Os estudos de gênero têm raízes no pensamento liberal e no feminismo, bem como em
autores franceses como Michel Foucault, Jacques Derrida e Gilles Deleuze. Mas a antiga compreensão de “gênero” se modificou, sobretudo graças à contribuição de Joan Scott ao publicar, em 1986, um ensaio na American Historical Review intitulado “Gênero: uma categoria útil de análise” (traduzido para o português primeiramente em 1990, depois em 1995). Nesse trabalho, Scott define gênero como “um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder” (SCOTT, 1995, p. 86). Gênero, dentro dessa perspectiva seria um produto cultural que, como eixo organiza as experiências no mundo social e uma forma de dar sentido à realidade. Todavia faz-se necessário pensar no conceito de cultura e suas operações a fim de compreender como os atores sociais produzem ou constroem significados. O conceito de Cultura é altamente complexo e disputado (BHABHA, 1998; GEERTZ, 2015; HALL, 2014). Há aqueles que ainda estão a sua procura e aqueles que dizem tê-lo encontrado. Da semiótica a linguística, da sociologia à psicanálise, os estudiosos não cansam de lutar pelo conceito. Ao lado destes conflitos, há na teologia um movimento de renovação na linha do Concílio Vaticano II, buscando reler o Evangelho na perspectiva da cultura contemporânea, de modo a contemplar as aspirações de igualdade e reconhecimento da diferença. Essa busca quer renovar a antropologia teológica no esforço de não abandonar totalmente as contribuições pós-estruturalistas dos últimos anos. Todavia, existe pressupostos que a teologia não poderá abandonar com risco de sua própria existência epistêmica. Os vários lados da teologia concorrem pela hegemonia da interpretação e nesse bojo está sua visão sobre a questão de gênero. O presente debate tem como principal objetivo lançar luzes ou abrir espaços para o diálogo sereno a fim de produzir orientações para um viver mais pacífico possível na sociedade contemporânea, sobre tudo entre aqueles que são cristãos ou se interessam pela harmonia social.