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Ellen G. White e os 144.

000
Por Matheus Rosa

Introdução

Entre as muitas descrições, quer de caráter literal quer de caráter simbólico,


encontradas no livro de Apocalipse, os 144.000 são objeto de intenso e acalorado
debate, dentro e fora da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A IASD sustenta a ideia de
que esse número é de natureza simbólica e que representa a totalidade de “cristãos”
(lê-se adventistas do sétimo dia) vivos por ocasião do segundo advento de Cristo.
Porém, como veremos no desenrolar do artigo, tal concepção não reflete a posição
original defendida por Ellen G. White e os demais pioneiros adventistas. É verdade
que a própria Sra. White declarou que não possuía “luz” a respeito do assunto [1] e
desencorajou toda e qualquer especulação no que diz respeito a quem comporia o
grupo dos 144.000 selados.[2] Mas nos seus escritos encontramos evidências da sua
crença e posição no tocante aos 144.000.

No presente artigo, procuraremos restringir os nossos comentários ao mínimo


possível e dar espaço para que as declarações da suposta autora inspirada falem por
si e contrastar os últimos com o atual entendimento da Igreja Adventista do Sétimo
Dia a respeito do assunto. O artigo está dividido em tópicos: (1) Os 144.000 e o
tempo do selamento; (2) 144:000: Número literal ou simbólico; (3) a identidade dos
144.000; (4) o testemunho dos pioneiros adventistas; (5) o testemunho de William
White; (6) o problema; e (7) avaliação bíblica.

Os 144.000 e o Tempo do Selamento

Apocalipse 7.1-8 é interpretado por muitos estudiosos da Bíblia como uma


reposta ao questionamento levantado no capítulo anterior: “Porque é vindo o grande
Dia da sua ira; e quem poderá subsistir?” (Ap 6.17). A resposta dada nos primeiros
versículos do capítulo 7 de Apocalipse é a seguinte: Os 144.000. A soltura dos
quatro ventos cardeais está condicionada ao assinalamento dos servos de Deus em
número de 144.000 provenientes de todas as tribos israelitas (At 7.1-4). O sinal
parece garantir a preservação e sobrevivência em meio à manifestação da ira de
Deus durante a grande tribulação (cf. Ez 9.1-8).

Ellen White descreve o selamento mencionado em Apocalipse 7.1-4 não como


um acontecimento futuro, mas como já em andamento em seus dias:
“Satanás está agora usando cada artifício neste tempo de selamento a fim de desviar a mente do
povo de Deus da verdade presente e levá-los a vacilar” (Primeiros Escritos, p. 43; grifo
acrescentado).

“Eu vi que Satanás estava operando dessa maneira a fim de desviar, enganar e afastar de Deus o Seu
povo, precisamente agora, neste tempo de selamento. Vi alguns que não estavam firmes ao lado da
verdade presente. Seus joelhos estavam trementes e seus pés escorregavam, porque não estavam
firmemente plantados na verdade, e a proteção do poderoso Deus não podia ser estendida sobre eles
enquanto estavam assim trementes” (Primeiros Escritos, p. 44; grifo acrescentado).

“O tempo do selamento é muito curto, e logo passará. Agora, enquanto os quatro anjos estão
contendo os ventos, é o tempo de fazer firme a nossa vocação e eleição” (Primeiros Escritos, p. 58).

Em outra citação, a Sra. White é muito enfática:

“Outra ‘supressão’ reza assim: ‘Bem, louvado seja o Senhor, irmãos e irmãs, esta é uma reunião
extraordinária para os que têm o selo do Deus vivo.’ “Não há nisto nada que não sustentemos ainda.
Referências a nossas obras publicadas mostrarão nossa crença de que os vivos justos receberão o
selo de Deus antes do fim da graça; também que eles fruirão honras especiais no reino de Deus”
(Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 66; grifo acrescentado).

Notem que a palavra “têm” está no tempo verbal presente, o que evidencia
que, no pensamento de Ellen White, o selamento não estava reservado para um
tempo futuro e distante, mas que já era uma realidade em seus dias.

Em contrapartida, há uma citação de Ellen White que transmite a ideia de que


o tempo do selamento se encontraria num futuro próximo e que é empregada pelos
que advogam que o selamento é uma obra a ser realizada no fim, quando sair o
Decreto Dominical e Cristo deixar o santuário celestial, e não a partir de 1844, para
reforçarem a sua tese: “A obra do Senhor tem sido impedida, o tempo de selamento
atrasado” (Carta 106, 1897). A citação não significa necessariamente que o
selamento não estava em curso em 1897, visto que começou em 1844 no
entendimento da Sra. White e dos demais pioneiros adventistas. Mas, se o último
grupo citado estiver certo quanto à citação supracitada, isso apenas evidencia mais
uma vez que Ellen White é uma profetisa contraditória em suas alegações.

Mesmo que os adventistas atuais não vejam a questão do selamento como um


ponto fundamental da sua fé, a Sra. White destacava a importância da sua
divulgação:

“Numa reunião efetuada em Dorchester, Massachusetts, em novembro de 1848, foi-me concedida


uma visão da proclamação da mensagem do assinalamento, e do dever que incumbia aos irmãos de
publicarem a luz que resplandecia em nosso caminho” (Vida e Ensinos, p. 128).

144.000: Número Literal ou Simbólico?


O número 144.000, que é mencionado em Apocalipse 7 e 14, é simbólico? Os
adventistas do sétimo dia atualmente responderiam que “sim”. Em um artigo em seu
site, Leandro Quadros descarta a ideia de os 144.000 de Apocalipse sejam um
número literal: “[...] temos que aceitar que este [144.000] é um número simbólico
para um Israel espiritual”. Para Quadros, “uma profecia não pode ser interpretada
como sendo parcialmente literal e parcialmente simbólica”.[3] Porém, não
encontramos nos escritos de Ellen White uma voz consonante com a declaração de
Quadros.

Ellen White é enfática em declarar que, por ocasião da volta de Cristo, haveria
literalmente 144.000 santos:

“Logo ouvimos a voz de Deus, semelhante a muitas águas, a qual nos anunciou o dia e a hora da
vinda de Jesus. Os santos vivos, em número de 144.000, reconheceram e entenderam a voz, ao passo
que os ímpios julgaram fosse um trovão ou terremoto. Ao declarar Deus a hora, verteu sobre nós o
Espírito Santo, e nosso rosto brilhou com o esplendor da glória de Deus, como aconteceu com
Moisés, na descida do monte Sinai” (Primeiros Escritos, p. 15; grifo acrescentado).

A expressão “em número de 144.000” indica claramente que a Sra. White cria
que o número 144.000 era de caráter literal, e não simbólico. Um detalhe
interessante sobre essa citação é que ela integra o relato da primeira suposta visão de
Ellen White, ocorrida em dezembro de 1844.

Na obra O Grande Conflito, Ellen White faz menção do grupo especial dos
144.000:

“[Os 144.000] passaram pelo tempo de angústia tal como nunca houve desde que houve nação;
suportaram a aflição do tempo da angústia de Jacó; permaneceram sem intercessor durante o
derramamento final dos juízos de Deus. Mas foram livres, pois ‘lavaram os seus vestidos, e os
branquearam no sangue do Cordeiro.’ ‘Na sua boca não se achou engano; porque são
irrepreensíveis’ diante de Deus. ‘Por isso estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite
no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra.’ Apocalipse
7:15. Viram a Terra devastada pela fome e pestilência, o Sol com poder para abrasar os homens com
grandes calores, e eles próprios suportaram o sofrimento, a fome e a sede. Mas ‘nunca mais terão
fome, nunca mais terão sede; nem Sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que
está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus
limpará de seus olhos toda a lágrima.’ Apocalipse 7:16, 17” (O Grande Conflito, p. 648).

Ao longo da obra, Ellen White gasta tinta da sua pena para decodificar o
sentido de vários símbolos apocalípticos, entre eles, as duas testemunhas de
Apocalipse 11 e as duas bestas de Apocalipse 13. Mas ao se referir aos 144.000,
torna-se evidente que ela não considerava o número como um elemento simbólico.
Outras citações reforçam a ideia da natureza literal do número 144.000 no
pensamento e na crença de Ellen White:

 Os 144.000 estarão selados e perfeitamente unidos: “Os 144.000 estavam


todos selados e perfeitamente unidos. Em sua testa estava escrito: ‘Deus,
Nova Jerusalém’, e tinham uma estrela gloriosa que continha o novo nome de
Jesus” (Vida e Ensinos, p. 58).

 As coroas de cada um dos 144.000 não são iguais: “Todos nós entramos na
nuvem, e estivemos sete dias ascendendo para o mar de vidro, aonde Jesus
trouxe as coroas, e com Sua própria destra as colocou sobre nossa cabeça.
Deu-nos harpas de ouro e palmas de vitória. Ali, sobre o mar de vidro, os
144.000 ficaram em quadrado perfeito. Alguns deles tinham coroas muito
brilhantes; outros, não tanto. Algumas coroas pareciam repletas de estrelas,
ao passo que outras tinham poucas. Todos estavam perfeitamente satisfeitos
com sua coroa” (Primeiros Escritos, p. 16).

 Somente os 144.000 entrarão no templo no Monte Sião celestial: “E


quando estávamos para entrar no santo templo, Jesus levantou Sua bela voz e
disse: ‘Somente os 144.000 entram neste lugar’, e nós exclamamos:
‘Aleluia’!” (Ibid., p. 18).

 No céu, há mesas de pedra em que estão gravados os nomes dos 144.000:


“Esse templo era apoiado por sete colunas, todas de ouro transparente,
engastadas de pérolas belíssimas. As maravilhosas coisas que ali vi, não as
posso descrever. Oh! se me fosse dado falar a língua de Canaã, poderia então
contar um pouco das glórias do mundo melhor. Vi lá mesas de pedra, em que
estavam gravados com letras de ouro os nomes dos 144.000” (Ibid., p. 19).

A Identidade dos 144.000

Segundo o que a Sra. White diz na página 648 do livro O Grande Conflito,
transcrito anteriormente, os 144.000 possuem as seguintes características
escatológicas:

 Passarão pelo tempo de angústia descrito em Daniel 12.1;


 Suportarão o tempo de angústia de Jacó mencionado em Jeremias 30.7;
 Permanecerão sem intercessor durante o derramamento das sete taças da ira
de Deus de Apocalipse 16;

Como já vimos no decorrer do artigo, em Primeiros Escritos, página 15, Ellen


White deixa claro que 144.000 santos estarão vivos por ocasião da segunda vinda de
Cristo. Porém, há uma citação que, além de aparentemente contradizer o que ela
mesma escreveu em O Grande Conflito, página 648, lança mais luz na questão:

“Vi que ela [Sra. Hastings] estava selada, e à voz de Deus ressurgiria e se ergueria sobre a terra, e
estaria com os 144.000. Vi que não precisamos chorar sobre ela; ela repousaria durante o tempo da
angústia, e tudo que pudéssemos lamentar seria nossa perda de ficar privados de sua companhia. Vi
que seu falecimento redundaria em bem” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 263; grifo acrescentado).

A citação acima indica que os que morreram na mensagem adventista desde


1844, identificados com a terceira mensagem angélica de Apocalipse 14,
ressuscitariam e integrariam o grupo dos 144.000 selados. São esses que, segundo a
Sra. White, se levantariam do pó da terra na chamada “ressurreição especial” ou
“ressurreição parcial”, que dar-se-á no início do derramamento da sétima praga de
Apocalipse 16.17-21, pouco antes da volta de Cristo:

“É à meia-noite que Deus manifesta o Seu poder para o livramento de Seu povo. O Sol aparece
resplandecendo em sua força. Sinais e maravilhas se seguem em rápida sucessão. Os ímpios
contemplam a cena com terror e espanto, enquanto os justos vêem com solene alegria os sinais de
seu livramento. Tudo na Natureza parece desviado de seu curso. As correntes de água deixam de
fluir. Nuvens negras e pesadas sobem e chocam-se umas nas outras. Em meio dos céus agitados,
acha-se um espaço claro de glória indescritível, donde vem a voz de Deus como o som de muitas
águas, dizendo: ‘Está feito.’ Apocalipse 16:17. “Essa voz abala os céus e a Terra. Há um grande
terremoto ‘como nunca tinha havido desde que há homens sobre a Terra; tal foi este tão grande
terremoto.’ Apocalipse 16:18. O firmamento parece abrir-se e fechar-se. A glória do trono de Deus
dir-se-ia atravessar a atmosfera. As montanhas agitam-se como a cana ao vento, e anfractuosas
rochas são espalhadas por todos os lados. Há um estrondo como de uma tempestade a sobrevir. O
mar é açoitado com fúria. Ouve-se o sibilar do furacão, semelhante à voz de demônios na missão de
destruir. A Terra inteira se levanta, dilatando-se como as ondas do mar. Sua superfície está a
quebrar-se. Seu próprio fundamento parece ceder. Cadeias de montanhas estão a revolver-se.
Desaparecem ilhas habitadas. Os portos marítimos que, pela iniquidade, se tornaram como Sodoma,
são tragados pelas águas enfurecidas. A grande Babilônia veio em lembrança perante Deus, ‘para lhe
dar o cálice do vinho da indignação da Sua ira.’ Apocalipse 16:19, 21. Grandes pedras de saraiva,
cada uma “do peso de um talento”, estão a fazer sua obra de destruição. As mais orgulhosas cidades
da Terra são derribadas. Os suntuosos palácios em que os grandes homens do mundo dissiparam
suas riquezas com a glorificação própria, desmoronam-se diante de seus olhos. As paredes das
prisões fendem-se, e o povo de Deus, que estivera retido em cativeiro por causa de sua fé, é
libertado. “Abrem-se sepulturas, e ‘muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a
vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.’ Daniel 12:2. Todos os que morreram na fé
da mensagem do terceiro anjo saem do túmulo glorificados para ouvirem o concerto de paz,
estabelecido por Deus com os que guardaram a Sua lei. ‘Os mesmos que O traspassaram’
(Apocalipse 1:7), os que zombaram e escarneceram da agonia de Cristo, e os mais acérrimos
inimigos de Sua verdade e povo, ressuscitam para contemplá-Lo em Sua glória, e ver a honra
conferida aos fiéis e obedientes” (O Grande Conflito, pp. 636,637; grifo acrescentado).

Vejamos um texto similar e paralelo a este do livro O Grande Conflito:


“Foi à meia-noite que Deus preferiu livrar o Seu povo. Estando os ímpios a fazer zombarias em
redor deles, subitamente apareceu o Sol, resplandecendo em sua força e a Lua ficou imóvel. Os
ímpios olhavam para esta cena com espanto, enquanto os santos viam, com solene alegria, os
indícios de seu livramento. Sinais e maravilhas seguiam-se em rápida sucessão. Tudo parecia
desviado de seu curso natural. Os rios deixavam de correr. Nuvens negras e pesadas subiam e batiam
umas nas outras. Havia, porém, um lugar claro, de uma glória fixa, donde veio a voz de Deus,
semelhante a muitas águas, abalando os céus e a Terra. Houve um grande terremoto. As sepulturas
se abriram e os que haviam morrido na fé da mensagem do terceiro anjo, guardando o sábado,
saíram de seus leitos de pó, glorificados, para ouvir o concerto de paz que Deus deveria fazer com
os que tinham guardado a Sua lei. “O céu abria-se e fechava-se, e estava em comoção. As montanhas
tremiam como uma vara ao vento, e lançavam por todos os lados pedras irregulares. O mar fervia
como uma panela e lançava pedras sobre a terra. E, falando Deus o dia e a hora da vinda de Jesus,
e declarando o concerto eterno com o Seu povo, proferia uma sentença e então silenciava, enquanto
as palavras estavam a repercutir pela Terra. O Israel de Deus permanecia com os olhos fixos para
cima, ouvindo as palavras enquanto elas vinham da boca de Jeová e ressoavam pela Terra como
estrondos do mais forte trovão. Era terrivelmente solene. No fim de cada sentença, os santos
aclamavam: ‘Glória! Aleluia!’ Seus rostos iluminavam-se com a glória de Deus, e resplandeciam de
glória como fazia o de Moisés quando desceu do Sinai. Os ímpios não podiam olhar para eles por
causa da glória. E, quando a interminável bênção foi pronunciada sobre os que haviam honrado a
Deus santificando o Seu sábado, houve uma grande aclamação de vitória sobre a besta e sua
imagem” (Primeiros Escritos, pp. 285,286; grifo acrescentado).

Uma análise das citações transcritas acimas torna claro que antes da
ressurreição especial ou parcial o número de 144.000 não estará completo ainda.
Somente após a ressurreição especial que a profecia de Ellen White registrada em
Primeiros Escritos, página 15, que diz que os santos vivos em número de 144.000
ouvirão e reconhecerão a voz de Deus anunciando o dia e a hora da volta de Jesus,
cumprir-se-á, pois o número terá sido completado. Fica evidente que a ressurreição
especial tem íntima relação com a questão dos 144.000.

A própria Sra. White, que faleceu em 1915, deu a entender que faria parte dos
144.000 em um de seus escritos:

“E quando estávamos para entrar no santo templo, Jesus levantou Sua bela voz e disse: ‘Somente os
144.000 entram neste lugar’, e nós exclamamos: ‘Aleluia’! “Esse templo era apoiado por sete
colunas, todas de ouro transparente, engastadas de pérolas belíssimas. As maravilhosas coisas que ali
vi, não as posso descrever. Oh! se me fosse dado falar a língua de Canaã, poderia então contar um
pouco das glórias do mundo melhor. Vi lá mesas de pedra, em que estavam gravados com letras de
ouro os nomes dos 144.000. Depois de contemplar a beleza do templo, saímos, e Jesus nos deixou e
foi à cidade” (Primeiros Escritos, p. 19; grifo acrescentado).

Notem que, na suposta visão, quando Jesus disse que somente os 144.000 é
que podiam entrar no tempo, Ellen White entrou. Logo, conclui-se que ela compõe
também os 144.000.

“Talvez eu viva até a vinda do Senhor; se assim não for, porém, confio que seja dito a meu respeito:
‘Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que
descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam.’ Apoc. 14:13” (Mensagens Escolhidas, vol.
1, pp. 55,56; grifo acrescentado).

Como pode ser visto, a esperança de Ellen White é que fosse dito a respeito
dela o que está escrito em Apocalipse 14.13. O que significa isso?

“Nas visões que lhe foram concedidas dos acontecimentos futuros, o profeta João contemplou essa
cena. Este culto dos demônios lhe foi revelado e pareceu-lhe que todo o mundo estava à borda da
perdição. Mas enquanto olhava com grande interesse, notou a assembleia dos que guardam os
mandamentos de Deus. Tinham na testa o selo do Deus vivo, e disse: ‘Aqui está a paciência dos
santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. E ouvi uma voz do Céu,
que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o
Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam” (Testemunhos Seletos,
vol. 2, p. 370; grifo acrescentado).

Notem que àqueles a quem as palavras de Apocalipse 14.13 são dirigidas têm
na testa o selo de Deus (o sábado, na concepção adventista) e, por isso, fazem parte
do número de selados. No ano de 1899, na Carta 207, a Sra. White escreveu a
respeito do texto referido:

“Em nossa Terra vivem homens que passaram dos noventa anos de idade. Os resultados naturais
da velhice se fazem notar em sua debilidade. Mas eles creem em Deus, e o Senhor os ama. O selo de
Deus está neles, e se encontrarão entre aqueles a cujo respeito o Senhor disse: ‘Bem-aventurados
os mortos que morrem no Senhor.’” (The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7, p. 982;
grifo acrescentado).

No texto acima, Ellen White destaca que os que morreram fiéis à mensagem
adventista haviam recebido o selo de Deus e, por isso, faziam parte dos 144.000.

Porém, o privilegio de integrar os 144.000 selados estava condicionado à sua


fidelidade:

“O Senhor me proporcionou uma vista de outros mundos [...] fui levada a um mundo que tinha sete
luas. Vi ali o bom e velho Enoque, que tinha sido trasladado. Em sua destra tinha uma palma
resplendente, e em cada folha estava escrito: ‘Vitória.’ Pendia-lhe da cabeça uma grinalda branca,
deslumbrante, com folhas, e no meio de cada folha estava escrito: ‘Pureza’, e em redor da grinalda
havia pedras de várias cores que resplandeciam mais do que as estrelas, e lançavam um reflexo sobre
as letras, aumentando-lhes o volume. Na parte posterior da cabeça havia um arco em que rematava a
grinalda, e nele estava escrito: ‘Santidade.’ Sobre a grinalda havia uma linda coroa que brilhava mais
do que o Sol. Perguntei-lhe se este era o lugar para onde fora transportado da Terra. Ele disse: ‘Não
é; minha morada é na cidade, e eu vim visitar este lugar.’ Ele percorria o lugar como se realmente
estivesse em sua casa. Pedi ao meu anjo assistente que me deixasse ficar ali. Não podia suportar o
pensamento de voltar a este mundo tenebroso. Disse então o anjo: ‘Deves voltar e, se fores fiel,
juntamente com os 144.000 terás o privilégio de visitar todos os mundos e ver a obra das mãos de
Deus.’” (Primeiros Escritos, pp. 39,40; grifo acrescentado).
Caso todas essas citações sobre esse último aspecto do posicionamento de
Ellen White a respeito dos 144.000 não tenha surtido efeito em convencer o leitor, o
testemunho de John Norton Loughborough (1832-1924), que foi um pioneiro
adventista do sétimo dia, dissipa toda e qualquer dúvida:

“Se ainda há dúvida quanto a serem os ressuscitados guardadores do sábado numerados com os
cento e quarenta e quatro mil, considere-se as seguintes palavras da irmã White em 1909. Na
Conferência Geral de 1909, o ancião Irwin tinha um estenógrafo acompanhando-o numa visita à
irmã White. Ele desejava fazer a ela algumas perguntas e obter cópia exata das palavras das
perguntas, e as palavras exatas das respostas. Entre outras perguntas, havia esta: ‘Os que morrem na
mensagem estarão entre os cento e quarenta e quatro mil?’ Em resposta, a irmã White disse: ‘Oh,
sim, os que morreram na fé estarão entre os cento e quarenta e quatro mil. É-me claro este
assunto.’ Estas foram exatamente as palavras da pergunta e da resposta, conforme o irmão Irwin me
permitiu copiar do relatório de seu estenógrafo.” (Questions on the Sealing Message, p. 31; grifo
acrescentado).

O Testemunho dos Pioneiros Adventistas

Em 1905, Ellen White escreveu: “Quando o homem vier mover um alfinete do


nosso fundamento o qual Deus estabeleceu pelo seu Santo Espírito, deixe os homens
de idade que foram os pioneiros no nosso trabalho falar abertamente, e os que
estiverem mortos falem também, reimprimindo os seus artigos das nossas revistas.
Juntemos os raios da divina luz que Deus tem dado, e como Ele guiou seu povo,
passo a passo no caminho da verdade. Esta verdade permanecerá pelo teste do tempo
e da experiência” (Manuscript Releases, vol. 1, p. 55). Por isso, transcreveremos
declarações de pioneiros adventistas do sétimo dia sobre o número 144.000 a seguir:

• James (Tiago) White: “Os que morrem sob a mensagem do terceiro anjo são uma
parte dos 144.000; não há 144.000 em acréscimo a estes, mas estes ajudam a
formar aquele número. São ressuscitados para a vida mortal pouco antes, de Cristo
vir, e, como os dos 144.000 que não passaram pela sepultura, são trasladados para
a imortalidade quando Cristo aparecer” (Review and Herald, 23 de setembro de
1880).

• Joseph Bates: “Agora todos os crentes adventistas que possuem a mensagem


do advento conforme são dadas em Ap. 14:6-13 e nela tomam parte, amarão e
guardarão este concerto com Deus, especialmente Seu Santo Sábado, neste
concerto; esta é uma parte dos 144.000 a ser selada agora” (A Seal of the
Living God, p. 61).

• Stephen Haskell: “Após o desapontamento de 1844, o povo de Deus viu a luz


sobre o assunto do santuário no céu. Então eles viram a exigência obrigatória do
quarto mandamento, bem como dos outros nove mandamentos do decálogo. A
reforma do sábado começou naquele tempo; por volta de 1844 começou a
ser reconhecida como o cumprimento de Apocalipse 7:1-4” (Bible Handbook, p.
88).

• H. R. Johnson: “Entre os que aclamam a vitória sobre a besta e sobre a sua


imagem estavam aqueles que tinham saído das suas sepulturas na ressurreição
especial, e foram vistos no mar de vidro. Eles eram ‘os santos vivos em número
de 144.000’ — [Early Writings], página 11.)” (Review and Herald, 27 de julho de
1905).

• Uriah Smith: “Os que morrem depois de se ter identificado com a mensagem
do terceiro anjo são evidentemente contados como uma parte dos 144.000”
(Daniel and the Revelation, p. 634, nota de rodapé, edição de 1905).

A Revista Adventista de novembro de 1973 definiu a posição dos pioneiros


adventistas sobre os 144.000:

“É a chamada posição antiga, baseada nos escritos de Loughborough e Urias Smith, segundo a qual
o Selamento começou em 1844, com santos que aceitaram a Mensagem do Terceiro Anjo.
Ressuscitarão antes da volta de Cristo e, juntos com os santos vivos, formarão o grupo privilegiado,
integrarão os 144.000 Quer dizer que estes, que morreram sob a Terceira Mensagem, estarão vivos e
se juntarão aos que já estavam vivos, e todos formam o grupo”.[4]

O Testemunho de William White

William Clarence White (1854-1937) foi um dos filhos de Ellen White e


trabalhou como assistente editorial e gerente de suas publicações. Em 1888, ele
serviu seis meses como presidente em exercício da Conferência Geral, enquanto
esperavam o presidente eleito O. A. Olsen chegar da Europa e assumir suas funções.
Após a morte de sua mãe, Willie, como também era conhecido, estabeleceu o que é
conhecido hoje como o escritório White Estate. Devido à sua proximidade com a sua
mãe enquanto era viva, William C. White era frequentemente consultado sobre
assuntos relativos aos escritos da Sra. White. Por esse motivo, o seu testemunho
acerca do pensamento de Ellen White a respeito dos 144.000 é de peso histórico,
cuja relevância não pode ser negligenciada.

Em uma de suas cartas, William White define a posição de sua mãe sobre os
144.000:

“Vamos à pergunta: Ensinava a irmã White que aqueles que morreram na mensagem desde 1844 e
de quem é dito: ‘Bem aventurado os mortos que desde agora morrem no Senhor’, serão membro
dos 144.000? “Posso assegura-te, irmão, que essa era a crença e o ensino de E. G. White. Muitas
vezes eu a ouvi fazer declarações com esse efeito e tenho em meu poder uma carta ao irmão
Hastings, que é mencionado à página de Life Sketches, na qual ela diz claramente que a esposa
dele, que havia falecido recentemente, seria membro dos 144.000. “Numa carta recebida dum irmão
em Reno, Nevada, faz-se referência a uma declaração do livro do pastor Loughborough
encontrada na página 29, em que é relatado que a irmã White disse: ‘Os que morreram na fé
estarão entre os 144.000. É-me claro este assunto’. “E eu, meu irmão, testifico que isso está em
harmonia com os seus escritos, suas explicações e seus ensinos através de todos os anos de
seu ministério” (Carta de W. C. White, datada de 18 de abril de 1929).

Como podemos ver, William White não tinha dúvidas quanto ao que a sua
mãe cria e pensava sobre os 144.0000 e, para embasar a sua asserção, citou uma
declaração escrita e outra verbal da Sra. White.

O Problema

Ao olhar para a crença dos pioneiros e para a atual posição oficial da IASD no
que diz respeito aos 144.000, as diferenças entre uma e outra são visíveis. Hoje, não
se sustenta mais dentro da IASD que o número 144.000 é literal e que é composto
pelos que morreram fielmente na fé adventista e que estarão vivos durante os
eventos finais na escatologia adventista do sétimo dia.

Na revista Sinais dos Tempos, julho de 1998, página 29, o pastor adventista
Alberto Timm afirma:

“Uma vez que as doze tribos de Apocalipse 7 devem ser interpretadas simbolicamente, surge a
indagação: podemos entender o seu número como literal? Embora alguns comentaristas o façam,
existe uma forte tendência de ver nessa multiplicação de 12 vezes 12.000 (= 144.000) apenas um
símbolo da totalidade de componentes da última geração dos salvos que estarão vivos por ocasião
da volta de Cristo” (grifo acrescentado).[5]

O que teria, então, motivado tamanha mudança na visão doutrinária da IASD


sobre os 144.000? Nos primórdios da Igreja Adventista do Sétimo Dia, a
denominação contava com um número consideravelmente pequeno de membros a
ponto de Uriah Smith exclamar num periódico da denominação:

“O número, 144.000, deve significar um número definido, composto de exatamente tantos


indivíduos. Não pode representar um número maior, indefinido, pois no verso 9 é apresentado outro
grupo que é indefinido em suas proporções, e daí se falar dele como ‘uma grande multidão, que
ninguém podia contar’. Se os 144.000 se destinassem a representar tal número indefinido, João teria
dito no verso 4: ‘E foi assinalada uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as tribos
dos filhos de Israel.’ Em vez disso, porém, ele diz 144.000, doze mil de cada tribo, um número que
facilmente pode ser contado. A razão dessa distinção é evidente se tomarmos a inumerável multidão
do verso 9 como toda a hoste dos remidos, que terão parte na primeira ressurreição, e os 144.000
como os cristãos que estarão vivos na Terra quando Cristo aparecer. E que os 144.000 são os que
assim estarão vivos e encontrarão a Cristo em Sua segunda vinda, se evidencia pela profecia em que
são a seguir mencionados, isto é, Apocalipse 14:1-5. Aqui são representados como saindo triunfantes
do último conflito religioso deste mundo (Ap 13:12-18), e como sendo ‘remidos da Terra’, e
‘remidos dentre os homens’. Apocalipse 14:3 e 4. Haverá então só 144.000 salvos dentre os vivos
quando o Senhor aparecer? Não pode ser esse número de tal modo representativo que inclua muitos
outros? Parece ser uma suposição bem plausível que o caso seja este último, a saber que os 144.000
só incluam os adultos masculinos unidos ao grande movimento do advento, ao passo que as
mulheres e crianças unidas ao mesmo movimento seriam tantos excedentes a serem salvos dentre os
vivos naquele dia. A plausibilidade desta ideia consiste no fato de que os hebreus foram assim
numerados quando libertos do cativeiro egípcio, o que era figura do livramento do remanescente do
verdadeiro Israel do Egito deste mundo na vinda do Senhor. Três milhões ao todo saíram do Egito,
contudo foram numerados apenas os que eram aptos para a guerra, de vinte anos para cima,
totalizando 603.550. Números 1:2, 3 e 46. Isso seria cerca de um para cinco de toda a multidão,
como calcula o Dr. Clarke, a propósito de Êxodo 12:37, onde o número de combatentes é dado como
somente cerca de 600.000. Se a numeração de Apocalipse 7:4 se firmasse na mesma base (do que,
sem dúvida, não há prova positiva), daria o número a ser trasladado provavelmente mais de
setecentos mil em vez de apenas cento e quarenta e quatro mil. Seria de fato mui prazenteiro pensar
que tantos estivessem preparados para o aparecimento do Senhor. Mas, olhando o estado do mundo,
e observando o rápido declínio religioso destes dias, a maravilha é onde tantos como 144.000
poderão ser encontrados que estejam prontos para quando o Senhor aparecer” (Review and
Herald, 10 de agosto de 1897; grifo acrescentado).

Na época de Uriah Smith, o número 144.000 era impossivelmente grande,


praticamente inatingível. Atualmente, o número 144.000 é impossivelmente
pequeno para uma igreja em plena fase de crescimento. Para se ter uma ideia, em 31
de dezembro de 2016, a Igreja Adventista do Sétimo Dia ultrapassou a faixa dos 20
milhões de membros em todo o mundo, crescimento esse que tem como fator
principal o envolvimento dos fiéis num intenso programa de proselitismo chamado
Envolvimento Total de Membros (ETM).[6]

A onda de crescimento na IASD, que começou tímida e lentamente nos seus


primórdios e foi se acelerando com o passar do tempo, principalmente após a morte
dos pioneiros, o que fez com que a tese defendida por eles se mostrasse inadequada
diante de uma nova realidade, inimaginável na época dos que iniciaram o
movimento adventista do sétimo dia. É muito provável que os fatores que
conduziram à essa mudança doutrinária foram mais psicológicas do que teológicas.
Como explicar a uma denominação com milhões de membros que somente 144.000
serão salvos, incluindo nesse total fiéis que morreram crendo na mensagem
adventista desde 1844?

A Revista Adventista de novembro de 1973 define a nova posição:

“A outra posição — que tem mais defensores — sustenta que o Selamento é uma obra a ser realizada
no fim, quando sair o decreto dominical e Cristo deixar o Santuário Celestial, e não a partir de 1844.
Dizem ser absurda outra ressurreição para que os que morreram sob a Mensagem do Terceiro Anjo
possam sair das sepulturas e integrar o grupo dos 144.000”.[7]

Esta última posição tem o apoio majoritário dos membros da IASD porque
não limita as vagas da salvação desde o início da proclamação da mensagem
adventista em 1844 a 144.000. Assim, nessa questão, os fiéis da IASD se
distanciaram dos pioneiros e adotaram uma nova interpretação do que os escritos de
Ellen White dizem sobre os 144.000 selados.

Convencemo-nos de que a explicação de Ubaldo Torres de Araújo sobre a


mudança é satisfatória e contundente:

“Na questão doutrinária dos 144.000, o tempo lutou contra a Igreja, que cresceu bastante em número
de membros. De que maneira? Como o número dos que, até agora, se identificaram com o
movimento de 1844 e morreram nele já atinge uma cifra consideravelmente alta, sem falar nos que
se agruparão ao movimento até a volta de Cristo, é evidente que 144.000 salvos, durante todo o
período, representariam um resultado não muito auspicioso. Assim sendo, quando, hoje, alguém
mais exigente pergunta quem são os 144.000, diz-se, sem muitas explicações, que são os que Cristo
encontrará vivos e fiéis por ocasião de Sua volta. Justo assim me ensinaram, no passado. Já não se
diz mais que nos 144.000 estão incluídos os que morreram ao som da tríplice mensagem”.[8]

A atual situação da IASD, com os seus mais de 20 milhões de membros (com


base em dados de 2017), contudo, não se encaixa perfeitamente com as visões de
Ellen White sobre a IASD no futuro. Em um de seus escritos, Ellen White prediz
que os que estarão envolvidos na proclamação final da mensagem adventista não
chegam à casa dos milhões, mas apenas à cifra dos milhares:

“Servos de Deus, com o rosto iluminado e a resplandecer de santa consagração, apressar-se-ão de


um lugar para outro para proclamar a mensagem do Céu. Por milhares de vozes em toda a extensão
da Terra, será dada a advertência. Operar-se-ão prodígios, os doentes serão curados, e sinais e
maravilhas seguirão aos crentes. Satanás também opera com prodígios de mentira, fazendo mesmo
descer fogo do céu, à vista dos homens (Apoc. 13:13). Assim os habitantes da Terra serão levados a
decidir-se” (O Grande Conflito, p. 612; grifo acrescentado).

Segundo a profetisa adventista, a pregação da mensagem adventista sob os


efeitos da “chuva serôdia” – evento na escatologia adventista do sétimo dia que
corresponde ao derramamento final do Espírito de Deus sobre o povo adventista
com o fim de prepará-lo para a volta de Jesus e acelerar a conclusão da obra
adventista – resultará em milhares de conversões:

“Milhares se converterão à verdade num dia, os quais na hora undécima verão e reconhecerão a
verdade e as atuações do Espírito de Deus” (Eventos Finais, p. 212; grifo acrescentado).

Após ou simultaneamente com a “chuva serôdia”, há um evento escatológico


denominado de “sacudidura”, que ocorreria como um resultado da “chuva serôdia”.
Sob suposta inspiração divina, Ellen White descreveu a “sacudidura” nos seguintes
termos:

“Minha atenção foi encaminhada para a providência de Deus entre Seu povo, e foi-me mostrado que
toda prova feita pelo processo de refinamento e purificação sobre os professos cristãos demonstra
que alguns são escória. Nem sempre aparece o fino ouro. Em toda crise religiosa alguns caem sob a
tentação. O peneiramento de Deus sacode fora multidões, como folhas secas. A prosperidade
multiplica a massa dos que professam. A adversidade os leva para fora da Igreja. Como uma classe,
não tem o espírito firme em Deus. Saem de nós, porque não são de nós; pois quando surge tribulação
ou perseguição por causa da palavra, muitos se escandalizam” (Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 479;
grifo acrescentado).

“Logo o povo de Deus será provado por ardentes provas, e a grande proporção dos que agora
parecem genuínos e verdadeiros, demonstrar-se-á metal vil. Em vez de se fortalecerem e
confirmarem com a oposição, as ameaças e abusos, tomarão covardemente o lado dos oponentes
[...] Quando a religião de Cristo for mais desprezada, quando Sua lei mais desprezada for, então deve
nosso zelo ser mais ardoroso e nosso ânimo e firmeza mais inabaláveis. Permanecer em defesa da
verdade e justiça quando a maioria nos abandona, ferir as batalhas do Senhor quando são poucos os
campeões - essa será nossa prova” (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 31; grifo acrescentado).

Esse período, de acordo com as descrições proféticas feitas por Ellen White,
será tão terrível para a IASD que ela chega a declarar que a instituição adventista
pareceria próxima ao seu fim:

“A igreja talvez pareça como prestes a cair, mas não cairá. Ela permanece, ao passo que os
pecadores de Sião serão lançados fora no joeiramento - a palha separada do trigo precioso. É esse
um transe terrível, não obstante importa que tenha lugar” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 380;
grifo acrescentado).

Mesmo com um êxodo maciço de membros retratado por Ellen White em seus
escritos, sendo que a maioria dos membros sairia da IASD nessa época, segundo ela,
outros ocupariam os lugares deixados pelos da classe do “joio”:

“Os lugares vagos nas fileiras serão preenchidos pelos que foram representados por Cristo como
tendo chegado na hora undécima. Há muitos com quem o Espírito de Deus está lutando. O tempo
dos juízos destruidores da parte de Deus é o tempo de misericórdia para aqueles que [agora] não têm
oportunidade de aprender o que é a verdade. O Senhor olhará para eles com ternura. Seu coração
compassivo se enternece, e a mão do Senhor ainda está estendida para salvar, enquanto a porta é
fechada para os que não querem entrar. Será admitido um grande número de pessoas que nestes
últimos dias ouvirem a verdade pela primeira vez” (Eventos Finais, p. 182; grifo acrescentado).

Esses “que foram representados por Cristo como tendo chegado na hora
undécima” são muito provavelmente os “milhares”, mencionados em Eventos
Finais, página 212, que se converterão sob a pregação poderosa da mensagem
adventista causada pelo impacto da “chuva serôdia”.

É perfeitamente aceitável crer, com base nos escritos de Ellen White, que
esses “milhares” comporão os 144.000, junto com os que não saíram da IASD
durante a “sacudidura” e os que morreram fielmente na mensagem adventista desde
1844. Levando em conta a posição de Ellen White e dos pioneiros sobre os 144.000
selados, conclui-se que ou os adventistas atuais se afastaram da “luz menor” (uma
das designações conferidas aos escritos de Ellen G. White) ou Ellen White não foi
inspirada por Deus não ter previsto que a denominação que ajudara a fundar atingiria
no futuro a cifra dos milhões de membros.

Avaliação Bíblica

Embora a Igreja seja chamada na Bíblia de “Israel de Deus” (Gl 6.16), isso
apenas se refere ao fato de que os cristãos compartilham da mesma fé que Abraão e,
por isso, são seus descendentes espirituais (Gl 3.29). Em parte alguma do NT os
cristãos são tratados como filhos de Israel nem divididos em tribos, como acontece
em Apocalipse 7.4-8.

Num comentário acerca de Apocalipse 7.4-8, o teólogo pentecostal Stanley


Horton enfatiza que tais distinções tribais inexistem na Igreja de Cristo:

“Na Igreja, todas as divisões do Velho Pacto perdem o valor (G1 3.28). O Novo Testamento
reconhece os judeus como divididos em doze tribos (Lc 22.30; At 26.7; Tg 1.1). Ana, a profetiza,
era de Aser, uma das tribos do Norte (Lc 2.36). Atos 26.7 fala dos judeus como ‘as nossas doze
tribos’. Estes 144.000 são, com toda a certeza, judeus crentes selados à execução do serviço de
Deus”.[9]

De acordo com a interpretação dispensacionalista, a Igreja desaparece do


cenário apocalíptico retratada em Apocalipse 4—19, que descreve em grande parte
os eventos da tribulação final, pois já terá sido arrebatada antes desse período (1Ts
1.10; 4.15-17; Ap 3.10). Os 144.000 selados serão judeus literais, provenientes de
todas as tribos israelitas, que se converterão a Cristo após o arrebatamento da Igreja
(Ap 7.1-8) e que serão protegidos por Deus para exercerem a sua obra de
testemunho (cf. Ap 14.1-5). O seu selamento apenas indica que terão as suas vidas
poupadas durante a grande tribulação (cf. Ap 11.7; 20.4). Não possui nenhuma
ligação com a observância do sábado, que foi abolido (Cl 2.16,17; cf. Gl 4.9-11),
nem representa a totalidade de salvos desde alguma época específica.

Conclusão

O distanciamento por parte dos adventistas do sétimo dia na atualidade da posição


de Ellen G. White e dos pioneiros adventistas em certos assuntos, incluindo o dos
144.000, é evidente e revela uma tendência gradual de desprezo do pretenso dom
profético de Ellen White nos arraiais adventistas.

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Notas
[1] “Não tenho luz sobre o assunto [quem constituem precisamente os 144.000]. ...
Tenha a bondade de dizer a meus irmãos que nada me foi apresentado acerca das
circunstâncias de que escrevem, e só lhes posso expor aquilo que me foi
apresentado. — Citado numa carta de C. C. Crisler a E. E. Andross, 8 de Dezembro
de 1914. (No Arquivo de Documentos do Patrimônio White, Números 164.)”
(Mensagens Escolhidas, vol. 3, p. 51).

[2] “Cristo diz que haverá na igreja pessoas que apresentarão fábulas e suposições,
quando Deus deu verdades grandes, inspiradoras e de molde a enobrecer, as quais
devem ser sempre conservadas no tesouro da memória. Quando os homens apanham
esta e aquela teoria, quando são curiosos de saber alguma coisa que não lhes é
necessário saber, Deus não os está conduzindo. Não é plano dEle que Seu povo
apresente alguma coisa que eles supõem, a qual não é ensinada na Palavra de Deus.
Não é Sua vontade que eles se metam em discussões acerca de questões que os não
ajudam espiritualmente, tais como: Que pessoas vão constituir os cento e quarenta e
quatro mil? Isto, aqueles que forem os eleitos de Deus hão de sem dúvida, saber em
breve” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 174).

[3] QUADROS, Leandro. Os 144 mil de Apocalipse representam o número total dos
salvos? Disponível em: <http://leandroquadros.com.br/os-144-mil-de-apocalipse-
seria-o-numero-total-dos-salvos/>. Acesso em: 19 de mar. 2018.

[4] Consultoria Doutrinária. Revista Adventista, Santo André, n.º 11, p. 31, 1973.

[5] TIMM, Alberto. Quem são os 144 mil de Apocalipse 14? Disponível em:
<http://www.centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-e-respostas-biblicas/quem-sao-
os-144-mil-de-apocalipse-14/>. Acesso em: 11 de abr. 2018.

[6] Igreja Adventista chega a 20 milhões de membros no mundo. Disponível em:


<https://noticias.adventistas.org/pt/noticia/institucional/igreja-adventista-chega-20-
milhoes-de-membros-em-todo-o-mundo/>. Acesso em: 11 de mai. 2018.

[7] Revista Adventista, p. 31.

[8] ARAUJO, Ubaldo Torres. O Adventismo. 1. ed. 1981, p. 101.

[9] HORTON, Stanley M. Apocalipse – As coisas que brevemente devem acontecer.


Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p. 253.

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