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NEUROCIÊNCIA DA
LINGUAGEM
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perceber o mundo externo, através dos sons, cores, texturas, sabores, etc.
(Relvas, 2009).
As disciplinas que estudam o sistema nervoso a partir da biologia são
denominadas neurociências. Estas disciplinas buscam investigar o cérebro em
sua estrutura, funcionamento, anatomia, química e fisiologia, em pessoas
consideradas normais, doentes ou até com deficiências. Juntamente com outras
disciplinas, como a linguística e a semiótica, as neurociências conseguem
entender como o sistema nervoso central funciona e como as pessoas podem
melhorar no seu processo de cognição, principalmente aqueles que têm alguma
necessidade educacional especial.
Sendo assim, esta aula tem como objetivo apresentar a estrutura da
aquisição da linguagem, dando destaque, primeiramente, ao seu
desenvolvimento, apresentando os principais fatores que estão ligados a este.
Sucedendo-se a esse tema, discutiremos sobre as principais teorias que
norteiam os estudos sobre o desenvolvimento da linguagem nos seres humanos,
discutindo autores como Piaget, Vygotsky, Chomsky, Skinner e outros.
Perpassaremos pela compreensão na naturalidade do ser humano em
adquirir a linguagem, desde a primeira infância à vida adulta, buscando entender
as fases das quais a criança precisa passar para desenvolver-se a partir da
linguagem.
Por fim, faremos um paralelo entre os conceitos de língua e linguagem,
buscando compreender as definições que cada termo apresenta.
CONTEXTUALIZANDO
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humano funciona, como o ser humano pensa, aprende e, principalmente, como
ele se comunica.
Isso se confirma a partir do estudo de Skinner, Vygotsky, Piaget, Broca,
Chomsky, Geschwind, Fodor, Lenneberg, Miller e outros. Teóricos da Filosofia,
Psicologia, Neurologia, Memória, Linguística, Gramática, Fisiologia, Anatomia,
Antropologia e outras áreas do saber, se debruçaram sobre essa temática na
busca de entender como o homem funciona.
O primeiro aporte importante a respeito da linguagem foi realizado pelo
médico francês Paul Broca, no ano de 1864, quando, em estudo com pessoas
que não conseguiam falar, descobriu que estas apresentavam lesões no
hemisfério esquerdo do cérebro; por outro lado, Karl Wernicke, na Alemanha,
descobre que as lesões no hemisfério direito mantêm nas pessoas a fluência da
fala, mas altera sua compreensão.
Os dois aportes estão relacionados à linguagem, pois para que sua
aquisição seja completa, há que manter a compreensão da realidade,
juntamente com as estruturas básicas da audição e da fala.
A partir desses estudos, vários autores se puseram a pesquisar como a
linguagem se desenvolve nos seres humanos, desde o início da vida, buscando
compreender como as estruturas cerebrais se desenvolvem na criança e como o
surgimento e a aquisição gradativa da linguagem se dá no seu interior.
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A aquisição da linguagem depende de fatores sociais e neurobiológicos,
em suma, são imprescindíveis as interações sociais e um bom desenvolvimento
das estruturas cerebrais para que o seu desenvolvimento se dê
significativamente.
Essa aquisição da linguagem também se dá a partir do processo de
aprendizagem, que o indivíduo terá ao longo da primeira infância. É importante
ressaltar que no desenvolvimento da linguagem vão influenciar fatores
biológicos, psicológicos e sociais. (Mazzafera e Sordi, 2002)
Esses fatores são de extrema importância no desenvolvimento da
linguagem, por isso a relevância de estar atento ao desenvolvimento da criança,
tanto pais, familiares e responsáveis, assim como professores, pois sabemos
que muitas crianças entram nas escolas muito cedo, umas a partir dos seis
meses, e quem acaba tendo mais contato com o desenvolvimento dessa criança
é o professor.
No que diz respeito aos fatores psicológicos podemos destacar a relação
estabelecida entre a mãe e o filho; quanto maior o vínculo e quanto maior a
qualidade das trocas afetivas e emocionais entre a mãe e o filho melhor será o
desenvolvimento da linguagem. Crianças em situação de vulnerabilidade social,
que sofrem maus tratos, abandono, violência dentre outros, podem vir
apresentar dificuldades e também atrasos no desenvolvimento da linguagem. A
relação parental deve ser vista e tratada com seriedade, pois exerce grande
influencia no desenvolvimento do processo de aprendizagem infantil. (Nogueira;
Altafim; Rodrigues, 2011)
Com relação aos fatores sociais, Vygotsky (1931), a partir da sua teoria
histórico-social, destaca que as trocas que o sujeito realiza com o meio vão
influenciar no desenvolvimento da aprendizagem. O referido autor evidencia que
todo aprendizado está baseado no conjunto das experiências culturais, as fases
iniciais do desenvolvimento da linguagem estão diretamente ligados a reflexos
condicionados, ou seja, o ambiente torna-se determinante nesse processo de
desenvolvimento.
Vygotsky (1931) afirma que:
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Assim percebe-se a importância de a criança estabelecer trocas com
meios que favoreçam sua aprendizagem, distante de brigas, situações de
violência, riscos e pobreza extrema, pois estes vão contribuir negativamente,
atrasando e dificultando seu desenvolvimento.
Conforme cita Araujo (2005), "A maneira pela qual as pessoas falam do
mundo está relacionada com a maneira pela qual o mundo é compreendido e,
em última análise, como essas pessoas atuam nele, e o conceito de mudança
revolucionária depende, em grande parte, da maneira pela qual o mundo é
estruturado pela linguagem" (Ecles, R.; Nohria, N., 1992, p. 58).
A forma como se compreende o que está à sua volta está intrinsecamente
ligada à forma como o indivíduo se expressa em relação à sua realidade.
Linguagem, além de simples expressão mecânica, biológica, é compreensão de
mundo, e a compreensão do mundo influencia diretamente na forma com os
seres humanos agem no mundo.
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ocorre um sinal, quais as descrições estruturais que podem ser apropriadas a
este sinal” (Chomsky, 1975: 115).
O autor aponta que a capacidade do ser humano de falar e compreender
uma língua deve ser entendida como algo inato, nesta perspectiva suscita a
teoria que tem como foco:
Uma gramática interna, que gera uma gama infinita de expressões que
casam perfeitamente com a gramática da linguagem utilizada pelos nativos,
conterrâneos da criança. Isso se processa de dentro para fora, mas somente se
efetiva se houver o estímulo externo. Somente conversando com a criança,
interagindo com esta, este mecanismo de nascença vai ser ativado e a
linguagem na criança vai se desenvolver.
Indo por outro caminho, Skinner apresenta sua teoria, postulando que a
criança não desenvolve a linguagem por si mesma, mas necessita de uma série
de fatores externos para que esta se desenvolva. Definindo-se como um
behaviorista radical, este teórico tem por objetivo epistemológico combater todo
pensamento voltado à uma função interna na explicação dos comportamentos
onde o meio, na sua concepção, tem um papel central. (Parot, 1978)
Baseando-se em estudos do comportamento dos animais, Skinner
entende que o comportamento humano, nesse caso, o processo de aquisição da
linguagem, é compreendido mediante uma cadeia de estímulo-resposta-reforço.
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Enquanto o meio oferece os estímulos linguísticos, a criança acaba por fornecer
respostas, compreendendo ou produzindo novas fórmulas linguísticas, o que
prontamente é reforçado pelos adultos que estão em seu entorno.
Esse reforço pode ser positivo, quando há o acréscimo ao estímulo
reforçador, ou negativo, quando há a remoção de alguns estímulos.
Independentemente de ser positivo ou negativo, “em ambos os casos, o efeito
do reforço é o mesmo: a probabilidade da resposta será aumentada” (Skinner,
1970, p.49).
Diante disso, há uma valorização do ambiente escolar por parte de
Skinner (1970), pois, é um espaço onde os comportamentos são reforçados a
todo tempo, mediante boas notas, promoções, diplomas, graus, medalhas e a
aprovação. Como reforçadores negativos, por muitos anos se utilizou a
palmatória e os castigos físicos, mas até hoje ainda prevalecem em muitos
espaços educacionais de forma negativa os estímulos verbais e morais.
Indo por uma outra vertente, diferente das de Chomsky e Skinner, surge o
epistemólogo Jean Piaget, com sua teoria da Epistemologia Genética, muito
conhecida também como teoria cognitiva.
Partindo dos processos biológicos da mente, Piaget explica que a
aquisição da linguagem se dá pela evolução cognitiva. Para este, quatro fatores
intervêm no desenvolvimento da linguagem da criança:
Sempre que uma situação nova surge, uma palavra nova, uma nova
forma de utilizar a palavra dentro de uma frase, ou até um conceito novo
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relacionado a um termo conhecido, o cérebro inicia um mecanismo de
adaptação, baseado num processo de equilíbrio das estruturas virtuais do
cérebro. A essas estruturas não reais, Piaget chamou Esquemas:
Saiba mais
Para saber mais sobre essas teorias, disponibilizamos abaixo algumas
sugestões de leituras:
BARCELOS, R. da S. de. As teorias de linguagem, as concepções de língua e a
metodologia adotada de ensino de língua portuguesa. In: Cadernos do CNLF,
Vol. XVII, Nº 03 - Minicursos e Oficinas. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2013.
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Disponível em: <http://www.filologia.org.br/xvii_cnlf/min_ofic/04.pdf>. Acesso em:
25 mai. 2018.
PAROT, Françoise. Algumas notas sobre as teorias da linguagem: Piaget,
Chomsky, Skinner. In: Análise Psicológica. 1978, II, 1:115-124. Disponível em:
<http://repositorio.ispa.pt/bitstream/ 10400.12/1928/1/1978_1_115.pdf>. Acesso
em: 25 mai. 2018.
RIBEIRO, Rafael Martins; PIRES, Ennia Débora Passos Braga. Fundamentos da
Epistemologia Genética e sua crítica à psicologia e educação tradicionais. In:
Educere: XII Congresso Nacional de Educação. Curitiba. Anais: PUCPR,
2015. 29941-29954. Disponível em:
<http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/20560_8804.pdf>. Acesso em: 25
mai. 2018.
Vamos iniciar este tema pensando como a criança adquire uma língua.
Podemos dar destaque para o fato que a criança adquire, pelo menos, uma
língua, seja essa oral ou manual.
Quando falamos desse processo de aquisição da linguagem na criança,
percebemos que esta parte de uma condição inicial, em que não domina uma
língua ou uma linguagem, para uma condição final, a qual passa a dominá-la.
Podemos destacar que, à medida que a aquisição da linguagem é vista
enquanto fenômeno natural num sentido amplo, decorre de um meio verbal de
expressão e interação social. Neste sentido deve-se levar em conta a língua
natural do falante e o contexto social no qual esse se encontra, pois a criança
tende a se identificar em diálogos e atividades de interação entre adultos e
crianças (Lazarin, 2009).
O diálogo estabelecido entre a criança e o adulto torna-se significativo à
medida que esse servirá para o que chamamos de input para a língua produzida
pela criança a partir da relação de interação da língua com quem ela interage. A
respeito deste modo complementa Lemos (1989, p. 5):
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considerar a criança como um sujeito já constituído, capaz de
uma análise categorial dessa fala, o que é não só incompatível
com qualquer proposta construtivista como um obstáculo que
impede o investigador de identificar os processos pelos quais a
criança passa dessa dependência dialógica – ou da condição de
interpretado – para o controle efetivo de sua posição discursiva –
ou para a condição de intérprete. A saber, intérprete do outro, de
si próprio e da linguagem como geradores de significado e
intenção.
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Vamos apresentar aqui as sequências de estágios percorridos pela
criança no seu desenvolvimento da linguagem, neste sentido destaca-se que as
idades apresentadas podem variar de criança para criança, porém as
sequências dos estágios, estas não variam (Brown, 1973).
Iniciamos então falando sobre os primeiros meses de vida, de três a
quatro meses a criança começa o balbucio, ela emite sons que não apresentam
significados, estudos (Bosch e Sebastián-Gallés (1997); Christophe e Morton,
1998) demonstram que nessa etapa a criança é capaz de distinguir a língua
materna de línguas estrangeiras, demonstrando sensibilidade e distinção das
estruturas e das propriedades da fonologia da língua natural.
Aos seis meses a criança continua a balbuciar, mas agora com uma
quantidade maior de sons; aqui a criança começa a formar várias sílabas, as
quais ela vai repetir inúmeras vezes, a exemplo: bá, bá, bá, bi, bi, bi.
Entre dez meses e doze meses o balbuciar da criança cria forma e ela
emite apenas os sons que escuta, começam também a estruturar os significados
desses sons, aqui as crianças apresentam alto nível de sofisticação em suas
habilidades de percepção da língua que serão relevantes na aprendizagem do
léxico da sua língua materna. Assim as crianças se encaminham para iniciar
suas primeiras palavras (Petitto e Marentette, 1991).
Com um ano de vida completo a criança, além de balbuciar, já emite os
sons de suas primeiras palavras, que vão denominar o que está ao seu entorno
como “papai”, “mamãe”, “nhanha”, dentre outros. Nesta fase seus enunciados
são formados por apenas uma palavra que pode ter significado de uma sentença
completa. McNeil (1966) estudou um bebê de 15 meses, que usou a palavra
door (“porta”) para significar “feche a porta” e water (“água”) para significar “tem
água em meus olhos”.
Nesta fase de um ano é comum que a criança se utilize de gestos para
também se comunicar, como indicar algo que deseja ou levantar os braços para
quem está a sua frente, indicando que deseja o colo (Grolla, 2006).
A partir de um ano e meio a criança já começa a produzir de dez a
cinquenta palavras e algumas frases de no máximo duas palavras. Nesse
momento já começa a chamar a atenção para receber resposta verbal de um
adulto (Rotta, 2006).
Ainda segundo Rotta (2006), aos dois anos, já produz de cento e
cinquenta a duzentas palavras e frases de três palavras, e já tem a capacidade
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de nomear objetos quando solicitada. Aos três anos, sentenças gramaticais já
podem ser observadas (artigos, preposições, plurais), além de já formular
questões. Entre os 4 e 6 anos, já é esperada completa inteligibilidade para a
fonologia do português e do inglês.
É importante destacar que se espera que essas etapas surjam nas
crianças que possuem suas estruturas cognitivas em perfeito funcionamento, em
caso de deficiência ou patologia, esse processo muda e precisa ser
acompanhado e estudado.
FINALIZANDO
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É a partir de uma busca científica, seja ela neurológica, social,
antropológica ou filosófica, que seja responsável e respeite a condição humana,
que essa capacidade que é inerente ao homem vai sendo entendida e
compreendida a cada nova descoberta.
Está muito claro que nenhuma das teorias apresentadas nesta aula
apresenta ideias conclusivas sobre as ciências que estudam a linguagem
humana. Elas estão em evolução e a cada dia aprendemos mais.
É necessário que mais estudiosos, independente de qual vertente ou área
científica sigam, se debrucem sobre essa temática e busquem compreender como
nós construímos nossa forma de falar. Somente assim poderemos nos comunicar
melhor e educar melhor.
LEITURA OBRIGATÓRIA
Saiba mais
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240-251. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=s>. Acesso
em: 24 maio 2018.
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REFERÊNCIAS
ATKINSON, R. L.; ATKINSON, R. C.; SMITH, E.E., BEM, D.J. & NOLEN-
HOEKSEMA, S. Introdução à psicologia de Hilgard. 13. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2002.
BROWN, R. A first language: the early stages. London: George Allen & Unwin
Ltd, 1973.
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GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E
APRENDIZAGEM. São Paulo: UNESP-SP, maio 2011.
PETITTO, L.; MARENTETTE, P. Babbling in the manual mode: evidence for the
ontogeny of language. Science 251: 1483-1496.
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SKINNER, B.F. Ciência e comportamento humano. Brasília: Universidade de
Brasília, 1970
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