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COMPLEMENTAÇÃO DA SENTENÇA

ARBITRAL
Os limites e consequências do artigo 33, § 4º da
Lei 9.307/96, com alterações da Lei 13.129/2015

JULHO| 2015
MARÇO | 2016

Certidão de Ilícito Administrativo Jurisprudência


Antecedentes Tributário Comentada
Exigência para admissão Inexigibilidade Legitimidade das filiais
de empregado de outra conduta da pessoa jurídica
Repositório Autorizado de Jurisprudência | STF Registro nº 049 INT-11 | TST – Registro nº 36/2010 | ISBN 978-85-8390-037-5
NESTA EDIÇÃO
30
ESPECIAL – COMPLEMENTAÇÃO
09 DOUTRINAS
Exigência de cer dão de antecedentes
para admissão de empregado
Sergio Pinto Mar ns
DA SENTENÇA ARBITRAL

Os limites e
14 O ilícito administra vo tributário e a
inexigibilidade de outra conduta
consequências do Hugo de Brito Machado
artigo 33, § 4º,
da Lei 9.307/96,
20 Primeiros comentários à Lei 13.245/2016,
que altera o Estatuto da OAB e regras da
com alterações da inves gação criminal
Lei 13.129/2015 Eduardo Luiz Santos Cabe e

Marcos Serra Netto Fioravanti 46 JURISPRUDÊNCIA COMENTADA


Breves considerações sobre a posição
do STJ acerca da legi midade a va
processual das filiais da pessoa jurídica
nas ações judiciais tributárias
Rogério Hideaki Nomura

54 OPINIÃO
Princípio da recepção em direito
cons tucional. Recepção pela CF/88
do ar go 53 da Lei 3.857/60.
Taxa com natureza jurídica de
contribuição especial de interesse das
categorias profissionais, nos termos do
ar go 49 da CF. Opinião legal
Ives Gandra da Silva Mar ns,
Rogério Vidal Gandra da Silva Mar ns e
Ana Regina Campos de Sica

66 EMENTÁRIO
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STF e TST

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EDITORIAL
Selecionamos como tema especial para esta edição a reforma da Lei de Arbi-
tragem, por intermédio da Lei 13.129/2015, com enfoque na complementa-
ção da sentença arbitral, prevista no novo § 4º do ar go 33 da Lei 9.307/96.
Destaca-se que a Lei de Arbitragem é considerada por muitos como uma
importante estratégia para desafogar o Poder Judiciário.

É válido ressaltar que a Lei 13.129/2015 trouxe diversas dúvidas que inexis-
am, como ainda, novas disposições que não chegaram a ser enfrentadas
na prá ca. Dentre elas, está a complementação da sentença arbitral, nova
modalidade de ação até então inexistente. O disposi vo selecionado para dis-
cussão, carrega importantes ques onamentos para os operadores do Direito:
cabe a referida ação em face de sentenças parciais? A quem compete a com-
plementação? Qual o prazo para propositura? Quem figurará no polo pas-
sivo? É certo mencionar que o prazo para a propositura desta ação é o mesmo
do ajuizamento da ação de descons tuição da sentença? Para tratar do tema,
selecionamos importante contribuição de Marcos Serra Ne o Fioravan .

Na seção Doutrinas, Sergio Pinto Mar ns tece considerações sobre a exi-


gência de cer dão de antecedentes para admissão de empregado, a fim de
analisar se tais procedimentos ferem princípios e garan as cons tucionais.
Hugo de Brito Machado discute o princípio da inexigibilidade de outra con-
duta, diante de importante decisão de órgão da Administração Pública Fede-
ral, que negou a sua aplicação a uma empresa à qual fora imputada um ilícito
administra vo. Eduardo Luiz Santos Cabe e comenta a Lei 13.245/2016, que
altera o Estatuto da OAB, com regras sobre a inves gação criminal. Em Juris-
prudência Comentada, Rogério Hideaki Nomura traz apontamentos sobre a
posição do STJ acerca da legi midade a va processual das filiais da pessoa
jurídica nas ações judiciais tributárias. Por fim, em Opinião, apresentamos
valoroso parecer de Ives Gandra da Silva Mar ns, Rogério Vidal Gandra da
Silva Mar ns e Ana Regina Campos de Sica, sobre o princípio da recepção
em direito cons tucional, em se tratando da vigência e extensão do ar go 53
da Lei Federal 3.857/60, que regulamenta a profissão de músico. Você pode
u lizar os julgados do ADV em seus recursos com a chancela do STF e do TST.
A íntegra dos acórdãos publicados na seção Ementário pode ser ob da no site
www.advocaciadinamica.com, que é repositório autorizado de jurisprudên-
cia. Também aproveite para conferir as informações atualizadas diariamente
pela Equipe Técnica ADV.

Boa leitura.
Amanda de Abreu Cerqueira Carneiro
Redação ADV
adv@coad.com.br
advocaciadinamica.com

ENQUETE ATUAL

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar para suspender a


mudança nas regras do recolhimento do ICMS, em se tratando de comércio eletrô-
nico. O pedido foi feito pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Bra-
sil (CFOAB) e a decisão é do Ministro Dias Toffoli. A liminar determina a suspensão
da cláusula nona do Convênio ICMS 93/2015, editado pelo Conselho Nacional de
Polí ca Fazendária (Confaz). Você concorda com o entendimento?
Par cipe da nossa enquete, enviando considerações à Redação através do e-mail
adv@coad.com.br. Entre em contato conosco: aguardamos suas ideias!

ENQUETE ANTERIOR

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) negou o Habeas Corpus (HC) 126.292,
entendendo que a possibilidade de início da execução da pena condenatória após
a confirmação da sentença em segundo grau não ofende o princípio cons tucional
da presunção da inocência. A decisão indica mudança no entendimento da Corte.
Você concorda com a decisão?
Sim, pois o encerramento da aná- Não, pois a decisão fere princípios
lise do processo autorizando o cons tucionais. É necessário
início da execução da pena, Não que ocorra o trânsito em jul-
evitará a interposição de 25% gado para cumprimento de
recursos protelatórios que Sim pena, exceto se a mesma
podem ocasionar até 75% puder ser decretada a tulo
mesmo a prescrição penal, cautelar. É imprescindível a
diante do decurso de tempo. mudança na lei dos recursos.

MULTIMÍDIA

Entrega de produtos e serviços


Os problemas na entrega produzida pela TV Jus ça, gada esclarece ainda se
de produtos e serviços a advogada Raquel Bueno o comerciante pode res-
são abordados no quadro explica o que o consumi- tringir garan as, quais as
Saiba Mais, do canal do dor pode fazer caso o pro- regras das compras pela
Supremo Tribunal Fede- duto chegue quebrado ou internet e o que pode ser
ral (STF) no YouTube, dis- fora do prazo es pulado feito quando um serviço
ponível na seção Mul mí- e se há prazo para fazer não é concluído no prazo
dia do ADV. Em entrevista uma reclamação. A advo- combinado.

6 | Março de 2016
An concepcionais oferecem riscos à saúde?
Os an concepcionais são O programa Fórum, pro-
muito usados no país duzido pela TV Jus ça,
por uma grande quan- debate a importância
dade de mulheres desse po de remédio, as
como forma de prevenir consequentes mudanças
gravidez, aliviar tensão de comportamento femi-
pré-menstrual, tratar nino e os possíveis impac-
espinhas no rosto e tan- tos à saúde. O vídeo está
tos outros problemas. disponível no site ADV.

Como funcionam as cotas para deficientes nas empresas?


Em uma das edições do uma auxiliar de serviços
programa Revista TST, gerais que teve esqui-
disponível no ADV, o qua- zofrenia desencadeada
dro #queropost traz uma pelas condições de tra-
reportagem sobre cotas balho. Também nesta
para deficientes. A dúvida edição, você vai acompa-
de um telespectador é nhar o julgamento de um
sobre como funcionam caso pela SDC em que os
as cotas para deficientes ministros não reconhe-
nas empresas. O Revista cem demissão em massa
TST também mostra uma em caso de trabalhadores
decisão da SDI-1 que con- dispensados pelo Banco
cedeu indenização por Santander na Paraíba.
dano moral e material a Não deixe de assis r!

Aluguel de imóveis
Dados do IBGE apontam ser resolvidas? Este é o
que mais de 10,5 milhões tema do programa Ar go
de imóveis no Brasil são 5º, que conta com a par-
usados para locação. Mas, cipação do especialista
além de ajudar na renda em Direito Imobiliário
dos proprietários, o alu- Marcelo Lobo Nóbrega,
guel também pode gerar e o Conselheiro Federal
problemas. Quais são as do Sistema Cofeci-Creci,
principais divergências Petrus Mendonça. O ví-
entre locadores e locatá- deo foi disponibilizado na
rios e como elas podem seção Mul mídia.

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COTIDIANO

Publicadas Súmulas 562 a 567 do STJ, e cancelada a 321


Publicadas no DJ-E do STJ mercan l financeiro, tratos bancários ante-
de 29/2, as Súmulas 562 quando a soma da impor- riores ao início da vigên-
a 567, além do cancela- tância antecipada a tulo cia da Resolução-CMN
mento da 321. Confira: de valor residual garan- 3.518/2007, em 30-4-2008.
“562 – É possível a remi- do (VRG) com o valor da 566 – Nos contratos ban-
ção de parte do tempo venda do bem ultrapas- cários posteriores ao iní-
de execução da pena sar o total do VRG pre- cio da vigência da Resolu-
quando o condenado, visto contratualmente, o ção-CMN 3.518/2007, em
em regime fechado ou arrendatário terá direito 30-4-2008, pode ser co-
semiaberto, desempe- de receber a respec- brada a tarifa de cadas-
nha a vidade labora va, va diferença, cabendo, tro no início do relacio-
ainda que extramuros. porém, se es pulado no namento entre o consu-
563 – O Código de Defesa contrato, o prévio des- midor e a ins tuição
do Consumidor é aplicá- conto de outras despesas financeira. 567 – Sistema
vel às en dades abertas ou encargos pactuados. de vigilância realizado por
de previdência comple- 565 – A pactuação das monitoramento eletrô-
mentar, não incidindo nos tarifas de abertura de nico ou por existência de
contratos previdenciários crédito (TAC) e de emis- segurança no interior de
celebrados com en da- são de carnê (TEC), ou estabelecimento comer-
des fechadas. 564 – No outra denominação para cial, por si só, não torna
caso de reintegração de o mesmo fato gerador, impossível a configuração
posse em arrendamento é válida apenas nos con- do crime de furto.

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DE PUBLICAR em contato conosco através do e-mail adv@coad.com.br
SEUS e conheça a nossa polí ca de publicação. São levados em
ARTIGOS? consideração não só a exclusividade na elaboração, mas a
originalidade, o tamanho e a especificação do tema de acordo
com as seções da revista.

8 | Março de 2016
| DOUTRINAS |

Exigência de certidão de
antecedentes para admissão
de empregado

H
á empregadores que São obje vos fundamen- bição de dis nção entre
exigem do empre- tais da República Federa- trabalho manual, técnico
gado cer dão de va do Brasil promover e intelectual ou entre os
antecedentes para que o bem de todos, sem profissionais respec vos;
possam admi r trabalha- preconceitos de origem, XXXIV – igualdade de
dores na empresa. raça, sexo, cor, idade e direitos entre o trabalha-
quaisquer outras formas dor com vínculo empre-
Vou examinar neste de discriminação (ar go ga cio permanente e
ar go se estas exigências 3º, inciso IV, da Cons tui- o trabalhador avulso
podem ser feitas. ção). (ar go 7º). Logo, também
A alínea “b” do inciso não pode haver discrimi-
A lei deve punir qualquer nação de direitos entre o
XXXIV do ar go 5º da discriminação atentatória
Cons tuição assegura trabalhador com vínculo
dos direitos e liberdades emprega cio e o traba-
a todos, independente-
fundamentais (ar go 5º, lhador avulso.
mente do pagamento
XLI, da Cons tuição).
de taxas, a obtenção de
O Brasil ra ficou a Con-
cer dões em repar ções No âmbito trabalhista,
públicas, para defesa de venção 111 da OIT, de
a Cons tuição prevê: 1959. Ela foi promulgada
direitos e esclarecimento XXX – proibição de dife-
de situações de interesse pelo Decreto 62.150/68.
rença de salários, de Versa sobre discrimi-
pessoal.
exercício de funções e nação em matéria de
Todos devem ter acesso de critério de admis- emprego e profissão.
à informação (ar go 5º, são por mo vo de sexo,
XIV, da Cons tuição). idade, cor ou estado É proibida a adoção de
civil; XXXI – proibição de qualquer prá ca discrimi-
De outro lado, o inciso X qualquer discriminação natória e limita va para
do ar go 5º da Lei Maior no tocante a salário e efeito de acesso à relação
afirma que são invioláveis critérios de admissão do de trabalho, ou de sua
a in midade e a vida pri- trabalhador portador de manutenção, por mo vo
vada das pessoas. deficiência; XXXII – proi- de sexo, origem, raça,

COAD | Seleções Jurídicas | 9


| DOUTRINAS |

cor, estado civil, situa- Em concursos públicos flagrante, e não igual-


ção familiar, deficiência, são exigidas cer dões de dade real”.1
reabilitação profissional, antecedentes criminais
idade, entre outros, res- e de processos, tanto da Leciona Celso Antônio
salvadas, nesse caso, as Jus ça Comum, como da Bandeira de Mello que
hipóteses de proteção à Jus ça Federal. “é agredida a igualdade
criança e ao adolescente quando fator diferencial
previstas no inciso XXXIII Discriminar vem do la m adotado para qualificar
do ar go 7º da Cons - discriminare. Tem o sen- os a ngidos pela regra
tuição (ar go 1º da Lei do de diferenciar, dis- não guarda relação de
9.029/95). cernir, dis nguir, estabe- per nência lógica com
lecer diferença, separar. a inclusão ou exclusão
Dispunha o inciso II do Discriminação significa do bene cio diferido ou
ar go 2º da Lei 5.859/72 tratar diferentemente os
com a inserção ou arre-
que, para a admissão do iguais.
damento do gravame
empregado domés co,
Rui Barbosa afirma na imposto”.2
este deveria apresentar
“atestado de boa con- Oração aos moços que
“a regra da igualdade “De revés, ocorre ime-
duta”. Esse disposi vo foi diata e intui va rejeição
revogado pela Lei Com- consiste senão em aqui-
nhoar desigualmente da validade à regra que,
plementar 150/2015.
os desiguais, na medida ao apartar situações para
Esta úl ma norma não
em que sejam desiguais. fins de regulá-la diver-
tratou do tema.
Nessa desigualdade samente, calça-se em
Para o exercício da pro- social, proporcionada à fatores que não guardam
fissão de vigilante, ele desigualdade natural, é per nência com a desi-
não deve ter anteceden- que se acha a verdadeira gualdade de tratamento
tes criminais registra- lei da igualdade. Tratar jurídico dispensado”.3
dos (ar go 16, VI, da Lei como desiguais a iguais,
7.102/83), em razão de ou a desiguais com igual- Só se pode falar em dis-
que porta arma de fogo. dade, seria desigualdade criminação quando exista

“Discriminar vem do latim discriminare.


Tem o sentido de diferenciar, discernir,
distinguir, estabelecer diferença,
separar. Discriminação significa tratar
diferentemente os iguais.”
10 | Março de 2016
dis nção que não seja Pode-se falar em discri- do amplo acesso a in-
razoável, proporcional, minação se foi exigida da formações (ar go 5º,
jus ficável. pessoa restrição exces- XIV: – é assegurado
siva e desproporcional a todos o acesso à
O TST já decidiu que em relação a direitos fun- informação… –, CF),
Agravo de Instru- damentais. É a aplicação especialmente em se
mento. Recurso de do princípio da propor- tratando de informa-
Revista. Responsa- cionalidade. ções oficiais, prolata-
bilidade civil. Dano das pelo Poder Público
Se a exigência é neces- (ar go 5º, XXXIII, e ar-
moral. Exigência de sária para o exercício da
antecedentes crimi- go 5º, XXXIV, b, CF).
função, como no caso Em contraponto, tam-
nais. 1. A exigência do vigilante, não se pode
de cer dão nega va bém consagra a Cons-
falar em discriminação.
de antecedentes cri- tuição o princípio da
Se o meio u lizado pelo
minais de candidato proteção à privacida-
empregador é adequado,
ao emprego, por si só, de (art 5º, X, da CF) e
não se pode falar em dis-
não implica violação à o princípio da não dis-
criminação.
dignidade, à in mida- criminação (ar go 3º,
de ou à vida privada, Recurso de Revista. I e IV; ar go 5º, caput;
máxime se jus ficada Exigência de antece- ar go 7º, XXX, CF).
pela necessidade da dentes criminais em Nessa contraposição
empresa em aprovei- entrevista de admis- de princípios cons -
tá-lo em a vidades são em emprego para tucionais, a jurispru-
que envolvam uma exercício de cargo de dência tem conferido
maior parcela de fidú- atendente com aces- efe vidade ao princí-
cia pelo acesso a infor- so a dados pessoais pio do amplo acesso a
mações confidenciais de clientes. Limites do informações públicas
dos clientes. 2. Ausên- poder dire vo empre- oficiais nos casos em
cia de afronta ao ar - sarial. Contraponto que sejam essenciais,
go 5º, incisos V e X, da de princípios cons - imprescindíveis se-
Cons tuição Federal e tucionais: princípio do melhantes informa-
ao ar go 186 do Códi- amplo acesso a infor- ções para o regular
go Civil. 3. Agravo de mações, especialmen- e seguro exercício da
Instrumento de que te oficiais, em contra- a vidade profissio-
se conhece e a que par da ao princípio nal, tal como ocorre
se nega provimen- da proteção à priva- com o trabalho de
to” (TST, 4ª T., AIRR cidade e ao princípio vigilância armada –
140300-83.2012.5.13. da não discriminação. regulado pela Lei
0008, Rel. Min. João Ponderação. A Cons- 7.102 de 1982, ar go
Oreste Dalazen, DEJT tuição da República 16, VI – e o trabalho
24-6-2014). consagra o princípio domés co, regulado

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| DOUTRINAS |

pela Lei 5.859/72 (ar- de indenização (ar - de Londrina, terá inde-


go 2º, II). Em tais ca- go 5º, V e X, da CF). nizar um auxiliar de pro-
sos delimitados, expli- Recurso de Revista dução que passou por
citamente permi dos conhecido e provido todo o processo sele vo,
pela lei, a ponderação (TST, 3ª T., RR 102400- fez exame médico e foi
de valores e princí- 35.2013.5.13.0007, informado sobre a forma
pios acentua o amplo Rel. Min. Mauricio Go- de remuneração. Não foi
acesso a informações dinho Delgado, DEJT contratado, ao revelar
(mormente por não 30-5-2014). que nha anteceden-
se tratar de informa- tes criminais. O autor foi
ções ín mas, porém, Recurso de Revista. indicado pela mãe – fun-
públicas e oficiais), ao Dano moral. Exigên- cionária da empresa –
cia de exibição de cer-
invés de seu contra- para trabalhar como
dão de antecedentes
ponto principiológico auxiliar de produção,
criminais. Atendente
também cons tucio- com proposta salarial de
de telermarke ng.
nal. Contudo, não se R$ 734,00. Após a reali-
Conduta discrimina-
mostrando impres- zação dos exames admis-
tória. A exigência de
cindíveis e essenciais sionais, uma funcionária
cer dão de antece-
semelhantes informa- da ITAP Bemis confirmou
dentes criminais para
ções, prevalecem os que a contratação seria
admissão em empre-
princípios cons tu- efe vada e que o traba-
go, além de ser uma
cionais da proteção lho começaria o trabalho
medida extrema,
à privacidade e da no dia seguinte ao da
porque expõe a in -
não discriminação. entrega da documenta-
midade e a integri-
Na situação em tela, ção. O trabalhador não
dade do trabalhador,
envolvendo trabalha- entregou cópia do tulo
deve sempre ficar
dor que se candidata de eleitor, mas uma cer-
restrita às hipóteses
à função de operador dão na qual constava
em que a lei expres-
de telemarke ng ou que não estava em dia
samente permite.
de call center, a juris- com a Jus ça Eleitoral por
Recurso de Revista
prudência do TST tem conhecido e provido mo vo de condenação
se encaminhado no (TST, 6ª T., RR 140100- criminal. Foi informado
sen do de considerar 73.2012.5.13.0009, por uma funcionária do
preponderantes os Rel. Min. Aloysio Cor- setor de Recursos Huma-
princípios do respei- rêa da Veiga, DEJT nos que a contratação
to à privacidade e do 6-12-2013). seria cancelada, o que de
combate à discrimi- fato ocorreu. A relatora
nação, ensejando a Em situação não exa- do processo do TRT da
conduta empresarial, tamente igual, a Indús- 9ª Região afirmou que
por consequência, a tria de embalagens ITAP “Em tese e sem abuso,
lesão moral passível Bemis (an ga Dixie Toga), é legí mo o poder de

12 | Março de 2016
direção empresarial de inicia va do empregador “Ao desis r da contratação
optar pela contratação de em gerir o negócio da após efe vado todo o trâ-
empregado que melhor forma mais conveniente, mite do processo sele vo
atenda aos seus obje vos do outro, a dignidade da e prome da a admissão,
empresariais, o que se pessoa humana. Segundo frustrou-se a expecta va
traduz em efe va garan- a relatora, “não se pode do autor quanto ao novo
a ao direito de proprie- cogitar de irrestrita emprego, restando confi-
dade e da livre inicia va. liberdade nega va em gurados os prejuízos ale-
Todavia, não se pode colisão com o princípio gados e, por conseguinte,
cogitar de irrestrita liber- da dignidade humana”. exsurgindo o direito à inde-
dade nega va em colisão A 4ª Turma considerou nização”. Foi determinado
com o princípio da digni- que a empresa admi a o pagamento de indeniza-
dade humana”. Trata-se cer dão da Jus ça Elei- ção de R$ 5 mil a tulo de
de um caso de conflito toral em subs tuição ao danos morais (TRT 9ª R.,
de direitos fundamen- tulo de eleitor, mas não 4ª T., Relª Desª Rosemarie
tais. De um lado, a livre no caso do autor da ação. Diedrichs Pimpão).

Sergio Pinto Mar ns


Desembargador do TRT da 2ª Região –
Professor tular de Direito do Trabalho da USP

NOTAS:
1. BARBOSA, Rui. Oração aos moços. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1956. p. 32.
2. MELLO, Celso Antonio Bandeira de. O conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 6ª ed. São Paulo:
Malheiros, 1999, 38.
3. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 2ª ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1984, p. 47.

COAD | Seleções Jurídicas | 13


| DOUTRINAS |

O ilícito administrativo
tributário e a inexigibilidade
de outra conduta
1. INTRODUÇÃO cífico dos crimes contra
a ordem tributária. Em
não pode prever todos
os casos em que a ine-
Em face de decisão de seguida estudaremos a xigibilidade de outra
importante órgão da aplicação desse mesmo conduta deve excluir a
Administração Pública princípio ao ilícito admi- culpabilidade. Assim,
Federal, negando apli- nistra vo e, finalmente, é possível a existência
cação do princípio da abordaremos a questão de um fato, não pre-
inexigibilidade de outra de saber se a caracteri- visto pelo legislador
conduta a uma empresa zação da infração admi-
à qual fora imputada como causa de exclu-
nistra va exige, ou não, são da culpabilidade,
um ilícito administra- a culpabilidade, ou se a
vo, resolvemos estudar que apresente todos
responsabilidade admi- os requisitos do princí-
o assunto e assim nos nistra va é obje va.
vimos mo vados a escre- pio da não exigibilida-
ver este pequeno ar go de de comportamento
para demonstrar que o 2. A LIÇÃO DOS lícito. Em face de um
referido princípio jurídico PENALISTAS caso concreto, seria
aplica-se, sim, ao ilícito condenar-se o sujeito
administra vo, porque A propósito da inexigibili-
unicamente porque o
inerente ao próprio fun- dade de outra conduta no
fato não foi previsto
damento do Direito como âmbito do Direito Penal,
pelo legislador? Se a
instrumento de realiza- registramos a lição de
conduta não é culpá-
ção da Jus ça. importantes penalistas
vel, por ser inexigível
que esclarecem a razão
Começaremos exami- outra, a punição seria
de ser desse importante
nando a lição de impor- injusta, pois não há
princípio jurídico.
tantes penalistas a propó- pena sem culpa. Daí
sito da inexigibilidade de Damásio E. de Jesus ser possível a adoção
outra conduta no âmbito escreve: da teoria da inexigibi-
do Direito Penal. Depois lidade como causa su-
estudaremos o mesmo Por mais previdente pralegal de exclusão
princípio no âmbito espe- que seja o legislador, da culpabilidade.

14 | Março de 2016
Como ensina Aníbal normas penais não mado autor, a acei-
Bruno, a não exigibili- incriminadoras, e não tação de “uma causa
dade vale por um prin- havendo o obstáculo supralegal de excul-
cípio geral de exclusão do princípio da reser- pação por inexigibili-
da culpabilidade, que va legal, a falha pode dade implicaria tanto
vai além das hipóteses ser suprida pelos pro- concebida subje va
pificadas no Código cessos determinados como obje vamente,
e pode funcionar tam- pelo ar go 4º da LICC: uma debilitação da
bém com este caráter a analogia, os costu- eficácia de prevenção
nos casos dolosos em mes e os princípios geral que correspon-
que de fato não seja gerais de direito.1 de ao Direito Penal e
humanamente exigí- conduziria a uma de-
vel comportamento Rogério Greco, por seu sigualdade na aplica-
confirme ao Direito. turno, escreve: ção do Direito”. E con-
Esta aplicação encon- nua dizendo que,
tra sobretudo opor- Causas supralegais de “ainda nas situações
tunidade nos crimes exclusão da culpabili- di ceis da vida, a co-
por omissão, em que dade são aquelas que, munidade deve poder
a pressão da situa- embora não estejam reclamar a obediência
ção total do momen- previstas expressa- do Direito ainda que
to anula no agente a mente em algum tex- isso possa exigir do
capacidade de agir to legal, são aplicadas afetado um importan-
em cumprimento ao em virtude dos princí-
te sacri cio.
dever que lhe incum- pios informadores do
be, deixando-o ina - ordenamento jurídico. (...)
vo, a permi r que se Nossa legislação pe- Concluindo, somos
consume o resultado nal, ao contrário da da opinião de que em
danoso. legislação alemã, não nosso ordenamen-
proíbe a u lização do to jurídico não existe
A aplicação da teoria
argumento da inexi- qualquer impedimen-
da inexigibilidade de
gibilidade de conduta to para que se possa
conduta diversa como
diversa como causa aplicar a causa excul-
causa supralegal de supralegal de exclu- pante supralegal da
exclusão da culpabili- são da culpabilidade. inexigibilidade de con-
dade encontra apoio Jescheck, com base duta diversa.”2
na integração da lei na legislação alemã,
penal. Vimos que o assevera que deve ser Francisco de Assis Toledo,
Direito Penal posi vo afastada a teoria da por sua vez, depois de
possui lacunas. Ha- inexigibilidade como explicar que o agente é
vendo omissão legis- causa supralegal, pois punível porque se com-
la va no conjunto das que, segundo o reno- portou, realizando o fato

COAD | Seleções Jurídicas | 15


| DOUTRINAS |

pico penal quando nas portanto, dispensa a


circunstâncias seria dele existência de normas
exigível conduta diversa, expressas a respeito.3
escreve:
Como se vê, a inexigibi-
A contrário sensu,
chega-se à conclusão
“Como lidade de outra conduta
é um princípio jurídico
de que não age culpa- se vê, a des nado a suprir uma
velmente – nem deve lacuna. Não está escrito,
ser, portanto, penal- inexigibilidade nem isto é necessário,
mente responsável
pelo fato – aquele de outra porque decorre da pró-
pria razão de ser da puni-
que, no momento da
ação ou da omissão, conduta é ção.

não poderia, nas cir-


cunstâncias, ter agido
um princípio 3. APLICAÇÃO
de outro modo, por-
jurídico DO PRINCÍPIO
que, dentro do que AOS CRIMES
nos é comumente re-
velado pela humana
destinado a TRIBUTÁRIOS
experiência, não lhe suprir uma Quando em nosso orde-
era exigível comporta- namento jurídico o ilí-
mento diverso. A ine- lacuna. Não cito tributário passou
xigibilidade de outra
conduta é, pois, a pri- está escrito, em certos casos a cons-
tuir crime, colocou-se
meira e mais impor-
tante causa de exclu- nem isto é a questão de saber se a
este seria aplicável a ine-
são da culpabilidade.
E cons tui um ver-
necessário, xigibilidade de outra con-
duta. E como o assunto
dadeiro princípio de
direito penal. Quando
porque foi levado aos tribunais,
é claro que houve quem
aflora em preceitos le- decorre da respondesse a essa ques-
gisla vos, é uma cau-
sa legal de exclusão. própria razão tão nega vamente, o que
não causa surpresa, pois
Se não, deve ser re-
putada causa supra- de ser da sempre existe alguém
que pensa diferente.
punição.”
legal, erigindo-se em
princípio fundamental Escrevemos, então, sobre
que está in mamente o assunto, afirmando:
ligado com o proble-
ma da responsabili- Os Tribunais Regio-
dade pessoal e que, nais Federais estão

16 | Março de 2016
admi ndo que na Região, que parece ver necessariamente
hipótese de séria di- haver sido o pioneiro a vontade do agente
ficuldade financeira, na adoção dessa tese, em pra cá-lo, vez que
comprovada pela fa- existem já diversos não foi vislumbrada a
lência da empresa, o precedentes. modalidade culposa
não recolhimento de na Lei 8.137/90 e por
contribuições previ- A nosso ver, a não fim, tendo em vista
exigibilidade de outra também a existência
denciárias desconta-
conduta configura-se
das de empregados de situações anor-
sempre que, em situa-
deixa de configurar o mais ou até mesmo
ção de crise financei-
crime previsto no ar- esdrúxulas às quais os
ra, a opção pelo uso
go 95, alínea “d”, da contribuintes podem
do dinheiro disponível
Lei nº 8.212/91, em para o pagamento de estar subme dos, de-
face da inexigibilida- empregados e de dívi- fendeu-se no presente
de de outra conduta. das outras seja a úni- estudo a admissibili-
Nesse sen do, deci- ca forma de manter a dade da inexigibilida-
diram já o TFR da 1ª empresa em funciona- de de conduta diversa
Região, 3ª Turma, na mento, seja uma ten- como excludente da
Ap. Cr. 96.07591-7 de ta va sincera de supe- culpabilidade nos cri-
Minas Gerais, man- ração da crise, depois mes contra a ordem
tendo sentença abso- da qual a dívida tribu- tributária, pois, do
lutória (RDDT nº 23, tária será paga.4 contrário, a aplicação
p. 201); o TRF da 2ª da pena seria sinôni-
Essa tese é sustentada mo de injus ça, falta
Região, no Inquéri-
também por Fernanda de equidade.5
to nº 00035/ES, re-
Matos Badr, que con-
jeitando a denúncia
clui seu bem elaborado Resta-nos, então, saber
(RDDT nº 23, p. 200);
estudo sobre o tema, afir- se a inexigibilidade de
o TRF da 3ª Região,
mando: outra conduta aplica-se
1ª Turma, na A. Cr. também ao ilícito admi-
nº 9.03.048240-4, jul- Considerando-se o nistra vo. Vejamos.
gada em 3-7-97. Man- uso da analogia para
tendo sentença abso-
lutória (RDDT nº 24,
preencher as lacunas 4. APLICAÇÃO
da lei em consonância
p. 140-141); o TRF da com o fato de não po- DO PRINCÍPIO
4ª Região, na Ap. Cr. der o legislador pre- AO ILÍCITO
nº 96.04.42970-RS, ver todas as condutas
julgada em 15-5-97, do mundo dos fatos; ADMINISTRATIVO
mantendo sentença considerando-se que Pensamos que se não é
absolutória (RDDT para a existência do punível o autor de crime
nº 23, p. 200-201). crime contra a ordem quando ocorre a inexi-
Aliás, do TRF da 4ª tributária, deve ha- gibilidade de outra con-

COAD | Seleções Jurídicas | 17


| DOUTRINAS |

duta, seja qual for a natu- lidade, ou se a responsa- penalidade, sem o ele-
reza jurídica desta, não é bilidade administra va é mento subje vo da con-
razoável entender-se que obje va. O crime, se não duta daquele a quem é
em face de circunstâncias prevista em lei a moda- imputado.
que caracterizam a inexi- lidade culposa, exige o
gibilidade de outra con- dolo, e este é excluído Sobre o tema, aliás, já
duta do contribuinte que pela inexigibilidade de escrevemos:
deixa de pagar um tributo outra conduta. E no ilícito
A nosso ver, a não
como ilícito administra- penal não existe a respon-
vo. Em outras palavras, sabilidade obje va. Mas, exigibilidade de outra
sustentamos que o con- a infração administra va conduta configura-se
tribuinte que deixa de exige culpabilidade, ou a sempre que, em situa-
pagar um tributo por responsabilidade neste ção de crise financei-
razões de tal ordem que campo é obje va? ra, a opção pelo uso
caracterizam a inexigibi- do dinheiro disponível
lidade de outra conduta A resposta adequada a para o pagamento de
não comete ilícito admi- essa questão exige que empregados e de dívi-
nistra vo tributário e, se insista na explicação das outras seja a úni-
portanto, não fica sujeito de que a responsabili-
ca forma de manter a
à multa prevista na lei. dade é o estado de sujei-
empresa em funciona-
ção à sanção, e que esta,
Realmente, o ilícito penal mento, seja uma ten-
a sanção, pode ser de
é mais grave do que o duas espécies, a saber, ta va sincera de supe-
ilícito administra vo. a submissão à execução, ração da crise, depois
Assim, não é razoável que simplesmente, e a pena- da qual a dívida tribu-
a presença de condições lidade. tária será paga.
que caracterizam a inexi-
gibilidade de outra con- Entendemos que a res- A crise financeira é
duta impeça a punição de ponsabilidade como uma situação de fato
quem pra ca um ilícito sujeição à execução ou que evidentemente há
penal, mas não impeça a cobrança do tributo é de ser bem demons-
punição de quem pra ca obje va, mas a respon- trada. Não se há de
um ilícito administra vo. sabilidade como sujeição exigir, porém, a de-
à sanção enquanto pena- monstração de impos-
5. A QUESTÃO DA lidade é sempre subje- sibilidade absoluta do
va, vale dizer, depende pagamento do tribu-
CULPABILIDADE sempre da presença de to. Impossibilidade de
Mesmo assim, merece culpa ou dolo. Em outras outra conduta é coisa
exame a questão de saber palavras, entendemos diversa de inexigibili-
se a caracterização da que não existe o ilícito dade de outra condu-
infração administra va administra vo como ta. É evidente que o
exige, ou não, a culpabi- pressuposto essencial da impossível é inexigí-

18 | Março de 2016
vel, mas pode dar-se o própria lei estabelece resse dos empregados
inexigível que não seja expressamente a pre- na manutenção do
impossível. ferência destes, em emprego, e do próprio
relação aos tributos Fisco, na manutenção
Não se venha argu- (CTN, ar go 186). No da fonte dos tributos.6
mentar, com o interes- pagamento de outras
se público na arreca- Assim, não temos dúvida
dívidas, quando in- em afirmar que a inexi-
dação do tributo, que dispensável para que gibilidade de outra con-
afastaria a legi mida- a empresa con nue duta, como excludente
de da opção por ou- funcionando, a legi - da punibilidade, aplica-se
tros pagamentos. Em midade é fora de dú- também ao ilícito admi-
relação aos salários, a vida, em face do inte- nistra vo tributário.

Hugo de Brito Machado


Professor Titular de Direito Tributário da UFC –
Presidente do Ins tuto Cearense de Estudos Tributários

NOTAS: Princípios Básicos de Direito Pe- nos Crimes contra a Ordem Tri-
1. Damásio E. de Jesus, Direito nal, 3ª edição, Saraiva, São Pau- butária, em Revista Dialé ca
lo, 1987, p. 315 e 316. de Direito Tributário, Dialé ca,
Penal, 17ª edição, Saraiva, São
4. Hugo de Brito Machado, Es- São Paulo, abril de 2009, nº 163,
Paulo, 1º volume, p. 424.
tudos de Direito Penal Tribu- p. 56.
2. Rogério Greco, Curso de Direi- tário, Atlas, São Paulo, 2002, 6. Hugo de Brito Machado, Es-
to Penal, Impetus, Rio de Janei- p. 171/172. tudos de Direito Penal Tribu-
ro, 2007, vol. I, p. 421 e 422. 5. Fernanda Matos Bdr, Inexi- tário, Atlas, São Paulo, 2002,
3. Francisco de Assis Toledo, gibilidade de Conduta Diversa p. 170/171.

COAD | Seleções Jurídicas | 19


| DOUTRINAS |

Primeiros comentários à
Lei 13.245/2016, que altera
o Estatuto da OAB e regras
da investigação criminal

E
m 12 de janeiro de cessual penal cons tu- sem falar no Direito de
2016, veio a lume a cional, a entenderem que Defesa e de Informação,
Lei 13.245/2016, que esse direito do advogado que eram frontalmente
altera disposi vos do Es- se restringia aos “Inqué- violados numa situação
tatuto da OAB, referentes ritos Policiais” e “Termos ka iana.1
às prerroga vas dos ad- Circunstanciados”. Dessa
vogados na fase de inves- forma, por exemplo, Como há tempos adver a
gação criminal. havia membros do Minis- Aires, “em certo gênero
tério Público que, arbi- de discursos estes não se
A primeira alteração de devem tomar rigorosa-
trariamente, vedavam
monta se dá no inciso XIV mente pelo que as pala-
acesso aos autos de Pro-
do ar go 7º do Estatuto vras soam, nem em toda
(Lei 8.906/94). Esse inciso cedimento Inves gatório
Criminal aos advogados, a extensão, ou significa-
trata da prerroga va do ção delas”.2
advogado de acesso a sob o pretexto de que a
autos de inves gação em lei nha uma redação res- Em termos redacionais,
prol de seu cliente. Pois tri va. Nada mais óbvio a Súmula Vinculante 14
bem, na redação anterior, do que a conclusão de do STF não contribuiu
a referência era feita a que isso não passava da muito para a solução da
autos de inves gação em mais rasa e perversa von- controvérsia injus ficada.
“repar ção policial” e a tade de poder arbitrário e A mencionada Súmula
“autos de flagrante” e de de uma cegueira delibe- Vinculante assim dispõe:
“inquérito”. Uma inter- rada para o fato de que
pretação restri va desse o texto necessariamente É direito do defensor,
inciso levava alguns indi- deveria sem amplia va- no interesse do repre-
víduos, em nossa visão mente interpretado, até sentado, ter acesso aos
totalmente míopes para porque se trata de direito elementos de prova
uma a sistemá ca pro- e não de restrição. Isso que, já documentados

20 | Março de 2016
em procedimento in- da OAB, a Súmula Vin- Não somente é assusta-
ves gatório realizado culante 14 do STF ainda dor que essa restrição
por órgão com compe- repete o vício terminoló- redacional tenha che-
tência de polícia judi- gico que se encontra no gado a gerar discussão
ciária, digam respeito Código de Processo Penal infundada quanto à pos-
ao exercício do direito (vide ar go 4º, parágrafo sibilidade de vedação de
de defesa. único, do CPP), mencio- acesso do advogado, mas
nando “competência” também é ainda mais sur-
Desconsiderando a impres- preendente que no Brasil,
(sic) da “Polícia Judiciá-
cindível interpretação havendo uma legislação
ria”. Ora, somente o Judi-
extensiva dos textos, a clara e inequívoca, seja
ciário detém “competên-
verdade é que a litera- necessário que o STF
cia”. A Polícia Judiciária,
lidade da Súmula Vin- venha a sumular vincula-
o Ministério Público, etc.,
culante 14 STF não diz vamente um tema. Ora,
nada além do que já dizia somente têm “atribui-
a prerroga va conferida
o ar go 7º, XIV, da Lei ções”. Seria de se exigir
ao advogado que é esta-
8.906/94. Inclusive, man- maior rigor terminoló-
belecida na Súmula Vin-
tendo o mesmo vício de gico do legislador e, mais
culante 14 é produto de
referir-se somente à “Polí- ainda, do STF. Isso porque
texto claro de lei. Qual
cia Judiciária”, quando é a palavra “competência”, era a dúvida? Por que
de trivial conhecimento o no contexto empregado, tal questão teve de che-
fato de que outros órgãos somente poderia ser gar ao Supremo Tribunal
procedem à inves gação usada em um sen do Federal e ser sumulada?
(inteligência do ar go muito amplo, conforme A resposta está no fato de
4º, parágrafo único, CPP explicam Mirabete e Fab- que, há no Processo Penal
e entendimento firmado brini: “Ressalve-se que a Brasileiro, e não somente
pelo STF quanto à pos- palavra ‘competência’ é nele, uma série de mitos
sibilidade de Inves ga- empregada, na hipótese, deletérios que solapam
ção Criminal Direta pelo em sen do amplo, como co dianamente garan as
Ministério Público). Além ‘atribuição’ a um funcio- cons tucionais e legais
de repe r o vício literal nário público para suas notórias, sob o pretexto
restri vo do Estatuto funções”.3 de fazer “Jus ça”.4

“(…) Ora, somente o Judiciário detém


‘competência’. A Polícia Judiciária, o
Ministério Público, etc., somente têm
‘atribuições’. (…)”
COAD | Seleções Jurídicas | 21
| DOUTRINAS |

Tendo em vista essa abrange qualquer espé- verdade, já não nha de


situação que chega a cie de inves gação, ainda acordo com um mínimo
ser ridícula, veio em boa que não criminal. Por bom senso) razão de ser.
hora a reforma do Esta- exemplo, um Processo
tuto da OAB, pois que Administra vo, uma Sin- No mesmo ar go 7º,
na nova redação dada dicância, uma Apuração agora no inciso XXI, vem
ao ar go 7º, inciso XIV, o Preliminar, Inquérito Civil a norma que estabelece
direito de acesso a autos Público, uma apuração como direito do advo-
pelo advogado não se administra va levada a gado a assistência de
limita às “repar ções efeito contra alguém por seus clientes inves ga-
policiais”. A lei agora qualquer órgão como, dos durante a apuração
menciona “inves gações por exemplo, na seara de infrações. O obstáculo
de qualquer natureza” financeira, o Coaf. Agora a essa assistência, que
em “qualquer ins tuição não mais se trata de uma configura nada menos
responsável” pela sua redação literalmente do que um dos compo-
condução.5 Se alguém restri va que devia ser nentes da ampla defesa,
conseguir plantar alguma ampliada numa inter- a defesa técnica, que se
pretação sistemá ca e acopla à autodefesa, con-
dúvida quanto a estar o
extensiva. Trata-se de duz à “nulidade absoluta
Ministério Público, por
uma redação realmente do respec vo interroga-
exemplo, ou outro órgão
ampla, clara e evidente. tório ou depoimento”.
qualquer, vinculado a
Assim também, abraça o
esta norma, deve ganhar
Outra novidade que atua- disposi vo a “Teoria dos
um prêmio de “jurista
liza o Estatuto da OAB diz Frutos da Árvore Enve-
obscuro do ano”!
respeito à cópia e tomada nenada” ou da “Ilicitude
É muito bem man da a de apontamentos nessa por derivação” (Fruits of
desnecessidade de procu- consulta. Esse direito é the poisonous tree doc-
ração para tal fim, tendo corretamente man do, trine), estabelecendo que
em vista a informalidade mas na nova redação o não somente o interro-
da fase inves gatória. legislador consigna que gatório ou depoimento
isso pode ser feito em estará contaminado, mas
Ousa-se afirmar que a “meio sico ou digital”, também, na sequência,
expressão “inves gações de forma a tornar a lei “todos os elementos
de qualquer natureza” condizente que o atual inves gatórios e proba-
não somente abrange o estágio tecnológico. Por- tórios, dele decorrentes
Inquérito Policial Civil, tanto, se alguém nha ou derivados, direta ou
Federal, Militar, os PICs dúvida de que um advo- indiretamente”. A men-
do Ministério Público, gado poderia fotografar ção no disposi vo é
Termos Circunstancia- peças dos autos com um interessante, mas essa
dos e quaisquer outras celular, com um scanner consequência decorre-
inves gações de natu- portá l etc., essa dúvida ria normalmente do dis-
reza criminal. Também não tem mais (como, na posto no ar go 157, § 1º,

22 | Março de 2016
“O direito à assistência de advogado na
fase inquisitorial é constitucionalmente
previsto desde 1988, nos termos
do artigo 5º, LXIII, CF. (…)”
CPP, que já abraça a teo- do qual nem sequer mui- nem com a norma cons-
ria sobredita, assim como tas vezes há um suspeito, tucional se cogitou, ao
já a defendia a doutrina muito menos um indi- menos predominante-
dominante e o STF em ciado. Portanto, a aplica- mente, afastar o caráter
várias decisões, mesmo ção do contraditório e da inquisitório do procedi-
antes da alteração pro- ampla defesa (e não de mento, não seria uma lei
movida no Código de algumas manifestações ordinária que iria fazê-lo
Processo Penal Brasileiro parciais de defesa), no ao simplesmente esta-
pela Lei 11.690/2008. Inquérito Policial ou qual- belecer o mesmo direito
quer outra inves gação já cons tucionalmente
Sumariva, no tulo de preliminar, é impossível. assegurado. Na verdade,
seu trabalho a respeito o grande problema brasi-
Ademais, não havendo no
da inovação legal, afirma leiro é sempre o mesmo:
Brasil a adoção de Juizado
que o “Inquérito Policial parece que é preciso que
de Instrução e não sendo
deixa de ser inquisi vo”. uma lei ordinária legi me
o Delegado de Polícia a Cons tuição e não o
Um dos grandes argu- magistrado, a realização
mentos para essa afir- reverso!
de audiências com pro-
mação do autor é exata- dução de prova em con- Portanto, é patente que
mente o novo ar go 7º, traditório e ampla defesa o que o ar go 7º, XXI,
XXI, do Estatuto da OAB, na Delegacia de Polícia do Estatuto da OAB faz
com a redação dada pela ou no gabinete ministe- é somente concre zar
Lei 13.245/2016.6 rial ou em outra qualquer o direito já cons tucio-
repar ção, soaria incons- nalmente assegurado e
Com o respeito que explicitar as consequên-
tucional, pela invasão
autor merece, discordo. cias óbvias de sua viola-
de reserva de jurisdição.
A caracterís ca inquisito- ção. Infringir um direito
rial do Inquérito Policial e O direito à assistência de cons tucional em qual-
outras inves gações pre- advogado na fase inqui- quer fase da persecu o
liminares não pode nem sitorial é cons tucional- criminis somente pode
deve ser afastada, mesmo mente previsto desde levar ao reconhecimento
porque se trata de um iní- 1988, nos termos do de nulidade absoluta.
cio de apuração no seio ar go 5º, LXIII, CF. Ora, se O que mais poderia ser?

COAD | Seleções Jurídicas | 23


| DOUTRINAS |

No entanto, não se pode advogado e não indica põe sobre a prerroga va


afirmar que no Inquérito nenhum. Sua oi va ou do advogado de “apre-
Policial passa a haver interrogatório poderá ser sentar razões e quesitos”
contraditório e ampla feita sem maiores óbices. no curso da inves ga-
defesa. Há manifestações Trata-se de um direito ção. Ora, se o Inquérito
parciais, como já se disse, que pode ou não ser exer- Policial ou outras inves-
da defesa, seja em seu cido nessa fase. O próprio gações preliminares
aspecto técnico, seja na advogado, comunicado vessem deixado de ser
autodefesa (v.g. direito à da prisão, por exemplo, inquisi vos, imperando o
assistência de advogado, pode optar por não fazer contraditório e a ampla
direito ao silêncio e à não o acompanhamento defesa plenos, então,
autoincriminação, etc.). nesse primeiro momento, obrigatoriamente, por
Mas, jamais uma defesa seguindo os trabalhos. exemplo, antes do Rela-
tão ampla como na fase O disposi vo não impõe tório do Delegado de Polí-
processual. Nesse diapa- em momento algum a
são, somente haverá nuli- cia (ar go 10, § 1º, CPP),
“obrigatoriedade” da pre- deveria ser o advogado
dade e efe va violação da sença do advogado, mas
prerroga va e do direito no ficado a apresentar
confere ao profissional razões. Também quando
do indiciado, inves gado
uma prerroga va direta de qualquer perícia, a
ou preso, se houver advo-
e ao cliente um direito de defesa teria de ser no -
gado habilitado a atuar
assistência, o que, aliás, ficada para quesitar. Na
e sua ação for coartada
já estava inscrito em
pela Autoridade Policial verdade, novamente, a lei
forma de cláusula pétrea
ou seus agentes. Nesse não impôs uma obrigação
na Cons tuição Federal
caso, haverá inclusive e sim estabeleceu uma
há tempos, conforme já
“Abuso de Autoridade”, prerroga va do defensor
de acordo com o dis- demonstrado. A presença
que poderá, acompa-
posto no ar go 3º, “j”, do advogado somente
nhando o Inquérito, por
da Lei 4.898/65. Aliás, se torna obrigatória, sob
exemplo, ofertar razões
isso é lembrado no novo pena de nulidade abso-
em seu bojo ou quesitar
§ 12 do Estatuto da OAB luta e eventual Abuso de
em perícias. Isso pra ca-
com a redação dada pela Autoridade, quando o
mente já estava disposto
Lei 13.245/2016, quando profissional se apresenta
e pretende exercer essa no ar go 14, CPP, quando
trata dos direitos do estabelece que o defen-
advogado previstos no prerroga va, bem como
o preso exige o cum- sor ou o imputado pode
inciso XIV, mas com plena
primento desse direito requerer diligências.
aplicação também para o
(ainda disponível nessa Apenas agora, não será
inciso XXI.
fase). dado à Autoridade Poli-
Muitas vezes o preso, cial indeferir a juntada
inves gado ou interro- Ademais, o inciso XXI tem de razões elaboradas
gado, se apresenta sem uma alínea “a” que dis- pelo causídico ou seus

24 | Março de 2016
quesitos na perícia, por- menos, para o acompa- agora mais abrangente,
que são prerroga va sua, nhamento de oi vas de mas disso a tornar-se a
legalmente determinada. testemunhas e ví mas. inves gação um procedi-
Inclusive, em havendo A no ficação poderá ser mento marcado pelo con-
requerimento prévio do obrigatória em caso de traditório e ampla defesa,
defensor para esse fim, requerimento expresso vai um longo caminho.
então deverá obrigato- do causídico, mas mesmo
riamente a Autoridade assim somente em rela- A lei não estabelece
responsável pela inves- ção ao acompanhamento prazo para atuação do
gação no ficá-lo para do cliente em interroga- advogado em caso de
apresentação de razões tório ou depoimento e no ficação para razões
ou quesitos quando de nas razões e quesitação. ou quesitação, mesmo
perícia. Entretanto, na Não há que se falar em porque em geral essa
prá ca, dificilmente se no ficação para audiên- no ficação não deverá
ocorrer. Mas, no caso de
iria deixar de juntar uma cias em geral, como se o
haver requerimento do
documentação protoco- Inquérito Policial ou qual-
defensor a respeito dessa
lada por um advogado quer Inves gação Preli-
prerroga va e, devendo a
durante o trâmite do minar de qualquer órgão
Autoridade deferir o seu
Inquérito Policial ou outra fosse uma espécie de
exercício, a questão do
inves gação ou mesmo processo. Dessa forma,
prazo se apresenta rele-
impedi-lo de ofertar que- não é possível crer que
vante. Na lacuna do Esta-
sitos numa perícia. Claro o Inquérito Policial tenha
tuto, o problema pode
que a lei é importante perdido sua condição de ser resolvido pelo Código
neste aspecto porque procedimento inquisi vo. de Processo Penal. Ana-
nem sempre há o bom Nem que a prerroga va logicamente, quanto aos
senso e a arbitrariedade do advogado implique em quesitos, pode-se apli-
muitas vezes ocorre. uma obrigação de no - car o prazo de 10 (dez)
Outra demonstração de ficação pela Autoridade dias previsto no ar go
que o Inquérito Policial Policial fora das regras 159, § 5º, I, CPP, tal qual
con nua inquisi vo é o cons tucionalmente pre- ocorre na fase proces-
fato de que a prerroga- vistas (v.g. direito do sual. Quanto às razões,
va somente se refere preso de comunicação entende-se que também
ao acompanhamento do da família e advogado). o prazo pode ser de 10
inves gado pelo advo- O que efe vamente (dez) dias, aplicando-se,
gado, à elaboração de ocorre é uma ampliação e novamente por analogia,
razões e de quesitos no explicitação das prerroga- agora as regras comuns
bojo do procedimento. vas do defensor na fase da instrução criminal no
Nada diz a respeito de inquisi va. O parcial exer- processo, nos termos do
no ficações, seja para cício da defesa nessa fase ar go 396, CPP, que trata
esses fins, seja, muito da persecução criminal é da resposta à acusação.

COAD | Seleções Jurídicas | 25


| DOUTRINAS |

Trata-se de prazos razoá- durante o andamento tório do órgão ministe-


veis para o exercício da do Inquérito Policial, por rial. Essa temá ca extra-
prerroga va defensiva exemplo, há a interme- polaria os comentários à
em caso de requerimento diação judicial. O Minis- Lei 13.245/2016, aden-
de no ficação para tanto. tério Público “requer” trando necessariamente
Note-se que tais prazos a diligência ao Juiz e é nos problemas ínsitos à
serão processuais, cor- este quem a “requisita” inves gação direta pelo
rendo de acordo com o Ministério Público, a
ao Delegado de Polícia
disposto no ar go 798 e qual, a nosso ver, erro-
(vide ar go 16, CPP).
parágrafos, do CPP. neamente e sem base
Ora, se o defensor vesse legal alguma, foi reconhe-
Havia uma alínea “b” no esse poder requisitório, cida pelo STF. Mas, este
inciso XXI do ar go 7º do enquanto ao Ministério não é o momento nem o
Estatuto da OAB com a Público permanecesse local adequado para tal
nova redação no projeto. apenas a capacidade de discussão.7
Mas, a lei foi promulgada postular ao Juiz, have-
com veto dessa alínea. ria uma desigualdade de Conforme visto, o acesso
Nela estava estabelecido armas não jus ficável na aos autos pelo advogado
que o defensor poderia para exercício da defesa já
fase preliminar da per-
“requisitar” diligências na fase de inves gação é
secução penal. Assim
assegurado independen-
à Autoridade Policial ou sendo, o direito de reque-
temente de procuração
qualquer outra incum- rer diligências já disposto (ar go 7º, XIV, do Esta-
bida da inves gação pre- no ar go 14, CPP, sa s- tuto da OAB). Contudo,
liminar. faz o exercício parcial da uma exceção é posta (e,
defesa na fase inves ga- diga-se de passagem,
O veto parece correto.
tória, sem prejuízo à pari- bem posta) a essa regra.
Com a aprovação dessa
dade de armas. No § 10, fica estabelecido
alínea, haveria uma
que, nos autos sujeitos
quebra da “paridade A questão pode se com- a sigilo, o advogado pre-
de armas” na apuração plicar quando a inves - cisará apresentar pro-
criminal. Isso porque o gação é feita diretamente curação para ter acesso.
Ministério Público não pelo Ministério Público. A medida é salutar. Com
“requisita” diligências à Mas, nesse caso, a com- ela, fica estabelecida a
Autoridade Policial, por plicação é muito maior, regra geral de que o advo-
exemplo, a qual preside eis que não bastaria à gado para ter acesso aos
a inves gação de forma defesa poder apenas autos de inves gação,
independente e sem requisitar diligências no não necessita de procu-
subordinação. É claro interior do procedimento ração. Por outra banda, a
que o Ministério Público do Ministério Público e exceção de que, no caso
tem poder requisitório, sim conferir à defesa o de decreto de sigilo, pre-
mas quanto a diligências mesmo poder inves ga- cisa do instrumento.

26 | Março de 2016
É de se observar que o
sigilo somente é decre-
um sigilo genérico e de
natureza externa, não “É de se
tado por determinação
judicial, analisando cir-
servindo de fundamento
para negar o acesso do observar
cunstâncias especiais
do caso concreto ou em
defensor jamais (não
tem força para determi-
que o sigilo
virtude de lei (exemplo
desse úl mo caso, são os
nar sigilo interno). Em
havendo necessidade de
somente é
feitos sobre crimes contra maior sigilo, então esta
determinação deverá ser
decretado por
a dignidade sexual – Vide
ar go 234 – B, CP). Por- representada ao Juiz. determinação
tanto, é bom saber que
não é dado ao Delegado
O sigilo decretado pelo
Juiz ou determinado
judicial,
de Polícia ou qualquer
outro funcionário público
legalmente tem sustento
cons tucional e legal nos
analisando
incumbido da presidência
de inves gações, decre-
ar gos 5º, LX, e 93, IX, CF circunstâncias
e no ar go 792, § 1º, CPP.
tar “sponte própria” o
sigilo dos autos, mas tão
Ou seja, o sigilo é excep- especiais
cional, considerando
somente representar ou
requerer essa determi-
casos especiais nos quais do caso
prepondere o interesse
nação ao Juiz compe-
tente. É claro que nos
público ou social e/ou concreto ou
casos de determinação
a preservação da in -
midade dos envolvidos. em virtude de
legal do sigilo, as auto-
ridades, sejam policiais,
Esse sigilo, porém, é ape-
nas externo, valendo para lei (exemplo
administra vas, ministe-
riais ou judiciais, devem
o público em geral e não
para as partes (não há
desse último
por ele zelar de o cio.
Entretanto, a manobra de
sigilo interno). Por isso,
é salutar a exigência de
caso, são os
uma Autoridade qualquer
decretar o sigilo por conta
procuração. Num feito
sob sigilo, somente quem
feitos sobre
própria, sem arrimo na
lei ou em determinação
realmente é parte inte- crimes contra
ressada pode ter acesso
judicial, gerará abuso
por violação das prer-
às informações e não o a dignidade
público em geral, mesmo
roga vas do advogado. advogados. sexual – Vide
Nem que seja acenado
com o ar go 20, CPP que Na esteira do que já artigo 234 – B,
fala do sigilo natural de determinava a Súmula
toda inves gação. Este é Vinculante 14 do STF, a CP). (…)”
COAD | Seleções Jurídicas | 27
| DOUTRINAS |

Autoridade com atribui- inú l. Isso, porém, não plesmente não juntando
ção para o caso poderá impedirá o acesso poste- ou re rando dos autos
delimitar o acesso do rior do advogado a todos originais peças, a fim de
defensor aos elementos os documentos quando ocultá-las fora dos casos
de prova e inves gação forem encartados nos que jus fiquem essa limi-
que já estejam documen- autos e já não houver tação, conforme ante-
tados nos autos (§ 11). prejuízo. Mesmo assim, riormente mencionado,
Poderá, portanto, vedar será preciso atentar se haverá responsabilização
o acesso àquilo que no caso específico não criminal e funcional por
não esteja juntado, mas existe determinação legal Abuso de Autoridade
não sem fundamento. de sigilo externo, ainda (inteligência do ar go 3º,
Somente em casos nos que após realizadas as “j”, da Lei 4.898/65). Ade-
quais esse acesso prema- diligências e documenta- mais, poderá o causídico
turo possa comprometer das nos autos, conforme requerer imediato acesso
a “eficiência, eficácia ou ocorre, por exemplo, com aos autos integrais ao Juiz
finalidade das diligên- as interceptações telefô- competente.
cias”. São exemplos notó- nicas, quebras de sigilo
rios os casos de um man- A legislação sob comento
bancário e fiscal, etc. Nes- tem natureza processual
dado de prisão pendente, ses casos excepcionais, a penal e, portanto, vale
uma ordem judicial de procuração será exigível, imediatamente, sem
busca e apreensão ou de acordo com o visto retroa vidade, e é apli-
mesmo sua representa- anteriormente. cada aos procedimentos
ção, um pedido ou inter- inves gatórios em anda-
ceptação telefônica em Outra manobra astuciosa mento a par r de seu
curso, etc. É claro e evi- que pode ser adotada vigor; não só os inicia-
dente que a Autoridade pelas autoridades é pre- dos a par r de seu vigor,
Presidente não deve vista pelo legislador no mas também aqueles
nem pode permi r que o § 12. Quando a Autori- que já tramitavam (data
advogado tenha acesso a dade violar a prerroga va da publicação – ar go 2º
esse po de informação, de acesso do advogado da Lei 13.245/2016 c/c
sob pena de tornar tudo de forma insidiosa, sim- ar go 2º, CPP).

Eduardo Luiz Santos Cabe e


Delegado de Polícia – Mestre em Direito Social – Pós-Graduado em Direito Penal e
Criminologia – Professor de Direito Penal, Processo Penal, Criminologia e Legislação Penal
e Processual Penal Especial na Graduação e na Pós-Graduação do Unisal – Membro do
Grupo de Pesquisa de É ca e Direitos Fundamentais do Programa de Mestrado do Unisal

28 | Março de 2016
BIBLIOGRAFIA: KAFKA, Franz. O Processo. Trad. SUMARIVA, Paulo Henrique.
AIRES, Mathias. Reflexões sobre Torrieri Guimarães. Rio de Janei- Inquérito Policial deixa de ser
a vaidade dos homens. São Pau- ro: Ediouro, 1998. inquisi vo: Lei 13.245/2016
lo: Escala, 2005. MIRABETE, Julio Fabbrini, FA- altera as regras da inves gação
CASARA, Rubens R. R. Mitologia BBRINI, Renato N. Processo criminal. Disponível em www.
Processual Penal. São Paulo: Sa- Penal. 18ª ed. São Paulo: Atlas, jusbrasil.com.br, acesso em
raiva, 2015. 2006. 13-1-2016.

NOTAS: bens R. R. Mitologia Processual com relação ao Inquérito Po-


1. Cf. KAFKA, Franz. O Processo. Penal. São Paulo: Saraiva, 2015, licial e outros procedimentos.
Trad. Torrieri Guimarães. Rio de “passim”. Resolução de uma instituição,
Janeiro: Ediouro, 1998, “pas- 5. Neste sen do: SUMARIVA, ainda que seja o Ministério
sim”. Paulo Henrique. Inquérito Poli- Público, não pode ser tida
2. AIRES, Mathias. Reflexões so- cial deixa de ser inquisi vo: Lei como Lei Processual Penal.
bre a vaidade dos homens. São 13.245/2016 altera as regras da Isso sem falar em questões de
Paulo: Escala, 2005, p. 15. inves gação criminal. Disponí- imparcialidade na formação da
3. MIRABETE, Julio Fabbrini, vel em www.jusbrasil.com.br, convicção, paridade de armas
FABBRINI, Renato N. Processo acesso em 13-1-2016. etc. Mas, se o STF não teve
Penal. 18ª ed. São Paulo: Atlas, 6. Op. Cit. coragem de enfrentar tecni-
2006, p. 62. 7. Não há lei que regulamente camente a questão, o que se
4. Modelar o trabalho de Ru- a Investigação direta pelo Mi- pode fazer, além de lamentar a
bens R. R. Casara: CASARA, Ru- nistério Público, conforme há pusilanimidade?

COAD | Seleções Jurídicas | 29


| ESPECIAL |

Complementação da
sentença arbitral. Os limites e
consequências do artigo 33,
§ 4º, da Lei 9.307/96, com
alterações da Lei 13.129/2015

SUMÁRIO: 1. Introdução. novas alterações trazidas prolação de sentenças


2. Sentença arbitral. pela Lei 13.129/2015 a parciais.
3. Requisitos da sentença respeito do tema.
arbitral. 4. Sentença Essas recentes alterações
arbitral parcial. 5. Hipó- Com efeito, algumas alte- por certo geram dúvidas
teses de descons tui- rações trazidas pela Lei e, portanto, prescindem
ção da sentença arbitral. 13.129/2015, ao reformar de uma análise calcada
6. O novo § 4º do ar go a anterior Lei de Arbitra- no que já se produziu a
gem (Lei 9.307/96), trou- respeito dos temas corre-
33 da Lei de Arbitragem.
xeram dúvidas que até latos. Vale dizer, é a par r
7. Complementação da
então inexis am sobre da construção doutriná-
sentença arbitral pelo
temas que eram pacífi- ria e jurisprudencial das
Poder Judiciário. 8. Con-
cos na doutrina. Há tam- úl mas duas décadas de
clusões.
bém novas disposições vigência da Lei de Arbi-
que, até então inexisten-
1. INTRODUÇÃO tes, não chegaram a ser
tragem que o intérprete
poderá encontrar subsí-
O presente estudo obje- enfrentadas na prá ca. dios para compreender
va rever alguns concei- Dentre essas novidades, as novéis alterações.
tos já trazidos pela dou- está a ação judicial de
trina e jurisprudência complementação da sen- Portanto, procuramos
sobre sentenças arbitrais tença arbitral e a possi- trazer aqui alguns con-
para, com isso, analisar as bilidade, agora legal, de ceitos acerca de sen-

30 | Março de 2016
tença arbitral já esta- ideia de direito proces- Quer se dizer aqui, neste
belecidos na doutrina sual civil, segundo a qual primeiro momento,
nacional para, com isso, se afirmava que sentença apenas que a sentença
tentar resolver as dificul- era o ato que colocava arbitral pode, ou não,
dades de interpretação fim ao processo, com ser termina va do pro-
que a Lei 13.129/2015 ou sem julgamento do cedimento. Da mesma
impôs aos aplicadores do mérito. Essa conceitua- forma, poderá a sentença
Direito, sobretudo ao tra- ção não mais subsiste aos apreciar, ou não, o mérito
zer sensíveis alterações olhos da nova sistemá ca da controvérsia. Não há
a respeito das decisões processual civil e, muito apreciação do mérito,
arbitrais. menos, em relação à arbi- por exemplo, quando a
tragem. sentença arbitral reco-
2. SENTENÇA Não se olvida a reda-
nhece a inarbitrabilidade
obje va da matéria, o
ARBITRAL ção do ar go 29 da Lei que levaria as partes à
Tem-se por sentença arbi- 9.307/96 ao dispor que, busca do Poder Judiciário
tral o pronunciamento do proferida a sentença, para solucionar a referida
tribunal arbitral ou do finda está a arbitragem. controvérsia, que não
árbitro que obje va deci- No entanto, conforme poderia ser apreciada em
dir o li gio para o qual se verá neste trabalho, arbitragem. Luis Antonio
foram chamados a deci- há casos em que a sen- Scavone Junior, acertada-
dir. É a sentença arbitral tença arbitral, por ser mente, afirma que as sen-
a prestação jurisdicional parcial, não finda com o tenças arbitrais também
emanada do tribunal procedimento arbitral, podem ser classificadas
mas tão somente com em termina vas ou defi-
arbitral ou árbitro sobre a
aquela questão contro- ni vas:1
disputa subme da ao seu
ver da analisada na deci-
julgamento.
são. Ora, muitas vezes As sentenças arbi-
Assim como a sentença as partes submetem aos trais, assim como as
judicial, a sentença arbi- árbitros inúmeras con- judiciais, podem ser,
tral pode, ou não, apre- trovérsias e a atual Lei portanto: a) Termina-
ciar a integralidade do de Arbitragem, com as vas – De conteúdo
mérito da disputa. Tam- alterações trazidas pela meramente proces-
bém pode a sentença Lei 13.129/2015, permite sual, quando, por
arbitral ser termina va, aos árbitros “fa ar” as exemplo, reconhecem
vale dizer, poderá a sen- discussões, proferindo a invalidade do com-
tença arbitral encerrar o sentenças parciais sobre promisso arbitral ou
procedimento, pondo à determinados temas e o impedimento ou
disputa. prosseguir com a arbitra- suspeição sem que
gem quanto à parcela da haja possibilidade de
Aqui é importante des- discussão eventualmente subs tuição do ár-
mis ficar aquela an ga remanescente. bitro, porque assim

COAD | Seleções Jurídicas | 31


| ESPECIAL |

foi convencionado. arbitrais devem neces- de um ou alguns dos


b) Defini vas – Aque- sariamente obedecer árbitros não poder ou
las que reconhecem determinados requisitos não querer assinar a
o direito de uma das previstos no ar go 26 da sentença, cer ficar tal
partes e podem ser, Lei 9.307/96, a saber: fato.
assim como as sen-
tenças judiciais, con- Art. 26 – São requi- De uma rápida leitura do
sitos obrigatórios da ar go acima transcrito,
denatórias, cons tu -
sentença arbitral: se percebe grande simili-
vas ou declaratórias.
tude com o modelo ado-
Ao julgar o mérito da dis- I – o relatório, que tado pelo Código de Pro-
puta, a sentença arbitral conterá os nomes das cesso Civil (ar go 489 do
poderá ser (assim como partes e um resumo CPC/2015), o que forta-
a judicial) condenatória, do li gio; lece a já consagrada equi-
paração entre as decisões
cons tu va ou declara- II – os fundamentos da arbitrais e as judiciais.
tória. Da mesma forma, decisão, onde serão O relatório da sentença
é possível que a sentença analisadas as ques- deverá conter a definição
arbitral seja meramente tões de fato e de direi- exata dos pedidos for-
homologatória (ar go to, mencionando-se, mulados pelas partes, a
28 da Lei 9.307/96), em expressamente, se os fim de se definir à exata
caso de acordo celebrado árbitros julgaram por dimensão da arbitragem,
pelas partes durante o equidade; pois é importante se
procedimento arbitral, verificar a submissão do
emprestando-lhe eficácia III – o disposi vo, em decisum ao que as partes
execu va acaso houver que os árbitros resol- levaram para a arbitra-
o descumprimento das verão as questões que gem (sempre lembrando
obrigações ali avençadas. lhes forem subme - que as partes podem
Termina vas ou defini - das e estabelecerão o fracionar suas controvér-
vas devem as sentenças prazo para o cumpri- sias, levando partes ao
arbitrais, por expressa mento da decisão, se Poder Judiciário e parte
disposição da Lei de Arbi- for o caso; e à arbitragem). O relatório
tragem, conter determi- serve, portanto, para que
nados requisitos. Veja- IV – a data e o lugar as partes verifiquem que
mos quais são eles. em que foi proferida. a descrição de toda a con-
trovérsia e os seus limi-
Parágrafo único – tes, justamente para que
3. REQUISITOS A sentença arbitral possam aferir, em compa-
DA SENTENÇA será assinada pelo ração com o comando da
árbitro ou por todos decisão, se tudo o quanto
ARBITRAL os árbitros. Caberá ao foi subme do à arbitra-
Assim como a sentença presidente do tribunal gem foi ali decidido e em
judicial, as sentenças arbitral, na hipótese quais limites.

32 | Março de 2016
A mo vação, requisito eventualmente, invalida- sente ar go a noção de
essencial da sentença, ção. decisão citra pe ta ou
segue a tradição jurisdi- infra pe ta, sobretudo
cional brasileira segundo O disposi vo da sentença porque trataremos, a
a qual todas as deci- arbitral, tal qual informa seguir, da ação de com-
o inciso III do ar go 26 plementação de sentença
sões judiciais devem ser
da Lei de Arbitragem é arbitral.
fundamentadas. Refe-
a parte da decisão em
rido preceito consta do
que os árbitros resol- Assim, valemo-nos da
ar go 93, IX, da Cons tui-
verão as questões que conceituação do Profes-
ção Federal e sua impor-
lhes foram subme das sor José Manoel Arruda
tância está diretamente
e na qual estabelecerão Alvim Ne o, processua-
relacionada à validade o prazo para o cumpri- lista de escol, ao ensinar
das decisões, na medida mento da decisão, se que:2
em que a fundamentação for o caso. Aqui, sobres-
é um instrumento capaz saem os vícios comuns às Na medida em que
de viabilizar o controle sentenças judiciais, tais existe um poder-dever
das decisões e assegurar como decisão ultra, citra da autoridade juris-
o estado democrá co de ou extra pe ta. É, pois, dicional de responder
direito. Na arbitragem, a da análise do disposi vo ao pedido feito pela
fundamentação da sen- vis a vis relatório e fun- parte, não estará
tença possui igual impor- damentação que as par- cumprido, totalmente,
tância, pois é a par r da tes poderão averiguar a este poder-dever, se o
fundamentação que as per nência do comando juiz deixar de resol-
partes poderão verificar jurisdicional, sua adequa- ver, em parte, o que
a existência de qualquer ção e correspondência foi pedido, ainda que
vício a ensejar pedido aos limites do pedido. esse pedido se subdi-
de esclarecimentos, ou, Importante para o pre- vida em itens. A sen-

“(…) Na arbitragem, a fundamentação da


sentença possui igual importância, pois é
a partir da fundamentação que as partes
poderão verificar a existência de qualquer
vício a ensejar pedido de esclarecimentos,
ou, eventualmente, invalidação.”
COAD | Seleções Jurídicas | 33
| ESPECIAL |

tença que não aprecia sito. Primeiro, porque o de Arbitragem), o que


todos os pedidos é dia lançado na sentença influencia se a decisão,
infra pe ta, devendo, põe termo ao prazo exi- para ser executada, deve
portanto, ser decre- gido pela lei ou conven- passar por homologação
tada a sua nulidade. cionado de forma diversa no Superior Tribunal de
(...) A sentença infra pelas partes. Jus ça. A esse respeito
pe ta, portanto, em menciona Carlos Alberto
úl ma análise, além O ar go 23, por exemplo,
Carmona:3
de infringir o sen do determina o prazo em
dos ar gos 128 e 458 que deve a sentença arbi- A única diferença, em
citados, importará a tral ser prolatada, seja termos formais, é que
própria denegação aquele es pulado pelas a sentença proferida
parcial da jus ça, com partes na convenção de pelo árbitro deve con-
o que, em certa medi- arbitragem, no termo, ter – além daqueles
da, ofende também o ou, na falta de es pula- requisitos do ar go
ar go 126. ção, no prazo legal (seis 458 do Código de Pro-
Com esses conceitos, meses, contados da ins- cesso – também o lu-
infere-se que cabe ao tuição da arbitragem gar e a data em que a
árbitro (ou ao tribunal ou da subs tuição do sentença é proferida.
arbitral) decidir a causa árbitro). Tal determina- Isto apenas por uma
de acordo com os pedi- ção é importante não só exigência legal de
dos formulados, nem para garan r a presteza qualificar a arbitra-
mais, nem menos, tam- do procedimento e, por- gem como nacional
pouco concedendo tutela tanto, a confiabilidade e o ou estrangeira (se o
diversa do pedido, man- interesse na arbitragem, laudo for proferido no
tendo, portanto, uma mas também para que Brasil, a arbitragem é
total correspondência não dê ensejo à ação de nacional; se o laudo
entre o que fora pedido e invalidação da sentença for proferido fora do
o que se está a decidir. arbitral extemporânea território nacional, a
(ar go 32, VII, da Lei de arbitragem é estran-
Outro requisito impor-
tante da sentença arbi- Arbitragem). geira, pouco impor-
tral, trazido pelo ar go tando onde os atos fo-
O mais importante, ram realizados, e sim
26, III, da Lei de Arbitra-
gem diz respeito à data contudo, é o local a ser onde a sentença foi
e o lugar em que a sen- indicado na decisão, na proferida, nos termos
tença é proferida. Aqui, medida em que este do ar go 34 da Lei de
mais do que uma forma- iden fica se a sentença Arbitragem). Importa
lidade, há consequências é nacional/domés ca ou frisar que o lugar em
prá cas que decorrem estrangeira (ar go 34, que a sentença arbi-
diretamente deste requi- parágrafo único, da Lei tral foi proferida é re-

34 | Março de 2016
levante: se o laudo for
4. SENTENÇA e, justamente por essa
u lidade, as partes nor-
produzido fora do ter-
ritório nacional, terá ARBITRAL malmente atribuíam essa
de ser homologado no PARCIAL faculdade aos árbitros já
STF para ter eficácia no termo de arbitragem,
Muito se discu a sobre a evitando-se a produção
no país. Mostra-se as-
possibilidade de os árbi- de provas desnecessárias
sim mais um item que
tros proferirem sentenças e o inú l alongamento da
revela a flexibilidade parciais, ou julgamentos
permi da pela arbi- arbitragem. Dito de outra
por etapas. Essa possi- forma, a prolação de sen-
tragem: se a sentença bilidade, bastante u li-
arbitral for proferida tenças parciais já era uma
zada na prá ca, encon- habitualidade nas arbi-
em território nacio- trava certa resistência tragens nacionais, pois as
nal, ainda que todos por alguns operadores partes normalmente atri-
os atos sejam pra ca- do Direito, notadamente buíam aos árbitros essa
dos fora do território porque o ar go 32, V, possibilidade, em prol da
nacional, a arbitra- da Lei 9.307/96, em sua celeridade do procedi-
gem será brasileira e redação original, previa mento e de sua u lidade.
a respec va sentença a possibilidade de ajui-
produzirá desde logo zamento de ação de des- E a possibilidade de jul-
seus efeitos.4 cons tuição da sentença gamento fa ado da arbi-
arbitral, acaso não fosse tragem é extremamente
Além dos requisitos legais decidido todo o li gio salutar ao ins tuto. Isso
constantes do ar go 26 subme do à arbitragem. porque, diferentemente
da Lei de Arbitragem, do que ocorre no pro-
convém destacar que a Esse inciso V do ar go cesso judicial, a arbitra-
sentença arbitral deve 32 foi revogado pela gem não contém a cha-
necessariamente ser pro- recente Lei 13.129/2015, mada fase de liquidação
latada por escrito. Isto é, de modo que, agora, da sentença, por meio
deve ser materializada não subsistem dúvidas da qual, na maioria das
em documento escrito, quanto a possibilidade de vezes, se apura o efe-
necessário requisito for- julgamento por etapas, vo quantum debeatur
mal, ainda que todo o ou, como dizem alguns, de um direito declarado
procedimento arbitral prolação de sentenças (ou atribuído) à parte, na
seja oral (ar go 24 da parciais pelo árbitro, ou fase de conhecimento da
Lei 9.307/96). A par dos pelo tribunal arbitral, no demanda judicial.
requisitos necessários à caso de colegiado.
sentença arbitral veja- Por isso, eram inúmeros
mos, agora, a alteração Apesar de haver algumas os exemplos trazidos pela
legisla va que tratou da resistências, a prá ca comunidade arbitral, aos
prolação de sentenças já demonstrava a u li- quais podem ser somados
parciais e seus aspectos. dade do fracionamento algumas hipóteses, ora

COAD | Seleções Jurídicas | 35


| ESPECIAL |

trazidas: (i) verificação de delineado o objeto da controvérsia subme da


responsabilidade/culpa condenação (an debea- à arbitragem. Vejamos
em contratos comerciais, tur), seguir-se à perícia como ficam essas ques-
para só depois se apurar para apurar o quantum tões.
o quantum devido ou debeatur.5
a extensão patrimonial 5. INVALIDAÇÃO
dessa responsabilidade; Assim, são inúmeros os
(ii) também em disputa exemplos prá cos de jul- (OU DESCONSTI-
contratual, a possibili- gamento fracionado da TUIÇÃO) DA
arbitragem e que, por sua
dade de discussão do
economicidade, louvam SENTENÇA
desequilíbrio econômico
financeiro do contrato a revogação do inciso V ARBITRAL
para, só depois, apurar do ar go 32 da Lei de As causas de invalida-
qual o importe do dese- Arbitragem. Andou bem ção da sentença arbitral
quilíbrio percebido, atri- o legislador, portanto, ao estão descritas no ar go
buindo (ou não) determi- revogar o inciso acima 32, incisos I, II, III, IV, VI,
nados valores às partes mencionado já que o pre- VII e VIII, da Lei de Arbi-
como medida do desequi- conceito ao julgamento tragem (Lei 9.307/96),
líbrio percebido; (iii) em fracionado cedeu espaço com alterações da Lei
disputa entre empresas, às questões de u lidade 13.129/2015.
a discussão e julgamento de per nência (economi-
sobre a possibilidade de cidade) do procedimento Adotaremos neste sin-
se con nuar o procedi- arbitral. gelo estudo a opinião de
mento arbitral contra Francisco José Cahali, no
No entanto, a confirma- sen do de que a expres-
empresa em recuperação
judicial e, somente após ção legal da possibilidade são “invalidação da sen-
verificada essa possibi- de prolação de senten- tença arbitral” causa
lidade, con nuar com a ças parciais traz algumas confusão ao ser errone-
arbitral para julgamento dúvidas, pois há implica- amente entendida como
da causa. ções prá cas da u liza- “invalidação dos negócios
ção desta faculdade, tais jurídicos em geral”, sendo
Francisco Cahali, ao como: a análise do cabi- mais adequado tratar o
comentar o assunto, cita mento e do prazo para tema como descons tui-
o exemplo de arbitragem ajuizamento de ação de ção da sentença arbitral
em que se discu a con- descons tuição da sen- (in Curso de Arbitragem,
trato de representação tença parcial; a análise 5ª ed., p. 383, Editora
comercial, na qual pri- do cabimento e do prazo Revista dos Tribunais).
meiro se decidiu sobre para ação de comple-
a legalidade ou não das mentação da decisão, na De acordo com Donaldo
alterações do contrato medida em que, se par- Armelin, “a ação anula-
e ainda sobre eventual cial é, tangencia e pre- tória seria o úl mo ins-
prescrição, para só então, tere outros aspectos da trumento u lizável pelas

36 | Março de 2016
“Ora, a
partes no li gio arbitral, por ter sido fundada em
para afastar as nulidades prova falsa (ar go 485, VI,
da sentença já prolatada”. CPC). Também a sentença
As hipóteses do ar go sentença arbitral estrangeira dei-
32, ainda de acordo com xará de ser homologada
a opinião deste reno- judicial pode e executada no Brasil
mado professor, seriam se ferir a ordem pública
numerus clausus, ou seja, ser rescindida nacional, de acordo com
é uma ação de âmbito o ar go V da Convenção
restrito de cabimento,
cuja admissibilidade exi-
com base sobre o Reconhecimento
e a Execução de Senten-
ge um prévio exame de
sua subsunção à hipótese
em alegação ças Arbitrais Estrangeiras,
Convenção de Nova York,
legal autorizadora de seu
ajuizamento.6
de violação integrada ao ordena-
mento jurídico nacional

No entanto, ousamos à ordem pelo Decreto 4.311, de


23-7-2002.
divergir deste entendi-
mento ao vislumbrar pública, por Assim, estamos com
hipóteses não previstas Paulo Henrique dos
no ar go em comento e ofensa à Santos Lucon, Rodrigo
que podem dar azo à des- Baroini e Elias Mar-
cons tuição da sentença coisa julgada ques de Medeiros Neto,
arbitral, tal como ocorre, quando afirmam que:
por exemplo, se a sen- (artigo 485, A sentença arbitral,
tença ferir preceitos de
ordem pública. Atribuir IV, do Código como ato de jurisdi-
ção, não pode ficar
taxa vidade aos incisos
do ar go 32 seria confe-
rir à sentença arbitral um
de Processo imune à descons tui-
ção, quando venha a
status de imutabilidade
superior ao da sentença
Civil) ou padecer de vício gra-
ve, como expressa-
judicial e da sentença
arbitral estrangeira.
por ter sido mente prevê o ar go
32 da Lei 9.307/96. No

Ora, a sentença judicial fundada em entanto, tem-se que o


referido disposi vo

prova falsa
pode ser rescindida com é insuficiente para
base em alegação de vio- proteger, de maneira
lação à ordem pública, adequada, todas as
por ofensa à coisa julgada (artigo 485, hipóteses em que há
(ar go 485, IV, do Código afronta à ordem pú-
de Processo Civil) ou VI, CPC). (…)” blica e à legalidade.

COAD | Seleções Jurídicas | 37


| ESPECIAL |

Tendo em vista que a Desta forma, pensamos rém, isto irá ocorrer:
sentença arbitral pos- que os incisos do ar go basta pensar na hi-
sui, conforme visto, 32 da Lei 9.307/96 sinte- pótese de os árbitros
a mesma eficácia e zam alguns preceitos de deixarem de aplicar
força da sentença ju- ordem pública, devida- corretamente uma
dicial (ar go 475 – N mente posi vados e que lei que seja de ordem
do Código de Processo poderiam jus ficar a des- pública (e que não es-
Civil), mostra-se coe- cons tuição da decisão teja direta ou concre-
rente o raciocínio de arbitral, mas admi mos tamente enquadrada
que hipóteses de pro- a possibilidade de haver na síntese proporcio-
teção à ordem pública outras hipóteses nas nada pelo ar go 32
que jus ficam a ação quais poder-se-á admi r da Lei de Arbitragem)
rescisória, também a violação de preceitos de para que se introduza
podem servir de fun- ordem pública a ensejar elemento novo para o
damento para a ação a descons tuição da sen- problema, com o qual
anulatória da senten- tença arbitral, ainda que nossos tribunais ainda
ça arbitral. Afirmar não previstos no mencio- não veram a oportu-
que a ação anulatória nado ar go de lei. nidade de lidar!.8
da sentença arbitral
Carlos Alberto Carmona Mas voltemos às hipóte-
apenas poderia ser
também afirma que o ses legais e, nesse sen-
ajuizada nas hipóte-
ar go 32 da Lei 9.307/96 do, temos que a sen-
ses expressamente
sinte za os preceitos de tença arbitral poderá ser
previstas no ar go 32
ordem pública que pode- invalidada com base nos
da Lei 9.307/96, seria incisos I a VIII do ar go 32
riam jus ficar a anulação
conferir à sentença da Lei de Arbitral, com as
da decisão arbitral; mas
arbitral um status de alterações trazidas pela
admite que podem ocor-
imutabilidade supe- Lei 13.129/2015. Veja-
rer hipóteses não exata-
rior ao da sentença mos quais são as hipóte-
mente previstas naquele
judicial. Esta conclu- ses legais:
ar go, que geram proble-
são, certamente, não
mas ainda não enfrenta-
corresponde ao dese- dos e/ou definidos pelos Art. 32 – É nula a sen-
jo do legislador e não Tribunais: tença arbitral se:
tem como se jus ficar
diante de uma leitu- Espera o legislador, I – for nula a conven-
ra cons tucional do portanto, que todas ção de arbitragem;
processo civil pátrio, as hipóteses de ofen- II – emanou de quem
notadamente quando sa à ordem pública não podia ser árbitro;
envolvidos valores so- possam ser reduzidas
cialmente relevantes ou reconduzidas a um III – não con ver os
para a decisão judi- dos incisos menciona- requisitos do ar go 26
cial.7 dos. Nem sempre, po- desta Lei;

38 | Março de 2016
IV – for proferida fora poderia ser árbitro. Res- será a sentença passível
dos limites da conven- salva-se que nos casos de de nulidade.
ção de arbitragem; impedimento ou suspei-
ção do árbitro, o ar go O ar go 32, inciso IV,
V – (Revogado pela Lei 14 da Lei de Arbitragem destaca a nulidade da
13.129/2015); é taxa vo, impedindo-os sentença nos casos em
de atuar. Caso o árbitro que for proferida fora dos
VI – comprovado que limites da convenção de
não cumpra o dever de
foi proferida por pre- arbitragem. Na hipótese
revelação, informando
varicação, concussão de decisão ultra pe ta,
às partes da suspeição
ou corrupção passiva; isto é, quando a sentença
ou impedimento, a nuli-
dade passa a ter cunho decide mais do que o
VII – proferida fora do
de ‘absoluta’ ensejando que fora pleiteado pelas
prazo, respeitado o
a invalidação da sentença partes, também caberá
disposto no ar go 12,
arbitral. a nulidade da sentença,
inciso III, desta Lei; e
mas apenas na parte
VIII – forem desrespei- Cabe aqui lembrar, tam- excedente, que deverá
tados os princípios de bém, que a incapacidade ser recortada e excluída.
que trata o ar go 21, civil também impede a Digno de nota, portanto,
§ 2º, desta Lei. a vidade jurisdicional, a sentença ultra pe ta
pelo que será nula a sen- também dá ensejo ao
O primeiro inciso diz res- tença arbitral proferida pedido de descons -
peito à nulidade da con- por incapaz, assim como tuição do julgado, mas
venção de arbitragem. também o será a sen- apenas a parcela con-
A Lei 13.129/2015 ajus- tença proferida por pes- taminada pelo vício fica
tou a redação à melhor soa jurídica, na medida comprome da, preser-
técnica ao mencionar em em que a atribuição juris- vando-se a parte sadia do
nulidade da convenção dicional é personalíssima. pronunciamento.
de arbitragem, subs -
tuindo a redação original Também prevê o ar go No caso da sentença extra
do inciso I que mencio- 32, inciso III, que a sen- pe ta, ou seja, quando há
nava compromisso arbi- tença será nula se não condenação em objeto
tral. Assim, de acordo preenche os requisitos diverso do pedido das
com a nova redação, já constantes do ar go 26 da partes, a sentença judi-
adaptada à melhor téc- Lei de Arbitragem. Acima, cial a ngirá toda decisão
nica, será nula a sentença pudemos expor quais os arbitral maculada. No
arbitral quando for nula a requisitos obrigatórios entanto, pode acontecer
convenção arbitral. da sentença arbitral, pelo de a sentença não decidir
que fazemos referência toda a questão subme-
Será igualmente nula a ao item precedente para da à arbitragem (infra
sentença arbitral se for mencionar que, inexis- ou citra pe ta) e para
prolatada por quem não tente um dos requisitos, essa hipótese, antes pre-

COAD | Seleções Jurídicas | 39


| ESPECIAL |

vista como uma das hipó- ou aceitar promessa de valem alguns comentá-
teses de invalidação da tal vantagem. Já o ilícito rios. Sabe-se que o pro-
decisão, há nova sistemá- de prevaricação é o ato cedimento arbitral deve
ca, que é justamente a de retardar ou deixar ter prazo de duração, pois
possibilidade de comple- de pra car, indevida- a agilidade é um aspecto
mentação da decisão, nos mente, ato de o cio, ou muito caro ao ins tuto.
termos do § 4º do ar go pra cá-lo contra disposi- O prazo final da arbitra-
33 da Lei de Arbitragem, ção expressa de lei, para gem pode ser definido
com as alterações trazi- sa sfazer interesse ou pelas partes (na conven-
das pela Lei 13.129/2015. sen mento pessoal. ção arbitral, no termo de
arbitragem ou na ado-
O ar go 32, inciso VI, Nestas situações, o julga- ção de regulamento da
regula que será nula a dor protela a sentença, câmara arbitral), ou, no
sentença arbitral se for ou direciona o resul- silêncio, pela disposição
comprovado que foi pro- tado da arbitragem em legal constante do ar go
ferida por prevaricação, bene cio de uma das 23 da Lei de Arbitragem
concussão ou corrupção partes, com intuito de (6 meses contados da ins-
passiva. O ar go 17 da Lei obter vantagem para si tuição da arbitragem ou
de Arbitragem já ressalva ou para outrem. A ação da subs tuição de árbi-
que os árbitros, quando de descons tuição, nes- tro).
no exercício de suas fun- tes casos, independe do
ções ou em razão delas, julgamento dos crimes Todavia, apesar da rele-
ficam equiparados aos na esfera penal e o vício vância da previsibilidade
funcionários públicos, come do pelo árbitro em relação ao prazo,
para os efeitos da legis- não contamina toda a entendemos que a des-
lação penal. Concussão sentença, caso sua posi- cons tuição da sentença
é o ato de exigir, para si ção não tenha interferido arbitral, ou sua nulidade,
ou para outrem, direta na decisão final. por ter sido extempora-
ou indiretamente, ainda neamente prolatada deve
que fora da função ou O inciso VII do referido ser entendida com parci-
antes de assumi-la, mas ar go menciona que a mônia. Assim, o juiz esta-
em razão dela, vantagem sentença arbitral será tal, ao receber pedido de
indevida. nula se proferida fora do descons tuição de sen-
prazo, respeitado o ar go tença arbitral proferida
A corrupção passiva 12, III, da Lei de Arbitra- fora do prazo, deve, ao
é o ato de solicitar ou gem, isto é, desde que a meu ver, dar às partes a
receber, para si ou para parte tenha no ficado o oportunidade de se mani-
outrem, direta ou indire- árbitro ou o presidente do festar acerca da convali-
tamente, ainda que fora tribunal arbitral, conce- dação da sentença.
da função, ou antes de dendo-lhe dez dias para a
assumi-la, mas em razão prolação e apresentação Não havendo convalida-
dela, vantagem indevida, da sentença arbitral. Aqui ção, ou sendo ela impos-

40 | Março de 2016
sível, o magistrado deve haverá vedação legal ou
declarar nula a sentença judicial para tanto.
arbitral, nos exatos ter-
mos do caput do ar go
32. Todavia, nula será a
“Dito de Vale notar, aliás, o que
reza o § 2º do ar go 33,
sentença, mas tal fato
não invalida a conven-
outra forma, de acordo com o qual “a
sentença que julgar pro-
ção arbitral ou a mani-
festação de vontade das
a persistir a cedente o pedido decla-
rará a nulidade da sen-
partes de submeterem
suas controvérsias à arbi-
controvérsia tença arbitral, nos casos
do ar go 32, e determi-
tragem, razão pela qual
não deverá o magistrado
a respeito nará, se for o caso, que
o árbitro ou o tribunal
apreciar o mérito da con-
trovérsia de direito mate-
do direito profira nova sentença
arbitral”. Fiquemos com
rial envolvido.
material, essas ideias, importan-
tes para que possamos
devem
Dito de outra forma, a
desenvolver o raciocínio
persis r a controvér-
que segue, no que diz
sia a respeito do direito
material, devem as par- as partes respeito à nova possi-
bilidade legal de ajuiza-
tes recorrer novamente
à arbitragem, se outra recorrer mento de demanda ten-
dente a complementar a
alterna va para a solução
do conflito não for ado- novamente à sentença arbitral.
tada.

Nessa hipótese, retor-


arbitragem, 6. O NOVO § 4º
DO ARTIGO 33
nando as partes à arbi-
tragem, poderá ser cons-
se outra DA LEI DE
tuído novo tribunal
arbitral, o que, aliás, nos
alternativa ARBITRAGEM
parece mais adequado.
No entanto, caso não
para a De acordo com o § 4º do
ar go 33 da Lei de Arbi-
haja comando na decisão
judicial expresso nesse
solução do tragem, “a parte interes-
sada poderá ingressar em
sen do, as partes têm
liberdade para decidir e, conflito não juízo para requerer a pro-
lação de sentença arbi-
dentro do princípio da
autonomia da vontade, for adotada.” tral complementar, se o
árbitro não decidir todos
podem optar pelos mes- os pedidos subme dos à
mos árbitros, pois não arbitragem.”

COAD | Seleções Jurídicas | 41


| ESPECIAL |

“(…) Num primeiro momento, pode parecer ilógico pensar


que a lei permitiu aos árbitros prolatar sentenças parciais e,
ao mesmo tempo, expôs referidas decisões à ameaça da
ação de complementação da sentença arbitral. (…)”

Digno de nota que a traz algumas dúvidas aos em face de sentenças


ação de complementa- operadores do Direito, arbitrais termina vas ou
ção diz respeito ao jul- tais como: Cabe a ação de finais. No entanto, como
gamento infra ou citra complementação em face a redação não faz dis n-
pe ta. Nessa hipótese o de sentenças parciais, ção entre sentença par-
árbitro, ou árbitros, deci- uma vez que a redação cial e defini va, tudo leva
dem aquém do pedido e do § 4º nada fala a res- a crer que a ação de com-
deixam de se manifestar peito? A quem compete plementação de sentença
sobre todas as questões a complementação? Tri- arbitral vale tanto para
subme das à arbitra- bunal arbitral ou Poder aquelas sentenças par-
gem, o que consubstan- Judiciário? Qual o prazo ciais, agora permi das,
cia nega va de prestação para a referida ação? como para as sentenças
jurisdicional. Seria o mesmo prazo para arbitrais termina vas do
ajuizamento da ação de procedimento.
Viu-se acima, ao trazer-
descons tuição da sen-
mos os ensinamentos de Realmente, na falta de
tença? Quem figurará no
Arruda Alvim, que a sen- dis nção do legislador
polo passivo? Enfim, veja-
tença judicial infra pe ta parece-nos que a ação
mos algumas ideias sobre
é nula e, portanto, outra de complementação pre-
o assunto.
deve ser prolatada em vista no § 4º do ar go
seu lugar. Parece-nos,
diferentemente do que 7. COMPLEMEN- 33 da Lei de Arbitragem
pode ser ajuizada tam-
se apresenta na esfera TAÇÃO DA bém em face de sen-
judicial, que a arbitra-
gem agora possui um
SENTENÇA tenças arbitrais parciais.
mecanismo hábil a com- ARBITRAL PELO Num primeiro momento,
pode parecer ilógico pen-
plementar a decisão, PODER JUDICIÁRIO sar que a lei permi u aos
aproveitando-se aquela
anteriormente lavrada, Num primeiro momento, árbitros prolatar senten-
ainda que tenha decidido saliente-se que melhor ças parciais e, ao mesmo
aquém do pedido. seria se o legislador tempo, expôs referidas
vesse mencionado o decisões à ameaça da
Essa nova redação cons- cabimento dessa ação de ação de complementação
tante da Lei 13.129/2015 complementação apenas da sentença arbitral. Não

42 | Março de 2016
é bem assim. Pensamos que aquela decisão se considerarmos que os
que haverá espaço para trata de sentença parcial, árbitros se omi ram em
ações de complementa- e que os demais temas relação à determinada
ção de decisões arbitrais subme dos à arbitragem questão subme da à
parciais, que esperamos serão oportunamente arbitragem. A omissão
sejam diminutas. No objeto de decisão. da sentença arbitral não
entanto, temos que essa tem o condão de re -
nova possibilidade de se Outra dúvida que surge rar a jurisdição da arbi-
valer do Judiciário deva com essa possibilidade tragem em desfavor do
ser entendida com par- diz respeito à própria Judiciário, a menos que
cimônia e razoabilidade, complementação da as partes li gantes dispo-
evitando indevidas incur- decisão, é saber a quem nham de maneira diversa,
sões do Judiciário na arbi- compete complementar chegando a um acordo
tragem, o que em muito a decisão arbitral que quanto à jurisdição esta-
abalaria a credibilidade tenha preterido determi- tal para complementar
do ins tuto. nadas questões subme-
a decisão. Não havendo
das à arbitragem, se ao
acordo nesse sen do,
Para que não sejam ajui- Judiciário ou aos árbitros.
parece-nos mais razoável
zadas ações de comple- Nesse sen do, interpre-
pensar na impossibili-
mentação em face de sen- tando a Lei de Arbitragem
dade de o Judiciário apre-
tenças parciais que, como de forma sistemá ca e
se viu, não decidem todos ciar e decidir a questão
individualmente, o pró-
os pedidos subme dos à que fora preterida pela
prio ar go 33, no que per-
arbitragem, é importante arbitragem.
ne ao órgão responsável
que os árbitros eviden- pela complementação, Deve haver, portanto,
ciem na fundamentação entendemos que o Poder uma prevalência do juízo
e no relatório da decisão Judiciário deverá deter- arbitral para apreciação
que estão decidindo o minar que o árbitro (ou do pedido, ainda mais se
feito de maneira parcial tribunal arbitral) profira considerarmos a litera-
e que as demais questões sentença arbitral comple- lidade do texto, pois, se
a eles subme das serão mentar, numa interpre- acolhida a pretensão do
decididas em momento tação equivalente com a autor da demanda com-
posterior e oportuna- determinação constante plementar, deverá ser
mente. Uma sentença do § 2º do ar go 33. proferida sentença arbi-
parcial, como se deduz do
tral complementar.
próprio nome, não decide Não nos parece acertada
todas as questões subme- a complementação da Este também é o enten-
das à arbitragem, mas, decisão pelo Poder Judi- dimento de Francisco
mesmo assim, pensamos ciário, que não tem juris- Cahali9 ao afirmar:
que cabe ao árbitro (ou dição sobre o mérito da
o tribunal arbitral) acau- controvérsia subme da Em nosso entender,
telar-se para mencionar à arbitragem, mesmo se nesta primeira e aço-

COAD | Seleções Jurídicas | 43


| ESPECIAL |

dada análise da regra, mos razoável pensar que de complementação,


deverá ser man do o a parte interessada pode tudo leva-nos a concluir
árbitro (ou colegiado), exercer seu direito mate- que a ação deve ser ajui-
sem qualquer outra rial mediante instauração zada apenas contra a
formalidade (além, de novo procedimento parte que par cipou da
evidentemente, das arbitral, não mais pela via arbitragem, e não contra
questões administra- do ar go 33, § 4º, da Lei o tribunal arbitral ou ins-
vas da Ins tuição, de Arbitragem. Deverá, tuição na qual a arbitra-
se o caso), com o no entanto, delimitar gem se desenrolou, caso
restabelecimento do tenha sido arbitragem
adequadamente o objeto
procedimento, antes ins tucional.
dessa nova arbitragem,
encerrado, para pros-
sob pena de indevida
seguimento direciona- Acaso julgada procedente
do à apreciação dos repe ção dos reque-
a ação de complemen-
pedidos pendentes rimentos já efetuados tação, após passada em
(devidamente iden - naquele primeiro proce- julgado, deverá o tribu-
ficados na esfera ju- dimento arbitral. nal arbitral ou árbitro ser
dicial). no ficado para que pro-
Outro ponto que não foi
ceda à complementação
O prazo para ajuizamento tratado no § 4º do ar go da sentença arbitral, pro-
desta ação também seria 33, mas que faz todo sen- ferindo decisão arbitral
o prazo previsto no § 1º do, como condição de complementar, nos mol-
do mesmo ar go 33, a procedibilidade, isto é, des da decisão judicial
saber, 90 (noventa) dias como condição da ação prolatada.
contados do recebi- de complementação,
mento da no ficação da seria o fato de a parte 8. CONCLUSÃO
respec va sentença, ou autora da ação ter apre-
A reforma da Lei de
da decisão do pedido de sentado pedido de escla- Arbitragem pela Lei
esclarecimentos. A não recimentos tendentes a 13.129/2015 trouxe
observância do prazo complementar a sentença importantes inovações.
acima mencionado (90 arbitral ainda na arbitra- Foram também ajusta-
dias) não ex ngue o gem, pois, se não o fez, dos alguns pontos que,
direito material corres- não nos parece razoável na prá ca, já causavam
pondente, mas apenas a que invoque o § 4º para dificuldades nos opera-
via judicial para a com- ajuizar demanda de com- dores do Direito, como
plementação da sentença plementação no Poder a atual possibilidade de
arbitral. Judiciário (dormien bus prolação de sentenças
non sucurrit jus). arbitrais parciais, o que
Justamente por isso que, já vinha sendo aplicado
expirado o prazo de 90 Por fim, no que se refere na prá ca, inobstante o
(noventa) dias, entende- ao polo passivo da ação que previa o inciso V do

44 | Março de 2016
ar go 32, atualmente até então inexistente, desta nova situação, mas
revogado. própria e autônoma, e certamente muito ainda
que ao nosso ver pres - se poderá debater a res-
O § 4º do ar go 33, gia a prevalência da arbi- peito, a depender das
introduzido pela Lei tragem. Tentamos, neste situações prá cas enfren-
13.129/2015, traz uma breve estudo, trazer tadas no dia a dia da arbi-
nova modalidade de ação algumas ideias a respeito tragem.

Marcos Serra Ne o Fioravan


Advogado/SP – Sócio do Siqueira Castro Advogados

NOTAS: nal Federal (STF), pois naquele ro – abril de 2014, Editora Revis-
1. SCAVONE JÚNIOR, Luiz Anto- tempo ainda era de atribuição ta dos Tribunais, p. 13.
nio. Manual de arbitragem. 4ª do STF a homologação de sen- 7. LUCON, Paulo Henrique dos
ed. São Paulo: RT, 2010, p. 151. tenças arbitrais estrangeiras. Santos; BARIONI, Rodrigo; ME-
Atualmente, como se sabe, DEIROS NETO, Elias Marques de.
2. ALVIM NETTO, José Manoel
de Arruda. Manual de direito compete ao Superior Tribunal Ação Anulatória de sentença ar-
processual civil. 13ª Edição. São de Jus ça essa importante ta- bitral: hipóteses taxa vas? Site
Paulo: Ed. RT 2010, p. 1.105. refa. Migalhas, 14-10-2014 h p://
5. CAHALI, Francisco José. Curso ww w.fecema. org.br/arq ui-
3. CARMONA, Carlos Alberto.
O processo arbitral. Revista de de arbitragem. 5ª ed. São Paulo: vos/3839).
Arbitragem e Mediação, ano I, Ed. RT, 2015, p. 335. 8. CARMONA, Carlos Alberto.
nº 1, São Paulo, janeiro – abril. 6. ARMELIN, Donaldo. Notas so- Arbitragem e Processo. 3ª Edi-
2004, p. 28/29. bre ação rescisória em matéria ção. São Paulo: Atlas, 2009.
4. Carmona faz referência à ho- arbitral. Revista de Arbitragem p. 412.
mologação pelo Supremo Tribu- e Mediação, ano 1, nº 01, janei- 9. Ob. Cit., p. 403.

COAD | Seleções Jurídicas | 45


| JURISPRUDÊNCIA COMENTADA |

Breves considerações sobre


a posição do STJ acerca
da legitimidade ativa
processual das filiais da
pessoa jurídica nas ações
judiciais tributárias

N
os úl mos anos, o Dito de outra maneira, o do de que, em se tra-
aumento significa- direito material (no caso tando de tributo cujo
vo de distribuição do Tributário) poderá nor- fato gerador operou-se
de demandas1 vem con- tear o início, o desenvol- de forma individualizada
ferindo uma posição de vimento e o fim do pro- tanto na matriz quanto
destaque às ações judi- cesso.” (MARINS: 2012, na filial, não se outorga
ciais que têm por objeto p. 14). à matriz legi midade
matérias tributárias.
para demandar, isola-
Dentre as questões de
Neste sen do, revela-se relevo envolvendo maté- damente, em juízo, em
importante o estudo do ria processual em que se nome das filiais, já que
Direito Processual Tribu- discute uma dada relação para fins fiscais ambos
tário, pois, “as peculiari- jurídica tributária, des- os estabelecimentos são
dades do Direito Tributá- taca-se a questão da legi- considerados entes autô-
rio recomendam que as midade a va processual nomos.2
normas processuais bases da filial de uma sociedade
(aplicáveis, a princípio, a No entanto, a posição
empresária.
qualquer processo que defendida pelo Tribunal
tenha por objeto outro O Superior Tribunal de da Cidadania, no nosso
ramo do Direito) sejam Jus ça posiciona-se de entender, é equívoca.
devidamente adequadas. forma pacífica no sen- Senão, vejamos.

46 | Março de 2016
A PERSONALI- legi midade da socie- de empresária, que,
dade empresária para reunindo os bens ne-
DADE JURÍDICA demandar e ser demanda cessários ou úteis, ao
E A CAPACIDADE em juízo) e a responsabi- desenvolvimento da
lidade patrimonial (sepa-
DAS SOCIEDADES ração dos patrimônios
empresa, organiza um
complexo com carac-
EMPRESÁRIAS da sociedade empresária terís cas dinâmicas
Como cediço, a persona- e dos seus respec vos próprias. A ela, e não
lidade jurídica da socie- sócios) (2002, p. 14). ao estabelecimento
dade empresária se dá empresarial, impu-
Pois bem. No que toca à
pela efe va inscrição dos tam-se as obrigações
filial, espécie de estabe-
seus atos cons tu vos e asseguram-se os
lecimento empresarial,
no respec vo órgão de direitos relacionados
o ar go 1.142 do Código
registro competente,3 com a empresa.5
Civil, ao dispor que CON-
sendo certo que a par r
SIDERA-SE ESTABELECI-
deste momento ela se Não obstante isso, pela
MENTO O COMPLEXO
personifica, tornando- leitura do ar go 1º6 do
DE BENS ORGANIZADO
se assim, sujeito capaz Código Civil e do ar go
PARA O EXERCÍCIO DA
para contrair direitos e 1217 do Código Tributário
EMPRESA, por certo, não
obrigações. Entende-se Nacional, denota-se que
atribui personalidade
daí que, a capacidade da jurídica, muito menos, somente a pessoa é capaz
pessoa jurídica da socie- capacidade de direito a de direitos e deveres e
dade empresária decorre este ou a qualquer outro que somente a pessoa é
da personalidade jurídica estabelecimento da obrigada ao pagamento
que a ordem jurídica lhe sociedade empresária, do tributo ou penalidade
reconhece por ocasião mas sim, apenas o quali- pecuniária.
do respec vo registro no fica como um bem inte-
órgão competente.4 grante ao patrimônio da Diante disso, se o estabe-
pessoa jurídica. lecimento da sociedade
Desta personalização da
sociedade empresária, empresária não é pessoa
Neste sen do, ainda asse- (no sen do legal), não
Fabio Ulhoa Coelho des- vera Fabio Ulhoa Coelho:
taca três importantes possui assim, persona-
consequências: a tula- Considerar o estabe- lidade jurídica, muito
ridade obrigacional (os lecimento empresarial menos, capacidade de
sócios não par cipam uma pessoa jurídica é direito, o que, sem dúvida
dos negócios jurídicos errado, segundo dis- nenhuma, revela também
realizados pela pessoa posto na legislação que não pode ser sujeito
jurídica), a tularidade brasileira. Sujeito de passivo de obrigação tri-
processual (definição da direito é a socieda- butária.

COAD | Seleções Jurídicas | 47


| JURISPRUDÊNCIA COMENTADA |

A CAPACIDADE pressupõe que a pes- de direitos e obriga-


soa tenha capacidade de ções na ordem civil e,
DE DIREITO E direito, ou seja, de assu- portanto, corresponde
CAPACIDADE mir deveres e obrigações à capacidade jurídica
ou de gozo. A capaci-
PROCESSUAL na ordem jurídica.10
dade plena do direito
Todas as pessoas, sicas Assim, o incapaz e o nas- civil relaciona-se ao
e jurídicas, e até alguns cituro têm capacidade de exercício (ou à possi-
entes despersonalizados, direito, mas o exercício bilidade de exercício)
têm capacidade de ser desse direito somente destes direitos, que,
sujeito (parte) no pro- pode ser efe vado ape- no plano do processo,
cesso. Entretanto, nem nas por representante ou corresponde ao ins -
todo o sujeito (parte) pos- assistente.11 tuto da capacidade de
sui capacidade proces- estar em juízo.12
sual.8 Em outras palavras, Neste sen do, detendo
para demandar deve a uma pessoa capacidade Rela vamente à pessoa
parte ter capacidade pro- de direito, pode deter jurídica, do mesmo modo
cessual, ou seja, ap dão também capacidade pro- como ocorre com as pes-
para exercitar direitos em cessual (capacidade para soas naturais, exige-se
juízo, e, além disso, capa- estar em juízo ou legi mi- também a capacidade de
cidade postulatória, que dade processual). direito para que se possa
é a ap dão para pleitear reconhecer, a priori, a
algo em juízo.9 Cassio Scarpinella Bueno capacidade processual.
sinte za muito bem o
Para a compreensão do que foi exposto acima: Diante disso, percebe-se
que foi afirmado acima, que, embora parte seja
esclarecemos, em breves A capacidade de ser uma categoria proces-
linhas, que, primeiro, a parte, portanto, diz sual, já que diz respeito
capacidade de ser parte respeito à aquisição ao sujeito de uma relação

“Todas as pessoas, físicas e jurídicas,


e até alguns entes despersonalizados,
têm capacidade de ser sujeito (parte) no
processo. Entretanto, nem todo o sujeito
(parte) possui capacidade processual. (…)”
48 | Março de 2016
jurídica processual, é o butário Nacional (domi- ocorrência do fato gera-
direito material que esta- cílio tributário), o que, a dor, sendo certo que a
belece quem possui capa- nosso ver, não confere obrigação tributária per-
cidade de ser parte.13 personalidade jurídica manece na pessoa jurí-
aos estabelecimentos de dica da sociedade empre-
Portanto, conclui-se que, uma sociedade empresá- sária.
em regra, para que uma ria.
pessoa possa ser parte no Além disso, pela leitura
processo, ou seja, tenha O princípio tributário da atenta do referido ar go
capacidade postulatória, autonomia dos estabe- 127, temos também a
legi midade processual, lecimentos, ao que tudo convicção que seu escopo
indica, está baseado no é disciplinar o domici-
é necessário que tenha
princípio da não cumu- lio fiscal do contribuinte
capacidade para contrair
la vidade e da estrutura
direitos e obrigações, apenas e exclusivamente
do ICMS, em razão da
que tenha a tularidade para determinar a com-
própria legislação com-
dos direitos e deveres petência da autoridade
plementar deste tributo
no plano material, atri- administra va, facilitar a
prever que cada um dos
buindo, porém, o sistema fiscalização e arrecada-
estabelecimentos de uma
processual civil pátrio, mesma pessoa jurídica ção, nada estabelecendo
por exceção, a capaci- poderá ser tratado como acerca da relação jurídica
dade de ser parte a certas contribuinte autônomo tributária propriamente
pessoas sem personali- em relação ao Fisco.14 dita.
dade jurídica. E tal princípio, como dito,
Regina Helena Costa tece
tem sido aplicado (REsp.
as mesmas conclusões
O PRINCÍPIO DA nº 1.128.139/MS) com
feitas acima, apesar de
base no ar go 12715 do
AUTONOMIA Código Tributário Nacio-
tratar da legi midade
FISCAL DOS ESTA- nal, o qual prevê a defi-
a va da matriz e filial em
mandado de segurança:
BELECIMENTOS nição do domicílio fiscal
pelo sujeito passivo ou A pluralidade de do-
Para fundamentar o reco- pela administração tribu-
nhecimento da legi mi- micílios, especialmen-
tária na hipótese de se
dade processual a va te em relação às pes-
dificultar a arrecadação e
das filiais, o Superior Tri- soas jurídicas, é usual,
fiscalização tributárias.
bunal de Jus ça tem se sendo de lembrar-se
apoiado, dentre outros No entanto, acreditamos que, nos casos de IPI
argumentos, no princípio que a referida autonomia e ICMS, o princípio da
tributário da autonomia estabelecida pela legis- autonomia do estabe-
fiscal dos estabelecimen- lação daquele imposto lecimento faz de cada
tos e nas disposições do estadual diz respeito ape- filial uma unidade in-
ar go 127 do Código Tri- nas para verificação da dependente.

COAD | Seleções Jurídicas | 49


| JURISPRUDÊNCIA COMENTADA |

Conquanto, como vis- Essa mesma opinião é base no ar go 127 do


to, o Código Tributário compar lhada por Cassio Código Tributário Nacio-
Nacional preceitue Scarpinella Bueno: nal, atribuir personali-
que cada estabele- dade jurídica a um esta-
cimento da empresa Mesmo para os casos belecimento, vale dizer,
em que é possível, por quando o sistema jurídico
cons tua um domici-
força do po tributá- assim não o fez.
lio dis nto, em rela-
rio, falar-se em ‘prin-
ção aos atos e fatos
cípio da autonomia
que derem origem
do estabelecimento’,
DA INSCRIÇÃO
à obrigação, tal não
não há como colocar NO CADASTRO
significa que uma
mesma pessoa jurí-
em dúvida, ainda com NACIONAL
os olhos voltados para
dica poderá impetrar esse ramo do direito, DE PESSOAS
tantos mandados de
segurança quantos
que a mul plicidade JURÍDICAS (CNPJ)
de mecanismos e cál-
forem os seus estabe- culos e fiscalização de Questão relacionada à
lecimentos, para im- incidência tributária autonomia dos estabe-
pugnar uma mesma não significa a criação lecimentos é o enten-
exigência fiscal. de uma mul plicida- dimento – também
de de personalidades adotado pelo Superior
(...)
jurídicas dis ntas, Tribunal de Jus ça –
Em verdade, sendo a cada qual com corre- segundo o qual, estando
mesma pessoa jurídi- lata ‘autonomia’ para cada um dos estabele-
ca, não importa, para impugnar a exação cimentos de uma socie-
efeitos processuais, tributária. Até por- dade empresária inscrita
quantos estabeleci- que, não há espaço no Cadastro Nacional de
mentos possua. Filiais para ques onar que, Pessoas Jurídicas (CNPJ),
não são pessoas jurí- mesmo nesses casos, cada qual possui, perante
dicas dis ntas. Des- a questão rela va à
o Fisco, personalidade e
exigibilidade ou não
se modo, se desejar iden ficação.
do tributo, vale dizer,
valer-se de mandado
a higidez da relação Entretanto, da análise
de segurança para im-
tributária, con nua dos termos da Instrução
pugnar exigências fis-
sendo, ainda aqui, Norma va nº 1.470/2014
cais, deverá deduzir a
uma só.17
pretensão numa única (que atualmente disci-
ação, abrangente das Portanto, não é possí- plina o CNPJ), nota-se que
obrigações tributárias vel que uma regra rela- não há qualquer respaldo
da empresa, rela vas cionada à fiscalização capaz de sustentar a pre-
a quaisquer de seus e cobrança de tributos tendida atribuição de
estabelecimentos.16 possa, ainda que com personalidade às filiais.

50 | Março de 2016
De início, o ar go 2º da matriz sobre os demais atribuir personalidade
referida Instrução Norma- estabelecimentos. jurídica a uma universali-
va prevê que o cadastro dade de fato – ou, como
se des na a reunir infor- Assim, observa-se que o
queira, um patrimônio
mações das en dades de fato das filiais possuírem
de uma pessoa jurídica –
interesse das administra- CNPJ não conduz à con-
além de contrariar o con-
ções tributárias da União, clusão, muito menos, a
ceito de estabelecimento
dos Estados, do Distrito par r da referida norma,
que a tais estabelecimen- previsto no ar go 1.142
Federal e dos Municípios, do Código Civil, violando,
do que já se denota seu tos é atribuída personali-
dade jurídica. Aliás, como pois, o ar go 110 do
caráter meramente admi- Código Tributário Nacio-
nistra vo-fiscalizatório. já afirmado acima, se o
sistema jurídico não atri- nal18 estar-se-ia, de certo
Ademais, dita norma buiu, não poderia uma modo, admi ndo um
administra va, ao esta- norma infra legal fazê-lo. sujeito de direito inexis-
belecer que compete pri- tente, quiçá, a criação de
va vamente ao estabele- CONCLUSÃO uma nova modalidade de
cimento matriz uma série sujeito passivo tributário.
Do que foi brevemente
de atos que, por se trata- exposto acima, não há
rem de dados cadastrais e Logo, é impossível admi-
dúvidas que a atual posi- r que uma filial possua
situações que dizem res- ção do Superior Tribunal
peito à en dade (ar go capacidade processual
de Jus ça de reconhecer quando, a bem da ver-
15), e também que a baixa à filial legi midade pro-
da inscrição do estabele- dade, somente a matriz a
cessual para demandar
cimento matriz no CNPJ teria, já que apenas a esta
em juízo, vale dizer, e
implica baixa de todas as o ordenamento jurídico
apenas ela, é totalmente
inscrições dos estabeleci- reconhece personalidade
equívoca.
mentos filiais da en dade jurídica, sendo, portanto,
(ar go 25, § 2º), confirma Com efeito, ao se reco- única tular do direito
o controle e comando da nhecer que seria possível material.

Rogério Hideaki Nomura


Advogado em São Paulo – Especialista em Direito Tributário pelo Ibet/SP
e em Direito Processual Civil pela PUC/SP – Mestrando em Direito
Cons tucional e Processual Tributário pela PUC/SP

BIBLIOGRAFIA: COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de dado de Segurança em Matéria


BUENO, CASSIO SCARPINELLA. Direito Comercial, v. 1, 12ª ed. Tributária em ASPECTOS POLÊ-
Curso Sistema zado de Direito São Paulo: Saraiva, 2008. MICOS E ATUAIS DO MANDADO
Processual Civil, vol. 1, 6ª ed. COSTA, Regina Helena. Anota- DE SEGURANÇA 51 ANOS DE-
São Paulo: Saraiva, 2012. ções sobre os Sujeitos do Man- POIS, Coord., Cássio Scarpinella

COAD | Seleções Jurídicas | 51


| JURISPRUDÊNCIA COMENTADA |

Bueno, Eduardo Arruda Alvim e ed. rev. e atual. São Paulo: Sarai- MEDINA, José Miguel Garcia;
Teresa Arruda Alvim Wambier, va, 2007. ARRUDA, Teresa Arruda Alvim
São Paulo, RT, 2002. Wambier. Processo Civil Moder-
MARINS, James. Direito Proces- no: Parte Geral e Processo de
DINIZ, Maria Helena. Curso de sual Tributário Brasileiro: (admi- Conhecimento, v.1, 2ª ed. rev.
Direito Civil Brasileiro: Teoria nistra vo e judicial), 6ª ed. São e atual. São Paulo: Revista dos
Geral do Direito Civil, v. 1, 24ª Paulo: Dialé ca, 2012. Tribunais, 2011.

NOTAS: 8. É o que dispõe o ar go 7º da no, inteligência, e, sob o pris-


1. De acordo com o Relatório Lei nº 5.869/73 (Código de Pro- ma jurídico, a ap dão que tem
Jus ça em Números, elabora- cesso Civil): “Toda pessoa que a pessoa de dis nguir o lícito ou
do pelo Conselho Nacional de se acha no exercício dos seus ilícito, o conveniente do prejudi-
Jus ça, em 2014, foram distri- direitos tem capacidade para cial.” (2007, p. 147)
buídas 2.258.286 ações envol- estar em juízo.” 12. Curso Sistema zado de Di-
vendo matéria tributária, in- 9. José Miguel Garcia MEDINA; reito Processual Civil: Teoria
clusive, dívida a va. Disponível Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Geral do Direito Processual Civil,
em: www.cnj.jus.br. Acesso em: Processo Civil Moderno: Parte v.1, p. 455.
25-10-2015. Geral e Processo de Conheci- 13. A corroborar esta asser -
mento, v.1, 2ª ed., Revista dos va, assevera Cassio Scarpinella
2. Confira-se, dentre outros
Tribunais, 2011, São Paulo, p. 88 BUENO: “A ‘legi midade para a
precedentes, o Agravo Regi-
mental no Recurso Especial 10. “Da análise do ar go 1º do causa’ corresponde, em regra,
Código Civil surge a noção de à ‘capacidade de ser parte’ (...),
1.488.209/RS – Relator Mi-
capacidade, que é a maior ou que, por seu turno, é a projeção,
nistro Humberto Mar ns, DJe para o plano do processo, da
20-2-2015. menor extensão dos direitos
e dos deveres de uma pessoa. capacidade jurídica do direito
3. “Art. 45. Começa a existên- material. A regra, para o sistema
De modo que a esta ap dão,
cia legal das pessoas jurídicas processual civil brasileiro, é que
oriunda da personalidade, para somente aquele que tem condi-
de direito privado com a ins- adquirir direitos e contrair de-
crição do ato cons tu vo no ções de se afirmar tular do di-
veres na vida civil, dá-se o nome reito material deduzido em juízo
respec vo registro, precedida, de capacidade de gozo ou de
quando necessário, de autori- pode ser parte a va ou passiva.
direito. A capacidade de direito A ‘capacidade jurídica’, é dizer, a
zação ou aprovação do Poder não pode ser recusada ao indi- capacidade de alguém de assu-
Execu vo, averbando-se no re- víduo, sob pena de se negar sua mir direitos e deveres na esfera
gistro todas as alterações por qualidade de pessoa, despindo- material, é que dá nascimento
que passar o ato cons tu vo.” o dos atributos da personalida- também à legi midade para a
“Art. 985 – A sociedade adquire de.” (Curso de Direito Civil Bra- causa (2012, p. 408-409).”
personalidade jurídica com a sileiro: Teoria Geral do Direito 14. Lei Complementar 87/96:
inscrição, no registro próprio e Civil, p. 147). “Art. 11 – O local da operação
na forma da lei, dos seus atos
11. Como bem ensina Maria ou da prestação, para os efei-
cons tu vos.”
Helena DINIZ, “(...) tal capa- tos da cobrança do imposto e
4. Maria Helena Diniz, Curso de cidade pode sofrer restrições definição do estabelecimento
Direito Civil Brasileiro: Teoria legais quanto ao seu exercício responsável, é: (...) § 3º – Para
Geral do Direito Civil, p. 271. pela intercorrência de um fato efeito desta Lei Complementar,
5. Curso de Direito Comercial: genérico como tempo (maiori- estabelecimento é o local, priva-
Direito de Empresa, v. 1, 12ª ed., dade ou menoridade), de uma do ou público, edificado ou não,
p. 99. insuficiência somá ca (deficiên- próprio ou de terceiro, onde
cia mental). Aos que assim são pessoas sicas ou jurídicas exer-
6. “Art. 1º – Toda pessoa é capaz tratados por lei, o direito deno- çam suas a vidades em caráter
de direitos e deveres na ordem mina ‘incapazes’. Logo, a capa- temporário ou permanente,
civil.” cidade de fato ou de exercício bem como onde se encontrem
7. “Art. 121 – Sujeito passivo da é a ap dão de exercer por si armazenadas mercadorias, ob-
obrigação principal é a pessoa os atos da vida civil dependen- servado, ainda, o seguinte: (...)
obrigada ao pagamento de tri- do, portanto, do discernimento II – é autônomo cada estabele-
buto ou penalidade pecuniária.” que é critério, prudência, juízo, cimento do mesmo tular; (...).”

52 | Março de 2016
15. “Art. 127 – Na falta de couber a aplicação das regras de Segurança – 51 Anos Depois,
eleição, pelo contribuinte ou fixadas em qualquer dos incisos Coord., p. 741.
responsável, de domicílio tri- deste ar go, considerar-se-á 17. Mandado de Segurança Im-
butário, na forma da legislação como domicílio tributário do petrado por Filial e o Novo Art.
aplicável, considera-se como contribuinte ou responsável o 253, II, do Código de Processo
tal: I – quanto às pessoas natu- lugar da situação dos bens ou Civil. Disponível em: www.scar-
rais, a sua residência habitual, da ocorrência dos atos ou fatos pinellabueno.com.br. Acesso
ou, sendo esta incerta ou des- que deram origem à obrigação. em: 14-10-2015.
conhecida, o centro habitual § 2º – A autoridade administra-
18. “Art. 110 – A lei tributária
de sua a vidade; II – quanto às va pode recusar o domicílio
não pode alterar a definição,
pessoas jurídicas de direito pri- eleito, quando impossibilite ou
o conteúdo e o alcance de ins-
vado ou às firmas individuais, o dificulte a arrecadação ou a fis- tutos, conceitos e formas de
lugar da sua sede, ou, em rela- calização do tributo, aplicando- direito privado, u lizados, ex-
ção aos atos ou fatos que derem se então a regra do parágrafo pressa ou implicitamente, pela
origem à obrigação, o de cada anterior.” Cons tuição Federal, pelas
estabelecimento; III – quanto 16. Regina Helena COSTA, Ano- Cons tuições dos Estados, ou
às pessoas jurídicas de direito tações sobre os Sujeitos do pelas Leis Orgânicas do Distrito
público, qualquer de suas repar- Mandado de Segurança em Federal ou dos Municípios, para
ções no território da en dade Matéria Tributária in Aspectos definir ou limitar competências
tributante. § 1º – Quando não Polêmicos e Atuais do Mandado tributárias.”

COAD | Seleções Jurídicas | 53


| OPINIÃO |

Princípio da recepção em
direito constitucional.
Recepção pela CF/88 do
artigo 53 da Lei 3.857/60.
Taxa com natureza jurídica
de contribuição especial
de interesse das categorias
profissionais, nos termos do
artigo 49 da CF. Opinião legal
CONSULTA músicos estrangeiros
somente serão regis-
Músicos do Brasil e
do sindicato local, em
Consulta-nos a ORDEM trados no órgão com- partes iguais.
DOS MÚSICOS DO BRA- petente do Ministério
SIL e o SINDICATO DOS do Trabalho, Indústria Parágrafo único – No
MÚSICOS NO ESTADO e Comércio, depois de caso de contratos ce-
DE SÃO PAULO quanto à
provada a realização lebrados com base,
vigência e extensão do
do pagamento pelo total ou parcialmente,
ar go 53 da Lei Federal
contratante da taxa
3.857/60 que, visando em percentagens de
regulamentar a “profis- de 10% (dez por cen-
bilheteria, o recolhi-
são de Músico”, dispõe to) sobre o valor do
contrato e o recolhi- mento previsto será
nos seguintes termos:
mento da mesma ao feito imediatamente
Art. 53 – Os contra- Banco do Brasil em após o término de
tos celebrados com os nome da Ordem dos cada espetáculo.

54 | Março de 2016
RESPOSTA anterior considerados não
recepcionados, parece
Considerando que o dis- ter hospedado, embora
posi vo em análise é de
22 de dezembro de 1960,
“Para efeitos não o dissesse expressa-
mente, a ideia de que o
para compreender seu
perfil à luz da Cons tui-
da presente princípio da recepção é
um princípio de revitali-
ção Federal de 1988, é
imprescindível uma breve
opinião legal, zação da ordem não con-
flitante e não de con nui-
análise histórico-legisla-
va, visto que a questão
qualquer dade da ordem anterior
pela nova ordem. Admi-
se vincula à discussão do
princípio da recepção.
que seja a u, o legislador ordinário,
entretanto, através da
Tal princípio foi elaborado interpretação ação de descumprimento
de preceito fundamen-
pela doutrina a par r da
realidade de que, na alte- que se dê tal, o exame a controle
concentrado de legisla-
ração da ordem cons -
tucional, seria absolu- sobre o ção anterior. O primeiro
subscritor desta breve
tamente impossível a
produção (de imediato) princípio da opinião legal par cipou
de Comissão com Celso
de nova legislação para
que o texto se adequasse recepção, Bastos, Oscar Corrêa, Gil-
mar Mendes e Arnoldo
às necessidades da nação
que o aprovara.1 é ele, a Wald para elaboração da
Lei 9.882/99 que regulou
Sempre que uma ordem nosso ver, a ação, Comissão essa
cons tucional é alterada nomeada pelo Presidente
por inteiro, a legislação plenamente Fernando Henrique.
produzida à luz do orde-
namento jurídico anterior aplicável Para efeitos da presente
opinião legal, qualquer
é admi da como recep-
cionada, desde que não
conflitante. A natureza
à hipótese que seja a interpretação
que se dê sobre o prin-
jurídica da recepção tem
merecido reflexão aca-
consultada.” cípio da recepção, é ele,
a nosso ver, plenamente
dêmica com concepções aplicável à hipótese con-
diversas sobre o per- sultada.
O Supremo Tribunal Fe-
fil desta con nuidade,
debate polêmico que não deral, por sua vez, ao não Aliás, no caso do ar go
altera a consequência admi r ações diretas de em análise, é importante
fá ca da desnecessidade incons tucionalidade con- constatar a conformação
de reiteração legisla va. tra disposi vos da ordem do disposi vo em questão

COAD | Seleções Jurídicas | 55


| OPINIÃO |

com a ordem cons tucio- Mister se faz, portanto, Podemos desde logo afir-
nal anterior (Cons tuição rápida análise sobre mar que, nada obstante
de 1967 – EC 1/69). Tal as espécies tributárias ter a referida imposição
conformidade e conse- para verificar em qual a denominação de “taxa”,
quente recepção também delas a “taxa” prevista à evidência, não é uma
é verificada em face da no ar go 53 da Lei Fede- taxa. O ar go 145, inciso
Cons tucional Federal de ral 3.857/60 se enqua- II, da Cons tuição Federal
1988. dra. Para tanto, convém, tem a seguinte dicção:
novamente, a leitura do
Neste sen do, disposição disposi vo: Art. 145 – A União, os
anterior que se referia à Estados, o Distrito Fe-
“taxa” teve alteração con- Art. 53 – Os contra- deral e os Municípios
ceitual com o advento do tos celebrados com os poderão ins tuir os
Código Tributário Nacio- músicos estrangeiros seguintes tributos: (...)
nal (Lei 5.172/66), que somente serão regis-
trados no órgão com- II – taxas, em razão
foi recepcionado como
petente do Ministério do exercício do po-
lei complementar pela
do Trabalho, Indústria der de polícia ou pela
Cons tuição de 1967, u lização, efe va ou
e Comércio, depois de
pela EC 1/69 e pelo texto potencial, de serviços
provada a realização
maior de 1988 (ar go públicos específicos e
do pagamento pelo
145, II), dando novo e divisíveis, prestados ao
contratante da taxa
defini vo perfil às taxas contribuinte ou postos
de 10% (dez por cen-
(ar gos 77 a 80). à sua disposição.
to) sobre o valor do
Com efeito, em sua seção contrato e o recolhi-
Ocorre que não se trata
de maior relevância, ao mento da mesma ao
Banco do Brasil em de prestação de serviço
estruturar os princípios público específico e divi-
gerais que norteiam nome da Ordem dos
Músicos do Brasil e sível. Nem a prestação
a imposição fiscal, a prevista no ar go 53, em
Cons tuição Federal de do sindicato local, em
partes iguais. si, corresponde a uma
1988 refere-se, expres- contraprestação pecuni-
samente, às cinco espé- Parágrafo único – No ária por serviço prestado
cies tributárias, a saber: caso de contratos ce- ao contribuinte. Nem
impostos (ar go 145, lebrados com base, implica, por outro lado,
inciso I), taxas (145, total ou parcialmente, regramento do exercício
inciso II), contribuição de em percentagens de do poder de polícia. Este,
melhoria (145, inciso III), bilheteria, o recolhi- se exercido, implicaria
emprés mos compulsó- mento previsto será um poder de polícia não
rios (ar go 148) e contri- feito imediatamente regulatório, mas fiscali-
buições especiais (ar go após o término de zatório. Vale dizer, o ser-
149). cada espetáculo. viço decorrente do exer-

56 | Março de 2016
“(…) O exercício do poder de polícia não
tem funções regulatórias de mercado e por
representar serviço de fiscalização, não pode
ser remunerado por valores superiores ao
custo do próprio serviço prestado.”
cício de polícia, consiste Não é taxa, portanto: e não vinculado, conforme
na fiscalização por parte sua denominação decorre sugere a doutrina italiana,
do poder público, obje - do termo u lizado ante- hospedada por alguns
vando não permi r que riormente ao CTN e EC juristas na divisão de tri-
a vidades dos cidadãos 18/65.2 Podemos tam- butos. Rubens Gomes de
venham a ser nocivas ou bém verificar que não Sousa e Paulo de Barros
prejudiquem à comuni- possui a natureza jurídica Carvalho consideram
de imposto.3 exemplar a conceituação
dade.
traçada pelo CTN, que foi
A Cons tuição Federal
O exercício do poder de adotada pela doutrina e
não define o que seja
polícia, remunerado por imposto. A anterior, pela jurisprudência, reco-
uma taxa da fiscaliza- também, não o definia. nhecendo-lhe natureza
ção do estabelecimento, Parece-nos, pois, que a cons tucional, pois cabe
impõe à Prefeitura a obri- conceituação infracons - à lei complementar expli-
gação de fiscalizar, procu- tucional é aquela que lhe citar o discurso estreito e
rando conhecer se aquele dá o perfil, por meio do sinté co do cons tuinte.5
estabelecimento pode ar go 16 do CTN, assim
Ora, pelo sistema brasi-
ser instalado, onde se redigido:
leiro, que é rígido e de
encontra e se cumpre as pouca flexibilidade, a
Art. 16 – Imposto é o
finalidades para as quais competência em relação
tributo cuja obrigação
foi criado. O exercício do aos impostos é exaus va,
tem por fato gerador
poder de polícia não tem aberto apenas campo à
uma situação inde-
funções regulatórias de União para alargá-la por
pendente de qualquer
mercado e por represen- acréscimo, desde que
a vidade estatal es-
tar serviço de fiscalização, pecífica, rela va ao a nova incidência não
não pode ser remunerado contribuinte.4 seja cumula va às inci-
por valores superiores ao dências anteriores, não
custo do próprio serviço Sua classificação, por- tenha fato gerador ou
prestado. tanto, é a de um tributo base de cálculo próprios

COAD | Seleções Jurídicas | 57


| OPINIÃO |

dos impostos já existen- no ar go 53, verificare- O mesmo se diga do


tes, inclusive os federais, mos que nem é um dos emprés mo compulsó-
e seja veiculada por lei impostos elencados no rio. O ar go 148 tem a
complementar. rol cons tucional, nem seguinte dicção:
poderia ter sido man da
Os impostos especiais como imposto de compe- Art. 148 – A União,
ins tuíveis em caso de
tência residual anterior. mediante lei comple-
guerra, que poderiam ser
criados com a escolha de mentar, poderá ins-
Em face, pois, da clareza
fatos geradores idên cos tuir emprés mos
do ar go 16 do CTN, não
aos dos impostos exis- há como conformá-la no compulsórios:
tentes, por serem extra- elenco de impostos da
ordinários e vinculados à I – para atender a des-
Cons tuição, nem acre-
grave ocorrência, estão pesas extraordinárias,
ditamos que vesse esta
afastados enquanto o decorrentes de cala-
natureza, mesmo à luz do
país permanecer com sua midade pública, de
polí ca de não beligerân- direito pretérito.
guerra externa ou sua
cia.6 Considerações maiores iminência;
Desta forma, só há, no são desnecessárias sobre
sistema brasileiro, 7 não ser a imposição em II – no caso de inves-
impostos federais, 4 esta- comento uma contribui- mento público de
duais e 4 municipais e o ção de melhoria ou um caráter urgente e de
exercício da competência emprés mo compulsó- relevante interesse
residual só poderia ser rio. A primeira espécie nacional, observado
acionado na medida em está assim conformada, o disposto no ar go
que fosse, a nova impo- no ar go 145, inciso III: 150, III, “b”.
sição, absolutamente dis-
Art. 145 – A União, os
nta daquelas formas já Parágrafo único –
Estados, o Distrito Fe-
existentes. O IOF. previsto A aplicação dos recur-
deral e os Municípios
na Cons tuição, teve o sos provenientes de
poderão ins tuir os
legislador complemen- emprés mo compul-
seguintes tributos:
tar o bom senso de não sório será vinculada
implementá-lo, pois rejei- (...) à despesa que funda-
tado pela esmagadora
mentou sua ins tui-
maioria dos países, exce- III – contribuição de
melhoria, decorrente ção.
ção feita, na França, onde
é considerado uma vaca de obras públicas”. À evidência, as três hipó-
sagrada indiana, ou seja,
Não há qualquer valoriza- teses de incidência não
intocável.
ção provocada por obra correspondem à confor-
Ora, se analisarmos o pública na exigência da mação ofertada ao ar go
perfil da “taxa” tratada “taxa” aos músicos.7 em análise.

58 | Março de 2016
“No concernente às contribuições de
intervenção no domínio econômico, apenas
serão de exação possível em graves
desequilíbrios da ordem econômica.”
Resta-nos o exame das res, para o custeio, as sociais, os ar gos 193
contribuições especiais, em benefício destes, a 231 da CF/88 abrem um
previstas no ar go 149, de sistemas de previ- leque maior para hospe-
assim redigido: dência e assistência dar imposições, obje -
social. vando atender os diver-
Art. 149 – Compe- sos aspectos do interesse
te exclusivamente à Assim, no que concerne social pres giados na
União ins tuir con- às contribuições espe- lei suprema, cujo per-
tribuições sociais, de ciais,8 o Cons tuinte, fil foi esculpido à luz de
intervenção no domí- atribuindo-lhes natureza um Estado do Bem-Estar
nio econômico e de tributária, consagrou três Social.
interesse das catego- modalidades, como já
rias profissionais ou ocorrera no direito preté- No concernente às con-
econômicas, como rito, a saber: tribuições de intervenção
instrumento de sua no domínio econômico,
atuação nas respec - 1. sociais; apenas serão de exação
vas áreas, observado possível em graves dese-
2. intervenção no domí-
o disposto nos ar gos quilíbrios da ordem eco-
nio econômico,
146, III, e 150, I e III, e nômica.
se prejuízo do previsto 3. no interesse das cate-
no ar go 195, § 6º, É que a contribuição de
gorias profissionais ou
rela vamente às con- intervenção no domínio
econômicas.9
tribuições a que alude econômico é instrumento
o disposi vo. Destaque-se que o STF de planejamento, sendo
se manifestou no sen do o planejamento econô-
Parágrafo único – de que as contribuições mico, para o setor pri-
Os Estados, o Distrito especiais independem de vado, apenas faculta vo,
Federal e os Municí- lei complementar.10 nos termos do ar go 174
pios poderão instituir da lei maior.11 Se, ao cui-
contribuição, cobra- Quanto à primeira das dar da ordem econômica,
da de seus servido- contribuições especiais, a Cons tuição consagra

COAD | Seleções Jurídicas | 59


| OPINIÃO |

os princípios da livre ini- das categorias profissio-


cia va e livre concorrên-
cia, como seus princípios “Como se nais ou econômicas, em
suas respec vas áreas.
maiores, hospedando,
pois, os princípios da eco-
percebe, as A expressão “como ins-
nomia de mercado como contribuições trumento de sua atua-
ção” (con da no caput do
sua opção de desenvol-
vimento, à evidência, a no interesse transcrito ar go 149 da
CF/88) não diz respeito à
intervenção mediante
cobrança dessa contribui- das atuação do governo nas
referidas áreas, mas sim
ção só se legi ma para
regularizar setores des- categorias, das próprias categorias
profissionais ou econômi-
compassados da econo-
mia.12
sobre terem cas, nos campos que lhes

natureza
per nem.
Já no que se refere à ter-
Sendo assim, a nosso
ceira modalidade, pre-
vista no sistema cons -
tributária, modo de ver, a única lei-

tucional tributário, ou foram tura plausível é a de que


o ar go 53 em questão
seja, a contribuição no
interesse das categorias, concebidas possui natureza jurídica
de contribuição espe-
temos para nós que se
trata de uma contribui- como cial em prol da categoria
profissional dos músicos,
ção especial, vinculada à
autonomia sindical. Por
instrumento pois se trata de instru-
mento de fortalecimento,
estar preordenada a esse de atuação para que atue nas áreas
obje vo, não nos parece que lhes são próprias e
que possa o Governo des- das categorias na defesa dos interesses
legi má-la, tornando-a
instrumento de polí ca profissionais legí mos de seus par ci-
pantes. Foi nesta condi-
tributária ou de arreca-
dação fora de seus obje- ou ção recepcionada pela CF
de 67 e 88.
vos.13
econômicas, Tanto assim o é, que o pró-
Como se percebe, as con-
tribuições no interesse
em suas prio Ins tuto Brasileiro
de Gestão Cultural – IBGC
das categorias, sobre
terem natureza tributária,
respectivas (responsável pela ges-
tão do Teatro Municipal,
foram concebidas como áreas.” Praça das Artes e Balé
instrumento de atuação da Cidade de São Paulo)

60 | Março de 2016
reconheceu expressa- tratando de catego- ciadas, ou seja, a que é
mente a “importância do ria profissional, será fixada pela assembleia da
trabalho desenvolvido descontada em folha, categoria, obriga apenas,
pela Ordem dos Músicos para custeio do siste- os que, no exercício da
do Brasil e do Sindicato ma confedera vo da opção da livre associação,
dos Músicos em prol da representação sindi- par cipem de suas en -
categoria dos músicos, cal respec va, inde- dades representa vas.16
tendo papel fundamental pendentemente da
na organização e zelo pro- contribuição prevista No que concerne, entre-
fissional”.14 em lei. (Grifos nossos) tanto, à outra contribui-
ção, que é cobrada com
Portanto, enquanto todos Da leitura deste disposi- base em previsão legal –
os tributos obje vam o vo, verifica-se, de um como implícito está na
interesse público, como lado, o propósito de asse- expressão “independente
consequência de polí- gurar a liberdade associa- da contribuição prevista
ca desenvolvimen sta, va sindical com recursos em lei” – tem natureza
social ou fiscal, a con- advindos do sistema tri- tributária e é obrigatória.
tribuição no interesse butário e, de outro, per-
das categorias, é dese- mi r o recebimento de É tributária porque sua
nhada – como o próprio contribuições confedera- previsão encontra-se no
nome está dizendo – “no vas da representação de já citado ar go 149, ou
interesse da categoria”. seus filiados.15 seja, entre os princípios
Assim, difere, na sua gerais (o das espécies
Duas são, pois, as con- tributárias) do sistema
finalidade, de todos os
tribuições corpora vas. tributário brasileiro e
demais tributos.
Aquelas que só os asso- é obrigatória porque é
E tal inteligência pare- ciados pagam, de livre dela – mais do que da
ce-nos restar fundamen- determinação pelas contribuição confedera-
tada e fortalecida pelas Assembleias Gerais; e va – que os sindicatos
normas do caput e do aquelas definidas em lei, dependem, para atua-
inciso IV, do ar go 8º, que obrigatórias para todos ção nas suas respec vas
declaram: os par cipantes de uma áreas.
categoria profissional,
Art. 8º – É livre a as- filiados ou não a seus sin- Por essa razão, houve
sociação profissional dicatos. por bem, o cons tuinte,
ou sindical, observado declarar que a contribui-
o seguinte: Entendemos que, com ção confedera va deve
base na orientação juris- ser cobrada “indepen-
(...) “IV – a assembleia prudencial hoje consa- dente daquela prevista
geral fixará a con- grada, que a primeira em lei”, ou seja, daquela
tribuição que, em se das contribuições enun- que, por ser obrigatória

COAD | Seleções Jurídicas | 61


| OPINIÃO |

para a preservação de Em face do exposto, tribuição (ar go 149) e


autonomia sindical, não entendemos, respon- obje va sustentar as cor-
permite que a liberdade dendo à consulta formu- porações de categorias
de associação possa lada, que o ar go 53 foi profissionais e econômi-
impedir a manutenção recepcionado tanto pela cas, na defesa de seus
das en dades represen- Cons tuição anterior
interesses e direitos.
ta vas das categorias (de 1967), quanto pela
profissionais e econômi- Cons tuição de 1988 e, S.M.J.
cas, pois elas são neces- na atual ordem jurídica
sárias ao regime demo- cons tucional possui a São Paulo, 29 de setem-
crá co.17 natureza jurídica de con- bro de 2015.

Ives Gandra da Silva Mar ns


Professor Emérito da Universidade Mackenzie, em cuja
Faculdade de Direito foi Titular de Direito Cons tucional

Rogério Vidal Gandra da Silva Mar ns


Advogado em São Paulo – Acadêmico da Academia Paulista de Letras Jurídicas

Ana Regina Campos de Sica


Advogada em São Paulo – Especialista em Processo Civil e em Direitos Humanos –
Pós-Graduada em Direito Tributário e em Direito Público

NOTAS: Muitas vezes isto é previsto na quando diz que as leis ordinárias
1. Celso Ribeiro Bastos ensina: Cons tuição nova, mas, ain- con nuam válidas. De fato, elas
“Uma Cons tuição nova instau- da que o texto seja omisso, perdem o suporte de validade
ra um novo ordenamento jurí- ninguém contesta o princípio. que lhes dava a Cons tuição
dico. Observa-se, porém, que Como explicar a concordância, anterior. Entretanto, ao mes-
a legislação ordinária comum se afinal de contas o princípio mo tempo, elas recebem novo
con nua a ser aplicada, como parece contradizer a verdade suporte, novo apoio, expresso
se nenhuma transformação jurídica segundo a qual todas ou tácito, da Cons tuição nova.
houvesse, com exceção das leis as leis ordinárias derivam a sua Este é o fenômeno da recepção,
contrárias à nova Cons tuição. validade da própria Cons tui- similar à recepção do direito ro-
Costuma-se dizer que as leis ção? Kelsen observa que há im- mano na Europa. Trata-se de um
anteriores válidas ou em vigor. precisão da linguagem comum, processo abreviado de criação

62 | Março de 2016
de normas jurídicas, pelo qual ro que, para fins de interesse sen do é expresso pela letra do
a nova Cons tuição adota as cole vo, uma pessoa jurídica texto. Para saber se isto aconte-
leis já existentes, com ela com- de Direito Público, por lei, exige ce, é força procurar conhecer o
pa veis, dando-lhes validade, coa vamente de quantos lhe sen do, isto é, interpretar. A ve-
e assim evita o trabalho quase estão sujeitos e têm capacida- rificação da clareza, portanto,
impossível de elaborar uma de contribu va, sem que lhes ao invés de dispensar a exegese,
nova legislação de um dia para assegure qualquer vantagem ou implica-a, pressupõe o uso de
o outro. Portanto, a nova lei não serviço específico em retribui- preliminar da mesma (1). Para
é idên ca à lei anterior; ambas ção desse pagamento” (p. 117 – se concluir que não existe atrás
têm o mesmo conteúdo, mas a Direito Tributário Brasileiro, Ed. de um texto claro uma intenção
nova lei tem seu fundamento Forense, 3ª eds., 1977, item 1), efe va desnaturada por expres-
na nova Cons tuição, a razão de não pensa de forma dis nta, sões impróprias, é necessário
sua validade é, então, diferen- aceitando a expressão codifi- realizar prévio labor interpreta-
te.” (Comentários à Cons tuição cada como jurídica” (Arquivos vo. Demais, se às vezes à pri-
do Brasil, 1º volume, ed. Sarai- do Ministério da Jus ça nº 154, meira vista se acha translúcido
va, 1988, p. 366/367). Departamento de Imprensa Na- um disposi vo, é pura impres-
2.Aurélio Pitanga Seixas propõe cional, 1980, p. 141). são pessoal, con ngente, sem
a seguinte definição para taxa: 5. Rubens Gomes de Sousa es- base sólida (3). Basta recordar
“Taxa é o tributo vinculado cujo creve: “Imposto é o tributo cuja que o texto da regra geral quase
núcleo da hipótese de incidên- obrigação tem por fato gerador nunca deixa de pressen r a exis-
tência de exceções (4); logo o al-
cia, ou antecedentes norma- uma situação independente de
cance de um ar go de lei se ava-
vos, é sempre uma atuação qualquer a vidade estatal espe-
lia confrontando-o com outros,
estatal, efe va ou potencial, cífica, rela va ao contribuinte.
isto é, com aplicar o processo
diretamente referida ao obriga- Uma melhoria de redação, que
sistemá co de interpretação”
do, atuação esta que se traduz vejo anotada no exemplar que
(Hermenêu ca e Aplicação do
em prestação de serviços ou no tenho à minha frente e que não
Direito, 9ª ed., Forense, 1979,
exercício do poder de polícia.” é o meu, seria esta: subs tuir as
p.38).
(Caderno de Pesquisas Tributá- palavras “cuja obrigação” sim-
rias nº 10, CEEU/Res. Tributária, plesmente pela palavra “que”. 8. À luz do texto anterior (EC
1985, p.15). Imposto é o tributo que tem por nº 8/77), o primeiro subscritor e
fato gerador, etc.” (Comentários seu filho Ives, escreveram: “Por
3. Ylves José de Miranda Gui-
do Código Tributário Nacional, que razão as contribuições man-
marães ensina: “... o imposto
EDUC/Revista dos Tribunais, teriam tais caracterís cas? Em
caracteriza-se por ter como fato
1975, p. 166). função dois princípios ineren-
gerador um ato ou fato que re-
tes ao Direito Tributário, quais
vele capacidade econômica, em 6. O ar go 154 da Cons tuição sejam o da concreção sistêmica
virtude da qual, a lei do tributo Federal está assim veiculado:
e o da estruturalidade orgâni-
o elege, des nando-o ao custeio “Art. 154 – União poderá ins - ca. Pelo primeiro princípio, se
dos serviços públicos, sem con- tuir: as regras gerais, que confor-
dicioná-lo à sua u lização.” (Di- I – mediante lei complementar, mam a imposição tributária na
reito Tributário nº 3, Bushatsky, impostos não previstos no ar- Cons tuição Federal, não são
1975, p. 61). go anterior, desde que sejam alteradas, havendo apenas des-
4. O primeiro subscritor escre- não-cumula vos e não tenham locação topográfica de dispo-
veu: “A definição do que seja fato gerador ou base de cálculo si vos no campo normado, as
imposto pelo Código Tributário próprios dos discriminados nes- regras gerais prevalecem sobre
Nacional é clara e precisa. Não ta Cons tuição; a alteração formal, mormente
obstante sua limitada extensão, II – na iminência ou no caso de considerando-se que o próprio
o conceito enunciado pela legis- guerra externa, impostos extra- desenho superior não compri-
lação complementar em que se ordinários, compreendidos ou me todas as disposições tribu-
transformou a Lei 5.172/66, é na sua competência tributária, tárias a um único capítulo. Com
juridicamente inatacável e sua os quais serão suprimidos gra- efeito, os princípios tributários
formulação atende às melhores da vamente cessadas as causas estão espalhados por toda a
correntes doutrinárias. Aliomar de sua criação”. Cons tuição e não apenas con-
Baleeiro, embora escreva que 7. Carlos Maximiliano ensina: centrados no capítulo sobre o
“imposto é prestação de dinhei- “Que é lei clara? É aquela cujo sistema tributário, de tal forma

COAD | Seleções Jurídicas | 63


| OPINIÃO |

que a mera deslocação espacial evidência, sempre que tal estru- compulsório, sendo que o não
nenhuma importância oferta à tura se conformar às regras ge- enquadramento em qualquer
sua inclusão ou não dentro do rais que hospedam os princípios destas espécies permi ria o
sistema. Em nível cons tucio- próprios do Direito Tributário, enquadramento na mais ge-
nal, apenas se re raria a natu- sua natureza jurídica estrutu- nérica das formas imponíveis,
reza tributária das contribuições ral só pode ser tomada como qual seja, as contribuições. Tal
sociais houvesse o cons tuinte tributária. As regras gerais não posicionamento nos leva, de
na referida emenda declarado podem considerar, de um lado, um lado, a ter uma grande flui-
que, a par r daquele comando, como tributárias determinadas dez nas formas tributárias, não
tais contribuições deixariam de imposições, nem podem ter de- permi ndo que espécies apenas
ter natureza tributária. E tal não terminadas situações os contor- semelhantes entre si, possam se
sucedeu. E tal não sucedendo, nos definidos em lei como fiscais confundir. O imposto só pode
à evidência, as regras gerais e, não obstante tal dupla viso ser imposto se preencher todos
que norteiam a conformação fenomênica indicar a natureza os requisitos da definição do
de todos os tributos terminam daquela situação e da incidência direito posi vo. O mesmo em
prevalecendo, visto que sua per nente, pretender o intér- relação às taxas, contribuição
concreção sistêmica às espécies prete que tal realidade não seja de melhoria e emprés mo com-
espalhadas pelo texto cons tu- tributária. Ela é tributária, em pulsório. E o que não for qual-
cional con nuou a mesma, an- função dos princípios, irrelevan- quer das 4 espécies, automa -
tes e depois do deslocamento te o aspecto formal e acessório camente poderá ganhar o perfil
posicional das alterações. Tais do deslocamento indica vo no de contribuição especial se com
modificações, portanto, à luz corpo legisla vo cons tucional” os elementos que conformam
de tal princípio são vistas como (Manual de Contribuições Espe- sua imposição na lei suprema”
aperfeiçoamento expressional e ciais, ed. Revista dos Tribunais, (p. 24/5).
não como alteração funcional e 1987, p. 33/34/35).
10. RE 146.733, Relator: Min.
finalís ca da norma. O segun- 9. O primeiro subscritor escre- Moreira Alves, Tribunal Ple-
do princípio é examinado à luz veu, em 1976, para a 2ª Reunião no, julgado em 29-6-92, DJ de
inversa, na medida em que a Regional La no-Americana de 6-11-92. PP-20110. EMENT
estruturalidade orgânica é que Direito Tributário (As contri- VOL-01683-03 PP-00384. RTJ.
determina a natureza intrínseca buições especiais numa divisão VOL-00143-02. PP-00684.
do tributo. Em outras palavras, quinquipar da dos tributos),
não se examina o tributo sob o 11. O caput do ar go 174 da C.F.
co-ed. Assoc. Bras. de Dir. Fi-
prisma das regras que lhe são a está assim redigido: “Art. 174 –
nanceiro/OAB-RGS/Inst. dos
aplicáveis, mas contrariamente Como agente norma vo e regu-
Advogados do RGS/Fac. de Dir.
à estrutura intrínseca da maté- lador da a vidade econômica, o
da UFRGS/Inst. Internacional
ria sobre a qual incidirá a norma de Direito Público e Empresa- Estado exercerá, na forma da lei,
é que determina sua natureza as funções de fiscalização, in-
rial, Ed. Resenha Tributária, São
jurídica. O ar go 4º do CTN Paulo, 1976: “Por este enfoque, cen vo e planejamento, sendo
bem apreendeu a importância compreende-se que preferimos este determinante para o setor
do princípio da estruturalidade jus ficar a posição do cons - público e indica vo para o setor
orgânica, ao explicar, em nível tuinte como favorável a possuir privado”.
de norma geral, o seguinte: especificações rígidas quanto a 12. O primeiro subscritor escre-
“Art. 4º – A natureza jurídica todos os tributos e transformar veu: “Não há como confundir os
específica do tributo é determi- contribuições em uma verdadei- dois regimes. São dis ntos. No
nada pelo fato gerador da res- ra vala residual tributária para primeiro, o Estado atua como
pec va obrigação, sendo irrele- qualquer espécie que se preten- agente vicário na exploração
vantes para qualificá-la: da criar diferente das demais. própria da atuação par cular,
I – a denominação e demais ca- Por esta razão, não aceitamos regida por normas que per -
racterís cas formais adotadas o posicionamento pretendido nem ao direito privado e, no
pela lei; de que toda a espécie tributá- segundo, o segmento privado
II – a des nação legal do produ- ria ou é imposto ou taxa, mas pode atuar como agente acó-
to da sua arrecadação”. sim aquela outra de que todas lito do Estado na prestação de
Ora, se a estrutura orgânica de as espécies tributárias ou são serviços públicos, que não se
matéria tributável é que lhe em- imposto ou taxas ou contribui- confundem com os aspectos
presta sua natureza jurídica, à ção de melhoria ou emprés mo per nentes ao ar go 173. Não

64 | Março de 2016
consigo vislumbrar outra in- do § 4º do ar go 3º da Lei ao salário de um dia por ano.
terpretação, tendo procurado 9.317/96, a contribuição social, Quanto aos empregadores, o
expor, em inúmeros estudos, já que o preceito apenas revela seu montante é variável, segun-
esta minha inteligência – que que a inscrição no Simples dis- do o respec vo capital. Além
reitero no presente trabalho –, pensa a pessoa jurídica do paga- dessa, surge, com fulcro no dis-
ainda recentemente o fazendo, mento das demais contribuições posi vo que ora comentamos,
em palestra, perante ministros ins tuídas pela União, é olvidar
da Suprema Corte e do Superior uma segunda contribuição,
o objeto respec vo, inviabilizan-
Tribunal de Jus ça, em Seminá- sem qualquer prejuízo à ante-
do a própria organização da ca-
rio Jurídico sobre Concessões tegoria econômica” (Site do STF rior, que con nua a vigorar nos
em Foz de Iguaçu da Escola Na- 1-3-2007). Há pedido de vista do mesmos moldes, até eventual
cional da Magistratura e da Aca- Min. Carlos Aires Brito. alteração por lei” (Comentários
demia Internacional de Direito à Cons tuição do Brasil, Celso
14. Reconhecimento realiza-
e Economia (8-6-2001). Ora, as Bastos e Ives Gandra Mar ns, 2º
do por meio do “Instrumento
contribuições de intervenção no vol., Ed. Saraiva, 2004, p. 553).
domínio econômico só podem Par cular de Acordo e outras
referir-se ao regime jurídico do Avenças”, juntado aos autos 16. A Súmula 666 do STF tem
ar go 173, visto que aquele de do Mandado de Segurança a seguinte dicção: “A contribui-
prestação de serviços públicos, nº 002082670.2014.4036100, ção confedera va de que trata
diz respeito à própria atuação impetrado pelo próprio IBGC o ar go 8º, IV, da Cons tuição,
do Estado na ordem econômica. perante a 7ª Vara Cível da JF/SP. só é exigível dos filiados ao Sin-
Centrado, pois, nesta análise é 15. Celso Bastos comenta: “Se dicato”.
que entendo ser a contribuição a unidade sindical é um dos es- 17. O primeiro subscritor es-
imposição excepcional e extra- teios sobre os quais se alicerça creveu: “Tendo em vista que a
ordinária, apenas possível em a nossa vetusta estrutura sin- Cons tuição, diversamente do
casos de marcante descompas- dical, a cobrança de quan as que faz em relação aos impos-
so de mercado. Fora desta rara obrigatórias, levadas a efeito tos, às taxas e à contribuição
hipótese, entendo não ser pos- de melhoria, não estabelece o
com a força própria da atuação
sível a u lização de tal mecanis- âmbito de incidência das con-
estatal, cons tui-se no outro.
mo tributário para aumentar a tribuições previstas no seu ar-
arrecadação de uma Federação Inicialmente cobrava-se apenas
o imposto sindical, cuja capitu- go 149, poderia o legislador
maior que o PIB” (As contri-
lação cons tucional vem agora ao ins tuí-las, eleger qualquer
buições no sistema tributário
feita no ar go 149 da Lei Maior: fato como hipótese de incidên-
brasileiro, Dialé ca/ICET, 2003,
“Compete exclusivamente à cia da contribuição ins tuída?
p. 334).
União ins tuir contribuições Esse fato poderia ser inclusive
13. Na ADI 2006-4, cujo julga- um daqueles já incluídos no
mento de mérito, já foi princi- sociais, de intervenção no do-
âmbito de incidência dos im-
piado com um voto favorável mínio econômico e de interesse
postos?
a ser instrumento de polí ca das categorias profissionais ou
Entendo que não. Deve haver
tributária (Ministro Eros Grau) e econômicas, como instrumento
referibilidade para aquele que
outro contrário (Ministro Marco de sua atuação nas respec vas
tenha um bene cio direto ou in-
Aurélio) a tal exegese, consta áreas, observado o disposto nos direto. Qualquer atribuição des-
deste úl mo voto o seguinte: ar gos 146, III, e 150, 1 e III, e
“Vale dizer que a fonte viabiliza- vinculada de qualquer referibili-
sem prejuízo do previsto no ar- dade direta ou indireta não é de
dora da existência das en dades go 195, § 6º, rela vamente às
sindicais é a contribuição sindi- possível eleição, à luz do ar go
contribuições a que alude o dis- 149 da Cons tuição Federal.
cal”, disse o ministro, ressaltan-
posi vo”. A sua natureza é tri- Desta forma, se não houver
do ser preciso se compreender
que as microempresas e as em- butária, dependendo de lei para referibilidade e vinculação do
presas de pequeno porte des- sua ins tuição, sujeitando-se, sujeito passivo ao obje vo co-
pontam no cenário nacional em outrossim, ao princípio da ante- limado, mesmo que indireta,
grande número contribuindo rioridade e a outros que cercam não pode a contribuição ser
de acordo com a envergadura a a vidade arrecadadora do Es- exigida” (As contribuições no
que alcançarem. “Afastar-se, tado. Essa contribuição, no caso sistema tributário brasileiro,
mediante mera interpretação dos trabalhadores, corresponde Dialé ca/ICET, 2003, p. 343).

COAD | Seleções Jurídicas | 65


| EMENTÁRIO |

Repositório oficial autorizado


STF e TST
PROCESSO CIVIL REGISTRO DE IMÓVEIS – de 22-9-2009, Relatora
RETIFICAÇÃO DE ÁREA Min. Nancy Andrighi.
EMBARGOS DO DEVE- DE IMÓVEL RURAL – Recurso Especial provido.
DOR – PRAZO PARA PRÉVIA AVERBAÇÃO DA (Ementa ADV 153620*)
OFERECIMENTO – CIÊN- RESERVA LEGAL FLO-
CIA INEQUÍVOCA DA RESTAL NA MATRÍCULA CIVIL E COMERCIAL
PENHORA – VALIDADE DO BEM – CONDIÇÃO
DA INTIMAÇÃO. Em se NECESSÁRIA PARA A DOAÇÃO – CLÁUSULA DE
mostrando inequívoca a ALTERAÇÃO. Tanto no INALIENABILIDADE – PAR-
in mação da penhora, revogado Código Flores- TILHA EM SEPARAÇÃO
correndo daí o prazo tal – Lei 4.771/65, ar go CONSENSUAL – IMPOS-
de 30 dias para ofereci- 16, § 8º – quanto na atual SIBILIDADE. Discute-se a
mento de embargos, não Lei 12.651/2012 – ar gos possibilidade de um bem
há falar em nulidade do 18 e 29 – tem-se a orien- doado com a cláusula de
auto por não constar o tação de que a reserva inalienabilidade ao côn-
dia do mês em que se legal florestal é inerente juge varão ser objeto de
perfec bilizou a medida ao direito de propriedade par lha com sua esposa
constri va. É que, mesmo e posse de imóvel rural, quando da separação
considerando o úl mo fundada no princípio da judicial. A doutrina e
dia do mês, são extem-
função social e ambiental jurisprudência pátrias
porâneos os embargos
da propriedade rural – CF, entendem que a inalie-
apresentados. Inviável o
ar go 186, II. “É possível nabilidade importa, em
conhecimento do espe-
extrair do ar go 16, § 8º, princípio, em incomuni-
cial pela alínea “c” do
permissivo cons tucional do Código Florestal que cabilidade, porque o bem
por ausência de indicação a averbação da reserva não pode ser transferido
do disposi vo legal do florestal é condição para de propriedade. É nula de
por violado, além da falta a prá ca de qualquer ato pleno direito a cláusula
de correspondência entre que implique transmis- que es pula a par lha de
a tese levantada e a deci- são, desmembramento imóvel doado com cláu-
dida na origem. Recurso ou re ficação de área sula de inalienabilidade
Especial conhecido em de imóvel sujeito à disci- no acordo de separação
parte e não provido. plina da Lei 4.771/65” – judicial, haja vista pen-
(Ementa ADV 153666*) REsp. 831.212/MG, DJe der sobre este também

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a restrição da incomuni- da especialidade, carac- sob pena de violação ao
cabilidade. Incidência da terizando um conflito ar go 535, II, do CPC.
Súmula nº 49/STF. Não qualificado como “an - A empresa recorrente
há como ser apreciada nomia de segundo grau”. alegou, com base em
a alegação de afronta à Prevalência excepcional fatos, que i – o valor da
coisa julgada, visto que do critério cronológico. indenização recaíra sobre
os fundamentos u li- Precedente da Terceira benfeitorias que não
zados pelo Tribunal de Turma. Derrogação tácita sofrerão apossamento;
origem não foram ataca- dos disposi vos de leis ii – que o valor estabele-
dos nas razões recursais. tributárias anteriores que cido para a indenização,
Incidência, por analogia, condicionavam o ato de de R$ 6.273.757,24, em
da Súmula nº 283/STF. arquivamento na Junta 1-11-2011, leva em conta
Recurso Especial não Comercial à apresenta- a área total do imóvel –
provido. (Ementa ADV ção de cer dão nega va 248 ha –, enquanto a
153715*) de débitos. Interpretação desapropriação tem por
condizente com o princí- objeto apenas 60 hecta-
SOCIEDADE SIMPLES – pio cons tucional da livre res; iii – que esse mesmo
TRANSFORMAÇÃO EM inicia va. (Ementa ADV
SOCIEDADE EMPRE- imóvel, no espaço de três
153704*) anos anterior à desa-
SÁRIA – EXIGÊNCIA DE
CERTIDÃO NEGATIVA propriação, fora nego-
TRIBUTÁRIA POR JUNTA CONSTITUCIONAL E ciado por R$ 700,00/ha,
COMERCIAL – CONFLITO ADMINISTRATIVO tendo o perito avaliado
ENTRE O CRITÉRIO CRO- em R$ 22.000,00/ha; e
NOLÓGICO E O DA ESPE- DESAPROPRIAÇÃO – UTI- iv – que áreas seme-
CIALIDADE. Exigência, LIDADE PÚBLICA – IMPU- lhantes, subme das ao
por Junta Comercial, de TAÇÃO DE DISTORÇÕES mesmo po de desapro-
cer dões nega vas tri- OBJETIVAS GRAVES NAS priação, teriam sido ava-
butárias como condição CONCLUSÕES DO LAUDO. liadas em outros proces-
para o arquivamento de Tratando-se de ação de sos e por outros peritos
ato de transformação de desapropriação, em que em valor muito inferior.
sociedade simples em a prova técnica se mostra Nesse cenário, e mesmo
sociedade empresária. essencial à apuração do por não ser usual que
An nomia jurídica entre justo preço, as imputa- uma área de 248 hec-
a Lei 8.934/94, ao regu- ções de graves distorções tares seja avaliada em
lar o registro público de nas conclusões do laudo, R$ 6.273.757,24, todas
empresas mercan s e arrimadas em dados obje- as apontadas omissões
a vidades afins, e leis vos, devem ser enfren- deveriam, nos embar-
tributárias específicas tadas de forma destacada gos de declaração, ser
anteriores. Possibilidade pelo voto condutor do enfrentadas de forma
de aplicação do critério julgado, sobretudo nos direta, obje va e circuns-
cronológico ou do critério embargos de declaração, tanciada, para espancar

COAD | Seleções Jurídicas | 67


| EMENTÁRIO |

de vez toda e qualquer § 6º, da CF/88, é a pró- da norma do ar go 155,


dúvida razoável acerca do pria Administração que § 2º, do Código Penal,
efe vo valor da indeniza- deve ser responsabilizada consoante previsão do
ção, em face do mercado, pelo descumprimento da ar go 170 do referido
mormente quando posto regra de trânsito. Recurso código. Recurso Especial
em alta monta. Hipótese Especial a que se nega provido. (Ementa ADV
em se registra violação ao provimento. (Ementa 153653*)
preceito do ar go 535, II, ADV 153667*)
do CPC. Recurso Especial SUSPENSÃO CONDICIO-
provido. (Ementa ADV NAL DO PROCESSO –
153658*) PENAL E PROCESSO DESCUMPRIMENTO DAS
CONDIÇÕES IMPOSTAS
RESPONSABILIDADE CIVIL APROPRIAÇÃO INDÉ- DURANTE O PERÍODO DE
DO ESTADO – ACIDENTE BITA – REQUISITOS – PROVA – REVOGAÇÃO
DE TRÂNSITO – TRANS- PRIMARIEDADE DO RÉU DO BENEFÍCIO MESMO
PORTE DE PACIENTE SEM E PEQUENO VALOR DA QUE ULTRAPASSADO O
A UTILIZAÇÃO DE CINTO
COISA – PRIVILÉGIO PRAZO LEGAL – ESTABE-
DE SEGURANÇA – MORTE
LEGAL. O reconhecimento LECIMENTO DE CONDI-
DA VÍTIMA ARREMES-
do privilégio legal rela vo ÇÕES JUDICIAIS EQUI-
SADA PARA FORA DO
VEÍCULO. A imposição ao crime de apropriação VALENTES A SANÇÕES
do uso do cinto de segu- indébita exige a conju- PENAIS. Recurso Espe-
rança, inserida no ar go gação de dois requisitos cial processado sob o
65 da Lei nº 9.503/97, obje vos, consubstancia- regime previsto no ar go
compõe o capitulo das dos na primariedade e no 543-C, § 2º, do CPC, c/c
normas gerais de circula- pequeno valor da coisa o ar go 3º do CPP, e na
ção e conduta – capítulo apropriada indevida- Resolução nº 8/2008 do
III. Seu descumprimento, mente, que, na linha do STJ. Primeira Tese: Se
portanto, corresponde descumpridas as condi-
entendimento pacificado
à infração pra cada na ções impostas durante
neste Superior Tribunal,
direção do automóvel, o período de prova da
deve ter como parâme-
devendo as consequên- suspensão condicional
tro o valor do salário-mí-
cias de o ato recaírem do processo, o bene -
nimo vigente à época cio poderá ser revogado,
sobre o condutor. No
dos fatos. A apropriação mesmo se já ultrapassado
caso, o veículo em que
trafegava o falecido, de indevida de um cheque o prazo legal, desde que
propriedade do Muni- no valor de R$ 270,00, referente a fato ocorrido
cípio, era conduzido montante que equivale durante sua vigência.
por agente público no à metade do salário- Segunda Tese: Não há
exercício de a vidade mínimo vigente na data óbice a que se estabe-
pública. Considerando do crime – R$ 545,00 – leçam, no prudente uso
os termos do ar go 37, possibilita a aplicação da faculdade judicial dis-

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posta no ar go 89, § 2º, reconhecendo a violação Nesse contexto, neces-
da Lei nº 9.099/95, obri- do ar go 89, §§ 1º, 2º, 4º sário se faz o retorno
gações equivalentes, do e 5º, da Lei nº 9.099/95, dos autos ao Tribunal de
ponto de vista prá co, afastar a decisão de ex n- origem, a quem é dada
a sanções penais – tais ção da punibilidade do a análise das provas dos
como a prestação de ser- recorrido, com o prosse- autos, assim como das
viços comunitários ou a guimento da Ação Penal. circunstâncias socioeco-
prestação pecuniária –, (Ementa ADV 153712*) nômicas, profissionais e
mas que, para os fins culturais relacionadas à
do sursis processual, se segurada. Recurso Espe-
apresentam tão somente
TRABALHO E cial provido, em menor
PREVIDÊNCIA extensão. (Ementa ADV
como condições para sua
incidência. Da exegese 153717*)
APOSENTADORIA POR
do § 4º do ar go 89 da INVALIDEZ – REQUISITOS – PENSÃO POR MORTE – RE-
Lei nº 9.099/95 – a sus- ASPECTOS SOCIOECONÔ- VISÃO DE PRESTAÇÕES –
pensão poderá ser revo- MICOS, PROFISSIONAIS DECADÊNCIA. No caso,
gada se o acusado vier a E CULTURAIS – NECES- a autora ajuizou ação de
ser processado, no curso SIDADE DE AVALIAÇÃO. revisão de pensão por
do prazo, por contra- A concessão da aposen- morte, obje vando o
venção, ou descumprir tadoria por invalidez deve recálculo da renda men-
qualquer outra condição considerar, além dos sal inicial do bene cio ori-
imposta –, constata-se elementos previstos no ginário de aposentadoria
ser viável a revogação da ar go 42 da Lei 8.213/91, de seu falecido marido.
suspensão condicional os aspectos socioeco- Tal situação denota que
do processo ante o des- nômicos, profissionais a pretensão veiculada na
cumprimento, durante o e culturais da segurada, presente ação consiste
período de prova, de con- ainda que o laudo pericial na revisão do ato de con-
dição imposta, mesmo cessão do bene cio de
apenas tenha concluído
após o fim do prazo pensão por morte. Não
pela sua incapacidade
legal. A jurisprudência de merece acolhida a irresig-
parcial para o trabalho.
nação quanto à alegada
ambas as Turmas do STJ Precedentes. Na hipótese violação ao ar go 103,
e do STF é firme em assi- dos autos, o Tribunal a caput, da Lei 8.213/91.
nalar que o § 2º do ar go quo, ao dar provimento O início do prazo deca-
89 da Lei nº 9.099/95 ao apelo do INSS para dencial se deu após o
não veda a imposição de julgar improcedente a deferimento da pensão
outras condições, desde ação, limitou-se a avaliar por morte, em decorrên-
que adequadas ao fato e a perícia médica e apenas cia do princípio da ac o
à situação pessoal do acu- considerou que os ates- nata, tendo em vista que
sado. Recurso Especial tados médicos acostados apenas com o óbito do
representa vo de con- não seriam capazes de ili- segurado adveio a legi -
trovérsia provido para, dir a conclusão do perito. midade da parte recorrida

COAD | Seleções Jurídicas | 69


| EMENTÁRIO |

para o pedido de revisão, que aceitou. Em outro regime previsto no ar go


já que, por óbvio, ela não momento, quando da 5º da Lei nº 9.716/98,
era tular do bene cio venda do “barco usado” pois: a – não há qual-
originário, direito per- pela empresa a terceiro, quer contrato es matório
sonalíssimo. Ressalte-se ele irá gerar novo fatura- ou de consignação fir-
que a revisão da apo- mento correspondente mado entre o par cular
sentadoria gera efeitos a seu valor de venda. que entrega seu “barco
financeiros somente pela Havendo dois fatos impo- usado” e a empresa
repercussão da alteração níveis diversos – venda adquirente – Súmula
de sua RMI – renda men- de barco novo e venda nº 7/STJ –; b – o objeto
sal inicial – na pensão de barco usado –, não social, declarado nos atos
por morte subsequente. há que se falar em bitri- cons tu vos da empresa
Recurso Especial não butação. Os conceitos não alberga a compra e
provido. (Ementa ADV legais de receita bruta e venda de veículos auto-
153640*) receita líquida antece- motores – no caso, comér-
dem à Cons tuição Fede- cio de embarcações –
TRIBUTÁRIO ral de 1988 e são dados Súmula nº 7/STJ –; e
pelo ar go 44 da Lei c – para fins tributários, a
IMPOSTO DE RENDA – nº 4.506/64, pelo ar go expressão “veículo auto-
RECEITA BRUTA – VENDA 12 e §1º do Decreto-Lei motor”, u lizada no ar go
DE EMBARCAÇÕES NO- nº 1.598/77 – disposi vos 5º da Lei nº 9.716/98 e
VAS E USADAS – CON- que até então não foram definida pelo Anexo I do
CEITO DE VEÍCULO AUTO- declarados incons tu- Código de Trânsito Brasi-
MOTOR. O faturamento cionais – e, mais recen- leiro – Lei nº 9.503, de 23
da empresa que aceita temente, pelo ar go 31 de setembro de 1997 –
a entrega de um “barco da Lei nº 8.981/95, e não compreende “embar-
usado” como parte do pelo ar go 280 do Regu- cações”, mas apenas veí-
pagamento de um “barco lamento do Imposto de culos u lizados para o
novo” que vendeu é Renda – RIR/99. A receita transporte viário. Recurso
composto pelo valor bruta compreende o fa- Especial parcialmente
pago em dinheiro pelo turamento, ou seja, a re- conhecido e, nessa parte,
“barco novo” somado ao ceita das vendas de bens não provido. (Ementa
valor do “barco usado” e serviços. Inaplicável o ADV 153680*)

_____________________________________________________________________________________
* U lize os números para buscar a íntegra dos acórdãos relacionados no site www.advocaciadinamica.com.
Menção a ser feita nas peças processuais e após cada acórdão do STF disponibilizado: Repositório autori-
zado de jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, conforme Registro nº 049 INT-11, concedido
nos parâmetros da Resolução nº 330/2006.
Menção a ser feita nas ementas do TST: Repositório autorizado de jurisprudência do TRIBUNAL SUPE-
RIOR DO TRABALHO, conforme Registro nº 36/2010, de acordo com o Ato TST.GP nº 421/99, e com as
alterações constantes do Ato TST.GP nº 651/2009.

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