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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE FENOMENOLOGIA E CLÍNICA (PSIC0147- 2017.

2 - T 01)
DEPART AMENTO DE PSICOLOGIA BRUNO MART INS MACHADO

O ESTRANGEIRISMO E ABSURDISMO NA EXISTÊNCIA HUMANA


Matheus Fernandes dos Santos Pereira
12 de março de 2018

Pretendo, através de breves reflexões, discutir acerca do personagem da obra “O


Estrangeiro”, de Albert Camus (1957), trazendo questões como o absurdo, a morte, a condição
humana, o sentimento de indiferença, a religião e a construção do direito enquanto discurso de
adequação à normalidade, com base na corrente filosófica-existencial de Camus e nos
pensamentos de outros autores importantes da filosofia e do existencialismo, que trazem à luz
o absurdo enquanto uma narrativa e construção de sentido, para além do sentido.
Resumidamente, “O Estrangeiro” (Camus, 1957) é uma obra literária que conta a
história de um narrador-personagem, Meursault, que comete um assassinato de um árabe e é
condenado por este ato. A ação desenvolveu-se na Argélia, na época em que se constituía como
colônia da França, país onde Albert Camus viveu durante grande parte da sua vida.
É interessante perceber a importância do título da obra, pois ao mesmo tempo que o
romance de Camus pode parecer estranho, também representa a “estranheza” do personagem
principal. Assim como Camus, Meursault também é um estrangeiro, um francês que vivia no
numa região de colônias francesas. Mais do que isso, Meursault mostra-se como estrangeiro
perante o mundo. Também é importante perceber que a obra fora escrita longe do eixo europeu,
abordando a partir de outras perspectivas temas que transpassam a história da filosofia.
O personagem principal é um indivíduo que, apesar da sua aparente frieza para com os
sentimentos experienciados pela maioria das outras pessoas, mostra-se movido pelas
experiências sensoriais. Leva sua vida de maneira indiferente, ou ao mesmo assim parece,
valorizando a rotina e o presente, o que está ao seu alcance.
A trama inicia-se a partir da morte da mãe de Meursault, e nesse contexto percebemos
a construção de uma narrativa que demonstra a percepção das outras pessoas do personagem
enquanto alguém frio e indiferente acerca da morte materna. Em contraponto, vemos Meursault
estar ligado (fisicamente e sexualmente) à uma garota, Maria.
Durante o desenrolar da história, Meursault comete um homicídio, devido à
pensamentos delirantes e paranoicos, que o causam alucinação. Esses pensamentos são
produzidos, conforme a narrativa, pela forte luz do sol e o calor, e nesse sentido observamos
um caráter subjetivo a esses acontecimentos. Em seu julgamento, argumentam que ele deve ser

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declarado culpado por não conseguir chorar durante o funeral de sua mãe - e aqui temos outro
absurdo: o fato de Meursault não conseguir exprimir choro é mais relevante do que o homicíd io.
Argumenta-se que se Meursault é incapaz de sentir remorsos, é um indivíduo perigoso, fora da
“norma” social e deveria ser executado para evitar que cometa mais crimes. Meursault torna-
se, ao mesmo tempo, um exemplo e um absurdo.
Camus discute nessa obra questões como: caráter valorativos, morais, existencia is,
éticos, a morte, a religião, o castigo, as instituições sociais e, acima de tudo, o conceito de
abstração que se atribui à essência humana, bem como encontramos nas dissertações em
“Genealogia da Moral”, de Friedrich Nietzsche (1998). A partir de uma perspectiva crítica e
de demonstração da hipocrisia e do modo de vida social moderno, “O Estrangeiro” possui
como tema principal a narrativa “absurdo”. Camus apresenta o mundo como essencialme nte
sem sentido, e demonstra através do caráter frio e indiferente da existência que a única forma
de chegar a um significado ou propósito é criar um por si mesmo.
Meursault sente-se um estrangeiro ao se deparar com uma existência privada de luzes
ou ilusões. Não há saída para essa condição e essa dissociação entre o homem e sua vida é o
que nos traz ao sentimento de absurdo. Bem como Sartre (1987), Camus aborda em um viés
existencial (apesar de não se declarar como existencialista), o movimento de tomada ou busca
de conhecimento, bem como a capacidade de conhecer e assimilar o saber.
Os dois autores discutem questões relacionados ao ser e ao estar, definindo a existênc ia
como para além da essência. Nesse sentido, mesmo que o sujeito não possua uma substância
específica e íntima, mesmo assim ainda conta com a realidade inegável da existência. Portanto,
o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só nele se define. Todo o caráter
essencial atribuído ao significado da existência resulta de modulações através das
experienciações causais e vivenciadas.
Temos em Meursault a representação do modo de existência através dos sentidos, e ao
mesmo tempo a ausência do divino e plano espiritual (durante a prisão, o personagem se mostra
contrário à ideia do capelão para que ele recorra à Deus), e essas questões também estão
atreladas ao absurdo da vida. Meursault, por fim, reconhece a indiferença do universo perante
à humanidade. Camus também aborda a insignificância do viver, tal como Schopenhauer (2001)
discute através da antecipação sensorial da morte e propondo o fato de é irrelevante o tempo e
o espaço percorrido na trajetória existencial. Todos morrem, isto é inevitável e condição de todo
ser vivo.

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O medo da morte é causado pela eminência de uma interrupção na projeção abstrata de
mais alguns anos de vida. A indiferença para o viver dentro desse contexto, ao mesmo tempo
em que estabelece algo próximo do niilismo, mas também desfaz o temor com relação ao não-
existir e ao nada. Nesse viés, a vida é insignificante, a sua interrupção precoce ou tardia também
se entende da mesma forma, através da irrelevância.
Traçando um paralelo entre o absurdo de Camus (1957) e o pensamento de Sartre
(2005), temos nossa condição enquanto seres finitos, perante a infinidade do mundo - e estar
no mundo é aceitar essa condição. Há, portanto um sentindo de inutilidade no sofrime nto
humano, e de repetição da vida. A humanidade é apenas um conjunto de seres que nascem e
morrem, e isso recai na condição solidão do homem moderno, através da sua percepção da
decadência humana.
Em articulação ao pensamento de Dostoievsky (2006), entendemos o absurdo enquanto
uma libertação, na medida em equivale aos valores frente à certeza da morte, na perspectiva do
sujeito absurdo. Meursault, a partir dessa ótica, é um personagem que não se encaixa no jogo
da sociedade, como se espera e como é habitual, e por esse motivo é considerado alguém
estranho, ao mesmo tempo que um “estrangeiro”. Deslocado do mundo em que está inserido, e
ao mesmo tempo um sujeito comum entre os outros.
Conforme discute Nietzsche (1998) sobre os mecanismos de castigo e atribuição de
crime, Camus traz em sua obra uma crítica ao sistema judiciário e ao direito. Esse último
compreende a norma em seu aspecto propositivo ou prescritivo de condutas (Ferraz Jr., 2007),
e Foucault relaciona a norma com o parâmetro por meio do qual se estabelece a diferenciação
entre o normal, ou seja, de acordo com a norma, e o anormal, isto é, contrário à norma (Fonseca,
2012).
Foucault analisa a função das leis e das normas e, consequentemente, do direito em
produzir aquilo que ele chama de corpos dóceis, ou seja, submissos e governáveis. Nesse
contexto, durante o julgamento de Meursault, Camus traz a lei enquanto um mecanismo de
coerção e adequação social, e que dessa forma é errôneo pensar nela enquanto uma fonte
imparcial de ética e pressupostos morais. A sociedade estabelece “verdades”, aparadas nos
conceitos e julgamentos morais, determinando padrões de comportamento sob o discurso
normativo (seja através do sistema judiciário, religioso, etc.), discurso esse que também é
imerso no absurdo.
Camus também, através dessa obra, discute a questão da revolta, através de uma busca
inconsciente de moral. A revolta é o sentimento do homem consciente do absurdo, respondendo

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“não” perante ao desespero que a ausência de sentido da existência estabelece. É o “não”
perante a utopia de uma sociedade nova e melhor que a anterior, na qual outra vez o sujeito irá
se defrontar com o sentimento de absurdo. É também uma libertação e questionamento perante
as respostas dadas pelos homens para o sofrimento e a salvação. É aceitar e contar consigo
mesmo no mundo. Meursault, em “O Estrangeiro” contempla a vida e se revolta ao mesmo
tempo enquanto espera sua pena (morte). Ele não fraqueja perante à crença do capelão em seus
últimos momentos; é fiel, somente, a si mesmo.
Nesse sentido, observa-se o absurdo não como um produto do espírito humano, nem
como algo independente do homem, mas como resultado de uma revolta do espírito com relação
ao mundo, de questionamentos e discordâncias da verdade estabelecida em sociedade. O
absurdo é o conflito do homem na busca por significado à vida e à existência, se deparando
com a impossibilidade de encontra-lo. E é diante disso que não se pode identificar o homem do
absurdo (e por consequência, Meursault), como indiferente.

REFERÊNCIAS

CAMUS, Albert. (1957). O Estrangeiro. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record.

DOSTOIEVSKY, Fiodor. (2006). Memórias do Subsolo. 5ª ed. São Paulo: Editora 34.

FERRAZ, Jr., Tercio Sampaio. (2007). Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão,
dominação. 5ª ed. São Paulo: Atlas. pp. 100-101.

FONSECA, Márcio Alves da. (2012). Michel Foucault e o Direito. 2ª ed. São Paulo. pp. 83.

NIETZSCHE, Friedrich. (1998). Genealogia da Moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia
das Letras, 1999.

SARTRE, Jean-Paul (1987). O Existencialismo é um Humanismo. 3ª ed. São Paulo: Nova


Cultural.

SARTRE, Jean-Paul. (2005). Situações I - crítica literária. São Paulo: Conac Naify. pp. 117-
132.

SCHOPENHAUER, Arthur. (2001). O mundo como vontade e representação. Rio de Janeiro:


Contraponto.

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