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A C O N S C I Ê N C I A
experiência consciente é tanto samos explicar também a experiên- para pessoas que trabalham com
A a coisa mais familiar como a
mais misteriosa no mundo. Não há
cia subjetiva da música do ponto de
vista da primeira pessoa. Esse é um
inteligência artificial.
Em muitas áreas da ciência, as
nada que conheçamos mais direta- “problema difícil”. Vemos que há coisas funcionam simplesmente as-
mente. Mas é extremamente difícil diferenças entre explicar os dados sim. Isso leva ao que podemos de-
reconciliá-la com tudo o mais que de terceira pessoa, como processos finir como “explicação científica
conhecemos. cerebrais, e os de primeira pessoa, redutora”. É como se eu explicasse
E, para não deixar dúvidas so- como a experiência subjetiva. um fenômeno de alto nível total-
bre o que estamos falando, é neces-
sário definir “consciência”. Para is-
LEO MARTINS
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consciência, se você explica os as- pensamento, os de primeira pessoa fundamental. Não vai nos dizer o
pectos objetivos, ainda resta algo a e os de terceira pessoa. Mesmo que que acontece exatamente na base,
ser explicado. os dados de primeira pessoa não mas será geral em sua aplicação e
A moral da história é que dados sejam redutíveis aos dados de ter- terá muitos princípios sistemáticos
de primeira pessoa são irredutíveis ceira pessoa, é óbvio que existe amplos, como os que nos ajudam a
a dados de terceira pessoa como uma correlação entre eles. Se você explicar o que acontece ao nível
tais. Como cientistas, devemos ex- afeta meu cérebro, afeta minha macroscópico em física.
consciência. Existe uma covariân- A “termodinâmica” da cons-
cia sistemática entre processos de ciência seria um primeiro passo.
terceira pessoa e experiências de Uma vez que a consciência é irre-
Não basta conhecer primeira pessoa. O que precisaría- dutível ao domínio da terceira pes-
os processos mos encontrar seriam os princípios soa, existe algo fundamental sobre
vinculadores subjacentes que pre- o domínio da primeira pessoa. Eu
cerebrais para enchem essa lacuna. uso esta idéia: algumas coisas so-
E esse é o grande avanço dos bre o mundo são fundamentais. Es-
desvendar o enigma últimos anos. Começa-se a dar iní- paço, tempo e massa são admitidos
da experiência cio a esse projeto. Como chegare- pela física como aspectos funda-
mos a uma ciência da consciência? mentais do mundo. Minha visão é
consciente Penso que, para ser digna desse no- que a consciência também deva ser
me, ela deve levar a sério os dados vista como um aspecto fundamen-
pandir nosso catálogo de dados. da primeira pessoa. E isso já come- tal do mesmo, porque é irredutível. A consciência deve ser vista como um aspecto fundamental do mundo
Uma ciência da consciência deve ça a acontecer. Isso significa que devemos encon-
admitir ambos os tipos de dados Aonde queremos ir? Ainda é trar as leis fundamentais que gover-
como mutuamente irredutíveis e cedo para dizer, mas precisamos nam a consciência. Essa ponte entre
deve construir uma conexão expli- correlacionar detalhadas caracte- o campo da terceira pessoa e da
cativa entre eles. rísticas de primeira pessoa, da cons- primeira pessoa precisa de leis fun-
Nesses casos em que a expli- ciência, com aquelas da terceira pes- damentais. Não se deve descartar a
cação redutora falha, precisamos soa, do cérebro. Queremos princípios possibilidade de uma teoria de leis
de alguma alternativa. Para uma gerais que tenham amplitude em fundamentais que ligue processos
teoria da consciência, precisamos suas aplicações. Talvez em 10 ou 20 físicos a experiências conscientes.
de uma descrição detalhada não re- anos poderemos estar nos movendo
dutora. Uma teoria da consciência nesse sentido. Essa poderia ser uma David Chalmers
deveria promover a associação teoria análoga àquela da termodi- Filósofo e professor da Universidade
entre esses distintos domínios do nâmica em física. Não uma teoria do Arizona.
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