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História Militar:

Importância,
Natureza, Aplicação
e Evolução
tribui para a conscientização de que a vida trans-
corre segundo um processo de mudança contínuo,
L. P. Macedo Carvalho ajudando, assim, a contrabalançar o excessivo oti-
mismo, ou o excessivo pessimismo, em relação aos
acontecimentos correntes. Mais ainda, ajudará a

O
s fenômenos guerra e paz são coordenadas reavaliar os valores utilizados para pesar os feitos, os
da curva da evolução das civilizações. Foi métodos e as decisões. Protegido do calor e das
pela guerra que pereceram quase todas as paixões dos argumentos partidários, pode-se, por
civilizações conhecidas e foi também pelos exemplo, compreender algumas das vantagens e das
conflitos bélicos que se projetaram as que passaram dificuldades da subordinação das forças militares a
à História. uma direção civil.
Nos dias atuais de globalização e de fragmen- O estudo da História contribui, no processo
tação, de entrechoques de civilizações, mais do que global intelectual, para chegar-se a um julgamento
nunca se faz indispensável saber interpretar os sinais abalizado. Melhor do que testar hipóteses em busca
característicos da era em que se vive, ser capaz de de tendências futuras, a História trabalha com causa
reconhecer como a história do mundo se desenvolve, e efeito de fatos. Uma atenta leitura da História
e quais são as prováveis tendências futuras da huma- Militar pode auxiliar o desenvolvimento do que
nidade, e, ao mesmo tempo, identificar o interesse Lidell Hart denominou abordagem científica, a
nacional para definir o que e como fazer, ou seja, a despeito de que se questione ser possível aprender
política e as estratégias. Aí avulta a importância de estratégia em livros-textos da mesma maneira que se
se possuir uma visão global da História Militar, para adquire conhecimentos acadêmicos. Ao longo dos
se delinear a ação política a ser desencadeada. tempos, a evolução da arte militar e das instituições
O estudo meticuloso da História Militar pode castrenses sempre se fez sentir na vida das civilizações.
proporcionar uma valiosa visão em perspectiva para Apesar do momento parecer inadequado diante da
o exame crítico dos problemas contemporâneos. propalada inutilidade dos exércitos, da generalizada
A perspectiva histórica conduz ao senso de abolição do serviço militar obrigatório e do desa-
equilíbrio e encoraja a visão de longo alcance; con- parecimento da noção de pátria – dado a guerra ter

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sido ilusoriamente proscrita pelos organismos in- tos institucionais do estamento militar e das rela-
ternacionais e a implantação da nova ordem ções entre civis e soldados, na paz e na guerra, do
mundial –, a História Militar escapou à condenação sistema militar forjado pela sociedade e as opções
de limitar-se à história das instituições armadas e estratégicas e táticas adotadas em operações.
da nobre profissão de soldado. Em suma, o estudo de História Militar apre-
Vale recordar que a Segunda Guerra Mundial senta tanto valor educacional como utilitário. Per-
causou 41 milhões de mortos, ou seja, da ordem de mite apreciar a guerra como um todo e relacionar
2,3% da população mundial de então. Tais cifras suas atividades em períodos de paz, dos quais ir-
mostram-se inferiores aos 11,2% do período de 1914 rompe e aos quais, inevitavelmente, retorna.
a 1918 e aos 10% do século XVII, mas devemos A História Militar também ajuda a desenvol-
considerar haver o efetivo demográfico do planeta ver um modo de pensar profissional, ou seja, uma
se multiplicado. Precisamos ainda ter em mente que atitude mental. No campo da liderança, mostra a
a guerra, nos dias atuais, mata mais civis do que grande importância do caráter e da integridade.
militares. O percentual de civis entre as perdas globais Estudada em profundidade, a História Militar
foi de 43% durante a Primeira Guerra Mundial, de permite ver a guerra, segundo a decantada expressão
63% na Segunda, de 85% nos conflitos da década de Clausewitz, como um camaleão, um fenômeno
de 1980, superando em muito os 30% registrados que alimenta e suga a sociedade que a provoca .
na Revolução Francesa e nas Guerras Napoleônicas Assim, a História Militar assumiu maior im-
e, até mesmo, os 75% verificados na Europa nos portância, viu-se inseparável do contexto histórico
confrontos armados do século XVIII, sem levar em dos povos, ultrapassou os umbrais dos estabeleci-
conta estarem incluídos hoje, entre os combatentes, mentos de ensino militar, penetrou nas universidades
soldados e guerrilheiros. dos países desenvolvidos e despertou o interesse tanto
Por outro lado, a direção suprema da guerra dos meios acadêmicos quanto das classes armadas.
passou das mãos dos chefes militares para a dos Ao longo dos tempos, a História Militar teve
líderes políticos. altos e baixos e desempenhou importante papel na
Tornando-se a segurança de cada país responsa- formação de chefes militares e de líderes políticos.
bilidade do cidadão, o preparo e a mobilização do No período entre as duas guerras mundiais,
Poder Nacional impõem o esforço conjunto de todas ocupou lugar de relevo nos currículos dos princi-
as formas de expressão de poder – econômico, pais estabelecimentos de ensino militar como um
científico-tecnológico, militar, político e psicossocial. simples prolongamento da história política, em
A História Militar, ao contrário do que muitos resposta à definição que Clausewitz deu à guerra.
pensam, não é domínio exclusivo dos militares. Daí resultou um certo enclausuramento do seu estudo.
A História Militar não mais deve ser confun- Após a Primeira Guerra Mundial, nos tra-
dida com história dos militares nem com a mera balhos universitários, o estudo da guerra ficou
história das batalhas. Hoje, ganhou nova dimen- restrito, durante muito tempo, ao domínio da
são, ampliando seu restrito campo de investigação História Geral. A História Militar orientou-se para
de ontem. Múltiplos pontos em comum são en- o lado técnico, ficando restrita quase que exclu-
contrados com a História Geral e outros ramos sivamente aos historiadores militares.
do conhecimento. No início deste século, a opinião pública mos-
Vale salientar que o estudo de História Militar trava-se desinteressada pela História Militar, exceto
envolve mais do que meramente testemunhos ope- na Alemanha, vitoriosa em 1870, e na França, ani-
racionais. Compreende também o estudo de aspec- mada por um espírito revanchista.

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Apesar de a Primeira Guerra Mundial ter cionária, em seus aspectos sociais, morais estruturais
suscitado a publicação de inúmeras obras – biogra- e não conjunturais.
fias, memórias e estudos de inegável valor –, as pes- Não obstante, de maneira geral, a História
quisas em História Militar nas universidades foram Militar não recebeu a merecida atenção. E isso
raras, arrimadas por certa repulsão ao holocausto deveu-se, em parte, à explosão das informações nas
de 1914-18, dando margem ao conseqüente surgi- múltiplas áreas de conhecimento, que compeliu os
mento de um espírito antimilitarista ou pacifista, militares a dominá-las e, por outro lado, ao pre-
sendo o estudo da guerra quase banido dos progra- domínio da especialização sobre a generalização,
mas universitários. resultante do avanço desenfreado da ciência e da
Dessa forma, em 1940, a França se preparou tecnologia, fatores determinantes da revisão dos
para a guerra que passara e não para a futura confla- currículos escolares. Ademais, o estudo das
gração mundial. Acusa-se injustamente a História experiências passadas tornou-se irrelevante. Nas
Militar de ser responsável pelos erros cometidos, academias e institutos de altos estudos militares, o
sem levar-se em conta que o curso de História ensino e a aprendizagem da História Militar fica-
Militar da famosa École Supérieur de Guerre de ram limitados a apresentações de casos históricos
Paris havia sido extinto. sem maior profundidade, na introdução de certas
Aqui entre nós, embora já constasse dos unidades didáticas, para despertar a motivação dos
currículos da Academia Militar do Brasil da pri- discípulos. As universidades nenhuma ou pouca
meira metade do século XIX (1842), o interesse atenção lhe deram até algumas décadas atrás, sob
pelo estudo da História Militar só foi despertado o pretexto de ela se restringir à análise das batalhas,
com o advento da Missão Militar Francesa após a o que interessava apenas aos profissionais das armas.
Primeira Guerra Mundial. Os militares estão pagando elevado preço por
Nos anos posteriores ao conflito de 1939- haverem negligenciado o estudo da História Militar
45, a matéria não recebeu tratamento igual em na formação dos seus quadros de oficiais de estado-
toda parte. maior e sentem a necessidade de rever os currículos
Na União Soviética e nos países do Leste de diversos cursos, acrescendo-lhe a carga horária
Europeu, o estudo de História Militar foi estimu- que tão importante disciplina reclama. O estudo da
lado como meio de propaganda. Nos países anglo- História Militar proporciona ampla base cultural e
saxônicos, diante da desmoralização e das campa- técnico-profissional e desenvolve o poder de análise
nhas contra o serviço militar obrigatório, os inte- e percepção, contribuindo para a tomada de decisões
resses se concentraram nos efeitos da guerra sobre em situação crítica.
as populações. Apenas a Sociologia e a Psicologia Nas últimas décadas deste final de século e de
deram mais atenção ao fenômeno guerra, apare- milênio, constata-se, em todo o Primeiro Mundo,
cendo a figura de Janowitz, nos Estados Unidos, e um despertar generalizado nas escolas militares e
Gaston Bouthoul, na França. nas universidades para o estudo da História Militar,
Após 1917, a guerra tomou outra feição, sob a experimentando os cursos de pós-graduação nesse
influência de Lenin, Mao Tsé-tung e Che Guevara, ramo da História crescente demanda, particular-
não fazendo distinção entre civis e militares ou entre mente por civis.
tempo de guerra e de paz, enfatizando a subversão, A situação começou a mudar na década de
a resistência e o terrorismo. Tal transformação levou 1970. Em conseqüência dos movimentos contes-
os pensadores militares a se interessar pelo estudo tatórios de 1968, os cursos de História Militar no
de uma nova modalidade de guerra, a guerra revolu- âmbito das Forças Armadas foram reavaliados e

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jovens oficiais sentiram-se encorajados a se gra- campo da pesquisa histórica, mas, igualmente, pela
duarem nas universidades. confrontação entre o pensamento dos historiadores
Na realidade, as coisas não foram assim tão de diferentes nacionalidades. A visão da História
fáceis. Os encontros entre militares e universitários Militar deve ser global, tanto no plano internacional
viram-se marcados por uma certa incompreensão. como no plano temático.
A história dos militares afigurava-se aos soldados Somente no princípio do século XIX ela
como um complemento útil porém secundário à ganhou espaço próprio. Coube a Jomini, o famoso
História Militar. Nas universidades, por outro la- adivinho de Napoleão, a divisão da História Mili-
do, os pesquisadores não arriscavam a incursio- tar em três grandes categorias: História das Bata-
nar fora da história social das Forças Armadas lhas, História da Arte da Guerra e História Políti-
para abordar o aspecto capital da História Militar co-Militar. Enquanto o suíço Jomini dedicou-se à
ligado à finalidade das instituições militares, que estratégia militar, o prussiano Clausewitz voltou-
é o estudo da guerra. se para o desenvolvimento da teoria da guerra,
Mas ao final, todos lucraram. Os militares ocupando-se dos aspectos básicos dos conflitos
fizeram com que os universitários compreendessem entre as nações.
a especificidade da psicologia dos combatentes, Até o princípio do século XX, reduzido nú-
enquanto que os acadêmicos transmitiam aos mili- mero de pensadores se preocupou com a am-
tares a sua grande problemática e os seus métodos pliação do campo da História Militar, predomi-
de pesquisa. O resultado desse troca de experiências nando a idéia positivista de “saber para prever, a
redundou no progressivo desenvolvimento da fim de prover”.
História Militar que, pouco a pouco, incorporou Em 1914, surgiram as primeiras tentativas de
aspectos da História Geral. relacionar a História Militar com a política externa
Assim começou a florescer a História Militar das nações e a arte da guerra. Na Alemanha, Hans
nas universidades. Nelas surgiram centros de estudo Delbrück alargava os domínios da História Militar
de defesa nacional e de História Militar, como o ao pesquisar a correlação das operações de guerra
de Montpellier. Todavia, os acadêmicos que res- com a política. Na França, Jean Jaurès, o líder socia-
ponderam ao apelo foram, sobretudo, os juristas e lista da época, desenvolveu a teoria de que as insti-
os sociólogos – nem tanto os historiadores. tuições militares só seriam reconhecidas quando
Nos países totalitários do Leste, a palavra traduzissem as aspirações nacionais, fazendo
de ordem foi dar uma interpretação marxista aos ressurgir o conceito de nação em armas.
fatos, bem como exaltar os sacrifícios efetuados Após a Primeira Guerra Mundial, o russo
durante as guerras de libertação e na luta contra Frunze, legando o nome à Academia Militar de seu
o nazismo. A pesquisa foi incentivada mas tam- país, lançava os fundamentos de novo conceito de
bém controlada, ao contrário do que ocorreu nos História Militar, com base na linha do pensamento
países anglo-saxônicos, onde a História Militar ofi- marxista-leninista e no princípio clausewitziano de
cial se mostrou muito mais discreta, havendo ampla que a guerra é a extensão da política. Embora, ao
liberdade de pesquisa. final da Segunda Guerra Mundial, Stalin refutasse
Em geral, pode-se dizer que a tutela oficial o princípio da teoria de Clausewitz, dado ao senti-
sempre se mostrou menos intensa no estudo de mento antigermânico reinante na União Soviética,
épocas antigas do que no das mais recentes. os russos defendem a abordagem da História Militar
Uma visão global da História Militar não é como o inter-relacionamento do poder militar com
obtida apenas analisando-se o desenvolvimento no o político. Até então, a História Militar era encarada

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como um meio para se avaliar o poder relativo de Este fin-de-siècle, usando a expressão cria-
combate entre beligerantes, restrito ao estudo das da por Paul Verlaine ao término do século XIX
batalhas e campanhas. como sentido de decadência, não sugere reali-
A História Militar como fundamento para dade diferente.
o estabelecimento de doutrina militar só viria, real- O quadro acre de hoje que se configura no
mente, a aparecer na Inglaterra, durante a década horizonte é de cinzas e melancolia, apesar da revo-
de 1920, com J. F. C. Fuller, que advogou a trans- lução da bioengenharia, da cibernética e da infor-
formação da arte da guerra em ciência para seu mática. Os Estados-nação, após décadas de confron-
melhor entendimento e aplicação. tos e de esforços pela paz mundial, não encon-
Na virada do século, os norte-americanos traram ainda uma solução definitiva para o bem
Alfred Thayer Mahan e Walter Millis buscaram comum, permanecendo o mundo em crise.
relacionar a História Militar com a Estratégia e Assim, passa-se da euforia que os avanços
a Política. científico-tecnológicos trouxeram com a globalização
Depois da Guerra da Coréia, a História Mili- e a modernização para a desesperança conseqüente
tar entrou em declínio, por causa do pensamento do alastramento do fantasma do desemprego e da
dominante de que se tratava de disciplina voltada permanente ameaça de instabilidade sociopolítico-
exclusivamente para o estudo da guerra em si, a econômica, que leva a uma atitude cautelosa de
despeito da ampliação do seu campo. expectativa quanto ao porvir. O futuro se afigura
O conflito do Vietnã veio contribuir sobre- tão incerto como ao final do século passado. Fala-se
modo para se retomar a debate a respeito da natu- em fim da História, com a queda do muro de Berlim,
reza da História Militar, acentuando a importância o desaparecimento fictício das ideologias e o início
da análise da relação entre a guerra e a sociedade, de nova era de paz e prosperidade internacionais.
entre o cidadão e o soldado. Mas, se o padrão de vida da humanidade não melho-
A corrida armamentista nuclear e a Guerra rar sensivelmente a médio prazo e se a justiça não
Fria impuseram nova interpretação da História prevalecer, não há dúvida de que o mundo, infe-
Militar e a reavaliação do seu estudo. lizmente, caminhará em direção a novos conflitos.
Em 1971, o imaginativo crítico Peter Paret Dessa forma, é recomendável difundir-se o estudo
salientou que a História Militar vinha despertando da História Militar entre civis e militares, de modo
mais atenção dos civis que dos militares. Parado- a torná-la um instrumento mais útil no relaciona-
xalmente, enquanto crescia o interesse nos meios mento futuro entre o soldado e o Estado.
acadêmicos civis pelo assunto, este decrescia nos A História provém da História Militar, ensi-
estabelecimentos de ensino militar. As universida- nava Pedro Calmon.
des criavam e estimulavam os primeiros cursos de
pós-graduação em História Militar.
L. P. Macedo Carvalho – Coronel de Artilharia e Estado-Maior, é
Na atualidade, o conhecido historiador inglês natural do Rio de Janeiro.
John Keagan, sustentando as premissas de que a Iniciou sua carreira militar na Academia Militar das Agulhas Negras,
guerra é um conflito de culturas e de que a história tendo sido declarado Aspirante-a-Oficial em 1954. Cursou a ECEME, a
controvertida dos conflitos de personalidade da ESG, além de cursos na Inglaterra como oficial de Estado-Maior: Staff
Segunda Guerra Mundial ainda não foi escrita, bem College e Royal Army Educational Center.
É bacharel em Ciências Políticas e Econômicas pela Faculdade Cân-
como a propalada teoria de Huntington do choque
dido Mendes. Atualmente é Presidente do Instituto de Geografia e História
das civilizações, volta-se a aguçar a atenção da comu- Militar do Brasil e Conselheiro da Fundação Cultural Exército Brasileiro.
nidade acadêmica para o estudo de História Militar.

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