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4.

DESAPROPRIAÇÃO-SANÇÃO POR TRABALHO ESCRAVO

Tendo em vista a primazia da dignidade humana como princípio norteador do processo


hermenêutico constitucional, extrai-se a importância da função social da propriedade, que dele
decorre, e a gravidade de sua violação. Visto que, é imprescindível, para que seja assegurado
a todos existência digna conforme os ditames da justiça social, a relativização do direito à
propriedade privada, com a exigência de que esta exerça sua função social1.

Os princípios da propriedade privada e da função social da propriedade encontram-se


elencados no art.170, I e II, da nossa Lei Maior, como princípios da ordem econômica. Dessa
forma, a propriedade só encontra sua legitimidade quando cumprida a sua função social, em
prol da justiça social. Seu descumprimento acarreta na famigerada desapropriação-sanção,
prevista no art.184 (imóveis rurais) e 182, §4º, III (imóveis urbanos), desse mesmo diploma.

Propriedades nas quais trabalhadores são submetidos a condições degradantes,


trabalhado forçado, jornada exaustiva ou, ainda, têm sua liberdade restringida, mesmo que
produtivas, colocam os trabalhadores numa condição análoga a de escravos – configurando a
figura do escravo contemporâneo – e descumprem, destarte, a função social da propriedade
rural. Tal descumprimento atropela a dignidade da pessoa humana, e viola, porquanto, o
Estado Democrático de Direito, um dos principais institutos tutelados em nossa Carta Mãe.

Embora tal violação configure ilícito penal (art. 149, CP), a forma de desapropriação
correspondente, prescrita em nosso ordenamento, é insuficiente e desproporcional a esse
grave desrespeito aos princípios constitucionais. Mesmo que o criminoso seja condenado pelo
art.149 do CP, e suas terras fiquem suscetíveis à Reforma Agrária, ele receberá prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real,
resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja
utilização será definida em lei2.

Caso semelhante, mas de efeitos mais severos, ocorre com a expropriação de terras em
que cultivam ilegalmente certas plantas psicotrópicas. Essa expropriação assemelha-se ao
confisco por não gerar indenizações ao proprietário, como dispõe o art.243 da CF:

1
DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 814, 34ª Ed. São Paulo. Malheiros,
2011.
2
MAUÉS, Herena Neves. A redução de trabalhadores à condição análoga à de escravo como fator de
descumprimento da função social da propriedade rural. Disponível em: <
http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/bh/herena_neves_maues.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2013.
P.2762.
Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas
culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente
expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de
colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos,
sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido


em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins será
confiscado e reverterá em benefício de instituições e pessoal
especializados no tratamento e recuperação de viciados e no
aparelhamento e custeio de atividades de fiscalização, controle,
prevenção e repressão do crime de tráfico dessas substâncias.

Esse mesmo tratamento rígido é trazido por Herena Neves Maués, como uma
alternativa, proposta ao combate ao trabalho escravo3 no Brasil, e propugnada por estudiosos
que consideram o descumprimento da função social suficiente para a perda do direito à
propriedade privada. Esses estudiosos consideram a função social intrínseca ao direito de
propriedade (vertente estrutural) e não apenas como uma finalidade deste (vertente
finalística). Admitem-os em um só corpo, e, dessarte, quando violada a função social, deixa o
Estado de ter o dever de tutelar determinada propriedade4.

A PEC do Trabalho Escravo está tramitando no Congresso Nacional desde 1995 e


prevê, justamente, o defendido por Herena Neves Maués: que seja dado mesmo tratamento
das glebas com lavouras ilícitas de plantas psicotrópicas do art.243, CF, às áreas que
permitem a exploração do trabalhador; e, prevê ainda a ampliação do alcance desse
dispositivo a imóveis urbanos. A primeira versão do texto foi apresentada pelo deputado
Paulo Rocha (PT - PA) – PEC 232 de 95. Posteriormente, o senador Ademir Andrade (PSB -
PA) desenvolveu projeto semelhante – PEC 438 de 2001–, e, então, quando aprovado em
2003 e remetido pela Câmara incorporou a ele o texto da PEC 232 (projeto apensado) 5.

É importante destacar, que, conforme o disposto no artigo 243 da Magna Carta, todo e
qualquer bem de valor econômico apreendido será confiscado e revertido em benefício de
instituições e pessoal especializados no tratamento de viciados e no custeio de programas

3
Aqui compreendido como trabalho escravo contemporâneo (análogo ao escravo), visto que, oficialmente, o
trabalho escravo já fora abolido, e que não há mais a figura do escravo.
4
MAUÉS, Herena Neves. A redução de trabalhadores à condição análoga à de escravo como fator de
descumprimento da função social da propriedade rural. Disponível em: <
http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/bh/herena_neves_maues.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2013.
P.2761.
5
OJEDA, Igor. Notícia: Ruralistas conseguem adiar votação da PEC do Trabalho Escravo. Brasília.
Disponível em: < http://www.trabalhoescravo.org.br/noticia/69>. Acesso em: 28 jul. 2013.
preventivos e fiscalizadores, por exemplo. Pretende, do mesmo modo, a PEC do Trabalho
Escravo (PEC 438/2001) destinar um útil e proveitoso fim às apreensões, sendo revertidos os
recursos para combater a forma contemporânea de exploração de trabalho no Brasil.

A iniciativa desses dois parlamentares deve ser enaltecida, e projetos sociais referentes
à temática, desenvolvidos. Já que, torna-se imprescindível a intervenção do Estado no
combate ao trabalho escravo contemporâneo nos meios urbano e rural, atuando tanto como
fiscalizador quanto preventor deste terrível cenário. É o Estado indiretamente responsável
pela submissão do trabalhador a degradantes condições trabalho; visto que, quando não há
oferta de condições melhores de empregos, o trabalhador é encurralado e “obrigado” a aceitar
tais condições, pois enxerga nelas única alternativa para poder subsistir. Cabe ao Estado, pois,
intervir e modificar esse inescrupuloso cenário que ainda persiste em pleno séc. XXI, 125
anos depois de haver sido abolida a escravidão no Brasil.

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