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UFRJ – Faculdade de Letras


Literatura Brasileira I
Seleção de poemas de Gregório de Matos
Professora Anélia Pietrani

1) Poesia religiosa

A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,


Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,


A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada


Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,


Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

DESENGANOS DA VIDA HUMANA METAFORICAMENTE

É a vaidade, Fábio, nesta vida,


Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.

É planta, que de abril favorecida,


Por mares de soberba desatada,
Florida galeota empavesada,
Sulca ufana, navega destemida.

É nau enfim, que em breve ligeireza,


Com presunção de Fênix generosa
Galhardias apresta, alentos preza:

Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa


De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?
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2) Poesia amorosa

I- Lírica

ROMPE O POETA COM A PRIMEIRA IMPACIÊNCIA QUERENDO DECLARAR-SE


E TEMENDO PERDER POR OUSADO

Anjo no nome, Angélica na cara,


Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?

Quem vira uma tal flor, que a não cortara,


De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?

Se pois como Anjo sois dos meus altares,


Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que por bela, e por galharda,


Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

AOS AFETOS E LÁGRIMAS DERRAMADOS NA AUSÊNCIA DA DAMA A QUEM


QUERIA BEM

Ardor em firme coração nascido;


Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:

Tu, que em um peito abrasas escondido;


Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal em chamas derretido.

Se és fogo como passas brandamente,


Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!

Pois para temperar a tirania,


Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.
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II- Erótico-irônica

UMA CRIOULINHA CHAMADA De que se faz a triaga1.


CIPRIANA A tua cara é veneno,
Crioula da minha vida Que me traz enfeitiçada
Supupema da minha alma, esta alma, que por ti morre,
Bonita como umas flores, por ti morre, e nunca acaba.
E alegre como umas páscoas. Não acaba, porque é justo,
Não sei que feitiço é este, Que passe as amargas ânsias
Que tens nessa linda cara, De te ver zombar de mim,
A gracinha, com que ris, Que a ser morto não zombaras.
A esperteza, com que falas, Tão infeliz sou contigo,
O Garbo, com que te moves, Que a fim de que te agradara,
O donaire, com que andas, Fora o Bagre, e fora o Negro,
O asseio, com que te vestes, Que tinha as pernas inchadas.
E o pico, com que amanhas. Claro está, que não sou negro,
Tem-me tão enfeitiçado, Que a sê-lo tu me buscaras;
Que a bom partido tomara Nunca meu Pai me fizera
Curar-me por tuas mãos, Branco de cagucho, e cara.
Sendo tu a que me matas. Mas não deixas de querer-me,
Mas não te espantes o remédio, Porque sou branca de casta,
Porque na víbora se acha Que se me tens cativado,
O veneno na cabeça Sou teu negro, e teu canalha.

3) Poesia de Circunstância (Satírica)

À CIDADE DA BAHIA

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante


Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante


Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente


Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus, que de repente


Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

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Triaga: teriaga, poção contra mordeduras venenosas.
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CONTEMPLANDO NAS COUSAS DO MUNDO DESDE O SEU RETIRO, LHE ATIRA


COM O SEU APAGE, COMO QUEM A NADO ESCAPOU DA TORMENTA.

Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:


Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com sua língua ao nobre o vil decepa:
O Velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:


Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por Tulipa;


Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa,


E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.

Soneto de Bernardo Vieyra Ravasco secret. do Estado do Brasil a seu Irman o padre Antonio
Vieyra consoantes forçados

Se queres ver do Mundo um novo Mapa


Oitenta anos, atenta desta cepa
por onde em ramos a cobiça trepa
e emaranhada faz do tronco lapa.

Morde com dentes, que não tem ca papa


com a língua fere, com a mão decepa
soldando oposto, livre de carepa
que de tarde, e manhã raivoso rapa.

Os olhos de água, as faces de tulipa


e cada um dos pés de pau garlopa
a boca grande, o corpo de chalupa

A bofé muito, e muito pouca tripa


e a minha Musa, porque a tudo topa
É Apa, Epa, Ipa, Opa, Upa (apud Hansen, 2004, p. 276).

Soneto do Padre Antonio Vieyra. Em resposta ao antecedente de seu irman pelos mesmos
consoantes

Sobe Bernardo da Eternidade ao Mapa


deixa do velho Adão a mortal cepa
pelo Lenho da Cruz ao Empíreo trepa
começando em Belém na pobre Lapa.

Mais que Rei pode ser, e mais que Papa


quem de seu coração vícios decepa
que a grenha de Sansão, tudo é carepa
e a gadanha da morte tudo rapa!

A flor da vida, é cor de tulipa


também dos secos anos é garlopa
que corta, como ao mar, corta a chalupa
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Não há mister que o ferro corte a tripa


Se na parte vital já tudo topa
Em Apa, epa, ipa, opa, upa.

4) Poesia de Circunstância (Encomiástica)


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Soneto labiríntico atribuído a Pedro Pablo Tomar, incluído em Cantos fúnebres de los cisnes.
Madrid: 1685, del acervo de La Biblioteca Nacional:

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