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RESENHA:

“Os evangélicos” - Clara Mafra

Nome: Pedro Ricardo Moreira de Souza

Matrícula: 201526541-2

Disciplina: Tópicos especiais em história medieval II

Professor: Clínio de Oliveira Amaral


As nomenclaturas utilizadas a fim de categorizar as ramificações nas quais se
desenvolveram os diversos caminhos daqueles que estão ligados à Reforma, através da
prática religiosa, é o eixo por onde Clara Mafra inicia sua descrição em “Os
evangélicos”.1

Mafra propõe em um primeiro momento que, mesmo mediante todas as


discordâncias entre aqueles que tentaram e tentam desenvolver nominalmente categorias
para os diferentes protestantismos existentes, formou-se certa unanimidade acerca da
capacidade do termo “evangélico” de expressar algo em comum entre todas as
variantes, representando em ultima instância uma “categoria abrangente”.2

O sentido de “evangélico”, utilizado como nomenclatura para categorizar


diversas igrejas ligadas à tradição da Reforma, – segundo a percepção da autora – teria
conexão com a caracterização desses grupos no contexto brasileiro como aqueles que
propagam uma interpretação bíblica centrada no Novo Testamento.3

Considerando a ideia de evangelização e de propagação da fé num sentido


amplo, torna-se fundamental pensar a participação dos Estados Unidos e seus
missionários e como o espectro da religião civil americana se entrelaça em certo
momento com dado que Mafra apresenta no texto: “o Brasil deixou de ser centro de
recepção para se tornar o segundo maior pólo de remessa de missionários para o
exterior”4.

Os modelos de proselitismo encontrados nesta nova fase onde o Brasil encontra-


se em posição de destaque na prática missionária são completamente distintas da que se
encontra nos feitos dos missionários norte-americanos no século XIX, que imbuídos de
sua religião civil, acreditavam que era preciso espalhar os valores e princípios religiosos
de sua nação, em oposição à “experimentação religiosa mais multiforme, sincrética,
volúvel, e ainda sim permanente, como a que se realizava no território brasileiro”5.

Dessa forma os missionários brasileiros estabelecem relação com o discurso


daqueles oriundos da América do Norte, uma vez que constroem uma dicotomia entre o
Brasil e as outras nações do mundo, no entanto no sentido oposto. Para aqueles norte-

1
MAFRA, Clara. Os evangélicos. Zahar, 2001, p. 7.
2
Ibidem.
3
Op. Cit., p. 8.
4
Op. Cit., p. 10.
5
Op. Cit., p. 9.
americanos que saiam de seu país a fim de propagar a sua fé, os Estados Unidos seria o
país exemplar a ser seguido, enquanto o proselitismo brasileiro desenvolve-se a partir da
tentativa de pintar uma imagem de batalha espiritual, a fim de evocar de um
cristianismo morto em sua terra natal, “onde a idolatria e o culto ao demônio são
exercitados livremente”6.

Ainda neste sentido a autora propõe ser significativo o fato dos evangélicos de
os evangélicos depois de tanto tempo se manterem firme nos ideais missionários e
interessados em ampliar as suas redes proselitistas visto que outras correntes do
cristianismo têm enveredado pelo caminho oposto. 7

A autora ocupa-se também de dar um breve panorama histórico a fim de


demonstrar como os evangélicos possuem uma percepção peculiar da realidade que de
alguma forma se retroalimenta “à medida que se transformam, fundem, misturam,
realizam alianças, segmentam-se, multiplicam-se”.8

Mafra captou em seus estudos impressões positivas dos evangélicos que


circularam pelo interior do Brasil, estabelecendo relações - quase que desavisadamente -
com os jogos de prestígio locais a fim de conquistar novos adeptos para a fé que
propagavam. Segundo a autora, muitas vezes estes vendedores de Bíblia ficavam
hospedados nas residências dos padres ou até mesmo em seminários católicos, além de
serem incluídos nas listas das festas nobres da cidade em que estavam, a curiosidade
popular acerca de suas presenças era enorme.9

A relação dos missionários com os nativos católicos nestes contextos foram,


sobretudo, paradoxais tendo em vista o tratamento citado que recebiam
simultaneamente com cantigas jocosas, por exemplo. Nestas letras fazia-se menção até
mesmo ao cavanhaque que muitos utilizavam. Dessa maneira observa-se que para as
populações locais este grupo de visitantes ocupava uma posição quase sempre entre
“curiosidade e aversão, hospitalidade e hostilidade, docilidade e perseguição”10.

Além disso, também é possível observar segundo a análise de Clara Mafra que
havia uma noção de continuidade transitando nos relatos dos primeiros batizados na

6
Op. Cit., p. 11.
7
Ibidem.
8
Op. Cit., p. 12.
9
Op. Cit., p. 15.
10
Op. Cit., p. 16.
Igreja Presbiteriana fundada pelo missionário Simonton. Esta noção é útil para
compreender que para muitos destes novos convertidos “o presbiterianismo cumpria o
cristianismo apenas anunciado pelo catolicismo, afastando-se da corrupção e decadência
que vigorava no interior deste último”11.

Para a autora, a configuração contemporânea dos evangélicos no Brasil não é


facilmente compreensível apenas pela sua trajetória histórica. Há uma complexidade
maior no que é relativo ao lugar que ela ocupa na sociedade brasileira. Certamente
muitas mudanças ocorreram, tanto ligadas às transformações mais gerais quanto às
intensas e mútuas influências que as inúmeras denominações provocaram. Por esta
razão, é possível afirmar, por exemplo, que “as igrejas pentecostais são mais numerosas
que as tradicionais, as históricas e as de missão, numa distribuição que tem seus efeitos
específicos”12.

Há um elemento curioso na prática evangélica contemporânea que é o retorno do


rito. O interessante é que apesar da ruptura litúrgica dos protestantes pioneiros, este tem
sido um forte aspecto atualmente. Mafra apresenta uma série de exemplos dele:
“batismos, unções, vigílias, jejuns, caminhadas até os montes santos, queimas,
levantamentos, consagrações são usualmente praticados nas igrejas dos mais diversos
cantos do país”13.

No entanto, também existem aquelas denominações que de alguma forma zelam


pela herança dos grandes nomes, sobretudo ligados à Reforma. É possível notar,
sobretudo, nas igrejas, metodistas, presbiterianas e luteranas uma tendência de enfatizar
e preservar a memória dos Reformadores. Wesley, Calvino e Lutero são nomes
presentes em elementos como feriados, ritos comunitários e formação teológica14.

Para Mafra, trata-se de uma forma de uma possível reação às grandes tensões
experimentadas no interior dessas igrejas devido às múltiplas tendências que se observa
nelas, “pois oferece um recurso cultural formador de consenso sem ser um identificador
de comunidade moral ou de proposição utópica de futuro”15.

11
Op. Cit., p. 16.
12
Op. Cit., p. 49-50.
13
Op. Cit., p. 54 -55.
14
Op. Cit., p. 60.
15
Op. Cit., p. 61.
Porém, segundo a interpretação de Mafra, a denominação que ironicamente mais
se aproxima do ideário eclesial dos primeiros missionários são os batistas. Para este
grupo que, na época em que a pesquisa fora publicada era o segundo maior no Rio de
Janeiro dentre os evangélicos, opera uma noção ligada à exemplaridade, constituída por
uma “diferenciação do mundo”, e também de uma transformação deste mundo através
do exemplo. Assim a denominação batista em tempos contemporâneos alia a construção
do caráter com a formação teológica e missiológica. É importante ressaltar também que
o incentivo à participação no âmbito cívico e a mímesis são os meios pelo qual se dá a
formação do caráter.16.

Este é um dado fundamental uma vez são exatamente os batistas que de fato
servem de inspiração, principalmente “administrativa”, como ressalta a autora, para
solucionar certas adversidades que possam aparecer nos caminhos assembleianos. A
Assembléia de Deus é a maior congregação pentecostal do país - segundo os dados
apresentados por Mafra – e há algum tempo vem passando por um processo interno de
revisão no âmbito estrutural-organizacional assim como no que tange sua doutrina17.

Esta revisão fez-se importante vide a aparente necessidade em tempos


contemporâneos de transparência e visibilidade pública para que se alcance legitimação
social. Desta maneira, as inúmeras perdas sofridas pelos seus líderes implicaram na
evidenciação de um momento propício pra uma revisão do seu modo de funcionar, de
alguma forma se aproximando da “sistematicidade, racionalidade organizacional e baixo
personalismo que os batistas imprimem no seu meio”18.

Mafra afirma por fim que seu livro se trata de uma descrição “tímida em relação
à complexidade da configuração geral”. O texto “Os evangélicos” possui alto caráter
didático e encadeado, permite uma observação, até certo ponto, panorâmica das
organizações evangélicas e inclui dados valiosos acerca de seu funcionamento e
história.19

16
Op. Cit., p. 63-64
17
Op. Cit., p. 67
18
Op. Cit., p. 66
19
Op. Cit., p. 72
Bibliografia

MAFRA, Clara. Os evangélicos. Zahar, 2001.

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