Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
1 Introdução
Steinmo, 1994; Pierson, 1993, 1994; North, 1990; Wear, 1984; Hall e Taylor, 1996;
regras que estruturam o comportamento; por outro, elas próprias podem ser vistas como
3
políticas públicas. O exame das conseqüências políticas das políticas públicas é, assim,
uma extensão lógica dos argumentos do novo institucionalismo utilizados para a análise
público. O principal argumento para explicar esse aparente paradoxo considera que,
partir dos incentivos oferecidos e dos benefícios concedidos aos afetados pelas políticas.
O artigo está dividido em três outras seções além dessa introdução. Na segunda
política de assistência à saúde; na terceira é feita a análise da sua trajetória à luz desses
feedback
usualmente utilizadas para análises de instituições formais (Arthur, 1989, Weir, 1984;
North, 1990).
O efeito lock-in tem a ver com o fato de que as políticas públicas estabelecem
negativos, tanto do ponto de vista do Estado quanto dos atores sociais. No caso do
sobre a atividade do governo e, uma vez adotada, uma política tende a ser readotada, na
medida em que passa a ser considerada a resposta natural, levando os decisores a apenas
uma determinada política tem conseqüências políticas e cognitivas, de tal forma que na
relação entre as políticas públicas e os processos políticos as primeiras não são apenas
uma decorrência dos segundos, mas também funcionam como variáveis independentes,
idéias
potentes para explicar as continuidades, mas são menos capazes de fornecer uma
North (1990), por exemplo, sugere que mudanças nunca são completamente
construídas do nada, sendo mais comum que sejam reconstruídas a partir de elementos
das anteriores.
análise histórica permite prover uma estrutura analítica para entender a relação entre
tempo em que as instituições filtram a política, seu impacto é mediado pelo contexto
por fatores exógenos à própria política. Mas a esses se somam fatores endógenos, como
são limitadas, nos momentos de crise há maior liberdade de ação. Além disso, a crise
diferentes atores.
Novas idéias podem ser a fonte de mudança, mas de forma mediada pela
políticas, sendo necessário entender o processo concreto por meio do qual certas idéias,
e não outras, passam a dominar o discurso político (Scokpol, 1995)1. Weir (1994)
explora a relação dinâmica entre idéias e instituições políticas para analisar a inovação,
momento particular.
Brasil
explicado, em grande parte, pelos legados das políticas de saúde que limitaram a
assistência suplementar.
Previdência Social, a partir do vínculo trabalhista dos assalariados urbanos, como parte
8
para baixo pelo governo autoritário, sem expressar uma demanda coletiva ou sem a
pública de prestação de serviços, uma vez que a escolha política foi pelo
capturado pelos interesses privados, o Estado brasileiro não desenvolveu também a sua
capacidade reguladora.
foi o recurso aos convênios com empresas para que assumissem a assistência para seus
previdenciárias. Ainda nos anos 60, são criadas as cooperativas médicas, inicialmente
impostas pela medicina de grupo e para garantir a autonomia do trabalho médico, mas
empresas e nas grandes cidades da região Sudeste passam a ser cobertos pela assistência
inserção nesses planos se dará entre os estratos de maior renda e vai substituir, em parte,
a prática liberal que prevalecia até os anos 70, que foi se inviabilizando com o
crescimento dos custos da assistência médica. Esse comportamento foi incentivado pela
governamental.
assistência vai adquirindo, não apenas se constituem atores, mas esses desenvolvem
que vão compor a arena política do setor em que se darão as disputas relativas às
estratégias políticas dos grupos beneficiados por elas considerando os objetivos básicos
de, por um lado, garantir recursos públicos, de forma direta ou indireta, e, por outro,
o hiato entre a assistência pública e a privada. Por meio delas, o governo permitiu o
especiais, isto é, diferentes das custeadas pelo Poder Público. Essa decisão teve como
assumir os gastos foram incentivados a optar por acomodações especiais a custo mais
baixo, uma vez que parcela dele era assumida pelo setor público; b) hospitais reduziram
desfazer o vínculo da assistência privada com a pública. Nos anos 80, a assistência
privada deixa de ser complementar para se tornar suplementar, passando a ter seu
entrada das seguradoras no ramo saúde, o que lhes permitiu disputar o mercado com a
12
Essas inicialmente eram definidas prioritariamente pelo Poder Público, que era o agente
garantir o controle dos serviços médicos pelos próprios médicos. Nos anos 80 surgem as
privada torna esse benefício patronal um diferencial valorizado nas relações de trabalho
experiência com uma assistência segmentada tem, assim, efeitos cognitivos ao prover
embriões dos princípios da reforma que seria definida no final da década. Por serem
política de saúde como efeito de feedback do sistema de saúde vigente há mais de duas
que suas principais propostas fossem reforçadas por diferentes categorias, como a CUT,
segmentado que, ao mesmo tempo em que consagra a saúde como direito e garante a
saúde. Nesse quadro, foi possível a modificação da arena política setorial com a
com aqueles constituídos a partir das políticas anteriores. A crise da assistência, que se
para a crise, colocá-la na agenda e obter apoio político para ela. Nesse processo,
16
processo político, por ter sido capaz de fazer a mediação entre a crise e as escolhas
surgimento de uma política informada por uma ideologia publicista e por uma
igualdade2.
Por sua vez, o caráter limitado da reforma é explicado pelos efeitos de feedback
interesses e pela formação das preferências dos atores favorecidos pelas políticas de
saúde estabelecidas a partir dos anos 60. A mudança não significou o estabelecimento
de uma nova rota para a assistência à saúde, pois ao mesmo tempo em que se muda de
forma profunda o segmento público, a mudança é limitada pela antiga estrutura e não é
da realidade dos atores que poderiam dar suporte político mais ativo à implantação da
reforma da saúde. Expressando essa trajetória, a implantação do sistema público vai ser
17
traduziu na falta de suporte político efetivo de categorias sociais relevantes, seja por sua
barganha, localizados nos grandes centros industriais no eixo Rio/São Paulo. Embora o
período de implementação, de fato não tinham muitos incentivos para um apoio mais
efetivo a uma reforma sanitária radical, entendida como uma transformação publicista
da assistência à saúde. Pelo menos a curto prazo a implantação completa do SUS lhes
traria perdas objetivas, na medida em que, na sua maioria, deveriam estar vinculados a
18
privada, seja pela menor renda ou pela forma de inserção mais precária no mercado de
reforma, que, por suas características redistributivas, demandaria coalizões mais amplas,
fortes se mobilizaram de fato (e não apenas formalmente) por uma assistência universal,
igualitária e pública.
apoio efetivo à proposta do SUS. Nada disso foi favorecido pela trajetória de expansão
dos direitos sociais no país, entre eles a assistência à saúde, que, ao contrário, deu-se
contudo, apenas dos segmentos favorecidos pela assistência privada. Por meio de
público. A aprovação da EC 29/2000, que teoricamente vincula recursos dos três níveis
de governo para a saúde, não demonstra que a questão terá uma solução satisfatória.
proporcional à expansão da clientela e das atribuições. Entretanto, isso não significa que
financeira, pois isso pressupõe que existiria, de fato, o objetivo estatal de implantação
igualitário. Ao que tudo indica, um projeto publicista para a saúde não se constituiu
a janela anterior, e outros fatores vão convergir de forma a não tornar realidade a
rede pública associado à opção pela compra de serviços privados, ao longo da trajetória
lógica dos interesses privados. Esse legado político e estrutural das políticas coloca hoje
ser readotada, sendo considerada a resposta natural, de forma que a ampliação da rede
pública sequer tem entrado no debate público. Embora a natureza privada dos
constrangimentos para que se consiga fazer prevalecer o interesse público, uma vez que
aos prestadores existe a alternativa de vender serviços no mercado dos planos de saúde.
instituições e atores em torno do SUS, cujos interesses são diretamente afetados pela
política de saúde, como os prestadores de serviços e profissionais de saúde, uma vez que
a principal porta de entrada para a assistência é o sistema público. Apesar de não cobrir
toda a população, o SUS é responsável pela grande maioria dos serviços de saúde
prestados no país e pela cobertura total de cerca de 75% da população, além de atender
a situação de dupla cobertura dos cidadãos que contam com a cobertura privada sem
demais querendo estabelecer regras uniformes para todos os segmentos que operam
1998 foi promulgada a Lei N° 9.656 que dispõe sobre os planos privados de assistência
internacionalmente.
cobertura assistencial, sendo esse o issue mais polêmico e responsável pelas maiores
clivagens. Por outro lado, com a legislação se propôs regular o setor, fixando exigências
da assistência privada.
da política de saúde, de forma direta ou indireta por intermédio da ANS, passa a ser a
23
formalmente livre, sendo os planos de saúde vistos como produtos a serem registrados e
4 Conclusões
vinculados a empresas que administram planos de saúde para seus empregados. Nos
anos 80, também favorecida por incentivos fiscais às pessoas físicas, a assistência
privada se expandiu para fora das empresas por meio dos planos de saúde contratados
política, capaz de articular uma demanda universalista. De forma indireta, esse modelo
vai ter conseqüências para a implantação da reforma da política nos anos 90, de sentido
universalista e publicista, que não vai contar com o apoio efetivo, embora o tenha
formalmente, dos setores mais mobilizados dos trabalhadores que constituíram um veto
crise setorial; de outro, o legado das políticas prévias levou à convivência da inovação
institucional não definiu uma mudança de rota para a assistência á saúde. Além de não
década de 90, orientada para uma ampliação do papel do Estado, foram, às vezes, vistos
justificável nos termos do debate internacional que passou a enfatizar as opções voltadas
reformas, as diferenças entre os países não permitem uma interpretação que negligencie
movimento de reforma do Estado, não podendo ser visto como uma resposta às
quando se abriu uma janela política em uma situação favorável a rupturas institucionais.
provoquem desequilíbrios nos arranjos moldados até agora, é pouco provável que a
amplo, político ou econômico, ou de crises internas que possam ser utilizadas como
estrangulamentos, muitos deles decorrentes da sua própria natureza dual, que produz
inúmeras ineficiências. Essa situação tende a produzir crises que, dependendo da forma
como forem utilizadas pelos atores políticos, poderão abrir novas janelas políticas e
levar a rupturas, mesmo que limitadas pelas políticas prévias. Se o modelo analítico
desenvolvimento.
não tem conseguido “corrigir as falhas do mercado”, e o conflito relativo às regras não
tem logrado construir um consenso. Por sua vez, o SUS tem se materializado em
formatos institucionais que também vão fornecer a moldura em que se farão novas
possível especular que esses possam vir a dar maior sustentação política ao SUS em um
dinâmica futura da política de saúde poderá ser afetada pelos efeitos institucionais da
1
Estudando o desenvolvimento das idéias monetaristas na Inglaterra, Hall (1994) mostra que algumas
instituições podem facilitar, e não impedir, a mudança de políticas. Na Inglaterra, a competição
bipartidária e a responsabilidade do gabinete de governo podem estabelecer uma tensão que inspira a
criatividade e encoraja a inovação. King (1994) mostra como estruturas institucionais definem os canais e
mecanismos pelos quais novas idéias são transformadas em políticas.
2
A idéia de janela para políticas considera a perspectiva de Kingdon (1984), segundo a qual problemas,
políticas e processo político convergem e divergem, dando lugar no momento e lugar adequados ao
surgimento de uma política concreta.
3
A experiência brasileira de reforma da política de saúde não corrobora a idéia de uma conjuntura crítica
de mudança institucional substancial que determina uma mudança de trajetória a partir dela, tal como
sugerem os argumentos de Gourevitch, Collier e Collier e Krasner (apud Hall e Taylor, 1996).
4
Sobre a aprovação e implementação da EC29/2000, ver Menicucci (2003).
29
5
Nos anos 90 a agenda internacional da saúde sofreu uma inflexão e foram introduzidas, além de
questões administrativas e gerenciais para a reorganização dos sistemas de saúde, a defesa de menor grau
de responsabilização do Estado na provisão de serviços (Viana, 2000). Reformas em sistemas de saúde
em diferentes países buscaram, em maior ou menor grau, incorporar a participação do mercado na
prestação de serviços, sugerindo novas perspectivas da combinação público-privado. Nessa conjuntura de
reformas, várias análises identificam uma tendência comum em todos os países da América Latina no
sentido da “privatização” da saúde, significando a ampliação do setor privado em detrimento do estatal
em um contexto em que a lógica mercantil teria se tornado o elemento ordenador da área da saúde
(Laurell, 1995; Eibenschutz, 1995).
6
Como exemplos de estudos comparativos, ver Laurell, 1995; Fleury, 1995; Labra, 1995; Almeida, 1997;
Viana, 1997.
5 Referências bibliográficas
ALMEIDA, Célia Maria de. (1997), “Crise econômica, crise do Welfare State e reforma
sanitária”, in Gerschman, S. & Werneck Vianna, M.L. (orgs.), A miragem da pós-
modernidade – Democracia e políticas sociais no contexto da globalização, Rio de
Janeiro, Fiocruz.
HAAL, Peter A. e TAYLOR, e Rosemary C.R. (1996), “Political science and the three
new institutionalisms”. Political Studies, V. XLIV, n. 5.
HATTAM, V.C. (1993), Labor visions and state power: the origins of business
unionism in the United States, Princeton, Princeton University Press.
HECLO, H. (1974), Modern social policies in Britain and Sweden. New Haven, Conn.,
Yale University Press.
30
IMMERGUT, Ellen M. (1994), “The rules of the game: the logic of health policy-
making in France, Switzerland and Sweden”, in Steinmo, Sven, Thelen, Kathlen e
Longstreth, Frank (edits.), Structuring Politics – historical institutionalism in
comparative analysis, Cambridge, Cambridge University Press.
KINGDON, John. (1984), Agendas, alternatives, and public policies. Boston, Little
Brown.
LABRA, María Eliana. (1995), “As Políticas de Saúde no Chile: entre a Razão e a
força”, in Labra, Maria Eliana e Buss, Paulo Marchiori (orgs.). Sistemas de Saúde -
continuidades e mudanças, São Paulo- Rio de Janeiro, Hucitec e Fiocruz.
PIERSON, Paul. (1994), Dismantling the welfare state? Reagan, Thatcher, and the
Politics of Retrenchment, Cambridge, Cambridge University Press.
SKOCPOL, Theda. (1985), “Bringing the state back in: strategies of analysis in current
research”, in Evans, Peter B., Rueschemeyer, Dietrich e Skocpol, Theda (edits.),
Bringing the state back in, Cambridge, Cambridge University Press.
VIANA, Ana Luiza D’Ávila. (2000), “As políticas de saúde nas décadas de 80 e 90: o
(longo) período de reformas”. in Canesqui, Ana Maria (org.). Ciências sociais e saúde
31
para o ensino médico, Saúde em debate – série didática, São Paulo, Editora
Hucitec/FAPESP.
WEIR, Margaret. (1994), “Ideas and the politics of bounded innovation”, in Steinmo,
Sven, Thelen, Kathlen e Lonstreth, Frank (edits.), Structuring Politics – historical
institutionalism in comparative analysis, Cambridge, Cambridge University Press.