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Pró-Reitoria de Graduação

Curso de Psicologia
Trabalho de Conclusão de Curso

Tra

T PSICANÁLISE FREUDIANA
O DISCURSO DO DESEJO NA
Trabalho de Conclusão de Curso

Autor: Adriano Pereira Beserra


Orientador: Prof. Dr. Jorge Hamilton Sampaio

Brasília - DF
2012
ADRIANO PEREIRA BESERRA

O DISCURSO DO DESEJO NA PSICANÁLISE FREUDIANA

Trabalho apresentado ao Curso de


Graduação em Psicologia da
Universidade Católica de Brasília, como
requisito para obtenção do Título de
Psicólogo.

Orientador: Prof. Dr. Jorge Hamilton


Sampaio

Brasília
2012
Monografia de autoria de Adriano Pereira Beserra, intitulada ―O DISCURSO
DO DESEJO NA PSICANÁLISE FREUDIANA‖, apresentada como requisito parcial
para obtenção do Título de Psicólogo pela Universidade Católica de Brasília, em ____
de __________ de 2012, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

_______________________________________________
Prof. Dr. Jorge Hamilton Sampaio
Orientador

_______________________________________________
Prof. Msc. Enrique Araújo Bessoni

Brasília
2012
O DISCURSO DO DESEJO NA PSICANÁLISE FREUDIANA

ADRIANO PEREIRA BESERRA

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo reunir, a partir das produções bibliográficas de
Sigmund Freud na área da Psicanálise, um conjunto de citações que estão relacionados à
dinâmica do desejo, desejo este que nos é comum seja nos discursos do dia a dia, nas
relações sociais e afetivas e nas discussões científicas. Foi desenvolvido de modo a
contemplar três dimensões em que o desejo se apresenta: a dimensão social, tratando da
questão do desejo em relação às leis e as proibições que regulam o convívio em
sociedade; a dimensão do aparelho psíquico, apresentando a origem e a dinâmica do
desejo nessa dimensão mais específica; e a dimensão do sujeito versando sobre a
influência do desejo em nossos dias, na maneira como procuramos nos constituir
enquanto sujeitos de nosso próprio desejo.

Palavras-chaves: Psicanálise; desejo; prazer; princípio da realidade; princípio do prazer;


aparelho psíquico;
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 5

1 O DESEJO E AS PROIBIÇÕES ............................................................................... 6

1.2 O DESEJO E O APARELHO PSÍQUICO ........................................................... 14

1.3 O DESEJO E O SUJEITO .................................................................................... 23

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 33

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 35
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INTRODUÇÃO

O discurso sobre o desejo sempre esteve presente na história da humanidade, na


comunidade científica e também no senso comum. Não é de se estranhar que a todo
instante estamos desejando algo, que seja algo para comer, para beber; desejando uns
dias de férias, uma pessoa para ser nosso companheiro (a), desejando o dia em que
alcançaremos a felicidade plena e viveremos uma vida repleta de satisfações.
Muitos teóricos, filósofos e buscadores do conhecimento dedicaram suas vidas
em busca de saber o que nos motiva a continuar vivendo, o que faz com que sempre
estejamos desejando algo e assim quase nunca satisfeitos, e que quando pensamos que
os nossos desejos estão satisfeitos nos deparamos com algum desconforto, algum
desprazer e mais uma vez nos mobilizamos para satisfazer esta ou aquela necessidade.
Sigmund Freud, criador e pai da Psicanálise, revolucionou a história da ciência
com suas descobertas a respeito do comportamento humano, os seus modos de
funcionamento, a maneira como o sujeito se relaciona e como essas relações são
influenciadas pelo sujeito e este as influencia, sobretudo, sobre o funcionamento do
psiquismo na pessoa humana.
É por esta vertente, a da Psicanálise, que este trabalho tem o intuito de reunir as
considerações que Freud apresenta, na primeira tópica de sua teoria, a respeito do
desejo. A natureza do desejo no psiquismo humano, onde e como este se origina, qual a
influência deste nas relações sociais e afetivas, na relação do sujeito com sua própria
história de vida. De que forma este pode ser compreendido, para contribuir com o
engrandecimento daqueles que se questionam a respeito do assunto e procuram, de
alguma forma, se situar e se orientar, pelo conhecimento desse assunto tão comum aos
nossos ouvidos e em nosso dia a dia, e assim, pela compreensão, viver uma vida mais
equilibrada, estabilizada e de uma forma mais satisfeita e prazerosa.
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1 O DESEJO E AS PROIBIÇÕES

Uma das dimensões da realidade com que o ser humano entra em contato é a
dimensão social. Esta dimensão tem sua importância na constituição do sujeito e na
constituição do aparelho psíquico por diversos motivos. Um deles é o meio com o qual
o sujeito se depara com os objetos essenciais à sua sobrevivência e outro é o fato de que
o sujeito pode se deparar com elementos ameaçadores, podendo ser então fonte de dor,
sofrimento e desprazer. Inserido no contexto social - também conhecido como
civilização, sociedade - está subordinado às leis que regem este sistema, sendo estas,
também, um dos principais responsáveis pela sensação de desprazer no homem. Para
melhor ressaltar essa questão pode-se denominar este como um dos motivos do mal-
estar na civilização, título dado por Freud a uma de suas obras.

Em Mal-estar na civilização (1927-31, p. 48), Freud diz que ―nosso


sofrimento provém de três fontes: o poder superior da natureza, a fragilidade de nossos
próprios corpos e a inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos
mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade‖. Este ajustamento dos
relacionamentos mútuos implica diversas barreiras para a realização dos desejos,
implicações estas que possibilitam o homem se relacionar, viver de forma pacífica e se
proteger da natureza. No entanto, essa barreira à realização dos desejos, imposta pela
civilização, deve dizer algo a respeito desse desejo. De onde surgem esses desejos que
devem ser barrados para o bom funcionamento e manutenção da civilização e quais
consequências a civilização teria se esses desejos fossem realizados.

Freud (1927, p. 04), em O Futuro de uma Ilusão, diz que a civilização


tem de ser defendida contra o indivíduo, tem de se proteger contra os impulsos hostis
dos homens, pois estes, em sua natureza estão inclinados para a agressão, como afirma
Freud:

o próprio indivíduo que sonha fica inteiramente despudorado e destituído de


qualquer sentimento ou julgamento moral; além disso, vê todos os demais,
inclusive aqueles por quem nutre o mais profundo respeito, entregues a atos
com os quais ficaria horrorizado em associá-los quando acordado, até mesmo
em seus pensamento. (FREUD, 1900, p. 101, apud VOLKET, 1875, 23)

Estar protegido contra esses impulsos garante à civilização humana o


ajustamento das relações dos homens uns com os outros. E os meios pelo qual a
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civilização pode ser defendida desses impulsos são por meio da coerção, proibição e
privação, e Freud (1912-1913, p. 82) já afirmava que ―onde existe uma proibição tem de
haver um desejo subjacente‖. E continua:

A lei apenas proíbe os homens de fazer aquilo a que seus instintos os


inclinam; o que a própria natureza proíbe e pune, seria supérfluo para a lei
proibir e punir. Por conseguinte, podemos sempre com segurança pressupor
que os crimes proibidos pela lei são crimes que muitos homens têm uma
propensão natural a cometer. Se não existisse tal propensão, não haveriam
tais crimes e se esses crimes não fossem cometidos, que necessidade haveria
de proíbi-los? (FREUD, 1912-1913, p. 129)

Estas leis, portanto, são uma das causas de nosso sofrimento eterno, pois são
uma das barreiras que nos impede de satisfazermos alguns de nossos desejos e obtermos
sensações de prazer, o que coloca o homem em uma situação conflituosa. Se a
civilização, segundo Freud (1927-31,p. 8-9), tem por objetivo proteger os homens
contra a natureza e ajustar os relacionamentos mútuos, esta também é responsável por
parte das desgraças na vida do homem, e muitas fontes de sofrimentos são oriundas
desta civilização. Isto por que:

a principal força motivadora no sentido do desenvolvimento cultural do


homem foi a exigência externa real, que retirou dele a satisfação fácil de suas
necessidades naturais e o expos a perigos imensos. Essa frustração externa o
impeliu a uma luta contra a realidade, a qual findou parcialmente uma
adaptação a ela e, em parte, no controle sobre ela; contudo também o impeliu
a trabalhar e viver em comum com os de sua espécie , e isso já envolvia uma
renúncia de certo número de impulsos instituais impossíveis de ser
socialmente satisfeitos. (FREUD, 1923, p. 231-232)

Quais desejos instintuais, portanto, seriam esses que prejudicariam a sociedade e


seriam tão ameaçadores à civilização se fossem satisfeitos? Freud busca respostas nos
estudos da antropologia e das civilizações mais primitivas, ditas selvagens. Mas, antes
de falar destas civilizações, é possível que, por meio de uma análise da natureza, no
reino animal que é anterior ao homem, possa-se fazer algumas inferências.

Se observarmos o reino animal, a lei que prevalece é a da sobrevivência, e isso


quer dizer que o mais forte tem alguma vantagem, tem os melhores alimentos, o maior
número de fêmeas e habita os melhores lugares. Deste modo, se o ser humano agisse de
determinada forma, por meio da força, dispondo de capacidades como o pensamento,
atenção, raciocínio e a linguagem que são de grande importância para regular o que
pode ser realizado enquanto desejo (GARCÍA-ROZA, 2004, p. 58), provavelmente a
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humanidade viveria em guerra, e o homem, mesmo sendo o topo da cadeia alimentar,


utilizaria da força para determinar e defender o seu espaço.

A referência acima feita ao ser humano foi enfatizando o seu aspecto animal e
instintual, no sentido de tornar visível esse aspecto que apresenta necessidades
essenciais para a sobrevivência e manutenção da própria espécie. Esta necessidade
animal, instintual, não é a ênfase dessa dissertação, mas por acompanhar a formação de
desejos, merece ser contemplada como veremos a seguir.

A necessidade citada acima surge de um estado de tensão interna, se acalma ou


se satisfaz com o objeto adequado: a fome, com a ingestão de comida; a sede, com a
ingestão de bebida. (ALONSO ET al., 1985) Nesse sentido, compreende-se a
necessidade como algo puramente fisiológico, que anuncia a falta de algo que é
necessário para a manutenção do corpo. Portanto, o ser humano, como qualquer outro
ser vivo, tem necessidades para se manter vivo como a fome, sede, necessidade de
proteção, necessidade de se autopreservar. Quando se trata do assunto desejo, fala-se de
algo que é de ordem psíquica, instância essa que será abordado com mais profundidade
logo mais.

As proibições, portanto, não estão relacionadas ao homem suprir uma


necessidade de ordem biológica como se alimentar, beber. Não há lei que proíba o
homem de satisfazer essas necessidades. E como já foi dito anteriormente, para que algo
seja proibido deve haver um desejo subjacente. O impulso que precede esse desejo tem
um caráter agressivo por ser seu único destino a satisfação e quando não pode ser
satisfeito gera no sujeito a sensação de frustração. Segundo FREUD (1927-31, p. 06),
os desejos instintuais nascem sempre com cada nova criança que, muitas vezes,
procuram reagir a essas frustrações por meio de comportamentos associais,
comportamento esses associados a desejos instintuais como: canibalismo, incesto e
ânsia de matar.

A intensidade dos desejos incestuosos ainda pode ser detectada por detrás da
proibição contra eles e, sob certas condições, o matar ainda é praticado, e, na
verdade, ordenado, por nossa civilização. É possível que ainda tenhamos pela
frente desenvolvimentos culturais em que a satisfação de outros desejos,
inteiramente permissíveis hoje, parecerá tão inaceitável quanto, atualmente, o
canibalismo. (FREUD, 1927-31, p. 06)
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Vejamos como Freud explica as primeiras proibições relacionadas com estes


desejos instintuais, tendo como base a antropologia e os estudos das civilizações
primitivas.

Em ―Totem e Tabu‖ (1912-1913) Freud fala dos tabus que existiam nas
civilizações primitivas e um destes tabus é o incesto, pois a primeira escolha de objeto
que se faz é incestuosa, um desejo do filho à mãe e da mãe ao filho. E essa primeira
escolha se dá, especificamente, devido à condição de dependência do bebê para com a
mãe, como afirma García-Roza ao falar que o ser humano apresenta:

um despreparo para a vida logo ao nascer. Sua fragilidade em face das


ameaças decorrentes do mundo externo o coloca numa total dependência da
pessoa responsável pelos seus cuidados. (GARCÍA-ROZA, 2004, p. 54)

A mãe ou quem exerce a função materna é a pessoa responsável, e que se torna o


primeiro objeto de desejo da criança, porque esta põe em movimento uma ação
específica que é a de fornecer alimento à criança e suprir suas necessidades, aliviando
assim suas tensões. Como a criança não tem condições de diferenciar que, o que supriu
sua necessidade foi o alimento e não a mãe em si, fica gravado em sua lembrança a
imagem do objeto que atendeu a sua necessidade, e nesse caso, estabelecendo uma
ligação com a mãe. Como diz Freud:

A libido segue aí os caminhos das necessidades narcísicas e liga-se aos


objetos que asseguram a satisfação dessas necessidades. Desta maneira, a
mãe, que satisfaz a fome da criança, torna-se seu primeiro objeto amoroso e,
certamente, também sua primeira proteção contra todos os perigos
indefinidos que a ameaçam no mundo externo – sua primeira proteção contra
a ansiedade. (FREUD, 1927, p. 14)

Interessante observar que Freud diz que a primeira proteção da criança contra a
ansiedade é a mãe. O motivo disto é o fato de que a libido da criança tem um destino
certo ao qual garante o prazer e a sensação de satisfação por ter um objeto disponível
para realizar a descarga de suas tensões. Mais para frente, quando a criança é impedida
de realizar essas descargas, os impulsos cheios de desejos são recalcados e a libido é
transformada em ansiedade, gerando então a sensação de desprazer (JUNQUEIRA:
2005).

Com o passar do tempo, essa função de proteção passa a ser exercida pelo pai, o
que o torna uma figura de respeito e admiração para a criança. Esta estabelece, portanto,
um laço emocional com o a figura do pai e assim, por meio da identificação mostra
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interesse pelo pai, gostaria de crescer como ele, ser como ele e tomar seu lugar em tudo.
(FREUD, 1920-22, p. 115).

A criança, no entanto, passa a ter outra percepção em relação ao pai, nota que o
pai se coloca em seu caminho, em relação à mãe, e passa a ter um comportamento hostil
para com o pai, inaugurando assim outro desejo, o desejo de substituí-lo, pois esta
relação ameaça a relação da criança com a mãe. Com isso Freud, em ―Totem e Tabu‖,
traz outro desejo instintual que se apresenta na infância, e fala do assassinato do pai da
horda primeva, na qual os filhos homens, por não aceitarem a condição do pai ter a
posse de todas as mulheres, e isso inclui a mãe, é despertado neles o desejo em acabar
com esse império do pai, assassinando-o.

Freud (1912-1913) se apoia na concepção darwiniana sobre o estado


social dos homens primitivos, para explicar essa horda primeva. Estes homens viviam
originalmente em grupos ou hordas relativamente pequenos, e que o ciúme do macho
mais velho e mais forte – no caso o pai – impedia a promiscuidade sexual. Este homem
primevo tinha a quantidade de esposas que pudesse sustentar e obter, e guardava estas
dos outros homens e podia viver sozinho com elas, citando o exemplo do gorila no reino
animal:

apenas um macho adulto é visto num grupo; quando o macho novo cresce, há
uma disputa pelo domínio, e o mais forte, matando ou expulsando os outros,
estabelece-se como chefe da comunidade. (FREUD, 1912-1913)

Sendo assim, os filhos homens, ao desejarem a mãe por esta ser o seu primeiro
objeto amoroso, percebem, em um determinado momento que há um homem que ali,
naquela horda, tudo domina. Este homem que ganha admiração da criança, pela sua
força e por ter sua proteção, mas ao mesmo tempo é detentor da mãe, a qual a criança
não gostaria de abrir mão, desejando assim o desaparecimento do pai.

Joël Dor (1991) desenvolve uma linguagem mais comum a respeito do mito que
Freud trouxe e diz que esta horda primitiva é formada por um bando de irmãos vivendo
sob uma tirania sexual forçada. E estes, por serem excluídos, acabam se constituindo
numa força suficiente para contestar o despotismo paterno, condenando, portanto, à
morte do tirano, matam-no e o consomem no decorrer de um repasto canibalesco. E,
citando Freud, prossegue:
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Que tenham comido o cadáver do pai, nada tem isso de espantoso, dado que
se trata de canibais primitivos. O ancestral violento era certamente o modelo
invejado e temido de cada um dos membros dessa associação fraterna. Ora,
pelo ato de absorção, realizavam sua identificação com ele, apropriando-se
cada um de uma parte de sua força. (DOR, 1991, p.30, apud FREUD, 1912-
13, 163)

Este trecho também contempla a questão do canibalismo, na qual, os primitivos


tinham a ideia de que absorvendo parte daquele ente, passariam a ter, portanto, as suas
forças. Nessa citação também pode-se observar um dos motivos pelo qual a civilização
se faz importante na união dos homens, pois, essa necessidade sexual em relação à mãe
e a hostilidade em relação ao pai, longe de reunir os homens, os divide. É quando DOR
(1991) ressalta que ao dar sumiço na soberania do pai, o que resta são as mulheres e o
grupo de irmãos, de modo que, teria que ser resolvido entre eles a posse das mulheres e
o lugar que o pai deixou. Para ser como o pai, cada um deles teria que assumir o lugar
do pai e ter todas as mulheres, e, deste modo, geraria a luta geral que acarretaria a ruína
da sociedade.

Para que a sociedade não pudesse chegar a esse ponto e para que os irmãos se
mantivessem vivendo juntos, teriam eles que superar as discórdias e instituir a
interdição do incesto, de modo que todos renunciassem a posse das mulheres cobiçadas.
O que nos leva a entender que esta lei, portanto, foi instituída para a boa convivência e
sobrevivência dos irmãos. (DOR: 1991)

Daí a importância, na constituição da civilização, da existência de regras,


necessárias para regular e ajustar as relações dos homens uns com os outros, de modo
que estes não venham a se destruir (FREUD, 1978). A frustração com que eles se
depararam, por não mais poder satisfazer os seus instintos, levou-os à privação, que é
uma condição produzida pela proibição e a proibição é o regulamento pelo qual se
estabeleceu essa frustração (FREUD, 1927-31).

Esses dois desejos iniciais na infância – o incesto e a morte do pai – dão origem
ao sentimento de culpa, pelo fato de que ao desejarem acabam se esbarrando na
proibição, no interdito, que faz com que estes desejos sejam recalcados. Ou seja,
seguindo a linha de raciocínio explicitada, a proibição primeira nasce da ordem externa,
no social, e, a partir daí, inaugura no sujeito um mecanismo de proibição interna
psíquica que leva o sujeito a não manter em sua consciência a presença desses desejos,
por não serem socialmente aceitos. Estando, portanto, em:
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consonância com o curso do desenvolvimento humano onde a coerção


externa se torne gradativamente internalizada, pois um agente mental
especial, o superego do homem, assume e a inclui entre seus mandamentos.
(FREUD, 1927-33, p. 06)

E assim, o sentimento de culpa resultado de uma fixação psíquica, um conflito


entre o satisfazer e o não satisfazer, faz com que coloque em movimento a realidade
psíquica do sujeito, de modo a gerar no sujeito uma reação moral, reação esta que leva o
sujeito administrar com ele mesmo o desejo incestuoso e o desejo de matar, e
simultaneamente, a proibição que emerge como um alerta. (JUNQUEIRA, 2005)

Nesse sentido, pode-se afirmar que as leis (formas mais desenvolvidas de


tabus) existem para proibir aquilo que um ser humano tende a fazer
naturalmente e que os homens civilizados perceberam ser prejudicial aos
interesses da sociedade, assim como para certos interesses individuais, como,
por exemplo, para a sobrevivência. A consciência moral, que faz com que os
homens obedeçam às leis, é definida por Freud como a percepção interna da
rejeição de que um determinado desejo tenha influência sobre nós. Ideias
como essas permitem que Freud deduza que, por trás do horror da
humanidade pelo incesto, há, na realidade, o desejo de cometê-lo.
(JUNQUEIRA, 2005, p. 35).

Têm-se como produto de todo esse desenvolvimento duas realidades ao qual o


sujeito tem que negociar e administrar consigo mesmo a necessidade de satisfação de
seus impulsos e a proibição da satisfação desse impulso. Essas duas realidades são
reguladas por dois princípios denominados por Freud de Princípio do Prazer, estando
esse a serviço da satisfação plena dos impulsos, ou seja, a obtenção do prazer; e o
Princípio de Realidade, sendo este a realidade externa que impede que esses instintos se
satisfaçam por leis já instituídas.

Na essência das proibições dos desejos têm-se então a influência direta das
figuras materna e paterna, que são figuras de extrema importância no desenvolvimento
do ser humano devido a sua dependência no longo período da infância. É, portanto,
nessa fase do desenvolvimento humano que acontecem duas ligações fundamentais:

a) A relação de amor com a mãe. Que é caracterizada pelo desejo de possuir


o objeto, protótipo, portanto, das eleições futuras de objetos de amor e na
qual a mãe é o modelo anaclítico dessas eleições;

b) A identificação primária, caracterizada pelo desejo de ser como o objeto


e, pela qual, há alterações no ego infantil pelo confronto com o modelo do
pai. (NEVES, 1977, p. 77)
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Essas ligações, segundo Neves (1977), coexistem por muito tempo no


desenvolvimento da criança, mas não se influenciam e não se perturbam mutuamente.
Uma vez que, o esforço psíquico da criança é de administrar os impulsos que buscam
obtenção do prazer, de acordo com a realidade que interdita alguns desses impulsos.

Já vimos que, caso o desejo de matar o pai pudesse ser realizado, os irmãos da
horda e a sociedade viveriam em extrema discórdia pelo fato de ambos quererem
assumir o lugar do pai e quererem dominar tanto quanto o pai, podendo gerar a ruína da
sociedade. Já em relação ao incesto, se este pudesse ser realizado e fosse mantido entre
as famílias, a relação de união entre a família poderia ser permanente, de modo que
estes não teriam capacidades, nem necessidade de lidar com estranhos. Desta forma, é
possível que não houvesse o desenvolvimento da civilização, uma vez que, a
convivência dos membros da família poderia acabar limitada ao núcleo familiar.
(NEVES, 1977, p. 67). Pois, como diz Neves:

o ser humano, no curso de sua evolução, precisa deixar de ser um elemento


isolado para progressivamente se inserir em contextos mais amplos como o
social, passando assim a subordinar-se às leis desse conjunto maior, deste
sistema. Desta forma, o homem, a partir do momento em que descobre essa
possibilidade de, com suas mãos, modificar o meio externo, descobre
também o valor de seu semelhante como companheiro de trabalho, com o
qual é útil viver junto. (NEVES, 1977, p. 68, apud FREUD, 1897)

Por fim, é assim que Freud fundamenta parte de sua compreensão, por meio da
Psicanálise, a respeito das proibições dos desejos. A proibição dos desejos, portanto,
possibilita o estabelecimento da civilização e inaugura a realidade psíquica do sujeito,
bem como a sua consciência ética e moral. Mais para frente veremos a importância da
realidade externa e psíquica na constituição do sujeito enquanto sujeito desejante e a
importância do desejo na constituição do aparelho psíquico e na sua manutenção, que
também estão associados a uma forma de proibição. Sendo assim, as proibições são
fundamentais para a manutenção da sociedade e, como já foi dito, para regular os
relacionamentos, o convívio dos homens entre si e para evolução histórica e cultural da
sociedade.
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1.2 O DESEJO E O APARELHO PSÍQUICO

Freud (1900-01) diz que ―somente um desejo é capaz de colocar o aparelho


psíquico em movimento‖ e que este movimento é regulado pelas sensações de prazer e
desprazer. Como foi abordado anteriormente, para a Psicanálise, as proibições e leis são
instituídas devido à existência de um desejo subjacente, irrealizável pelo fato de que a
realização desses desejos implicaria no bom funcionamento da sociedade – ressalta-se o
desejo incestuoso e o desejo de matar. Desta forma, o sujeito, para administrar este
conflito entre os seus desejos e as proibições, passa a mobilizar alguns recursos
psíquicos, colocando então o aparelho psíquico em movimento. Neste texto serão
abordados os mecanismos e o desempenho do aparelho psíquico na função de equilibrar
uma exigência. Para ser possível o sujeito viver com alguma estabilidade diante das
demandas de seus desejos.

Analisando um de seus sonhos, Freud relata que ―o sonho realizou certos desejos
que se iniciaram nele um dia anterior ao sonho‖ (FREUD, 1900-01, ver p. 153),
constatando que o sonho era, possivelmente, uma maneira propícia para a realização de
desejos não satisfeitos em vida diurna. A partir desta análise iniciou uma série de
investigações a respeito dos sonhos, mas também o porquê que estes estavam
relacionados com a realização de desejos, o que o levou a investigar a natureza deles e
de onde se originariam aqueles que são realizados nos sonhos. .

Nos estudos dos sonhos, antes mesmo de Freud estruturar uma forma de
funcionamento do desejo e um lugar de origem deste em nosso aparelho psíquico, ele
teve a percepção de que o desejo que se realizava no sonho era produto de uma ―força
impulsora‖, a ser suprida por um desejo, ou seja, o desejo está a serviço de algo que o
precede. (FREUD, 1900-01, p. 590). Roudinesco (1998, p. 628) em seu dicionário de
Psicanálise dá o nome a essa força impulsora de pulsão, que remete, por sua etimologia,
a ideia de um impulso – força, pressão -, independentemente de sua orientação e
objetivo, e situa esta pulsão como um motor da atividade psíquica. Segundo Laplace e
Pontalis, pulsão é:

o processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética,


fator de motricidade) que faz tender o organismo para um alvo. Que, segundo
Freud, alvo é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional; é no
objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir o seu alvo. (LAPLACE;
PONTALIS, 1998, p. 506)
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Pode-se inferir que, os desejos – instintuais; incestuosos; de matar; – e os


impulsos – que, se realizados poderiam levar a sociedade à ruína - se originam dessa
força impulsora por seu caráter tensional, cabendo aqui retomar essa questão, uma vez
que se faz necessário especificar sobre que tipo de impulsos - em relação ao desejo -
está sendo falado. Se estes são pulsionais ou instintuais, dado a utilização dos dois
termos nas traduções das obras freudianas, uma vez que ambos tem aspectos
semelhantes, sendo a tensão uma delas.

Segundo García-Roza (2004, p. 116) o instinto – do alemão instinkt – designa


um comportamento hereditariamente fixado, possui um objeto específico. Jorge
aprofunda a explicação:

o mecanismo instintual manifesta-se pelo desencadeamento de alguma


função biológica ou atitude comportamental (etiológica) segundo parâmetros
rígidos prefixados pelas leis da hereditariedade genética e inalteráveis para os
indivíduos de uma mesma espécie. (JORGE, 2004, p. 20)

O que é originário da ordem biológica como necessário para a subsistência e


manutenção da espécie - como se alimentar, beber, dormir – é considerado, portanto,
um instinto. Já a pulsão é, por outro lado, bem diferente do instinto, pois esta é um
impulso que se origina de outra forma. Freud (1914-16, p. 142) diz que pulsão é ―um
conceito situado na fronteira entre o somático e o mental‖ e esta ―é o representante
psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente‖.

Pode-se entender, então, que ambos se originam dentro do organismo, portanto


somáticos. Quando um estímulo, proveniente do biológico, gera uma sensação de
desprazer, este se apresenta na forma de fome, sede, fadiga. Quando um desses
estímulos alcança a mente e gera a mesma sensação, esta se apresenta na forma de um
representante psíquico. Segundo García-Roza a pulsão é um representante de um
estímulo que vem do físico, mas se apresenta por meio de representantes psíquicos:

a pulsão nunca se dá como tal, nem a nível consciente nem a nível


inconsciente; ela só se dá pelos seus representantes: o representante ideativo
(Vorstellungrepräsentant) e o afeto (Affekt). Ambos são os representantes
psíquicos da pulsão (Psychischerepräsentanz). (GARCÍA-ROZA, 2004, p.
116)

Estes esclarecimentos facilitam a compreensão do que já vinha sendo falado a


respeito do desejo e das proibições, bem como a citação feita no início quando diz que o
movimento do aparelho psíquico é regulado pelas sensações de prazer e desprazer. Isso
16

leva a relacionar que a presença ou não de um estímulo está relacionada às sensações de


prazer e desprazer e pode-se pensar ainda mais na frente relacionando estes com a
realização ou não de desejos.

Freud (1900-01, p. 568) diz que ―toda nossa atividade psíquica parte de
estímulos (internos ou externos) e termina em inervações‖, ou seja, a transmissão de
uma determinada energia para o sistema nervoso e deste para um sistema eferente - que
tende a descarga. E diz mais a respeito desses estímulos na atividade psíquica:

os processos psíquicos, em geral, transcorrem da extremidade perceptual para


a motora. [...] o aparelho psíquico deve construir-se como um aparelho
reflexo. Os processos reflexos continuam a ser o modelo de todas as funções
psíquicas. (FREUD, 1900-01, p. 568).

Segundo García-Roza (2004, p. 46), Freud assemelha o funcionamento do


sistema nervoso com os conceitos de termodinâmica, que apresenta uma ideia inicial de
transmissão e transformação de energia. Em analogia com o sistema nervoso esta
transmissão e transformação de energia que regula o aparelho psíquico. Hora em
atividade - quando esta energia ocupa o aparelho -, hora em repouso - quando esta
energia é descarregada. A tendência dos neurônios que formam este aparelho é de estar
sempre no estado de repouso, no entanto, há sempre um investimento1 dessa energia
ocupando estes neurônios.

Quando há um investimento dessa quantidade de energia no aparelho psíquico,


que foi iniciado por um estímulo sensorial, a resposta fisiológica para essa descarga é
baseada no modelo de arco-reflexo, na qual, o neurônio ao ser estimulado, rapidamente,
ativa um movimento reflexo que busca, no movimento motor, uma descarga que pode
ser descrito por meio de uma ―modificação interna‖ ou expressão emocional. (FREUD,
1900-01, p.594)

Segundo Freud (1900-01, p. 594) esses investimentos levam o sujeito a procurar


uma forma de descarga, pois só por meio desta é possível vivenciar a sensação de
prazer, uma vez que o excesso dessa energia é vivenciado como desprazer. Portanto,
esse movimento gerado pela economia tem o intuito de alterar a condição interna do

1
Os neurônios poderiam estar mais ou menos ―carregados‖ de Q. Freud emprega o termo Besetzung para
designar essa ―ocupação‖ do neurônio pela Q, termo esse que foi traduzido por Strachey como ―catexia‖ e
que em português é traduzido por ―investimento‖. (Importante ressaltar os termos empregados devido às
diversas traduções. Neste texto poderá aparecer tanto investimento, catexia e algumas vezes como
economia). (GARCÍA-ROZA, 2004, pag.48)
17

corpo, se dispondo como via de descarga. O alívio de uma tensão, por exemplo, ao ser
gerado por estímulos de ordem endógena, biológica – como fome, sede – só é possível
por meio de uma ação que possibilite a sensação de alívio e consequentemente de
prazer. A função primordial desse sistema é manter afastadas as grandes quantidades de
energia, por meio da descarga. É uma tendência básica do sistema nervoso, evitar a dor
ou desprazer resultante da economia desta energia. (GARCÍA-ROZA, 2004, p. 51)

Um dos exemplos utilizado por Freud para contextualizar e elucidar melhor essa
dinâmica do aparelho psíquico é o exemplo do recém-nascido. Um recém-nascido,
como todo ser vivo, depende de alimento para sobreviver e assim permanecer vivo. Esta
é uma condição sine qua non para existência e perpetuação da espécie. Esta necessidade
se apresenta quando, após gastar energia vital com processos físicos e psíquicos, se
torna necessário repor estas energias por meio do alimento. Por esta exigência da vida,
um recém-nascido que ainda é dependente, não dispõe de capacidade física para realizar
a ação específica de ir em busca do seu próprio alimento.

Sua fragilidade em face das ameaças decorrentes do mundo externo o coloca


numa total dependência da pessoa responsável pelos seus cuidados
(GARCÍA-ROZA, 2004, p. 54)

Portanto, essa necessidade gera uma tensão que provém do excesso de


estímulos, sinalizando a ausência de alimento, e assim a sensação de desconforto:

as excitações produzidas pelas necessidades internas buscam descarga no


movimento, que pode ser descrito como uma modificação interna ou uma
expressão. O bebê faminto grita ou dá pontapés, inerme. (FREUD, 1900-01,
p. 594)

Mesmo que a criança busque, por meio da via motora, a descarga desses
estímulos, esta não vai se deparar com o alívio, pois o movimento motor não minimiza
o seu estado de tensão, devido a sua dependência e incapacidade física de colocar o seu
aparelho motor em busca do alívio de sua tensão. Sendo assim, a experiência de
satisfação e o alívio da tensão só são vivenciados quando um adulto – muitas vezes a
mãe – que, por meio de uma ação específica, fornece o alimento ao bebê, suprimindo
assim o estado de tensão.

Este momento da infância, para Freud, dá origem a toda explanação a respeito


do aparelho psíquico, da pulsão e do desejo, bem como das proibições. Pois, a partir do
momento em que a criança experencia a vivência de satisfação há uma associação desta
18

experiência com o objeto que proporcionou a satisfação e com o movimento que


permitiu a descarga do estímulo acumulado que causava o desprazer. Freud diz que:

em nosso aparelho psíquico, permanece um traço das percepções que incidem


sobre ele. A este ponto devemos descrever como ―traços mnêmicos‖, e a
função que com ele se relaciona damos o nome de ―memória‖. (FREUD,
1900-01, p. 568).

Ou seja, a percepção que o bebê teve com a chegada do alimento incidiu sobre o
aparelho psíquico gerando então um traço mnêmico, que Roudinesco (2008, p. 147)
denomina, também, como lembrança. E Freud (1900-01, p. 569) diz que a base da
associação – percepção x memória – está nos sistemas mnêmicos.

Em decorrência dessa associação quando estabelecida, ao se repetir o estado de


necessidade – fome -, surgirá imediatamente um impulso psíquico que procurará buscar
– reinvestir - na lembrança o objeto responsável pela satisfação primeira. Isso acontece
porque a associação se dá, segundo Freud (1900-01, p. 569), em decorrência do
estabelecimento das vias de facilitação, fazendo com que a excitação seja mais
prontamente transmitida. Assim, o bebê busca reproduzir a situação de satisfação
original por meio de uma ―regressão‖, conforme explica Freud:

Minha explicação para as alucinações da histeria e da paranoia e para as


visões nos sujeitos mentalmente normais é que elas de fato constituem
regressões – isto é, pensamentos transformados em imagens. (FREUD, 1900-
01, p. 574)

Toda esta movimentação psíquica devido ao resurgimento da necessidade, há um


reinvestimento na lembrança do objeto de satisfação e assim é reevocada a percepção da
vivência de satisfação por meio de um pensamento, de uma imagem. Isso é o que Freud
chama de desejo:

uma moção desta espécie é o que chamamos de desejo; e o reaparecimento da


percepção é a realização do desejo e o caminho mais curto a essa realização é
uma via que conduz diretamente da excitação produzida pelo desejo a uma
catexia completa da percepção. (FREUD, 1900-01, p. 594.)

Ou seja, o desejo é este movimento interno, no aparelho psíquico, que parte de


uma experiência de desprazer –acúmulo de excitações - e aponta diretamente ao prazer
– descarga dessa excitação -, em busca de repetir a vivência de satisfação, de prazer, e o
caminho mais curto para evocar essa experiência está firmada na lembrança da
satisfação primeira, pois é o único registro que a criança tem daquilo que minimizou o
seu estado de tensão – a lembrança.
19

O primeiro desejar parece ter consistido numa catexização alucinatória da


lembrança da satisfação. Essas alucinações, contudo, não podendo ser
mantidas até o esgotamento, mostraram-se insuficientes para promover a
cessação da necessidade, ou, por conseguinte, o prazer ligado à satisfação.
(FREUD, 1900-01, p. 627)

García-Roza complementa, afirmando que o desejo é:

uma ideia (Vorstellung) ou um pensamento; algo completamente distinto,


portanto, da necessidade e da exigência. O desejo se dá ao nível da
representação tendo como correlato os fantasmas (fantasias), o que faz com
que, contrariamente à pulsão (Trieb) — que tem de ser satisfeita —, o desejo
tenha de ser realizado. (GARCÍA-ROZA, 2004, p. 83)

Segundo García-Roza (2004, p. 54), o que é reativado na presença da


necessidade é, apenas, a lembrança do objeto por meio do pensamento alucinatório, no
entanto, essa reativação não acompanha a presença real do objeto. ―O que se produz,
portanto, é uma alucinação‖.

Nada nos impede de presumir que tenha havido um estado primitivo do


aparelho psíquico em que esse caminho era realmente percorrido, isto é, em
que o desejo terminava em alucinação. (FREUD, 1900-01, p. 595)

No entanto, este estado primitivo do aparelho psíquico é ineficiente no seguinte


sentido: reproduzir por meio dos traços mnêmicos a vivência de satisfação não quer
dizer que a necessidade foi satisfeita, pelo fato de que o objeto que se apresenta é
alucinatório e não real; e neste estado primitivo só é possível vivenciar o alívio por meio
da descarga completa do excesso de estímulos, e com a ausência do objeto real, mesmo
que haja movimentos motores estes não aliviariam a sensação de desprazer, tampouco
levariam a criança a realizar a ação específica, uma vez que, nesta fase do
desenvolvimento, é dependente e ainda não dispõe de um sistema mnêmico rico em
experiências que a auxiliem a lidar com essa sensação. Em consequência disso, pela
incapacidade de distinguir o que é real e o que é alucinatório, a criança vê-se frustrada
pela permanência do desprazer e por seu investimento em um objeto de satisfação que
se encontra ausente.

Sendo assim, esse estado que tem por objetivo a descarga completa dos
estímulos, por não encontrar o objeto real de satisfação e ao se deparar com a frustração,
dá espaço a um novo sistema2 de funcionamento que visa à fuga desses estímulos

2
―retrataremos o aparelho psíquico como um instrumento composto cujos componentes daremos o nome
de ―instâncias‖, ou (em prol de uma clareza maior) ―sistemas‖‖. [...] Descreveremos o último dos
sistemas situados na extremidade motora como o ―pré-consciente‖, para indicar que os processos
excitatórios nele ocorridos podem penetrar na consciência sem maiores empecilhos, [...] Este é, ao mesmo
20

devido a essas duas consequências: a permanência do desprazer e a ausência do objeto


real.

Sua função é impedir que o investimento da imagem mnêmica do primeiro


objeto satisfatório se faça, isto é, evitar a alucinação e a consequente
decepção. (GARCÍA-ROZA, 2004, p. 56).

Esse novo sistema é dividido, portanto, em Ics (inconsciente) – que está


associado ao modelo primitivo já citado– e em Pcs (pré-consciente) pelo qual o
movimento motor pode ser controlado e será por meio desse controle que o sujeito
procurará formas de desviar parte da excitação acumulada no sistema Ics para
descarregar em outros objetos – ditos parciais.

Enquanto o Ics dirige sua atividade no sentido de garantir a livre descarga da


excitação acumulada, o Pcs/Cs procura transformar a catexia móvel do
primeiro sistema em catexia quiescente. Isso é possível na medida em que ele
consiga desviar a excitação do Ics, alterando o mundo externo de modo a
possibilitar uma satisfação indireta e parcial, porém tolerada por ele.
(GARCÍA-ROZA, 2004, p. 89)

O sistema Pcs passa a ser uma forma de ―canalizador‖ da força impulsora que
vem do Ics, uma vez que esta não pode ser realizada em sua plenitude. O Pcs, por ter
controle sobre o movimento motor, transforma essa energia em energia quiescente, ou
seja coloca esse energia em uma espécie de repouso e julga por meio do pensamento de
que forma é possível lidar com a sensação do desprazer e minimizá-la.

O segundo sistema, por meio das catexias que dele emanam, consegue inibir
essa descarga e transforma a catexia numa catexia quiescente [...]. Depois que
o segundo sistema conclui a sua atividade exploratória de pensamento, ele
suspende a inibição e o represamento das excitações e lhes permite serem
descarregadas no movimento. (FREUD, 1900-01, p. 626)

O pensamento, portanto, não passa de um substituto do desejo alucinatório


(FREUD, 1900-01, p. 595-6), ou seja, se não posso realizar o meu desejo pela vivência
da lembrança de satisfação primeira, por meio do pensamento, como García-Roza já
havia definido o desejo - como uma ideia ou um pensamento – é a forma como será
administrado o que pode ser realizado ou não, de forma que a pulsão se liga a uma ideia,
que se apresenta como um representante daquela pulsão e mesmo que não se satisfaça

tempo, o sistema que detém a chave do movimento voluntário. Descreveremos o sistema que está por trás
dele como ―o inconsciente‖, pois este não tem acesso à consciência senão através do pré-consciente, ao
passar pelo qual seu processo excitatório é obrigado a submeter-se a modificações.(FREUD, 1900-01,
pag. 567-571)
21

plenamente como a exigência do sistema Ics, mas de forma parcial segundo as


exigências do sistema Pcs. Segundo Freud:

Os desejos inconscientes se aliam a uma moção do consciente e com essa


oportunidade transferem sua grande intensidade, aqui, penso eu que há uma
excitação no Ics que o leva a descarregar por um ato consciente, este que por
sua vez estava com menor intensidade. Estas vias estabelecidas jamais caem
em desuso e sempre que uma excitação inconsciente volta a catexizá-las,
estão prontas a levar o processo excitatório à descarga, portanto, à mesma
moção consciente‖ (FREUD, 1900-01, p. 583)

Desta forma, o primeiro sistema – Ics – é incapaz de introduzir qualquer coisa no


contexto dos pensamentos, pois:

Seja quais forem as moções do Ics, normalmente inibido, a entrarem


saltitantes em cena, não há porque nos preocuparmos, elas permanecem
inofensivas, uma vez que são incapazes de acionar o aparelho motor, o único
pelo qual poderiam modificar o mundo externo. (FREUD 1900-01, p. 596)

Isso só é possível por meio de um processo que Freud (1900-01, p.627) chama
de ―recalcamento‖. Como já foi dito anteriormente o sistema Pcs/Cs tem um objetivo
distinto do primeiro sistema. Pois este último visa a vivência do prazer e o outro visa a
fuga do desprazer, por meio da inibição do movimento psíquico que faria chegar ao
pensamento alucinatório e, portanto, a frustração. O recalcamento:

designa o processo que visa a manter no inconsciente todas as ideias e


representações ligadas às pulsões e cuja realização, produtora de prazer,
afetaria o equilíbrio do funcionamento psicológico do indivíduo,
transformando-se em fonte de desprazer.(ROUDINESCO, 2008, pág. 647)

É graças a este mecanismo que se mantém afastados do consciente as


representações que estão ligadas a uma pulsão, pois a pulsão quer, como já foi dito, ser
satisfeita a todo custo, daí seu caráter agressivo e anárquico. O sistema Ics que não sabe
dizer ―não‖, é incapaz de fazer qualquer coisa a não ser desejar (GARCÍA-ROZA, 2004,
p. 90). Só pelo mecanismo do recalque, mecanismo este que evita a lembrança primeira
como fuga do desprazer, que dá origem ao sistema Pcs/Cs, que por sua função de inibir
os desejos inconscientes é que é possível garantir a minimização do desprazer.

Esse mecanismo que é colocado em funcionamento através da memória é


que Freud aponta como o modelo do recalcamento e que só pode ser efetuado
pelo sistema Pcs/Cs, pois é a ele que pertence a função inibidora. [...] é ao
segundo sistema que cabe a tarefa de impedir que a atividade do primeiro
sistema resulte em desprazer. (GARCÍA-ROZA, 2004, p. 90)
22

Por fim, pode-se constatar que o que o sistema primário pode fazer, por meio da
força impulsora chamada de Pulsão, é desejar. Sendo o desejo esse movimento que
parte da sensação de desprazer, e vai em busca, a qualquer custo, da sensação de prazer.
Desta forma ao evocar, por meio de um pensamento alucinatório, a primeira lembrança
de satisfação, o fim é a frustração, pois o objeto encontrado no pensamento não era da
ordem do real, mantendo assim a sensação de desprazer. Por meio do recalque, que é a
evitação da lembrança e consequentemente a evitação do desprazer, é também a forma
que o aparelho psíquico encontra para lidar com o desprazer gerado pela ausência do
objeto real, inaugurando assim a configuração final do aparelho psíquico, pois este
processo faz surgir o conceito de Ics (inconsciente) e ao Pcs/Cs (pré-consciente-
consciente) que funciona como um segundo sistema do aparelho psíquico, sendo estes,
portanto, a nossa realidade psíquica. Esse segundo sistema é inaugurado pelo recalque
com o intuito de transformar o excesso de excitação em uma excitação quiescente
(repousante), e assim, por meio do pensamento buscar formas alternativas e parciais de
descarregar tal estímulo por meio do controle do movimento motor, dando condições ao
sistema mnêmico se enriquecer com novas vias de facilitação alternativa para alcançar a
minimização do desprazer sempre que surgir uma necessidade. É desta forma que se
pode compreender alguma coisa em relação a natureza do desejo e sua influência na
constituição do aparelho psíquico.
23

1.3 O DESEJO E O SUJEITO

Todo sujeito é sujeito de um desejo, ou melhor, todo sujeito é sujeito porque


é desejante (KEHL, 1990, p. 368, o grifo é nosso).

Até o momento a questão do ―desejo‖ foi abordada em seu sentido histórico-


cultural, passando pelas proibições e leis, uma vez que estas surgem devido a um desejo
subjacente, desejo este que levaria a civilização à ruína se fosse realizado, podendo, daí,
extrair algum conhecimento a respeito da natureza do desejo. Em seguida foi abordada a
maneira como o desejo se constitui, segundo Freud – pai da psicanálise-, no aparelho
psíquico. A maneira topográfica que Freud utiliza, para ilustrar o surgimento do
aparelho psíquico, é o movimento interno- desprazer x prazer - que regula o aparelho
psíquico, desde pulsão à origem do desejo, sua incapacidade de realização e a
instituição da realidade psíquica, por meio da ideia de recalque, resultando também em
uma nova maneira de compreender o sistema inconsciente, bem como o sistema pré-
consciente-consciente. Por fim e concluindo esta pesquisa bibliográfica sobre a temática
do desejo, será abordada a questão do desejo na constituição do sujeito no contexto real,
e nas maneiras que o sujeito, ao lidar com a impossibilidade de realizar os desejos e
minimizar os desprazeres, pode ter uma vida equilibrada diante esta dinâmica.

Diante do que já foi visto, pode-se observar que há um conflito constante entre
as exigências do Ics e o controle do Pcs/Cs, este último porque impede a realização das
moções do Ics e este que tem por função o desejar, sendo que por detrás desse desejar
há uma pulsão que tem um único destino: a experiência de satisfação, o que o
caracteriza como agressivo e anárquico. Sendo assim:

Tanto a proibição como a pulsão persistem: a pulsão porque foi apenas


reprimida e não abolida, e a proibição porque, se ela cessasse, a pulsão
forçaria seu ingresso na consciência e na operação real. Cria-se uma situação
contínua e imanejada – uma fixação psíquica – e tudo o mais decorre do
conflito continuado entre a proibição e a pulsão. (FREUD, 1912-13 p. 47)

Segundo Junqueira, em A consciência moral e Ética na Psicanálise (2005, p.


37), o ―desejo de fugir desse impasse leva o indivíduo à procura de novos objetos e atos
a serem colocados no lugar do que foi proibido‖ o que Freud vem denominar de
Princípio da Realidade, este movimento de ir em busca de novos objetos e novos atos.
E ao movimento do Ics que por sua função de desejar está em busca de uma experiência
de satisfação, Freud denomina de Princípio do Prazer.
24

É a partir do fracasso do princípio do prazer que o psiquismo desenvolve


recursos para fazer a mediação necessária entre a pulsão e a satisfação parcial
da pulsão – esses recursos são chamados de Princípio de Realidade (KEHL,
1990, p. 367).

É por esse motivo que uma das formas em que sujeito tem de garantir alguma
experiência de satisfação, ou melhor, garantir a evitação de um desprazer maior, é por
meio de um objeto não proibido, objeto que possa de alguma forma exercer a função de
substituto. Como diz Dolto quando fala a respeito do recém-nascido:

O que não aplaca sua tensão, ou seja, aquilo que não o satisfaz, ao contrário,
lhe é ruim: ele se crispa e chora. [...] o choro é bom, pois alivia a tensão
libidinal oral. Um movimento alternativo imprimindo ao corpo do bebê
também é bom; acalma uma tensão energética difusa, que não é fome nem
sede, e que não satisfaz numa mamada. [...] Entretanto a sucção pode enganar
a fome por algum tempo. Vemos aí, no ser humano, a possibilidade que o
engano tem de satisfazer um desejo, sem satisfazer a necessidade: por vezes,
quando a criança chora, é por desejar uma presença. (DOLTO, 1996, p. 20-
21)

Maria Rita Kehl (1990) ainda diz mais sobre esses substitutos:
o desejo, desviado de seus fins primários, obscuros para o sujeito, em direção
a objetos secundários que aparecem para a consciência como objetos
possíveis cujo alcance depende pelo menos em parte de nossa ação voluntário
e consciente. (KEHL, 1990, p. 368)

É por meio da realidade que se pode perceber os objetos parciais substitutivos


que irão atender a demanda da pulsão. Ou seja, o direcionamento do desejo ao invés de
ser para a evocação da vivência de satisfação primeira – que por meio do recalque foi
―esquecida‖ no Ics – passa a ser por objetos secundários, que o sujeito elege como
representantes do objeto primeiro. E assim, segundo Freud, o Princípio da Realidade:

deve dominar o desenvolvimento futuro. [...] serve a finalidade prática de nos


capacitar para a defesa contra sensações de desprazer que realmente sentimos
ou pelas quais somos ameaçados. A fim de desviar certas excitações
desagradáveis que surgem no interior, o ego não pode utilizar senão os
métodos que utiliza contra o desprazer oriundo do exterior[...]. (FREUD,
1927-31, p. 38)

Pode-se perceber que este movimento de desprazer e prazer, satisfação e


proibição, sistema Ics e Pcs/Cs, Princípio do Prazer x Princípio da Realidade, todas
estas dualidades caracterizam o desejo, sendo este o movimento de um destes estados
para o outro. Além dos incômodos gerados pela necessidade que é de ordem endógena,
há também o incômodo que é gerado pelo vínculo que a criança estabelece com a mãe,
como já vimos anteriormente, vínculo este que é vivenciado como uma experiência,
também de satisfação. Como diz Jorge sobre o objeto materno:
25

o objeto materno apresenta o poder de funcionar para o sujeito como se fosse


o objeto perdido da estrutura, comparecendo como o primeiro objeto que vem
ocupar o lugar deste. O próprio Freud sublinhou o quanto o objeto materno se
apresenta como podendo ocupar o lugar do objeto perdido da estrutura,
devido a seu elevado poder de satisfação, não só para o bebê como também
para a própria mãe (JORGE, 2008, 143)

No entanto, é importante diferenciar que o objeto de satisfação primeiro que é a


vivência de prazer pleno está perdido para sempre, e, portanto, este é da ordem do
impossível. E a mãe que, como disse Jorge, pelo seu elevado poder de satisfação para a
criança vem ser, mais pra frente, um objeto de satisfação da ordem do proibido- incesto
-, pois, devido ao complexo de Édipo, esse vínculo é ameaçado com a chegada do pai,
gerando na criança uma ambivalência com o mesmo caráter dos Princípios citados e da
dinâmica do desejo, satisfação x proibição. Isso se dá por que:

Na primeira fase de constituição do desejo, que é na fase do imaginário, o


desejo ainda não se reconhece como desejo, é no outro ou pelo outro que esse
reconhecimento vai-se fazer, numa relação dual especular que o aliena nesse
outro. (GARCÍA-ROZA, 2004, p. 146)

Desta mesma maneira pode-se compreender o que Dolto quis dizer na citação
descrita anteriormente, quando diz que, ―por vezes, quando a criança chora, é por
desejar uma presença‖. Uma vez que esse outro para a criança, é o objeto – na maioria
das vezes o materno - que muitas vezes se apresenta no momento do desprazer e aplaca
de alguma forma o incômodo, proporcionando algum prazer.

García-Roza (2004, p. 54) diz que a experiência de satisfação está ligada,


também, à concepção freudiana de um estado de desamparo. Diante disso pode-se
inferir que, ao procurar vivenciar um prazer pleno como na primeira experiência de
satisfação, o sujeito se vê desamparado pela própria ausência do objeto real que o
proporcionou essa experiência, movimento esse que, para que não leve a frustração é
impedido pelo Princípio da Realidade. Este, por sua vez, direciona os impulsos do
desejo a representantes que desta vez são encontrados no real, com a função de serem
substitutos do primeiro objeto, e então exercendo essa função. A mãe, por exemplo, se
apresenta como um substituto à altura, e é responsável por prover elevadas experiências
de satisfação à criança.
26

Segundo Junqueira (2005, p. 37), Freud também relaciona essas dualidades com
os sentimentos, e se bem lembramos um dos representantes da pulsão é o afeto3. O
conflito ambivalente, completamente tensional, gerado sobre a criança pelo fato de ter
que administrar em si o medo de perder a mãe para o pai, e ter o anseio em matá-lo por
essa ameaça, bem como, ter o medo de perder o pai porque esse garante a segurança
pela sua força. Isso gera um desconforto na criança e se apresenta por meio do
sentimento de culpa. Essa ambivalência é, portanto recalcada, por não haver saída para
satisfação em nenhuma dessas situações. Desta forma a libido se transforma em
ansiedade, e é acompanhado pela sensação de culpa. (JUNQUEIRA, 2005, p. 37)

Se impulsos cheios de desejos forem reprimidos, sua libido se transformará


em ansiedade. E isto nos faz lembrar que há algo de desconhecido e
inconsciente em conexão com a sensação de culpa, a saber, as razões para o
ato de repúdio. O caráter de ansiedade que é inerente à sensação de culpa
corresponde ao fator desconhecido. (FREUD, 1912-13, p. 81)

Fator desconhecido porque é da ordem do recalcado, portanto da ordem do Ics.


Sendo pertencente a essa estrutura a única coisa que o sujeito vivencia é a ansiedade,
pelo sentimento de culpa e nada mais sabe sobre a origem desse sentimento. Junqueira
(2005, p. 46) diz que ―o sentimento de culpa é a expressão do medo dessa perda de
amor‖. E cita Freud: ―de início, portanto, mau é tudo aquilo que, com a perda do amor,
nos faz sentir ameaçados [...] o sentimento de culpa é, claramente, apenas um medo de
perda de amor, uma ansiedade (angst) social. (JUNQUEIRA, 2005, p. 46, apud FREUD,
1930, p. 148).

Seja ele consciente ou inconsciente, o sentimento de culpa, tanto no adulto


quanto na criança, é subentendido pelo medo – medo de um mal a ser sofrido,
de um golpe ou dor imaginados, de um perigo fantasiado, de um mal-estar
ligado à representação clara ou confusa das consequências implicadas pelo
próprio desejo de certos atos, cujos riscos o sujeito memorizou através de seu
próprio corpo. (DOLTO, 1996, p. 19-20)

No entanto, a angústia4 que se apresenta na forma de culpa, é um dos


sentimentos de grande importância para a questão do desejo. Jorge (2008, p. 147) diz
que ―o melhor remédio para a angústia é o desejo‖, pois é por meio desse que o sujeito
pode ter condições de se colocar em busca de algum alívio. E desta forma a maneira de
lidar com isso é por meio do Princípio da Realidade, em busca de objetos que possam

3
Ver página 15.
4
No dicionário de psicanálise escrito por Roudinesco (2008, pag. 25) o termo ansiedade aparece como
sinônimo de angústia.
27

ser representantes daqueles que foram recalcados – a questão da mãe e do pai -, por tais
representantes serem da ordem do impossível e/ou do proibido.

O objeto, aqui, passou do nível anterior do impossível ao nível do


contingencial, isto é, ao nível de algum possível de se escrever, mas não se
constitui como um objeto exclusivo, muitos outros podem ocupar junto ao
sujeito um lugar semelhante. Assim, as garantias de homeostase trazidas por
esse nível simbólico são mínimas e o sujeito precisará transformar aquilo que
foi mero encontro contingencial com um parceiro no encontro com o parceiro
que visa preencher a falta inerente ao desejo. (JORGE, 2008, p. 148)

―Garantias de homeostase5‖ foram as palavras utilizados por Jorge, o que faz


pensar que nem tudo nessa dinâmica do desejo é um constante conflito entre não-
satisfação e evitação do desprazer. Quando Jorge diz que ―o sujeito precisará
transformar aquilo que foi mero encontro contingencial com um parceiro no encontro
com o parceiro que visa preencher a falta inerente ao desejo‖, fala exatamente da
possibilidade de um representante eleito pelo sujeito desejante, ao qual, este eleito,
também elegeu o sujeito desejante para preencher a falta inerente de cada um, passando
do nível contingencial para o nível da necessidade, nível esse que é da ordem da
intercessão entre o simbólico e o imaginário, portanto, produtor de sentido6.

é portanto a partir da imagem unificada que faço do outro que eu me


apreendo como corpo unificado. O mesmo ocorre com o desejo. Este, no seu
estado de confusão original, só vai aprender a se reconhecer a partir do outro.
(GARCÍA-ROZA, 2004, p. 146)

Esta unificação, este contato com o parceiro que visa preencher a falta dá início
a questão do amor. Este reconhecimento um do outro, ou um pelo outro, enquanto
sujeitos desejantes e, desta vez, enquanto sujeitos desejados é que aquela sensação de
culpa, aquela angústia associada ao medo da perda do amor, pode garantir algum
equilíbrio ao sujeito. O amor é uma das modalidades de viver a vida em que o sujeito
pode experenciar vivências de satisfação tão profundas quanto àquelas primeiras,
modalidade essa que Freud enfatiza com propriedade:
Evidentemente, estou falando da modalidade de vida que faz do amor o
centro de tudo, que busca toda a satisfação em amar e ser amado. Uma
atitude psíquica desse tipo chega de modo bastante natural a todos nós; uma

5
No âmbito da psicanálise clássica, o conceito de homeostase está presente na formulação do princípio de
constância, extraído por S. Freud da psicofísica de G. Th. Fechner, que introduzira o princípio de
estabilidade. É um termo utilizado por W. B. Cannon para indicar a tendência do organismo a manter o
próprio equilíbrio. (GALIMBERTI, 2010, p. 595)
6
O amor se atém à passagem do que cessa de não se escrever para o que não cessa de se escrever. É nessa
região de intercessão entre os regimes simbólico e imaginário que o amor se inscreve e, sendo assim, o
amor é essencialmente produção de sentido. (JORGE, 2008, p. 146)
28

das formas através da qual o amor se manifesta – o amor sexual – nos


proporcionou nossa mais intensa experiência de uma transbordante sensação
de prazer, fornecendo-nos assim um modelo para nossa busca da felicidade.
(FREUD, 1927-31, p. 46)

Além do amor sexual, Freud também fala do amor inibido em seus objetivos
sexuais, que por sua vez atendem à demanda da civilização no sentido de aproximar os
homens e uni-los. Essa é uma das condições ao qual já vimos, é uma necessidade – da
leis e regras - que deve ser atendida para que a civilização possa se manter e continuar
progredindo e convivendo. Essa forma consiste em inibir a pulsão, de modo que essa
nunca se realize e assim, mantenha os laços emocionais sempre ativos. (JUNQUEIRA,
2005, p. 39)
Essa é uma das ―técnicas‖ de viver que Freud sinaliza como um meio de obter
felicidade. No entanto, mesmo que o amor oportunize ao sujeito experiências de
satisfação e prazer, não se deve acreditar que por meio de uma relação empreendida
pelo amor - e aí destaca-se o amor sexual – haverá garantia de satisfação plena e eterna.
Porque o próprio Freud destaca quando fala da felicidade, e, portanto, dos meios de
obtê-la:
Essa empresa apresenta dois aspectos: uma meta positiva e uma meta
negativa. Por um lado, visa a uma ausência de sofrimento e de desprazer; por
outro, à experiência de intensos sentimentos de prazer. Em seu sentido mais
restrito, a palavra ‗felicidade‘ só se relaciona a esses últimos. (FREUD, 1927-
31, p. 42).

Além do amor, Freud nos apresenta outra forma de garantir algum equilíbrio na
dinâmica do desejo, que é pela sublimação7 . Segundo Jorge (2008, p. 150) o conceito
de sublimação é um conceito imprescindível, sobretudo, nesta questão do desejo, pois é
por meio dessa que a pulsão pode ter um representante – desta vez, um representa não-
sexual – e assim direcionar a sua excitação à descarga.

Uma pulsão acha-se sublimada precisamente quando visa um novo alvo não-
sexual ou objetos socialmente valorizados. Assim, para Freud, as atividades
sublimatórias são constituídas eminentemente pela atividade artística, pela
investigação intelectual e pelos esportes. (JORGE, 2008, p. 150)

Está é uma das formas que leva o sujeito a afastar temporariamente o


sofrimento. Segundo Freud (1927-31, p. 45), é uma das formas em que as ―satisfações
parecem mais refinadas e mais altas‖. Pelo fato de que, a intensidade de uma satisfação

7
O termo Sublimierung foi introduzido por Freud no vocabulário psicanalítico designando ―um processo
que explica as atividades humanas sem qualquer relação aparente com a sexualidade, mas que
encontrariam o seu elemento propulsor na força da pulsão sexual‖. (JORGE, 2008, p. 150)
29

vivenciada por um processo de sublimação é muito tênue à que se origina da satisfação


primeira. No entanto, este é um processo possível somente a pessoas que apresentam
dotes e disposições especiais como foi dito acima: atividades artísticas; trabalho
psíquico e intelectual; e esportes. Ainda assim, essa modalidade não isenta o sujeito das
aflições do real, pelo fato de que não garante ao sujeito satisfação nem equilíbrio pleno,
tampouco eterno. Até porque a satisfação é vivenciada por meio de ilusões como diz
Freud:
a região onde essas ilusões se originam é a vida da imaginação; na época em
que o desenvolvimento do senso de realidade se efetuou, essa região foi
expressamente isentada das exigências do teste de realidade e posta de lado a
fim de realizar desejos difíceis de serem levados a termo. À frente das
satisfações obtidas através da fantasia ergue-se a fruição das obras de arte,
fruição que, por intermédio do artista, é tornada acessível inclusive àqueles
que não são criadores. (FREUD, 1927-31, p. 45)

Outra forma de obter felicidade que Freud apresenta e segundo ele é uma das
formas que opera ―de modo mais energético e completo‖ é a que tem o intuito de
romper com toda e qualquer relação com a realidade, uma vez que praqueles que optam
por essa opção acreditam que a realidade é a fonte de todo sofrimento (FREUD, 1927-
31, p. 45). Sabemos que a civilização é, de certa forma, fonte de sofrimento ao sujeito,
devido a sua forma de tornar possível o vínculo entre os homens que é por meio de leis.
No entanto, já vimos que um investimento completo da lembrança de satisfação, que é
da ordem do irreal, leva o sujeito à frustração e este não chega em lugar algum, pois o
desprazer se mantém. Aos que optam por essa opção, segundo Freud:
Torna-se um louco; alguém que, a maioria das vezes, não encontra ninguém
para ajudá-lo a tornar real o seu delírio. Afirma-se, contudo, que cada um de
nós se comporta, sob determinado aspecto, como um paranoico, corrige
algum aspecto do mundo que lhe é insuportável pela elaboração de um desejo
e introduz esse delírio na realidade. (FREUD, 1927-31, p. 45-6)

Dentre as possibilidades de garantia de homeostase e afastamento do sofrimento,


do desprazer, estes foram alguns dos objetivos finais que um desejo pode alcançar de
forma a lidar com a força impulsora da pulsão. Desta forma, pode-se questionar então
qual o sentido de todo esse discurso, sobretudo do sentido da vida, se estamos
destinados ou à frustração - por não termos os nossos desejos realizados e as nossas
pulsões satisfeitas - ou à proibição - pois se aquilo que desejamos é da ordem do
recalcado e do proibido, e se algo pode ser realizado este nunca será pleno e sempre
parcial por meio de objetos substitutos.
30

Todo este movimento do desejo parece nos direcionar não à satisfação, mas a
evitação de algum desprazer, e de que forma pode-se então evitar o desprazer e obter
alguma satisfação de modo a não sermos frustrados ou tolhidos pela civilização ou por
nós mesmos, uma vez que ao termos ―alguma‖ ideia daquilo que nos dá satisfação é
conhecido por nós mesmos como da ordem do proibido, do interdito.
Freud (1927-31, p. 43) diz que o que decide o propósito da vida é simplesmente
o programa do Princípio do Prazer e que este Princípio domina o aparelho psíquico
desde o início. Parece que o que resta é, ou procuramos viver por caminhos que nos
livra do desprazer, e assim procuramos ao máximo garantir alguma estabilidade e
equilíbrio, ou satisfazemos os nossos desejos a qualquer custo e colhemos os frutos e
consequências desses atos. Uma vez que, se fizéssemos isso, estaríamos nos
direcionando ao caminho contrário à civilização, àqueles que estão vinculados a nós
pelos laços emocionais e ainda assim tenderíamos à solidão, o que pode parecer
―negação‖ da própria realidade.

De positivo em todo esse discurso é que, devido à cisão do nosso aparelho


psíquico em Ics e Pcs/Cs, é que este último nos dá condições de, primeiro colocar as
nossas excitações em uma espécie de repouso8, até que, por meio do pensamento que é
um substituto do desejo alucinatório, temos a condição de definir qual ação tomaremos,
uma vez que o movimento motor é, desta vez, voluntário. Com diz Maria Rita Kehl:

É com a introdução do Princípio da Realidade que o sujeito desenvolve


consciência, atenção, memória, discernimento, pensamento e ação! Ao
mesmo tempo, são esses recursos psíquicos que criam a realidade na qual
este indivíduo particular irá viver, realidade que não é simplesmente um dado
exterior ao psiquismo e imposta em bloco a ele, mas recriação permanente do
sujeito a partir de cada uma de suas intervenções concretas e sobretudo
simbólicas e simbolizatórias. (KEHL, p. 368)

Por meio dessas funções psíquicas que são originadas com a inauguração do
Princípio da Realidade é que temos a condição de julgar, por meio do pensamento e de
nossas experiências quais os representantes são fontes de prazer ou desprazer para nós
enquanto sujeitos desejantes. Por essas funções, também, é que o desejo ganha fala,
anteriormente a mãe emprestava a sua fala para a criança e expressava por meio desta e
de acordo com o seu próprio desejo o que melhor se adequava à criança. No entanto, à
medida que a criança desenvolve esses recursos, que resultam da inauguração da
realidade psíquica enquanto tal, a criança passa se constituir enquanto sujeito,
8
Ver p. 20. Energia quiescente.
31

adquirindo a linguagem. E à medida que desenvolve, a criança tem condição de


expressar cada vez melhor os seus desejos, até chegar um dia a ser sujeito do seu
próprio desejo.

É por essa condição de sujeito, que emerge a partir do Princípio supracitado, que
se pode utilizar as funções psíquicas ao nosso favor e, reconhecendo que o movimento
do desejo foi posto em marcha e é com ele que caminharemos, pois estará, eternamente,
sinalizando um desprazer e um prazer, um conforto e um desconforto, nos dando
condição de construir o que melhor se adéqua a nós.

A alegria do desejar depende de uma certa dose de confiança no real, uma


certa quantidade de experiências de gratificação que permita esperar que esse
lugar externo ao psiquismo para onde se espraia a ―fome do mundo‖ seja um
lugar de onde pode vir alguma espécie de prazer e alguma espécie de
confirmação, de aplacamento, pelo menos temporário, de minhas indagações.
[...] quando a realidade cede ao acordo que o desejo faz com suas exigências,
que a fome do mundo é sentida como antecipação feliz, afirmação do sujeito
que ao dizer ―eu quero‖ está também dizendo ―eu posso‖ ou, pelo menos, ―eu
acho que posso‖. (KEHL, 1990, p. 366-7)

Este ponto de vista amistoso de Maria Rita Kehl nos mostra que nem tudo, nesse
discurso do desejo, é de tão ruim assim. Pois, mostra o lado de que ser sujeito é ser,
como foi citado no início deste texto, sujeito desejante. Ser sujeito desejante é ser
sujeito das próprias escolhas, é gozar da condição de poder escolher e poder continuar
escolhendo o caminho que se quer trilhar, sendo responsáveis por nossas próprias
escolhas. Como Freud, também dizia quando da descoberta dos processos Ics e Pcs/Cs:

os processos primários acham-se presentes no aparelho anímico desde o


princípio, ao passo que somente no decorrer da vida é que os processos
secundários se desdobram e vem inibir e sobrepor-se aos primários, é
possível até que sua completa supremacia só seja atingida no apogeu da
vida.(FREUD, 1900-01, p. 629)

Pois, por meio de todo esse ―poder‖ enquanto sujeito desejantes é que podemos
acumular o máximo de traços mnêmicos e desenvolver vias de facilitação possíveis para
que ao surgir uma exigência do Ics termos representantes à altura de nos garantir
alguma satisfação sem que tenhamos que estar a serviço do recalque e evitando assim,
algum desprazer.

Por fim, encerro com palavras do próprio Freud, sujeito que, por suas escolhas
nos beneficiou com um conhecimento tão útil e tão valioso para que tenhamos alguma
compreensão sobre nós mesmos a respeito de nossos próprios desejos:
32

A felicidade, no reduzido sentido em que a reconhecemos como possível,


constitui um problema da economia da libido do indivíduo. Não existe uma
regra de ouro que se aplique a todos: todo homem tem de descobrir por si
mesmo de que modo específico ele pode ser salvo. Todos os tipos de
diferentes fatores operarão a fim de dirigir sua escolha. É uma questão de
quanta satisfação real ele pode esperar obter do mundo externo, de até onde é
levado para tornar-se independente dele, e, finalmente de quanta força sente à
sua disposição para alterar o mundo, a fim de adaptá-lo a seus desejos.
(FREUD, 1927-31, p. 47)
33

CONCLUSÃO

Conclui-se desta revisão bibliográfica que o conhecimento psicanalítico


apresentado por Freud muito pode nos auxiliar na compreensão de nós mesmos e dos
processos internos que nos coloca em movimento e nos dá condições de nos
constituirmos sujeitos desejantes, sujeitos de nosso próprio desejo.
Estar nesse lugar de sujeito desejante é estar no lugar de ter alguma ciência
daquilo que nos incomoda, que nos gera desconforto, desprazer e procurar uma forma
de nos conhecer, ao ponto de termos algum controle e propriedade sobre nossos
recursos psíquicos que se colocaram em funcionamento e disponíveis a partir da cisão
do aparelho psíquico. Este, que antes era da ordem do inconsciente, e por pertencer a tal
sistema não tínhamos, ainda, capacidade nem habilidades para lidar com as angústias e
as demandas da pulsão. Com a inauguração do sistema pré-consciente e consciente, uma
chave nos é dada, chave esta que pode abrir algumas portas para o alívio de nossas
tensões e de nossos desprazeres, mesmo que seja um alívio parcial. Esta chave é que nos
dá a possibilidade de desenvolver o controle sobre o nosso aparelho motor, nosso
pensamento, consciência, atenção, memória, de modo a enriquecer o nosso sistema
mnêmico e procurar desenvolver ao máximo, formas de lidar com situações
desprazerosas, elegendo de forma consciente representantes que podem estar à altura de
nos garantir alguma estabilidade e algum equilíbrio na vida. Desenvolver a nossa
linguagem, pois é por meio dessa que o nosso desejo pode ganhar forma, vida,
expressão e se apropriando dos recursos psíquicos essa linguagem tem a oportunidade
de se aprimorar o tanto necessário para expressar de forma cada vez mais coerente
aquilo que desejamos e determinar nossas ações de modo que possamos caminhar de
forma mais orientada e mais diretiva, ou melhor, mais consciente.
É fato que, ao entrarmos em contato com esses conhecimentos temos a
possibilidade de, cada vez mais, nos apropriarmos de forma consciente de que a
dinâmica do desejo é um dos aspectos de nossas vidas que nos movimenta e que esse
movimento está instalado e para sempre em nós. Ter ciência disso pode nos possibilitar
colocar os pés cada vez mais no chão por saber que o sentimento de angústia, a
sensações de prazer e desprazer sempre nos acompanharão ao longo da vida e devido a
isso uma das alternativas é desenvolver maneiras criativas de lidar com as sensações,
quando da ordem do desprazer, e assim procurar desenvolver uma responsabilidade para
34

com os nossos atos e escolhas de modo que, por meio dessa responsabilidade é possível
que minimizemos as sensações de desprazer. A civilização sempre será motivo de
conforto e desconforto para aqueles que nela habitam, o mal-estar na civilização sempre
estará presente e pelo fato de sermos sujeitos estaremos sujeitos à falência de nossos
corpos, aos impulsos agressivos da natureza e as leis que estarão sempre balizando os
nossos atos. Realidade, me parece, é procurar se dar conta de tudo isso, e ainda mais,
nos dar conta de que temos condições de fazermos as próprias escolhas, essa é a
liberdade que penso que temos enquanto sujeitos, ser o ―autor‖ das próprias escolhas,
direcionar o desejo para os objetos que julgamos apropriados, adequados de acordo com
a capacidade que temos de utilizar cada vez mais o nosso sistema consciente.
Por fim, acredito que o sentido da vida é elaborado por nós mesmos e que a vida
como quase tudo tem os dois lados da moeda, seja ele prazer ou desprazer, satisfação ou
proibição, inconsciente ou consciente, regido por princípio do prazer ou princípio da
realidade. É por este movimento denominado desejo, movimento que se origina no
desprazer em direção ao prazer, que, conscientemente, podemos ―dizer‖ pela linguagem
qual o sentido optaremos para a nossa vida, qual a direção tomaremos. Desejo este que
parece ser um barco em alto mar e a consciência um farol que vai clareando as rotas que
melhor se apresentam para navegarmos. Se a onda se agita, mudamos a rota; se a onda
se acalma permanecemos nela, mas o oceano da vida é infinito e por diversas vezes
estaremos navegando por rotas que ainda não conhecemos e passaremos por ondas que
o nosso barco ainda não tem recursos para suportar e graças a isso é que estaremos
sempre no movimento de procurar cada vez mais nos constituir como sujeitos, sujeitos
de nosso próprio desejo.
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BIBLIOGRAFIA

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