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M. E.

De La CROIX
da Associação Sacerdotal

A Vocação
Sacerdotal
CONSIDERACOES PRÁTICAS
Destinadas a todos os fieis:
sacerdotes e seminaristas,
famílias cristãs e almas piedosas.

Setembro 1942
A VOCACAO SACERDOTAL

NIHIL OBSTAT
S. Pauli, 14 - Augusti - 1942
Canonicus A. J. Goncalves *
Censor

IMPRIMATUR
S, Pauli, 14 - Augusti - 1942
Josephus Monteiro
Vic. Gen,

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A VOCACAO SACERDOTAL

Prefácio
da edição brasileira

O aparecimento em nosso idioma do livro A VOCACAO


SACERDOTAL, de M. E. La Croix é uma benção que cai sobre o Brasil.
Habent sua fata libelli, sei-o bem. Não creio, no entanto, que possa este
livro, entre nós, ter outro destino que não o de uma prodigiosa facundidade.
Simplesmente porque trata de um problema que no Brasil se
reveste de gravíssimo sentido — o problema das vocações para o
sacerdócio? Não apenas. Mas também porque o faz em linguagem de tão
extraordinária unção e tal surpreendente eficácia que nenhuma alma, diante
dele, poderá deixar de sentir-se tocada do frêmito de apostolado heroico
que nele pulsa.
Encontrou La Croix expressões definitivas — cheias, no entanto, de
maravilhosa simplicidade — para definir o sentido profundo e a dignidade
suprema do sacerdócio em face da realidade divina. Assim como para
chamar-nos ao dever sagrado de cooperação na difícil empreita de
adivinhar, descobrir e fornecer mais numerosos trabalhadores para a vinha
do Senhor.
Independentemente desta finalidade, digamos, prática, fica ainda
sendo o livro de M. E. La Croix, pela aura da contemplação comovida que
o envolve todo, um manual de vida interior de atuação não muito menos
poderosa do que, por exemplo, A ORAÇÃO DE TODAS AS HORAS, do
Padre Pierre Charles, que tanto amamos no Brasil.
De suas páginas ninguém sairá sem ter feito, com a graça de Deus,
um passo a frente na compreensão do verdadeiro destino do espírito.

TASSO DA SILVEIRA.

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A VOCACAO SACERDOTAL

Prefácio
Estas páginas foram escritas a convite pessoal de Sua Santidade Pio
XI, que se dignou precisar-nos o seu pensamento a respeito de certos
pontos, e a quem fizemos presente o manuscrito, antes da impressão, para
dele receber uma bênção especial.
Consoante o desejo do Sumo Pontífice, tratamos a questão da
vocação sacerdotal sob os seus diversos aspectos e, tanto quanto possível,
de maneira simples e prática, a fim de pô-la ao alcance de todos.
Por isso, ao mesmo tempo que estabelecendo as relações estreitas
que unem o Sacerdote a Jesus, o Sumo Sacerdote, e relembrando
frequentemente esta grande verdade, para dar do Sacerdócio uma justa e
santa noção, encaramos a vocação sacerdotal em suas relações múltiplas
com o eleito, com a família e com a sociedade.
Se a graça do Sacerdócio é a maior que possa ser feita a uma alma,
também não há maior honra para uma família, nem mais preciosa bênção
para a sociedade, do que possuir mais um Sacerdote em seu seio. Donde a
importância da escolha judiciosa das vocações sacerdotais e da sua
formação, e o dever que as famílias como às almas cristãs incumbe de
favorecê-las.
Exigindo a santidade no Sacerdote, não fazemos mais do que tirar
uma conclusão lógica do caráter e da missão deste. Se é urgente ver
multiplicar-se o número dos Sacerdotes, mais urgente ainda é ter santos
Sacerdotes que honrem o seu Sacerdócio e operem frutos de salvação.
Existem, contudo, outras condições necessárias para tornar frutuoso
o ministério sacerdotal, e que cumpre ter em conta no curso da formação
clerical. Indicamo-las, e não cremos que se possa descurar impunemente
qualquer delas.
A questão das vocações sacerdotais é uma das mais graves dos
tempos atuais. Compreendem-se as solicitudes do Nosso Santo Padre o
Papa a esse respeito. Quem, pois, entre, seus filhos não teria a peito
compartilhar-lhe os sentimentos e secundar-lhe os esforços?

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A VOCACAO SACERDOTAL

Sua Santidade Pio XI exprimiu o desejo de ver esta obra espalhar-


se por toda parte, nos Seminários e no seio das famílias. Depois de
examiná-la, dizia-nos um dos mais eminentes teólogos de Roma que lhe
apressássemos a impressão, na certeza do bem que acreditava dever ela
produzir.
Possam estas páginas concorrer para a gloria de Jesus, o Sumo
Sacerdote, obtendo para a Santa Igreja Sacerdotes numerosos e santos!
Filialmente as colocamos sob a proteção da Santíssima Virgem,
Rainha do Clero, a quem Jesus confiou à formação e o cuidado das almas
sacerdotais.

M. E. DE LA CROIX.
Paris, 1° de Maio de 1926.

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A VOCACAO SACERDOTAL

PRIMEIRA PARTE

O CHAMADO AO SACERDÓCIO

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A VOCACAO SACERDOTAL

Chama Jesus todos os homens a salvação eterna; foi por eles que
nasceu, padeceu e morreu.
Não obstante, variados são os caminhos pelos quais os conduz ao
céu. Cada alma recebe dons, aptidões em relação com o seu estado e com a
missão que deve cumprir.
Essas missões são diversas como os estados de vida. Algumas,
mais sagradas, assumem o caráter de uma vocação. Todas as vocações são
ordenadas em mira a salvação, e a elas deve cada um mostrar-se
generosamente fiel. Umas há, porém, mais elevadas que outras, e entre
estas ocupa a primeira linha a vocação sacerdotal.
Admite-se que nem todos são indistintamente chamados ao
Sacerdócio.
O oficio do Sacerdote corresponde a uma missão por demais
elevada, requer qualidades demasiado especiais, comporta responsa-
bilidades sobejamente grandes e confere poderes demasiadamente extensos,
para que tão alta vocação não seja efeito de um chamado particular e de
uma escolha individual.
Essa condição é essencial tanto para lhe receber a honra quanto
para lhe desempenhar as funções.
O Sacerdote é um “chamado”, um “escolhido”, um “privilegiado”
de Deus.
É o que faz sua grandeza. É o que lhe assegura as graças da sua
sublime e delicada missão.
Daí a importância capital de conhecer-se a escolha de Deus sobre
as almas sacerdotais. Só estas podem aspirar à honra do Sacerdócio.
“Ninguém se arrogue essa honra, senão o que é chamado por Deus”, diz-
nos S. Paulo. “Nec quisquam sumit sibi honorem, sed qui vocatur a
Deo”(1).
Essa escolha divina comporta uma dignidade sem igual, que não
honra só ao Sacerdote, mas que ressalta sobre a família e a sociedade. É por
isso que todos são interessados nas vocações sacerdotais.

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Hb 5, 4

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A VOCACAO SACERDOTAL

CAPÍTULO PRIMEIRO

O SACERDOCIO SUPÕE UMA ESCOLHA


DIVINA

1. – Uma escolha.
Evidentemente, de forma alguma pode o Sacerdócio ser conside-
rado como coisa ordinária, comum, fortuita: por exemplo, como efeito do
acaso, consequência de certos acontecimentos, resultantes de circunstâncias
diversas, desfecho de situações particulares, etc. Se assim fora, o Sacer-
dócio seria algo de facultativo e de sem valor, que, por conseguinte, poderia
ser aceito ou rejeitado impunemente à vontade; o que absolutamente não
corresponde à justa concepção que os cristãos habitualmente fazem do
Sacerdócio.
Sem dúvida alguma, há uma vontade que preside à escolha de um
Sacerdote. Essa escolha deve ser inteligente, sábia, judiciosa, feita em vista
de um fim determinado, em harmonia com o papel que o Sacerdote é desti-
nado a desempenhar.
Só se dirigem para o Sacerdócio aqueles que a ele se creem
chamados. Só são ordenados pelo Bispo aqueles que este acredita serem os
eleitos do Senhor.
A origem da vocação sacerdotal, como ao seu coroamento pela
Ordenação, preside e domina um pensamento mestre: há chamamento; a
pessoa é verdadeiramente escolhida por Deus.

2 — Escolha divina.
Se o Sacerdócio é a consequência de uma escolha real, daí não se
segue que possa qualquer um dar-se a si mesmo essa vocação pelo simples
fato de se determinar a abraçá-la.
O eleito não faz o chamado, recebe-o e responde-lhe. A vocação
sacerdotal não depende nem da vontade humana, nem da intensidade dos
desejos, como tão pouco do capricho ou da imaginação.
Os mais belos planos do futuro não têm valor algum se não
repousarem em base real e séria. A base da vocação sacerdotal é o chama-
mento do alto; o resto é mera consequência e expansão disso.
Não somos donos da graça, dá-a Deus a quem quer e na medida
que lhe apraz. Quem, pois, ousaria criar para si, por si mesmo, uma missão

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A VOCACAO SACERDOTAL

na ordem sobrenatural, e pretender dispor a seu talante de graças especiais


destinadas a um fim determinado a que não fosse chamado?
Ora, o Sacerdócio é algo de puramente sobrenatural, que depende
unicamente da vontade divina, e que Deus distribui as almas segundo a sua
sabedoria e beneplácito
Jesus teve o cuidado de no-lo declarar formalmente, dizendo: “Não
fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi” (1).
É a esta luz de verdade que cumpre considerar a vocação sacerdotal
para lhe apreciar a excelência e lhe corresponder fielmente, se a ela sentir-
se alguém chamado.

3. — Escolha divina na origem.


A vocação sacerdotal não é uma escolha que Deus fez do eleito no
curso da sua vida, numa época de maior fervor, em seguida a circunstâncias
providenciais, em recompensa de um merecimento qualquer, por uma
necessidade de momento. Os acontecimentos humanos e as disposições do
individuo absolutamente não influem nas escolhas de Deus. Cumpre
remontar a mais alto, até aos decretos eternos, para descobrir em sua
origem a vocação sacerdotal.
No pensamento de Deus a criação futura de uma alma sacerdotal já
está assinalada com o cunho das escolhas divinas; quando ela é criada, não
faz mais do que realizar no tempo o pensamento eterno de Deus.
Desde toda eternidade foi o Sacerdote escolhido por Deus para ser
seu ministro e representante. A sua vocação é eterna e divina. Haverá algo
maior?

4. — Escolha divina no fim.


Divina na origem, a vocação sacerdotal também o é no fim. O
Sacerdote recebe uma missão sobrenatural, em vista dos interesses maiores
de Deus e das almas: eis ai todo o Sacerdócio.
O Sacerdote não é Sacerdote para as coisas terrenas, mas unica-
mente para as coisas celestes. Não tem a liberdade de consagrar-se a umas ou
a outras; só existe para ser intermediário entre Deus e os homens. O seu oficio
é todo divino; ele só foi escolhido para cumpri-lo.
Nada engrandece tanto a vocação sacerdotal; por outro lado, nada lhe
torna mais temíveis as sublimes responsabilidades.

1
Jo 15, 16

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A VOCACAO SACERDOTAL

5. —. Escolha divina na participação do Sacerdócio de Jesus.


Nada há de tão grande, santo, divino como o mistério da Encarna-
ção do Verbo.
O Filho de Deus aparece na humanidade com a honra do seu
Sacerdócio. E o Sacerdote eterno que vem oferecer seu Sacrifício. Toda a
sua missão consiste no exercício do seu Sacerdócio, continuado durante
toda a vida e coroado pela imolação suprema do Calvário.
Para aplicar ao mundo os merecimentos do Sacrifício do seu
Salvador, a Igreja recorre aos Sacerdotes que participam do mesmo
Sacerdócio de Jesus e que cumprem na terra idêntica missão.
Não pode haver vocação mais elevada, nem escolha mais divina.
Compreende-se que Jesus haja afirmado ter, só Ele, o direito de
escolher seus Sacerdotes. Serve-se ele dos homens para manifestar suas
vontades; mas, antes que seus eleitos sejam chamados a subir os degraus do
santuário, já Ele os escolheu e marcou com o cunho das suas eternas e
sacerdotais predestinações.

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A VOCACAO SACERDOTAL

CAPITULO SEGUNDO

O SACERDÓCIO É UMA GRACA PARA


O ELEITO

1. — Graça privilegiada.
Encarado sob o aspecto humano, o Sacerdote ocupa uma posição
honrosa na sociedade; mas, acima dessa dignidade terrena, há uma conside-
ração da qual tira o Sacerdote a sua grandeza toda: é que o Sacerdócio é
uma graça particular que recebe gratuitamente da bondade de Jesus.
Sendo, como é, de ordem exclusivamente sobrenatural no fim e nos
meios, essa escolha que Jesus faz do seu Sacerdote, é um dom espiritual,
um favor especial, um efeito do seu amor, uma graça privilegiada, de que
nos devemos julgar indignos, mas que devemos considerar com grande
espírito de fé, com viva gratidão e com desejo ardente de a ela correspon-
dermos por um amor generoso e por uma fidelidade constante.
Se a menor graça tem o seu valor, visto ser o fruto dos mereci-
mentos e sofrimentos de Jesus, que dizer da graça sacerdotal que eleva a
alma a uma dignidade tão sublime e lhe confere poderes tão extensos e
divinos!
O simples fato de ser escolhido no meio de uma multidão de outros
para cumprir na Igreja tão alta missão, é privilégio incomparável, que ficará
sendo sempre o segredo da sabedoria e da misericórdia divinas.
O eleito do santuário nunca lhe meditará demais a sublimidade, e
nessa graça suprema deverá achar a razão de todas as outras graças de sua
vida.
Quando Jesus para si escolhe um Sacerdote, compromete-se por
isso mesmo a mostrar-se pródigo de graças para com ele. O Sacerdócio é,
com efeito, a graça das graças; e é de joelhos na adoração e no amor, que
uma alma deve recebê-la e conservá-la intacta.

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A VOCACAO SACERDOTAL

2. — Graça supereminente pela identificação ao Sacerdócio de Jesus.


Não é só a sua graça que, pela Ordenação sacerdotal, Jesus
comunica à alma consagrada, nem mesmo apenas uma graça super-
abundante, destinada a santificá-la e, por ela, a santificar um grande
número de outras almas; mas a si mesmo é que se da, enquanto Sacerdote,
imprime na alma o seu próprio Sacerdócio.
Faz por tal forma estreita e íntima a união entre essa alma e a sua,
que o seu Sacerdócio todo se torna o Sacerdócio do Padre, a ponto de já
não constituírem ambos senão um só e mesmo Sacerdote.
Não pode haver comunicação maior da graça, visto que o Padre se
torna, após seu Mestre, a fonte e o dispensador da graça na Igreja. Não
pode haver identificação mais completa com Jesus, visto como é Ele que
opera pelo seu Sacerdote, e por Ele, o Sacerdote opera outro tanto
eficazmente, outro tanto divinamente.
Pode-se imaginar algo de maior, de mais divino? Como todas as
outras feições do Sacerdócio se eclipsam diante dessa! Bastaria compre-
endê-la bem para apreciar exatamente a grandeza da vocação sacerdotal e
para estar pronto a todos os sacrifícios, a fim de corresponder a graça tão
eminente.

3. — Graça que confere ao Sacerdote a mesma missão eficaz que a Jesus.


Esse caráter sacerdotal é divinamente operante. Foi pelo seu sacer-
dócio que Jesus salvou o mundo, imolando à divina Vítima no Calvário; é
pela graça e pelo poder do mesmo Sacerdócio, do qual participa, que o
sacerdote opera obras de salvação.
Ele faz mais do que instruir, esclarecer e guiar as almas: salva-as;
não somente as mantém na vida, mas ressuscita-as quando elas estão
mortas pelo pecado.
Se não faz milagres aparentes, multiplica os milagres secretos pela
administração dos Sacramentos e pelo oferecimento do Santo Sacrifício da
Missa.
Vai através do mundo, enviado por Jesus, como Jesus foi enviado
por seu Pai. É a mesma missão: a mesma doutrina a ensinar, as mesmas

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A VOCACAO SACERDOTAL

virtudes a praticar, os mesmos meios de salvação a empregar, a mesma vida


a inocular, a mesma santidade a adquirir, o mesmo céu a merecer.
O Sacerdote é o prolongamento de Jesus no mundo. É como que
revestido de Jesus. Traz-lhe o nome, conserva-lhe o caráter, manifesta-lhe o
poder e a virtude. Fala em seu nome, santifica pelo seu espírito, assegura o
céu por sua graça. Escutá-lo e escutar a Jesus. Segui-lo e seguir a Jesus.
Jesus confiou-lhe a chave do reino dos céus, o Sacerdote introduz
ali as almas. Jesus continua sendo a porta das ovelhas (1), o Sacerdote fá-las
passar por ela. Jesus continua sendo a vida das almas (2), o Sacerdote haure
nela e nutre-as dela.
Semelhante vocação já não é uma simples graça, é a maior graça
que Jesus pode fazer a uma criatura, depois da graça da Maternidade
divina. Impossível ambicionar vocação mais elevada na terra.

4. – Graça que torna o Sacerdote depositário e dispensador dos


merecimentos infinitos de Jesus.
Havendo Jesus salvo o mundo pelo seu Sacerdócio, e tendo sido
sua vida, toda, o oferecimento de um só e mesmo Sacrifício consumado na
Cruz, todos os merecimentos infinitos que Ele adquiriu, adquiriu-os
enquanto Sacerdote; eles são como que propriedade do seu Sacerdócio.
Comunicando o seu Sacerdócio ao Padre, Jesus por isso mesmo
torna-o depositário dos seus merecimentos. O Padre tem a guarda oficial
deles, mas em vista a dispensá-los às almas segundo as necessidades destas.
Por conseguinte, tudo o que Jesus acumulou de graças em sua vida,
paixão e morte, está nas mãos do Padre, que, para a santificação e salvação
das almas, de alguma sorte pode renovar todos os mistérios e todas as
virtudes da vida do Salvador.
Que missão, a de ser o guarda e dispensador de tais tesouros! Que
confiança mostra Jesus ao seu Sacerdote! Que função sublime lhe da a

1
Jo 10, 9
2
Jo 11, 25

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A VOCACAO SACERDOTAL

cumprir no mundo! Faz dele um cooperador da sua Redenção, e quase um


corredentor.
E, destarte, não haveríamos de considerar a vocação sacerdotal
como a maior graça e a mais alta dignidade que haja na terra?

5. — Graça que estabelece o Sacerdote, por vocação, num estado de


santidade.
Jesus encarnou-se, e só permanece na Eucaristia para ser a vida das
(1)
almas ; e a vida das almas é a vida eterna. Mas a vida eterna é Jesus.
Quanto mais Jesus se dá, tanto mais dá a vida. Ora, Jesus não pode
comunicar-se mais profundamente a uma alma do que por meio da unção
sacerdotal, visto como o Sacerdote se torna em realidade outro Jesus.
Ninguém, pois, é mais destinado à santidade do que o Sacerdote.
Obriga-se a ele essencialmente por vocação, por escolha divina, por
vontade formal de Jesus, que não pode unir-se tão estreitamente a uma alma
sem obrigá-la a parecer-se com Ele e a estar por tudo em uníssono com
seus pensamentos, sentimentos e vontades.
Se o Sacerdote se não esforçasse por se fazer santo, haveria
divergência entre Jesus e ele; haveria de sua parte uma real incompreensão
do seu Sacerdócio, haveria uma verdadeira infidelidade a sua graça sacerdotal.
Nem pelo lado de Jesus, que se faz um só com o seu Sacerdote,
nem pelo lado do Sacerdote, que aceitou as obrigações sagradas do
Sacerdócio, pode a vocação sacerdotal ser concebida sem a santidade.
E tal santidade não pode ser passageira; é uma santidade de estado.
Enquanto o Sacerdote é Sacerdote, deve trabalhar por se tornar um santo.
Como o seu Sacerdócio é eterno, a santidade deve ser objeto dos seus
esforços durante a vida toda e o penhor da glória especial ao seu Sacerdócio no céu.
Tais são a consequência e o coroamento da graça incomparável da
vocação sacerdotal. Ao eleito do Sacerdócio compete viver numa gratidão
contínua e em desejos ardentes de santidade, para corresponder à escolha
privilegiada de Jesus.

1
Jo 15, 50-52

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A VOCACAO SACERDOTAL

CAPÍTULO TERCEIRO

O SACERDOCIO É UMA HONRA PARA A FAMILIA

1. — O Sacerdócio confere um título de nobreza divina.


O que faz o valor dos títulos de nobreza nas dignidades humanas e,
de uma parte, a dignidade daquele que confere esses títulos e, doutra, a
importância do título em si mesmo. Há títulos puramente honoríficos, como
os ha principescos e régios.
Se as famílias se honram com orgulho dos títulos puramente
humanos, legados por seus ancestrais e se prevalecem deles com cioso
cuidado nas suas relações sociais, com mais justa razão não devem
considerar-se honradas e elevadas quando se trata de um título de nobreza
divina, como o que o Sacerdócio confere?
Com efeito, e a família toda que se vê honrada no Sacerdote. A
nobreza do Sacerdote ressalta necessariamente sobre os parentes: sobre os
irmãos e as irmãs, em cujas veias corre o mesmo sangue.
A família toda acha-se como que associada ao Sacerdócio do Padre
saído do seu seio. Há mais do que alegria em se dizer pai ou mãe de um
Padre, há honra em dar um filho a Deus para Deus fazer dele um príncipe
do seu povo.
E essa honra dos pais é tanto maior quanto mais eminente é a
nobreza do filho. Ora, é o próprio Deus quem enobrece o Padre; e essa
nobreza divina está ao abrigo das vicissitudes humanas, é essencial ao
caráter sagrado e indelével do Padre.
Nas sociedades humanas, os soberanos não comunicam toda a
glória da sua soberania nos títulos e dignidades com que enobrecem os seus
súditos; o Sacerdote, este é grande da própria grandeza de Deus. Possui,
pelo seu Sacerdócio, tudo o que faz a grandeza e o poder de Jesus, o Sumo
Sacerdote. Ele é Sacerdote como Jesus, e Sacerdote por Jesus, e Sacerdote
de um Sacerdócio de que Jesus persiste a fonte única e o principio
essencial.

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A VOCACAO SACERDOTAL

Como o de seu Mestre, seu brasão é formado de uma Cruz e de


uma Hóstia; ele é o embaixador do Salvador do mundo, o arauto do amor
divino, dispensador da vida eterna.
Nenhuma criatura pode ser elevada a mais alto grau de nobreza.
Todas as nobrezas terrenas apagam-se diante dessa nobreza que vem do
céu, da qual Jesus faz participarem as famílias onde escolhe eleitos do
santuário.

2. — Honra que lhe vem da escolha divina.


Quando Jesus escolhe um Sacerdote para fazer dele o ministro de
suas obras e o dispensador dos seus dons, tem diante de si a multidão das
famílias que compõem as sociedades humanas. Passa-as, de alguma sorte,
em revista antes de fixar a sua escolha, e depois seus olhares se detém sobre
uma família determinada. Ele chama um dos seus membros, reserva-o para
o seu serviço pessoal, faz dele um príncipe de sua corte, depois consagra-o
qual outro Jesus para substituí-lo junto aos povos.
Acaso não é honra imensa, para uma família, ver-se por esta forma
objeto das atenções divinas, e ser escolhida para dar mais um Sacerdote a
santa Igreja? Nem a totalidade dos bens terrenos que ela possa receber da
mão benfazeja de Deus pode ser posta em paralelo com essa honra
privilegiada; os bens deste mundo são perecíveis, essa honra é eterna.
Muitas vezes, nada parece justificar essa escolha divina. Mas Jesus
não leva em conta nem as apreciações humanas, nem as condições sociais,
nem os estados de fortuna, nem os méritos puramente terrenos; considera
com a mesma benevolência os ricos e os pobres, os pequenos e os grandes,
os sábios e os ignorantes. Se alguma coisa O atrai, é a virtude, Ele se
compraz em fazer suas escolhas nas famílias cristãs, e recompensa assim o
espírito religioso dos pais.
Qual a família que não quereria atrair e merecer tal honra? Deveria
haver entre as famílias cristãs uma santa emulação para desejar e alcançar a
mercê de ver Jesus deter seu olhar sobre elas e nelas escolher Sacerdotes.

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A VOCACAO SACERDOTAL

3. — Honra que lhe vem da dignidade sobreeminente do Sacerdote.


“Damos a palavra a erudito autor, que estudioso do assunto, o
versou com alta proficiência, escrevendo sob o título “Excelência da
dignidade sacerdotal”.
Não houve jamais povo tão selvagem, nem seita tão absurda, que
não reconhecesse alguma deidade, e com ela alguma religião e sacerdotes
que presidissem ao culto que tributavam a divindade.
Ainda mais: tanto apreço e estima faziam do sacerdote os povos da
mais remota antiguidade, que, às vezes, só podiam exercer o oficio
sacerdotal os patriarcas ou chefes das famílias mais veneráveis, como Noé,
Abraão, Isaac, Jacó e Jó nas primeiras idades do mundo; outras vezes não
permitiam cingir a coroa a rei algum, que não fosse ao mesmo tempo
sacerdote, como o atesta Platão acerca dos Egípcios (Amb. serm. 18 no Ps.
XVIII), Xenofonte acerca dos Lacedemônios, e S. Isidoro, dos romanos
(Liv. 7. Etym. c. 12). Até reinos houve, onde o Sacerdote gozava de tanta
autoridade que podia destronar ao próprio rei e por outro em seu lugar,
consoante o afirmam os graves historiadores Estrabão, Eliano e Eusébio a
respeito do reino da Etiópia, dos Egípcios e dos Persas.
Nem se pense que só o povo baixo ou os broncos habitantes de
alguma insignificante aldeia tivessem essa veneração pelos Sacerdotes.
O grande Alexandre, diante de quem emudeceu a terra (C.f 1Mc 1,
3), ia com um formidável exército a Jerusalém, resolvido a passar pelo fio
da espada, todos os seus habitantes.
Não podendo o Sumo Sacerdote Jado resistir ao poder de tão
grande conquistador, lhe saiu ao encontro com outros muitos sacerdotes
revestidos dos hábitos sacerdotais.
Ao vê-los Alexandre, sentiu-se penetrado de tanto respeito, que
esquecido do plano que trazia em mente, desceu do cavalo e, fazendo-lhes
profunda reverência, foi com eles ao templo a fim de oferecer sacrifícios, e
liberalmente conceder-lhes tudo quanto lhe pediu o Sumo Sacerdote para o
culto divino.
Não compreendia o exército mudança tão repentina, e como um
grande privado seu lhe perguntasse a causa dela respondeu-lhe o príncipe

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A VOCACAO SACERDOTAL

magnânimo, ainda que gentio. "Não reverenciei a um jovem, senão a Deus,


de Quem é ele sacerdote e ministro”. (Josefo. liv. II. Antigui. c. 8)." (1)
O Sacerdote não é só um escolhido e um privilegiado de Jesus; é
um alto dignitário, um enviado especial revestido da autoridade suprema,
que fala e age em nome dele, que penetra no palácio dos reis como na
choupana do pobre, e que nada nem ninguém poderá jamais despojar da
dignidade eminente de que ele esta investido.
Já é muito que Jesus se digne interessar-se particularmente por uma
família, e grande honra seria para esta se um de seus membros fosse
escolhido para o Sacerdócio. Quando, porém, se trata do sacerdócio, a
escolha não anda sem a dignidade; e, como Jesus comunica ao Sacerdote o
seu próprio Sacerdócio, não pode encontrar-se dignidade igual a essa.
Pela natureza, o Sacerdote fica sendo sempre um homem; mas, pelo
caráter, é quase um Deus. Na realidade, ele exerce o ofício de um Deus; e,
para cumpri-lo, dispõe do próprio Deus. A sua dignidade é tal, que é a
irradiação e o prolongamento da dignidade de Jesus o Sumo Sacerdote.
Compreendem-se os sentimentos de um S. Francisco de Assis,
dizendo: "Se eu encontrasse um anjo e um Padre, começaria por
cumprimentar o Padre”.
No mundo, as famílias se gloriam dos grandes homens saídos do
seu seio, e lhes seguem ordinariamente a fortuna e o destino. É o caso, para
as famílias cristãs, de compartilharem as honras ligadas à vocação
sacerdotal de seus filhos. Por ser de ordem sobrenatural, nem por isso a
dignidade sacerdotal tem algo de inferior às dignidades humanas; muito
pelo contrário, essa dignidade engrandece os filhos, e, por isso mesmo,
eleva e glorifica as famílias.

4. — Honra que lhe vem da missão sobrenatural do Sacerdote.


No domínio das coisas humanas, é honroso desempenhar um oficio
elevado, difícil e importante; mais ainda o é no domínio, das coisas sobrenaturais.

1
Trecho da Pastoral “Vocações Sacerdotais” do Exmo. e Revmo. D. Maurício José da
Rocha, bispo de Bragança.

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A VOCACAO SACERDOTAL

Ora, o Sacerdote não trata de negócios temporais, terrenos e


materiais. O seu Sacerdócio eleva-o a um teatro mais elevado, o seu
ministério exerce-se diretamente sobre as almas; ele toca o céu, penetra
nele, aproxima-se do trono de Deus e haure aí as graças e os perdões que
purificam os pecadores e santificam os justos.
Recebeu a missão de penetrar até nas consciências, para esclarecê-
las, dirigi-las, fortificá-las e vivificá-las. Fala às almas uma linguagem
divina, ensina-lhes as verdades eternas, desapega-as das coisas deste
mundo, arrasta-as para a senda do dever, excita-as a prática das virtudes,
assiste-as nos perigos, alimenta-as do pão da vida eterna e conduze-as (1) ao céu.
Foi para isso que Jesus o escolheu, foi para isso que o Sacerdote
seguiu seu Mestre e se fez seu ministro, foi para isso que a família fez o
sacrifício dele. Não pode haver para Jesus maior alegria, para o Sacerdote
mais sublime ministério, para a família maior honra e mais esplendida
recompensa.
Quem, pois, mesmo entre as famílias mais respeitáveis, poderia
aspirar a conferir a alguém missão similar, simplesmente na ordem
intelectual e moral?
Na medida em que o reino das almas é superior aos reinos
temporais, em igual medida a dignidade espiritual, inerente a missão
sobrenatural e divina do Sacerdote, honra mais as famílias do que todas as
dignidades terrenas.

5. — Honra que lhe vem do lugar que o Sacerdote ocupa na Igreja e na


sociedade.
Para cumprir sua missão, a Igreja precisa de ministros, de pastores
e de apóstolos. Nem todos os cristãos podem exercer nela as mesmas
funções nem possuir os mesmos poderes. Em toda sociedade bem
estabelecida, deve haver uma hierarquia de dignidade e de atribuições.

1
Palavra original “condú-las”, não mais usada na língua portuguesa, substituída
por “conduze-as”. Nota do Editor.

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A VOCACAO SACERDOTAL

Quanto mais importante é essa sociedade no fim e nos meios, tanto mais
tudo nela deve ser perfeitamente regulado e harmonizado.
A Igreja é o reino de Deus na terra, Fundou-a o próprio Jesus, e
estabeleceu nela chefes e pastores para dirigi-la e governá-la. Depois do
Papa e dos Bispos, os Sacerdotes, colocados sob as ordens deles, exercem
funções tão importantes que o seu ministério é indispensável. É a eles que
cabe administrar os Sacramentos e dispensar os tesouros da graça e é para
eles que acorre a multidão das almas para receber luz, conforto e vida.
O Sacerdote é a luz do mundo. Não é justo que seus raios iluminem
primeiramente a família de cujo seio ele saiu? Nos seus raios luminosos, o
Sacerdote projeta algo da sua eminente dignidade, e forçosamente sua
família é enobrecida com isso.
Quando alguém penetra com toda liberdade no palácio real e ali
exerce uma função íntima junto à pessoa do rei, qual a família que se não
sente honrada com isso? E, ademais, se ele se torna o embaixador do rei e
recebe por toda parte as provas de deferência devidas as suas altas funções,
a honra da família cresce outro tanto com isso.
É o que acontece com o Sacerdote. Embora não procure as honras
humanas, ele e necessariamente honrado por causa de suas funções. Pelo
seu Sacerdócio, ocupa na sociedade um lugar a parte, que nenhum outro
pode ocupar.
Honrando o Sacerdócio do Padre, honramos sua família; honrando
o filho, honramos os pais. Dessa honra, as famílias cristãs devem ufanar-se.
Possam elas compreendê-la e ambicioná-la!

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A VOCACAO SACERDOTAL

CAPITULO QUARTO

O SACERDOCIO É UMA BÊNÇÃO PARA A SOCIEDADE

1. — Cada novo Sacerdote atrai os olhares benévolos de Jesus sobre a


sociedade.
Veio Jesus a esta terra para manifestar aos homens a caridade e a
misericórdia divinas. Quando morreu na cruz, deu-lhes a maior prova de
amor. Quando instituiu a Eucaristia, quis perpetuar através dos séculos a
expressão viva da sua caridade infinita para com as almas. Quando
escolheu seus primeiros Sacerdotes, na pessoa dos Apóstolos, fez deles
outros Cristos e legou-os a humanidade para renovarem em toda a parte os
mesmos mistérios de bondade e de amor.
O Sacerdócio tornou-se dessarte, de Jesus, o meio de se comunicar
aos homens; e, por causa disso, esse meio vai buscar no amor, que lhe é o
princípio, o mesmo caráter de bondade e de bênção divinas.
Jesus ama o seu Sacerdote mais que a todos, e no Sacerdote ama as
almas. Nele concentra todo o poder e toda a eficácia do seu Sacerdócio
eterno. Dando um Sacerdote à sociedade, e a si mesmo que se dá, visto
como o Sacerdote pode dispor de Jesus a seu talante para o bem das almas.
Por causa dos seus Sacerdotes, Jesus olha com benevolência as
sociedades e as nações, e sente- se disposto a abençoá-las. Quando do seio
da sociedade surge um novo Sacerdote, a sua benevolência redobra, pois ali
se acende um foco novo de vida e de virtude divinas.
Multiplicar os Sacerdotes e, pois, para a sociedade um dos meios
mais poderosos de tornar propicio o céu. Felizes os países em que o
Sacerdócio e assim compreendido e onde todas as classes da sociedade
concorrem para favorecer as vocações sacerdotais!

2. — Cada novo Sacerdote e para a sociedade um penhor de graças e


de bênçãos.
As sociedades são formadas de famílias, e as famílias de indiví-
duos. Portanto, cada membro da família faz parte da base em que repousa a

21
A VOCACAO SACERDOTAL

sociedade; mas o que há de mais precioso nele é a alma e não o corpo.


Enquanto princípio vital, a alma anima o corpo e lhe é superior. Demais,
ela é imortal e destinada à posse eterna de Deus na bem-aventurança. É-lhe
preciso um alimento espiritual adaptado as suas necessidades sobrenaturais;
só com essa condição influíra ela eficazmente sobre o corpo e tornará o
indivíduo útil a sociedade.
Quem, pois, fornecerá à alma os elementos espirituais e indispen-
sáveis que lhe convém? Quem orientará as vontades pela senda reta da
verdade e do dever? O Sacerdote.
Quem relembrará incessantemente as verdades eternas? Quem
manterá as almas na virtude e na perfeição? Quem as purificara dos seus
pecados e lhes assegurara os socorros da vida eterna? O Sacerdote.
Se não fosse o Sacerdote, a fonte das graças se estancaria, visto
como já não haveria ninguém para dispensá-las. Se não fora o Sacerdote,
bem depressa os homens esqueceriam os seus deveres para com seus
semelhantes, e as sociedades seriam subvertidas.
A multiplicidade dos Sacerdotes não faz senão multiplicar as fontes
da graça. Quem, pois, pensaria em se queixar dela? Muito pelo contrario,
quando vemos os progressos do mal, não é sumamente desejável que haja
mais Sacerdotes para fazer contrapeso a indiferença e a corrupção que
invadem a sociedade, e para aumentar os meios de conversão e de salvação?
Portanto, longe de considerarmos com indiferença o papel benéfico
que o Sacerdote desempenha na sociedade, ponderemos e compreendamos
o dever que nos incumbe de auxiliá-lo no seu ministério.

3. — Pelo seu Sacerdócio, cada Sacerdote é um para-raios para seu país.


As sociedades não são mais indenes de culpas que os indivíduos.
Todo homem é pecador e, por conseguinte, necessita de perdão.
A indiferença ou o ateísmo não muda nada à verdade. Não é porque
o ateu não crê em Deus que Deus deixe de existir. Não é porque a maioria
vive como se não devesse morrer, que os homens não morrerão. Não é
porque o mundano vive no turbilhão dos prazeres e das frivolidades, que
deixará de vir uma hora em que ele terá de abandonar tudo. Não é porque

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A VOCACAO SACERDOTAL

viva tranquilamente no seu pecado que o pecador não deverá expiá-lo


cruelmente neste mundo e no outro.
Pesa sobre o mundo um fardo enorme de pecados e de crimes. Não
serão os culpados, os cegos e os criminosos que hão de se interessar pela
sorte dos outros, eles que não podem ou não querem reparar por si mesmos.
Não hão de ser tão pouco, os homens terrenos, tão preocupados
com as coisas e com os bens deste mundo, que a custo acham tempo de
consagrar alguns instantes aos seus interesses eternos.
Necessário é, pois, que haja uma classe de homens consagrados,
para si e para os outros, a interceder em favor dos pecadores, a sustar o
braço vingador da justiça divina e a afastar da sociedade os males que ela
mereceu: são os Sacerdotes.
Por vocação, o Sacerdote e colocado como um para-raios entre o
céu e a terra, para fazer desviar o raio e torná-lo inofensivo. Ele não faz isso
por seu próprio poder, mas pelo poder contido no seu Sacerdócio, que, com
os Sacramentos, lhe entregou as graças e o sangue de Jesus, de que ele se
serve para aspergir o mundo.
Se o Sacerdote tem o poder divino de arrancar a alma ao inferno
pela absolvição, e de fazer descer Jesus do céu ao altar pelas palavras de
consagração, como não há de exercer sobre o coração de Deus o mesmo
poder quando implora perdão e misericórdia para os pecadores e para as
sociedades culpadas?
Como nos deveríamos alegrar ao ver mais um Sacerdote, quando
pensamos no beneficio que ele constitui para a sociedade e na salvação que
lhe deverão multidões de almas!

4. — Cada novo Sacerdote e destinado a levantar o nível moral e


espiritual dos seus compatrícios.
O Sacerdote não existe para si, mas para os outros. Recebe muito,
mas para dar. Tem uma missão, mas essa missão exerce-a junto às almas.
Faz parte da sociedade como todos os outros, mas ao mesmo tempo lhe é
consagrado. Não pode ser simplesmente passivo; deve ser ativo. A sua

23
A VOCACAO SACERDOTAL

felicidade, como o seu dever, é dedicar-se pelos outros e em todos os


campos de apostolados possíveis.
As massas, porém, necessitam particularmente de um influxo
benéfico que as estabeleça na ordem e na verdade, e aí as mantenha.
Deixadas a si mesmas, elas ficam sujeitas a todos os erros e a todas as
desordens.
Para exercer esse influxo, importa ser qualificado. É-o o Sacerdote
por vocação. Não se lhe pode negar esse direito e esse dever. Se nem
sempre é bem sucedido, não o é por insuficiência de missão, mas por
encontrar às vezes uma resistência obstinada.
O que o Sacerdote se esforça por fazer sobre as massas, trabalha
por fazê-lo sobre os indivíduos. Quantos lhe devem a verdade e a volta à
melhores princípios! Quantos, graças ao seu zelo e a sua caridade,
escaparam ao perigo das falsas máximas e a ação dos fatores de ódio e de
desordem! Quantos souberam manter-se na prática dos deveres cívicos e
espirituais, incentivados e sustentados pelos seus conselhos e pela sua
dedicação!
Um Sacerdote a mais é um poder para a sociedade. Para conservar
nela a harmonia, a paz e a concórdia, ele faz mais, pela sua influência
moral, do que todos os discursos dos tribunos e todas as organizações de
policia.
Ponhamos Sacerdotes em toda parte, favoreçamos-lhes a ação, e
daremos prova de bom e sábio patriotismo.

5. — Cada novo Sacerdote e um cidadão observante das leis, guarda da


ordem e amigo da concórdia.
O que o Sacerdote ensina e recomenda aos outros, primeiro o faz.
Andando nas pegadas de seu Mestre, começa por iazer antes de ensinar; por
dever pessoal e de edificação; esmera-se em observar todas as leis civis que
não lhe ferem a consciência e que não paralisam a sua missão junto as
almas.
No exercício do seu ministério, ele é o representante de Deus, e
inspira-se em tudo na sua lei, no seu espírito e na sua vontade. Enquanto

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A VOCACAO SACERDOTAL

cidadão, tem a peito ser homem integro, pacífico, disciplinado, respeitador


da autoridade.
Digno na sua atitude, conservando-se arredio das manifestações
ruidosas, alheio aos movimentos turbulentos das massas, cumpre o seu
dever sem pretensão como sem fraqueza. As autoridades podem contar com
ele, cada vez que se trata de prestar concurso ao bem comum ou por a
influência moral do seu caráter a serviço de uma boa causa.
Por estado, o Sacerdote é um homem de bom conselho, pacífico,
ordenado, guarda da disciplina e dos bons costumes, consolador dos
infelizes, protetor dos fracos, amigo de todos.
Tais cidadãos são tesouros numa sociedade. São uma forca de que é
sábio saber servir-se, forca tanto mais preciosa quanto mais se faz sentir
nos nossos dias a necessidade deles.
Rezemos e trabalhemos para obter santos Sacerdotes para a Igreja e
para a sociedade.

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A VOCACAO SACERDOTAL

SEGUNDA PARTE

CONDIÇÕES E QUALIDADES DO
SACERDOTE

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A VOCACAO SACERDOTAL

Jesus não chama ninguém a um estado qualquer sem lhe dar as


qualidades para desempenhar digna e eficazmente as funções desse estado;
do contrário, seria impor deveres e responsabilidades sem fornecer os
meios de cumpri-los e de arcar com elas.
Mas nem por isso tira Jesus à parte de cooperação que o homem
deve prestar a realização dos planos divinos. Essa cooperação e necessária,
sob pena de anular completamente os desígnios que Jesus formou.
O que é verdade de qualquer estado de vida ainda mais o é quando
se trata de um estado que se refere mais diretamente ao fim ultimo do
homem e a gloria imediata de Deus. Ora, nesta ordem de ideias, nenhum
estado superior ao estado sacerdotal, nenhuma vocação diz respeito tão
essencialmente aos interesses sagrados de Deus e das almas.
Há, portanto, qualidades e virtudes características que todo
individuo destinado ao Sacerdócio deve possuir, e que não pode
negligenciar sem diminuir a dignidade do seu caráter, e mesmo sem se
tornar inapto para desempenhar as funções dc seu estado.
Indicamos aqui algumas, as mais importantes para o próprio
Sacerdote e para a fecundidade do seu ministério.

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A VOCACAO SACERDOTAL

CAPÍTULO PRIMEIRO
A VIRTUDE

1. — Porque o Sacerdote é consagrado as coisas de Deus.


As situações diferenciam-se pelos cargos, pelos empregos, pelas
ocupações, do mesmo modo que pelo fim particular a atingir. No século,
elas tem mais diretamente um caráter temporal, posto que todos devam
esforçar-se por sobrenaturalizar os seus esforços e trabalhos.
No estado eclesiástico, tudo deve convergir para as coisas eternas;
nele as coisas do mundo só ocupam o lugar estritamente necessário. Dele
são banidos os interesses puramente humanos, os gozos mundanos são nele
ignorados, nele tudo o que cativa o espírito e o coração dos homens
terrenos sem valor e sem atrativo.
O próprio Sacerdote e separado do mundo por uma consagração
solene que o constitue Ministro assíduo do Senhor, a cujo serviço se dedica
e onde consome sua vida. Tomado entre os homens, ele despe as libres do
mundo para revestir-se das libres de Cristo, e torna-se o homem de Deus, o
"homo Dei” de que fala S. Paulo, unicamente ocupado em se fazer
intermediário entre Deus e os homens.
O seu oficio é subir incessantemente ao céu para ali levar as preces
e as necessidades da humanidade, e depois descer para as almas, afim de
lhes dispensar os socorros e as graças hauridas no seio da misericórdia
divina.
Como cumprir tão sublime ministério sem praticar a virtude, sem
considerar como essencial a pureza da vida, sem se esforçar constantemente
por tender a perfeição, e sem procurar revestir-se da santidade do próprio
Sumo Sacerdote?
Imitamini quod tractatis, diz o Bispo ao Levita antes de ordená-lo.
E isso é apenas simples lógica. Ou querer ser um verdadeiro Sacerdote, ou
retirar-se. Ora, ser Sacerdote, no sentido verdadeiro do termo, é ser santo.
Portanto, para desejar o Sacerdócio é preciso ao mesmo tempo desejar a
santidade; para se manter na graça do Sacerdócio, é preciso entregar-se
generosamente ao trabalho constante da própria perfeição.

28
A VOCACAO SACERDOTAL

Seria sumamente ilógico consagrar a vida a tratar das coisas santas


sem se aplicar a fazê-lo santamente e a tornar-se a si mesmo um santo.
Antes de tudo, o aspirante ao Sacerdócio deve exercitar-se vigorosamente
em praticar as virtudes do seu estado futuro, isto é, a perfeição. Se ele não
tiver do Sacerdócio essa concepção, depressa descurará muitas virtudes
essenciais ao seu estado, e mais tarde será Sacerdote de nome, sem parecê-
lo de fato. Essa desgraça será a maior que possa atingir uma alma
sacerdotal; dificilmente poderia evitá-la um Levita que não a temesse. Por
isso, a obrigação da virtude, levada ate a perfeição, deve ser nele uma
convicção inabalável que se torne uma regra de vida.

2. — Porque o Sacerdote tem a obrigação sagrada de parecer-se com


seu Mestre.
Deixando o mundo para consagrar-se ao serviço dos altares, o
Sacerdote torna-se discípulo de Jesus, Devido a isso recebe uma formação
especial, e é Jesus quem primeiro lha dá. Possuindo o mesmo Sacerdócio
que seu Mestre, deve ele ter todos os caracteres deste. Jesus é o Santo dos
santos; seria admissível ter Ele discípulos que não se lhe parecessem? Ele
só fala de virtude e de santidade; como não o haveriam de escutar os que
estão na primeira fila para receber suas lições?
Poderia deveras um Sacerdote viver na companhia habitual e na
intimidade de Jesus, como o faz pelo exercício de suas funções, sem ter o
desejo de lhe andar nas pegadas, sem sentir a necessidade de se fazer um só
com Ele pela santidade de sua vida e pelos ardores do seu amor, como com
Ele já faz um só pelo caráter sacerdotal?
Ou se deve olhar para Jesus e segui-lo, ou se deve desviar o olhar e
afastar-se de Jesus. Segui-lo e chegar a aquisição das virtudes sacerdotais;
afastar-se dele é tornar-se indigno do Sacerdócio.
As relações entre Jesus e o Sacerdote são por demais assíduas e por
demais estreitas, para não produzirem da parte de Jesus revelações íntimas
de Si mesmo, e da parte do Sacerdote desejos ardentes e porfiados de
reproduzir em sua vida todas as virtudes contempladas no Mestre.

29
A VOCACAO SACERDOTAL

O exemplo que Jesus deu a todos os cristãos é o convite premente


que lhes fez de segui-lo e imitá-lo, dirigem-se muito primeiramente aos
Sacerdotes. Jesus quer reconhecer-se nos seus discípulos; como seria isso
possível se estes não fossem santos como Ele, se não fossem perfeitos
como é perfeito seu Pai, com quem Ele não faz senão um?
É a isso que deve tender antes de tudo aquele que aspira ao
Sacerdócio. Se não tiver essa ambição agora, muito provável será que não a
tenha mais tarde; não lhe é lícito aspirar a tão altas responsabilidades sem
se dar ao trabalho de adquirir as virtudes necessárias para suportá-las.

3. — Porque o Sacerdote deve ser um exemplo para os outros.


Quando Jesus estava na terra, as pessoas iam a Ele, viam-no,
ouviam-no, seguiam-no, eram testemunhas das suas virtudes c milagres.
Desde que não está mais visivelmente entre os homens e permanece
silencioso e oculto no Sacramento do seu amor, não pode mais praticar a
virtude senão pelos seus membros místicos, por aqueles que se fazem seus
discípulos e imitadores.
Todos os cristãos devem imitá-lo, mas nem todos são a isso
obrigados no mesmo grau. Há uns que receberam oficialmente a missão de
segui-lo mais de perto, de conduzir consigo os homens a salvação, de ser a
luz do mundo e o sal da terra, de arrastar as almas a virtude por suas
palavras e exemplos: são os Sacerdotes.
É por isso que os fiéis têm os olhos abertos sobre a conduta dos
Sacerdotes. Com toda razão, querem eles achar, nos Sacerdotes, aquilo que
contemplam em Jesus seu Senhor e Mestre, e instintivamente procuram
calcar sua vida espiritual sobre a deles.
O Sacerdote tem a responsabilidade das almas; e, se só certo
número destas constitui mais particularmente o rebanho que lhe e confiado,
todos entretanto estão no direito de procurar nele, em toda parte e sempre,
um modelo vivo de perfeição. Seus exemplos farão sempre mais do que
suas palavras; estas seriam estéreis se não fossem esclarecidas e fecundadas
por aqueles.

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A VOCACAO SACERDOTAL

Consagrada unicamente a glória de seu Mestre, o Sacerdote só


imperfeitamente lha proporcionaria se, por suas virtudes, não fosse
exemplo para as almas, e se pela santidade de sua vida, não corroborasse a
doutrina que ensina. Aliás, um Sacerdote que não edifica, escandaliza, e
produz nas almas um efeito diretamente contrário ao fim do seu
Sacerdócio.
Ser Sacerdote, imitar a Jesus e arrastar as almas a virtude: tudo isto
é uma coisa só. Possam os fiéis distinguir desde já nos Levitas do Santuário
as virtudes que mais tarde brilharão com novo esplendor nos Ministros do
Senhor!

4. — Porque a virtude é uma condição essencial da fecundidade do seu


ministério.
Jesus não instituiu o Sacerdócio só para que houvesse dignidades
na sua Igreja; confiou-lhe um ministério sagrado, um apostolado ativo, uma
missão trabalhosa. Ele envia seus Sacerdotes à conquista das almas,
conquista mais difícil do que a dos reinos. Arma-os de poder e de força,
recomendando-lhes que se apoiem confiantemente nele, que venceu o
inferno e o mundo. Assegura-lhes o êxito, pois quer que eles produzam
frutos e que seus frutos perdurem.
O reino que pregou, a eles é que incumbe estabelecê-lo por toda a
terra; e, a fim de chegar a isso, não devem recuar ante nenhum sacrifício,
mas ter a coragem de derrubar todos os obstáculos, de atacar todos os
inimigos, de renunciar a tudo, de carregar a cruz em seguimento a Ele, e de
subir o Calvário.
Tudo isso implica visivelmente na prática de todas as virtudes. Não
praticá-las, e votar-se de antemão ao malogro e à derrota. A Si mesmo deve
Jesus o não dispensar suas graças a quem as despreza. Ele deve as almas o
não enganá-las, expondo-as a crer que o êxito depende mais dos motivos
humanos do que da virtude.
Para fazer o bem, é necessário a pureza de intenção. Para revelar
Jesus, falar dos seus mistérios, ensinar a sua doutrina, comunicar o seu

31
A VOCACAO SACERDOTAL

espírito e atrair a ele as almas, é preciso algo mais do que belas palavras, é
preciso pregar pelo exemplo.
Os frutos das virtudes só amadurecem ao sol da caridade. Só esses
se conservarão para sempre. Se faltar a caridade, que serão os mais
eloquentes pregadores senão “címbalos Ressonantes”? Se o apostolado for
viciado na sua fonte, nada produzira de eficaz e de duradouro nas almas.
Não se deixem os aspirantes ao Sacerdócio enganar pelas ilusões da
juventude. Para um Sacerdote, não se trata de fazer muito barulho, mas de
ser santo.
Um Sacerdote não é virtuoso por falar da virtude, tal como um belo
discursador não é sábio por falar da ciência.
Não se dedicam frutuosamente a salvação das almas senão aqueles
que trabalham ativamente na sua própria santificação, para apoiarem em
seguida as suas palavras e atos nos seus exemplos de virtude.

5. — Porque, pela falta de virtude, o Sacerdote deslustra o seu


Sacerdócio e se torna uma pedra de escândalo para as almas.
O Sacerdócio não recebe da conduta do Sacerdote a sua dignidade e
excelência; possui-as em si mesmo e haure-as na pessoa adorável do Sumo
Sacerdote. Quanto mais o Sacerdote reflete as qualidades essenciais do
Sacerdócio de Jesus, tanto mais se aproxima do seu divino modelo e
aparece no mundo como a irradiação daquele de quem é ministro e
embaixador.
Tocar um pouquinho que seja na santidade do caráter sacerdotal e
empanar o brilho do Sacerdócio. Tirar-lhe a virtude que lhe e o apanágio, e
deslustrá-lo.
Não há tristeza maior do que ver um Sacerdote arrastar seu
Sacerdócio pela lama; é mais do que criminoso, é sacrilégio. Sem ir ate aí,
o Sacerdote que não e virtuoso desconhece a santidade do seu estado, não
tem pelo seu caráter a estima que deve ter, despreza a graça que recebeu no
dia da sua Ordenação. O seu Sacerdócio condena-o e lhe é um fardo,
enquanto não se lhe torna um castigo.

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A VOCACAO SACERDOTAL

Mas não e só o Sacerdócio que lhe inflige a vergonha da


infidelidade e da decadência; testemunhas da sua falta de virtude num
estado tão santo, as almas aí estão para lhe exprobar o tornar-se para elas
uma pedra de escândalo.
Efetivamente, como crer na necessidade da virtude se os que a
ensinam não a praticam?. Como honrar Ministros que pregam o dever em
palavras e mostram infidelidade em ações? Como confiar a própria alma a
alguém que se expõe a perder a própria? Como, para ir ao céu, seguir uma
trilha abandonada por aqueles que pretendem introduzir nele os outros?
A culpabilidade dos Sacerdotes que descuram a prática da virtude e
de fazer tremer, quando se pensa nos efeitos desastrosos que ela produz nas
almas.
Para estar certo de permanecer sempre virtuoso, vise o Sacerdote
tornar-se santo. Evitara assim descoroar o seu Sacerdócio e ter de responder
pelas almas que houver perdido.
Os aspirantes ao Sacerdócio, conhecidos como tais, já poderiam
produzir um efeito desastroso e afastar as almas da virtude, se estas não
vissem neles homens sobrenaturais e modelos de piedade. Incite-os este
pensamento a prosseguirem ativamente o trabalho da sua santificação!

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A VOCACAO SACERDOTAL

CAPITULO SEGUNDO
ACIENCIA

1. — Obrigação, para o Sacerdote, de conhecer a doutrina de seu Mestre.


Só imperfeitamente Jesus seria conhecido se o fosse em suas virtudes.e
não em seus ensinamentos*
Vindo a terra, trouxe aos homens todo
um codigo de doutrinas que eles sao obrigados a
aprender e cora o qual devem conformar sua vida.
Mais do que os outros, deve o Sacerdote tornar-
se sabio nessa ciencia divina. Licito lhe e
ficar estranho a muitos conhecimentos, humanos,
mas nao lhe e permitido ignorar esse. Abandonando
o seculo, ele por isso mesmo se afastou das ciencias
puramente profanas, para consagrar-se as
coisas divinas; e, se as vezes se ocupa das primeiras,
em razao de funcoes especiais, isso nunca
deve ser em detrimento das segundas.
Mas, para ser exata e perfeita, deve

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