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amarílis anchieta
bárbara gontijo
mariangela andrade
O TRANCA RUA
piero eyben jornal de boca a boca
colaboraram nesta edição ano 1 brasília, 18 de abril de 2018 n. 2
e-mail otrancaruajornal@gmail.com luísa caetano
/otrancarua tarso de melo

da biblioteca invisível a coerência de lula


correspondências inéditas
ou da prisão política
Vadinho, por camarada p.

Já faz quanto tempo que estou por aqui? Tenho perdido a noção do tempo. Saudade de tudo, Nasci num ano em que Lula havia sido condenado pela Justiça Militar, por incitação à desordem coletiva,
da casa de Rudá. Mas nenhuma palavra de afeto sai de mim aqui, tão longe. Você já sabe que logo após ter passado 31 dias detido no DOPS. Nasci nesse ano, em que ele havia sido condenado a três
anos e meio por apontar-se como um dos líderes da greve do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo
não consigo mais crer no romance proletário, no romance. Tenho feito croquis ainda, estalos.
do Campo. Tínhamos então um Brasil ainda regido pela ditadura militar, nas mãos do Figueiredo, e que,
A cadeia acabou com algo em mim. Assim que eles terminam tudo? Com um sorriso de es- por mais branda que parecesse, ainda guardava as leis de segurança nacional como trunfo contra o
cárnio e a vontade de estar todos corretos? Fiquei sabendo por aqui que as prisões continuam trabalhador. Cerca de um ano de nascido, um pouco mais na verdade, Félix Guattari entrevista Lula. Lá,
a ser o instrumento para barrar o povo sem medo. Elas continuam porque são efetivas. E não ele dizia que “enquanto o povo (...) não tiver uma consciência política, este risco [de uma nova intervenção
só contra mim, a luta nunca é só a luta, nunca só de um. Mas há muito tenho pensado que militar] subsistirá”, dizia ainda que “a administração de um Estado não é uma questão técnica, mas sim
não podemos mais falar a consciência de uma outra classe, porque eles fazem isso conosco, política”, dizia, sempre crente na democracia, que a “estatização só terá sentido no quadro de um Estado
acreditar que não pertencemos a uma mesma sociedade. Como matar o que em cada um democrático”, falava da necessidade de criação de mídias livres, que era preciso criar condições para não
depender dos imperialismos então vigentes (americano ou soviético). Bem, ali, os desejos todos expostos,
num gesto simbólico? Prendam um ou dois e a revolução se torna um perigo.
sem falsos percursos. Levou pouco mais de 20 anos para que ele se elegesse Presidente da República.
Pouco menos que alguns meses para que muitos inventassem (ou deixassem que se inventasse por eles)
Tenta ficar bem, carinho, um descrédito à sua figura; talvez crentes de que ele seria um líder radical, capaz de levar o Brasil à
pagú revolução. Era então 1982 ou 2003? Lula esteve coerente não apenas com seu discurso, mas também
com uma espécie de crença inabalável na liberdade democrática e na resposta que ele poderia dar desde
sua classe. Não houve revolução, ao menos não houve a revolução que uma certa parcela quis acreditar
que haveria. No entanto, houve algo. Algo que agora precisa ser repensado. Não houve revolução, mas
sem dúvida houve algo maior do que o país pode (podia?) suportar: o risco de um convívio mais direto
Bebê entre as classes. Lula acreditou na conciliação das classes – e isso no Brasil é crime. Há uma semana
e meia ele está preso. Depois de um belíssimo desfecho nos braços do povo, com um aparato estético
estonteante, com uma vontade ética de dimensões não pensadas, ele repolitizou o país, ainda uma vez,
As tuas saudades são também minhas. Gostaria que o meu tempo também fosse o teu,
declarando sua própria morte, assumindo-se como apenas mais um combatente, exigindo ideologia de
para que pudéssemos estar juntos. Querida, o povo sem medo também nunca é só um. Se, cada um, refazendo sua força na inocência também. Sua prisão, como tantas outras no país, é dos mais
aí dentro, tão longe, acreditas estar acabando aos poucos, aqui fora cresce uma vontade arbitrários golpes do Golpe de Estado. Sua prisão é, também e por outro lado, o sinônimo da democracia,
pelas beiras. Há também os gestos simbólicos de quem quer o perigo da revolução – ela que não pode existir senão se desfazendo, se corrompendo, se destruindo.
está iminente. Um pedaço do Brasil, disforme e em cada canto, acordou hoje num grito. E essa democracia condicionada, democracia que nem mesmo chegou a se
Estar atento, bebê. A utopia é a resposta: ainda pela restauração tecnizada da cultura implementar no Brasil (caso dos mais graves do atual contexto dos países ditos
antropofágica. É preciso que continuemos a conflitar com eles. Que continuemos a forçar um “democráticos”), é que foi golpeada. A outra, incondicional, está sempre por
vir, porque ela significa a liberdade, que por ora nós foi impossibilitada pensar.
antagonismo a essa vontade voraz de acabar com tudo. Estive e estou a pensar em ti, em
Então o #lulalivre não pode significar apenas um apoio ao ex-presidente
tudo isso, e em ficar bem. Até já. condenado num juízo de exceção, ele significa algo como a não concessão
necessária a toda liberdade já que atinge nossos corpos, nossos modos de vida,
um certo ainda senso na contramão da história imperial e colonial do Brasil,
Seu Andrade • que não aprendeu a diferença, a partilha, o comum de assumir um lado. •
quarta-feira, 18 de abril de 2018 o tranca rua 2 quarta-feira, 18 de abril de 2018 o tranca rua 3

não em pindorama contra eles


por camarada m. [ode-ódio antifacista]
por tarso de melo
Quando me empolga um assunto qualquer, naturalmente minha voz se eleva. É natural. Tenho até tentando controlar
esse volume pra não parecer demasiadamente passional, mas quando se trata de algo empolgante é difícil conter sim, eles existem e são os mesmos que jamais irão às ruas
a emoção. Com Lídia se passa o mesmo. Outro dia, assim, numa conversa corriqueira, lhe pegou a emoção, e os eles são eles xingar
poucos transeuntes ao redor ouviram sua voz. A mensagem era bonita, dizia ela pruma criança...”Ahh, mas você já e são sempre os mesmos quem não é negro pobre homossexual de
aprendeu que em qualquer lugar do universo, você vai fazer amigos”. À menina lhe preocupava mudar de escola esquerda
mais uma vez: “Poxa... e meus amigos...?”. Bom, todos estavam indo muito bem, até que Lídia ouviu assim... eles riram ou dormiram indiferentes nordestino analfabeto puta burra ladra bruxa
“Nossa, você pode falar mais baixo? Acho horrível essa mania que vocês mulheres têm de falar alto no meio da rua,
quando souberam da execução da vereadora negra vagabunda
todo mundo ouvindo, eu tenho a síndrome da privacidade, odeio quando vocês falam assim”. E pra arrematar, o
macho alfa disse: “Quando estiver do meu lado, não fale assim”. Vale dizer que não era a primeira, nem a segunda porque era negra pobre homossexual e de esquerda porque eles não xingam qualquer um
vez que a diziam como deveria falar, como deveria se comportar na rua, tudo em nome das preferências desse os mesmos que nunca entenderam porque nós aliás, porque eles só xingam “qualquer um”
outro. Sem nem piscar, Lídia lhe disse: “Pois veja, querido, eu falo e falarei como bem entender, esteja quem estiver não aceitamos a caça aos favelados
ao meu lado. É uma opção sua não estar.” Mas, olha, a ousadia desse humano... querer controlar até o volume não aceitamos a caça aos estudantes e qualquer um é apenas quem é negro
da minha voz. Pois, em Pindorama, não. Os homens daqui sabem muito bem que a cada um é dada a liberdade não aceitamos a caça aos militantes pobre homossexual de esquerda nordestino
de ser o que se é, e essa de dizer ao outro como se comportar é tão absurda que nem lhes ocorre. Você veja, caro analfabeto puta burra ladra bruxa
leitor, então, na cabeça desse homem, cabe à mulher se adaptar para estar ao seu lado. Aliás, vale dizer que são eles que vão votar no candidato vagabunda
nossos personagens nem estão numa relação amorosa, nem nada... Mas mesmo assim, ele acredita que pode dizer que homenageia torturadores
como ela precisa se comportar. Quando Lídia me contou essa história, eu achei sinceramente que ele deveria estar discrimina mulheres ataca homossexuais na boca deles as palavras com que
sofrendo de alguma crise que os médicos devem ter um nome apropriado, mas que se caracteriza pela total falta
os mesmos que fazem piadas com direitos humanos elogiamos
de noção da realidade e também por uma necessidade de manter a mulher (todas elas) sob controle... Deve ter um
nome que não seja apenas machismo pra definir esse tipo de comportamento, não? •
e dizem que agora tudo é “politicamente correto” ou nos solidarizamos viram xingamentos
na mesma boca deles nós nunca é nós
eles foram às ruas contra a mulher que era presidenta e o eles que dizem nunca vai ao espelho

mãe de branca
mãe de branca
(acreditei.) e a chamaram de puta burra ladra bruxa vagabunda
os mesmos que não vão às ruas por nada nunca
porque temem as ruas e temem que nós estejamos
eles dizem que essa história
por luísa caetano de nós contra eles
mãe de branca nas ruas não leva a lugar algum
mãe mas é mentira
de eles batem panelas e soltam rojões para comemorar eles não querem ir a lugar algum
(?)
a prisão do ex-presidente nordestino e metalúrgico com esses que chamamos de nós
de
pai O ápice da eugenia:
eles soltam rojões para comemorar golpes de estado
mãe de preto o genocídio do povo negro não é genocídio: é uma os mesmos que riram da festa no puteiro nós sabemos quem •
mãe de preta tristeza, e não é comigo; conheço mais da cultura e do cafetão que promete cerveja em troca da morte
mãe de preta europeia que das congadas; Lisboa só tem homens
bonitos. eles adoram mandar para nossas caixas postais primeiro concurso d’o tranca rua
A proposta era científica e inabalável: o embranquecimento E eu sou não branca por desvio da sorte; suas opiniões violentas sobre todos os temas
do Brasil em 100 anos. Importação consciente de gente sou morena pra sorte dos outros; Resultado:
mas querem moderação quando nós respondemos
branca para, se misturando, se misturando melhor, parda por ser mais clarinha;
prevalecer sobre a carne preta. mas preta não. loucura! loucura! a redação ferveu esse mês.
Prevalecer até ninguém se lembrar de mistura e todos eles nunca ligaram para a vida da maioria é resultado que você quer, @? então toma:
(Acreditei.)
acreditarem no mito do pedigree. dos venezuelanos dos norte-coreanos dos chineses
(Acreditei.) A dúvida é por que eu achava
mas enchem a boca para falar desses países O STF ........................................... 518
O embranquecimento, contudo, não se deu em 100 anos, que, por ser misturada, quando é necessário atacar os adversários daqui A polícia ....................................... 485
MAS NÃO ESMOREÇAMOS! Vejamos no que deu: eu não seria preta A democracia................................. 367
1. Uma massa de gente que se acha branca! (se quem me manda dar um jeito no cabelo eles dizem que são contra a corrupção A república.....................................129
1.1. Preto mesmo só quem é favela! me chama de morena mas não ligam quando são os seus que (se) A imprensa...................................... 52
(1.1.1. Preto não pode usar Nike.) sabe que eu sou)? corrompem A família ........................................ 52
2. Uma massa a quem, na rua, chamaremos morena! A igreja ...........................................10
e jamais deixarão de votar em corruptos
(? nasci com o cabelo do pai, a pobre [toda essa história pra descobrir que meu avô por Os boy.............................................10
nasci com a boca e a bunda do pai. deu sorte)
quando for o melhor para eles mesmos
parte de mãe era preto. ele não sabia.] • O amor ..........................................10

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