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as mãos do professor Marco
Aurélio Alves está uma prova
sobre o ciclo da cana-de-
açúcar feita por um aluno da 5a
série. A primeira pergunta une
interpretação de texto e
religião. A seguinte refere-se à
sua matéria, História. A terceira
mistura elementos de
Geografia e Ciências. Todas
tendo como base o poema O
Açúcar, de Ferreira Gullar. Por
trás do formato ousado desta
prova existe uma palavra que
pode ser tanto mágica quanto
geradora de muita confusão, se
Arquivo pessoal
A aluna-mucama em aula
sobre o ciclo da cana-de-
açucar e o Mosteiro do
Caraça, tema do ciclo do ouro
Tudo começou quando a direção do "Das Dores" (como a escola é chamada pelos alunos), depois
de uma palestra sobre Pedagogia de Projetos feita pela pedagoga Keyla Matsumura, estimulou os
professores a criarem formas de unir várias disciplinas. Marco Pollo Ferreira Alves, que leciona
Geografia, lançou a idéia de levar a turma da 5ª série ao Mosteiro do Caraça, que faz parte de um
Parque Natural localizado a 120 quilômetros de Belo Horizonte. Como vem escrevendo uma tese
sobre excursões interdisciplinares para o Instituto Jose Verona, de Cuba, percebeu que aquela era
a oportunidade de unir seu projeto ao da escola. Mal sabia que ali estava a ponta de um iceberg.
"Fizemos uma reunião e decidimos adotar o livro Ecologia, da Editora Lê (ao lado) para
trabalharmos o tema do meio ambiente em sala de aula. Depois, partiríamos para o trabalho de
campo, juntando alguns colegas que se interessassem", explicou Marco Aurélio. Realizando
encontros no período da tarde, os professores acertaram o calendário e o que cada um ensinaria
antes e depois da excursão.
A saída aconteceu em março, de trem — o que, para muitos alunos, foi uma grande novidade.
Duas horas depois, a turma chegava ao Mosteiro do Caraça. Anotando, observando detalhes,
fotografando e relacionando tudo com o livro paradidático lido, os alunos da 5ª série tiveram um dia
bem movimentado.
Baixada a agitação dos alunos com a ida ao Caraça, cada professor procurou sedimentar alguns
conceitos. Marco Pollo, de Geografia, distribuiu mapas da região para que os grupos identificassem
cada local, descrevendo o relevo e a vegetação. Marco Aurélio e Karina Menezes, professores de
História, enfocaram o ciclo do ouro e a visita de D. Pedro II ao lugar. Giovana Dantas e Carlota
Álvares, de Ciências, trabalharam a fauna e flora e as lições de ecologia observadas pelos alunos.
Nas aulas de Ensino Religioso mostrou-se a relação entre homem e natureza, enquanto Wellington
Ade, de Matemática, trabalhou as figuras geométricas do conjunto arquitetônico. Por fim, entraram
Andréa Godinho e Letícia Pellegrino, de Português. Mais que corrigir os alunos, elas ensinaram a
importância de se refazer o texto em busca do melhor estilo, da palavra ideal.
"Por suas características de conteúdo, Ciências, História e Geografia costumam ser os ‘carros-
chefes’ dos projetos interdisciplinares. E Português é o suporte, pois todo projeto implica em
produção de textos. Já matérias como Matemática ou Educação Física são mais difíceis de serem
integradas", admite a Supervisora de Ensino Maria Flor de Maio Duarte.
Na época de provas, nova revolução. Os alunos nem acreditavam no que viam. Receberam uma
única prova, para ser respondida em duplas, com questões de Ciências, História, Geografia,
Língua Portuguesa e Matemática.
Para a nova turma de 5ª série, a experiência do Caraça foi aprimorada. Fazendo uma autocrítica
do ano passado, os professores perceberam que a ecologia havia ficado muito centrada na defesa
do meio ambiente em um lugar distante da realidade urbana dos alunos. "Este ano, pretendemos
mostrar que a defesa do meio ambiente passa pela busca da qualidade de vida", planeja Marco
Aurélio, revelando o que talvez seja a faceta mais interessante da interdisciplinaridade: ela é viva,
pulsa, se agita, sofre mudanças e, portanto, exige constantes correções de rumo.
Agora, a 5ª série está trabalhando a "Carta de um Índio Americano", juntamente com uma análise
do filme Dança com Lobos, de Kevin Costner, que fala da conquista do Oeste norte-americano e
dos conflitos entre brancos e índios. "Assim, trabalharemos a destruição do meio ambiente e a
discriminação racial", comenta o professor de História.
O que acontecerá na reedição do Projeto Caraça? Ninguém sabe. Os professores nem imaginam
aonde uma aventura do conhecimento como esta vai dar. E este é o melhor dos mundos para
quem quer cutucar a curiosidade de seus alunos. Piaget definia a inteligência como a capacidade
de estabelecer relações. Quando um projeto interdisciplinar consegue ligar conceitos pescados
numa aula aqui, noutra ali, encoraja os alunos a encontrar respostas a partir de suas próprias
perguntas. "O grande diferencial de um projeto desta natureza é a mudança de postura do
professor", explica a pedagoga Rosamaria Calaes de Andrade, acrescentando que "toda dúvida,
desejo ou problema vindo dos alunos pode ser assunto, desde que se faça o recorte adequado à
faixa etária e ao programa exigido". Ela exemplifica. "Uma professora de Português da 2ª série de
outro colégio de Belo Horizonte aproveitou a falta de um aluno, e o fato de ninguém saber seu
telefone nem onde morava, para propor uma Agenda da Classe. Como as crianças precisaram
ordenar os nomes em ordem alfabética, foi um jeito criativo de ensinar o abecedário", comenta
Rosamaria. O professor de Estudos Sociais fez a classe estudar o bairro a partir do endereço de
cada um. O de Matemática mostrou como é feita a numeração das casas nas ruas.
Exemplos como este acontecem a todo momento. O que faz a diferença é o professor estar atento
às oportunidades. O próprio Marco Aurélio se dá conta da mudança de atitude toda vez que entra
em uma livraria. "Antigamente, eu ia para a estante dos livros de História e ficava por lá. Agora,
comecei a me interessar por livros de Pedagogia e até de outras matérias", conta o professor,
revelando o principal efeito da interdisciplinaridade na vida de quem dá ou recebe aulas: surge uma
vontade danada de aprender mais, e mais, e mais.
Os alunos, porque...
Os professores, porque...
se viram forçados, pelos próprios alunos, a ampliar seus conhecimentos de outras áreas, o
que melhora a formação;
tiveram menos problemas de disciplina do que imaginavam nas aulas fora da sala;
A escola, porque...
teve menos problemas com disciplina, pois muitos trabalhos em grupo eram feitos durante os
intervalos.