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Embora tal violação configure ilícito penal (art. 149, CP), a forma de desapropriação
correspondente, prescrita em nosso ordenamento, é insuficiente e desproporcional a esse
grave desrespeito aos princípios constitucionais. Mesmo que o criminoso seja condenado pelo
art.149 do CP, e suas terras fiquem suscetíveis à Reforma Agrária, ele receberá prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real,
resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja
utilização será definida em lei2.
Caso semelhante, mas de efeitos mais severos, ocorre com a expropriação de terras em
que cultivam ilegalmente certas plantas psicotrópicas. Essa expropriação assemelha-se ao
confisco por não gerar indenizações ao proprietário, como dispõe o art.243 da CF:
1
DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 814, 34ª Ed. São Paulo. Malheiros,
2011.
2
MAUÉS, Herena Neves. A redução de trabalhadores à condição análoga à de escravo como fator de
descumprimento da função social da propriedade rural. Disponível em: <
http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/bh/herena_neves_maues.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2013.
P.2762.
Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas
culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente
expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de
colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos,
sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei.
Esse mesmo tratamento rígido é trazido por Herena Neves Maués, como uma
alternativa, proposta ao combate ao trabalho escravo3 no Brasil, e propugnada por estudiosos
que consideram o descumprimento da função social suficiente para a perda do direito à
propriedade privada. Esses estudiosos consideram a função social intrínseca ao direito de
propriedade (vertente estrutural) e não apenas como uma finalidade deste (vertente
finalística). Admitem-os em um só corpo, e, dessarte, quando violada a função social, deixa o
Estado de ter o dever de tutelar determinada propriedade4.
É importante destacar, que, conforme o disposto no artigo 243 da Magna Carta, todo e
qualquer bem de valor econômico apreendido será confiscado e revertido em benefício de
instituições e pessoal especializados no tratamento de viciados e no custeio de programas
3
Aqui compreendido como trabalho escravo contemporâneo (análogo ao escravo), visto que, oficialmente, o
trabalho escravo já fora abolido, e que não há mais a figura do escravo.
4
MAUÉS, Herena Neves. A redução de trabalhadores à condição análoga à de escravo como fator de
descumprimento da função social da propriedade rural. Disponível em: <
http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/bh/herena_neves_maues.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2013.
P.2761.
5
OJEDA, Igor. Notícia: Ruralistas conseguem adiar votação da PEC do Trabalho Escravo. Brasília.
Disponível em: < http://www.trabalhoescravo.org.br/noticia/69>. Acesso em: 28 jul. 2013.
preventivos e fiscalizadores, por exemplo. Pretende, do mesmo modo, a PEC do Trabalho
Escravo (PEC 438/2001) destinar um útil e proveitoso fim às apreensões, sendo revertidos os
recursos para combater a forma contemporânea de exploração de trabalho no Brasil.
A iniciativa desses dois parlamentares deve ser enaltecida, e projetos sociais referentes
à temática, desenvolvidos. Já que, torna-se imprescindível a intervenção do Estado no
combate ao trabalho escravo contemporâneo nos meios urbano e rural, atuando tanto como
fiscalizador quanto preventor deste terrível cenário. É o Estado indiretamente responsável
pela submissão do trabalhador a degradantes condições trabalho; visto que, quando não há
oferta de condições melhores de empregos, o trabalhador é encurralado e “obrigado” a aceitar
tais condições, pois enxerga nelas única alternativa para poder subsistir. Cabe ao Estado, pois,
intervir e modificar esse inescrupuloso cenário que ainda persiste em pleno séc. XXI, 125
anos depois de haver sido abolida a escravidão no Brasil.