Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
11 Nº 3, 2017
50
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
51
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
52
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
53
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
54
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
polifonia. Vive-se um tempo comunicacional que no processo dos avanços tecnológicos, a ideia de
faz das plataformas, conteúdos e recepção um controle social da massa urbanizada no pós-
campo especialmente emblemático nesta conflito e o uso utilitarista dos novos meios por
sociedade mundializada do terceiro milênio parte dos governantes. Ele nos informa que no
(ORTIZ, 2006). A televisão como conhecemos entre guerras houve um grande incentivo à
em sua criação já não é mais a televisão que pesquisa em comunicação e investimento no
temos hoje, como afirma o professor Sergio desenvolvimento de novas tecnologias. Aduz
Romero6 (2015), entrevistado para este estudo, ainda que, em 1914, modernos veículos de
“La televisión no es más la televisión. Es una comunicação de massa já estavam disponíveis em
plataforma entre muchas y muchos servicios en vários países ocidentais (europeus e
esas plataformas”. estadunidenses) e, ainda assim, o crescimento
É no período classificado por Hobsbawm desta indústria no período beligerante foi
(1995) como “Era dos Extremos” que veremos a espetacular:
estruturação e desenvolvimento contínuo das
A circulação dos jornais nos EUA cresceu
tecnologias da comunicação, a significação de muito mais rápido que a população, dobrando
7 entre 1920 e 1950, vendia-se entre trezentos e
“massa” e a desestruturação da massa dando trezentos e cinquenta jornais por cada cem
homens, mulheres e crianças num país
espaço a cibercultura (NEGROPONTE, 1995) e desenvolvido típico (HOBSBAWM, 1995, p.
a comunicação individualizada da era digital, 192-194).
55
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
processo beligerante do segundo conflito mundial (WRITE, 1960 apud WOLF, 2012, p. 56).
para alimentar a ideia da mídia e da propaganda enfáticos em afirmar que os EUA são os grandes
como um ser maior dentro do espaço social. Para beneficiários das duas grandes guerras no
além da famosa obra de Orson Welles – a continente europeu, e que o avanço tecnológico
“Guerra dos Mundos” apresentada na rádio CBS proveniente do período ajudou a sedimentar a
suposta invasão de marcianos e que dá uma Sader (2004) propõe que os EUA têm
, a eleição de F.D. Roosevelt em 1932 inaugura o nova potência hegemônica dentro do capitalismo,
pública. Como aponta Mattelart (2003), “trata-se montagem de um gigantesco complexo industrial
de mobilizar a população em torno dos programas que nunca mais seria desmontado. Enquanto as
do Welfare State, a fim de sair da crise. Nascem demais economias ocidentais sofriam com a
escala global dos avanços comunicacionais, mais avançada do mundo, com o domínio sobre
mensagens que ainda antes do advento da internet todo o continente americano conseguiram uma
passam a serem transmitidas através de grandes extensa base de apoio para sustentado na
eletrônica e a configuração geopolítica para (1995) classificou como “Os anos dourados”,
exploração desse mais novo avanço tecnológico. ainda que esta “Era”, nas palavras do historiador,
não tenha sido tão revolucionária. Ora, os EUA
56
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
simplesmente continuaram a expansão dos anos tipo de império completo, se não único.
Economicamente superior e maciçamente
da guerra que foram muito bons para o país. Não armado, policiando o mundo e, ao mesmo
tempo, professando a liberdade e a
sofreram danos e ainda aumentaram o seu PIB em democracia. Para um policial, é necessário
localizar e prender os inimigos. Por tanto, o
dois terços. A era de ouro foi um fenômeno enredo dos sessenta anos seguintes da história
mundial, embora a riqueza geral jamais chegasse norte-americana se assemelhará a um padrão
que já ocorreu, sob o modelo de atividades
à vista da maioria da população. Para esta, as secretas crescentes, desconhecidas para o
povo do império; cada vez mais guerras
décadas seguintes, à chamada era de ouro regionais; e uma forma de controle imposta
repetidas vezes (STONE; KUZNICK, 2015,
ocidental, os anos de 1970 e 1980 mais uma vez p. 172)
foram de sofrimento e catástrofe para o
Os países Latino-americanos e Caribenhos
continente africano e latino americano. “Era
alinhados a Washington, também buscavam se
clássica a imagem da criança exótica morrendo
inserir nessa luta pela devoção ao “mundo livre”
de inanição, vista após o jantar em toda tela de
e transformações globais. Seus ditadores e
TV do ocidente” (HOBSBAWM, 1995. p. 255).
oligarcas da comunicação, financiados pelo Tio
Durante todo o período acima, no pós-
Sam, iniciam a expansão das redes na região e
guerra e no processo conhecido como Guerra
adotam o modelo televisivo e estético
Fria, construído pelo sistema de comunicações
estadunidense, caso do grupo O Globo no Brasil,
estadunidense ou sob influência deste – que,
Clarín na Argentina e Global Vision na
expandiu-se e passaram a atingir milhares de
Venezuela, entre outros.
pessoas ao redor do globo –, os jornais
Signos não verbais são a principal ação
denominaram o “mundo livre”, ou seja, os
estética a ser explorada pela nova mídia, a mídia
Estados aliados aos EUA. Os países do “mundo
eletrônica, a bandeira estadunidense tremulando
livre”, a despeito do problema de localização
associada ao bem, a luta democrática e a defesa
geográfica, passaram a ser parte do “Ocidente”. O
dos interesses da humanidade dará a tônica em
fim da Guerra Fria não foi o final do ocidente
seriados, jornais ou desenhos animados8.
ideológico, este englobava até mesmo o Japão.
A televisão, seguindo o modelo
Neste momento, o projeto político dos
hegemônico ditado, influenciará decisivamente o
EUA, também se transformava. Em busca de
discurso político. Os líderes globais passarão a se
hegemonia global redesenhava seu projeto de
orientar por especialistas em marketing e
dominação e supressão internacional para as
comunicação, que participam da elaboração de
próximas décadas. Alguns autores apontam o
slogans e interferirão no conteúdo dos programas
início desta transformação a partir do pós-
políticos dos Estados, promovendo adaptação às
segunda guerra:
57
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
58
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
59
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
maneira de imaginar o futuro será (2016), Bandeira (2014; 2004), Willians (2005),
compreendendo os cenários e identificar Coutinho (2011), Novion (2011), Santos (1998),
estratégias, sejam relacionados à dominação entre outros. Abordar a disputa hegemônica e a
hegemônica ou a emancipação (CECEÑA, 2004, reação contra hegemônica é contribuir para a
p. 5). Para isso também é necessário entender o quebra do espelho que reflete o retrato do
papel dos meios, o da televisão, sobretudo na colonizado precedido pelo retrato do colonizador,
formulação de imaginários, na contribuição para como sugere Memmi (1977).
a revolução passiva de que tratou Gramsci e a
consolidação dos interesses capitalistas e o TV Pública no Brasil e na Argentina
espraiamento da ideologia dominante entre parte
significativa dos dominados através da guerra de Na América Latina a rádio difusão pública
posições. Como explica Sader, (2012, p. 8): “A era um assunto que até poucos anos não estava na
esse movimento de cooptação dos dominados agenda do dia. O impulso é dado com o enxame
passiva”, um processo pelo qual se muda a forma precipitam na região durante os anos 1990 e com
da dominação, mas se mantém sua substância”. a ruptura do modelo televisivo proporcionado por
Destes elementos propostos por Gramsci e Hugo Chaves em 2005 na Venezuela ao criar a
método e conteúdo na ação das elites globais pela que influenciaria a criação da brasileira EBC e da
manutenção do poder e contra a emancipação rede pública argentina TDA, foi vivido com duros
2009; SADER, 2012, 2004; CECEÑA, 2004). hegemônicos. Ao criar a Televisão do Sul os
Nesta perspectiva multidimensional, Hall líderes locais deram um passo alternativo contra
se pensar a representação desde a sua revisão e calcula (MARTEL, 2012) que à época, 95% das
renovação do paradigma marxista. Sua obra tem notícias internacionais e da própria América
uma implicação direta sobre a questão da Latina eram geradas e/ou replicadas para a região
“suficiência” das teorias sociais atuais, sua pelas redes televisivas ocidentais, EUA e Europa.
contribuição teórica se situa na direção em que Martel (2012) aponta que as grandes redes
torna mais complexas as teorias e os complexos estadunidenses, a inglesa BBC, a alemã Deutsch
problemas deste novo momento histórico. Assim Welle, a TVE espanhola, e as francesas TV 5 e
que para consolidar essa atenção do objeto France 24, são responsáveis pela massa
tratado mobilizamos ainda autores como Moraes significativa de informações geradas sobre a
60
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
região, e que os grupos locais, em sua maioria, A mudança de papel do Estado frente ao
reproduzem em plataformas variadas o que é sistema de mídias, principalmente em relação às
consumido pelo cidadão local. Principalmente as mídias gerenciadas pelo próprio governo,
informações e análises sobre os governos provocou significativas mudanças em diferentes
populares e progressistas daquele momento. países da região, caso da Argentina que em 2009
Nesta atual fase do capital sem amarras e durante gestão de Cristina Kirchner promulgou a
das imposições econômicas dos países centrais Lei 26.522, Ley de Servicios de Comunicación
sobre as economias periféricas, onde Santos Audiovisual, conhecida como Ley de Medios, e a
(2004) afirma que a noção mais tradicional de partir desta lei com o impulso popular oferecido a
Estado torna-se difusa diante das condições estas transformações, adotou o modelo Nipo-
políticas e econômicas em face das revoluções brasileiro de TV Digital, o Ginga.
tecnológicas que influenciam as economias e É importante chamar a atenção que a Ley
políticas em escala mundial, a TV pública, de Medios e a implantação da TV Digital não
nacional ou transnacional, pode exercer um papel foram processos unificados, harmonizados em
de suma importância ao promover as diversas sua constituição. Conforme explica o especialista
culturas e grupos étnicos que formam a grande Federico Balaguer11 em entrevista para esta
nação latino-americana, reforçando a noção de pesquisa, também envolvido, durante o governo
identidade e pertencimento local (RAMOS, Cristina Kirchner na definição do padrão para a
2012). TV Digital e Interativa local.
Como visto, diferentes fatores políticos, Esse encontro aconteceu na cidade de
econômicos, socioculturais e tecnológicos Buenos Aires no momento em que ocorria a
alteraram consideravelmente o papel da América campanha eleitoral para a presidência argentina,
Latina no panorama mundial no alvorecer do para a escolha do substituto da Presidente
Século XXI. Cristina Kirchner, cujo processo se concretizou
Pontuando o ano de 2005 como com a eleição do oposicionista Mauricio Macri,
referência, observa-se que em vários países, as corria o mês de Agosto de 2015, e sobre o tema
mídias públicas emergem como concorrência dos perguntamos a ele: ¿Podemos decir que la
grandes grupos hegemônicos. A partir deste regulación de los medios abre espacios para la
momento, com a criação da TeleSur, a discussão TV digital o la TV digital abre espacios para
se estendeu para toda América Latina e perpassou descansar la regulación de los medios... una
grupos privados e diferentes governos. O debate necesidad de avanzo tecnológico?
principal se concentrou na resistência dos grandes
conglomerados à revisão das condições sob as
11
Doutor em Ciência da Computação, e membro do
quais operam e que concede a eles lucros
Laboratorio de Investigación y Formación en Informática
monstruosos. Avanzada. LIFIA, na Universidade Nacional de La Plata,
coordenador de desenvolvimento de aplicações interativas.
61
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
62
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
comunicação e democracia, e mais à relação entre longo da história do país, e recrudescida durante
seria, conforme essa visão, resultante automática subjugado pelo governo estadunidense.
63
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
governo Reagan, de forte matriz neoliberal, ao quase travaram o avanço e outros a serem
revogar a “Fairness Doctrine” [princípio da superados.
imparcialidade] que exigira que as emissoras de Narrativas de construção do processo,
rádio e TV, desde a década de 1940, oferecessem antes e depois, e revisões necessárias ao período,
cobertura adequada e imparcial para pontos de podem ser acompanhadas em Becerra (2015;
vista antagônicos sobre questões de importância 2017), Lazzaro (2010 e 2015) e em Aharonian
pública. Na onda de transformações da década, (2015). O jornalista Luis Lazzaro, a quem
após este ato, o governo hegemônico e suas entrevistei numa loja da cafeteria estadunidense
agências de pressão externa, iniciaram o trabalho Starbucks, numa manhã de inverno na Avenida
para desregulamentação e maior liberalização dos Rivadavia em Buenos Aires, apoiador crítico do
meios de comunicação no hemisfério, comprando processo argentino e demandante de mais ações
e/ou se associando com grupos de comunicação estatais para a absorção social da nova tecnologia,
locais, tentando influenciar na política nacional. enxerga a dificuldade de ação rápida do governo
Caso da Argentina, onde o jornalista Jorge Lanata como desenvolvido comercialmente, uma das
expôs um dos vários processos de aquisição: travas para a consolidação da TV Digital por lá:
64
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
desarrollo de la Televisión Digital Abierta mídia”, enfatiza que a mídia hegemônica está
tiene, por un lado, un mercado completo de
sectores de muy bajos recursos que no envolta no verdadeiro paradoxo. Por nunca ter
pueden pagar televisión de cable o satélite, y
eso es una limitación de mercado para el sido tão poderosa no mundo e no Brasil, como no
anunciante. Y por otro lado, depende del
retorno por internet para proponer otro tempo presente, isso, decorrente dos avanços
modelo de negocios. Lo que no está tecnológicos nos ramos das comunicações e das
desarrollado en la Argentina y creo que está
más trabajado en Brasil, son las aplicaciones telecomunicações, coadunando com Santos
sociales que puede tener la Televisión
Digital. Argentina no ha desarrollado (2004), fruto do intenso processo de concentração
prácticamente nada en este sentido, y yo creo
que ese es otro problema que hace a que no e monopolização do setor nos últimos decênios e
se instale la TV Digital culturalmente como
un recurso de comunicación que no es da criminosa desregulamentação do mercado,
solamente el entretenimiento o la fruto do período neoliberal dos anos 1990, que a
información, sino también servicios.
Argentina no tiene servicios incorporados en deixou livre de qualquer controle público.
la plataforma de Televisión Digital. Y ahí yo
creo que hay un problema que se puede Dentro deste imaginário construído, de
resolver, digamos, eso es algo que tiene
posibilidad de desarrollo para adelante, pero uma Geopolítica da palavra (Lazzaro, 2015),
como te dije requiere políticas que lo
impulsen. (2015.Entrevista para o autor). adentra-se ao Brasil, onde desde os anos 1950
existe uma verdadeira batalha entre governos,
Mais incisivo e partindo do mesmo lugar
movimentos sociais e a mídia conservadora.
retórico que Jesica Tritten e Luis Lazzaro, o
No Brasil, a história da radiodifusão,
uruguaio jornalista Aharonian (2015) afirma que
desde seus primórdios, foi marcada pela
a nova arma mortal e moderna para o controle
prevalência dos interesses do mercado em
populacional se chama meios de comunicação,
detrimento do interesse público. Característica
que em mãos de umas tantas corporações
essa percebida nos processos de consolidação do
praticam o terror midiático cartelizado,
rádio e, mais tarde, de formação da televisão. As
internacionalizado e se convertendo no
TVs públicas no Brasil configuram um campo
disparador de planos de desestabilização dos
complexo. Apesar de terem em comum uma
governos populares e de restauração da velha
“aura pública”, são canais com características
ordem neoliberal. O que o jornalista argentino
bem distintas, processos próprios de construção e
Luis Lazzaro chama de “batalha da
consolidação. Apresentam origens, práticas e
comunicação”, Aharonian chama de batalha
objetivos distintos. Porém, legalmente, o controle
cultural, diz que estamos numa guerra pela
sobre a radiodifusão brasileira é público, e cabe
imposição de imaginários coletivos que se dá
ao Poder Executivo conceder e renovar
através dos meios cibernéticos, audiovisuais e
concessões para esse serviço, como regulamenta
gráficos.
o art. 223 da Constituição Federal (CF) de 1988:
O que Aharonian denomina como “terror
“compete ao Poder Executivo conceder e renovar
midiático”, o brasileiro Altamiro Borges (2009,
concessão, permissão e autorização para o serviço
p.13) classifica como sendo a “ditadura da
de radiodifusão sonora e de sons e imagens,
65
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
66
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
67
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
Como o senhor (a) enxerga o nosso sistema dessa regra. (CARVALHO, 2017. Entrevista
de concessões de outorgas para para o autor).
funcionamento de rádios e TVs?
Eu penso que vamos ter que fazer no país, Os depoimentos para essa pesquisa, tal
para viver uma democracia verdadeira, uma
mudança, mais que uma reforma, uma qual o trecho ilustrativo de Gilberto Carvalho,
revolução na questão de toda a mídia e de
todos os meios de comunicação. A legislação desconstroem a visão apresentada por aqueles que
brasileira contém imprecisões e mais que
isso, contém deformações que privilegiam o alegam não terem conhecimento de proposta de
uso econômico. Os meios não estabelecem alternativa comunicacional. Verdade seja dita, os
nenhuma limitação aos oligopólios, nem ao
próprio monopólio... muito restrita do ponto cidadãos nunca foram de fato expostos a uma
de vista de acesso democrático ao poder dos
meios de comunicação. Mas, sobretudo, acho forte alternativa com recursos e disposição
que a deformação mais grave é que a
concessão dos meios de comunicação, fica política, como no caso argentino, de concorrer
ao livre arbítrio, sem maiores exigências num
jogo entre poder legislativo e poder com os grandes agentes da televisão comercial,
executivo. Durante o período de governo esse embate aqui não aconteceu. Se o presidente
Lula/Dilma houve alguma tentativa de
mudança ou atualização desse processo? Lula, em seu segundo mandato, deu o passo para
Parte do movimento social fez um grande
debate, porque você entende que isso não a unificação da rede pública e ensaiou o apoio a
foi apropriado pelo executivo? Quais as
forças que estavam ali bloqueando esse uma alternativa às redes comerciais, não se
processo?
Nós tivemos ao longo dos nossos governos desvencilhou da histórica subordinação do
inúmeros movimentos, inúmeras tentativas da executivo brasileiro às dinastias familiares; às
sociedade civil em se organizar. Se
organizaram e pressionaram o governo. A estratégias de comercialização do espaço público
construção da conferência da comunicação
que foi um marco muito importante, com repetindo o modelo comercial; à subordinação de
muita polêmica, talvez tenha sido o marco
mais avançado, a construção da EBC. Porém, informações de interesse coletivo a ambições
o governo Lula foi um dos governos que mais
fechou rádios comunitárias em seu primeiro lucrativas. Essas práticas tiveram continuidade no
mandato, foi uma aliança muito ruim entre o governo Dilma Rousseff em seu primeiro
Ministério da Justiça, a Anatel e a associação
brasileira de rádio difusão. Depois, durante o mandato e foram acirradas ao tirar poder da
segundo governo Lula, aí tem o mérito do ex-
ministro Franklin Martins que desenvolveu empresa pública, cortar investimento e aumentar
um trabalho de construção de uma reforma
das regras, das leis da mídia, quando nós as dotações orçamentárias para os meios
tínhamos em tese uma correlação de forças
bastante favorável para poder realizar essa hegemônicos tradicionais, conforme pesquisa do
medida. Infelizmente o governo Lula jornal Folha de São Paulo 15.
demorou para fazer o envio do projeto para a
câmara e naturalmente quando a Dilma Greves, manifestações por independência
assumiu ela teve uma atitude contrária a esse
projeto, mandou congelar. É evidente que e melhoria da qualidade do serviço oferecido pela
isso corresponde a uma imensa pressão que
os meios de comunicação (os grandes) Empresa Brasil de Comunicação foram o
fizeram sobre o governo. É difícil dizer isso,
mas tanto o governo Lula quanto o Dilma, resultado do ato pioneiro do governo Lula, mas
confiaram mais na capacidade de relação com resignado com a reação da elite nacional, à
os donos dos meios de comunicação do que
propriamente na necessidade de mudança
15
Disponivel em:< http://www.sul21.com.br/jornal/globo-
trabalhando na liderança da minoria no Senado Federal, lidera-ranking-dos-investimentos-de-publicidade-do-
porém, havia sido ministro dos governos Lula e Dilma. governo-federal/ > Acesso em 22 de Julho de 2016.
68
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
69
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
70
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
71
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
Mídia e racismo / Roberto Carlos da Silva Borges Estado – Volume 31 Número 1 Janeiro/Abril
e Rosane Borges (orgs.). - 2016.
Formas. 4.ed. -- São Paulo : Expressão Popular, LAZZARO, Luís. Geopolítica de la palabra:
2011. reflexiones sobre comunicación, identidad y
autonomia. 1º Ed. Ciudad Autónoma de Buenos
DAVIS, Mike. Planeta Favela. Tradução de Aires: Fundación CICCUS, 2015.
Beatriz Medina. São Paulo: Boitempo, 2006.
La batalla de la comunicación: De los tanques
DUSSEL, Enrique. Transmodernidade e mediáticos a la ciudadanía de la información. –
interculturalidade: interpretação a partir da 1º Ed. – Buenos Aires: Colihue, 2010
filosofia da libertação. Revista Sociedade e
72
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
LOCASTRE, Aline Vanessa. (tese). Seduções Pesquisas sobre as Américas (REPAM). Brasília.
impressas: a veiculação do paradigma 2014.
estadunidense no Brasil em tempo de segunda
guerra mundial. Curitiba: Universidade Federal NOVION, Martin Léon Jacques Ibañez de. Las
do Paraná, 2017. Últimas Fronteras del Sistema Capitalista:
Hegemonía, Integración Económica y Seguridad
LOZANO, Mario. Un Compromiso Sostenido. en las Américas. La Amazonía y el futuro en
IN: ARGENTINA. Leyes. La ley de la questión. (Tesis). Universidad Nacional
comunicación democrática 26.522.- 1º ed.- Autónoma de México. Faculdad de Filosofía y
Bernal: Universidad Nacional de Quilmes; Letras.Posgrado en Estudios Latinoamericanos.
Defensoria del Público de Servicios de México, DF, 2009.
Comunicación Audiovisual, 2013.
ORTIZ, Renato. Mundialização: saberes e
MEMMI, Albert. Retrato do colonizado crenças. São Paulo: Brasiliense, 2006
precedido pelo retrato do colonizador;
tradução de Roland Corbisier e Mariza Pinto RAMOS, Jorge Abelardo. Historia de la nación
Coelho. 2º ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. Latinoamericana. 1º ed. – Buenos Aires:
Continente, 2012.
MARTEL, Fréderic. Mainstream: a guerra global
das mídias e das culturas. Trad. Clóvis Marques.- SADER, Emir. SADER, Emir. Gramsci: poder,
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. política e partido. Organização: Emir Sader;
Tradução Eliana Aguiar. – 2º edição. São Paulo:
MATTELART, Armand e Michèle. História das Expressão Popular, 2012.
teorias da comunicação. Trad. Luiz Paulo
Rouanet. São Paulo: Edições Loyola, 2003. Hegemonia e Contra-hegemonia. In:
Hegemonías y emancipaciones en el siglo XXI.
MEIRELES, Renato. ATHAÍDE, Celso. Um país Org. Ana Esther Ceceña. Buenos Aires:
chamado favela: a maior pesquisa já feita sobre CLACSO, 2004.
a favela brasileira. – São Paulo: Editora Gente,
2014.
MIGNOLO, Walter. Retos decoloniales, hoy. SAID, Edward W. Orientalismo: O oriente como
Los desafíos decoloniales de nuestros días : invenção do ocidente. Tradução Tomás Rosa
pensar en colectivo / Walter Mignolo ... [et.al.] ; Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
compilado por María Eugenia Borsani y Pablo
Quintero. - 1a ed. - Neuquén : EDUCO -
Universidad Nacional del Comahue, 2014. SANTOS, Hamilton Richard A. F. A revolução
não será televisionada (?!). O caso comparado
da TV pública no Brasil e na Argentina. Tese.
MORAES, Denis. Crítica da mídia e hegemonia Departamento de Estudos Latino Americanos.
cultural. 1º edição. Rio de Janeiro: Mauad X: Universidade de Brasília, UNB, 2017.
Faperj, 2016.
___________________________. Imagem e
NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. Trad. discurso: uma análise do programa Nova
Sérgio Tellaroli.- São Paulo: Companhia das África da TV Brasil. Dissertação. Universidade
Letras, 1995. Católica de Brasília, UCB, 2014.
NOVION, Jacques; COSTLHA, Lucio Oliver; SANTOS, Maria do Carmo Rebouças da Cruz
AYALA, Mario. Pensamento, Teoria e Estudos Ferreira dos. A cooperação Sul – Sul (CSS)
Latino-americanos. In Dossiê Especial: para a reorientação dos imaginários e práticas
Pensamento e Teoria nos Estudos Latino- do desenvolvimento: os caminhos da cooperação
americanos. V8.Nº2. Revista de Estudos e entre Guiné Bissau e Brasil. (tese). Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento, Sociedade
73
REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017
SANTOS, Milton. Por Uma Outra WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de
Globalização: Do Pensamento Único A massa. Trad. Karina Jannini.- 6º ed. – São Paulo:
Consciência Universal. Editora: Record, São WMF, Martins Fontes, 2012.
Paulo, 17º Edição, 2004.
74