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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.

11 Nº 3, 2017

DOI: 10.21057/10.21057/repamv%vn%i.%Y.27820 Resumen


Recebido: 08-11-2017 Se busca analizar las transformaciones ocurridas en el
Aprovado: 15-12-2017
ámbito de las TVs Públicas de Brasil y Argentina en el
período de gobierno comprendido entre el segundo
Audiovisual, Hegemonia e contra mandato de Luiz Inacio Lula da Silva, primer mandato de
Hegemonia - O caso comparado da TV Dilma Vana Rousseff y los dos mandatos electivos de
Pública no Brasil e na Argentina Cristina Fernandes de Kirchner. Analizamos el proceso
político que llevó a la creación de TV Brasil asociada a la
Empresa Brasil de Comunicación y de la TV Digital
Richard Santos1 Abierta en Argentina. Cotejamos la influencia de Telesur,
Jacques de Novion2 multiestatal de matriz venezolana y los desdoblamientos de
esos emprendimientos como derecho humano la
comunicación democrática, plural y emancipatoria.
Exploramos la geopolítica de la comunicación en América
Resumo Latina; la formación de los Estados Nacionales y de sus
Como proposta central, busca-se analisar as transformações elites relacionadas con los monopolios y oligopolios
ocorridas no âmbito das TVs Públicas do Brasil e Argentina comunicacionales dependientes; la influencia estadunidense
no período de governo compreendido entre o segundo en la cooperación técnica para el desarrollo de las
mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro mandato de
tecnologías de la comunicación en la región; imposiciones
Dilma Vana Rousseff e os dois mandatos eletivos de
en cuanto al desarrollo y estética blanca de las
Cristina Fernandes de Kirchner. Com o objetivo de ilustrar programaciones para la región que forman escenarios de
a investigação, analisamos o processo político que levou a
representación en desacuerdo con el caudal multicultural
criação da TV Brasil associada à Empresa Brasil de local; los procesos reactivos nacidos en los gobiernos
Comunicação e da TV Digital Aberta na Argentina. progresistas que en el período avanzaron por el continente;
Cotejamos a influência desses processos locais relacionados los miedos, descaminos y conciliaciones que impidieron la
com a criação da Telesur, empreendimento multiestatal de
concreción de la emancipación.
matriz venezuelana e os desdobramentos desses
Palabras clave: Televisión pública. Hegemonía y Contra-
empreendimentos como direito humano a comunicação hegemonía. Mayoría Minorizada; Pluralidad racial.
democrática, plural e emancipatória. Exploramos a
geopolítica da comunicação na América Latina; os Estados
Nacionais e suas elites relacionadas com os monopólios e Audiovisual, Hegemony and Counter Hegemony
oligopólios comunicacionais dependentes; a influência - The Comparative Case of Public TV in Brazil
estadunidense na cooperação técnica para o
desenvolvimento das tecnologias da comunicação na
and Argentina
região; imposições estadunidenses quanto ao
desenvolvimento e estética branca das programações para a Abstract
região que formam cenários de representação em desacordo Sought to analyze the transformations that took place in the
com o caudal multicultural local; os processos reativos scope of Public TVs of Brazil and Argentina in the period
nascidos nos governos progressistas que no período of government comprising the second term of Luis Inácio
avançaram pelo continente; os medos, descaminhos e Lula da Silva, Dilma Vana Rousseff's first term, and the
conciliações que impediram a concretização da two elective terms of Cristina Fernandes de Kirchner. As
possibilidade emancipatória. the objective to illustrate the research, we analyzed the
Palavras-chave: Televisão pública. Hegemonia e Contra- political process that led to the creation of TV Brasil
hegemonia. Maioria Minorizada. Pluralidade racial. associated with Empresa Brasil de Comunicação and Open
Digital TV in Argentina. The influence of these local
processes related to the creation of Telesur, a multi-state
Audiovisual, Hegemonía y contra Hegemonía - enterprise of Venezuelan matrix and the unfolding of these
El caso Comparado de La TV Pública en Brasil y enterprises as a human right to democratic, plural and
Argentina emancipatory communication. Explored the geopolitics of
communication in Latin America; The National States and
their elites related to monopolies and dependent
oligopolies; The US impositions regarding the development
and white aesthetics of the schedules for the region that
1
Doutor em Ciências Sociais pelo Departamento de Estudos form scenarios of representation in disagreement with the
Latino-Americanos da Universidade de Brasília, ELA- local multicultural flow; The reactive processes borned in
UNB. Membro do Grupo de trabalho Clacso em pesquisa e the progressive governments that in the period advanced by
audiovisual na era digital, pesquisador do Grupo de Estudos the continent; The fears, misunderstandings and
Comparados México, Caribe, América Central e Brasil, conciliations that prevented the realization of the
MECACB – UNB. E-mail: prof.richardsantos@gmail.com emancipatory possibility.
2
Professor e pesquisador do Departamento de Estudos Key words: Public television. Hegemony and Counter-
Latino-Americanos (ELA). Instituto de Ciências Sociais hegemony. Majority Minorized. Racial plurality.
(ICS). Universidade de Brasília (UnB). E-mail:
jacques.novion@gmail.com

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Introdução Secundariamente, a elaboração da


pesquisa teve como objetivo compreender o lugar
Desde um olhar transdisciplinar como
de visibilidade das Maiorias Minorizadas dentro
propõe Dussel (2016, p. 57), trazendo para esta
destas reconfigurações televisivas na região.
narrativa investigativa o local de origem e
Questiona-se se este momento ímpar para a
construção da fala do investigador, associada ao
política regional, de governos considerados
pensamento de Mignolo (2016, p. 287), para
progressistas e com políticas de inclusão social e
quem a “desobediência civil sem desobediência
racial, trouxe subsídios para o desenvolvimento
epistêmica permanecerá presa em jogos
de uma televisão pública mais sócio-racialmente
controlados pela teoria política e pela economia
diversificada conforme pretendido em seus
política eurocêntrica”, este artigo busca
documentos de fundação 4, ou se continuou a
apresentar os resultados alcançados com a
implementar a estética e perfil hegemônico,
pesquisa e elaboração de tese de doutorado3, e
comercializado e difundido pelas emissoras e
tem como objetivo principal analisar, a partir de
redes dominantes, produtoras e reprodutoras dos
uma perspectiva transdisciplinar, as
padrões sistêmicos. Neste sentido, como são
transformações ocorridas no âmbito das TVs
apresentadas, construídas as representações da
Públicas do Brasil e da Argentina,
realidade na mídia pública? Dito de outra
particularmente entre o segundo mandato de Luiz
maneira, como a comunicação pública poderia
Inácio Lula da Silva e o primeiro mandato de
gerar informação independente das relações
Dilma Vana Rousseff (2006-2013) e os dois
mercantilizadas de seus congêneres comerciais e
mandatos de Cristina Fernandes de Kirchner
contribuir na formação cidadã e emancipadora de
(2007-2015).
seu público receptor, o sujeito cidadão.
Com efeito, analisa-se o processo político
que levou a criação da TV Brasil associada à 4
A Lei 26.522, Ley de Servicios de Comunicación
Empresa Brasil de Comunicação e da TV Digital Audiovisual, conhecida como Ley de Medios na Argentina
projeta-se como um instrumento inovador de regulação,
Aberta na Argentina. Observa-se a participação fiscalização, fomento e diversificação das atividades
informativas e culturais. As mudanças por ela introduzidas
da TeleSur, empreendimento multiestatal de têm o pressuposto de que a comunicação é um serviço
matriz venezuelana nesse processo e os ligado a um direito humano e, não um negócio lucrativo. Os
princípios antimonopólios visam garantir a pluralidade de
desdobramentos desses empreendimentos como vozes e a horizontalidade informativa, fixando um marco
regulatório abrangente para a comunicação midiática,
direito humano à comunicação democrática, incluindo convergência digital entre TV a cabo, telefonia e
Internet e um regime de outorgas em condições equitativas
plural e emancipatória. e não discriminatórias. No Brasil a lei 11.652 de 2008 que
cria a Empresa Brasil de Comunicação, em seu artigo 2o e
todos os seus incisos contemplam a necessária promoção a
diversidade, pluralidade e independência necessária que
uma televisão pública deve ter, inclusive em relação as
3 possíveis influencias da intervenção governamental.
Defendida no Programa de Pós-graduação em Estudos
Disponível em:
Comparados sobre as Américas-ELA-UNB, em 27/09/2017
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
por Hamilton Richard A. F. dos Santos, Richard Santos,
2010/2008/lei/l11652.htm>. Acesso em: 07 Fev 2017.
sob orientação de Jacques de Novion.

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Em diálogo com o avanço tecnológico e a 2006) é mote do tecido argumentativo para a


adoção das novas tecnologias digitais para o pesquisa e seu título. Sobre os textos televisivos,
audiovisual buscou-se perceber se a Televisão no dizer de Borges (2008), o que vemos é a
Pública reconfigurada transforma-se num fator realidade palpável ou produção fictícia?. Como se
determinante para a formação de cidadãos, constroem estas realidades no âmbito da televisão
estimuladora da emancipação social e não pública e como os construtores, programadores,
reprodutora de consumidores digitais acríticos. produtores e gestores sofrem essa influência
Como hipótese imediata, partiu-se para política e do modelo hegemônico são objeto
este estudo considerando, que o mesmo governo transversal ao propósito principal. Das
que criou a EBC, onde está alocada a TV Brasil, imposições dos monopólios midiáticos para a
não rompeu com os paradigmas hegemônicos da socialização controlada, como se a televisão fosse
comunicação televisiva brasileira, pois desde seu a reguladora dos fatos sociais, das coisas, é que
quadro diretor até seus jornalistas e descortina-se o papel da televisão pública, a
apresentadores não refletem a diversidade étnico- manutenção ou rompimento das hegemonias
racial do país, conforme analisado em Santos políticas, de conteúdo e estéticas.
(2014). Assim que, acompanhando as
Analisa-se a sociedade em que estamos transformações das TVs públicas na América
inseridos e suas intersecções, a espetacularização Latina e Caribe desde 2005 com a criação da
midiática da política, a relação da televisão e os Televisión del Sur, TeleSur, na Venezuela,
anseios das Maiorias Minorizadas, a percepção vivenciando a criação da TV Brasil e
dos governantes sobre as esperanças populares e acompanhando os debates e mobilização popular
o que se propõe a romper ou a manter, o avanço na Argentina, a investigação se propõe a
ou não das possibilidades emancipacionistas e a mensurar o quão real seria esta via
pressão hegemônica que faz historicamente os comunicacional contra-hegemônica, onde se
Estados Unidos da América na região, encaixa o possível contra discurso da TV pública
principalmente através de seu sistema de proposto pelos governantes, considerando o
comunicação. Ao final, com um olhar desde o caráter de determinante sígnico da televisão.
Sul, propõe-se a práxis da vida real. Todo esse processo de análise das
O problema de pesquisa, a percepção de possibilidades do veículo trazido para a
que existe uma revolução em curso no âmbito das investigação nasce, principalmente, observando a
Maiorias Minorizadas como apontam diversas transnacionalização das redes de comunicação,
investigações e publicações recentes (SANTOS, antes centradamente nacionais, e o deslocamento
2017; FELIZ, 2016; BERNARDINO-COSTA, dos centros irradiadores de informação, de
2015; FERRER, 2015; MEIRELES e ATHAÍDE, cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos
2014; CHAVES, 2011; SOUZA, 2009; DAVIS, Aires e Cidade do México, para cidades sedes de

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oligopólios midiáticos de países centrais do Produzindo o Que e para Quem?


capitalismo como Miami, Nova York, São
Francisco, Madri e Londres, conforme abordado Estabeleceu-se como fio condutor da
por diversos autores (LOCASTRE, 2017; pesquisa o campo epistemológico do que se
BECERRA, 2015, 2017; MARTEL, 2015, 2012; convencionou chamar decolonialidade. Com isso,
LAZZARO, 2015, 2010; BORGES, 2009; busca-se uma possível construção teórica, criando
BARBERO, 2009; SANTOS, 2004, 1998; uma análise crítica interagindo com pensadores,
ORTIZ, 2006) e associando essas mudanças a ativistas e críticos da colonialidade do saber,
imposição do capitalismo neoliberal na América- poder e do eurocentrismo acadêmico
Latina, com seus governos alinhados ao anticoloniais (QUIJANO, 2005; SAID, 1990).
Consenso de Washington, aprofunda-se a Definido o campo epistemológico de
compreensão sobre as transformações das pensamento, mobilizaram-se duas dimensões
plataformas comunicacionais associadas às teóricas que se articulam e se complementam
imposições aos países periféricos no âmbito das como a base que irá sustentar a tese defendida na
finanças, da indústria e da cultura que se movem pesquisa. Por um lado, as teorias e literaturas
cada vez mais em escala global. sobre o desvelamento e a discussão da hegemonia
Trouxemos essa percepção para comunicacional na América Latina e seu impacto
aprofundamento na pesquisa, o papel da nos processos de construção das TVs públicas no
Televisão Pública nesse processo, que do mesmo Brasil e Argentina, utilizando-se como referência
modo que a economia internacional não significa o processo venezuelano. Por outro, teorias e
apenas a soma das diversas economias nacionais, literaturas da desconstrução da homogeneidade
e sim um sistema em si, o sistema mundo 5 comunicacional do ser latino-americano, nascida
(SANTOS, 2016, p. 31), o sistema de mídias a partir do construto identitário do que é o
internacionais não é apenas a soma de diversas ocidental europeu ou estadunidense, em oposição
redes operativas dentro dos países, é sim uma às Maiorias Minorizadas. Como consequência do
trama diversa, com hegemonias, contradições e processo de construção de saberes, com vistas a
tensões próprias. reforçar as dimensões teóricas acima explicitadas,
contribuiu-se com a formulação de dois
construtos teóricos: Maioria Minorizadas
(SANTOS, 2017) e Sujeitos Desidentificados
5
O enfoque do Sistema-Mundo analisou a formação e a
evolução do modo capitalista de produção como um (SANTOS, 2014).
sistema de relações econômico-sociais, políticas e culturais
que nasceu no fim da Idade Média europeia e que evolui na O uso do termo Maiorias Minorizadas está
direção de se converter num sistema planetário e confundir-
relacionado ao esforço de tratar negros, mestiços
se com a economia mundial. Este enfoque destaca a
existência de um centro, uma periferia e uma semiperiferia, e indígenas no Brasil e Argentina de forma
além de distinguir entre as economias centrais uma
economia hegemônica que articula o conjunto do sistema equilibrada, não homogênea, considerando suas
(SANTOS, 2016, p. 31).

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diferenças étnicas, signos identificadores e localidade, que na verdade interseccionam a


condições de acomodação na base da pirâmide, nação (HALL, 2004).
mas que linguisticamente remeta a situação de Vem daí o conflito e a necessidade de o
populações subalternizadas pelo establishment. Estado se afirmar soberano e demandador da
Ao utilizá-lo não se pretende igualar lutas ou identificação nacional. O discurso estatal
homogeneizar vivências e situações sociais, e sim perpassará a construção do imaginário nacional.
aproximar respeitosamente sujeitos em posição As estratégias discursivas de um lugar de fala
de subalternidade e colonizados em sua luta seguem determinadas regras para serem
anticolonialidade e por emancipação, também legitimadas (FOUCAULT, 2010, p. 37). Foucault
através da comunicação. chama de rarefação os procedimentos pelos quais
as condições de funcionamento dos discursos
Televisão Hegemônica e Intervenção Social impõem aos indivíduos certo número de regras e,
assim, não permitem que todo mundo tenha
Considera-se que o discurso proferido acesso a eles.
pelo Estado via rede de televisão é, Segundo aquele autor, os rituais da
indubitavelmente, uma tentativa de reforçar os palavra, os grupos doutrinários, as apropriações
laços nacionais e/ou reconstruir a significação sociais e as sociedades do discurso estão ligadas e
identitária da “comunidade imaginada”. Para constituem-se em espécies de grandes edifícios
Anderson (2008, p. 27), a nação é imaginada que garantem a distribuição dos sujeitos que
como uma comunidade porque, falam, transitam nos diferentes tipos de discurso e
independentemente da desigualdade e da da apropriação por certas categorias de sujeitos.
exploração reais que possam prevalecer em cada O discurso é o espaço em que saber e poder se
uma das nações, é sempre concebida como uma articulam na construção da fala, pois quem fala,
agremiação horizontal e profunda. Esta fala de algum lugar, a partir de um direito
comunidade imaginada constituirá foco de reconhecido institucionalmente e esse discurso
identificação e pertencimento. Quiçá o laço que veicula saber é gerador de poder. Que
reforçado ou revisto pela ação televisiva sirva discurso é esse emitido por essas emissoras
para consolidar laços não alcançados ou públicas investigadas? Cabe-nos questionar a
necessitando de reforço no imaginário. Ao trama formadora dessa emissão.
contrário do que se supõem os discursos da nação A noção de comunicação perpassa uma
não refletem um Estado unificado já alcançado. diversidade de sentidos. Se esta afirmação, sobre
Seu intuito é forjar ou construir uma forma a noção do que é a comunicação, ao longo dos
unificada de identificação a partir das muitas anos vem se constituindo em verdade, o
diferenças de classe, gênero, região, religião ou desenvolvimento tecnológico e a massificação
das práticas acrescentam novas vozes a esta

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polifonia. Vive-se um tempo comunicacional que no processo dos avanços tecnológicos, a ideia de
faz das plataformas, conteúdos e recepção um controle social da massa urbanizada no pós-
campo especialmente emblemático nesta conflito e o uso utilitarista dos novos meios por
sociedade mundializada do terceiro milênio parte dos governantes. Ele nos informa que no
(ORTIZ, 2006). A televisão como conhecemos entre guerras houve um grande incentivo à
em sua criação já não é mais a televisão que pesquisa em comunicação e investimento no
temos hoje, como afirma o professor Sergio desenvolvimento de novas tecnologias. Aduz
Romero6 (2015), entrevistado para este estudo, ainda que, em 1914, modernos veículos de
“La televisión no es más la televisión. Es una comunicação de massa já estavam disponíveis em
plataforma entre muchas y muchos servicios en vários países ocidentais (europeus e
esas plataformas”. estadunidenses) e, ainda assim, o crescimento
É no período classificado por Hobsbawm desta indústria no período beligerante foi
(1995) como “Era dos Extremos” que veremos a espetacular:
estruturação e desenvolvimento contínuo das
A circulação dos jornais nos EUA cresceu
tecnologias da comunicação, a significação de muito mais rápido que a população, dobrando
7 entre 1920 e 1950, vendia-se entre trezentos e
“massa” e a desestruturação da massa dando trezentos e cinquenta jornais por cada cem
homens, mulheres e crianças num país
espaço a cibercultura (NEGROPONTE, 1995) e desenvolvido típico (HOBSBAWM, 1995, p.
a comunicação individualizada da era digital, 192-194).

ainda que popularizada através das novas Segundo relatos do historiador, no


plataformas. entanto, esta foi a era das telas, do rápido
Hobsbawm (1995) proporciona um vasto crescimento do cinema. “Em fins da década de
panorama do desenvolvimento das tecnologias da 1930, para cada britânico que comprava um
comunicação no entre guerras e seu jornal diário, dois compravam um ingresso de
aprimoramento para a vida social e econômica no cinema” (HOBSBAWM, 1995, p. 192). Ele
pós-guerra. O historiador traz à tona a dialética associa este avanço tecnológico do cinema a uma
necessidade de popularização do inglês e a
6
Director del Centro de Medios del Laboratorio de consolidação de uma hegemonia cultural
Contenidos Digitales de la Universidad Nacional de
estadunidense. Conclui que:
Chilecito, La Rioja.
7
“A massa é constituída por um agregado homogêneo de Ao contrário da imprensa, que na maioria das
indivíduos que, enquanto seus membros, são
partes do mundo interessava apenas a uma
substancialmente iguais, não distinguíveis, mesmo se pequena elite, o cinema foi quase desde o
provêm de ambientes diversos, heterogêneos e de todos os início um veículo de massa internacional. O
grupos sociais”(WOLF, 2012, p. 7).Comunicação de massa
abandono da linguagem potencialmente
é uma série de fenômenos que emergiram historicamente
universal do filme mudo, com seus códigos
através do desenvolvimento de instituições que procuravam
testados de comunicação intercultural, com
explorar novas oportunidades para reunir e registrar, para certeza muito fez para tornar
produzir e reproduzir formas simbólicas, e para transmitir
internacionalmente familiar o inglês falado, e
informação e conteúdo simbólico para uma pluralidade de
com isso ajudou a estabelecer a língua como
destinatários em troca de algum tipo de remuneração
o patoá global do fim do século. Pois na era
financeira (THOMPSON, 2012, p. 53).

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de ouro de Hollywood os filmes eram A informação dos meios de comunicação


principalmente americanos (HOBSBAWM,
1995, p. 193-194). de massa reforça o controle social nas grandes

O historiador não é o único que sociedades urbanizadas, nas quais o anonimato

proporciona aporte empírico para das cidades enfraqueceu os mecanismos de

contextualização deste importante período para descoberta e de controle do comportamento

compreensão da contemporaneidade. Durante o anormal, ligados ao contato informal face a face

processo beligerante do segundo conflito mundial (WRITE, 1960 apud WOLF, 2012, p. 56).

ocidental, numerosos investigadores contribuíram Analistas do período abordado são

para alimentar a ideia da mídia e da propaganda enfáticos em afirmar que os EUA são os grandes

como um ser maior dentro do espaço social. Para beneficiários das duas grandes guerras no

além da famosa obra de Orson Welles – a continente europeu, e que o avanço tecnológico

“Guerra dos Mundos” apresentada na rádio CBS proveniente do período ajudou a sedimentar a

que aterrorizou milhares de estadunidenses hegemonia estadunidense e o declínio dos antigos

crédulos da chegada de extraterrestres, uma impérios e potências.

suposta invasão de marcianos e que dá uma Sader (2004) propõe que os EUA têm

dimensão do poder da comunicação radiofônica – todos os méritos por terem se transformado na

, a eleição de F.D. Roosevelt em 1932 inaugura o nova potência hegemônica dentro do capitalismo,

New Deal e as técnicas de formação da opinião valendo-se, da experiência da crise de 1929 e da

pública. Como aponta Mattelart (2003), “trata-se montagem de um gigantesco complexo industrial

de mobilizar a população em torno dos programas que nunca mais seria desmontado. Enquanto as

do Welfare State, a fim de sair da crise. Nascem demais economias ocidentais sofriam com a

as sondagens de opinião como ferramentas da guerra, os EUA iniciavam o mais prolongado e

administração cotidiana da coisa pública” extenso ciclo expansivo da economia capitalista

(MATTELART, 2003, p. 39). já nos anos 1940. Tornou-se mesmo antes da

Ainda no plano das potências ocidentais, a segunda guerra, a economia tecnologicamente

escala global dos avanços comunicacionais, mais avançada do mundo, com o domínio sobre

mensagens que ainda antes do advento da internet todo o continente americano conseguiram uma

passam a serem transmitidas através de grandes extensa base de apoio para sustentado na

distâncias, e um maior acesso à informação e exploração da região, emergir como potência

comunicação provenientes de fontes distantes. É internacional.

a chegada do satélite, a popularização da Os EUA, neste momento narrado por

televisão, o aprimoramento da comunicação Emir Sader, deram início ao que Hobsbawm

eletrônica e a configuração geopolítica para (1995) classificou como “Os anos dourados”,

exploração desse mais novo avanço tecnológico. ainda que esta “Era”, nas palavras do historiador,
não tenha sido tão revolucionária. Ora, os EUA

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simplesmente continuaram a expansão dos anos tipo de império completo, se não único.
Economicamente superior e maciçamente
da guerra que foram muito bons para o país. Não armado, policiando o mundo e, ao mesmo
tempo, professando a liberdade e a
sofreram danos e ainda aumentaram o seu PIB em democracia. Para um policial, é necessário
localizar e prender os inimigos. Por tanto, o
dois terços. A era de ouro foi um fenômeno enredo dos sessenta anos seguintes da história
mundial, embora a riqueza geral jamais chegasse norte-americana se assemelhará a um padrão
que já ocorreu, sob o modelo de atividades
à vista da maioria da população. Para esta, as secretas crescentes, desconhecidas para o
povo do império; cada vez mais guerras
décadas seguintes, à chamada era de ouro regionais; e uma forma de controle imposta
repetidas vezes (STONE; KUZNICK, 2015,
ocidental, os anos de 1970 e 1980 mais uma vez p. 172)
foram de sofrimento e catástrofe para o
Os países Latino-americanos e Caribenhos
continente africano e latino americano. “Era
alinhados a Washington, também buscavam se
clássica a imagem da criança exótica morrendo
inserir nessa luta pela devoção ao “mundo livre”
de inanição, vista após o jantar em toda tela de
e transformações globais. Seus ditadores e
TV do ocidente” (HOBSBAWM, 1995. p. 255).
oligarcas da comunicação, financiados pelo Tio
Durante todo o período acima, no pós-
Sam, iniciam a expansão das redes na região e
guerra e no processo conhecido como Guerra
adotam o modelo televisivo e estético
Fria, construído pelo sistema de comunicações
estadunidense, caso do grupo O Globo no Brasil,
estadunidense ou sob influência deste – que,
Clarín na Argentina e Global Vision na
expandiu-se e passaram a atingir milhares de
Venezuela, entre outros.
pessoas ao redor do globo –, os jornais
Signos não verbais são a principal ação
denominaram o “mundo livre”, ou seja, os
estética a ser explorada pela nova mídia, a mídia
Estados aliados aos EUA. Os países do “mundo
eletrônica, a bandeira estadunidense tremulando
livre”, a despeito do problema de localização
associada ao bem, a luta democrática e a defesa
geográfica, passaram a ser parte do “Ocidente”. O
dos interesses da humanidade dará a tônica em
fim da Guerra Fria não foi o final do ocidente
seriados, jornais ou desenhos animados8.
ideológico, este englobava até mesmo o Japão.
A televisão, seguindo o modelo
Neste momento, o projeto político dos
hegemônico ditado, influenciará decisivamente o
EUA, também se transformava. Em busca de
discurso político. Os líderes globais passarão a se
hegemonia global redesenhava seu projeto de
orientar por especialistas em marketing e
dominação e supressão internacional para as
comunicação, que participam da elaboração de
próximas décadas. Alguns autores apontam o
slogans e interferirão no conteúdo dos programas
início desta transformação a partir do pós-
políticos dos Estados, promovendo adaptação às
segunda guerra:

Na metade do caminho entre 1900 e 2000, na 8


década de 50 do século XX, os Estados Ver TOTA, Antonio Pedro. O Imperialismo sedutor: A
Unidos forjaram a base de uma nova americanização do Brasil na época da segunda guerra. São
mentalidade. O país se desenvolvera num Paulo: Companhia das Letras, 2000.

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linguagens midiáticas. Este processo irá É pela tradição de transpor e incorporar


influenciar os projetos locais de desenvolvimento, questões alheias que a influência estadunidense
e estimulará um debate acadêmico sobre os adentra o continente latino-americano, trazendo
rumos e influências da comunicação midiatizada junto os temas e organizações para a área. Um
na vida local. exemplo disso é a criação do primeiro Centro que
O antropólogo e filósofo hispano- irá disciplinar os estudos de comunicação na
colombiano Jesús Martin-Barbero (2009), entrará região, o CIESPAL (Centro Internacional de
neste debate e dirá que não existem mediações Estudos Superiores de Periodismo para a América
políticas nem culturais na história dos meios na Latina), fundado no contexto da Aliança para o
região, que o papel decisivo que os meios Progresso, resposta do governo Kennedy ao novo
massivos desempenharam nesse período residiu cenário latino-americano durante o contexto de
em sua capacidade de se apresentarem como Guerra Fria (BERGER, 2012, p. 242).
porta-vozes da interpelação, que a partir do Somente no final dos anos 1960 a região
populismo convertia as massas em povo e o povo verá o surgimento de uma proposta de
em nação. Interpelação que vinha do Estado, mas entendimento comunicacional efetivamente
que só foi eficaz na medida em que as massas latino-americana (DE MELO, 2005 p.10). Neste
reconheceram nela algumas de suas demandas momento, as condições estruturais do
mais básicas e a presença de seus modos de subdesenvolvimento passam a ser consideradas e
expressão. incorporadas à análise dos meios de
Berger (2012) afirma que são demandas comunicação. Refletir sobre o panorama político
políticas e sociais, mais do que inquietações da região e a mediação será a marca da época.
científicas, o que impulsiona a produção de Como atesta Hobsbawm (1995) o mundo havia
conhecimento em comunicação na América dado uma leve guinada para a esquerda.
Latina. Muito parecido com a pesquisa em Nesta guinada à esquerda, momento de
comunicação nos EUA, cuja motivação foi como luta e contradições, sonhos libertadores e de
vimos a cima, o impacto social dos meios de ditaduras civil-militares na região, estas
comunicação de massa, e mesmo o financiadas e orquestradas pelos interesses
direcionamento da produção da Escola de estadunidenses, que a comunicação de massa,
Frankfurt, na Alemanha, que teve o nazismo como projeto de dominação social e investimento
como fenômeno inspirador de seus estudos sobre econômico, será consolidada no continente.
a indústria cultural. Ainda segundo o autor, Esta comunicação mais ampla,
“observar o desenvolvimento da pesquisa em identificada com a televisão e significando a
comunicação na América Latina, é considerar, em chegada da modernidade, gerará na região a
primeiro lugar, as relações que estes têm com o emissão de informações baseadas no
contexto da época” (BERGER, 2012, p. 241).

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

interdiscurso9, ou seja, discursos manipulados e atualizar legislações estabelecidas em momentos


atualizados pelo sujeito enunciador, e fará parte distintos do desenvolvimento local e do
da política de dominação completa estadunidense, posicionamento estratégico dos países na esfera
a partir dos avanços tecnológicos, iniciada em da geopolítica internacional. Existe nesta batalha
1978 durante o governo Richard Nixon10. Assim uma nova lógica de ação hegemônica que
se caracterizará a comunicação televisiva na envolve monopolização, concentração e
região até o histórico câmbio político iniciado na convergência de tecnologias mediadas na relação
primavera do novo milênio. com os poderosos grupos transnacionais.
Neste, as disputas nas sociedades latino- Pressupõe-se uma ação estatal contra-hegemônica
americanas estão em curso e colocam-se muito com o objetivo de não ver escorrer por suas mãos
além do âmbito das comunicações. De forma um capital nacional estratégico para a
ampla estão espalhadas pelo tecido social dos manutenção de sua soberania.
países da região. Têm-se como pano de fundo Como aponta Santos (2004; 1998) todas
destas disputas e transformações uma contenda de estas transformações estão permeadas pelos
ideias e ações no plano político. Uma série de efeitos da revolução técnico-científico
progressos técnicos tornaram ultrapassadas certas informacional que caracterizam as comunicações
características das políticas públicas de e relações do tempo presente.
comunicação estabelecidas em princípios do É neste contexto que apresenta-se a
século passado. Empresas de caráter local, relação com autores que indicam o debate
nacional até o inicio dos anos 1990 foram analítico sobre hegemonía e sua
expostas a um processo de aquisições e multidimensionalidade a partir de Antonio
privatizações que caracterizou a entrada do Gramsci, o pensador italiano que discorre sobre a
capital externo nessa área estratégica e a sua realidade enquanto totalidade, desvenda suas
internacionalização. contradições e reconhece que ela é constituída
Percebe-se que a missão dos poderes por mediações, processos e estruturas. A partir de
nacionais constituídos não está em somente uma multiplicidade de significados, analisa-se
essa realidade evidenciando que o conjunto das
9 relações constitutivas do ser social envolve
É o conjunto de formulações já ditas, mas geralmente
esquecidas, que constituem o que dizemos. O interdiscurso antagonismos e contradições apreendidos a partir
é algo que foi dito antes, em outro lugar, e cujo sentido é
recuperado na enunciação. É um discurso atravessado por de um ponto de vista crítico que leva em conta a
outros discursos, em um processo denominado
interdiscursividade. Benetti (2009, p.189) historicidade do social, sendo este, segundo
10
Disponivel em: <
http://hisheavenlyarmies.com/documents/engdahl-full- Gramsci (2011), o único caminho fecundo na
spectrum-dominance.pdf> Acesso em: 19 de Julho de pesquisa científica.
2016. Também veja, CECEÑA, Ana Esther. La dominación
de espectro completo sobre América. Revista de Estudos e A análise contemporânea a partir desta
Pesquisas sobre as Américas, V.8. N.2, 2014.
perspectiva leva a consideração de que a única

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

maneira de imaginar o futuro será (2016), Bandeira (2014; 2004), Willians (2005),
compreendendo os cenários e identificar Coutinho (2011), Novion (2011), Santos (1998),
estratégias, sejam relacionados à dominação entre outros. Abordar a disputa hegemônica e a
hegemônica ou a emancipação (CECEÑA, 2004, reação contra hegemônica é contribuir para a
p. 5). Para isso também é necessário entender o quebra do espelho que reflete o retrato do
papel dos meios, o da televisão, sobretudo na colonizado precedido pelo retrato do colonizador,
formulação de imaginários, na contribuição para como sugere Memmi (1977).
a revolução passiva de que tratou Gramsci e a
consolidação dos interesses capitalistas e o TV Pública no Brasil e na Argentina
espraiamento da ideologia dominante entre parte
significativa dos dominados através da guerra de Na América Latina a rádio difusão pública

posições. Como explica Sader, (2012, p. 8): “A era um assunto que até poucos anos não estava na

esse movimento de cooptação dos dominados agenda do dia. O impulso é dado com o enxame

pelos dominadores Gramsci chama de “revolução de projetos e participações estrangeiras que se

passiva”, um processo pelo qual se muda a forma precipitam na região durante os anos 1990 e com

da dominação, mas se mantém sua substância”. a ruptura do modelo televisivo proporcionado por

Destes elementos propostos por Gramsci e Hugo Chaves em 2005 na Venezuela ao criar a

por aqueles que bebem em sua fonte, vislumbra- TeleSur.

se uma compreensão da unidade substancial de Este processo de criação da TV do Sul,

método e conteúdo na ação das elites globais pela que influenciaria a criação da brasileira EBC e da

manutenção do poder e contra a emancipação rede pública argentina TDA, foi vivido com duros

popular. Mobilizando para isso o conceito de debates ideológicos e constrangimentos

Multidimensionalidade Hegemônica (NOVION, estimulados e articulados pelos grupos de países

2009; SADER, 2012, 2004; CECEÑA, 2004). hegemônicos. Ao criar a Televisão do Sul os

Nesta perspectiva multidimensional, Hall líderes locais deram um passo alternativo contra

(2006) apresenta a importância de Gramsci para hegemônico da comunicação na região, onde se

se pensar a representação desde a sua revisão e calcula (MARTEL, 2012) que à época, 95% das

renovação do paradigma marxista. Sua obra tem notícias internacionais e da própria América

uma implicação direta sobre a questão da Latina eram geradas e/ou replicadas para a região

“suficiência” das teorias sociais atuais, sua pelas redes televisivas ocidentais, EUA e Europa.

contribuição teórica se situa na direção em que Martel (2012) aponta que as grandes redes

torna mais complexas as teorias e os complexos estadunidenses, a inglesa BBC, a alemã Deutsch

problemas deste novo momento histórico. Assim Welle, a TVE espanhola, e as francesas TV 5 e

que para consolidar essa atenção do objeto France 24, são responsáveis pela massa

tratado mobilizamos ainda autores como Moraes significativa de informações geradas sobre a

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

região, e que os grupos locais, em sua maioria, A mudança de papel do Estado frente ao
reproduzem em plataformas variadas o que é sistema de mídias, principalmente em relação às
consumido pelo cidadão local. Principalmente as mídias gerenciadas pelo próprio governo,
informações e análises sobre os governos provocou significativas mudanças em diferentes
populares e progressistas daquele momento. países da região, caso da Argentina que em 2009
Nesta atual fase do capital sem amarras e durante gestão de Cristina Kirchner promulgou a
das imposições econômicas dos países centrais Lei 26.522, Ley de Servicios de Comunicación
sobre as economias periféricas, onde Santos Audiovisual, conhecida como Ley de Medios, e a
(2004) afirma que a noção mais tradicional de partir desta lei com o impulso popular oferecido a
Estado torna-se difusa diante das condições estas transformações, adotou o modelo Nipo-
políticas e econômicas em face das revoluções brasileiro de TV Digital, o Ginga.
tecnológicas que influenciam as economias e É importante chamar a atenção que a Ley
políticas em escala mundial, a TV pública, de Medios e a implantação da TV Digital não
nacional ou transnacional, pode exercer um papel foram processos unificados, harmonizados em
de suma importância ao promover as diversas sua constituição. Conforme explica o especialista
culturas e grupos étnicos que formam a grande Federico Balaguer11 em entrevista para esta
nação latino-americana, reforçando a noção de pesquisa, também envolvido, durante o governo
identidade e pertencimento local (RAMOS, Cristina Kirchner na definição do padrão para a
2012). TV Digital e Interativa local.
Como visto, diferentes fatores políticos, Esse encontro aconteceu na cidade de
econômicos, socioculturais e tecnológicos Buenos Aires no momento em que ocorria a
alteraram consideravelmente o papel da América campanha eleitoral para a presidência argentina,
Latina no panorama mundial no alvorecer do para a escolha do substituto da Presidente
Século XXI. Cristina Kirchner, cujo processo se concretizou
Pontuando o ano de 2005 como com a eleição do oposicionista Mauricio Macri,
referência, observa-se que em vários países, as corria o mês de Agosto de 2015, e sobre o tema
mídias públicas emergem como concorrência dos perguntamos a ele: ¿Podemos decir que la
grandes grupos hegemônicos. A partir deste regulación de los medios abre espacios para la
momento, com a criação da TeleSur, a discussão TV digital o la TV digital abre espacios para
se estendeu para toda América Latina e perpassou descansar la regulación de los medios... una
grupos privados e diferentes governos. O debate necesidad de avanzo tecnológico?
principal se concentrou na resistência dos grandes
conglomerados à revisão das condições sob as
11
Doutor em Ciência da Computação, e membro do
quais operam e que concede a eles lucros
Laboratorio de Investigación y Formación en Informática
monstruosos. Avanzada. LIFIA, na Universidade Nacional de La Plata,
coordenador de desenvolvimento de aplicações interativas.

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

Federico Balaguer: Creo que acá en Sobre a questão apresentada associando a


Argentina... es difícil de contestar. Primero
lei de meios à implantação da TV Digital, ou se
que es difícil de contestar, es muy difícil.
Porque la historia de la Ley de Medios en esta influenciou a lei, a participação popular e
Argentina y de la Televisión Digital me ajudou a mover a máquina para os avanços
parece que en el fondo no es una historia de percebidos para a época, as constatações,
cooperación o de proyectos que se apalancan,
de sinergia entre ellos, sino en la génesis, en percepções do processo são distintas, a narrativa
el comienzo era de competencia. Y eso es trazida acima do professor e pesquisador, que
algo que no mucha gente sabe, pero si uno trabalhou no desenvolvimento do Ginga na
piensa quién fue el que generó la Ley de
Medios en Argentina, y quién fue que
Argentina dando apoio a adoção do modelo nipo-
impulsó la Televisión Digital, va a ver que brasileiro, e atuando como um dos destacados
vienen de lugares diferentes. Entonces es colaboradores locais para o desenvolvimento da
difícil contrastar una contra otra. Creo que en tecnologia, se contrapõem ao de Jésica Tritten ,
la secuencia de eventos que se produjo en
Argentina, la Ley de Medios lo que primero então diretora do Pólo Audiovisual do Ministério
produjo fue un cambio en las regulaciones da Educação, onde ocorreu nossa entrevista, com
del cómo se podían utilizar los medios de opinião aparentemente distinta da dele, mas
comunicación, pero al mismo tiempo
produjo... Bueno, con la Ley de Medios hay convergente nas intenções:
dos cosas: primero, produjo un cambio; y
todo cambio produjo una contra-reacción, Jésica Tritten: Yo creo que se
sobre todo de los medios que se veían complementaron, porque fue todo... no llegó
afectados. Y por otro lado... como reforzando nada primero, fue todo en simultáneo. En el
la idea de que no eran proyectos mismo año, en el año 2009, la Presidenta
complementarios. La Ley de Medios no habla decide llevar al Parlamento, y la discusión
de Televisión Digital en Argentina. Entonces, entonces, de la Ley de Servicios de
es difícil decir. La Televisión Digital se Comunicación Audiovisual. También se
podría haber implementado en Argentina, decide tomar la norma nipona-brasilera y
entiendo yo, aún sin la Ley de Medios y la crear el Programa de la Televisión Digital. Y
Ley de Medios se podría haber implementado creo que eso, lo que hizo fue potenciar
sin Televisión Digital. Entonces es muy absolutamente ambas políticas. Creo que si
difícil, son dos cosas diferentes. En el fondo, no hubieran surgido al mismo momento, en el
al final se dieron cuenta de que gracias a la mismo lugar, quizás no hubiera tenido el
Ley de Medios era más fácil darles espacio impacto tan fuerte que han tenido. Yo creo
de comunicación a otro tipo de entidades. La que se han complementado y se han
situación después es pensar, bueno, esas otras potenciado. (2015. Entrevista para o autor).
entidades (sindicatos, clubes de fútbol, todos
los que tienen acceso a las señales) qué tienen Com esta nova lei, construída com ampla
para decir y si genuinamente tienen algo para
decir diferente. Y cuál es el resultado, si bien participação popular, debates críticos, percepções
son más contenidos... Hay algunos que uno
puede pensar si genuinamente son nuevos
elitistas de sua formulação, e de sua associação
contenidos. Por ejemplo, hay canales ao sistema digital instituído, viu-se o
universitarios que después de la creación, y
debido a que no tienen fondos para producir aparecimento de canais, gerenciados pelo Estado,
sus contenidos propios, sacan contenido de
Canal Encuentro o de BACUA 12, que es el como Encuentro, Paka Paka e outros canais
repositorio de contenidos. Entonces, no
tienen contenidos nuevos. Son los mismos universitários e comunitários, alocados dentro da
contenidos que se reutilizan, refritan.
Entonces, creo que haya sido una
plataforma da TDA. Percebe-se, ao olharmos de
oportunidad perdida de hacer algo pensado, longe, que de algum modo houve a concepção
integral, complementario en donde realmente
se lograra aumentar el caudal de diferentes política de associar as mudanças tecnológicas
voces que llegan a la gente.(2015, Entrevista
para o autor). com as políticas e fomentar a inclusão social
como resultante do processo.
12
BACUA: Banco Audiovisual de Contenidos Universales
Argentino.

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

Ainda que durante o período a presidente transformação crítica se deveu ao fato de a


Cristina Kirchner tenha sido acusada de censura13 UNESCO, a partir dos anos 1960, passar a ser
à comunicação e opositora da livre expressão por controlada por uma maioria de países do então
representantes dos grupos hegemônicos chamado Terceiro Mundo, com fortes influências
interessados na manutenção do status quo, fato é políticas de países africanos recém-
que a Ley de Medios parece ter completa descolonizados, de países latino-americanos, e
inspiração no documento produzido pela outros, como a então Iugoslávia, pertencente ao
Organização das Nações Unidas para a Educação, bloco soviético, mas proponente da tese do não
Ciência e Cultura (UNESCO, 1983) sobre o alinhamento automático a qualquer dos dois
direito à comunicação. Esse documento blocos político-econômicos resultantes da Guerra
denominado Relatório MacBride, “Um Mundo e Fria.
Muitas Vozes” traz a importância do diálogo Mario Lozano, então Reitor da
entre os saberes da Comunicação e dos Direitos Universidad Nacional de Quilmes, pontua que a
Humanos. Ley de Medios foi uma das maiores conquistas
em três décadas democráticas na Argentina.
Entretanto a ideia do ‘direito à Comunicação’
não recebeu ainda sua forma definitiva, nem Segundo ele, a lei foi construída com base num
o seu conteúdo pleno. Longe de ser já – como
parecem desejar alguns – um princípio bem consenso amadurecido durante anos, enriquecida
estabelecido, cujas consequências lógicas
poderiam ser deduzidas a partir de agora,
em foros participativos pelo país e votado por
ainda está na fase em que as pessoas refletem ampla maioria formada por um congresso
sobre todas as suas implicações e continuam
a enriquecê-lo” (UNESCO, 1983, p. 288). democrático e popular, assim como é considerada

Ramos (2014, p. 10), discorre que a um importante instrumento para romper o

proposta da UNESCO está associada a uma monopólio e descentralizar o cenário midiático,

percepção progressista da comunicação na região, habilitar novas vozes e democratizar a palavra

e seria desdobramento de um projeto anterior, (LOZANO, 2013, p. 19).

discutido no pós-II Guerra Mundial, Este ato de coragem da governante

politicamente liberal e economicamente argentina, apoiada pelas transformações da

capitalista, dedicado menos à relação região, foi de encontro à estrutura montada ao

comunicação e democracia, e mais à relação entre longo da história do país, e recrudescida durante

comunicação e desenvolvimento; a democracia o governo neoliberal de Carlos Menem alinhado e

seria, conforme essa visão, resultante automática subjugado pelo governo estadunidense.

do desenvolvimento de livres mercados. Sua O cineasta Oliver Stone (2015, p. 292) no


livro extraído de documentário de mesmo nome,
“A história não contada dos Estados Unidos”,
13
Disponivel em:
aponta para a questão da desregulamentação dos
<http://cnnespanol.cnn.com/2012/12/07/la-batalla-de-la-
ley-de-medios-en-argentina-antimonopolio-o- meios de comunicação nos EUA durante o
sobrelimitante/ >- Acesso em: 20 de Julho de 2016

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

governo Reagan, de forte matriz neoliberal, ao quase travaram o avanço e outros a serem
revogar a “Fairness Doctrine” [princípio da superados.
imparcialidade] que exigira que as emissoras de Narrativas de construção do processo,
rádio e TV, desde a década de 1940, oferecessem antes e depois, e revisões necessárias ao período,
cobertura adequada e imparcial para pontos de podem ser acompanhadas em Becerra (2015;
vista antagônicos sobre questões de importância 2017), Lazzaro (2010 e 2015) e em Aharonian
pública. Na onda de transformações da década, (2015). O jornalista Luis Lazzaro, a quem
após este ato, o governo hegemônico e suas entrevistei numa loja da cafeteria estadunidense
agências de pressão externa, iniciaram o trabalho Starbucks, numa manhã de inverno na Avenida
para desregulamentação e maior liberalização dos Rivadavia em Buenos Aires, apoiador crítico do
meios de comunicação no hemisfério, comprando processo argentino e demandante de mais ações
e/ou se associando com grupos de comunicação estatais para a absorção social da nova tecnologia,
locais, tentando influenciar na política nacional. enxerga a dificuldade de ação rápida do governo
Caso da Argentina, onde o jornalista Jorge Lanata como desenvolvido comercialmente, uma das
expôs um dos vários processos de aquisição: travas para a consolidação da TV Digital por lá:

En pleno escándalo periodístico sobre el Luis Lazzaro: Yo creo que el modelo de


narcolavado George Bush padre llegó a negocios de la Televisión Abierta está en una
Buenos Aires para reunirse con su amigo crisis, está en un problema. Hay una
Carlos Menem, y se hospedó em la Quinta migración, un desplazamiento de la
Presidencial de Olivos. Em paralelo, un publicidad tradicional del viejo modelo del
“oportuno” grupo de inversores texanos broadcast, de la radiodifusión que vendía
encabezados por Tom Hicks compró gran tanda publicitaria. Bueno, si bien la
parte de las acciones del CEI de Moneta, inversión, la torta publicitaria general se
apoderando entonces de la mayor parte de los mantiene, su distribución ha cambiado.
médios de comunicación de la Argentina. Entonces, se ha ido desplazando, de la radio y
Hicks fue, a la vez, el principal financista de la televisión de aire, hacia televisión por
la campaña de George W. (LANATA, 2003, cable, y también a plataformas digitales. Y
p. 586). esto genera un problema de sostenibilidad, de
financiamiento para la televisión abiera. A mí
A ideia construída de cidadão consumidor me parece que ahí hay dos problemas
entonces: primero, el modelo de negocios de
promovido pelos governos anteriores foi a grande la televisión abierta, que incluye la
Televisión Digital; y segundo, el modelo
luta teórica, política e social do período Kirchner dominante de acceso a la televisión, que en el
caso de la Argentina (creo que no es lo
na Argentina para construção de alternativas ao mismo Brasil) está dominado en un 80% por
neoliberalismo. Algo de acordo com a ascensão sistemas pagos. El sistema pago tiene una
ventaja, y es que además de la venta de
dos governos progressistas do continente, ainda publicidad tiene el cobro de abonos y además
tiene la potencialidad de dar triple play, o sea,
que nem todos tenham revogado ações e políticas de generar un volumen de negocios mucho
mayor sobre la misma plataforma. La
neoliberais, caso do Brasil. Porém, a reconstrução televisión abierta, si bien tiene alguna
posibilidad de... Te acordás cuando vimos lo
da democracia popular, direito à comunicação e de Melio Televisión, bueno, de generar algún
regulação dos meios deu a tônica ao período acceso a demanda de contenidos todavía es
muy incipiente, no se ha desarrollado, y tiene
argentino, ainda que com enormes conflitos que el problema de que requiere el retorno por
internet para tener interactividad. Es decir, si
nosotros aceptamos esto, la posibilidad de

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

desarrollo de la Televisión Digital Abierta mídia”, enfatiza que a mídia hegemônica está
tiene, por un lado, un mercado completo de
sectores de muy bajos recursos que no envolta no verdadeiro paradoxo. Por nunca ter
pueden pagar televisión de cable o satélite, y
eso es una limitación de mercado para el sido tão poderosa no mundo e no Brasil, como no
anunciante. Y por otro lado, depende del
retorno por internet para proponer otro tempo presente, isso, decorrente dos avanços
modelo de negocios. Lo que no está tecnológicos nos ramos das comunicações e das
desarrollado en la Argentina y creo que está
más trabajado en Brasil, son las aplicaciones telecomunicações, coadunando com Santos
sociales que puede tener la Televisión
Digital. Argentina no ha desarrollado (2004), fruto do intenso processo de concentração
prácticamente nada en este sentido, y yo creo
que ese es otro problema que hace a que no e monopolização do setor nos últimos decênios e
se instale la TV Digital culturalmente como
un recurso de comunicación que no es da criminosa desregulamentação do mercado,
solamente el entretenimiento o la fruto do período neoliberal dos anos 1990, que a
información, sino también servicios.
Argentina no tiene servicios incorporados en deixou livre de qualquer controle público.
la plataforma de Televisión Digital. Y ahí yo
creo que hay un problema que se puede Dentro deste imaginário construído, de
resolver, digamos, eso es algo que tiene
posibilidad de desarrollo para adelante, pero uma Geopolítica da palavra (Lazzaro, 2015),
como te dije requiere políticas que lo
impulsen. (2015.Entrevista para o autor). adentra-se ao Brasil, onde desde os anos 1950
existe uma verdadeira batalha entre governos,
Mais incisivo e partindo do mesmo lugar
movimentos sociais e a mídia conservadora.
retórico que Jesica Tritten e Luis Lazzaro, o
No Brasil, a história da radiodifusão,
uruguaio jornalista Aharonian (2015) afirma que
desde seus primórdios, foi marcada pela
a nova arma mortal e moderna para o controle
prevalência dos interesses do mercado em
populacional se chama meios de comunicação,
detrimento do interesse público. Característica
que em mãos de umas tantas corporações
essa percebida nos processos de consolidação do
praticam o terror midiático cartelizado,
rádio e, mais tarde, de formação da televisão. As
internacionalizado e se convertendo no
TVs públicas no Brasil configuram um campo
disparador de planos de desestabilização dos
complexo. Apesar de terem em comum uma
governos populares e de restauração da velha
“aura pública”, são canais com características
ordem neoliberal. O que o jornalista argentino
bem distintas, processos próprios de construção e
Luis Lazzaro chama de “batalha da
consolidação. Apresentam origens, práticas e
comunicação”, Aharonian chama de batalha
objetivos distintos. Porém, legalmente, o controle
cultural, diz que estamos numa guerra pela
sobre a radiodifusão brasileira é público, e cabe
imposição de imaginários coletivos que se dá
ao Poder Executivo conceder e renovar
através dos meios cibernéticos, audiovisuais e
concessões para esse serviço, como regulamenta
gráficos.
o art. 223 da Constituição Federal (CF) de 1988:
O que Aharonian denomina como “terror
“compete ao Poder Executivo conceder e renovar
midiático”, o brasileiro Altamiro Borges (2009,
concessão, permissão e autorização para o serviço
p.13) classifica como sendo a “ditadura da
de radiodifusão sonora e de sons e imagens,

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

observando o princípio da complementaridade governo chegar à população sem acesso ao seu


dos sistemas privado, público e estatal” circuito escolar oficial. Porém, esse processo
(BRASIL, 1988, n. p.) pedagógico era pensado etnocentricamente,
Na prática, a televisão brasileira nasceu desvinculado das práticas cotidianas do público
privada e com intenções comerciais, baseada no ao qual se destinava sem levar em consideração
modelo estadunidense, instrumentalizada para as emoções e sensibilidades experimentadas por
reproduzir o modus vivendi da elite dominante. ele e imprescindíveis ao processo de
Essa forma de se estruturar a televisão brasileira aprendizagem.
voltada para a ode ao consumo e ao comércio Da pressão por políticas públicas e meios
eletrônico foi determinante para o cerceamento da mais democráticos nasce a EBC, a Empresa
iniciativa pública no setor e promotor de Brasil de Comunicação nasceu a partir da ação de
arcabouços para o emparedamento de suas grupos de pressão da sociedade civil, que foi ao
possibilidades de desenvolvimento. encontro do interesse do Governo Federal de criar
Caso exemplar de cerceamento das uma empresa pública de comunicação que seria
televisões públicas é o decreto lei que proibia a responsável por reunir as emissoras exploradas
publicidade nas emissoras públicas educativas, e pelo executivo federal em um novo perfil
como já visto aqui anteriormente, foi produto de efetivamente público. (VALENTE, 2009). Em
acordo feito entre o governo e o grupo Diários 2008, a medida provisória que a instituiu a EBC
Associados, por ocasião da compra da TV foi aprovada e transformada na Lei nº
Cultura de São Paulo pelo Estado. Diz o Decreto- 11.652/2008. O debate sobre a criação da EBC,
Lei 239 de 28 de fevereiro de 1967: seus desafíos e motivações na perspectiva
internacional podem ser extratificados nas
Art. 13. A televisão educativa se destinará à
divulgação de programas educacionais, narrativas trazidas pelos entrevistados que
mediante a transmissão de aulas,
conferências, palestras e debates. apresentam bem o momento de construção do
Parágrafo único. A televisão educativa não
tem caráter comercial, sendo vedada a
projeto, suas relações no Sul global e a percepção
transmissão de qualquer propaganda, direta do movimento social sobre a iniciativa. Jornalista,
ou indiretamente, bem como o patrocínio dos
programas transmitidos, mesmo que pesquisador e membro da rede de pesquisa e
nenhuma propaganda seja feita através dos
mesmos. produção em comunicação Barão de Itararé,
Art. 14. Somente poderão executar serviço de
televisão educativa: Federico Vasquez aduz:
a) a União;
b) os Estados, Territórios e Municípios; Ela nasce, talvez, mais como uma negação de
c) as Universidades Brasileiras; participar da TeleSur, a TV Brasil é a
d) as Fundações constituídas no Brasil, cujos expressão disso, ou seja, é querer ainda ser…
Estatutos não contrariem Código Brasileiro A gente ainda tem uma visão que o Brasil
de Telecomunicações (BRASIL, 1967). por ser continental faz qualquer coisinha sem
precisar dar a conta, e não… nós temos a
Havia uma ideia de massificação da obrigação da excelência. Nosso campo tem
um problema de generalidade, tem um
educação através da televisão que permitiria ao complexo de querer ser grande, mas não

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

temos a coragem e ousadia de ser, porque econômica e cultural do país. As matérias de


exige sacrifícios mil. E aí você entra com a âmbito nacional, por exemplo, são todas
EBC que atendeu em parte os movimentos e produzidas por essas três praças, fundadas em
atendeu uma aglomeração da sociedade civil um discurso sobre o cidadão que é afetado
que vem formada pela fundação Ford, e que pelas decisões do Congresso e pelas
vem preparada. A EBC vem para atender e oscilações da economia, esteja no Acre ou em
ela já vem apequenada, ela vem para São Paulo (ARAÚJO, 2011, p. 200).
rearranjar as estruturas estatais, nem é
pública… a TV cultura tecnicamente é Os debates públicos sobre a
melhor do que a TV Brasil. A EBC nasce
tímida, não nasce com um viés TV pública, democratização da comunicação, começando por
nacional e que tem que ter antena em todos
os 5 mil municípios... não temos. Em criar uma rede pública e legitimada, deu origem a
Brasília, o melhor sinal é da TV privada,
nosso sinal é fraco. O debate da EBC é feito audiências públicas no Congresso Nacional
internamente e não com a sociedade, a articulando propostas de sindicatos, organizações
sociedade não entende o que é uma TV
pública (VELASQUEZ, 2017. Entrevista culturais e esportivas. Era recente a ideia de
para o autor.).
construção de um projeto de comunicação pública
Sobre as críticas e dificuldades de se
nacional como alternativa real aos meios
impor uma linguagem mais ampla na TV Brasil e
comerciais no Brasil.
fazê-la com uma programação plural, destoante
A construção da nova TV pública
dos ditames das emissoras comerciais,
brasileira passa pela superação de dilemas como a
diversificada em sua abordagem do cotidiano e da
necessidade de modernização da programação,
vida pública brasileira, encontra-se apontamentos
diversidade de seu quadro de funcionários e
em Santos (2014), porém, coadunando com esse
contemplação das demandas sociais, além da
olhar Araújo (2011) traz uma significativa
melhoria da sua estética. Some-se a isso, a
contribuição ao buscar no principal noticioso da
predominância histórica do sistema comercial no
emissora, o Repórter Brasil, um reflexo de sua
Brasil desde os anos 1930, e a hegemonia das
reprodução dos signos e endereçamento
grandes redes, o imutável sistema de concessão
estruturado no campo não público:
de outorgas e as pressões políticas do setor junto

Embora a proposta declarada do Repórter ao executivo. Essas fizeram gigantescas pressões


Brasil seja fazer um jornalismo “nacional de
fato, como não encontramos nos telejornais
para que o governo não avançasse sobre as leis
hoje”, o enfoque predominante do noticiário beneficentes de seus mandos e conquistas
é o do eixo Rio-São Paulo-Brasília, não só
porque a apresentação do telejornal é feita coronelistas do meio do Século passado.
destas três cidades, mas, sobretudo, porque as
matérias de âmbito “nacional” são geralmen- Exemplar é a afirmação sobre essa relação de
te elaboradas a partir de um exemplo
generalizado original destes centros submissão trazida para a pesquisa pelo ex-
simbólicos. Isso poderia se explicar, em
parte, pelo fato de que a estrutura técnica da
ministro Gilberto Carvalho 14, crítico daquele
emissora está montada nestas três cidades, momento:
mas, considerando que a TV Brasil tem um
centro de produção também em São Luís do
Maranhão e a incidência do Estado no
noticiário é mínima, acreditamos que a
escolha por privilegiar este eixo tem a ver 14
No momento desta entrevista, feita em sua residência em
com o fato de que estas três cidades são Brasília no mês de abril de 2017, Gilberto Carvalho estava
consideradas centros de decisão política, funcionário público federal, em cargo de confiança,

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

Como o senhor (a) enxerga o nosso sistema dessa regra. (CARVALHO, 2017. Entrevista
de concessões de outorgas para para o autor).
funcionamento de rádios e TVs?
Eu penso que vamos ter que fazer no país, Os depoimentos para essa pesquisa, tal
para viver uma democracia verdadeira, uma
mudança, mais que uma reforma, uma qual o trecho ilustrativo de Gilberto Carvalho,
revolução na questão de toda a mídia e de
todos os meios de comunicação. A legislação desconstroem a visão apresentada por aqueles que
brasileira contém imprecisões e mais que
isso, contém deformações que privilegiam o alegam não terem conhecimento de proposta de
uso econômico. Os meios não estabelecem alternativa comunicacional. Verdade seja dita, os
nenhuma limitação aos oligopólios, nem ao
próprio monopólio... muito restrita do ponto cidadãos nunca foram de fato expostos a uma
de vista de acesso democrático ao poder dos
meios de comunicação. Mas, sobretudo, acho forte alternativa com recursos e disposição
que a deformação mais grave é que a
concessão dos meios de comunicação, fica política, como no caso argentino, de concorrer
ao livre arbítrio, sem maiores exigências num
jogo entre poder legislativo e poder com os grandes agentes da televisão comercial,
executivo. Durante o período de governo esse embate aqui não aconteceu. Se o presidente
Lula/Dilma houve alguma tentativa de
mudança ou atualização desse processo? Lula, em seu segundo mandato, deu o passo para
Parte do movimento social fez um grande
debate, porque você entende que isso não a unificação da rede pública e ensaiou o apoio a
foi apropriado pelo executivo? Quais as
forças que estavam ali bloqueando esse uma alternativa às redes comerciais, não se
processo?
Nós tivemos ao longo dos nossos governos desvencilhou da histórica subordinação do
inúmeros movimentos, inúmeras tentativas da executivo brasileiro às dinastias familiares; às
sociedade civil em se organizar. Se
organizaram e pressionaram o governo. A estratégias de comercialização do espaço público
construção da conferência da comunicação
que foi um marco muito importante, com repetindo o modelo comercial; à subordinação de
muita polêmica, talvez tenha sido o marco
mais avançado, a construção da EBC. Porém, informações de interesse coletivo a ambições
o governo Lula foi um dos governos que mais
fechou rádios comunitárias em seu primeiro lucrativas. Essas práticas tiveram continuidade no
mandato, foi uma aliança muito ruim entre o governo Dilma Rousseff em seu primeiro
Ministério da Justiça, a Anatel e a associação
brasileira de rádio difusão. Depois, durante o mandato e foram acirradas ao tirar poder da
segundo governo Lula, aí tem o mérito do ex-
ministro Franklin Martins que desenvolveu empresa pública, cortar investimento e aumentar
um trabalho de construção de uma reforma
das regras, das leis da mídia, quando nós as dotações orçamentárias para os meios
tínhamos em tese uma correlação de forças
bastante favorável para poder realizar essa hegemônicos tradicionais, conforme pesquisa do
medida. Infelizmente o governo Lula jornal Folha de São Paulo 15.
demorou para fazer o envio do projeto para a
câmara e naturalmente quando a Dilma Greves, manifestações por independência
assumiu ela teve uma atitude contrária a esse
projeto, mandou congelar. É evidente que e melhoria da qualidade do serviço oferecido pela
isso corresponde a uma imensa pressão que
os meios de comunicação (os grandes) Empresa Brasil de Comunicação foram o
fizeram sobre o governo. É difícil dizer isso,
mas tanto o governo Lula quanto o Dilma, resultado do ato pioneiro do governo Lula, mas
confiaram mais na capacidade de relação com resignado com a reação da elite nacional, à
os donos dos meios de comunicação do que
propriamente na necessidade de mudança

15
Disponivel em:< http://www.sul21.com.br/jornal/globo-
trabalhando na liderança da minoria no Senado Federal, lidera-ranking-dos-investimentos-de-publicidade-do-
porém, havia sido ministro dos governos Lula e Dilma. governo-federal/ > Acesso em 22 de Julho de 2016.

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

política de austeridade, diálogo subserviente com Constatação importante para cá trazida, é


o empresariado, e retrocesso democrático de que historicamente negros e indígenas são
Dilma Rousseff em seu primeiro mandato, encobertos e silenciados pelo mito da
resultaram em grande descrédito do cidadão modernidade. Avaliar a possibilidade
sintonizado nos avanços da TV pública brasileira, emancipatória dos objetos investigados e o papel
e sintomaticamente viu-se a perda de apoio do de seus gestores é desencobrir a perspectiva
governo junto aos funcionários da empresa ideológica relacionada a esses subalternizados e
pública16. Neste barco do desmonte, já no encobertos, alimentar o olhar crítico para suas
primeiro mandato de Dilma Rousseff, os críticos ações emancipatórias e posturas políticas frente
da TV pública se fortaleceram para demandar por ao Estado e seus governantes.
mudanças estruturais da mesma, pois imaginam a Descortinar os caminhos e políticas que
empresa pública alinhada aos interesses produziram a Televisão pública que ora
neoliberais ditados pela globalização econômica acessamos, apontar contribuições que fortaleçam
que marcou a primeira década do século XXI, e o pacto social a qual a plataforma está inserida foi
atendendo aos interesses particulares destes um dos propósitos do tecido da pesquisa. Ainda
grupos hegemônicos, vide as transformações que produzida em situação de profundas
impostas à EBC/TV Brasil com a chegada dos transformações políticas na região investigada e
diretores alinhados ao governo de Michel Temer. sob o véu do golpe parlamentar, jurídico-
midiático vivido no Brasil, esta é resultado de um
Percepções não Conclusivas longo processo de lida profissional e acadêmica
com o objeto estudado.
Buscou-se construir esta pesquisa com Difícil pensar a comunicação dissociada
base nos princípios metodológicos dos Estudos da produção de sentidos, da capacidade do
Latino-americanos, calcados na revisão sócio- emissor de expandir a informação, produzir algo
histórica, na pesquisa comparativa, com olhar plural e diversificado que não fique acessível a
multi-interdisciplinar, e voltado para a resolução apenas um tipo de público. A comunicação
e transformação da realidade (NOVION; audiovisual, principalmente, é altamente
OLIVER; AYALA: 2014). Objetivou-se aqui produtora de signos e determina significado ou
servir-se destas propostas pedagógicas para significação para a audiência.
entender o objeto, ampliar as possibilidades de Desta forma que se buscou na TV pública
compreensão em torno dele, apontando o objeto da investigação. Associado aos
problemas e amplificando suas complexidades. movimentos sociais de periferia e de negros, da
Maioria Minorizada, aferiu-se o possível papel
16 anticolonial e emancipador dessa televisão e de
Disponivel em: <
http://www.intervozes.org.br/direitoacomunicacao/?p=2759 como ela era gerida, desenvolvida. O receio do
9> Acesso em: 30 de Junho de 2017.

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

enfrentamento a esses feudos nacionais dão um buscou-se uma política de fortalecimento da


caráter vazio ou de letra morta à carta magna estrutura do Estado, onde essas administrações
brasileira, onde desde 1988 proíbe a formação tiveram a iniciativa de promover um grande
dos monopólios e exige a produção de conteúdos debate sobre a atualização da legislação nas áreas
diversificados regional e culturalmente e obriga da comunicação.
que as emissoras tenham finalidades educativas, A matriz principal dos debates sobre os
culturais e artísticas, determinando ainda que elas meios de comunicação é a compreensão de que a
expressem a diversidade de pensamento da democratização de várias esferas sociais nos
sociedade. Algo que definitivamente não é parte âmbitos político, econômico e cultural só se
da realidade dos veículos televisivos brasileiros e, completará por meio da democratização das
que, por outro lado, é fator de empobrecimento da comunicações. Assim que, com os dados colhidos
televisão pública nacional, quando os governantes tem-se a impressão de que Argentina tenta se
da vez se esforçam para depositar na emissora de recuperar com muita dificuldade das duas últimas
perfil comercial um caráter público-privado. ditaduras e da grande crise social e de
Pode-se afirmar que essa atuação no representação provocada principalmente pelo
apagamento da comunicação pública, reforço neoliberalismo radical de Carlos Menem. Desta
financeiro às empresas comerciais do setor, forma, percebe-se que há uma necessidade de
silenciamento das críticas de aliados e negação de justificar a representação no executivo, governa-
propostas emancipatórias e progressistas para o se para alguns, quiçá para a Maioria Minorizada
setor, foi um decisivo passo para a consolidação no caso de Cristina Kirchner, e culpam-se os
do golpe sofrido no ano de 2016. demais pela situação vivenciada. O radicalismo,
No caso argentino, essa revisão das que dá nome a um partido histórico local, é
concessões e a regulação do setor foi o estopim visível e palpável no país vizinho. A busca pela
para a chamada “batalha das batalhas” e motivo hegemonia através da força e dos aparelhos que
do maior bombardeio público sofrido por Cristina fazem a força do Estado parece ter sido a saída
Kirchner durante o exercício de seus dois encontrada por Cristina para se opor a força
mandatos. Fato é que com a ascensão ao poder na econômica e da construção de imaginários dos
América Latina de governantes com propostas barões da mídia locais porta vozes do capital
distintas ao neoliberalismo ortodoxo, caso de internacional regulador dos projetos estatais.
Nestor Kirchner na Argentina (2003), Evo De modo geral viram-se significativas
Morales na Bolívia (2005), Rafael Correa no transformações na política comunicacional
Equador (2005), Daniel Ortega na Nicarágua proposta pelo governo de Cristina Kirchner, o
(2006), Fernando Lugo, no Paraguai (2008), aumento da pluralidade de atores participando do
Mauricio Funes, em El Salvador (2009), para sistema de mídias, a regulamentação da atividade
além dos investigados e já citados na pesquisa, das empresas de comunicação, a proibição de

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REVISTA DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE AS AMÉRICAS VOL.11 Nº 3, 2017

propriedades cruzadas e um significativo dos Estados Unidos: das rebeliões na Eurásia à


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