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Resumo
O emprego de vigas longarinas pré-moldadas em pontes de concreto armado muitas vezes requer
o uso de vigas transversinas para realizar a ligação das mesmas. Tais transversinas demandam um
relevante esforço para sua execução, pois geralmente são concretadas in loco. Nos últimos anos vem
sendo prática cada vez mais usual a execução de tabuleiros de pontes em concreto armado sem a
presença de vigas transversinas. Na etapa de projeto, deve-se levar em conta qual a vantagem de se
utilizar tais vigas no que diz respeito à deformação da estrutura, no acréscimo de solicitações nas
longarinas, na distribuição das solicitações no tabuleiro, na fase executiva e no custo final gerado. O
objetivo deste presente trabalho é comparar a distribuição de solicitações e valores de deformações em
uma ponte rodoviária de concreto armado ora com o emprego ora sem o emprego de vigas transversinas
no travamento da estrutura.
Palavras-chave: Pontes; transversinas; solicitações e deformações.
estrutural proposta, esperou-se obter conclusões que Alves (2010) propôs uma avaliação da distri
auxiliassem estudantes e profissionais da Engenharia buição transversal de cargas em tabuleiros de pontes
Estrutural na escolha do uso ou não de tais vigas em em vigas múltiplas, com e sem transversinas internas.
projeto de pontes de concreto armado semelhantes à O programa utilizado foi o STRAP. Apesar dos estudos
estudada. terem mostrado que a inserção da transversina interna
proporciona uma melhor distribuição transversal das
cargas próximo a sua localização, foi possível constatar
3 Revisão da Literatura que essas distribuições transversais de solicitações
para as situações de tabuleiro com e sem transversina
De acordo com Pfeil (1990), pontes são es interna tiveram pouca influência em termos de carga
truturas cujo objetivo principal é dar continuidade nas vigas principais.
ao leito normal de uma via que transpõe obstáculos, Logo, pelos resultados obtidos, notou-se que
tais como rios, braços de mar, vales profundos, outras com a presença da transversina interna, o que ocorre
vias etc. São denominadas viadutos, as pontes que tem é a tendência de redução das solicitações na viga
por objetivo a transposição de vales, outras vias ou principal extrema e um acréscimo na viga principal
obstáculos em geral não constituídos por água. interna, porém, essa redução percentualmente não é tão
O vigamento principal é responsável por ven expressiva. Desse modo, a utilização das transversinas
cer os obstáculos que determinam o projeto da obra, internas para o tipo de ponte estudado (vão de 25,00 m)
transferindo as cargas dos vãos para os apoios sobre não foi compensador, pois as economias obtidas
os pilares. Já vigamento secundário tem a função devido ao redimensionamento das vigas principais
de apoio das lajes, conduzindo as reações destas ao foram inferiores às obtidas pela não utilização das
vigamento principal. Segundo Pfeil (1990), as teo transversinas internas, face às desvantagens de con
rias mais atuais permitem dimensionar lajes com sumo de materiais, construtivas e estéticas que essas
vãos grandes, reduzindo a relevância do vigamento implicam.
secundário.
Segundo Judice et al. (2008), nos últimos anos
vem sendo prática usual a não utilização de vigas 4 Material e Métodos
transversinas em pontes de concreto armado. Sua
utilização vem decrescendo por apresentar certa difi A ponte rodoviária em estudo é constituída de um
culdade de execução principalmente quando se têm tabuleiro em concreto armado e quatro vigas longarinas
vigas longarinas pré-moldadas. O custo adicional do protendidas identificadas como longarinas 1, 2, 3 e 4.
uso de transversinas no travamento da estrutura de A respectiva seção típica das mesmas é representada na
pontes de concreto armado deve ser levado em conta, Figura 1. A espessura da laje do tabuleiro é de 20,00
devido também ao aspecto executivo das mesmas. cm. As Figuras 2 e 3 ilustram a situação. O vão livre
Araújo et al. (2005) propuseram uma compa da ponte é de 35,00 m e sua largura total é 13,25 m. O
ração entre os valores de momentos fletores a serem projeto inicial da ponte não previa vigas transversinas.
utilizados em projetos de pontes rodoviárias com lon Todo o estudo referente ao material concreto armado
garinas protendidas pré-moldadas obtidos com e sem seguiu as prescrições da NBR 6118:2003 (Projeto de
o uso de transversina intermediária. Os modelos de estruturas de concreto – Procedimento).
análise estudados foram o modelo de grelha e o modelo
de elementos finitos sólidos. O objetivo principal foi
verificar a influência desses elementos nos valores dos 5 Modelagem Computacional
momentos nas longarinas
Por meio dos resultados obtidos foi observado A estrutura foi lançada no programa de análi
que com o uso do modelo de grelha descrito, a presença se estrutural SAP 2000 com o auxílio do seu modo
da transversina intermediária reduz as solicitações tan específico para pontes, Bridge. Inicialmente não foram
to na longarina extrema quanto na longarina central. lançadas vigas transversinas na estrutura. O modelo
O mesmo não ocorre com o modelo sólido, no qual se tridimensional da estrutura é mostrado na Figura 4. O
observa que a redução do momento na viga externa é eixo global convencionado pelo programa é mostrado
acompanhada por aumento dessa solicitações na vi- na mesma figura. O eixo X (eixo 1) segue a direção
ga central. Devido a isso, acredita-se que o modelo longitudinal da ponte, o eixo Y (eixo 2) segue a dire
de grelha não permite simular adequadamente a real ção transversal e o eixo Z (eixo 3) segue a direção da
influência da transversina interna na distribuição de gravidade. As vigas longarinas foram consideradas
momentos fletores entre as longarinas. biapoiadas.
9.1 Esforços nas Longarinas Foi observado por meio da análise estrutural que
a inclusão das transversinas redistribuiu as solicitações
A Tabela 1 ilustra as solicitações máximas en- na sua região, fazendo com que diminuísse a faixa de
contrados nas longarinas para os quatro casos anali momento máximo no tabuleiro da ponte.
sados. Tais resultados foram obtidos com o auxílio do
programa SAP 2000, em seu modo Bridge.
Como mostrado na Tabela 1, sem as transver 10 Conclusões
sinas as solicitações nas longarinas foram menores.
Isso ocorreu tanto para momentos fletores quanto Foi observado que o uso de vigas transversinas
para momentos de torção e forças cortantes. Isso pode proporcionou menores valores de deformações na ponte
ser justificado pelo fato das transversinas recebe em estudo. Por meio da análise estrutural realizada
rem o apoio da laje do tabuleiro e descarregarem nas com o auxílio do programa SAP 2000, percebeu-se que
longarinas, o que acabou por sobrecarregá-las ainda com o aumento do número de transversinas na ponte
mais. maior foi o acréscimo de rigidez na estrutura gerando
assim uma menor deformação da mesma. Observou-se estruturas – Procedimento. Rio de Janeiro, 2003.
também uma maior distribuição das solicitações com a ABNT NBR 7188:1984 Carga móvel em ponte rodo
presença das transversinas, tanto da carga permanente viária e passarela de pedestre. Rio de Janeiro, 1984.
quanto da carga variável. ABNT NBR 6123:1988 Forças devido ao vento em
Em relação às solicitações nas longarinas, notou- edificações. Rio de Janeiro, 1988.
se um aumento das solicitações, de um modo geral, com ABNT NBR 6118:2003 Projeto de estruturas de con
a inclusão das transversinas. Isso pode ser explicado creto – Procedimento. Rio de J aneiro, 2003.
devido ao fato das longarinas servirem de apoio para ABNT NBR 7187:2003. Projeto e execução de pontes
as transversinas, o que levou ao aumento das solicita de concreto armado e protendido. Rio de Janeiro, 2003.
ções solicitantes nas longarinas. Vale lembrar que toda
ALVES, M. S. Avaliação da distribuição transversal
a carga atuante sobre o tabuleiro, exceto na região dos
de cargas em tabuleiros de pontes em vigas múltiplas,
apoios, foi descarregada sobre as transversinas e essas
com e sem transversinas internas. Salvador, 2010. 78 p.
descarregaram em seus apoios, ou seja, nas longarinas.
ARAUJO, M. C. et al. Distribuição transversal de
Já com relação ao tabuleiro, com a inclu
cargas em ponte de concreto protendido pré-moldada:
são das transversinas, houve uma redistribuição das
avaliação da influência das transversinas com uso de
solicitações, sobretudo dos momentos principais. As
procedimentos da NBR 6118/2003, do LaDOTD e
transversinas serviram de apoio para o tabuleiro, me
de modelos de elementos finitos sólidos. 1º Encontro
lhorando assim a distribuição das solicitações.
Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto
Os resultados obtidos no presente estudo
Pré-moldado. 12 p. São Carlos, 2005.
diferiram dos resultados obtidos por Araújo et al. (2005)
e por Alves (2010) nos que diz respeito às longarinas. JUDICE, F. M. S. et al. Avaliação da distribuição
No presente trabalho houve um aumento da solicitação transversal de cargas em tabuleiros de pontes sem
das longarinas com a inclusão das transversinas, já no transversinas internas. 50º Congresso Brasileiro de
trabalho desenvolvido por Araújo et al. (2005) e por Concreto. 16 p. Salvador, 2008.
Alves (2010) a presença da transversina intermediária MOURA, J. R. B. Estruturas de concreto protendido:
reduziu as solicitações tanto na longarina extrema aplicando a sistemas estruturais de edificações com uso
quanto na longarina central. de cordoalhas engraxadas. Fortaleza, 2010. 151 p.
No que diz respeito a viabilidade da utilização OLIVEIRA, G. E. P. Dimensionamento da superes
de vigas transversinas, o presente trabalho mostrou, trutura de uma ponte de concreto armado. Blumenal,
assim como Alves (2010), que a utilização dessas não 2010. 123 p.
foi considerada compensadora, uma vez que houve PFEIL, WALTER. Pontes em concreto armado: elemen
um acréscimo das solicitações nas longarinas e houve tos de projeto, solicitações, superestrutura. 4 ed. Rio de
pouca diminuição dos valores das deformações na Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1990. 225 p.
ponte como um todo. PFEIL, WALTER. Concreto protendido: processos
construtivos e perdas de protensão. 2 ed. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos, 1983. 325 p.
11 Referências VITORIO, A. Pontes Rodoviárias: fundamentos, con
servação e gestão. 1ª ed. Recife: CREA-PE, 2002.
ABNT NBR 8681:2003 Ações e segurança nas 85 p.