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Instituto Batista Missionário

HERMENÊUTICA
Professor: Pr. Alexandre B. Dutra
Apostila feita por: Paulo Henrique Tavares – Professor do Seminário Batista Emaús

I – EMENTA:

Um estudo dos princípios básicos da interpretação bíblica, que se atém a mostrar alguns tipos
de literaturas que compõem o texto bíblico em sua peculiaridade. A disciplina inclui uma abordagem
introdutória para aproximar o aluno, não somente do método de interpretação, mas também da sua
aplicação no estudo bíblico. Toda a base do curso está centrada em mostrar a importância de se
interpretar o texto bíblico de modo literal, assim valorizando o método histórico-litero-gramatical.

II – OBJETIVOS:

O propósito deste curso é levar o aluno a conhecer os princípios básicos da hermenêutica


bíblica, e assim poder avaliar o estudo bíblico diante de diversas nuanças propostas. Da mesma
forma visa levar o aluno a conhecer alguns métodos de interpretação e aplica-los aos estilos literários
específicos.

No final do curso o aluno será capaz de:

1) Explicar a importância da hermenêutica para o estudo e ensino correto das Escrituras Sagradas.

2) Estabelecer métodos de interpretação coerente.

3) Usar os métodos de hermenêutica bíblica no estudo das Escrituras.

4) Interpretar alguns tipos literários da bíblia aplicando os métodos hermenêuticos.

III – CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO:

1) Freqüência às aulas. Com 25 % de falta o aluno será reprovado.

2) Leitura – 30% Data:


FEE, Gordon D. & STUART Douglas. Entendes o Que Lês? São Paulo: Edições Vida Nova,
1984

3) Trabalhos no decorrer das aulas – 30%

Atividade Data
Uma interpretação de Mt 25.1-13
Faça a interpretação de Jo 11.35
Qual o significado do “lava pés” Jo 13

4) Exercícios em sala – 15%

5) Trabalho acadêmico – 25% Data:

Escolher um método de literatura especial (narrativas, apocalíptica, parábola, etc.) discorrer


sobre ele e aplicar os princípios em um texto bíblico como exemplo. Fonte arial 12, espaçamento 1,5,
mínimo de 2 páginas.

IV – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

- Pano de Fundo e definições de termos


- A necessidade da hermenêutica
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- As qualificações do Hermeneuta
- História da interpretação
- As relações da Hermenêutica com as demais disciplinas do estudo bíblico
- Princípios de Interpretação Bíblica (Geral e especial)
- Métodos literários
V – BÍBLIOGRAFIA BÁSICA:

Apostila compilada pelo Professor Paulo Henrique Tavares – Professor do Seminário


Batista Emaús

ZUCK, Roy B. A Interpretação da Bíblia. São Paulo: Edições Vida Nova. 1994

VI – BÍBLIOGRAFIA SUGERIDA:
CARSON, D. A. Os Perigos da Interpretação Bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova. 2 ed.
2001

DOCKERY, David S. Hermenêutica contemporânea à luz da Igreja Primitiva. São Paulo:


Vida, 2005

ERICKSON, Millard J. Opções Contemporâneas na Escatologia: um estudo do milênio. São


Paulo: Edições Vida Nova, 1982.

FEE, Gordon D. & STUART Douglas. Entendes o Que Lês? São Paulo: Edições Vida Nova,
1984.

GRUDEM, Wayne, editor. Cessaram os Dons Espirituais? 4 pontos de vista. São Paulo:
Editora Vida, 1996.

GUNDRY, Stanley, editor. Lei e Evangelho: cinco pontos de vista. São Paulo: Editora Vida,
2003.

HABERSHON, Ada. Manual de Tipologia Bíblica. São Paulo: Editora Vida.

LUND, E. e NELSON, P. C. Hermenêutica, princípios de interpretação. São Paulo: Vida,


2007

LOCKYER, Herbert. Todas as Parábolas da Bíblia. São Paulo: Editora Vida. 1999.

LOPES, A. Nicodemus. A Bíblia e seus Interpretes. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004.

MCDOWELL, Josh. Evidencias que Exigem Um Veredicto. São Paulo: Editora Candeia,
1992.

PATE, C. Marvin, editor. As Interpretações do Apocalipse. 4 pontos de vista. São Paulo:


Editora Vida. 2001.

PENTECOST, J. Dwight. Manual de Escatologia. São Paulo: Editora Vida. 1998.

VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Editora Vida. 2001.

VANHOOZER, Kevin. Há Um Significado Neste Texto. São Paulo: Editora Vida. 2006.

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ZUCK, Roy B. A Interpretação da Bíblia. São Paulo: Edições Vida Nova.1994.


1- INTRODUÇÃO.

Antes de iniciarmos nosso estudo sobra à interpretação bíblica é necessária uma


averiguação de seu sentido, avaliar a origem e a etimologia, e assim, formar um pano de
fundo que nos ajudará a entendermos o que é a hermenêutica.

1.1 Pano de Fundo e Definições.

1.1.1- Origens:

Diz-se que a palavra hermenêutica deve sua origem ao nome de Hermes, o deus
grego que servia de mensageiro dos deuses, transmitindo e interpretando suas
comunicações aos seus afortunados ou, com freqüência, desafortunados destinatários1.

1.1.2- Etimologia e uso na Bíblia:

1.1.2.1 - Dicionário Aurélio.

“Interpretação do sentido das palavras; interpretação dos textos


sagrados; arte de interpretar leis.”

1.1.2.2 - Grego.

No Grego Clássico, hermeneuo significa “explicar”, “expor”, ou,


“interpretar” (e.g. Platão, Rep., 5, 453c; Sófoles, Oedipus Coloneus 398, onde
hermeneue moi significa ou “explica-me” ou “conta-me com clareza”)2.

Na LXX, o significa usual de hermeneuo é “traduzir” em Ed 4.7, representa


o Hebraico targem: algo é escrito em aramaico juntamente com uma
“tradução”3.

No Novo Testamento, em mais da metade das dezenas de ocorrências de


“hermeneuo” e palavras que se relacionam com ela, significam “traduzir” num
sentido direto. Em suma, o verbo “hermeneuo” e o substantivo “hermeneia”

1
VIRKLER, Henry. Hermenêutica Avançada. São Paulo: Editora Vida, 2001. p. 9
2
COENEN, Lothar e BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia. 2 ed. São Paulo, 2000. p.777.
3
COENEN, op. Cit. p. 778
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significam “traduzir; interpretar; explicar” (I Co 12. 10; 14.28; Lc 24.27; Jo


1.38)4.
1.1.2.3 - Hebraico:

No Velho Testamento o verbo “pathar” (interpretar) e o substantivo


“pithron” (interpretação) foram usados sempre no contexto de sonhos.
Interpretar um sonho significava dar um significado a ele5.

1.1.3- Definição.

Diante destas analises e observações, podemos afirmar de maneira simplificar em


relação ao estudo bíblico que:

Hermenêutica é o estudo de princípios de interpretação e a


aplicação destes princípios no estudo das Escrituras Sagradas.

Em outras palavras, conforme Zuck, hermenêutica é a ciência (princípios) e a arte


(tarefa) de apurar o sentido do texto bíblico6. Ou seja, a hermenêutica é uma ciência,
por que ela tem normas, ou regras, e essas podem ser classificadas num sistema
ordenado. E uma arte, por se tratar de comunicação, e essa é flexível, e, portanto uma
aplicação mecânica e rígida das regras às vezes distorcerá o verdadeiro sentido da
comunicação. Exige-se do hermeneuta que ele aprenda as regras da interpretação bem
como a arte de aplicá-las.
Em termos práticos, a tarefa do hermeneuta pode ser classificada como sendo
duas:

1º - Descobrir o que Deus diz em Suas Escrituras determinando o seu


significado.

4
COENEN, op. Cit. p. 779
5
MERKH, David. Material não publicado. p. 1
6
ZUCK, Roy B. A interpretação Bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994. p. 22
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2º - Atravessar a distância entre a sua mente e a mente dos autores originais


da bíblia.

Exercício: Qual a tradução das várias formas da palavra hermeneuo nos


seguintes textos do Novo Testamento?
TEXTO TRADUÇÃO SIGNIFICADO
Lc 24.27
Jo 1.38,42
Jo 9.7
I Co 12.10
I Co 14.26
I Co 14.28
Hb 7.2

1.1.4 – Definições de Termos correlatos com a hermenêutica.

1.1.4.1 - Exegese:

É a descoberta do significado do texto bíblico no seu contexto histórico e


literário (Exe – gese é diferente de Eis – egese, em que o primeiro tira o
significado do texto bíblico, e o segundo impõe significado no texto bíblico )7.

1.1.4.2 - Exposição:

É a transmissão do significado do texto e de sua aplicabilidade ao ouvinte


moderno.

1.1.4.3 - Homilética:

Ciência (princípios) e arte (tarefa) de transmitir o significado e a


importância do texto bíblico sob a forma da pregação.

7
MERKH, op. Cit. p. 2
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1.1.4.4 - Pedagogia:

Ciência (princípios) e arte (tarefa) de transmitir o significado e a aplicação


do texto bíblico sob a forma do ensino.

1.2 – A Necessidade e a Importância da Hermenêutica?

Seria difícil não exagerar a importância da hermenêutica no estudo bíblico. O sistema


de interpretação de cada pessoa determina o seu destino eterno, o seu estilo de vida, a sua
escatologia, etc. Com muito temor devemos estabelecer a nossa hermenêutica, para não
confundir a voz de Deus com a voz dos homens.

“A única maneira... de determinar o que é certo e o que é errado, correto e não


correto, ortodoxo e herético, é dar de si para um estudo cuidadoso da ciência de
hermenêutica. Se não, tratamos sintomas e não causas (da doença); debatemos
sobre a superestrutura quando devemos estar debatendo sobre os alicerces8”

1.2.1 – Argumentos contra a hermenêutica.

1.2.1.1 - A Bíblia é um livro difícil de entender, quase impossível!

1.2.1.2 - Não basta apenas ler e fazer o que ela diz?

1.2.1.3 - Todo esse estudo complexo tira a Bíblia do homem e da mulher


comum.

1.2.1.4 - Todo esse estudo não está abafando, ou negando a ação e obra do
Espírito Santo?

1.2.1.5 - A Bíblia tem muitas interpretações, cada um tem direito de interpretar


do seu jeito!

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MERKH, op. cit. p. 3 em citação a RAMM.
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1.2.1.6 - A Bíblia torna-se a Palavra de Deus quando ela fala para mim.

1.2.1.7 - O que o texto significa para mim é o mais importante! Ele se aplica
devido às experiências que vivo!

1.2.2 – Por que estudar Hermenêutica?

A disciplina de hermenêutica torna-se necessária por vários motivos:

1.2.2.1 - Por causa da natureza do leitor.

Todo leitor já é um interprete, logo, todo leitor precisa aprender como


interpretar corretamente.
A Bíblia foi clara, e não complicada para os leitores originais. Mas estamos
separados deles por milhares de anos, separados da cultura, língua, história, etc.
sem princípios para nos orientar, podemos ficar perdidos no caminho de volta
para o significado original do texto.
A multiplicidade de interpretações nos exige uma metodologia
hermenêutica apurada e aprovada. Cada leitor e interprete, tem interpretações
erradas muitas vezes. Considere como os “significados claros” não são
igualmente claros para todos. Assuntos exemplos:

Batismo do/no Espírito. Lei e Graça. Modo de batismo.


Papel da mulher na igreja. Batismo de Crianças. Tribulação e milênio.
Segurança eterna. Uso do véu. Dons espirituais.
Futuro de Israel Dispensacionalismo e Aliancismo. Divórcio e re-casamento.

Todos somos cegos, ou quase cegos em algum aspecto de nossa


interpretação da Bíblia. A nossa tendência é procurar o que queremos que o texto
diga, para apoiar nossas próprias idéias prediletas. LER não significa
ENTENDER! Se olharmos para a história da igreja descobriremos que sermos o
único grupo que não cometeu nenhum desvio teológico é improvável.
Mesmo depois de aprendermos a interpretar a Bíblia corretamente,
divergências ainda existirão (Fl 3.15), pelo fato de que somo homens humanos,
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finitos, limitados, e sem conhecer todas as informações. Isso se torna ainda


maior o nosso desafio hermenêutico de descobrirmos a melhor interpretação
diante das más, e nas áreas em que não podemos deixar clara a interpretação
devemos considerar as demais interpretações, não sendo dogmáticos, intolerantes
e orgulhosos.

“Nas coisas essenciais, unidade; nas duvidosas, liberdade; em todas as


coisas, amor.” (Rupertus Meldenius)
1.2.2.2 - Por causa da natureza da Bíblia.

A tensão entre os aspectos humano e divino na Bíblia exige uma


interpretação apurada. Tudo isso faz com que as Escrituras, embora clara, sejam
às vezes difíceis de entender. O próprio apóstolo Pedro confessou ter
dificuldades com os escritos paulinos (II Pe 3.15,16). O eunuco precisava de
ajuda para interpretar Isaias (At 8).

 A Bíblia é um livro humano.

Ela possui um contexto humano. Deus escolheu comunicar sua


Palavra através das palavras humanas na história humana, por esta
razão, os livros da Bíblia são condicionados por fatores distantes de
nossa realidade. Existem lacunas entre o “lá então” e o “aqui agora” nas
seguintes áreas que dificultam o entendimento e exigem métodos de
interpretação:

Literatura Tempo Topografia


História Geografia Costumes
Língua Gramática Cosmovisão
Cultura Filosofia

 A Bíblia é um livro de autores humanos.

Além do contexto humano, os autores eram humanos; a


personalidade dos autores humanos da Bíblia também se expressa
através dos escritos. Movidos pelo Espírito Santo (II Pe 1.21) eles

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usaram de diversos gêneros literários para transmitir a mensagem


divina, e cada gênero tem sua peculiaridades que influenciam na
interpretação. Existem vários gêneros literários diferentes na Bíblia,
alguns dentre eles:

Lei História Narrativa


Genealogia Poesia Provérbios
Hinos Diálogo Profecia
Apocalipse Evangelho Parábola
Epístola
 A Bíblia é um livro Divino.

A Bíblia tem relevância eterna, isto é, ela fala para toda a


humanidade em todas as eras e em todas as culturas. Deus, o seu Autor,
garante a infalibilidade de suas Palavras, de fato que não exista
contradição, desunião, etc. De modo que quando a Bíblia fala, é Deus
quem está falando.

1.2.2.3 - Por causa dos abusos para com a Bíblia.

Já se foi afirmado que a Bíblia é a mãe de todas as heresias, ou seja, todas


as heresias são defendidas por seus idealizadores usando textos da Bíblia.
Qualquer seita, ou doutrina a tem usado para defender suas crenças, e isso pode
ser possível quando se ignora a coerência na interpretação, ou o desprezo da
hermenêutica, fazendo isso, cada um faz da Bíblia o que quiser.
Sem uma perspectiva correta da interpretação, não há limites para o
número e os tipos de interpretações que podem surgir da Bíblia. Sem princípios
de hermenêutica não temos como avaliar doutrinas estranhas, como por
exemplo:

 Mc 16.18 – (pegar em serpentes venenosas)

 I Co 15.29 – (batismo pelos mortos - Mórmons)

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 Pentateuco – (poligamia usada como desculpa para ter mais de uma


esposa)

 Gn 3.16 – (o sofrimento da mulher no parto não deve ser aliviado,


pelo fato de que é uma maldição da mão de Deus).

Exemplos de pessoas que tentaram distorcer a Palavra de Deus.

 II Co 4.2 _______________________________________________
 II Pe 3.16 _______________________________________________

Exercício: Alguns exemplos de abusos da BÍBLIA para defender heresias:


Texto Abuso Interpretação
Gn 3.1-5 Sereis como Deus Morrerás (cp Gn 2.17)
Mt 4.6
Pv 3.5-10
Is 53. 5
Gl 5.4

1.2.2.4 - Por causa de advertências Bíblicas.

 Somos encorajados a “manejar bem” a Palavra (II Tm 2.15).

 Os perigos dos últimos dias exigem uma hermenêutica sólida


(II Tm 4.1-4; I Tm 4.1-6).

 A Bíblia nos dá advertências fortes contra acrescentar ou diminuir


das palavras de Deus (Pv 30.5,6; Dt 4.2, 12.32; GL 1.6-9; Ap
22.18-19).

1.2.3 - As pressuposições da Hermenêutica.

O estudo de algumas doutrinas sistemáticas nos faz começar o estudo da


hermenêutica com algumas pressuposições já defendidas:

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1.2.3.1 - A Bíblia tem Autoridade final.

 A Bíblia é inerrante, infalível e inspirada por Deus.

 A Bíblia interpreta a experiência humana, e não a experiência


interpreta a Bíblia.

 A Bíblia é sola fidei regula (a única voz autoritária) e não prima


fidei regula (a primeira voz autoritária) como na igreja
católica ortodoxa.

 A autoridade final reside no texto em que foram escritos


originalmente, afinal, cada tradução contem um pouco de
interpretação.
 O cânon da Bíblia está fechado.

Exercício: Se o cânon da Bíblia ainda não estivesse fechado, quais seriam as


implicações para o estudo Bíblico e a experiência humana?
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1.2.3.2 - A Bíblia não se contradiz.

 Existe uma solução para os problemas que aparecem.

1.2.3.3 - Como homens nossa compreensão da Palavra é limitada (Fp 3.16; I Co


13.12).

 Somos separados do contexto original da Palavra por cultura,


língua, tempo, espaço, história, etc.

 Precisamos nos esforçar, na dependência do Espírito, para


compreendermos a Palavra (exigência de pesquisa e estudo).
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 Por causa do pecado nunca vamos conseguir compreender tudo o


que Deus revelou em sua Palavra.

 As nossas limitações não devem nos afastar da disciplina do estudo


bíblico.

1.2.3.4 - O propósito principal da Palavra é á mudança de vida e a semelhança de


Cristo, não conhecimento meramente intelectual (CL 1.28).

 Deus não escreveu a sua Palavra para satisfazer nossa curiosidade,


ou simplesmente nos deixar espertos, mas sim porque tem uma
verdade para revelar e para nos tornar santo.
2 - QUALIFICAÇÕES DO HERMENÊUTA.

Qualquer pessoa que tenha um mínimo de conhecimento sobre o assunto pode ser um
interprete de literaturas comuns, porém no que se refere a interpretar a Bíblia é necessário ao
interprete algumas qualificações especiais.

2.1 – Qualificações Espirituais

2.1.1 – Ser nascido de novo

Uma pessoa que não tem o Espírito Santo, não conseguirá interpretar a Bíblia, pois
não se trata de um Livro comum. I Co 2.14

2.1.2 – Ser movido de reverência profunda pelas coisas de Deus.

Alguém que não entende quem Deus é, não tem temor pelo que representa as
descobertas de Sua Palavra, não está qualificado para ser um bom interprete das
escrituras.

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2.1.3 – Ter desejo profundo de entender a Palavra de Deus.

Algumas pessoas se surpreendem pela capacidade de alguns interpretes, mas não


sabem que o mesmo se dedica em profundas horas de estudo diário das Escrituras.

2.1.4 – Ter uma vida de oração.

Se alguém esquecer que estudo bíblico tem total dependência da sua vida de oração
não está qualificado para ser um interprete da Bíblia.

“Bene orasse este bene studuisse” (Orar bem é estudar bem)


(Anguns e Green)

2.1.5 – Ter dependência do Espírito Santo.

É necessário para aquele que se propõe a interpretar a Bíblia que tenha uma
comunhão com Aquele que está lhe ajudando a entender. Uma pessoa que vive no
pecado, dificilmente conseguirá interpretar corretamente a Bíblia, pois ele desprezará a
mensagem.

Exercício: Quais as implicações que estes textos trazem para uma boa hermenêutica.
Texto Implicações
Rm 1.18-22
I Co 2.6-14
Ef 4.17-24
I Jo 2.1-11
Ef 2.2
II Co 4.4

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2.3 – Qualificações Intelectuais.

2.3.1 – Ter Bom senso.

O interprete das Escrituras precisa ser honesto no que vai descobrindo, não
simplesmente buscar em que a Bíblia concorda com ele.

2.3.2 – Ter disposição para estudar, pesquisar, trabalhar.

Não existem atalhos para interpretar a Bíblia, não é simplesmente orar e esperar que
Deus derrame o conhecimento em sua mente, é necessário trabalho árduo de estudo e
pesquisa.

2.3.3 – Conhecer as línguas originais, ou pelo menos ter acesso a elas.

Muitos não concordam com esta afirmação, mas para uma boa interpretação,
devemos sempre lembrar que a Bíblia não foi escrita em português, e que, uma
tradução já traz consigo uma dose de interpretação por parte do tradutor.

2.3.4 – Conhecer a história, cultura, etc. dos livros bíblicos.

Um estudo cultural e aprofundamento na geografia e história do mundo da época


bíblica é fundamental para que o intérprete consiga entender o texto.

2.3.5 – Ter mente aberta, ser ensinável.

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Uma pessoa fechada para as descobertas dos textos pode atrapalhá-la a entendê-lo,
com isso, fica em voga a sua afirmação e satisfação com o que já aprendeu.
Uma dose de desejo por aprofundar sempre no conhecimento é necessária.

Para refletir:

Qual o papel do Espírito Santo na interpretação de um texto? Garante a interpretação


correta? Um incrédulo pode acertar na interpretação? O Espírito pode revelar diretamente
ao intérprete o significado de um texto? Qual a natureza da iluminação?

3 – UM PANORAMA HISTÓRICO DA INTERPRETAÇÃO

Saber um pouco sobre a história da interpretação nos ajudará a vencer a tentação de


acharmos que o nosso sistema de interpretação é o único que já existiu. Vários outros métodos
já foram experimentados na história, saber um pouco desses pressupostos nos proporcionará
uma perspectiva mais equilibrada e uma capacidade de um diálogo mais apropriado com os
que crêem de modo diferente. Para essa compreensão usaremos a ordem de Virkler9.

3.1 – Exegese Judaica Antiga.

Quase todos, de modo geral, concordam que a interpretação antiga tenha começado
com a obra de Esdras. Ao voltar do exílio da Babilônia o povo solicitou a ele que lesse o
Pentateuco, e então, ele e os levitas leram o texto e deram explicações (Ne 8.8)

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VIRKLER, Henry. Hermenêutica avançada. São Paulo: Editora Vida, 2001. p. 35-55
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Visto que durante o tempo de exílio o povo havia perdido a compreensão do hebraico,
Esdras então, traduzia o texto hebraico e lia em alta voz em aramaico dando explicações para
melhor compreensão dos ouvintes.
Durante as cópias das Escrituras os rabinos tinham uma profunda reverência pela
Palavra inspirada, mas essa reverência, por um lado, copiá-las proporcionou a preservação dos
escritos, mas por outro lado, os rabinos começaram a interpretar pelos métodos não comuns
da comunicação. Eles pressupunham que se era de Deus, então cada figura, símbolo, e outros,
traziam um significado oculto.
No tempo de Cristo a exegese judaica podia classificar-se em quatro tipos principais:

3.1.1 – Literal

Referindo como peshat, isso servia de forma evidente como base para outros tipos
de interpretação.

3.1.2 – Midráshica.

Incluía uma variedade de dispositivos hermenêuticos que haviam se desenvolvido


no tempo de Cristo e continuou a se desenvolver nos séculos seguintes. Esse tipo de
interpretação foi usado por Hillel, cuja vida antecede ao cristianismo, e considerando o
elaborador de suas normas que acentuava a comparação de idéias, palavras ou frases
encontradas em mais de um texto. Essa forma de interpretar em seu desenvolvimento
foi uma exposição mais de fantasia do que conservadora.
3.1.3 – Interpretação Pesher.

Essa forma era mais comum entre as comunidades de Qumran e emprestou


extensivamente das práticas midráshicas, mas incluía um significativo enfoque
escatológico. A comunidade acreditava que tudo que havia sido dito pelos profetas
deveria ter um cumprimento na comunidade.

3.1.4 – Exegese Alegórica.

Essa se baseava na idéia de que o sentido verdadeiro jaz sob o significado literal da
Escritura. O alegorismo foi introduzido pelos gregos para reduzir a tensão sobre o mito
religioso e sua herança filosófica. Para responder a parte imoral que continham os
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mitos, eles diziam que essas histórias deveriam ser entendidas com um sentido não
literal.

3.2 – O uso do Antigo Testamento pelo Novo Testamento

Aproximadamente 10% do Novo Testamento constitui-se de citações diretas, de


paráfrases ou alusões ao Antigo. Apenas nove dos trintas e nove livros não são expressamente
mencionados.

3.2.1 – O uso que Jesus fez.

3.2.1.1 – Tratou das narrativas

Jesus mencionou fatos como registros fiéis e históricos. Ele fez alusões a Abel,
Noé, Abrão, Isaque, Jacó e Davi. Ele fez referências a pessoas de carne e osso, de
forma literal e intencional.

3.2.1.2 – Fez aplicações do registro histórico.

Quando Jesus fez as aplicações, ele extraiu do significado normal do texto,


contrário ao sentido alegórico.
3.2.1.3 – Denunciou o método dos dirigentes religiosos.

Jesus não concordou com os religiosos que usavam um método casuístico que
punham a parte à própria Palavra de Deus e em seu lugar colocavam suas próprias
tradições.

3.2.1.4 – Não foi acusado do método que usava.

Os escribas e fariseus, por mais que quisessem acusar a Cristo de erro, nunca o
acusaram de interpretar qualquer escritura de forma ilegítima. Mesmo quando

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Jesus confrontou os fariseus de acrescentarem e interpretarem erroneamente o


Antigo Testamento.

3.2.1.5 – Jesus fez uso correto de expressões.

Quando Jesus usou um texto que nos parece antinatural, geralmente se tratava de
legítima expressão idiomática hebraica e aramaica, ou um padrão que se traduz em
nosso tempo e cultura diretamente.

3.2.2 – O uso que os apóstolos fizeram do Antigo Testamento.

Os apóstolos que viveram e acompanharam o Senhor consideraram o Antigo


Testamento como a Palavra de Deus inspirada (II Tm 3.16, II Pe 1.21). Apesar disto,
muitas perguntas tem surgido quanto ao uso que os apóstolos fizeram do Antigo
Testamento, a mais freqüente é: Ao citar o Antigo Testamento, o Novo modifica o
fraseado primitivo. Como se pode justificar hermeneuticamente tal prática. Pelo
menos três considerações são pertinentes:

3.2.2.1 – As línguas

Diversas versões em hebraico, aramaico e grego do texto bíblico circulavam


na Palestina no tempo de Cristo. Algumas das quais tinham fraseados
diferentes uma da outra. Uma citação exata de uma dessas versões poderia não
ter a mesma redação dos textos das traduções, mas representavam a
interpretação fiel do texto disponível do escritor do Novo Testamento.
3.2.2.2 – A necessidade de não citar palavra por palavra.

Não era necessário que o escritor do Novo Testamento citasse todas as


passagens contendo todas as palavras na íntegra do Antigo Testamento.

3.2.2.3 – Na vida comum.

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Comumente, não estar preso a citação é, geralmente, sinal de que o autor tem
domínio da matéria. Quanto mais seguro está o orador do significado menor é a
necessidade de repetir as palavras do autor que ele está expondo.

Por estas razões, as citações que os autores do Novo Testamento fizeram do Antigo
usando paráfrases, ou citações indiretas, não indica, de forma alguma, que usaram de métodos
interpretativos ilegítimos.

3.3 – Exegese patristica.

Após a era apostólica uma escola de interpretação alegórica dominou os próximos


séculos. O método alegórico praticado pelos pais da igreja negligenciou por completo o
entendimento de um texto e desenvolveu especulações que o próprio autor nunca teria
reconhecido. Alguns pais:

3.3.1 – Clemente de Alexandria (150-215)

Exegeta patrístico nomeado, Clemente acreditava que as Escrituras ocultavam seu


verdadeiro significado a fim de que fossemos inquiridores, e também que não é bom
que todos entendam.

3.3.2 – Orígenes (185-254)

Orígenes foi notável sucessor de Clemente. Ele cria ser a Escritura uma vasta
alegoria na qual cada detalhe é simbólico, e dava grande importância a I Co 2.6-7
(falamos a sabedoria de Deus em mistério).

3.3.3 – Agostinho (354-430)

Em termos de originalidade e gênio, Agostinho foi de longe o maior homem de sua


época. Em seu livro sobre a doutrina cristã ele estabeleceu regras para exposição das
escrituras das quais estão em uso até hoje. Embora essas regras defendam de alguma

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forma a literalidade das Escrituras, na prática, Agostinho renunciou a maioria dos seus
princípios e inclinou-se ao alegorismo.

3.4 – Exegese medieval. (600-1500)

A Idade Média teve pouca erudição; a maior parte dos estudantes da Bíblia devotava-
se a estudar e compilar as obras dos pais primitivos. A interpretação foi amarrada pela
tradição, e o que se destacava era o método alegórico. A soma estabelecida geral era o
engendrado por Agostinho. Ele estabeleceu quatro níveis de significação existentes em toda
passagem bíblica, esses quatros níveis circulou durante todo este período. Eles se compõem
assim: (1) A letra mostra-nos o que Deus e nossos pais fizeram; (2) A alegoria mostra-nos
onde está oculta a nossa fé. (3) O significado moral dá-nos as regras da vida diária; (4) A
analogia mostra-nos onde terminamos nossa luta.

3.5 – Exegese da reforma.

Nos séculos XIV e XV predominava profunda ignorância quanto ao conteúdo da


Bíblia, alguns doutores de teologia nem sequer haviam lido a Bíblia toda. A renascença
chamou a atenção para a necessidade de conhecer as línguas originais a fim de entender a
Bíblia. Erasmo foi quem facilitou este estudo ao publicar a primeira edição de crítica ao Novo
Testamento. Neste período temos algumas personagens marcantes da teologia:

3.5.1 – Lutero (1483-1546)

Lutero acreditava que a fé e a iluminação do Espírito eram requisitos


indispensáveis ao intérprete da Bíblia. Acreditava que a Bíblia não poderia ser vista
como as outras literaturas. Ele afirmava que a igreja não deveria determinar o que a
Bíblia ensina, pelo contrário, a Bíblia deveria determinar o que a igreja ensina. Ele
aceitava e defendia que a interpretação deve ser vista de forma literal. Assim ele
abandonou o método alegórico que serviu por muito tempo.
3.5.2 - Calvino (1509-1564)

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Calvino foi o maior exegeta da reforma, que concordava, em geral, com os


princípios de Lutero. Ele também defendia que a iluminação espiritual é necessária, e
considerava a interpretação alegórica como artimanha de Satanás.

3.6 – Exegese pós reforma (1550 - 1880)

Para entender e tornar mais simplificado a visão deste período, é necessário destacar
alguns períodos:

3.6.1 – Confessionismo.

O concílio de Trento reuniu-se em várias ocasiões de 1545 a 1563 e elaborou uma


lista de decretos expondo os dogmas da igreja romana e criticando o protestantismo.
Os protestantes reagiram defendendo seus credos. Em certa altura quase toda grande
cidade tinha o seu credo favorito. Os métodos hermenêuticos durante este período
amiúde eram deficientes porque a exegese se tornou uma criada da dogmática, e
muitas vezes degenerou-se em mera escolha de texto para comprovação.

3.6.2 – O Pietismo

O Pietismo surgiu como uma reação à exegese dogmática. O Pietismo fez


significavas contribuições para o estudo das Escrituras, mas não escapou das críticas.
Nos seus mais sublimes momentos os pietistas uniram um profundo desejo de entender
a excelente apreciação da interpretação histórico-gramatical.

3.6.3 – Racionalismo

O racionalismo era uma posição que aceitava a razão como a única autoridade que
determina as opções ou curso de ação de alguém, surgiu como importante modo de
pensar e durante este período causou profundo efeito sobre a teologia.

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3.7 – A Hermenêutica moderna (1800 até o presente)

3.7.1 – Liberalismo.

O racionalismo filosófico lançou a base do liberalismo teológico. Ao passo que nos


séculos anteriores a revelação havia determinado o que a razão devia pensar, no final
do século XIX a razão determinava que partes da revelação devesse ser aceitas como
verdadeiras. O foco era autoria humana ao invés da divina.

3.7.2 – Neo ortodoxia.

Esse fenômeno do século XX ocupa, em alguns aspectos, uma posição


intermediária entre os pontos de vista liberal e ortodoxo. Não concorda com o
liberalismo que as Escrituras é tão-só produto da consciência religiosa, mas também
não chega a concepção da consciência ortodoxa da revelação.

3.7.3 – A Nova hermenêutica

Essa tem sido antes de tudo, uma criação européia a partir da Segunda Guerra
Mundial. Surgiu da obra de Bultman e foi levada adiante por Ernst Fuchs e Gerard
Ebeling. Chegaram a afirmar que Bultman não foi longe o suficiente. Diziam que a
linguagem não era uma realidade, mas apenas uma interpretação atual da realidade.

3.7.4 – A hermenêutica do cristianismo ortodoxo.

Durante os últimos 200 anos continuou a haver interpretes que criam que as
Escrituras representam a revelação de Deus. Segundo este grupo, a tarefa do intérprete
tem sido procurar compreender mais plenamente o significado intencional do
primitivo autor.

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4 – A HERMENÊUTICA NO ESTUDO BÍBLICO.

Se a hermenêutica é o método primário da interpretação bíblica, ela tem relação direta


com todas as outras disciplinas aplicadas ao estudo bíblico.

4.1 – A relação da hermenêutica com “Métodos de Estudo Bíblico”

As três formas finais de identificar os métodos de estudo bíblico, observação


interpretação e aplicação estão ligadas diretas aos métodos hermenêuticos.
A observação nos leva a perceber o que o texto diz, enquanto a interpretação pergunta
o que significa. A percepção dos detalhes de um trecho leva o leitor a levantar perguntas sobre
aqueles detalhes. As perguntas levantadas se tornam o primeiro passo para a interpretação,
que procura esclarecer esses detalhes e responder às perguntas levantadas pela observação.
A aplicação e a interpretação, também estão inteiramente ligadas. A interpretação liga
a observação e a aplicação como uma dobradiça. Uma vez que a interpretação respondeu a
pergunta do que significa o texto, o leitor passa a se perguntar: “o que o texto significa para
mim?” isto é, “o que devo fazer?”.
A interpretação revela o significado “lá e então”, ou seja, o significado no contexto
primário, porém, é necessário atravessar uma ponte de ligação até chegar no “aqui e agora”,
ou seja, no contexto de hoje. Não se pode passar da observação para a aplicação diretamente.
Mas também não se deve parar na interpretação. A aplicação é o alvo do estudo bíblico, mas é
impossível aplicá-lo de maneira correta sem uma boa interpretação.

4.2 – A relação da hermenêutica com a “Exegese”.

A exegese relaciona-se à real interpretação de um texto, enquanto que a hermenêutica


diz respeito à natureza do processo interpretativo. A exegese termina dizendo: “Esta passagem
significa isto ou aquilo”; a hermenêutica conclui assim: “Este processo interpretativo
constitui-se das seguintes técnicas e pressuposições10”.

10
CARSON, D. A. Os perigos da interpretação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2001, p.23
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Enquanto a hermenêutica nos dá as regras ou os princípios de interpretação, a exegese


aplica estes princípios na análise do texto bíblico. O resultado disto é “teologia bíblica”. Uma
forma de ilustrar isso seria o relacionamento entre as regras de jogo de futebol e o próprio
jogo. A hermenêutica nos dá as regras, a exegese as coloca em prática.
4.3 – A relação da hermenêutica com a “Exposição Bíblica”

A exposição dos textos bíblicos é o resultado final que surge da aplicação dos
princípios hermenêuticos e exegéticos realizados. A exposição pode acontecer de forma
homilética, no contexto do púlpito, ou mesmo na sala de aula, no contexto pedagógico.
Hermenêutica é como um livro de receitas que contém as regras de se fazer um bom
prato; a exegese é a preparação do prato; a exposição é a entrega para que alguém se alimente
dele.

4.4 – A relação da hermenêutica com a “Teologia”

No processo de gerar teologia, como os métodos de estudos bíblicos, a hermenêutica é


fundamental. Ela é a plataforma de base para a teologia, ela deve ser aprendida antes de
“teologia sistemática”, pois esta é o resultado da hermenêutica.
A hermenêutica é a estrada para a exegese, que estabelece direções de uma teologia
bíblica (teologia limitada a um item, seja livro, autor ou ênfases de categorias). A teologia
bíblica por sua vez traz informações na formação da teologia sistemática (que organiza os
conceitos bíblicos em categorias), a base de ambas as teologias é a hermenêutica.
4.5 – Ilustração conclusiva

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5 – PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA.

Podemos dividir os princípios de interpretação em duas seções, a “hermenêutica geral”


e a “hermenêutica especial”.

5.1 – O método.

O método apresentado que é mais coerente e será usado na apresentação das duas
partes da hermenêutica é conhecido como “Lítero-Cultural-Critico”. Dentro desta nomeação
está inserido a questão histórica, cultural, literal, crítica, contextual, gramatical, geográfica,
sistema literário, etc. O nome não é tão importante, a consistência do método sim é
importante.
A consistência do método será vista a seguir com a abrangência dos princípios de
interpretação, e a expressão “Lítero-Cultural” será bem nítida. Cabe aqui explicar somente o
significado de “crítico”. Esse termo não significa julgar o texto bíblico, mas que toda
interpretação deve ser submetida a perguntas críticas que satisfaçam as mesmas. Não
podemos tapar nossos olhos com a tradição se queremos uma hermenêutica honesta. Se
fizermos isso, inquiriremos uma hermenêutica desonesta com o significado real do texto
(“Sempre interpretamos assim...!”), recheada de preconceito (“É óbvio que o texto
significa...!”), neo–ortodoxa (“Para mim, o texto significa...!”) e com falsa aplicação
espiritual (“O Espírito me revelou que o texto significa”). O método Litero-Cultural-Critico
nos deixa presos à interpretação, e deixa de lado nossa própria escolha da interpretação.

5.2 – Os princípios da Hermenêutica Geral.

Hermenêutica geral se refere a princípios de interpretação que se aplicam a toda a


Bíblia e em seus diversos gêneros literários. Assim, podemos aplicar estes princípios para
interpretar qualquer trecho das Escrituras.
A seguir uma série de princípios de interpretação geral, que não podemos deixar de
lado ao interpretar a Bíblia. Ao tentar entender a Bíblia precisamos:

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5.2.1 – Interpretar contextualmente.


Uma interpretação que ignora o contexto tem todas as chances de uma
interpretação errada.
5.2.1.1 – Exemplos de não avaliação de contexto.

 Ec 7.16 – Não preciso ser muito justo, e não posso buscar muita
sabedoria, fazer isso é pecado contra mim mesmo. (desculpas para não
ser justo).

 Sl 14.1; 53.1 – Não existe Deus, por isso que o homem é mal.

 Ex 32.27 – Deus mandou matar todo mundo.


5.2.1.2 – As extensões do contexto.
Para entender a passagem deve-se primeiro descobrir onde começa o
seu contexto maior, saber onde o assunto começou e terminou e qual o
propósito central. O contexto a ser analisado tem partes maiores e menores, é
necessário avaliar todas elas, partes menores como, versículos e parágrafos, e
também partes maiores, como capítulos, capítulos anteriores e posteriores, e
assim, o livro todo.
5.2.1.3 – O propósito central da passagem.
A análise e descoberta do contexto que envolve a passagem nos ajudará
a descobrir o propósito central, o assunto que é tratado nela. Quando sabemos
qual é propósito central do autor bíblico, já saberemos a que está submetido à
passagem que estamos estudando.
Qual o propósito dos textos...?

Livro/Carta Propósito Central


Tiago
Efésios
Marcos

Atos
Eclesiastes

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5.2.2 – Interpretar Literalmente.

A interpretação da Bíblia precisa ser feita no seu sentido comum usual e


natural. Isso não significa que temos que ignorar as figuras de linguagem e
simbologias que ela contém, mas que devemos respeitar as diferenças literárias e os
seus gêneros. Quando interpretamos uma figura de linguagem com indicação clara que
é assim, então estamos aplicando a interpretação correta e literal. Interpretação literal
significa que as palavras devem ser avaliadas conforme as suas denotações comuns, o
interprete não busca significados ocultos e espiritualistas empregando alegoria onde há
afirmações.
O método literal de interpretação não limita o Espírito como afirmam alguns.
Mas acreditamos que as verdades descobertas pela revelação escrita, e não imaginativa
é a verdade que transforma. Esse método é um freio para nossa imaginação.

Exemplos a serem preenchidos: Literal ou Figurado?

Mt 5.29-30 – Cortar a mão e tirar o olho R:


Qual o significado? R:
Mt 18.21ss – Setenta vezes sete. R:
Qual o significado? R:
I Co 13.34 – Falar. R:
Qual o significado? R:
Ap 20.2-6 – Mil anos R:
Qual o significado? R:

5.2.3 – Interpretar Culturalmente

A cultura de todos os tempos, nunca foi, e jamais será a mesma com o passar
dos anos. Estamos a milhares de anos da cultura em que os acontecimentos bíblicos se
passaram, ao analisarmos os textos bíblicos, temos que primeiramente interpretá-los na
cultura em que foi escrita para não corrermos o risco de entender o seu significado
errado.

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Cultura é um sistema de comportamento que inclui forma de pensar,


linguagem, ações devido a costumes, bem como objetos de crenças, aspectos e formas
de relacionamentos sociais, traços raciais, religiosos e de vida em grupo.
Todos os aspectos da cultura mudam com o tempo, os princípios bíblicos
aplicados à sua cultura precisam ser interpretados lá para que encontremos sua real
aplicação nos dias atuais.
A seguir alguns exemplos de passagens bíblicas cuja interpretação depende do
conhecimento de certos aspectos do contexto cultural11.

5.2.3.1 – Aspecto político.

 Por que o rei Belsazar concedeu a Daniel a terceira colocação no


governo, e não a segunda?

R: Porque a história revela que Belsazar era o segundo, o primeiro no reino


era seu pai Nabonido, esse estava fora do país por um tempo.

 Por que Jonas não queria ir para Nínive?

R: Porque os ninivitas cometiam atrocidades com os inimigos. Eles


decapitavam os líderes dos conquistados e empilhavam suas cabeças. Às vezes
ao invés de matar, colocavam o líder capturado em uma jaula e o tratava
como animal. Um outro costume era o de empalar os prisioneiros e deixa-los
agonizar até a morte. Algumas vezes esticavam as pernas e os braços de seus
prisioneiros e o esfolavam vivo.

 “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua
cruz, e siga-me” Quando Jesus disse isto, ao que se referia?

11
ZUCK, op. cit. p. 92 ss
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R: Sabemos pela ocasião de sua morte, que o individuo que carregava a sua
cruz até o local de sua execução era considerado o criminoso. Por isso, tomar
a sua cruz significa seguir Jesus até a morte, naturalmente não significa
passar circunstâncias desagradáveis na vida.

Para responder:

O que significa não remover os marcos antigos que puseram seus pais de Pv 22.28?
R:

Por que Boaz foi até a porta da cidade falar com os anciãos sobre o terreno de Noemi
(Rt 4.1)?
R:

5.2.3.2 – Aspecto religioso.

 Por que Moisés deu uma ordem estranha como esta: “...não cozerás o
cabrito no leite da sua própria mãe” (Ex 23.19; 34.26; Dt 14.21)?

R: Foram encontradas referências em Ugarite, a cidade antiga no Líbano, que


mostram tal hábito ser parte de um ritual cananeu. Assim, Deus não queria
que os israelitas participassem de nenhuma parte de rituais dos cananeus.
Outro motivo era que Deus não queria que misturassem substâncias que
sustentam a vida (leite) com algo associado à morte (cozimento). Filo, filosofo
judeu escreveu: “é inconcebível que aquilo que alimentou o animal seja
utilizado para sazoná-lo ou temperá-lo depois de morto”

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 Por que Paulo escreveu, em Cl 2.2-3, que Cristo é o mistério de Deus


“em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão
ocultos” e, no versículo 9, que “nele habita corporalmente toda a plenitude
da Divindade”?

R: Ele estava ressaltando esses fatos acerca de Cristo porque os falsos mestres
em Colossos estavam pregando que Cristo era Deus apenas parcialmente. As
afirmações de Paulo, portanto, forma uma contestação direta a falsa idéia.
Para responder:

Por que Paulo levantou a questão da carne oferecida a ídolos, em I Co 8?


R:

Por que Elias propôs que o monte Carmelo fosse o local da disputa com os profetas
de Baal (I Rs 18.19)?
R:

5.2.3.3 – Aspecto econômico.

 Por que Elifaz acusou Jó de pedir penhores a seus irmãos sem motivo?

R: Naquela época cobrar penhores sem motivo era uma atitude desprezível.
Quando uma pessoa devesse a outra e não pudesse pagar, ela dava sua capa
como penhor de um pagamento futuro, quando tivesse condições. Contudo, ao
anoitecer o credor devolvia a capa, pois provavelmente a pessoa teria que
apascentar no campo ao relento. Portanto fazer isso sem motivo, era uma
atitude pecaminosa e desumana. Mas Jó justifica que não fez isso.

Para responder:

Por que o remidor deu as sandálias a Boaz (Rt 4.8,17)?

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R:

Por que os fariseus e herodianos perguntaram a Jesus se dar tributo a César era
lícito ou não (Mc 12.16)?
R:

5.2.3.4 - Aspecto agrícola.

 O que há de estranho em Samuel pedir chuva ao Senhor na época da


colheita do trigo (I Sm 12.17)?

R: A colheita acontecia em maio, assim que começavam os meses do estio, que


iam de abril até o final de outubro. Se chovesse na estação de seca ficaria
evidente a manifestação de Deus.

Para responder:

Qual o significado da palha em que o ímpio é comparado no Salmo 1.4?


R:

Por que Jesus condenou a figueira que não tinha frutos se não era época de figos (Mt
11.12-14)?
R:

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5.2.3.5 – Aspecto da Arquitetura

 Como foi possível descer o paralítico pelo telhado em Mc 2.1-12?

R: As casas nos tempos bíblicos tinham o telhado plano e normalmente feito de


telhas. Portanto não foi difícil ficar em pé no telhado retirar algumas telhas e
descer o paralítico.

Para responder:

Como Raabe poderia ter uma casa em cima do muro (Js 2.15)?
R:

Por que os discípulos reuniam-se num cenáculo?


R:

5.2.3.6 – O aspecto da Vida doméstica.

 O que Oséias quis dizer quando disse que Efraim era um pão que não
foi virado (Os 7.8)?

R: Quando assavam pães e não o viravam um lado assava mais do que o outro,
Oséias usou essa ilustração para dizer que Efraim precisava de equilíbrio,
estava dando mais atenção a uma coisa e deixando outra de lado.

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Para responder:

Por que Tiago disse para ungir os enfermos com óleo (Tg 5.14)?
R:

Por que o Senhor usou a ilustração da erva que é lançada no fogo (Mt 6.30)?
R:

5.2.3.7 – Aspecto Militar.

 Por que Habacuque diz que os babilônicos estavam amontoando terra,


tomam as cidades (Hc 1.10)?

R: À referência é a construção de rampas de terra junto a muralhas. Como


muitas cidades eram edificadas no alto dos montes, a única forma do inimigo
ataca-las era amontoando terra e destroços para diminuir a diferença de nível.

Para responder:

Por que Paulo afirmou, em II Co 2.14, que Deus sempre nos conduz em triunfo?
R:

Por que Habacuque mencionou a falta de comida naquele contexto (Hc 3.17-19)?
R:

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5.2.3.8 – Aspecto Social.

 Qual o significado de jogar pó na cabeça de Lm 2.10?

R: Esse era um gesto convencional de lamentação, com um significado de luto,


a mesma expressão aparece em Jó 2.12 e Ap 18.19.

Para responder:

Qual o significado da ordem de não cumprimentar ninguém pelo caminho?


R:

Qual o sentido da ordem “cinge os teus lombos” em Jó 38.3; 40.7 e I Pe 1.13.


R:

5.2.3.9 – Aspecto Geográfico.

 Por que Davi fugiu para En-Gedi (I Sm 23.29)?

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R: Por que ele sabia que Saul teria dificuldades de segui-lo até lá, devido ao
terreno acidentado entre o sul de Jericó e o oeste do Mar Morto. Também
porque havia muitas cavernas ali, o que dificultaria Saul de encontrá-lo.

Para responder:

Por que Jonas com intenção de ir para Társis teve que descer (Jn 1.2,3)?
R:

Por que Jesus falou de um homem que desceu de Jerusalém para Jericó se a cidade
fica a nordeste daquela (Lc 10.30)?
R:

5.2.4 – Interpretar considerando o cultural e o literal.

Para um intérprete que quer entender o significado do texto bíblico e aplicá-lo


corretamente em nossos dias precisa ser sensível aos fatores culturais e contextuais do
que foi nos tempos bíblicos e do que representa nos dias atuais.
Fazer esse tipo de interpretação considerando o que é apenas cultural da época
e o que é princípio para nossos dias, não dá liberdade para escolhermos as ordens que
devemos seguir e julgar algumas inapropriadas. Obviamente que nem todas as
referências bíblicas se aplicam diretamente aos dias atuais, é necessário interpretá-las
na cultura da época e transpor seus princípios do “lá e então” para o “aqui e agora”. A
seguir, algumas sugestões de como determinar se o texto deve ser interpretado na
cultura dos primeiros leitores ou é permanente de forma geral.

5.2.4.1 – Verificar se a conduta exigida foi fundamentada na natureza imutável


de Deus, ou em fatores que transcendem cultura.

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Se a menção do texto fala de aspectos de Deus, sabemos que Ele


sempre será o mesmo, não mudará, mas se é referente aos homens e a povos,
sabemos que a cultura muda com o passar dos anos.

Para pensar:
 I Tm 2.11-15 – Quais as razões alistadas para as
limitações da mulher? São culturais ou
transculturais?

 I Co 11.2-16 – Quais as razões dadas para o uso do véu para


a mulher? São culturais ou transculturais?

5.2.4.2 – Verificar se a conduta exigida foi repetida ou revogada em outros


lugares.

Exemplos:
 Lv 20.11 cp. I Co 5.1-5 – Sobre o incesto.

 Ex 20.8 – Sobre o sábado.


5.2.4.3 – Verificar se a conduta exigida pertence às circunstâncias individuais e
específicas da situação bíblica, e não para nós.

Exemplos:
 II Tm 4.11-13 – Trazer a capa e os livros de Paulo.

 Gn 12.1-3 – Sair da terra e da parentela, ir para outro lugar,


ser abençoado os que te abençoarem e
amaldiçoados os que te amaldiçoarem.

5.2.4.4 – Verificar se a conduta exigida se aplica em situações culturais


parcialmente ao nosso contexto.

Exemplo:
 Dt 6.9 – Escrever a Palavra nos umbrais e na porta.

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Verificar se a conduta exigida foi uma característica da própria cultura,


mas que expressa um princípio eterno.
É preciso avaliar se a Bíblia pretende estabelecer a cultura, ou
reconhece a cultura como veículo de princípios eternos. A Bíblia pretende falar
a todas as culturas em todas as épocas através dos princípios eternos, e não
carimba as culturas antigas como sendo a única cultura bíblica. Devemos tomar
cuidado sobre a cultura da igreja primitiva, nem tudo que foi escrito sobre
aquela cultura é normativo, mas sim descritivo. Não há dúvida alguma de que
os princípios por trás das expressões culturais ainda se aplicam hoje. O
interprete não pode errar ao analisar a cultura da época, mas também não pode
errar deixando de entender o princípio eterno naquela expressão.

“Todo ensino da Bíblia deve ser literalmente aplicável a nós, a menos


que a própria Bíblia se limite através do contexto (histórico cultural e textual)
ou outros ensinos bíblicos. Quando a Bíblia se limita, então cabe a nós
descobrirmos o princípio eterno que é aplicável. Não devemos usar a nossa
cultura para determinar se uma ordem é literalmente aplicável ou não a nós,
mas devemos deixar que o princípio eterno avalie (e se for preciso, mude) a
nossa cultura12.”
Exercícios:

1) Sinalize as sentenças colocando “P” para o que é permanente (está ligado diretamente
a nós) e “T” para o que é temporário (somente a cultura dos tempos bíblicos).

Exemplo: Saudar uns aos outros com ósculo santo. T P

“Saudar com ósculo foi uma prática do primeiro século que não é comum na cultura de
hoje, mas o princípio eterno do amor fraternal deve ser observado. Podemos cumpri-lo
dando um abraço em nossos irmãos em Cristo”.

1 Ser batizado (Rm 15.29) P T


2 Lavar os pés uns dos outros (Jô 13.14) P T
3 Ordenar por imposição de mãos (At 13.3) P T
4 Proibir mulheres de falar na igreja (I Co 14.34) P T
5 Ter um horário fixo para orar (At 3.1) P T
12
MERKH, D. op. cit. em citação a D. N. Cox. p. 23
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6 Abster-se de comer sangue (At 15.29) P T


7 Celebrar a ceia do Senhor (I Co 11.24) P T
8 Não fazer juramento (Tg 5.12) P T
9 Ungir os enfermos com óleo (Tg 5.14) P T
10 Proibir mulheres de ensinar os homens (I Tm 2.12) P T
11 Proibir as mulheres de enfeitar os cabelos (I Tm 2.9) P T
12 Abster-se das relações sexuais ilícitas (At 15.29) P T
13 Não procurar o casamento (I Co 7.26) P T
14 Ser circuncidado (At 15.5) P T
15 As mulheres devem orar com a cabeça coberta (I Co 11.5) P T
16 Tomar a ceia num único cálice (Mc 14.23) P T
17 Evitar orar em público (Mt 6.5,6) P T
18 Falar em línguas e profetizar (I Co 14.5) P T
19 Realizar as reuniões da igreja em casa (Cl 4.15) P T
20 Levantar as mãos para orar (I Tm 2.8) P T
21 Dar a quem lhe pede (Mt 5.42) P T
22 Orar antes das refeições (Lc 24.30) P T
23 Dizer amém no final das orações (I Co 14.16) P T
24 Usar sandálias e uma túnica só (Mc 6.9) P T
25 As mulheres devem submeter-se aos maridos (Cl 3.18) P T
26 Não agir com favoritismo em favor dos ricos (Tg 2.1-7) P T
27 Usar pães ázimos na ceia (Lc 22.13,19) P T
28 Lançar sorte para escolher a liderança da igreja (At 1.26) P T
29 Deve haver diáconos na igreja (At 6.3) P T
30 Não comer carne de animais mortes por estrangulamentos (At 15.29) P T
31 Homens não devem usar cabelos compridos (I Co 11.14) P T
32 Abrir mão de bens pessoais (At 2.44-45) P T

2) Estudar os seguintes textos e determinar como devem ser aplicados nos dias atuais.
Para orientação, responda as perguntas sugeridas.

A - I Tm 2.1-15

1) Quais as razões no texto que proíbe a mulher de exercer autoridade? São culturais ou
transculturais?
2) O que exatamente o texto proíbe? Onde? Quando? Sobre quem?
3) Há outros textos que influenciam a interpretação?
4) Resumir os princípios eternos do texto.
5) Aliste as aplicações para os dias atuais do texto.

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Instituto Batista Missionário

B - II Co 11.2-16

1) Aliste as razões dadas no texto para o uso do véu. Elas são culturais ou transculturais?
2) O que exatamente este texto exige? Onde? Quando?
3) Resumir os princípios eternos destes versículos.
4) Aliste aplicações para os dias atuais.

5.2.5 – Interpretar Gramaticamente.

Um dos mais essenciais aspectos da interpretação literal é a análise do léxico e


sintático da Bíblia. O estudo de palavras dentro de seu contexto conforme seu
significado original, sensível ao arranjo destas palavras para transmitir significado,
constitui o estudo gramatical da Bíblia. O estudo gramatical pode ser dividido em duas
partes.

5.2.5.1 – Estudo de vocábulos (lexical)

Não podemos nos ater a estudar a Bíblia de forma geral, ela também
precisa ser observada em seus detalhes. A investigação de palavras, observando
os seus respectivos círculos de contexto para descobrir e seu significado
original pode fazer uma grande diferença na direção em que caminhará sua
interpretação.
5.2.5.2 – Estudo sintático.

Sintaxe é o estudo do significado transmitido através de formas


gramaticais, e o estudo do arranjo de palavras no texto. O significado é
descoberto no relacionamento entre as palavras. Às vezes simplesmente a
ordem das palavras determinam o significado.

Exemplo: O homem bom mordeu o cachorro.


O cachorro mordeu o bom homem.

No exemplo acima, nada mudou na forma das palavras, mas tendo


mudado a ordem, o sentido foi totalmente mudado. Essa questão é vista em
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Instituto Batista Missionário

português, porém, em algumas línguas como o grego, não é mais a ordem que
altera, mas sim as inflexões nas palavras que determinam o seu significado. O
estudo destas inflexões e ligações entre as palavras, da estrutura literária e
gramatical de um texto constitui o estudo sintático.

5.2.6 – Interpretar a Bíblia comparando com ela mesma.

A própria Bíblia é o seu melhor interprete, este princípio segue a pressuposição


de que a Bíblia não se contradiz, e que Deus é seu Autor. Assim, comparar a Bíblia
com ela mesma é uma forma correta de interpretação literal. A seguir algumas
implicações relevantes nesse princípio:

5.2.6.1 – O obscuro é estabelecido pelo mais claro.

No processo de comparar as Escrituras com ela mesma, algumas


passagens problemáticas podem ser resolvidas mais facilmente. Devemos
seguir do que é mais claro para o que é mais problemático, e não vice-versa.
Um texto mais claro tende a iluminar a compreensão do que é mais obscuro.
Nessa comparação, quando temos dois textos que aparentemente visa
ser contraditório um do outro, precisamos averiguar se o texto mais obscuro
não admite uma interpretação coerente com o teor do resto da Palavra. Por
exemplo: alguns textos parecem questionar a salvação eterna do crente, e têm
sido interpretado assim por alguns teólogos, porém, muitos outros textos
afirmam de forma mais clara que a salvação é eterna. Outro exemplo parece
acrescentar uma condição para a salvação além da fé (batismo – At 2.38.22.6),
quando o testemunho unânime da Bíblia ensina diferente. Se violarmos este
princípio estaremos negligenciando a Bíblia como um todo e sujeitos a uma
interpretação marginal.

5.2.6.2 – Não fazer doutrina em um único texto.

O fato de que não devemos criar uma doutrina em um único texto, de


modo algum estaremos negando que toda a Palavra de Deus, ou seja, cada

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palavra tem valor. Ao tomarmos o cuidado de averiguarmos um texto devemos


ter em mente a amplitude geral da Bíblia, comparar esse texto com outros. Por
exemplo: averiguar a interpretação do Velho Testamento com conceitos que
foram ditos no Novo, o mesmo vale para o estudo dos Evangelhos e Atos, para
não se confundir entre o que é descritivo e o que é normativo.
Quando vamos procurar em outros textos a confirmação do que estamos
interpretando devemos tomar cuidado com os textos paralelos. Muitas Bíblias
de referências tem surgido com propostas de comparações entre textos.
Devemos entender que as notas de roda-pé das Bíblias comentadas não fazem
parte da inspiração de Deus, assim cada texto que formos comparar devem
seguir os mesmo processos de interpretação individual, para se ter certeza que
são realmente paralelos, e não tenham apenas palavras e uma mera aparência
de assunto.

5.2.7 – Interpretar a Bíblia Cristológicamente.

Já sabemos da importância da análise do contexto para a interpretação correta


do texto que queremos interpretar. Esse princípio não o contradiz. Interpretar a Bíblia
tendo em vista a pessoa de Cristo não significa menosprezar o propósito imediato e
original do texto. Mas ao mesmo tempo, não devemos deixar de lado que Cristo é a
pessoa central das escrituras. Se olharmos para os textos de Lc 24.25-27,44; Jo 5.39 e
Mt 5.17 teremos a confirmação do filtro Cristológico que devemos ter ao olharmos
para as Escrituras, porém devemos tomar cuidado para não tentar espiritualizar o texto
em sua interpretação, não devemos pular para Cristo se o texto não contém nenhuma
justificativa para isso.
5.2.8 – Interpretar usando as línguas originais

Temos que reconhecer que a Palavra de Deus não foi escrita em nosso idioma,
com isso não estou afirmando que é impossível interpretar a Bíblia pela tradução em
português, é possível, mas não refletem o texto em seu idioma original. O estudo dos
textos grego e hebraico nos proporcionará uma recompensa maior do que o tempo
gasto em estudá-los. Se ao interpretarmos a Bíblia, não entendemos o idioma em que
foi escrito estamos dependentes de outros que o fizeram. Nesse caso o interprete

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somente tem a opção de ficar dependente da interpretação de outros, assim, ele não
terá liberdade na sua interpretação sendo que não pode julgar os trabalhos feitos.
Porém, se ele tem acesso às línguas originais, ele terá liberdade na interpretação
podendo olhar diretamente para o texto sem depender de trabalhos de outros, e assim
terá liberdade para questionar se as interpretações correntes são realmente válidas. Por
esta razão é aconselhável ao interprete que estude as línguas do texto bíblico, mas
alguns conselhos são necessários nessa questão:

5.2.8.1 – Conhecer pouco pode ser perigoso.

Muitos abusos de textos são cometidos por aqueles que acham que
conhecem o que a língua original diz, assim, afirmam o que acham que
entendem. O estudante não deve se contentar em simplesmente conhecer as
palavras no idioma da Bíblia, mas ter conhecimento suficiente para poder
averiguar a compreensão dos escritos nele.

5.2.8.2 – As traduções podem dar conhecimento da Bíblia.

Este cuidado é importante, pois alguns podem se desanimar achando


que não podem compreender a Bíblia por não terem acesso ao grego e ao
hebraico. As traduções apontam para o conhecimento das Escrituras, nossas
traduções não são ruins o suficiente para comprometer o ensino correto da
Palavra de Deus.
É possível interpretar pela tradução, porém, mais difícil. O texto em
português funciona como uma televisão em preto e branco, enquanto o texto
original é uma televisão em cores. Podemos ver as imagens e as ações em ambas,
porém, os detalhes que muitas vezes fazem diferença só poderão ser
compreendidos por aquela que fornecem as cores, assim são os textos originais.
As diferenças entre as traduções apontam para a importância do conhecimento
das línguas originais. Porém, sem o acesso ao texto original, a comparação entre
as traduções existentes é recomendável. Além de ajudar o interprete na

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Instituto Batista Missionário

compreensão do texto dará segurança na interpretação ao interprete que não tem


acesso ao grego e hebraico.

5.2.9 – Interpretar com humildade e dependência do Espírito Santo.

Esse cuidado vale ser lembrado para encerrar esta seção. O intérprete deve se
lembrar de que está trabalhando com uma literatura diferente das demais, o que
estamos tentando interpretar é a Palavra de Deus, por isso devemos ter alguns
cuidados.

5.2.9.1 – Humildade para entender que nunca vamos entender tudo.

Há textos bíblicos que estão sendo debatidos há muitos séculos, por


exemplo, I Co 15.29 já foi proposta dezenas de interpretações diferentes. Na
ansiedade de procurarmos a interpretação correta dos textos bíblicos não
podemos nos colocar no ápice de que entendemos tudo, isso é arrogância. Não
devemos desanimar jamais em procurar a interpretação e o entendimento de
tudo quanto foi escrito, porém devemos ter humildade o suficiente para admitir
que nunca saberemos tudo, ao mesmo tempo, regozijar pelo que sabemos a
respeito dos mistérios de Deus.

5.2.9.2 – Sempre depender do Espírito Santo para interpretar um texto.

Isso não significa que vamos ficar esperando uma revelação direta do
Espírito Santo, pois isso Deus já fez pela Sua Palavra, porém não devemos tentar
entender a Palavra de Deus sem depender de sua ajuda.
5.3 – Princípios de Interpretação especial.

Ao contrário dos princípios de hermenêutica geral que se aplicam às todas as formas


literárias, os princípios de hermenêutica especial se referem às condições especiais de

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literaturas na Bíblia. Não reconhecer as formas especiais e interpretar na forma coerente pode
resultar em uma hermenêutica falha.

5.3.1 – A interpretação das figuras de linguagens.

A Bíblia contêm centenas de figuras de linguagens, saber interpretá-las


coerentemente nos ajudará a entender onde o texto se refere a uma citação literal ou o
sentido é apenas figurado.
As figuras são usadas na Bíblia e também em muitas outras literaturas, elas têm
um papel fundamental na comunicação, elas chamam a atenção para o que tende a
significar acrescentando cores ao objeto comparado ou substituído. Elas ainda tornam
mais reais os conceitos abstratos de forma que possamos visualizá-los, assim, sua
compreensão pode ser melhor absorvida e registrada na memória.

5.3.1.1 – Como perceber uma figura de linguagem

Em geral as figuras podem ser percebidas quando o conteúdo em que


ela está inserida está totalmente destoado da figura, ou seja, o objeto usado
para representar o assunto da conversa se torna impossível de ser visto de
forma literal.
Em primeira instância sempre devemos optar pela visão literal da
passagem, somente quando o objeto do texto se torna impossível de ser visto
assim. Por exemplo: quando João disse que haverá 144.000 selados, 12.000 de
cada tribo de Israel em Apocalipse 7.4-8, não há razão para não interpretarmos
de forma literal, porém, quando ele se refere ao “cordeiro” obviamente está
falando de Cristo e não de um animal, então está usando uma figura de
linguagem.
Quando o texto implica em algumas sentenças que a interpretação
literal se torna um absurdo, então fica claro o uso das figuras, por exemplo, em
Isaías 55.12 às árvores baterem palmas, ou em Efésios 2.1 Paulo chamar os
efésios de “mortos” se eles não haviam literalmente morrido.
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A nossa interpretação literal consiste em descobrir o que a figura


representa através da exegese. Em sentido geral, cada figura tem atrás de si um
principio literal que deve ser interpretado.

5.3.1.2 – Figuras de linguagens de comparação

Muitos tipos usuais de figuras de linguagens são usadas como


comparação, na maioria das vezes elas são tiradas de elementos da natureza,
como a chuva, a água, o fogo, o solo, os animais, etc. outras são tiradas de
objetos humanos como túmulos, vestimentas, cerâmicas, etc. e outras são
tiradas das experiências do homem, como o nascimento, a morte, a guerra, a
música, etc. a seguir alguns tipos de figuras de linguagens encontradas no
texto.

 Símile

A símile é uma comparação direta onde um objeto é usado em


comparação com outro elemento de forma explicita, eles podem ser
percebidos facilmente pelo emprego das palavras: “Como, assim como,
tal qual, tal como”. Exemplo:

I Pe 1.24 - ... Toda a carne é como a erva...


Lc 10.3 - ... Eis que vos envio como cordeiro em meio a lobos...
Sl. 1.3-4 – ele é como arvore plantada...

Dessa forma, o papel do exegeta que não é muito fácil é o de


descobrir as semelhanças em que o objeto tem com o que foi
comparado. Em que aspecto o homem é como a erva? Em quê os
discípulos podem ser relacionados como cordeiros?

 Metáfora

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A metáfora é uma comparação em que um elemento representa


outro, e não simplesmente é colocado paralelo como na símile. Podem
ser percebidos facilmente pelo emprego dos verbos “ser” e “estar”. Por
exemplo:

 Is 40.6 – Toda a carne é erva...


 Mt 5.13 - ... Vós sois o sal da terra...
 Jo 10.7,9 - ... Eu sou a porta...

 Hipocatástase

Essa forma de figura não tão comum refere-se a uma


comparação onde as semelhanças do objeto comparado são indicadas
diretamente. Neste caso não resta dúvida sobre o que se refere à pessoa
quando utilizou a figura, ela serve como substituto direto do elemento
comparado. Por exemplo:

 Sl. 22.16 - ... Cães me cercam... – quando Davi disse isto


estava se referindo a seus inimigos chamando-os
de cães.

 Fl 3.2 – Acautelai-vos dos cães... – aqui os falsos mestres


também são chamados de cães.

Podemos resumir as figuras de linguagem que tem conotações


comparativas da seguinte forma:

 Os ímpios são como cães – Símile.


 Os ímpios são cães – Metáfora
 Os cães – Hipocatástase

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5.3.1.3 – Figuras de linguagens como substituição.

Nesse caso de figuras de linguagens, elas são usadas em lugar do objeto


que ela representa no texto. Observe algumas formas.

 Metonímia

Essa forma é quando a palavra usada substitui a outra sem


perder o seu significado geral. Quando dizemos que o congresso tomou
uma decisão, é claro que está se referindo aos deputados e senadores.
Na Bíblia há três tipos de metonímias, quando a causa é usada no lugar
do efeito, quando o efeito é usado no lugar da causa e quando o objeto é
empregado em lugar de outro, veja os seguintes exemplos que os
categoriza:

 Jr. 18.18 - ... Vinde, firamo-lo com a língua...


 Sl 18.1 – Eu te amo Senhor, força minha ...
 I Co 10.21 – Não podeis beber o cálice do Senhor...

 Sinédoque

Essa forma de substituição é quando a parte toma lugar do todo


ou vice versa. Por exemplo: quando Cezar Augusto decretou o censo do
mundo todo, ele estava se referindo não ao mundo todo literalmente,
mas somente a uma parte, ou seja, o Império Romano. Exemplo:

 Lc 2.1 – Convocando toda a população...


 Pv 1.16 - ... Os seus pés correm para o mal...
 Rm 16.4 - ... Arriscaram suas próprias cabeças...

 Merisma

É semelhante à sinédoque, o merisma é um tipo de substituição


em que uma parte representa o todo, porém aqui ela aparece em
contraste.

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 Sl 139.2 – Sabes quando me assento e quando me levanto...


 Hendíade.

Essa forma consiste em uma afirmação ser representada por dois


termos coordenados. Geralmente aparecem ligados por “e”. Quando os
apóstolos falaram deste “ministério e apostolado” (At 1.25), estavam se
referindo ao “ministério apostólico” como sendo a mesma coisa.

 Fl 2.17 – Sacrifício e serviço


 Gn 1.26 – Imagem e semelhança.
 Ef 4.11 – Pastores e mestres

 Personificação.

Essa forma acontece quando ocorre a atribuição de


características ou ações humanas a objetos inanimados, a conceitos ou a
animais.

Is 35.1 – O deserto e a terra se alegrarão...


Is 55.12 – ...Os montes e os outeiros romperão em cânticos...
as árvores baterão palmas...

 Antropomorfismo

Essa forma é a atribuição de características, qualidades e ações


humanas a Deus.

 Sl 8.3 – ... obras de teus dedos...


 Sl 31.2 – Inclina-me os ouvidos...
 II Cr 16.9 – ... seus olhos passam por toda a terra...

 Antropopatia

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Essa forma acontece quando é atribuído emoções humanas a


Deus.

 Zc 8.2 - ...tenho grande zelos de Sião...


 Zoomorfismo.

Enquanto o antropomorfismo emprega linguagem de


características humanas para atribuir a Deus, o zoomorfismo emprega
características de animais para a mesma atribuição.

 Sl 91.4 – Cobrir-te-á com tuas penas, sob tuas asas estará


seguro...
 Jó 16.9 - ...contra mim rangeu os dentes...

 Apóstrofe

Bem parecido com a personificação, porém na personificação o


escritor fala de um objeto como sendo uma pessoa, mas na apóstrofe o
fala propriamente com o objeto como sendo ele uma pessoa.

 Sl. 114.5 – Que tens o mar, que assim foges?


 Mq 1.2 – Ouvi todos os povos, prestais atenção ó terra...

 Eufemismo

Essa forma se refere a uma substituição de expressão


desagradável por uma outra mais amena. Por exemplo, quando falamos
de morte usamos uma expressão: “passou dessa pra melhor” é um uso
de eufemismo.

 At 7.60 - ...com estas palavras, adormeceu.


 I Ts 4.13 - ...com respeito aos que dormem...

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5.3.1.4 – Figuras de linguagens como omissão ou supressão.

Nesse caso em algumas vezes, a palavra vem omitida no texto deixando


a estrutura incompleta, assim, é necessária a inclusão de idéias pelo leitor para
que o texto seja claro.

 Elipse

Às vezes um adjetivo ligado a um substantivo vem substituir os


dois, como dizemos em português “capital” para representar “cidade
capital”, em nossa expressão omitimos a palavra cidade sabendo que o
leitor entenderá.

 I Co 15.5 – ...apareceu a Pedro depois aos doze (apóstolos).


 II Tm 4.18 – ...me preservará para seu reino celestial
(levará).

 Pergunta retórica.

Essa forma é quando o orador faz uma pergunta que exige uma
resposta; o seu objetivo é forçar o leitor a responder mentalmente para
avaliar suas implicações.

 Gn 18.14 - Acaso para Deus há coisa demasiadamente


difícil?
 Rm 8.31 - ... se Deus é por nós, quem será contra nós?

5.3.1.5 – Figuras de linguagens como exageros ou atenuações.

Nesse caso a figura apresentada no texto tem uma tonalidade de


exagero para destacar o significado além do uso normal.

 Hipérbole

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Essa forma usa uma expressão exacerbada da realidade, vai além


do sentido literal das palavras para destacar o objetivo da questão.

 Dt 1.28 - ...as cidades são grandes e fortificadas até aos


céus...
 Sl 6.6 - ... todas as noites faço nadar o meu leito, de minhas
lágrimas o alago.

 Litotes.

Essa forma é o oposto da hipérbole, ela consiste em suavizar ou


negativar uma frase para expressar uma afirmação. Por exemplo para
dizer que alguém é bom no que faz, usamos a expressão “ela não é mau
no que faz”.

 At 21.39 - ... eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não


insignificante ...
 Nm 13.33 - ...Éramos aos nossos próprios olhos como
gafanhotos, e a assim éramos aos seus olhos.

 Ironia.

Essa forma consiste em ridicularizar indiretamente usando


expressão de elogio. O tom de voz é importante para essa forma, por
isso muitas vezes é difícil percebe-la no texto.

 II Sm 6.20 - ... que bela figura fez o rei de Israel ... (Mikal –
cf vs 20)
 I Rs 18.27 – Clamai em altas vozes, porque ele é deus!

 Pleonasmo

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O pleonasmo é a repetição de palavras ou termos semelhantes


acrescentados que em nossa língua se tornam redundantes.

 Jó 42.5 – Com o ouvir de meus ouvidos ouvi (Trad.


Conhecia de ouvir)
 At 2.30 – Deus lhe havia jurado com juramento. (Trad. Deus
lhe havia jurado.)

5.3.1.6 – Figuras de linguagens como incoerências.

Nesse caso a figura traz aspectos incoerentes em seus sentidos, de


forma contraditória.

 Oxímoro

Essa forma consiste na combinação de termos contraditórios, o


próprio termo já significa isso: oxímoro = grego – Oxus (esperto) e
moros (burros).

 At 2.24 – A glória deles está na sua infância.


 Rm 12.1 – Sacrifícios vivos.

 Paradoxo

Essa forma consiste em uma afirmação aparentemente absurda


ou contrária ao bom senso.

 Mc 8.35 – Quem, perder a vida... salvá-la-á

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5.3.1.7 – Figuras de linguagens de sonoridades.

 Paronomásia.

Essa forma é uma espécie de “jogo de palavras” de “trocadilho”,


consiste em usar as mesmas palavras ou palavras com sons semelhantes
para indicar o seu sentido.

 Mt 8.22 - ... segue-me e deixe os mortos sepultar os mortos...


 Is 5.7 – O Senhor buscava “juízo” (mishpot), mas viu
“matança” (mispoh).

 Onomatopéia

Essa forma é quando uma palavra produz o som do seu objeto


significado. Em português temos vários exemplos assim: murmúrio,
sussurro, chiado, tique taque, etc.

 Jó 9.26 – lançar (û – o verbo hebraico tem o som da águia


ou do falcão quando se lança sobre e presa)
 Jr 19.1,10 – Botija (baqbuq – o som da palavra hebraica é
como o som da água caindo da botija).

5.3.1.8 – Passos da interpretação.

Sabendo em que consistem as figuras de linguagens e de suas


variadas formas, segue aqui alguns passos para facilitar a sua interpretação.

 1° - Descobrir se elas existem

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Nesse primeiro passo devemos localizar as figuras de linguagem


no texto a ser interpretado, não reconhecê-las estando presente pode
ferir gravemente o nosso exercício hermenêutico. Por exemplo, quando
Paulo falou em suportar as adversidades como um bom soldado,
competir como um atleta e receber os frutos da safra como um
fazendeiro (II Tm 2.3-6), ele não estava dizendo a soldados, atletas e
fazendeiro de modo literal, mas em sentido figurado. Quando
localizamos a impossibilidade de ser literal a expressão usada, e assim
categorizada como figura de linguagem, então, podemos seguir para o
segundo passo.

 2° - Descobrir qual a imagem e o objeto representado

Em alguns casos eles serão vistos facilmente no próprio texto,


como no caso de Is 8.7:... “eis que o Senhor fará vir sobre eles as
águas do Eufrates...” poderíamos pensar que estivesse falando de uma
inundação literal, mas o mesmo texto explica no próximo versículo:
“...isto é, o rei da Assíria”.
Outras vezes o objeto não é especificado e pode confundir os
ouvintes, como no caso de Jo 2.19. “Destruí este santuário...” eles
pensaram que Jesus estivesse falando do templo de Herodes, mas Jesus
estava falando de seu corpo. O santuário era a imagem e o objeto dela
era o seu corpo.
Por esta razão é importante após localizarmos as figuras,
descobrirmos qual a imagem e o objeto dessa imagem.

 3º - Descobrir o elemento de comparação

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Nesse caso já separamos a figura expressa no texto, e também já


sabemos qual é a imagem e o objeto que ela representa, agora, temos
que descobrir no texto o elemento de comparação, ou seja, o que o
orador quis dizer ao usar essa figura. O exemplo da símile do Salmo 1
pode nos ajudar a entender melhor.

Elemento de
Texto Imagem Objeto
comparação

Seguro/ prospero/
Árvore Crente
Frutífero

O que?
Salmo 1 Quem?
Como assim?

Muitas vezes a imagem estará visível no texto e o objeto não,


nesse caso geralmente o contexto nos indicará. Cf Lc 5.34

5.3.1.9 – Conclusão e exercícios


 Quadro resumo das figuras de linguagem
FIGURA EXPLICAÇÃO CARACTERÍSTICA EXEMPLO
Comparação expressa e Como; assim como; tal I Pe 1.24
Símile Sl 1.3,4
direta. qual; tal como;
Lc 10.3
Verbo “ser”: és, é, Is 40.6
COMPARAÇÃO Metáfora O elemento representa outro. Mt 5.13
sois, sou, etc.
Jo 10.7,9
Comparação onde a Sl 22.16
Hipocatástase Substituição do nome
comparação é direta. Fl 3.2
“Igreja= Membros” Jr 18.18
Um palavra substitui outra
Metonímia “Congresso= Sl 18.1
sem perder o significado
Deputados” I Co 10.21
“Todo= povo Lc 2.1
Sinédoque Parte toma o lugar do todo especifico” Pv 1.16
“Cabeça= corpo todo” Rm 16.4
É similar ao sinédoque, só que Palavras substituídas de
Merisma
em contraste significado opostos Sl 139.2
SUBSTITUIÇÃO
Dois termos coordenados Fl 2.17
Hendíade representam uma mesma Ligados por “e” Gn 1.26
coisa Ef 4.11
Personificação Ações humanas a objetos, “Deserto se alegrará” Is 35.1
animais, etc. Is 55.12
Sl 8.3
Antropomorfism Atribuição de características “Dedos; ouvidos;
Sl 31.2
o humanas a Deus mãos... de Deus”
II Cr 16.9

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São atribuições de emoções “Zelo; Ira; tristeza...


Antropopatia Zc 8.2
humanas a Deus de Deus”
Atribuições de características “Penas; asas; dentes... Sl 91.4
Zoomorfismo
animais a Deus de Deus” Jó 16.9
Como na personificação, só O objeto é visto como Sl 114.5
Apóstrofe
que como pessoa. pessoa Mq 1.2
Substituição de uma expressão “Dormir no lugar de At 7.60
Eufemismo
dura, por uma mais amena morrer” I Ts 4.13
Uma palavra substitui o Doze = os doze I Co 15.5
Elipse
adjetivo e o substantivo apóstolos II Tm 4.18
SUPRESSÃO A resposta é mental, Gn 18.14
Pergunta È uma pergunta que exige
retórica uma resposta lógica para que o ouvinte Rm 8.31
reflita
Uma expressão exagerada Vai além do sentido Dt 1.28
Hipérbole
para extenuar a questão literal Sl 6.6
Contrario da hipérbole, Ele é bom = “não é tão At 21.39
Litotes diminui exageradamente de Nm 13.33
mau assim”
forma negativa
EXAGERO
ATENUAÇÕES Muita atenção para II Sm 6.20
Expressão que ridiculariza
Ironia percebê-la, pois vale I Rs 18.27
usando elogios
muito o tom de voz
É a repetição de termos “ouvir com os ouvidos” Jó 42.5
Pleonasmo similares tornando redundante At 2.30
a questão
Combina termos “silencio eloqüente” At 2.24
Oximoro
contraditórios “valentia medrosa” Rm 12.1
INCOERÊNCIAS
Paradoxo Absurda ao bom senso, “quem perder ganha” Mc 8.35
contraria
Trocadilho ou jogo de palavras “mortos sepultar os Mt 8.22
Paronomásia com palavras de sons mortos” Is 5.7
SONORIDADES semelhantes
Quando uma palavra produz Jó 9.26
Onomatopéia “tique-taque, chiado”
som do objeto que representa Jr 19.1,10
 Para responder:

A - Que tipo de Figura de linguagem é:

REFERÊNCIA TEXTO FIGURA

1 Ef 4.11 Pastores e mestres...

2 Ef 4.30 Não entristeçais o Espírito Santo de Deus...

3 Sl 3.5 Me deito e durmo, acordo e o Senhor me sustenta.

4 Sl 61.4 Dá que, me abrigue no esconderijo das suas asas...

5 Is 53.6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas...


Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros? De
6 Mq 6.7
dez mil ribeiros de azeite?
7 I Co 15.55 Onde está, ó morte, a tua vitória?

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8 I Sm 24.3 E Saul entrou na caverna para aliviar o ventre...

9 Jó 12.2 Vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria...

10 Mt 2.10 Alegraram-se com grande e intenso jubilo.

11 Rm 16.4 Arriscaram suas próprias cabeças...

12 I Pe 3.12 Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos...

13 Mt 23.33 Serpentes, raça de víboras! Como escapareis do


inferno?
14 Sl 84.11 Porque o Senhor é sol e escudo...

15 Mc 3.4 É licito no sábado fazer bem, ou fazer mal? Salvar


vidas ou matar?
16 Ap 2.9 Conheço... a tua pobreza, mas tu és rico...

17 Mt 20.22 Podeis beber o cálice que estou para beber?

B – Preencha o quadro:

TEXTO FIGURA IMAGEM OBJETO COMPARAÇÃO


Seguro
Sl 1.3a Símile Arvore O crente prospero
frutífero

Salmo 23.1

Is 53.6

Mt 16.11

Is 57.20

Sl 84.11

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C – Ligue de acordo:

FIGURA SIGNIFICADO

ANTROPOMORFISMO   Atribuição de emoções humanas a Deus

EUFEMISMO   Exagero fora do normal

SINÉDOQUE   Comparação de elementos com a


conjunção “como”

HÍPERBOLE   Substituição da parte pelo todo

PARADOXO   Afirmação que suaviza o termo literal

ZOOMORFISMO   Ridicularização em forma de elogio

ANTROPOPATIA   Características humanas dadas a Deus

MATÁFORA   Características animais dadas a Deus

IRONIA   Uso na frase de termos contraditórios

SÍMILE   Elementos comparados onde se usa o


verbo “ser”

5.3.2 – A interpretação dos tipos.

Os tipos são correspondentes entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento.


O Novo Testamento possui um grande número de personagens, elementos e fatos, que
foram prefigurados no Antigo Testamento.
Muitos estudiosos derivam suas opiniões acerca da quantidade de tipos
encontrados no Novo Testamento, nesse caso é bom tomar muito cuidado ao tentar
interpretar um tipo, acredito haver na verdade menos tipos na Bíblia do que o proposto
por alguns escritores. Algumas pessoas buscam significado em todos os objetos
encontrados no Antigo Testamento, por exemplo, afirmam que as dobradiças da porta
do templo de Salomão representam as duas naturezas de Cristo. Devemos rejeitar a
possibilidade do uso de tipologia, a menos que tenhamos claras indicações do texto.
Por isso é necessário saber o que é um tipo, o que ele caracteriza e como interpretá-lo
no texto bíblico.

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Apostila de Hermenêutica
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Instituto Batista Missionário

5.3.2.1 – O tipo e antítipo

Tipo é o objeto e o antítipo é a sua representatividade, por exemplo:


I Pe 3.21 diz que o batismo nas águas é um antítipo do dilúvio que ocorreu nos
dias de Noé. O dilúvio nesse caso é o tipo, que diz que os dois representam a
mesma causa, ambos simbolizava julgamento; enquanto o dilúvio significou a
morte aos perversos, o batismo nas águas retrata a morte de Cristo e a
identificação com ela.

5.3.2.2 – As características de um tipo

Um tipo deve conter pelo menos seis elementos: uma semelhança com
o antítipo, um realismo histórico, um aspecto de prefiguração ou predição ao
antítipo, a elevação da superioridade do antítipo, o planejamento divino e uma
especificação no Novo Testamento, sem a presença desses seis elementos
devemos rejeitar a idéia de ser uma tipologia.

 Semelhança

A primeira característica que devemos descobrir para


caracterizar um tipo é a similaridade que ele deve ter com o seu
correspondente, ou seja, o antítipo. Devemos tomar cuidado para não
forçar o texto em sua semelhança, ela deve ser natural, também não
devemos confundir quando o texto retrata simplesmente um exemplo e
não uma representatividade.

 Realidade histórica

Os tipos do Novo Testamento não são simplesmente uma


realidade imaginária no Antigo, eles tratam de realismo histórico
ocorrido nele. Os tipos consistem em pessoas que existiram, em
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Apostila de Hermenêutica
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acontecimentos reais, em fatos testemunhados. Devemos evitar procurar


sentidos ocultos no texto e ater-nos somente aos fatos históricos
registrados. O tipo deve surgir naturalmente do texto, sem que o
intérprete tenha que forçar, imaginar ou acrescentar algo, por exemplo,
o tabernáculo é com certeza um tipo (Hb 8.5; 9-2324), mas não
podemos dizer que cada parte ou pormenor de sua construção
represente algo no Novo Testamento.

 Prefiguração

O tipo é uma forma de profecia, ele antevê e chama a atenção


para o antítipo. Ele contém elementos e traços de predição ao antítipo,
ou seja, que aponta para frente. Isso não significa que nos personagens e
eventos ocorridos no Antigo Testamento, todos sabiam que era uma
predição; ou que simplesmente suas vidas eram representantes de algo
posterior, mas que na visão de Deus isso era patente, para Ele o fato
presente era na verdade uma retrospectiva do que traria no futuro.

 Elevação

De forma geral, para categorizarmos se é ou não um tipo e


antítipo, devemos observar a elevação do antítipo. O antítipo deve
ocupar posição elevada em relação ao tipo. Por exemplo, Cristo é
superior a Melquisedeque; a obra redentora de Cristo é superior a
páscoa, ou seja, o antítipo é superior ao tipo. Se não houver elevação
entre os aspectos encontrados no Antigo Testamento em relação às
semelhanças encontradas no Novo, não é um tipo.

 Planejamento divino

Os tipos são semelhanças planejadas por Deus, não


simplesmente meras coincidências entre pessoas e eventos. Nesse caso
os tipos têm valor apologético, pois a tipologia confirma o

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Apostila de Hermenêutica
61
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planejamento divino na relação entre o Antigo e o Novo Testamento


quando descobrimos os tipos vemos que Deus os criou com uma
finalidade, por esta razão devemos evitar qualquer semelhança entre
coisas serem tipos, somente por possuírem algumas aparências.

 Especificação no Novo Testamento

Essa característica deixa limitada a nossa imaginação em tentar


descobrir tipos forçados na Bíblia, por isso, talvez seja a característica
mais importante. O texto deve indicar de alguma forma que o elemento
é um tipo. Se não há indicações específicas no texto não é um tipo, o
interprete que quiser buscar correspondências e semelhanças entre o
Novo e o Antigo Testamento irá encontrar muito deles, mas estará
acarretando em alegorização.

 Quadro resumo dos seis elementos:

Tipo = Melquisedeque Antítipo = Sacerdócio de Cristo

1 Semelhança? Sim – O sacerdócio fora de tempo (eterno)


0

2 Realidade histórica? Sim – Melquisedeque viveu nos dias de Abraão

3 Prefiguração? Sim, apontava para o sacerdócio eterno de Cristo

4 Elevação? Sim – Cristo é maior

5 Planejamento divino? Sim – Abraão entendeu

6 Especificação no NT? Sim – Hb 7.3,15-17

Conclusão Melquisedeque é uma tipologia de Cristo

5.3.2.3 – Tipos, Ilustração e Alegoria.

Descobrimos e firmamos a possibilidades de ser um tipo real nas


Escrituras quando ele satisfez as seis características estudadas, assim não
correremos o risco de alegorização. A alegorização é um perigo, e devemos
fugir dessa espécie de interpretação, os tipos são vistos como um vasto campo
para o crescimento de alegorias na hermenêutica.
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Apostila de Hermenêutica
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Como já mencionei, algumas pessoas apaixonadas por tipologias


querem ver tipos em toda parte da Bíblia. Devemos evitar categorizar um tipo
que não se encaixe nas proporções dos seis elementos estudados, e não ocorre
de meras coincidências de fatos, e às vezes pequenas ilustrações serem
confundidas com tipologia e transformar a sua hermenêutica em alegorização
textual. Habershon13 escreveu uma manual de tipologia com varias paginas
para justificar diversos tipos na bíblia. Ele conseguiu notar 68 similaridades e
mais 14 formas de contraste entre Cristo e Moisés, e dessa forma categorizou
como sendo Moisés um tipo de Cristo. Seguindo a mesma forma, podemos
olhar o quadro a seguir e notar várias semelhanças que ele destacou entre José
e Cristo:

JOSÉ JESUS
1
Alimentando o rebanho (Gn 37.2) O Bom Pastor (Jo 10.11,14)

Relatava as más ações dos irmãos (Gn Revelou as obras más dos homens (Jo
2
37.2) 3.19,20)
3 Amado (pelo pai) (Gn 37.3) Meu Filho amado (Mt 3.17)
4 Odiado (pelos seus irmãos) (Gn 37.4,5) Odiado sem causa (Jo 15.25)
5 Não acreditavam nele (Gn 37.5) Nem seus irmãos criam nele (Jo 7.5)
6 Reverência (Gn 37.7,9) Preeminência em tudo (Cl 1.18)
7 Reinará sobre nós? (Gn 37.8) Não queremos este homem (Lc 19.14)
8 Invejado (Gn 37.11) Entregue por inveja (Mc 15.10)
Sua mãe guardava todas essas palavras no
9 Seu pai guardou as palavras (Gn 37.11)
coração (Lc 2.51)
10 Enviado a seus irmãos (Gn 37.13) Enviarei meu filho amado (Lc 20.13)
11 Aqui estou (Gn 37.13) Aqui estou (Sl 40.7,8)
12 Traga-me notícias (Gn 37.14) Agora venho a ti (Jo 17.13)
Do vale de Hebron (comunhão) (Gn
13 A glória que tive contigo (Jo 17.5,24)
37.14)
A uma cidade em Samaria que é chamada
14 Chegou a Siquém (Gn 37.14)
Sicar (ou Siquém) (Jo 17.5,24)
O campo é o mundo; Não tinha onde
15 Vagueando pelos campos (Gn 37.15)
repousar a cabeça (Mt 13.38; Lc 9.58)
16 Procuro meus irmãos (Gn 37.16) Vim buscar e salvar (Lc 19.10)
17 Foi atrás dos irmãos (Gn 37.17) Busca os perdidos (Lc 15.4)
Tomaram decisão contra ele (Mt 27.1; Jo
18 Conspiraram contra ele (Gn 37.18)
11.53)
19 Veremos (Gn 37.20) Para que vejamos (Mc 15.32)
20 Despido (Gn 37.23) Tiraram-lhe as vestes (Mt 27.28)
21 O poço (37.24) A cova horrível (Sl 40.2; 69.2,14,15)
22 Sentaram-se ()Gn 37.25 Sentaram-se e o olharam ali (Mt 28.36)
Trinta moedas de prata (Mt 26.15; 27.9; Ex
23 Vinte peças de prata (Gn 37.28)
21.32)
24 Para o Egito (Gn 37.36) Do Egito chamei o meu Filho (Mt 2.14,15)

13
HABERSHON, Ada. Manual de tipologia bíblica. São Paulo: Vida, 2003 p.163
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Apostila de Hermenêutica
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Servo de Potifar, oficial do faraó e Servo de governantes; A forma de servo (Is


25
capitão da guarda (Gn 39.1; Sl 105.17) 49,7; Fp 2.7)
26 O Senhor com José (Gn 39.2,21,23) O Pai está comigo (Jo 16.32)
O Senhor fez prosperar tudo quanto fazia A vontade do Senhor prosperará na sua
27
(Gn 39.3) mão (Is 53.10)
28 Tudo entregue as suas mãos (Gn 39.4,8) De todas as coisas na sua mão (Jo 3.35)
29 Abençoado por amor a José (Gn 39.5) Abençoados em Cristo (Ef 1.3; 4.32)
30 Deixou tudo com José (Gn 39.6) Capaz de guardar (2 Tm 1.12)
31 Pessoa atraente (Gn 39.6) Ele é mui desejável (Ct 5.16)
“Crescia em sabedoria, estatura e graça
32 Boa aparência (Gn 39.6)
diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52)
Como poderia eu cometer algo tão
33 Porém sem pecado (Hb 4.15)
perverso? (Gn 39.9)
Onde eram amarrados os prisioneiros do Amarraram-no e o levaram embora (Mt
34
reino (Gn 39.20) 27.2)
Machucaram-lhe os pés com correntes Perfuraram minhas mãos e meus pés (Sl
35
(Sl 105.18,19) 22.16)
Dois oficiais do faraó [...] onde José Dois outros homens, ambos criminosos (Lc
36
estava preso (Gn 40.2,3) 23.32)
(Mensagem de vida para um) Dentro de
“Hoje você estará comigo no paraíso” (Lc
37 três dias o faraó vai exaltá-lo e restaura-
23.43)
los a sua posição (Gn 40.13)
Hoje me lembro de minhas faltas [...] Estamos recebendo o que nossos atos
38 havia conosco um jovem hebreu (Gn merecem. Mas este homem não cometeu
41.9,12) nenhum mal. (Lc 32.41)
Estou entre vocês como aquele que serve
39 Ele lhes servia (Gn 40.4)
(Lc 22.27)
Por que hoje vocês estão tristes? (Gn Sobre o que vocês conversaram tristes pelo
40
40.7) caminho? (Lc 24.17)
Façam isto em memória de mim (I Co
41 Lembre-se de mim (Gn 40.14)
11.24)
O que vocês fizeram a algum dos meus
42 Seja bondoso comigo (Gn 40.14) menores irmãos, a mim o fizeram. (Mt
25.40)
Quem, pois, me confessar diante dos
43 Fale de mim (Gn 40.14) homens, eu também o confessarei diante
do meu Pai (Mt 10.32)
O copeiro-chefe, porém, não se lembrou
Mas ninguém se lembrou daquele pobre.
44 de José [...] esqueceu-se dele (Gn
(Ec 9.15)
40.23)
Aqui nada fiz para ser jogado neste Qual de vocês pode me acusar de algum
45
calabouço. (Gn 40.15) pecado? (Jo 8.46)
Saído da prisão e chegado ao trono (Ec
46 Trazido do calabouço (Gn 41.14)
4.14)
Mas Deus o ressuscitou dos mortos,
47 O rei mandou solta-lo (Sl 105.20)
rompendo os laços da morte (At 2.24)
O Filho não pode fazer nada de si mesmo;
48 Isso não depende de mim (Gn 41.16)
só pode fazer o que vê o Pai fazer (Jo 5.19)
“Esse é o meu Filho amado em quem me
49 Deus mostrou a ao faraó (Gn 41.25)
agrado” (Mt 17.5)
Um homem em quem está o Espírito de Ungido com o Espírito Santo e com poder
50
Deus (Gn 41.38) (At 10.38)
O Pai ama o Filho, e lhe mostra tudo o que
51 Deus lhe mostrou tudo isso (Gn 41.39)
faz (Jo 5.20)
Ninguém tão criterioso e sábio (Gn Todos os tesouros da sabedoria e do
52
41.39) conhecimento (Cl 2.3)
53 O comando do meu palácio (Gn 41.40) Como filho sobre a casa de Deus; e esta

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casa somos nós (Hb 3.6)


Todo o meu povo se sujeitará a suas O governo está sobre os seus ombros (Is
54
ordens (Gn 41.40) 9.6,7)
Sem a sua palavra ninguém poderá Sem mim, vocês não podem fazer coisa
55
levantar a mão ou o pé (Gn 41.44) alguma (Jo 15.5)
Para que ao nome de Jesus se dobre todo
56 Dobrem o joelho! (Gn 41.43)
joelho (Fp 2.10)
Trinta anos de idade (Gn 41.46; Nm 4; 2
57 Cerca de trinta anos idade (Lc 3.23)
Sm 5.4)
José estocou muito trigo [...] além de
58 As insondáveis riquezas de Cristo (Ef 3.8)
toda a medida (Gn 41.49)
Manassés – Deus me fez esquecer o Verá o resultado do sofrimento da sua alma
59
sofrimento (Gn 41.51) e ficará satisfeito (Is 53.11)
60 Efraim – Frutífero (Gn 41.52) Muito fruto (Jo 12.24)
Seus discípulos lembraram-se do que ele
61 Como José tinha predito (Gn 41.54)
tinha dito (Jo 2.22)
62 “Dirijam-se a José” (Gn 41.55) Senhor, para quem iremos? (Jo 6.68)
63 Façam o que ele disser (Gn 41.55) Façam tudo que ele lhes mandar (Jo 2.5)
Uma grande fome em toda aquela terra (Lc
64 Fome por toda a terra (Gn 41.56-57)
15.14)
Não uma fome de pão [...] mas de ouvir as
65 Começou a sofrer com a fome (Gn 41.56)
palavra do Senhor (Am 8.11)
As janelas do céu; Enquanto [...] nos
José mandou abrir os armazéns (Gn
66 expunha as escrituras (Ml 3.10; Lc
41.56)
24.27,32)
Todos os paises vinham comprar (Gn A minha salvação está aos confins da terra
67
41.57) (Is 49.6)
Bênçãos sobre a cabeça daquele que se
68 Era ele que vendia trigo (Gn 42.6) dispõe a vender trigo; nenhum outro nome
(Pv 11.26; At 4.12)
69 José os reconheceu (Gn 42.7-8) Ele conhecia os homens (Jo 2.24-25)
O mundo não o reconheceu. Veio para o
70 Mas eles não o reconheceram (Gn 42.8) que era seu, mas os seus não o
reconheceram (Jo 1.10-11)
Se os homens forem acorrentados, presos
José agiu como se não os conhecessem, firmemente com as coradas da aflição, ele
71 e lhes falou asperamente [...] E os lhes dirá o que fizeram, que pecaram com
deixou presos três dias (Gn 42.7,17) arrogância. Ele os fará ouvir a correção (Jó
36.8-10)
Teremos de prestar contas do seu sangue
72 Seu sangue seja sobre nós (Mt 27.25)
(Gn 42.22)
Não sabiam que José podia compreendê- Ele se inspirará no temor do Senhor (terá
73
los (Gn 42.23) rápido entendimento) (Is 11.3)
Falava-lhes por meio de um interprete Receberá do que é meu e o tornará
74
(Gn 42.23) conhecido a vocês (Jo 16.13-14)
Retirou-se e começou a chorar (Gn
75 Embaixadores de Cristo (II Co 5.20)
42.24)
José deu ordem para que enchessem de
Viu a cidade e chorou sobre ela (Lc 19.41)
76 trigo suas bagagens (Gn 42.25)

Que a supre do melhor do trigo (SI Todos recebemos da sua plenitude (Jo
78 147.14) 1.16)

Devolveu a prata de cada um deles (Gn


Sem dinheiro e sem custo (Is 55.1)
79 42.25)

Mandou que lhes dessem mantimentos Suprirá todas as necessidades de vocês (Fp
80
para a viagem (Gn 42.25) 4.19)
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Instituto Batista Missionário

Todas as promessas se cumpriram (Js


E assim foi feito (Gn 42.25)
81 21.45; 23.14)

Todo o mantimento que puderem


Tanto quanto queriam (Jo 6.11)
82 carregar (Gn 44.1)

Leve estes homens à minha casa (Gn


Obrigue-os a entrar (Lc 14.23)
83 43.16)

Prepare-o (Gn 43.16) Tudo está preparado (Mt 22.4)


84
O perfeito amor expulsa o medo
Ficaram com medo (Gn 43.18)
85 (I Jo 4.18)

Dirigiram-se ao administrador e falaram


Ele lhes ensinará todas as coisas (Jo 14.26)
86 com ele (Gn 43.19)

Procurando estabelecer a sua própria


Trouxemos mais prata (Gn 43.22)
87 justiça (Rm 10.3)

Fiquem tranquilos. Não tenham medo. Para que vocês transbordem de esperança,
88 (Gn 43.23) pelo poder do Espírito Santo. (Rm 15.13)

Eles festejaram e beberam. (Gn 43.34) Começaram a festejar. (Lc 15.14)


89
Deus trouxe à luz a culpa dos teus servos Convencerá o mundo do pecado (Jo 16.8,
90 (Gn 44.16) 9)

Os olhos deles foram abertos e o


José se revelou (Gn 45.10)
91 reconheceram (Lc 24.31)

Olharão para mim, a quem


Da segunda vez; Ficaram pasmados
traspassaram, e chorarão por ele (Zc
92 diante dele (At 7.13; Gn 45.3)
12.10)

Eu sou José, o seu irmão, que vocês Eu sou Jesus, a quem você persegue (At
93 venderam (Gn 45.4) 9.5)

Cheguem mais perto (Gn 45.4) Foram aproximados (Ef 2.13)


94
Deus me enviou (Gn 45.5,7) Deus enviou o seu Filho unigênito (I Jo 4.9)
95
Ele nos livrou de tão grande e mortal
Com grande livramento (Gn 45.70
96 perigo (II Co 1.10)

Por propósito determinado e pré-


Não vocês [...] mas Deus (Gn 45.8)
97 conhecimento de Deus (At 2.23)

Voltem depressa. (Gn 45.9) Agora é o tempo favorável (II Co 6.2)


98
Aquele que vem a mim nunca terá fome
Providenciarei sustento (Gn 45.11)
(Jo 6.35)
99

José sustentou seu pais [...] e toda a O Senhor é o meu pastor, de nada terei
100 família, de acordo com o número dos falta (SI 23.1)
filhos (Gn 47.12)
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Vocês estão vendo com seus próprios


Vejam as minhas mãos e os meus pés. Sou
olhos que realmente sou eu que estou
101 eu mesmo! Toquem-me e vejam (Lc 24.39)
falando com vocês (Gn 45.12)

Contem a meu pai quanta honra me


O evangelho da glória de Cristo (II Co 4.4)
102 prestam (Gn 45.13)

Seus irmãos conseguiram conversar com O próprio Jesus se aproximou e começou a


103
ele (Gn45.15) caminhar com eles (Lc 24.15)
Venham a mim (Gn 45.18,19) Venham a mim (Mt 11.28)
104
Não se preocupem com os seus bens, Esquecendo-me das coisas que ficaram
pois o melhor de todo o Egito será de para trás e avançando para que estão
105
vocês (Gn 45.20) adiante (Fp 2.13,14)

Um certo Jesus, o que Paulo insistia que


José ainda vive (Gn 45.26,28)
106 estava vivo (At 25.19)

O coração de Jacó quase parou! Não Não creram ainda, devido à alegria (Lc
107 podia acreditar neles (Gn 45.26) 24.41)

Agora podes despedir em paz o teu servo.


Agora já posso morrer, pois vi o seu
Pois os meus olhos já viram a tua salvação.
108 rosto (Gn 46.30)
(Lc 2.29,30)

Jesus não se envergonha de chamá-los


Meus irmãos (Gn 46.31; 47.1)
109 irmãos (Hb 2.11)

Não nos deixes morrer (Gn 47.15,19) Eu sou a Ressurreição e a Vida (Jo 11.25)
110
A nossa prata acabou (Gn 47.18) Depois de gastar tudo (Lc 15.14; Mc 5.26)
111
Nada mais nos resta a não ser os nossos
Não tinham com que pagar (Lc 7.42)
112 próprios corpos (Gn 47.18)

Hoje comprei vocês (Gn 47.23) Comprados por alto preço (I Co 6.20)
113
Sementes para os campos e alimentos Sementes para o semeador e pão para
114 para vocês (Gn 47.24) quem come (Is 55. 10,11; II Co 9.10)

Vendo os irmãos de José que seu pai


havaia morrido [...] mandaram um Você não me conhece, mesmo depois de eu
recado a José dizendo: Peco-lhe que ter estado com vocês durante tanto tempo?
115
perdoe [...] E José chorou (Gn 50. 15- (Jo 14.9)
17)

Deus o tornou em bem para que hoje


fosse preservada a vida de muitos (Gn Ao levar muitos filhos à glória (Hb 2.10)
116
50.20)

Por isso, não tenham medo [...] e os Não se perturbe o coração de vocês (Jo
117 tranquilizou (Gn 50.21) 14.1)

José é uma árvore frutífera [...] cujos Eu sou a videira; vocês são os ramos (Jo 15.
118 galhos passam por cima do muro. (Gn 5)
49.22)
119 Arvore frutífera à beira de uma fonte Se tornará nele uma fonte de água (Jo
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(Gn 49.22) 4.14)

Com rancor arqueiros o atacaram,


Um homem de dores e experimentado no
atirando-lhe flechas com hostilidade.
120 sofrimento (Is 53.3)
(Gn 49.23)

Mas o seu arco permaneceu firme, os


seus braços fortes, ágeis para atirar,
Cobri de forças um guerreiro (SI 89. 19)
121 pela mão do Poderoso de Jacó, pelo
nome do Pastor (Gn 49.24)

Aquele grande Pastor das ovelhas (Hb


Pelo nome do Pastor (Gn 49.24)
122 13.20)

A pedra que os construtores rejeitaram,


A Rocha de Israel (Gn 49.24) tornou-se a pedra angular Mt
123
(21.42)

Por isso Deus, o teu Deus,escolheu-te


Que a bênção venha sobre a cabeça de
dentre os teus companheiros ungindo-te
124 José Dt 33.1 6; Gn 49.25,26)
com óleo de alegria (SI 45.7)

Separado de entre seus irmãos (Gn


Separado dos pecadores (Hb 7.26)
125 49.26)

O primogénito entre muitos irmãos (Rm


A primogenitura era de José (ICr 5.2)
126 8.29)

Não se entristecem com a ruína de José Vocês não se comovem, todos vocês que
127 (Am 6.6) passam por aqui? (Lm 1.12)

Um novo rei, que nada sabia sobre José Nenhum dos poderosos desta era o
128 (Êx 1.8) entendeu (I Co 2.8)

José ficará em seu território ao norte ( Permaneçam em mim, e eu


129 Js 18.5) permanecerei em vocês (Jo 15.4)

Josué disse à tribo de José: "Vocês são Tudo posso naquele que me fortalece (Fp
130 numerosos e fortes." ( Js 17.17) 4-13)

Somos um povo numeroso, e o Senhor Abençoados com todas as bênçãos


131 nos tem abençoado ricamente (Js 17.14) espirituais (Ef 1.3)

As tribos de José ficaram mais poderosas Mais que vencedores, por meio daquele
132 (Jz 1-35) que nos amou (Rm 8.37)

Olhando para a grande imaginação de Habershon podemos concluir que


se o interprete não tiver definido em sua cabeça a tipologia correta, ele será
seduzido a ver, toda semelhança de palavras ou ações, como um tipo. O
resultado disto será uma interpretação alegórica, onde o interprete busca
significados ocultos, paralelos, e qualquer semelhança lhe dizem a
interpretação.
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 Ilustração

Alguns eventos e pessoas no Antigo Testamento evidenciam


uma ilustração de uma verdade do Novo Testamento, mas não deve ser
visto como um tipo. Ilustração é o oposto do tipo, este é interpretado no
Antigo Testamento e aponta para o antítipo que é futuro, então nos
deixa entendê-lo melhor. Já a ilustração faz o oposto, um fato é
interpretado no texto do Novo Testamento, mas há fatos que o ilustram
no Antigo.
Exemplos:

Elias é uma ilustração de homem que ora com fervor (Tg 5.17),
mas Tiago também pode ser usado como ilustração, assim como Daniel
e outros.
O episodio de Jonas na barriga do peixe não era uma profecia do
sepultamento de Jesus (Mt 12.40), mas o próprio Jesus citou esta
passagem para ilustrar o que aconteceria com ele. Ou seja, há
semelhanças nos eventos.
Similaridade com o tipo:

Para ser usado e considerado ilustração, não precisa ter os seis


elementos do tipo, mas ela pode ter três deles, a semelhança,
historicidade e planejamento divino. Mas ela não tem valor profético,
não trazem consistência em um antítipo e tem semelhanças em eventos
e pessoas do Novo Testamento, mas não identificação direta.

 Quadro resumo da ilustração:

ILUSTRAÇÃO
OBJETO SEMELHANÇA IMAGEM ILUSTRADA
Rejeitado
José Preso injustamente Cristo
“Salvador”
Santuário
Templo de Salomão Habitação de Deus Igreja
Casa de Deus
Davi Rei de Israel Jesus

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 Alegoria
Um dos perigos que a tipologia trás ao interprete é o erro de
tentar ver nos tipos e ilustrações da Bíblia uma espécie de alegorização.
Quando o interprete deseja ver um significado não real nas
semelhanças entre o tipo e o antítipo, o objeto e a imagem que ilustra
ele comete a alegorização. Devemos evitar qualquer informação
imposta ao texto que seja apenas curiosidade entre fatos correlatos,
nossa limitação deve ser o que ele próprio sugere.
Exemplo:

Na vitória de Davi sobre Golias, a funda representa a fé que faz


o crente atirar contra o inimigo; a pedra representa o Espírito Santo que
dá a vitória ao crente contra os seus inimigos espirituais; Golias
representa o Diabo que quer massacrar os filhos de Deus, e a espada
que Davi usou pra lhe cortar a cabeça representa a bíblia que é a
revelação e garante a vitória na vida do crente.

 Quadro resumo dos tipos, ilustração e alegoria:

TIPOLOGIA ILUSTRAÇÃO ALEGORIA


Há uma correspondência, ou Possui alguma Não há correspondência
1 semelhança direta com o correspondência exata, se procura um
antítipo. exata. sentido oculto.
A ilustração precisa ter
Possui historicidade O significado literal e a
historicidade que
2 (dependência de significado historicidade não é
clareia o fato
literal). importante, nem relevante.
correspondente.
Apenas um exemplo Formação de conceitos
É uma prefiguração do
3 que pode ser usado ocultos. Sempre procura o
antítipo (profecia).
sem ligação profética. que está por trás.
Não tem cumprimento
Existe um cumprimento com Não tem nenhuma ligação
4 em nenhum fato
elevação do antítipo. com algo noutro texto.
correspondente.
Fruto da imaginação do
Planejado por Deus para uma Planejada por Deus interprete, sem justificativa
5
finalidade. para instrução. textual da intenção de
Deus.
Não precisa ter relação com
Pode servir pra ilustrar
Há uma identificação direta nada no Novo Testamento,
6 vários fatos, não
no Novo Testamento. ou com qualquer outro
somente um.
ensino.

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 Para responder:

A – Isaac é um tipo de Cristo, ou uma ilustração? Avalie nas seis exigências do tipo?

Tipo = Isaac Antítipo = Sacrifício de Cristo

1 Semelhança?
0

2 Realidade histórica?

3 Prefiguração?

4 Elevação?

5 Planejamento divino?

6 Especificação no NT?

Conclusão

B – Localize na Bíblia, um tipo e preencha as correspondências que lhe comprovam.

Tipo = Antítipo =

1 Semelhança?
0

2 Realidade histórica?

3 Prefiguração?

4 Elevação?

5 Planejamento divino?

6 Especificação no NT?

Conclusão

C – Localize na Bíblia uma ilustração, e escreva o que ela está ilustrando sobre a
imagem.

OBJETO SEMELHANÇAS IMAGEM ILUSTRADA

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D – Responda se a citação é tipologia (TIPO), ilustrativa (ILUSTAÇÂO) ou alegórica


(ALEGORIA).
CITAÇÃO RESPOSTA
A glória do Reino de Salomão representa A glória de
1 Ilustração
Cristo como Rei.
2 A páscoa nos fala de Cristo como nosso sacrifício.

3 Caim representa o homem natural sem Jesus.

4 Adão é um representante de Cristo.


A hospedaria da parábola do bom samaritano
5
representa a igreja.
6 Eva representa a igreja como a noiva de Cristo.
A madeira de acácia usada no tabernáculo representa a
7
humanidade de Cristo.
O sábado representa a paz e o descanso que Cristo nos
8
dá.
9 Arão representa o ministério sacerdotal de Cristo.
Davi comendo os pães da propiciação representa Jesus
10
comendo os cereais no sábado.
Jonas ter sido cuspido do peixe representa a
11
Ressurreição de Cristo.
O altar de incenso do tabernáculo representa a obra
12
intercessora de Cristo.
A água da bacia do tabernáculo representa o Espírito
13
Santo.
A serpente de bronze levantada no deserto representa
14
a crucificação de Cristo.
A vara de Arão que floresceu representa a ressurreição
15
de Cristo.
16 Holocausto representa o sacrifício prefeito de Cristo.

17 Abraão representa todo aquele que crê.


O sacrifício oferecido pelos pecados representa a morte
18
de Cristo como sacrifício do pecado da humanidade.
O Maná no deserto representa a provisão que Deus dá
19
ao crente.
20 Enoque representa o arrebatamento da igreja.
As dobradiças das portas do templo de Salomão
21
representam a nova e a velha natureza do salvo.

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 Quadro resumo dos tipos por Zuck:


TIPO ANTÍTIPO PASSAGEM
PERSONAGEM
Melquisedeque O sacerdócio eterno de Cristo Hb 7.3,15-17
Arão O ministério sacerdotal de Cristo Hb 5.4-5
FATOS
Festa da páscoa Cristo, nosso sacrifício I Co 5.7
Festa dos pães O caminhar santificado do cristão I Co 5.7
azímos
Festa das primícias A ressurreição de Cristo, garantia da I Co 15.20-23
ressurreição dos crentes
Festa de A vinda do Espírito Santo Jl 2.28; At 2.1-47
pentecostes
Festa das O reagrupamento de Israel Mt 24.21-23
trombetas
Dia da expiação Conversão de Israel pelo sangue de Cristo Zc 12.10;
Rm 11.26;
Hb 9.19-28
Festa dos Provisão divina para as necessidades Jo 7.2, 37-39
tabernáculos humanas
Sábado Descanso espiritual do cristão Cl 2.17;
Hb 4.3,9-11
ELEMENTOS
Tabernáculo Cristo – o acesso do crente a Deus e a Hb 8.5; 9.23-24
base da comunhão com Ele
Cortina do Cristo – o acesso do crente a Deus Hb 10.20
tabernáculo
Holocausto O sacrifício perfeito de Cristo Lv 1; Hb 10.5-7;
Ef 5.2
Oferta de manjares O sacrifício perfeito de Cristo Lv 2; Hb 10.8
Sacrifícios O sacrifício de Cristo, base da nossa Lv 3; Ef 2.14;
pacíficos comunhão com Deus Cl 1.20
Sacrifício pelos A morte de Cristo pelo pecador e relação Lv 4.1-5.13;
pecados à condenação do pecado Hb 13.11-12

Sacrifício pelo A morte de Cristo como expiação da Lv 5.14-6.7;


sacrilégio transgressão de pecado Hb 10.12

5.3.3 – A interpretação das parábolas.

O termo provém do grego e significa literalmente “colocar ao lado de”. Desse


modo, podemos entender que parábola é fazer uma comparação paralela, com efeito,
de entendimento similar. É uma utilização de eventos comuns para explicar, ou
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Apostila de Hermenêutica
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comunicar algo importante. Estudar a interpretação das parábolas é importante, visto


que a bíblia está recheada delas. O próprio Senhor Jesus em seus ensinos utilizou-se
delas diversas vezes, o que parece que era o seu discurso preferido, pois a palavra
parábola ocorre dezenas de vezes nos evangelhos sinópticos.
As parábolas não deixam de ser um tipo de linguagem figurada, mas que ao
invés de usar uma única expressão, ou palavra de comparação, ela usa uma historia
inteira. O seu objetivo é fazer entender uma verdade a ser declarada, só que de forma
colorida, assim ao invés de simplesmente citar a verdade, se faz uma parábola para
que a compreensão dessa verdade possa ser comparada com algo do dia a dia.
5.3.3.1 – Parábolas como similitudes.
Isso ocorre quando a parábola não vem como uma longa historia inventada
pelo autor da fala. São simples afirmações curtas, ou pequenos provérbios. As
similitudes retratam algo rápido e geralmente empregado no costume rotineiro e que
ocorre no tempo presente, como em Mt 13.13 “...o fazendeiro saiu a semear”. Nisso se
distingue da parábola como historia, pois essa geralmente se refere a algo ocorrido no
passado.
Observe a seguir alguns exemplos de similitudes:
AS SIMILITUDES DE JESUS
ESTILO SIMILITUDE SIGNIFICADO
Mc 7.15-17, 22-23 “...o que sai do
Afirmação homem é o que o contamina [...] A maldade procede do coração
Paradoxal os discípulos o interrogaram do homem, e isso o contamina.
acerca da parábola”
Lc 14.7-11 “...propôs-lhes uma
parábola: quando fores convidado
para um casamento, não procures
Quem exaltar a si mesmo será
o primeiro lugar [...] vai e toma o
Recomendação humilhado, e quem se humilhar
ultimo lugar; para que, quando
será exaltado.
vier o que te convidou, te diga:
Amigo, senta-se mais para
cima...”
Lc 5.34 “.. podeis jejuar os Os discípulos não estavam
Pergunta convidados para o casamento jejuando porque Jesus estava
enquanto o noivo está com eles?” com eles.
Mt 15.14-15 “... ora, se um cego Os fariseus (cegos espirituais)
Máxima da vida guiar outro cego, cairão ambos no estavam desviando os outros
barranco. ” espiritualmente.
Lc 21.29-31 “vede [...] todas as Alguns acontecimentos
Observações
arvores. Quando começam a indicarão que está próximo o
da Natureza
brotar [...] sabeis que o verão Reino de Deus.

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Apostila de Hermenêutica
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está próximo”.
5.3.3.2 – Parábolas como provérbios.

Outro uso com conotações de parábolas está a amplitude que ela tem com o
significado de provérbios. No Novo Testamento a palavra parabolê é usada uma única
vez com esse sentido em Lc 4.23. Tendo em mente este sentido, Jesus citou vários
provérbios para ilustrar uma comparação de significado com o que desejava
comunicar. Vejamos no quadro a seguir os provérbios que Jesus citou:

OS PROVÉRBIOS DE JESUS
...não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte. Mt 5.14
...ninguém pode servir a dois senhores. Mt 6.24
... os sãos não precisam de médico, e sim, os doentes. Mt 9.12
... não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa. Mt 13.57
... ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco. Mt 15.14
... o discípulo não está acima do seu mestre. Lc 6.40
... digno é o trabalhador do seu salário. Lc 10.7
... quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés. Jo 13.10
... o servo não é maior do que o seu senhor. Jo 13.16
... onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres. Mt 24.28
... vós sois o sal da terra; ora se o sal vier a ser insípido, como lhe
Mt 5.13
restaurar o sabor?
... vem, porventura, a candeia para ser posta embaixo do
Mc 4.21
alqueire, ou da cama?
... médico, cura-te a ti mesmo... Lc 4.23

5.3.3.3 – Parábolas no Antigo Testamento.

Parábolas não é algo somente do Novo Testamento, no Antigo também temos


cognatos para parábolas. O termo que faz um paralelo com parabolê é a palavra
hebraica mâchâl que deriva do verbo “ser como”, com a denotação de semelhança ou
analogia. O termo aparece com vários usos próprios no texto. Veja alguns exemplos:
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Apostila de Hermenêutica
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Usos de mâshâl no Antigo Testamento


Está também Saul entre os A afirmação é expressa na
profetas? - I Sm 10.12 forma de provérbio popular e
Citações breves assinala uma semelhança
Dos perversos procede a
entre a declaração e a
perversidade... - I Sm 24.13
realidade.
Máximas da vida, O livro de provérbios. Faz comparação com o dia a
ditados sábios Pv 1.1; 10.1; 25.1 dia a realidade da vida.
...então, proferirás este motejo
contra o rei da Babilônia e dirás:
Zombaria Como cessou o opressor! Como
acabou a tirania! – Is 14.4

Mas a mim me pôs por provérbio


dos povos; tornei-me como
aquele em cujo rosto se cospe. –
Adágio Jó 17.6

Mas agora sou a sua canção de Onde uma pessoa é colocada


motejo e lhes sirvo de provérbio. como exemplo, bom ou mal
– Jó 30.9 para outras pessoas.

Pões-nos por ditado entre as


nações, alvo de meneios de
cabeça entre os povos.

Onde um relato todo é


Discursos longos Jó 27.1; 29.1
colocado neste sentido
Inclinarei os ouvidos a uma
parábola, decifrarei o meu
enigma ao som da harpa. – Sl 49.4
O emprego da palavra em
Enigmas e charadas Abrirei os lábios em parábolas e
citações de enigmas.
publicarei enigmas dos tempos
antigos. – Sl 78.2

Embora essa passagem alguns


Is 5.1-7 consideram e outros não como
sendo uma parábola.
Historias Apesar de não ser chamada de
parábola, a historia que Natã
II Sm 12.1-13
contou a Davi, apresenta
características de uma.

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Apostila de Hermenêutica
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5.3.3.4 – As parábolas de Jesus.

A maior parte das parábolas da Bíblia foi contada por Jesus, esse era o seu
discurso preferido.

 As razões das parábolas

Existia uma razão do porque Jesus gostava de empregar o uso de


parábolas nos seus ensinos; quando os discípulos lhe fizeram esta pergunta em
Mt 13.10 e Mc 4.10, ele respondeu que havia duas finalidades: Revelar
verdades aos seus seguidores e ocultar a verdade dos de fora – Mc 4.11.
As parábolas eram um meio de comunicação eficaz, quando Jesus
pronunciava uma historia, ele captava a atenção dos ouvintes. As parábolas
aguçavam a reflexão das pessoas, com elas Jesus queria fazê-los avaliar as
situações que lhe eram familiares, e então, fossem levados a aplicar esse
julgamento a fatos em que não estavam enxergando. As parábolas de Jesus não
tinham o objetivo e entreter o povo, mas ele as contava para que fosse levado a
uma aplicação, mesmo que isso ferisse algumas pessoas em suas crenças.

 As características das parábolas de Jesus.

Empregou fatos comuns

As parábolas que Jesus contou tinham efeito e impacto nos seus


ouvintes, porque ele não empregou uma história recheadas de teorias, mas usou
objetos e eventos conhecidos do dia a dia das pessoas. Com isso ele conseguia

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Apostila de Hermenêutica
77
Instituto Batista Missionário

não somente manter a atenção, mas também fazer com que cada um seguisse
os detalhes dela. Note alguns detalhes que ele usou:

Fatores ligados ao comércio


Pescador Devedor Coletor de impostos Viajante Pérola
Construtor Mercador Dinheiro Juros Dívidas
Tesouro Patrão Servo Administrador Senhor Credor

Fatores ligados a agricultura


Fazendeiro Pastor Ovelhas Solo Sementes
Árvores Pássaros Espinhos Colheita Chiqueiro
Vinha Viticultores Torre de vigia Celeiros Figueiras

Fatores domésticos
Casas Cozinhar Fermento Comida Costurar
Moedas Varrer Dormir Comer Crianças brincando
Viúvas Odres Porteiro

Fatores da vida social


Casamento Banquete Damas de honra
Amigo que chega à meia noite Pai e filho Anfitrião e convidados

Fatores religiosos
Sacerdote Levita Samaritano Fariseu

Fatores da vida civil


Juiz Rei Guerra

Empregou surpresa

Uma característica bem visível das parábolas de Jesus era que elas
continham um suspense, o que fazia todos desejarem saber o final, o que
sucederia com aqueles personagens. Por exemplo:

Expectativa Texto
O que o Senhor misericordioso fará com o
Mt 18.21-35
servo que não perdoou?
O que acontecerá aos arrendatários que
Mt 21.33-46
mataram o filho do fazendeiro?
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O que fará o rei do convidado não trajado


Mt 22.1-14
para as bodas?
O que fará o senhor do servo mau quando
Mt 24.45-51
retornar?
O filho pródigo ao sair de casa, o que
Lc 15.11-32
acontecerá com ele? Se voltar será aceito?
Se dois homens bons negam ajuda a um
ferido à beira da estrada, o que fará um Lc 10.25-37
samaritano?

Empregou contrastes

Outro fator presente em suas parábolas foi o contraste, os quais


ajudaram a causar interesse nos ouvintes, e também nos leitores. Note o
número de contrastes nas parábolas de Jesus:

Contrastes
Casa edificada sobre a rocha Casa edificada na areia
Roupa nova Roupa velha
Vinho novo Odres velhos
Semente em solo bom Solo ruim
Semeador que semeia trigo Inimigo que semeia joio
Pequena semente de mostarda Arvore frondosa
Porção de fermento Alimento em grande quantidade
Tesouro e pérola Posses de pouco valor
Peixes bons Peixes ruins
Servo que foi perdoado de uma grande
Não perdoa uma pequena dívida
dívida
Trabalham um dia inteiro por um denário Trabalham uma hora pelo mesmo salário
Um filho recusa a trabalhar, mas depois Um filho promete trabalhar, mas não
trabalha trabalha
Os convidados negam vir ao casamento Outros comparecem
Servo fiel Servo mau
Cinco virgens prudentes Cinco néscias
Dois servos aplicam suas minas Um não investe uma única mina
Um credor Dois devedores que não podem pagar
O sacerdote e levita passam O samaritano para
Amigo à meia noite Amigo dormindo
Ganha riquezas Perde a alma
Dona figueira deseja cortá-la O viticultor espera mais um ano
O filho pródigo é celebrado O filho mais velho não tem celebração

Empregou semelhanças em personagens

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Esta é mais uma das características notáveis das parábolas de Jesus, em


várias delas ele empregou o uso de dois personagens com algo semelhante
sendo comparado a um outro. Por exemplo: na parábola do credor
incompassivo de Mt 18.23-35, há três personagens, o rei que era o credor, o
devedor que lhe devia muito e o devedor que devia pouco. Os dois devedores
tinham algo em comum, ambos não tinham condições para pagar suas dívidas.
O foco é voltado para o rei, que agiu de acordo com as atitudes do seu devedor.
Note a quantidades de parábolas com três personagens:
Parábola Personagem Outros 2 com semelhanças
O credor incompassivo Servo perdoado
Rei
Mt 18.23-35 Servo não perdoado

Os trabalhadores na vinha Trabalhadores da manhã


Fazendeiro
Mt 20.1-16 Trabalhadores da tarde

Os dois filhos Primeiro filho


Pai
Mt 21.28-32 Segundo filho

O lavradores maus Lavradores


Fazendeiro
Mt 21.33-46 Filho

As bodas Os que recusaram vir


Rei
Mt 22.1-14 Os que vieram

Os dois servos O prudente


O senhor
Mt 24.45-51 O mau
Virgens prudentes
As dez virgens – Mt 25.1-13 Noivo
Virgens tolas
Os talentos Os servos que aplicaram
O senhor
Mt 25.14-30 O que não aplicou

Os dois devedores O que deve muito


O credor
Lc 7.41-43 O que deve pouco

O bom samaritano Os religiosos


O ferido
Lc 10.25-37 O samaritano

O amigo à meia noite O que foi O hospede


Lc 11.5-8 chamado O amigo necessitado

A ovelha perdida 99 ovelhas seguras


Os pastores
Lc 15.4-7 1 ovelha perdida

O filho pródigo Filho pródigo


Pai
Lc 15.11-32 Filho mais velho
A viúva
O juiz iníquo O juiz
O adversário
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Lc 18.1-8

As minas Os que granjearam


O senhor
Lc 19.11-27 O que não granjeou

Empregou finais não esperados.

Algo interessante nas parábolas de Jesus é que os ouvintes poderiam


imaginar o final, mas o obvio não acontecia, ele terminava suas parábolas de
forma surpreendente. Esta característica de suas parábolas deixa um enorme
trabalho para o interprete responder, muitas perguntas surgem ao analisarmos,
e que ficam sem respostas às vezes.

Parábola Esperado Apresentado

Os que trabalharam pouco


Trabalharam diferente,
Os trabalhadores vão ganhar o merecido
mas ganharam o mesmo.
na vinha salário.

Elas se recusam a
Vão dividir o óleo com as
fornecer o azeite as
As 10 virgens outras.
tolas.

Está com a razão por ter


O amigo à meia noite O que insiste é quem
sido incomodado já
está com a razão.
dormindo.

A viúva que importuna deve A viúva que importuna


O juiz iníquo
ser punida. ganhou o que buscava.

O filho pródigo recebeu


O filho pródigo deve ser
O filho pródigo uma festa de
disciplinado.
homenagem.

O samaritano cuida
Os sacerdotes vão cuidar e o
O bom samaritano enquanto os sacerdotes
samaritano desprezará.
rejeitam ajuda.

Que o que foi perdoado por Ele recebe perdão, mas


O credor
uma divida enorme não perdoa e perde o
incompassivo
perdoasse a menor. perdão que tem.

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Empregou atenuações ao final.


O desfecho final das parábolas de Jesus sempre foram o mais
importante delas, ele elevava a questão com uma atenuação de exageros, assim
causava mais impacto nos ouvintes. Como por exemplo:
Parábola Elementos Final atenuado
Semeador Solos ruins Solo fértil Deu muitos frutos
O que não
As minas Os que aplicaram Recebeu castigo rigoroso
aplicou
Os viajantes que O samaritano Não de forma simples, mas
O bom samaritano até pagou por suas feridas
passaram que ajudou

Não simplesmente ficou


O credor Foi perdoado e Perdeu o
devendo, mas foi lançado na
incompassivo não perdoou perdão
prisão e castigado

Com festa e um grande


Filho fugiu, e Foi bem
Filho pródigo júbilo, digno de uma pessoa
voltou recebido
importante

Empregou discurso direto em seus personagens.


Jesus não simplesmente contava uma fábula com personagens
fabricados na terceira pessoa, fator interessante em suas parábolas é que ele
colocava falas diretas a seus personagens, isso dava maior animação a suas
histórias. Por exemplo:

Parábola Personagem Fala direta


O próprio filho
“...Quantos trabalhadores de meu pai
pródigo
tem pão com fartura, e eu morro de
Filho pródigo
fome! Levantar-me-ei e irei ter com meu
pai, e direi:...”

“... que farei pois que o meu senhor me


O administrador O próprio tira a administração? Trabalhar na terra
infiel administrador não posso; também mendigar tenho
vergonha...”

“que farei pois, não tenho onde recolher


O próprio homem
Homem rico os meus frutos? Farei isto: destruirei os
rico
meu celeiros...”

“... como esta viúva me importuna,


O juiz iníquo O juiz
julgarei a sua causa...”

Os dois servos O servo mau “...o meu senhor demora-se”

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Empregou perguntas retóricas.

Outro fator que Jesus usou para a compreensão de suas parábolas foi
fazer perguntas retóricas, o que deixava todos evidentes da conclusão.
Exemplo:

Parábola Pergunta
“Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem
ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto
A ovelha perdida
as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu,
até encontrá-la?”

“Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder


A dracma perdida uma, não ascende a candeia, varre a casa e a procura
diligentemente até encontrá-la?”

“Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é


Os trabalhadores
meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?”

“Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o senhor


Os dois servos Mt 24.45 confiou os seus conservos para dar-lhes o sustento a
seu tempo?”

“Contudo, quando vier o filho do homem, achará fé na


Juiz iníquo
terra?”

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 Todas as parábolas de Jesus.

A seguir um quadro para nos orientarmos de todas as parábolas que


Jesus contou mostrada em comparação com as citações dos sinópticos:
Nº PARÁBOLA MATEUS MARCOS LUCAS
1 Os construtores 7.24-27 6.47-49
2 O remendo novo/ odres novos 9.16-17 2.21-22 5.36-38
3 Crianças na praça 11.16-19 7.31-35
4 O semeador 13.3-8,18-23 4.3-8,14-20 8.5-8,11-15
5 O joio e o trigo 13.24-30,36-43
6 O grão de mostarda 13.31-32 4.30-32 13.18-19
7 O fermento 13.33 13.20-21
8 O tesouro escondido 13.44
9 A pérola valiosa 13.45-46
10 A rede 13.47-50
11 As coisas novas e velhas 13.52
12 O credor incompassivo 18.23-34
13 O camelo e a agulha 19.23-24 10.24-25 18.24-25
14 Os trabalhadores na vinha 20.1-16
15 Os dois filhos 21.28-32
16 Os lavradores maus 21.33-44 12.1-11 20.9-18
17 O banquete de casamento 22.2-14
18 Figueira 24.32-35 13.28-29 21.29-31
19 Os dois servos 24.45-51 12.42-48
20 As dez virgens 25.1-13
21 Os talentos 25.14-30 19.12-27
22 Homem forte amarrado 3.22-30
23 A semente plantada 4.26-29
24 O servo vigilante 13.35-37 12.35-30
25 Meninos nas praças 7.31-35
26 Os dois devedores 7.41-43
27 O bom samaritano 10.30-37
28 O amigo à meia noite 11.5-8
29 O rico insensato 12.16-21
30 A figueira sem frutos 13.6-9
31 Os lugares de honra 14.7-14
32 A grande ceia 14.16-24
33 Do calculo da torre e da guerra 14.28-33
34 A ovelha perdida 18.12-14 15.4-7
35 A dracma perdida 15.8-10
36 O filho pródigo 15.11-32
37 O administrador infiel 16.1-8
38 A recompensa do servo 17.7-10
39 O juiz iníquo 18.2-8
40 O fariseu e o publicano 18.10-14
41 As dez minas 19.11-27

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5.3.3.5 – A interpretação das parábolas.

Tendo reconhecido que é uma parábola, e também localizando-a no texto,


devemos também nos ater as implicações corretas de como interpretar este tipo
especial literário. Uma máxima que levamos conosco ao notar uma parábola é que não
devemos jamais isolá-la, normalmente uma parábola é uma pequena parte de um todo,
por esta razão é um erro tentar pregar uma parábola enfocando suas divisões, elas
devem ser interpretadas por completo. Para avaliarmos passo a passo sua
interpretação, vamos seguir algumas sugestões, que são alguns princípios.

 O principio de localizar o contexto.

Neste principio precisamos descobrir e determinar o contexto completo


onde a palavra está sendo usada pelo seu autor.

Contexto literário

O que aconteceu antes da parábola, e também depois dela. Neste


espectro devemos notar os temas repetidos na parábola, e também no contexto
imediato, pois eles terão ligações diretas.

Exemplo:
Na parábola dos dois devedores de Lc 7.41-43, o assunto antes da
parábola foi à objeção de Simão, o fariseu. Sua objeção era por ter Cristo
aceitado que uma prostituta lhe lavasse os pés. Neste caso, a parábola está
inteiramente ligada com a questão do perdão, e também do amor que o
perdoado tem para com o perdoador.

A audiência bíblia

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Devemos entender quem são as pessoas envolvidas, não somente os


que estão no diálogo, mas toda audiência.

Exemplo:
Na parábola da ovelha perdida de Mt 18.12-14 e Lc 15.4-7, a audiência
são duas, porque ela é repetida, assim há duas audiências. Em Mt a audiência
são os discípulos, e a ênfase é sobre a missão que eles tinham de realizar o
desejo do Pai de nenhuma ovelha se perder, dessa forma eles devem trabalhar
para achar a ovelha perdida. Já em Lc 15:4-7, Jesus está falando com os
fariseus, assim ele coloca a ênfase sobre a alegria do Pai e dos anjos por causa
do arrependimento de um pecador, algo que eles não estavam fazendo em não
aceitar o gentio que se arrependesse.

Pano de fundo

Sem investigar o pano de fundo perderemos muitos detalhes do


significado original das parábolas, devemos lembrar que elas situam-se em um
lugar diferente do nosso, e com milhares de anos de intervalo. A força das
parábolas está no seu cenário comum da vida dos ouvintes.

Exemplo:
Algumas fontes antigas nos revela um dado de que um dos sinais da
posição alta do patriarca da sociedade antiga era o andar, ou seja, muito lento,
calmo, com dignidade. Entendendo isto, podemos notar com mais veemência a
emoção do pai do filho pródigo quando ele viu seu filho e saiu correndo para
abraçá-lo.

Cuidado:
Devemos tomar muito cuidado ao pesquisarmos sobre o pano de
fundo e ocorremos em interpretar um detalhe que muda tudo.
Exemplo:
Na parábola do camelo e a agulha de Lc 18.24-25, surgiu algumas
controvérsias de pessoas que escreveram comentários sobre elas.
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Errado: Alguns manuscritos (pouquíssimos) trazem ao invés da


palavra kamêlon (camelo), a palavra kamilon (corda grossa). Assim para um
rico entrar no céu seria como tentar passar uma corda grossa pelo fundo de
uma agulha, teoricamente possível. Porem, esta teoria é invalidada porque os
manuscritos trazem kamêlon, e o próprio contexto também condena este tipo
de interpretação.
Errado: Dentre os que leram kamêlon, ocorreu ainda outras
discrepâncias, Farrar nos anos 1800 escreveu que havia um portão nas casas do
oriente que eram grandes, de madeira, e que podiam passar uma camelo
carregado, mas que eram muito grande e não podiam ser abertas o tempo todo;
assim eles tinham uma porta menor, no meio do grande que era constantemente
aberta. Essa porta pequena se chamava “fundo agulha” e seria muito difícil um
camelo passar por ela.
Mas o problema é que nenhum residente do oriente médio localizou
alguma evidencia dessas portas, nem ao menos alguma referência ao fundo de
uma agulha que não fosse literal.
Correto: o rico estava procurando alguma coisa pra fazer e poder
entrar no céu, a resposta de Jesus é que não se pode fazer nada. Seria mais fácil
um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico, pelas suas realizações
entrar no céu. Isso deixa claro o que disseram depois, sendo assim ninguém
poderá se salvar.

 O principio de localizar estruturas literárias.

Uma parábola está dentro de uma estrutura poética, assim não


podemos deixar de notar as particularidades que ela traz. Alguns detalhes
podem indicar a ênfase do auto, especialmente nas parábolas que envolvem
narrativas. Observe o que devemos notar no texto:

Observar frases repetidas

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São detalhes que o autor faz para mostrar o assunto que está tratando.

Exemplo:
Na parábola dos talentos de Mt 25.14-30
20 – aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros cinco, dizendo:
Senhor, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que ganhei.

21- Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito
te colocarei; entra no gozo do teu senhor.

22 - E, aproximando-se também o que recebera dois talentos, disse: Senhor, dois


talentos me confiaste; aqui tens outros dois que ganhei.

23 - Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito
te colocarei; entra no gozo do teu senhor.

Contraste.

24- Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és
homem severo, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste,
receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu.

26 - Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde
não semeei e ajunto onde não espalhei?

Observar inclúsio ou quiasmo

A estrutura poética em que o autor montou sua parábola pode nos indicar
a ênfase que ele quer sugerir. Seguindo esta forma sua ênfase segue sempre
após a linha do meio.

Exemplo:
Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si INTRUDUÇÃO
mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros:

1. Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: DOIS SOBEM


um, fariseu, e o outro, publicano. (1) FARISEU (2) COLETOR

2. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, MANEIRA DO FARISEU


desta forma:
Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, ORAÇÃO DO FARISEU

3. roubadores, injustos e adúlteros, nem IMAGEM DO COLETOR


ainda como este publicano;

4. jejuo duas vezes por semana e dou o JUSTIÇA PROPRIA


dízimo de tudo quanto ganho.
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5. O publicano, estando em pé, longe, não ousava REALIDADE


nem ainda levantar os olhos ao céu,

6. mas batia no peito, dizendo: MANEIRA DO COLETOR


Ó Deus, sê propício a mim, pecador! ORAÇÃO DO COLETOR

7. Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, DOIS DESCEM
e não aquele; (1) FARISEU (2) COLETOR

porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado. CONCLUSÃO
 O principio de identificar o problema ou situação da parábola.

Quando entendemos a razão de Jesus ter citado uma parábola, a


ocasião, a situação envolvida, então teremos um caminho aberto a seguir da
verdade que está transmitindo. Observe algumas categorias de parábolas que
nos ajudarão a identificar a situação:

Respostas a perguntas

São parábolas contadas para responder uma pergunta ao invés de ir


diretamente ao ponto.

Exemplo:
Em Mt 9.14 os discípulos de João perguntaram a Jesus: “porque
jejuamos nós e os fariseus, e teu discípulos não jejuam?” Dessa forma, a
parábola do remendo novo e dos odres novos está inteiramente ligada a
pergunta. Jesus estava dizendo que seus caminhos eram novos.

Respostas a pedidos

Quando uma pessoa fez algum pedido a Jesus e ao invés de


simplesmente lhe satisfazer, ele citava uma parábola.

Exemplo:
Em Lc 11.5-8 Jesus disse a parábola do amigo à meia noite após um de
seus discípulos ter-lhe pedido para que ele os ensinasse a orar. Em Lc 12.16-21
Jesus contou a parábola do homem rico após o pedido de alguém da multidão,
que queria que Jesus dissesse ao seu irmão para repartir a herança com ele.

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Respostas a críticas

Quando uma situação acontece e Jesus necessitava responder a ela.

Exemplo:
Em Lc 7.39 um fariseu que convidou Jesus para jantar pensou que se
Jesus fosse profeta saberia que a mulher que lhe tocou era pecadora; Jesus
sabendo da situação contou a parábola dos dois devedores (Lc 7.41-43).
Com propósitos definidos

Isso quando a finalidade da parábola é simplesmente uma atitude de


Jesus em ensinar algo a seus discípulos.

Exemplo:
A parábola do Juiz iníquo Jesus contou para mostrar a seus discípulos
que deviam orar sempre sem nunca esmorecer (Lc 18.1).

Sobre o reino pela rejeição do Messias por Israel

Israel rejeitou Jesus como o Messias, isso ficou evidenciado pela forma
como os fariseus o desafiavam. Em respostas a essa questão, Jesus contou
varias parábolas sobre o reino, que exemplificavam o que Deus estava fazendo
com eles.

Exemplo:
Após os fariseus terem acusado Jesus de fazer milagres por satanás, ele
contou a parábola do semeador que é uma parábola do reino em Mt 13.13-23.
com isso ele estava indicando que a maioria das pessoas rejeitariam as boas
novas.

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Subseqüentes a uma exortação ou ensino

Estas parábolas foram ditas quando Jesus havia dado uma exortação ou
ensinado algum principio, que em seguida contou para ilustrá-lo.
Exemplo:
Em Mc 13.33 Jesus tinha dito aos discípulos que deviam vigiar e orar porque
não sabiam quando seria o tempo, em seguida contou a parábola do porteiro
(Mc 13.34-37).

Antecedente a uma exortação ou princípio

A situação dessas parábolas é exatamente o contrário da acima, Jesus


contava uma parábola e em seguida fechava, ou concluía o discurso com uma
exortação ou princípio que a própria parábola havia ilustrado.

Exemplo:
Em Lc 11.5-8 Jesus contou a parábola do amigo que vem à meia noite e
em seguida fez a exortação de orar persistentemente (vv 9-10).

Ilustração de uma situação

Ocorreu quando Jesus quis dar a entender o que estava acontecendo


naquela situação, ou o que estava acontecendo.

Exemplo:
Jesus comparou o povo da época como as crianças nas praças em Lc
7.31-35, ele fez isso depois dos fariseus rejeitarem abertamente as suas
palavras (vv 29-30).

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Com finalidade implícita

Nesse caso não segue nenhum fato antecedente ou precedente, não


encontraremos também nenhuma indicação direta de seu propósito, ele está
implícito.

Exemplo:
Na parábola dos talentos de Mt 25.14-30 não encontramos uma
prescrição direta na parábola do seu propósito, ela não é precedida e nem
seguida de uma exortação, também não é resposta a nenhuma pergunta em si,
ou crítica do momento, mas implicitamente podemos ver indicação de que
Jesus está dizendo do que espera de seus discípulos no momento da sua
ausência.

 O principio de identificar a verdade ilustrada.

De forma geral, uma parábola não está ensinando vários conceitos,


tentar encontrar verdades em cada item usado é um erro, fere até mesmo o seu
uso literário, que focaliza uma ilustração. Um parábola ensina uma única
verdade.

Verdade geral

Devemos encontrar essa verdade, que está inteiramente interligada com


o resto do texto. Se há um princípio direto, seja antes, ou depois, facilitará a
nossa busca.

Exemplo:
Parábola Ilustração Verdade geral
Pela insistência ele fez juízo Deus fará justiça aos que se
Juiz iníquo
por ela. achegarem a Ele (Lc 18.7)
O pastor faz festa ao Há festa no céu pelo
Ovelha perdida
encontrá-la. arrependido.

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Detalhes interligados

Existem, entretanto, alguns detalhes no decorrer da parábola que trazem


os seus significados próprios, porém todos estão corroborando para a verdade
geral. Não podemos tentar tirar lições de cada parte, como se fossem
independentes. Mas cada uma delas tem sua importância com significância
espiritual, e que tem a finalidade de reforçar o tema principal.

Exemplo:
Na parábola da ovelha perdida, obviamente que o pastor está
representando Jesus, e que a ovelha representa o pecador, isso é explicado em
Lc 15.7, assim como as 99 representam aqueles que não necessitam de
arrependimento. Mas não devemos buscar significado para o deserto, os
ombros do pastor, os amigos, vizinhos, etc. Eles são apenas elementos que
compõem a historia.

 O principio de confirmar a verdade por um ensino direto

Devemos ter certeza de um ensinamento claro da própria Bíblia sobre a


verdade que descobrimos nas parábolas. Muitos erros graves acontecem por
supor que certos símbolos são sempre usados com o mesmo significado, assim,
o interprete supõe, ao ver o objeto presente, que já sabe o que ele representa
sem investigar se era isso que tinha em mente o autor da parábola.

Exemplo:
O fermento foi usado para representar o mal em outros trechos das
Escrituras ( Mt 16.6,11-12; Mc 8.15; Lc 12.1; I Co 5.7-8; Gl 5.8-9). Tendo em
mente isso, o interprete pode olhar para a parábola do fermento de Mt 13.33 e
imediatamente dizer que representa o mal, porém, se isso for verdade seria
uma redundância, já que o joio representa o mal (vv24-30). Na verdade o que
Jesus está dizendo é que como fermento provoca crescimento, aqueles que
dizem pertencer ao reino crescerão em número, e não poderá ser impedido.

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 Quadro de Conclusão dos princípios.


PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO DAS PARÁBOLAS
1º - Localize o contexto
Literário O que aconteceu antes e depois da parábola.
Audiência Inclusos no diálogo, e também os que estão ouvindo.
Pano de fundo Pesquisa sobre fatos relevantes que podem influenciar.
2ºestrutura Literária
Frases repetidas Frases e também palavras que podem indicar a ênfase.
Quiámos A poesia, notar similaridades de eventos, e personagens.
3º Identificar a situação
Perguntas Que foi gerada (contexto), e a parábola está na resposta.
Pedidos Alguém fez um pedido (contexto), a parábola está na resposta.
Críticas Alguém fez uma crítica (contexto), a parábola é a resposta.
Propósito A parábola é a iniciativa do ensino, ou princípio.
Reino/ rejeição Quando é uma resposta por Israel rejeitar o Messias.
Exortação Que vem antes, ou depois da parábola.
Situação Situação corrente, a parábola é a resposta (explicação) a ela.
Implícito Não há nenhum dos pontos acima, está implícito em toda a parábola.

4º Identificar a verdade
Geral Assunto que está ensinando a parábola toda de forma geral.
Detalhes Detalhes que são importantes para entender a verdade geral.
5º Identificar o ensino direto
Verificar se todas as partes estão interligadas, e são coerentes com a conclusão.

 Exemplo da aplicação dos passos.

Parábola O credor incompassivo – Mt 18.23-34


Contexto
Literário – O contexto maior começou no vs1, onde Jesus inicia um discurso longo, mas nele faz
alusão a diversos assuntos, assim, no vs 15 é onde tem relevância para a parábola em
si, pois Jesus lança um assunto sobre como agir com alguém que errou.
O contexto mais direto começa no vs 21, depois de Jesus ter concluído a sua
fala, Pedro aproximou dele e fez uma pergunta sobre o último assunto, então Jesus
responde acrescentando a parábola.
O contexto termina no vs 35, onde Jesus completo com um ensino direto sobre a
mesma questão do perdão.

Audiência – Os discípulos (vs 1), e também os apóstolos (vs 21).

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 Para responder:

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BERGMAN, Johannes. O uso do Grego no Estudo Bíblico. Material não publicado.


CARSON, D. A. Os perigos da Interpretação Bíblica. São Paulo: Vida Nova. 2 ed, 2001
FEE, Gordon D. e STUART, Douglas. Entendes o que Lês? São Paulo: Vida Nova, 1984
GRUDEM, Waine, editor. Cessaram os Dons Espirituais? 4 pontos de vista. São Paulo:
Editora Vida, 1996
GUNDRY, Stanley, editor. Lei e Evangelho. 5 pontos de vista. São Paulo: Editora Vida.
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HABERSHON, Ada. Manual de Tipologia. São Paulo: Editora Vida.
LOCKYER, Herbert. Todas as Parábolas da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 1999
LOPES, A. Nicodemos. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2004
MERKH, David. Hermenêutica – Material apostilado não publicado.
MACDOWELL, Josh. Evidencias que Exigem um Veredicto. São Paulo, 1992
PATE, C. Marvin, editor. As interpretações do Apocalipse. 4 pintos de vista. São Paulo:
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PENTECOSTE, J. Dwight. Manual de Escatologia. São Paulo: Editora Vida, 1998
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VANHOOZER, Kevin. Há um Significado Neste Texto? São Paulo: Editora Vida, 2006.
ZUCK, Roy B. A Interpretação da Bíblia. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994.

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