Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Herbert Marcuse
Ensaio de 1965
Tolerância Repressiva
A tolerância para com o que é radicalmente mau aparece agora como bom
porque serve a coesão do todo no caminho para a riqueza ou mais abundância. A
tolerância perante a estupidificação sistemática2 das crianças e adultos, de igual
modo, pela publicidade e propaganda; a libertação de impulsos destrutivos na
condução violenta; o recrutamento e o treino de forças especiais; a tolerância
impotente e benevolente perante a fraude desenfreada sobre as transações
comerciais; os resíduos e obsoletização planeada da atividade normal, não são
distorções ou aberrações, são a essência de um sistema que promove a tolerância
como um meio para perpetuar a luta pela existência e a supressão de
alternativas. As autoridades da educação, da moral e da psicologia são ferozes
contra o aumento da delinquência juvenil; são menos vociferadores contra a
apresentação orgulhosa, em palavras, de facto ou por imagens, de mísseis cada
vez mais poderosos, foguetes e bombas – a delinquência de maturidade de uma
civilização inteira.
3
‘loaded’.
Bloco
de
Esquerda
-‐
Porto
3
Círculos
Marxistas
–
Sessão
XIV
4
Now
in
what
sense
can
liberty
be
for
the
sake
of
truth?
isso é quase uma tautologia, mas uma tautologia que resulta de uma série de
juízos sintéticos. Isso especifica a capacidade de cada um determinar a sua
própria vida: ser capaz de determinar o que a fazer e o que não fazer, o que há
para sofrer e o que não.
Mas o objecto dessa autonomia nunca é o indivíduo privado, contingente como ele
é na realidade ou acaba por ser; é antes o indivíduo enquanto ser humano que é
capaz de ser livre com os outros. E o problema de tornar possível tal harmonia
entre a liberdade de cada indivíduo e de outro não é o de encontrar um
compromisso entre concorrentes, ou entre a liberdade e a lei, entre o interesse
geral e o do indivíduo, estado social público ou privado numa sociedade
estabelecida, mas na criação de uma sociedade na qual o homem não esteja
escravizado por instituições que prejudicam a autodeterminação desde o
início. Por outras palavras, a liberdade está ainda por ser criada, mesmo na mais
livre das sociedades existentes. E a direção pela qual deve ser procurada, e as
mudanças institucionais e culturais que podem ajudar a alcançar este objetivo
são, pelo menos nas civilizações avançadas, compreensíveis , ou seja, podem ser
identificadas e projetadas, com base na experiência, pela razão humana.
Bloco
de
Esquerda
-‐
Porto
5
Círculos
Marxistas
–
Sessão
XIV
Mas na sua luta com história, da arte submete-se à história: a história entra na
definição da arte e entra na distinção entre arte e pseudo-arte. Acontece, então,
que o que antes era arte se torna pseudo-arte. Formas anteriores, estilos e
qualidades, modos prévios de protesto e rejeição não podem recapturados por, ou
contra, uma sociedade diferente. Há casos em que uma obra genuína carrega uma
mensagem política regressiva – Dostoievski é um exemplo relevante. Mas, em
seguida, a mensagem é cancelada pelo trabalho em si: o conteúdo político
regressivo é absorvido, aufgehohen na forma de arte; no trabalho como na
literatura.
(....) [A] lição parece clara. A intolerância atrasou o progresso e prolongou o tempo
de execução e tortura de inocentes durante séculos. Isto conclui o caso da
tolerância indiscriminada, "pura"? Há condições históricas em que tal tolerância
impede a liberação e multiplica as vítimas que são sacrificadas para o status
quo? Pode a garantia indiscriminada de direitos e liberdades políticas ser
repressiva? Pode tal tolerância servir para conter uma mudança social
qualitativa?
Irei discutir esta questão apenas com referência aos movimentos políticos,
atitudes, escolas de pensamento, filosofias que são "políticas" no sentido mais
amplo – concernindo a sociedade como um todo, obviamente transcendendo o
âmbito do particular. Além disso, proponho uma mudança no foco da discussão:
focar-se-á não apenas, ou não principalmente, na tolerância para com o
extremismos radicais, minorias, movimentos subversivos, etc., mas
preferencialmente da tolerância para com as maiorias, em relação à opinião oficial
e pública, aos protetores institucionalizados de liberdade. Neste caso, a discussão
só pode ter como seu quadro de referência uma sociedade democrática, na qual as
pessoas, enquanto indivíduos e como membros de uma organização política e
outras organizações, estão envolvidas na tarefa de fazer, manter e mudar as
políticas. Num sistema autoritário, as pessoas não toleram – sofrem políticas
estabelecidas.
Bloco
de
Esquerda
-‐
Porto
7
Círculos
Marxistas
–
Sessão
XIV
Pelas mesma razão, aquelas minorias que se esforçam para conseguir uma
mudança do conjunto em si, sob óptimas condições que raramente prevalecem,
vão ser livres para deliberar e discutir, para discursar e reunir – e vão permanecer
inofensivas e indefesas perante a maioria dominante, que se manifestam contra a
mudança social qualitativa. Esta maioria está firmemente fundamentada na
crescente satisfação das necessidades, e na coordenação tecnológica e mental, o
que testemunha o desamparo geral de grupos radicais num sistema social que
funciona bem.
Esta tolerância pura do que faz e não faz sentido é justificada pelo
argumento democrático de que ninguém, nenhum grupo ou indivíduo, está na
posse da verdade e é capaz de definir o que é certo e o que é errado, o bom e o
mau. Portanto, todas as opiniões em disputa devem ser submetidas "às pessoas"
para que deliberem e escolham. Mas eu já sugeri que argumento democrático
implica uma condição necessária, nomeadamente, que as pessoas devem ser
capazes de deliberar e escolher com base no conhecimento, que devem ter acesso
a informação autêntica, e, nesta base, a sua avaliação deve ser o resultado de um
pensamento autónomo.
Bloco
de
Esquerda
-‐
Porto
9
Círculos
Marxistas
–
Sessão
XIV
[...] Seguramente, não se pode esperar que nenhum governo encoraje a sua
própria subversão, mas numa democracia tal direito é confiado às pessoas (ou
seja, à maioria das pessoas). Isto significa que os caminhos não devem ser
bloqueados para que uma maioria subversiva se possa desenvolver, e se eles forem
bloqueados pela repressão organizada e doutrinação, a sua reabertura pode exigir
métodos aparentemente anti-democráticos. Estes incluiriam a eliminação da
tolerância de pensamento e reunião de grupos e movimentos que promovem
orientações políticas agressivas, armamento, chauvinismo, discriminação baseada
Bloco
de
Esquerda
-‐
Porto
11
Círculos
Marxistas
–
Sessão
XIV
[...] Por quem pode ser feita, e por que padrões, a distinção política entre
verdadeiro e falso, entre progressivo e regressivo (para esta esfera, os dois pares
são equivalentes) e a sua validade ser justificada? Para começar, proponho que a
questão não pode ser respondida em termos da escolha entre a democracia e a
ditadura, segundo a qual, no passado, um indivíduo ou grupo, sem qualquer
controle efetivo de base, arroga para si o poder de decisão. Historicamente, mesmo
nas democracias mais democráticas, as decisões vitais e finais que afetam a
sociedade como um todo, têm sido tomadas, constitucionalmente ou de facto, por
um ou vários grupos sem o controle efetivo das próprias pessoas. A pergunta
irónica: quem educa os educadores (i.e. os líderes políticos) também se aplica à
democracia. A única alternativa autêntica e negação da ditadura (no que diz
respeito a esta questão) seria uma sociedade na qual "o povo" se tornasse em
indivíduos autónomos, livres das exigências repressivas de uma luta pela
existência no interesse da dominação, e, enquanto tais seres humanos, escolher
seu governo e determinar a sua vida.
5
The
small
and
powerless
minorities.
Bloco
de
Esquerda
-‐
Porto
13