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IDENTIFICAÇÃO
INSTITUIÇÃO: Universidade Estadual de Santa Cruz: UESC
NOME DO BOLSISTA: Tiago Calazans Simões
PEDIDO Nº FAPESB.2015.1298
CPF Nº: 06239775592
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ORIENTADOR (A): André Luiz Mitidieri Pereira
TÍTULO DO PROJETO DE PESQUISA: Literatura, Espaço Biográfico e
Homossexualidade
PERÍODO ABRANGIDO PELO RELATÓRIO: 01/08/2015 a
31/09/2016
EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES REALIZADAS PERÍODO PERÍODO DE
CONFORME PLANO DE TRABALHO PREVISTO EXECUÇÃO
Leitura e fichamento do referencial teórico 4 meses 4 meses
DIFICULDADES ENCONTRADAS:
JUSTIFIQUE A ALTERAÇÃO:
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Este trabalho foi desenvolvido pelo plano de pesquisa Biografemas homoculturais
em 'Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá', de Fernando Mello que integra o
Projeto de Pesquisa IC/FAPES Literatura, Espaço Biográfico e Homossexualidade,
e teve como suplemento as leituras e discussões realizadas no GPBIO; Grupo de
pesquisa O Espaço Biográfico no Horizonte da Literatura; assinalado principalmente
pelos conceitos de espaço biográfico, de Leonor Arfuch, e biografema homocultural,
de André Mitidieri. Importa-nos a expressividade do eu em narrativas biográficas
híbridas que deem conta das expressões humanas coletivas, neste caso, de grupos
gueis à margem do discurso andocêntrico, binário e autoritário produzido na
América do Sul pelas ditaduras militares dos anos 70-80. O texto dramático em
estudo demarca experiências e vivências de personagens não canônicos –puta,
bicha e gigolô –, afirmando a influência das divas do cinema para a subjetividade e
a identidade dos homossexuais. A justificativa é pautada na produção de material
que aposte na noção de escrita/literatura homoerótica, visibilizando o autor e
temática na crítica ao texto Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá(FERNANDO
MELO 1974), correlacionando a temática com a homocultura e (auto)biografia.
Procuramos delinear e apontar uma crítica biografemática que visibilize sujeitos e
histórias à margem do cânone, além de assinalar a presença das divas no
imaginário homoerótico e a reprodução da ideologia dominante nas intervenções de
alguma personagens do texto.
PALAVRAS-CHAVE (três):
INTRODUÇÃO (tema/objetivos/hipóteses/justificativa):
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proposta por André Mitidieri, o conceito de Biografemas Homoculturais. Nosso plano
que se efetivou através da realização de fichamentos, resumos de textos e
importantes discussões oportunizadas pelo grupo de estudos presenciais; O espaço
biográfico no Horizonte da Literatura, juntamente com os sempre movimentados
espaços de redes sociais onde o GPBIO está envolvido (grupos no facebook e no
Whatsapp). Neles, mostramos que os espaços não canonizados podem ser também
intelectual e academicamente produtivos, pois são nessas redes sociais que
compartilhamos links para vídeos, filmes, textos e discussões sobre literatura,
homocultura e outros temas ligados ao grupo.
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de redemocratização, onde história e ficção se fundem numa série de textos com
potencial estético ficcional mas também histórico factual. É necessária a ampliação
do campo de discussões homossexuais dentro da literatura e das representações
artísticas, fazendo corpo junto a uma série de outras pesquisas que vem sendo
desenvolvidas e se transformando em ferramental teórico para a crítica literária,
cultural e literatura comparada, além de material prático para a educação para a
diversidade, para a discussão de gênero e sexualidade na escola e na universidade.
MÉTODO (sujeitos/instrumentos/procedimentos):
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masculina oficialista e linear dos discursos autoritários produzidos pelas ditaduras
militares Sul-americanas nos anos 70-80.
O livro reflexiones sobre la cuestión gay, foi visto como uma obra de caráter
autobiográfico ERIBON (2000) o que ele não negou, porém seu livro reflexiones.
está muito mais para um autobiografia de todos (um grande número de sujeitos
gays e lésbicos com histórias vivências/experiências semelhantes) do que de um
relato individual/pessoal dele. É um relato que consegue abarcar experiências
coletivas dos grupos gueis e lésbicos, não foi por acaso que muitos homossexuais
se reconheceram na narrativa de Didier Eribon. Durante o processo de recepção de
seu livro, ele recebeu uma série de cartas de sujeitos gays/lésbicos, sobre a
identificação deles com sua obra, com as histórias e reflexões ali discutidas, o
quanto da vida deles eles sentiram representadas ali. Muitos enviaram a Didier
cartas falando sobre as experiências, cartas que ele disse negligenciar por nunca
ter publicado tal material:
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A partir desse envolvimento de uma série leitores e leitoras com o livro
Reflexiones sobre la cuestión gay, sobre sujeitos gueis/lésbicos e a repercussão e
recepção do mesmo, podemos perceber o quão acertada é a nossa discussão
sobre os gêneros híbridos na literatura contemporânea com predominância do EU
(que nos oferta um texto com narrativas [auto]biográficas com potencialidade de
narrar histórias coletivas) dentro de um espaço biográfico que possibilite narrativas
de grupos excluídos do discurso oficial autoritário na modernidade Sul americana. A
noção de biografema homocultural é uma técnica de leitura e ferramental teórico.
Acreditamos que se trata de uma noção importante também para as salas de aula
brasileiras de ensino de Literatura, para discutirmos diversidade humana e
identidade de gênero como perspectiva de educarmos para a diversidade, laicidade
e tolerância. A discussão dessas temáticas numa sociedade tão intolerante e que
cria barreiras para os homossexuais, principalmente nas primeiras idades, é
questão de ação afirmativa, como a discussão sobre a inclusão da educação para a
diversidade no plano nacional de educação e a PLC 122/06, que dispõe legislação
específica sobre a discriminação por orientação sexual/identidade de gênero. Trata-
se então do biografema como possibilidade de evocar a ideia de autoria e de se
discutir a mesma, a interferência da subjetividade (de um eu coletivo) em um texto,
aspecto escanteado nas produções textuais nas escolas. O Biografema se
caracterizaria como uma técnica de leitura para a quebra de noções
homogeneizadoras de períodos literários atribuídos ao cânone ou o reducionismo
ao se delinear a qual gênero um texto artístico/literário. O conceito de biografema e
a análise do espaço biográfico impedem a generalização de uma obra por
determinada temática. Talvez ao trabalhar na sala de aula com esse dois conceitos,
possibilitássemos o entendimento de obras literárias como abertas a vários sentidos
e interpretações, promovendo a leitura de biografemas presentes na narrativa,
entrevistas, filmes, fotos etc. O biografema prioriza a importância de se dedicar
atenção às várias facetas do autor, são conceitos capazes de suscitar agência de
sujeitos oprimidos no panorama Sul-americano. Poderíamos refletir sobre as várias
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possibilidades de ação e intervenção homossexual, a agência suscitada pelos
autores, tanto em suas vidas, quanto nas suas obras literárias/artísticas. Sobre a
interação dos leitores com a obra de Eribon:
Esses trechos discutem a importância dessa potência biográfica presente nos textos
e contextos contemporâneos para movimentar a agência dos grupos difamados,
com voz negada, que não podem falar por ser o que são, mas são sempre falados
por serem si mesmos. A escrita do livro teórico e intelectual se transforma para o
autor (Eribon) numa necessidade política, de focar-se em uma obra curta e de
cunho político, acessível, com linguagem simples, uma coleta de artigos, resenhas
de obras e análises da homofobia e discurso homofóbico. Aqui é importante pensar
também nas atividades extra acadêmicas ressaltadas pelo autor como sendo
contribuição para as discussões e os rumos que o levaram a novas escritas de suas
já discutidas temáticas:
De hecho, durante los cuatro años em que concebi y escribí reflexions sur
La question gay, mi trabajo estuvo condicionado – ralentizado, pero
también ayudado – por uma serie de intervenciones puntuales em los
âmbitos Del compromiso político y La reflexión intelectual (artículos sobre
temas diversos, pero tabién intervenciones em colóquios.. [...] Sin Duda, mi
libro no existiria si yo no hubiera estado implicado em este esfuerzo – a
menudo colectivo- de formulación de um discurso sobre los diferentes
aspectos de lo que son hoy los gays y lãs lesbianas em La sociedad. (p.
14-15)
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possibilidade de ruptura com as noções de quais devem ser os espaços/instituições
que legitimam a produção do saber, pois o autor nos afirma que, para a reflexão
sobre a recepção de seus livros, de que parte de sua obra deveria dialogar mais
com sujeitos homossexuais que não estão nas universidades, ofertaram a ele
relatos poderosos de como a sua obra transformou as vidas deles, assim
conformando uma ideia de autoria e produção artístico/literária/intelectual/teórica
não apenas influenciada e produzida em âmbitos acadêmicos, mas também movida
pelos anseios do povo comum e dos movimentos LGBT. Podemos ver como um dos
objetivos de sua obra:
Aqui o autor ressalta a importância de nós falarmos por nós mesmos, o que para os
componentes GPBIO e para essa pesquisa é fundamental, “nós por nós”, discutir
teoria crítica sobre determinados assuntos, por exemplo, sobre o poder, com Michel
Foucault (2010), mas também trabalhar com autores Sul americanos e gueis. Além
disso, é tarefa do grupo a produção de teoria própria, visibilizando a pesquisa do
seu coordenador, o professor orientador André Luís Mitidieri, dando visibilidade a
temas e obras artístico/literárias que dialoguem com a homocultura. Prezamos pelo
fomento de publicações em eventos, seminários, simpósios, palestras e debates,
além da participação na extensão universitária no projeto revisões do cânone, ao
qual nosso coordenador é vinculado. Temos que nos apropriar do discurso, não
apenas para rechaçar a cultura dominante, pois segundo Eribon:
Devemos nos situar não fora, pois não há exterioridade social, nem
exterioridade política ou cultural, mas sim ao lado, inventando outras formas de
vida, outras formas de identidade e outros modelos sociais. Ou seja, devemos não
apenas exercer subversão (pois a subversão é uma condição imposta a nós pela
hegemonia) mas produzir novas problemáticas para a agência e subjetivação dos
sujeitos oprimidos, subalternizados. Eribon (2000) nos oferta com sua reflexão
sobre os textos teóricos e obras literárias menos acessíveis à grande massa que
foram importantes para a construção de sua visão de mundo e de autor:
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Discutir um espaço chamado literatura gay/homoerótica não é simplesmente
discutir uma plataforma sexual para a literatura, SILVA (2009) nos aconselha
“Trabalho com a hipótese de que a produção literária brasileira de temática gay, por
atender a critérios já postulados por aspectos teóricos e/ou críticos da literatura, não
se configura mera plataforma sexual” (p. 96). Para os sujeitos heterossexuais, suas
expressões representativas são tão comuns e já consolidadas na literatura, que não
precisam de um nome de destaque, ou de uma discussão prévia sobre sua
fundamentação, pois elas são simplesmente o status quo, estão inseridas na lógica
da normalidade, no natural:
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históricos, onde uma maior afirmação da existência sexual e da normalidade dessa
existência foi duramente reprimida, tanto pelo cânone quanto pelo estado,
proibindo, interditando e silenciando sujeitos comprometidos com uma estética de
valorização da homoafetividade, é bom recordarmos que:
Sabemos que parte das obras e sujeitos canonizados são erigidas por
questões pessoais, político-partidárias, de gênero, cosmogonia religiosa e outros
fatores que interferem diretamente no incentivo à produção, à recepção e,
consequentemente, na determinação de um público-mercado apto a consumir tal
produto/obra (SILVA, 2009, p. 98). É necessário reforçar:
[...]é possível, do ponto de vista estético e político, não inventar (no sentido
do forjamento, do “forçar a barra”), mas levantar, trazer à tona, descrever,
analisar, historiar, classificar, criticar ou mesmo apenas exibir a literatura
brasileira de temática gay (SILVA, 2009, p. 104).
Essa visão poderá contrapor-se à propagada pelo senso comum e pela mídia
hegemônica, evitando situações como a descrita abaixo no texto Edições críticas:
as leituras (inter)ditadas na literatura de Garcia (2014), sobre a crítica presente em
publicações de grande tiragem nacional sobre a escrita de João Gilberto Noll:
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coloquem a atração pelo mesmo sexo e as formas de vida de sujeitos
homossexuais como normais e inerentes à humanidade
RESULTADOS PROPOSTOS/ALCANÇADOS:
Sinopse
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Através da mobilização dos conceitos citados e da viabilidade para os
protagonistas desses discursos inferiorizados, miramos nossa estratégia teórica
para o texto do brasileiro e pernambucano guei, Fernando Melo, à época da escrita
do texto (1974), com 23 anos. Um texto marcado por personagens marginais:
Renato; um jovem da zona rural carioca que sonha em fazer dinheiro na capital,
Mary; uma prostituta com aspirações de boa moça cristã. Finalmente, o Pedro; uma
bicha economicamente estabelecida (enfermeiro), que se imagina a Diva Greta
Garbo e sonha com uma vida conjugal com um homem heterossexual. Assim se
constrói a dinâmica da narrativa, com três personagens consideradas escória da
sociedade, postas à margem pelo discurso oficial, ansiosas no sonho de um dia
chegar ao foco central do discurso burguês: o casamento, a família, o
estabelecimento econômico e a ordem, ainda que não aceitas pelo status quo.
Podemos captar, no texto em análise, a habilidade e interesse do Jovem Fernando
Melo, por captar aqueles sem direito a voz nas narrativas oficiais, suas vidas
problemáticas, marcadas por espaços sociais com pouco foco representativo: o
interior, espaços geográficos underground: prostíbulos, boates da Cinelândia. Peça
demarcada pelo imaginário guei, de alguém, que se não conhecia
entrelaçadamente o objeto de tua narrativa ficcional, realizou profunda e engajada
pesquisa dos espaços geográficos/sociais marcados pela experiência/vivência dos
sujeitos marginais envolvidos, putas, bichas e heterossexuais não hegemônicos,
demarcando biografemas homoculturais desses âmbitos e da influência das divas
para a subjetividade e identidade dos homossexuais.
Renato: Sebastiana ta querendo o menino aqui, NE? Mas não vai ter, Sebastiana
Pançuda, não vai ter. O menino gosta mesmo é de mulher. Mulher loura, de
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preferência. É, é... É, você é preta, Sebastiana Pançuda.
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embriagar o Renato e consumi-lo como produto, uma Mary que quer sair da sarjeta
para morar em casa de “família”, que rouba dinheiro e documentos. Ela dissimula a
hipocrisia do machismo na sociedade, da visão androcentrista de organização
social e núcleo familiar. Enraizados na moral cristã, todos os personagens possuem
sonhos e ideias de ascenção social pautados nos ideais burgueses. A linguagem
dos personagens e muitas vezes chula, vingativa, violenta:
PEDRO – A Daniela me paga. Juro que me paga. Vou fazer picadinho de bicha e
levar pros gatos do passeio.
RENATO – Não, Por que Você conhece alguém em campos Eu moro na Rua da..
PEDRO (cheio) – E não conheço ninguém em campos! Graças!
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RENATO (riso moleque) – Ah, me falaram disso, claro.
PEDRO (Furioso) – Número um, eu não sou isso. Sou gente, Número dois, qual foi
a graça?
PEDRO – O que você pensa, que uma bicha velha e pançuda não é gente?
CONCLUSÕES:
DIDIER, Eribon. Prólogo. Em torno a Reflexiones sur la question gay. In: ERIBON,
Didier. Reflexiones sobre la cuestión gay. Barcelona: Belaterra, 2000. p. 9-20; p. 71-
100.
DOSSE, François. “A vidobra”. In: DOSSE, François. O desafio biográfico: escrever
uma vida. São Paulo: EDUSP, 2009. p. 80-95.
FOUCAULT, Michel. Ética, sexualidade e política. Organização e seleção de textos
por Manoel Barros da Motta. Trad. Elisa Monteiro, Inês Autran Dourado Barbosa. 2.
ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. p. 119-125; p. 126-143; p. 144-162.
SILVA, Antonio de Pádua Dias da. Uma visada sobre a construção discursiva em
torno da literatura de temática homoerótica. In: ARANHA, Simone Dália de Gusmão;
PEREIRA, Tania Maria Augusto; ALMEIDA, Maria de Lourdes Leandro. Gêneros e
linguagens: diálogos abertos. João Pessoa: EduFPB, 2009. p. 95-107.
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PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS CIENTÍFICOS, TECNOLÓGICOS OU DE
INOVAÇÃO
68ª Reunião anual da SBPC – Porto Seguro.
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PARECER FINAL DO ORIENTADOR
( )APROVADO SEM MODIFICAÇÕES ( )APROVADO COM MODIFICAÇÕES
( )REPROVADO
LOCAL: DATA:
Declaro estar ciente e concordar, para
todos os efeitos legais, com as
informações contidas neste relatório.
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Assinatura do(a) Orientador(a) Assinatura do(a) Bolsista
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Assinatura da Coordenação PIBIC
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