor a Allah
Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬concede orientação, misericórdia, conheci-
mento e aceitação àqueles que O temem:

“…orientação e misericórdia para os que veneram


[temem] a seu Senhor.” [7:154]
E também:

“Apenas os sábios receiam a Allah, dentre Seus


servos.” [35:28]
E também:

“Sua recompensa, junto de seu Senhor, são os


Jardins do Éden, abaixo dos quais correm os rios;
nesses, serão eternos para todo o sempre. Allah se
agradará deles, e eles se agradarão d’Ele. Isso para
quem receia a seu Senhor.” [98:8]
Allah ordenou os Seus servos a temê-Lo e fez a crença condicio-
nal ao temor. Ele (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz:

“…e temei-Me, se sois crentes.” [3:175]


Isto é a razão pela qual é inconcebível que um crente esteja des-
provido de temor a Allah, ainda que ligeiramente. A fraqueza do seu te-
mor está em proporção à fraqueza do seu conhecimento e fé.

O Profeta ‫ ﷺ‬disse: “Nenhum crente que chorou por temor a Allah


(‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬entrará no Fogo a não ser que o leite retorne para o
úbere.”97

Al-Fudayl Ibn ‘Iyyad disse “Quem teme a Allah será orientado por este te-
mor a tudo o que é bom.”

Ash-Shibli disse “Nunca houve um momento em que eu temi a Al-


lah sem encontrar uma porta de sabedoria e orientação a abrir-se na Sua
direção.”

97
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab Fadha’il Al-Jihad, 5/260 e Kitab az-Zuhud, 6/600; classifi-
cado como um hadith sahih.

95
Yahya Ibn Mu’adh disse “Qualquer má ação cometida por um
crente é seguida por duas consequências: medo do castigo e espe-
rança pelo perdão.”

Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz no Qur’an:

“Por certo, os que, pelo receio de seu Senhor, estão


amedrontados. E os que nos sinais de seu Senhor
creem, e os que nada associam a seu Senhor, e os
que concedem o que concedem, enquanto seus
corações estão atemorizados, porque terão de re-
tornar a seu Senhor, esses se apressam para as
boas cousas, e destas são precursores.” [23:57-61]
Foi relatado por ‘A’isha (‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﺎ‬que ela disse “Eu perguntei
ao Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬sobre estes versos, dizendo, ‘São eles os
que bebem bebidas intoxicante e cometem adultério e roubam?’. Ele ‫ﷺ‬
disse “Não, ó filha de as-Siddiq98, são aqueles que regularmente jejuam
e rezam e dão zakat e temem que as suas boas ações não sejam acei-
tes ‘…esses se apressam para as boas cousas’”99

Foi relatado pela autoridade de Abu Dharr (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬que o Men-
sageiro de Allah ‫ ﷺ‬recitou a surah do Qur’an começando pelo verso:

“Com efeito, transcorreu, para o ser humano, um


lapso de enorme tempo, em que não era cousa men-
cionada.” [76:1]
Então ele ‫ ﷺ‬disse “Eu vejo o que vocês não veem e eu ouço o que vo-
cês não ouvem. O Céu gemeu e tem o direito de gemer. Por Aquele em
cuja Mão está a minha alma, não há espaço nem de quatro dedos no
qual não haja um anjo a prostrar a sua testa perante Allah. Eu juro por Al-
lah que se vocês soubessem o que eu sei, sorririam pouco e chorariam
muito, e não teriam prazer em mulheres, mas sairiam para um espaço
aberto e implorariam a Allah por ajuda. Eu desejaria ser uma árvore que
fosse cortada e deixasse de existir.”100

98
As-Siddiq - significando ‘o verdadeiro’ - é o nome que foi dado ao pai de ‘A’isha,
Abu Bakr (‫)'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﻢ‬, por causa da sua honestidade, sinceridade e retidão - e por-
que ele sempre confirmava a verdade da mensagem do Profeta ‫ﷺ‬e das suas palavras
e ações.
99
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab at-Tafsir, 9/19; Al-Hakim, Kitab at-Tafsir, 2/393.
100
Sahih, Al-Bukhari, Kitab ar-Riqaq, 11/319; at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 6/601.

96
Este hadith indica que se soubéssemos tanto quanto o Profeta ‫ﷺ‬
sabia sobre o Poder de Allah, e a Sua retribuição para quem o desobe-
dece, então o nosso choro e mágoa e temor pelo que nos espera dura-
ria bastante. Talvez nem sorríssemos novamente.

‘A’isha (‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﺎ‬relatou que sempre que o vento mudava e tempes-


tades vinham, o aspecto do Profeta ‫ ﷺ‬mudava e ele caminharia de um
lado para o outro em agitação, saindo e entrando novamente. Tudo isto
era por medo do castigo de Allah.101

Abdullah Ibn ash-Shukhair relatou que sempre que o Mensageiro


de Allah ‫ ﷺ‬começava a orar, um som como um caldeirão a ferver era
ouvido vindo do seu peito.102

Se considerar o estado dos companheiros do Profeta ‫ﷺ‬, e os


homens virtuosos desta ummah que os sucedeu (‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﻢ‬chegará à
conclusão de que eles estavam completamente envolvidos em fazer as
melhores ações enquanto, ao mesmo tempo, cheios de temor a Allah.
Nós, por outro lado, fazemos coisas muito menores do que este exem-
plo e, no entanto, sentimo-nos bem seguros.

Abu Bakr as-Siddiq (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse “Eu desejava ser não mais
do que um pêlo no lado de um servo crente”. Sempre que ele se levan-
tava para a oração, ele tremia como uma folha por temor a Allah.

‘Umar Ibn Al-Khattab (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬estava uma vez a ler a Surat at-
Tur e quando ele se deparou com o verso:

“Por certo, o castigo de teu Senhor sobrevirá.”


[52:7]
…ele chorou tão intensamente que ele ficou doente, e as pessoas iam
visitá-lo para ver como ele estava.
Quando ele estava no leito da morte, ele disse ao seu filho “Põe a
minha face na terra para que Allah me perdoe”. Depois ele disse “Eu es-
tou condenado se Ele não me perdoar”. Ele repetiu as mesmas palavras
três vezes e em seguida faleceu.

Al-Bukhari, Kitab Bad’ Al-Khalq, 6/300; Muslim, Kitab Al-Istisqa’, 6/196.


101

Sahih, at-Tirmidhi, Kitab ash-Shama’il, p.337; an-Nisa’i, Kitab as-Sahw, 3/13; Abu
102

Dawud, Kitab as-Salah, 3/172.

97
Quando ele costumava recitar o Qur’an à noite e lia um verso que
o enchia de temor, ele ficava em casa por dias a fio e as pessoas vi-
nham visitá-lo, pensando que ele estava doente. O seu choro frequente
deixou duas linhas escuras na sua cara.

Ibn ‘Abbas disse-lhe uma vez “Allah trouxe muitos países para a
Ummah Muçulmana através de ti, e através de ti, muitas vitórias foram
ganhas.” ‘Umar respondeu “Tudo o que eu quero é ser salvo. Não de-
sejo nem recompensa, nem castigo.”

‘Uthman Ibn ‘Affan (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬costumava chorar até a sua barba
estar encharcada cada vez que ele ficava perante uma sepultura. Ele
costumava dizer “Se eu estivesse entre o Jardim e o Fogo, não sabendo
em qual chegaria a entrar, eu preferiria ser transformado em cinzas antes
de saber o meu destino.”

Abu’d-Darda’ costumava dizer “Se soubesses o que irias encon-


trar depois da tua morte, nunca comerias com qualquer apetite, nem be-
berias com sede, nem entrarias em casas para abrigo, mas sairias em
espaços abertos batendo no teu peito e chorarias sem parar. Eu deseja-
ria ser uma árvore a ser cortada e destruída.”103

A pele por baixo dos olhos de Ibn ‘Abbas parecia couro de sandá-
lia, por causa do seu choro frequente.

‘Ali Ibn Abi Talib (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬ficou uma vez dominado por tristeza
depois de acabar a oração da alvorada; ele disse “Nunca antes tinha
visto algo como os companheiros do Mensageiro de Allah ‫ﷺ‬. Os seus
cabelos eram despenteados, e o espaço entre os seus olhos eram
como os joelhos de cabras. Eles passavam a noite em oração e recita-
ção do Qur’an, de pé ou em prostração. Quando a alvorada chegava,
eles passá-la-iam com lembrança de Allah, bamboleando como árvores
num dia tempestuoso, com lágrimas fluindo dos seus olhos até que as
suas roupas ficavam encharcadas. Por Allah, parece-me que as pessoas
que estão ao meu redor passaram a noite a dormir profundamente”. De-
pois ele levantou-se e não foi visto a rir novamente, até ele ser apunha-
lado até à morte por Ibn Muljim.

103
Da’if; Este hadith não é só atribuído a Abu’d-Darda’, mas também gravado por as-
Suyuti, Al-Jami’ as-Saghir, 3/318, como um hadith relatado por Ibn ‘Asakir. Al-Hakim
gravou um hadith semelhante mas com palavras diferentes em Al-Mustadrak, 4/579,
e atribui-o a Abu’d-Darda’.

98
Mussa Ibn Mas’ud disse “Sempre que nos sentávamos na com-
panhia de Suffian, nós sentíamos como se o Fogo nos tivesse cercado
por causa do medo e pânico que víamos nos seus olhos.”

Al-Hasan foi descrito uma vez como o seguinte: “Sempre que ele
se aproximava de nós, parecia como se ele tivesse acabado de vir do fu-
neral do seu melhor amigo; sempre que ele se sentava com companhia,
ele parecia um prisioneiro que tinha acabado de ser sentenciado à morte
por decapitação; e sempre que o Fogo era mencionado, era como se
este tivesse sido especialmente criado só para ele.”

Foi relatado que Zurarah Ibn Abu Awfa liderou algumas pessoas
na oração da alvorada e recitou a Surat Al-Mudathir do Qur’an. Quando
ele alcançou as palavras:

“Então, quando se tocar a Corneta, esse dia será


um difícil dia…” [74:8-9]
…ele ofegou e caiu morto.104

Abdullah Ibn Amr Ibn Al-As foi relatado como tendo dito “Chorem,
e se não puderem chorar, então finjam que choram! Eu juro por Aquele
em Cuja Mão está a minha vida, se qualquer um de vós realmente sou-
besse, imploraria até que a sua voz desaparecesse, e rezaria até que as
suas costas se quebrassem.”105

104
Ad-Dhahabi, Kitab Al-‘Ibar, 1/109.
105
Sahih, Al-Hakim, Kitab Al-Ahwal, 4/578.

99
VINTE
A VIDA DESTE MUNDO
A desaprovação deste mundo que aparece no Livro e nos Ahadith
não é direcionada ao aspecto do seu tempo, que é a alternação da noite
e do dia até ao Dia do Juízo. Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬concedeu isso para que
as pessoas que quisessem, invocassem o Seu Nome e fossem agrade-
cidas durante estes.

Foi dito uma vez “A noite e o dia são como duas arcas de tesouro,
então tem cuidado com o que fazes neles.”

Mujahid disse “Nenhum dia passa sem dizer ‘Ó filho de Adão, eu


vim até ti hoje e eu nunca voltarei, então tem cuidado com o que fazes
durante a minha estadia’. Quando o dia passa, este é dobrado e selado,
nunca sendo reaberto por ninguém até Allah o reabrir no Dia do Juízo.”

Há um poema que menciona:

A vida não é mais do que uma estrada


que leva ao Jardim,
ou ao Fogo.
As suas noites são a oficina do Homem,
e os seus dias são o seu mercado.

Então o tempo é a capital do servo.

O Profeta ‫ ﷺ‬disse “Quem disser ‘Exaltado seja Allah e d’Ele são as Bên-
çãos’, terá uma palmeira plantada para ele no Jardim.”106

Considere quantas palmeiras um desperdiçador de tempo perde


a oportunidade de plantar.

Um homem virtuoso costumava dizer às suas visitas que ficavam


demasiado tempo “Não querem sair? O anjo do sol nunca se cansa de o
puxar.”

Um homem uma vez disse a um ‘alim “Pare, para que eu fale con-
sigo!”. O ‘alim respondeu “Primeiro pare o sol!”

106
Sahih, at-Tirmidhi.

100
A desaprovação deste mundo que aparece no Livro e nos Ahadith
também não é direcionada ao seu aspecto de espaço, que é a terra e
todas as suas montanhas, e mares, e rios, e os tesouros neles. Tudo
isto são as bênçãos de Allah para os Seus servos, para que eles pos-
sam pô-las em uso, e contemplá-las e assim reconhecer a Unicidade e
Grandeza do seu Criador (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫)ﺳﺒﺤﺎﻧ‬.

A desaprovação é direcionada às ações dos filhos de Adão neste


mundo, a maioria das quais não têm quaisquer boas consequências;
pois como o Glorioso e Exalto diz:

“Sabei que a vida terrena é, apenas, diversão e en-


tretenimento e ornamento e vanglória, entre vós, e
ostentação acerca das riquezas e dos filhos. Ela é
como chuva: as plantas nascidas, com esta, causam
admiração aos cultivadores; em seguida, ressecam,
e tu as vês amarelecidas; depois, tornam-se pulvé-
reas. E, na Derradeira Vida, haverá veemente
castigo, e perdão de Allah, e agrado. E a vida ter-
rena não é senão gozo falaz.” [57:20]
Nesta vida, os filhos de Adão estão divididos em dois tipos:

O primeiro tipo, nega a existência de uma morada que espera os


servos de Allah depois desta vida acabar, onde recompensa e castigo
serão experienciados. Estes sobre quem Allah diz:

“Por certo, os que não esperam Nosso deparar e se


agradam da vida terrena e, nela se tranqüilizam, e
os que estão desatentos a Nossos sinais. Desses, a
morada será o Fogo, pelo que cometiam.” [10:7-8]
Tais pessoas só têm uma preocupação, que é desfrutar da vida e
perseguir todos os seus prazeres - e o Exalto diz:

“E os que renegam a Fé gozam, nesta vida, e


comem como comem os rebanhos; e o Fogo lhes
será moradia.” [47:12]

101
O segundo tipo são aqueles que aceitam que há uma morada de-
pois da morte, onde há recompensa e castigo. Estes são os que se-
guem os mensageiros. Eles estão numa de três categorias: aqueles que
são injustos consigo mesmos, aqueles que são maus consigo mesmos,
e aqueles que são rápidos em fazer boas ações, pela permissão de Al-
lah.

Primeiro, aqueles que são injustos consigo mesmos são a maio-


ria. A maior parte deles estão contentes com as flores desta vida e os
seus prazeres, servindo-se e usando-os de maneiras que Allah não or-
denou. O mundo, para eles, parece ser a sua maior preocupação, e
com este eles estão satisfeitos; eles só amam e detestam pela sua
causa.
Estas são as pessoas que brincam e tagarelam e são desviadas
pelas atrações deste mundo. Embora elas possam acreditar na próxima
vida de maneira geral, elas não descobriram o propósito da vida, nem
estão cientes de que esta é apenas uma paragem, onde provisões para
a jornada final podem ser adquiridas.

Segundo, aqueles que são maus consigo mesmos são aqueles


que tiram o que é permitido deste mundo e cumprem os seus deveres
nele, mas depois perseguem o que está para além destes deveres para
seu próprio prazer e para desfrutar das delícias deste mundo.
Tais pessoas não serão castigadas por fazê-lo, mas a sua procura
por prazer resultará na diminuição do seu nível.

‘Umar Ibn Al-Khattab (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse “Se não fosse pelo facto
de que o meu nível no Jardim pudesse diminuir, eu ter-vos-ia imitado na
vossa vida de facilidades; mas Allah avisou algumas pessoas dizendo:

‘Fizestes irem-se vossas boas cousas, em vossa vida


terrena, e, com elas, vos deliciastes.’ [46:20]”
Terceiro, aqueles que são rápidos em fazer boas ações são os
que entendem o propósito deste mundo, e agem de acordo. Eles sa-
bem que Allah só pôs os Seus servos neste mundo para ver quais deles
fazem as melhores ações:

“Por certo, fizemos do que há sobre a terra orna-


mento para ela, a fim de pôr à prova qual deles é
melhor em obras.” [18:7]

102
Isto significa que Allah colocou o que está nesta terra para nos
testar, para ver quem é que evitará os prazeres deste mundo e procurar
pelo sucesso no próximo, pois:

“E, por certo, faremos do que há sobre ela super-


fície árida.” [18:8]
Aqueles que competem ao fazer boas ações só levam deste
mundo quaisquer provisões que sejam necessárias para a viagem.
O Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse “O que tenho eu a ver com este
mundo? Quanto a este mundo, eu sou como um viajante que descansa
debaixo da sombra de uma árvore, e depois continua a sua viagem e
deixa-a.”107
O Profeta ‫ ﷺ‬também disse a ‘Umar “Sê nesta vida como se fos-
ses um estranho ou um viajante.”108

Sempre que a intenção por trás de desfrutar do que é halal é a


obediência e adoração a Allah, então o desfrutar de tais prazeres é visto
como um acto de obediência pelo qual o servo é recompensado. Como
Mu’adh Ibn Jabal (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬disse “Eu aguardo pela recompensa de Al-
lah pelo tempo que passei a dormir, tal como aguardo por esta pelo
tempo que passei acordado.”109

Sa’id Ibn Jubair disse “As provisões da arrogância e orgulho são o


que te distraem da próxima vida. As provisões que não te distraem são
as de que necessitas - para alcançar o que é melhor do que as próprias
provisões.”

Yahya Ibn Mu’adh disse “Como posso não amar este mundo no
qual fui abençoado com sustento que me dá vida, quando eu uso esta
vida para adoração por meio da qual posso ganhar a recompensa do
Jardim?”

Abu Safwan ar-Ra’ini foi questionado uma vez “Qual é a vida deste
mundo que é criticada no Qur’an, e a qual aqueles que são prudentes
devem evitar?”. Ele respondeu “Tudo o que fazes neste mundo com a in-
tenção de obter lucro neste mundo é censurável, e tudo o que fazes

107
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 7/48; Al-Hakim, Kitab ar-Riqaq, 4/310; pela au-
toridade de Abdullah Ibn Mas’ud e de ‘Umar (‫)'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ)ﻢ‬.
108
Sahih, Al-Bukhari.
109
Sahih, Muslim, Kitab Al-Imara, 12/207; e atribuído a Mu’adh.

103
para obter lucro no próximo mundo não tem nada a ver com este
mundo.”

Al-Hasan disse “Quão doce e boa a vida deste mundo é para o


mu’min - pois sem ter de se esforçar muito, ele obtém provisão deste
para o Jardim; e quão horrível é a vida deste mundo para o kafir e o mu-
nafiq - pois eles desperdiçam as suas noites e obtêm provisão desta
para o Fogo!”

Abu Mussa relatou que o Profeta ‫ ﷺ‬disse “Quem estiver apaixo-


nado pela sua vida neste mundo prejudica a sua vida no próximo, e
quem estiver apaixonado pela sua vida no próximo mundo prejudica a
sua vida neste mundo - e vocês devem preferir o que dura para sempre
em detrimento do que está destinado a desaparecer.”110

Awn Ibn Abdullah disse “Esta vida e a próxima penduram no equilí-


brio do coração como se estivessem em balanças. Aquela que predomi-
nar torna a outra mais leve e menos significativa.”

Wahab disse “Esta vida e a próxima são como um homem com


duas esposas. Se ele agrada a uma, ele incorre a ira da outra.”

Abu’d-Darda’ disse “Se me jurarem que um certo homem é o


mais temente a Allah entre vós, eu jurar-vos-ei que ele é o melhor entre
vós.”

Abdullah Ibn Mas’ud dirigiu-se a algumas pessoas dizendo “Vocês


realizaram mais boas ações que os companheiros do Mensageiro de Al-
lah ‫ ﷺ‬alguma vez realizaram, mas eles ainda são melhores que vocês,
porque eles evitaram os prazeres e ganhos mundanos”.111

110
Da’if, Ahmad Ibn Hanbal, Al-Musnad, 4/412; Al-Hakim, Kitab ar-Riqaq, 4/308; é
classificado como sahih, mas adh-Dhahabi refeitou-o devido a uma quebra no seu is-
nad.
111
Abu Nu’aym, Al-Hilya, 1/136.

104
O Dano do Amor a este Mundo
O Imam Ahmad escreveu, pela autoridade de Suffian, que Jesus,
filho de Maria (‫)ﻢ ﺳﻠﻢ‬5‫ )ﻋﻠ‬costumava dizer “Amor por este mundo é a raiz
de todo o mal, e ter dinheiro é uma doença séria”. Foi-lhe perguntado
“Que maus efeitos têm?” Ele respondeu “Quem o tem nunca está seguro
contra orgulho e auto-ilusão”. Eles disseram “E se alguém não tiver estes
defeitos?” Ele disse “A sua preocupação com fazer o bem distraí-lo-á da
lembrança de Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫)ﺳﺒﺤﺎﻧ‬.”112

Amor por este mundo é o que enche o Fogo, enquanto passar


sem os prazeres deste mundo é o que enche o Jardim. Estar intoxicado
com amor por este mundo é mais desastroso do que estar intoxicado
por álcool, porque uma pessoa bêbeda com este mundo só cai final-
mente em si na escuridão da sua sepultura.

Yahya Ibn Mu’adh disse “A vida deste mundo é o vinho do


shaytan, e quem fica intoxicado por ele só acorda assim que está nas
hordas dos mortos, lamentando entre os perdedores.”

O menor dos seus males é que este distrai o Homem da lem-


brança e amor a Allah. Quem é distraído pela sua riqueza é um perde-
dor. Se o coração é distraído da lembrança de Allah, então shaytan ha-
bita-o e direciona-o para o que ele desejar. Quando shaytan faz um co-
ração familiarizar-se com os caminhos do mal, ele incita-o a fazer algu-
mas boas ações para iludir o seu dono a pensar que ele é, em geral, um
benfeitor.

Ibn Mas’ud disse “Cada pessoa neste mundo é como um visitante


e a sua riqueza é só empréstimo. O visitante sai e o empréstimo é even-
tualmente pago.”113
Foi dito que amor pela vida deste mundo é a raiz de todos os ma-
les, pois este arruina a fé das pessoas de tantas formas:

112
Da’if, veja Majmu’at Al-Fatawa, 18/123.
113
Um verso de poesia com o mesmo significado menciona:

A tua riqueza e a tua família


só estão contigo em confiança,
e tudo o que é por confiança
deve, inevitavelmente, ser devolvido.

105
Primeiro, o amor por este mundo leva a demasiada ênfase sobre
a sua importância - quando este é insignificante para Allah. É uma das
piores más ações, dar importância ao que Allah considera trivial.
Segundo, Allah condenou-o. Ele repugna e desaprova-o, excepto
pelo que ele contém que é de direito d’Ele. Quem ama o que Allah con-
dena, repugna e desaprova, deixou-se vulnerável à confusão e tentação,
tal como a Sua desaprovação e ira.
Terceiro, uma pessoa que ama este mundo, faz dos prazeres e
sucessos desta vida o seu objectivo. Para os adquirir, ela utilizará as
mesmas maneiras e caminhos que, de facto, Allah concedeu para a ori-
entar na direção d’Ele e da próxima vida. Tal pessoa rebela-se contra o
que Allah pretende para ela se esforçar e alcançar: ela torna os meios
um fim por si só, e usa os meios que devem levar à próxima vida, para
adquirir os prazeres deste mundo. Isto é uma completa perversão do
propósito destes meios, o que indica um coração muito perverso. Allah
(‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz:

“Quem deseja a vida terrena e seus ornamentos,


Nós, nela, compensar-lhes-emos as obras e, nela,
em nada eles serão subtraídos. Esses são os que
não terão, na Derradeira Vida, senão o Fogo, e an-
ular-se-á o que engenharam nela, na vida terrena,
e derrogar-se-á o que faziam.” [11:15-16]
Há muitos ahadith sobre isto. Um deles foi transmitido por Abu
Huraira que disse “Eu ouvi o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬dizer ‘O primeiro
dos homens a ser julgado no Dia do Juízo será um homem que morreu
como mártir. Ele será trazido e Allah pedir-lhe-à para ele recontar as Suas
bênçãos, e então ele reconta-las-à. Allah dirá ‘O que costumavas fazer?’.
O homem dirá ‘Eu lutei por Ti até morrer como mártir’. Allah dirá ‘Disseste
uma mentira. Tu lutaste para seres referido como um guerreiro corajoso,
e assim foste referido’. Ordens serão dadas contra ele e ele será arras-
tado pelo rosto e atirado no Fogo. Depois um homem que adquiriu co-
nhecimento e o transmitiu e recitava o Qur’an será trazido. Ele será tra-
zido perante Allah e Ele pedir-lhe-à para recontar as Sua bênçãos, e en-
tão ele reconta-las-à. E então Allah perguntará ‘O que costumavas fa-
zer?’. Ele dirá ‘Eu adquiri conhecimento e transmiti-o e recitei o Qur’an,
procurando pelo Teu agrado’. Allah dirá ‘Disseste uma mentira. Adquiriste
conhecimento para que pudesses ser chamado de estudioso, e recita-
vas o Qur’an para que pudesse ser dito que eras um qari, e assim foste
referido’. E então ordens serão dadas contra ele e ele será arrastado pelo
rosto e atirado no Fogo. Depois um homem será trazido, a quem Allah

106
fez abundantemente rico e a quem Ele concedeu todo o tipo de riqueza.
Ele será trazido perante Allah e Ele pedir-lhe-à para recontar as Sua bên-
çãos, e então ele reconta-las-à. E então Allah perguntará ‘O que costu-
mavas fazer?’. Ele dirá ‘Eu gastei dinheiro de todas as formas que Tu de-
sejavas que este fosse gasto’. Allah dirá “Estás a mentir. Tu fizeste isso
para que pudesse ser dito que eras um homem generoso, e assim foste
referido’. E então Allah dará a ordem e ele será arrastado pelo rosto e ati-
rado no Fogo.’”114

Neste hadith nós podemos ver como foi o amor pela vida deste
mundo que impediu estas três pessoas da recompensa e rendeu as
suas ações como inúteis, fazendo delas as primeiras a entrar no Fogo.

Quarto, o amor pela vida deste mundo também faz o servo ficar
preocupado com ele e impede-o de realizar ações que poderiam benefi-
ciá-lo no próximo mundo. Há muitos tipos de pessoas nesta categoria:
há aquelas cuja preocupação com esta vida distrai-as do Islam e as
suas leis completamente; aquelas que estão distraídas de muitos dos
seus deveres religiosos; aqueles que são distraídas de qualquer dever
que entrave os seus planos e esquemas para o adquirir; aquelas que
são distraídas de cumprir as suas obrigações religiosas nos tempos e
maneiras certos, assim desperdiçando o seu tempo e negligenciando os
seus deveres; aquelas cujos corações estão demasiado preocupados
com esta vida para serem capazes de dar atenção total à sua adoração
quando elas cumprem os seus deveres religiosos; e aquelas cujos cora-
ções não são devotos a Allah, e assim o cumprimentos destes deveres
é só uma exibição exterior sem qualquer sinceridade interior - e estas
são o tipo menos comum dentre os amantes desta vida.
Uma forma menos extrema de amor pela vida deste mundo é o
que apenas distrai o servo da sua verdadeira fonte de felicidade: que é
dedicar o seu coração ao amor pelo seu Senhor, e a sua língua à lem-
brança d’Ele. Amor e obsessão pela vida deste mundo limitam, inevita-
velmente, as oportunidades de um servo no próximo mundo, da mesma
maneira que amor pelo próximo mundo limita a sua vida neste mundo.

Quinto, o amor pela vida deste mundo fá-lo a primeira preocupa-


ção do servo. Anas Ibn Malik (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬relatou que o Mensageiro de
Allah ‫ ﷺ‬disse “Quem estiver preocupado com a próxima vida, Allah co-
locará riqueza dentro do seu coração, e reunirá as pessoas a seu redor,
e assim a vida virá e oferecer-se-à para ele. Quem estiver preocupado
com esta vida, Allah fará a pobreza aparente nos seus olhos, e afastará
114
Muslim, Kitab Al-Jihad, 13/50.

107
as pessoas do seu redor, e só o que foi decretado para ele neste
mundo, virá até ele.”115

Sexto, aquele que mais ama a vida deste mundo é aquele que
mais sofre nesta. O seu sofrimento é de três tipos: o sofrimento nesta
mesma vida como resultado do seu esforço em alcançar ganhos mun-
danos e a sua competição com outras pessoas sobre eles; o seu sofri-
mento no barzakh porque ele perdeu nesta vida e arrepende-se das
suas oportunidades perdidas - pois agora ele está no seu caminho para
encontrar Allah em tal estado que ele deseja nunca encontrá-Lo; e o seu
sofrimento porque ele não teve êxito em encontrar um substituto para Ele
nesta vida. Tal homem sofre o tormento mais severo na sua sepultura.
Amargura, depressão e arrependimento, tudo isso devora a sua alma, da
mesma forma que os vermes devoram o seu corpo.
Resumindo, aquele que ama a vida deste mundo sofre neste
mundo, na sua sepultura e no Dia em que ele encontrar o seu Senhor.
Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz:

“Então, não te admires de suas riquezas e de seus


filhos. Apenas, Allah não deseja, com isso, senão
castigá-los na vida terrena, e que morram, en-
quanto renegadores da Fé.” [9:55]
Um dos nossos antecessores virtuosos disse sobre este verso
“‘Allah não deseja, com isso, senão castigá-los’ através do seu esforço
em adquirir este mundo; ‘e que morram’ como resultado do seu amor
por este; ‘enquanto renegadores da Fé’ porque eles negaram os direitos
devidos a Allah neste.”

Sétimo, aquele que ama a vida deste mundo e prefere-a em detri-


mento da próxima vida é o mais baixo da criação e o menos inteligente:
ele prefere ilusão em vez de realidade, sonhar em vez de estar acor-
dado, a sombra de vida curta em vez de felicidade eterna, e o abrigo
temporário em vez da morada duradoura. Ele troca a sua vida na akhira
pela que não é mais do que uma ilusão. Uma vida que não é mais do
que uma sombra passageira não pode enganar nenhum muçulmano
que tenha intelecto.

Alguns dos nossos antecessores costumavam citar estes versos


de poesia:

115
Sahih, at-Tirmidhi, Kitab az-Zuhud, 6/165; Ibn Ma’jah, Kitab az-Zuhud, 2/1375.

108
Ó povo que encontra prazer
num mundo que desaparecerá,
apaixonar-se por uma sombra que se desvanece
é pura estupidez!

Yunus Ibn Abdal-‘Ala disse “Para mim, a vida deste mundo pode
ser comparada com um homem que adormece, e num sonho ele vê
tudo o que ele gosta e tudo o que ele não gosta, e enquanto ele está
neste estado, ele de repente acorda!”

Uma das coisas que pode facilmente ser comparada a esta vida é
a sombra: parece ser permanente, mas na realidade é um estado cons-
tante de encurtar e ampliar, e quando se tenta persegui-la e agarrá-la -
não é possível! Também pode ser comparada a uma miragem no de-
serto que:

“…o sedento crerá ser água e, quando se aproxi-


mar dela, não encontrará coisa alguma. Porém,
verá ante ele Allah, que lhe pedirá contas, porque
Allah é Expedito no cômputo.” [24:39]
A vida deste mundo pode também ser comparada com uma mu-
lher velha, deformada e repulsiva, que é falsa e enganadora para quem
se propõem a ela. Ela veste-se com todos os adornos e vestimentas bo-
nitas para esconder a sua feiúra e inconstância. Os seus pretendentes,
enganados pela sua aparência exterior, eventualmente se propõem. Ela
diz-lhes “Não quero qualquer dote de ti - excepto que desistam da pró-
xima vida: Eu e a próxima vida somos inimigas mortais, e não somos
nem permitidas, nem autorizadas a encontrarmo-nos uma com a outra”.
Os pretendentes, completamente hipnotizados pelas suas palavras, res-
pondem “Não há culpa para aqueles que devem ser unidos com quem
amam”. Quando, no entanto, eles levantam o véu dela, e o seu disfarce
é revelado, eles encontram-se em todo o tipo de dificuldades. Alguns
deles divorciam-se dela e libertam-se do fardo, enquanto outros, por ou-
tro lado, decidem permanecer com ela - só para acabar, na manhã de-
pois do casamento, tristes e deprimidos.
Por Allah! O seu convite convida todo o mundo a apressar-se e
alcançar não o sucesso, mas o fracasso - e, no entanto, os seus admi-
radores procuram por união com ela, noite e dia. Eles apressam-se para
se encontrarem com ela na escuridão, para se encontrarem, na manhã
seguinte, desmoralizados e com as suas esperanças destruídas. Eles
caem bem na armadilha dela, e ela consigna-os ao seu destino.

109
VINTE E UM
ARREPENDIMENTO
Desviar-se de más ações voltando para o Ocultador de falhas e o
Conhecedor de todos os segredos é o princípio daqueles que viajam
para Ele, o investimento inicial daqueles que finalmente obtêm lucro, o
primeiro passo na busca pelo Seu Rosto, a chave para corrigir o que
não está correto, e o primeiro nível na seleção daqueles que Lhe serão
aproximados.

A estação de se voltar em arrependimento está no início, no meio


e no fim. O servo que O procura nunca a abandona. Ele permanece nela
até à sua morte. Se ele se move para outra estação, ele leva-a com ele
e chega com ele. Voltar-se em arrependimento é o começo do servo e o
seu fim. Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz:

“Ó crentes, voltai-vos todos, arrependidos, a Al-


lah, a fim de que vos salveis!” [24:31]
Este verso está numa surah de Madinah na qual Allah Se dirige às pes-
soas de iman e aqueles que foram honrados dentre a Sua criação. Ele
disse-lhes para se Lhe voltarem em arrependimento depois de já terem
acreditado, feito hijrah, e lutado em jihad. Então Ele fez o sucesso condi-
cional ao arrependimento, usando a expressão “a fim de” para tornar os
crentes cientes de que eles só podem esperar por sucesso se se volta-
rem para Ele em arrependimento. Que Allah nos faça segui-los. Allah diz:

“E aqueles que não se arrependem serão os


iníquos.” [49:11]
Ele distingue entre servos arrependidos e os iníquos, e não faz qualquer
outra distinção. Ele chama aqueles que não se voltam arrependidos, iní-
quos e malfeitores, e diz que ninguém é mais malfeitor do que tal pes-
soa, por causa da sua ignorância quanto ao seu Senhor e dos direitos
que Lhe são devidos, e por causa das suas próprias falhas e o dano das
suas ações.

O Profeta ‫ ﷺ‬disse “Ó povo, voltem-se arrependidos a Allah! Eu


juro por Allah que eu me volto arrependido para Ele mais de setenta ve-
zes por dia.”116

116
Sahih, Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/101.

110
O arrependimento é o voltar do servo para Allah e o seu desvio da
companhia daqueles que se desviam da senda reta e aqueles que con-
vidam a ira de Allah.
Há três condições para o arrependimento ser válido se a má ação
tem a ver com o que é devido a Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫)ﺳﺒﺤﺎﻧ‬: sentir remorso, aban-
donar a má ação, e resolver nunca mais repeti-la.

O arrependimento é inválido sem remorso porque se não existe


remorso por ter feito algo errado, então isso implica de que isso é consi-
derado aceitável, também como sendo aceitável fazê-lo de novo. O Pro-
feta ‫ ﷺ‬disse “Sentir remorso é parte do arrependimento.”117

Abandonar a má ação é crucial, porque o arrependimento é insig-


nificativo se a má ação continua a ser feita.

A terceira condição, resolver nunca mais repetir a má ação, de-


pende em essência da sinceridade desta decisão e da sua honestidade.
Alguns ‘ulama disseram que repetir a má ação invalida o arrependimento,
argumentando que se alguém que se arrependeu volta para a má ação,
sempre que esta ocorre, então isto mostra que o seu arrependimento foi
falso e então inválido. A maioria, no entanto, conclui que não é necessa-
riamente uma condição.
Se a má ação foi cometida contra um ser humano, então aquele
que se arrepende deve corrigir qualquer dano que tenha causado ou fa-
zer as pazes com a pessoa cujos direitos ele infringiu. O Profeta ‫ﷺ‬
disse “Qualquer um de vós que esteja em dívida para com o seu irmão
no Islam deve pagar a sua dívida hoje, antes do tempo chegar em que
não haverá dinheiro, e só as boas ações e más ações contarão.”118

Este tipo de má ação é uma transgressão contra dois partidos,


cada um tendo os seus próprios direitos particulares. O malfeitor mostra
arrependimento, pagando ao outro ser humano o que lhe é devido, e
pagando o que é devido a Allah, sentindo remorso interiormente pela sua
má ação. Este remorso é um assunto privado, entre ele e o seu Criador.

117
Sahih, Ahmad Ibn Hanbal, Al-Musnad, 1/376, pela autoridade de Ibn Mas’ud.
Sheikh Shakir diz que o seu isnad é sahih. Também relatado por Al-Hakim, Al-Musta-
drak, 4/243.
118
Al-Bukhari, Kitab Al-Mashalim, 5/101 e Kitab Ar-Riqaq, 11/395, pela autoridade de
Abu Huraira.

111
Há vários tipos particulares de arrependimento, dos quais mencio-
namos os seguintes:

Primeiro, o arrependimento por falar pelas costas e calúnia, onde


a questão surge sobre se a pessoa que foi difamada na sua ausência
deve ser informada do arrependimento do malfeitor, e consequente-
mente vir a saber sobre um mal que ele poderia ter permanecido igno-
rante sobre.

Ambas as madhahib do Imam Abu Hanifa e do Imam Malik fazem


informar a pessoa que foi difamada uma pré-condição para a validade
do arrependimento. Eles argumentam a favor disto devido ao hadith
mencionado acima.

A outra opinião, que é a de Ibn Taymiyya, não considera isto


como necessário. Pelo contrário, ele julga que é suficiente para o malfei-
tor arrepender-se em privado a Allah, e falar da pessoa caluniada na
mesma companhia em que ele lhe tinha previamente difamado, mas
desta vez em termos opostos àqueles que originalmente causaram o
problema; e ele deve também pedir a Allah por perdão.
O seu argumento é que se alguém contar à pessoa que esta foi
difamada, então isto traz o mal à sua atenção, e só causa mais proble-
mas sem alcançar qualquer bem. Allah não faz a precipitação de tais as-
suntos permissível, quanto mais fazê-la como obrigatória ou ordenar-nos
a agir como tal.

Segundo, o arrependimento por roubo de dinheiro deve incluir a


devolução desse dinheiro aos seus devidos donos. Se o arrependido
não sabe a quem o dinheiro pertence, ou se não é possível devolver o
dinheiro por qualquer outra razão, então ele deve dar o equivalente em
caridade pela pessoa que foi roubada.
No Dia do Juízo, eles terão a escolha de aprovar a sua ação - em
cujo caso a recompensa pela caridade vai para eles - ou desaprová-la e
ter o que for devido a eles da sua recompensa - em cujo caso a recom-
pensa da caridade vai para o que se arrependeu, pois Allah nunca anula
a recompensa por caridade.

Foi relatado que Ibn Mas’ud (!‫ )'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬uma vez comprou uma
escrava de um homem. Quando ele foi pagar, o homem tinha desapare-
cido. Ibn Mas’ud esperou em vão que o homem voltasse, e eventual-
mente deu o dinheiro em caridade, dizendo “Ó Allah, esta sadaqa é em

112
nome daquele homem. Se ele aprovar esta sadaqah, então a sua re-
compensa será dele, e se ele não aprovar, então a recompensa será mi-
nha e ele recebe uma recompensa igual à minha recompensa.”

Terceiro, qual é a posição de alguém que recebe pagamento por


fazer algo haram, tal como vender álcool, cantar, ou dar falso testemu-
nho, e depois se arrepende enquanto o dinheiro ainda está em sua
posse?

Um grupo de ‘ulama diz que ele deve devolver o dinheiro a quem


o deu, visto que isto ainda pertence ao que fez o pagamento porque a
transação não foi halal e não resultou em nenhuma recompensa halal de
Allah. Outro grupo de ‘ulama diz - e este julgamento é o mais correto -
que o seu arrependimento só pode ser válido se ele der o dinheiro em
caridade, pois como pode ele devolver o dinheiro que foi gasto na deso-
bediência a Allah?
O mesmo princípio aplica-se a alguém cujo dinheiro halal e haram
se tornam tão misturados que ele não consegue mais distinguir entre os
dois: ele deve dar em caridade qualquer quantia que ele ache ser de lu-
cro haram, e purificar o que resta. Allah sabe mais.

Outra questão é esta:

Quando um servo se volta em arrependimento por uma má ação,


ele volta ao nível na qual ele estava antes de cometer essa má ação?

Um grupo de ‘ulama diz que ele volta para o mesmo nível que ele
estava antes de cometer essa má ação, porque o arrependimento apaga
a má ação completamente, e é como se a ação nunca tivesse aconte-
cido.
Outro grupo diz que ele não volta ao mesmo nível, argumentando
que visto que ele estava a avançar antes de cometer essa má ação, e
visto que cometê-la fê-lo andar para trás, então quando ele se arre-
pende, ele perde o equivalente da distância que ele poderia ter feito en-
tão, se ele não tivesse cometido a má ação!

Ibn Taymiyya disse “O julgamento correto é que alguns dos que


se arrependem não voltam ao seu nível anterior, enquanto que outros
avançam para um nível ainda mais alto e tornam-se melhores do que
eram antes de cometer a má ação.”

113
Por exemplo, o Profeta Dawud (‫! ﺳﻠﻢ‬5‫ )ﻋﻠ‬estava num nível melhor
depois de se arrepender do que ele estava antes de ter cometido a má
ação.

Aqui está uma metáfora para esclarecer mais o assunto:

Um viajante estava a avançar, sentindo-se confiante e seguro, ca-


minhando um pouco e depois correndo um pouco, e depois descan-
sando e dormindo. Ele deparou-se com um sítio com sombra, com água
fresca em abundância e um jardim com flores, e decidiu descansar por
um momento. Enquanto ele relaxava, ele foi atacado por um inimigo que
o agarrou e amarrou. Ele viu destruição iminente e pensou que o seu fim
tinha chegado, que ele poderia tornar-se presa para leões e nunca che-
gar ao seu destino. Enquanto ele estava neste estado, preocupado com
pensamentos de desespero, o seu pai misericordioso e carinhoso apa-
receu de repente perante ele. Ele desamarrou-o e disse-lhe para conti-
nuar e para ter cuidado com o inimigo que se escondia em emboscada
ao longo da estrada. Ele assegurou-o de que desde que ele permane-
cesse alerta e vigilante, que ele não seria dominado, mas se ele fosse
negligente, ele seria mais uma vez capturado. O seu pai disse que ele
continuaria mais adiante e orientá-lo-ia ao seu destino. Se o viajante per-
manecesse alerta e mantivesse a sua mente no presente e permane-
cesse preparado para o seu inimigo, então a sua viagem seria melhor do
que tinha sido antes, e ele poderia chegar mais rapidamente. Se, por
outro lado, ele se esquecesse sobre o seu inimigo e voltasse ao seu es-
tado anterior de desatenção e esquecimento, indiferente ao perigo e só
ciente do jardim agradável, então ele mai uma vez tornar-se-ia um alvo
fácil.

114
Arrependimento Sincero
Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz:

“Ó crentes, voltai, sinceramente arrependidos, a


Allah; é possível que o vosso Senhor absolva as
vossas faltas e vos introduza em jardins, abaixo
dos quais correm os rios, no dia em que Allah não
aviltará o Profeta e aqueles que com ele crerem.”
[66:8]
Para o arrependimento ser verdadeiro e sincero, este deve estar
livre de fraude, defeitos e corrupção.

Al-Hasan Al-Basri disse “É quando o servo sente remorso pelo


que aconteceu e resolve nunca mais repeti-lo”.

Al-Kalbi disse “É quando o servo pede por perdão com a sua lín-
gua, sente remorso com o seu coração, e restringe os seus membros.”

Sa’id Ibn Al-Musayyib disse “Arrependimento sincero é aquilo com


que se purifica as almas.”

Ibn Al-Qayyim disse “Ser sincero ao voltar-se em arrependimento


consiste em três coisas: deve incluir todas as más ações daquele que se
arrepende, não deixando nenhuma de lado; deve ser acompanhado de
completa sinceridade e determinação, para que aquele que se arre-
pende não hesite ou atrase, mas invoque toda a sua vontade e determi-
nação e desembarque nela de coração; e deve ser livre de quaisquer im-
purezas e falhas que possam manchar a sua sinceridade, para que seja
inspirada por temor a Allah, esperança pelo que Ele tem, e pavor por
qualquer castigo que Ele possa infligir - e não por qualquer desejo para
proteger as suas posses, ou a sua família, ou o seu estatuto social, ou a
sua influência, ou atrair o louvor das pessoas, ou escapar as suas incri-
minações, ou evitar ser chateado por aborrecimentos, ou para satisfazer
o seu apetite por esta vida, ou por causa da sua falência financeira ou in-
capacidade de lidar, ou quaisquer destas doenças que afectariam a vali-
dade do seu arrependimento e a sua sinceridade para com Allah ( !‫ﺳﺒﺤﺎﻧ‬
‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬.).

115
O primeiro elemento do arrependimento sincero diz respeito à
ação pela qual o arrependimento é feito. O segundo diz respeito à pró-
pria pessoa que se arrepende. O terceiro diz respeito Àquele perante
Quem ele se arrepende.

A sinceridade do arrependimento significa que esta é verdadeira e


inclui todas as más ações. Não há dúvida que tal arrependimento requer,
e inclui, pedir por perdão, e que este leva a todos os pecados cometidos
serem apagados. É um arrependimento excelente e perfeito.”119

O arrependimento sincero de um servo a Allah é garantido com


perdão de Allah mesmo antes deste acontecer, e com perdão d’Ele de-
pois deste acontecer. Noutras palavras, o servo volta-se em arrependi-
mento entre dois atos de perdão de Allah que asseguram a sua salva-
ção. O primeiro ato de perdão de Allah é uma permissão, uma inspira-
ção, e um meio de ajuda que leva o servo a voltar-se em arrependi-
mento - que então resulta em mais perdão de Allah. O segundo ato de
perdão é o de aceitação e recompensa. Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬diz:

“Também absolveu os três que se omitiram (na ex-


pedição de Tabuk) quando a terra, com toda a sua
amplitude, lhes parecia estreita, e suas almas se
constrangeram, e se compenetraram de que não
tinham mais amparo senão em Deus. E Ele os ab-
solveu, a fim de que se arrependessem, porque
Deus é o Remissório, o Misericordiosíssimo.”
[9:118]
Aqui, Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬informa-nos que o Seu voltar em perdão
para eles precedeu o voltar deles em arrependimento a Ele, e foi isto que
tornou possível eles voltarem-se em arrependimento em primeiro lugar.
Ele foi a causa do arrependimento deles - o que é parte do segredo de
que Ele é chamado de “Al-Awwal wa’l Akhir” (O Primeiro e o Último). É
Ele que torna as coisas possíveis e ajuda-as a tornarem-se realidade; a
causa é d’Ele é a consequência é d’Ele.

O servo arrepende-se constantemente e Allah sempre concede o


perdão. O arrependimento do servo é o retorno ao seu Senhor depois
de se ter desviado. O perdão de Allah é de dois tipos, um é a permissão
e ajuda, e o outro é a aceitação e recompensa.
119
Ibn Al-Qayyim, Madarij as-Salikin, 1/310.

116
O arrependimento tem um início e um fim:

O seu início é voltar-se para Allah, caminhando na senda reta que


Ele ordenou os Seus servos a seguir:

“Esta é a Minha senda reta. Segui-a e não sigais


as demais, para que estas não vos desviem da
Sua.” [6:153]
O seu fim é retornar a Ele no Dia que já foi decretado, seguindo o
caminho que Ele ordenou, e o qual leva ao Seu Jardim. Quem se volta
em arrependimento a Allah nesta vida, Allah voltar-Se-à para ele e re-
compensá-lo-á na Hora decretada:

“Quanto àquele que se arrepender e praticar o


bem, converter-se-á a Allah sinceramente.”
[25:71]

Os Aspectos Subtis e Ocultos do Arrependimento


Se um servo sensato comete uma má ação, há várias coisas que
ele deve considerar:

Primeiro, ele deve considerar as ordens e proibições de Allah e


concluir que esta foi uma má ação e admitir que ele a fez.

Segundo, ele deve considerar as promessas e avisos de Allah, o


que despertará temor e fá-lo-á voltar-se em arrependimento.

Terceiro, ele deve considerar o facto de que Allah lhe deu a possi-
bilidade e a capacidade de se voltar em arrependimento, quando Ele po-
deria tê-lo impedido de cometer a má ação em primeiro lugar.

Isto lhe dá alguma compreensão da natureza de Allah- Seus No-


mes, Seus Atributos, Sua sabedoria, Sua misericórdia, Sua tolerância, e
Sua generosidade. Isto lhe dá uma qualidade de adoração a Allah que
ele nunca teria alcançado se ele permanecesse ignorante sobre estes
assuntos. O servo reconhece a relação entre a criação de Allah e as
Suas promessas e avisos e os Seus Nomes e os Seus Atributos, e vê
que esta relação requer estes Nomes e Atributos, e a sua manifestação
na criação.

117
Esta compreensão abre para o servo jardins de conhecimento, e
fé, e os segredos do decreto, e sabedoria, e o domínio das palavras é
demasiado limitado para os conter e exprimir.

Algo do que pode ser dito é que o servo aprende sobre o Poder
de Allah, que é manifestado no Seu decreto - isto é, que Ele (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫)ﺳﺒﺤﺎﻧ‬
decreta o que Ele quer. Ele também aprende que através da perfeição
do Seu Poder, Ele decretou que o coração do servo deve inclinar-se, e
será direcionado para o que quer que Ele deseje, e que Ele vem entre o
servo e o seu próprio coração.

Ao reconhecer algumas das manifestações do Poder de Allah que


nos são aparentes através do Seu decreto, ele vê que ele é parte de
uma criação ordenada e modelada, cujo controlo está em Mãos que não
as dele. Ele só está a salvo quando Allah o protege, e ele só tem êxito
quando Allah lhe dá sucesso. Ele é banal e insignificante, nas Mãos do
Poderoso, Louvável.

Ao ganhar compreensão sobre o Poder manifestado através do


Seu decreto, o servo testemunha facto de que toda a perfeição, louvor e
poder é de Allah, e que ele mesmo é aquele com todas as deficiências e
defeitos culpáveis, cheio de falhas, imperfeições e necessidades.
Quanto mais ele percebe a sua própria insignificância e os seus defeitos
e fraquezas, mais ele testemunha o poder e riqueza de Allah, e mais fica
ciente de que só Allah é perfeito.

O servo aprende que Allah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬oculta a má ação quando


esta é cometida, mesmo quando Ele é Onividente e perfeitamente ca-
paz, se assim desejar, de a expor. Ao reconhecer que Allah concede um
tempo ao malfeitor - mesmo quando Ele poderia ser rápido no castigo se
assim desejasse - a indulgência de Allah é revelada àquele que se volta
em arrependimento, e ele ganha uma compreensão dos significados do
Seu Nome “Al-Halím” (O Indulgente).

O servo torna-se familiar com a dádiva do perdão de Allah. É uma


bênção d’Ele. Quando Ele julga com severidade, Ele é Justo e Louvável,
mas o Seu perdão surge da Sua misericórdia, e o servo não está intitu-
lado a isso como direito. Isto significa que o servo deve ser-Lhe agrade-
cido, e amá-Lo e voltar-se para Ele em arrependimento, reconhecendo e
confiando no Seu Nome “Al-Ghaffar” (O Perdoador Constante).

118
Allah orienta o Seu servo através das estações da humildade,
submissão, rendição e expressando a sua necessidade de ajuda - que
estão em quatro etapas: a humildade que surge por necessidade e po-
breza, que é um atributo geral de todas as criaturas; a humildade da
obediência e submissão, que só pertence aos que O obedecem; a hu-
mildade do amor, pois o que ama é especialmente humilde, e o nível da
sua humildade está em proporção direta ao seu amor; e a humildade
que surge como resultado de desobediência e má ação que são elas
próprias uma consequência da pobreza e necessidade na qual resultam.

Quando todas as etapas são completas, humildade perante Allah


e submissão a Ele são completas e perfeitas. O servo reconhece que o
Nome de Allah “Ar-Razzaq” (O Sustentador) revela-se no que é susten-
tado, e que os Seus Nomes “As-Samí’” e “Al-Basír” (Oniouvinte e Onivi-
dente), revelam-se no que é visto e ouvido.

Da mesma forma, os Seus Nomes “Al-Ghafur”, “Al-Afu’”, “At-


Tawwab” (O Perdoador, O Apagador de Más Ações, Aquele que Com-
padece e Se Volta em Perdão) revelam-se em alguém a quem Allah per-
doa, e cujas más ações são apagadas, e que é perdoado constante-
mente. É impossível para o servo, ignorar as implicações e requerimen-
tos destes Nomes e Atributos.

Isto foi notado pelo mais sábio de toda a criação de Allah, o Seu
Mensageiro ‫ﷺ‬, quando ele disse “Se vocês não cometessem más
ações, Allah removê-los-ia e substitui-los-ia por um povo que cometesse
más ações, para que eles pudessem procurar pelo perdão de Allah e Ele
conceder-lhes-ia o Seu perdão.”120

Anas Ibn Malik Al-Ansari relatou que o Mensageiro de Allah ‫ ﷺ‬disse “Al-
lah fica mais satisfeito com o arrependimento do Seu servo do que uma
pessoa montando um camelo num deserto sem água e perde o seu ca-
melo e todas as suas provisões de comida e bebida que este carrega.
Tendo abandonado toda a esperança de encontrar o camelo, ele senta-
se na sombra de uma árvore que encontra. Enquanto ele descansa, ele
de repente vê o camelo parado à sua frente. Ele agarra nas suas cordas
e depois, em plena felicidade, profere abruptamente ‘Ó Senhor, Tu és o
meu Servo e eu sou o Teu senhor!’. Ele comete este erro por plena felici-
dade.”121

120
Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/65.
121
Al-Bukhari, Kitab ad-Da’awat, 11/102; Muslim, Kitab adh-Dhikr wa’d-Du’a, 17/63,
pela autoridade de Anas (!‫)'ﺿﻲ ﷲ ﻋﻨ‬.

119
Vamos assumir que uma pessoa a quem você ama muito foi cap-
turada por um inimigo e impedida de o encontrar, e você sabe que este
inimigo infligirá todo o tipo de torturas na sua amada e destrui-la-á, e que
você é muito melhor para ela do que o seu inimigo - pois ela é alguém
que você nutriu. Depois imagine que ela escapa deste inimigo e vem até
você sem deixá-lo saber antecipadamente, e você fica surpreendido em
vê-la à sua porta, elogiando-o, e esperando pelo seu agrado, com o seu
rosto manchado com o pó da sua entrada. Quão feliz você estaria com
este retorno, vendo que você já a tinha feito sua antes, aprovando a sua
aproximação a você, e favorecendo-a acima de toda a gente?

Este é o sentimento que você experimenta - mesmo quando não


foi você que o trouxe à existência e lhe concedeu as suas bênçãos. Al-
lah (‫ﺗﻌﺎﻟﻰ‬. !‫ )ﺳﺒﺤﺎﻧ‬é Aquele que trouxe o Seu servo à existência, criou-o, e
concedeu-lhe as Suas bênçãos - e Ele gosta de completar as Suas
bênçãos nele!

O nosso desejo final é que você não se esqueça de pedir a Allah


para que nós tenhamos verdade, sinceridade, certeza, perdão, e saúde
neste mundo e no próximo. Nós pedimos a Allah para estar entre aque-
les cuja última súplica é:

Todo o louvor para Allah, Senhor dos mundos.

Tua é a Glória, nosso Senhor, e a Ti todos os louvores


pertencem.

Eu testemunho que não há divindade senão Tu, e eu


refugio-me no Teu perdão e volto-me em arrependimento
a Ti.

120
121

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