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Prefácio
Mito do Dado
Por sua vez a ideia de que fatos epistêmicos podem ser analisados sem que
sobrem partes - mesmo que 'em princípio' - em fatos não-epistêmicos, sejam
fenomênicos ou comportamentais, públicos ou privados, sem levar em conta o quão
generosos sejam os borrifos de subjuntivos e hipotéticos, é, acredito, um engano
radical - um engano semelhante a assim chamada 'falácia naturalista' na ética".
A Falácia Naturalista foi proposta pela primeira vez por George Edward
Moore, filósofo analítico inglês, que a propôs como forma de refutar a
argumentação spenceriana de uma "ética natural". A ética de Spencer,
basicamente, defendia que os seres vivos, buscando a rejeição da dor e a
satisfação de prazer particular, naturalmente podem "conhecer" o que é bom e o
que é mau através dos resultados obtidos e podem assim evoluir naturalmente para
o "bem" rejeitando as experiências que trazem dor e, assim, por conseguinte, se
afastando do "mal".
Moore rejeita essa afirmação spenceriana partindo da definição de "bom" e
"mau" como irredutíveis e "não mais analisáveis"[2], dizendo que não podemos
admitir de forma objetiva o que seria "bom" ou "mau" senão como qualidades que
pessoas atribuem a certas coisas. Essa afirmação sustenta que existe uma
certa "intuição" moral que apreende essas qualidades sem nenhuma forma de
raciocínio, como a dedução, por exemplo.
"Em todos os sistemas morais que conheci até agora, constatei sempre que o autor
raciocina durante algum tempo da forma normal, e estabelece a existência de
“Deus” ou faz observações sobre os assuntos humanos; quando de súbito tenho a
surpresa de verificar, que em vez da cópula usual de proposições, "é", e "não é",
não encontro proposição alguma que não esteja ligada com um "deve" ou um "não
deve". Esta mudança é imperceptível; mas tem, contudo, consequências definitivas.
Pois como este "deve" ou "não deve" expressa uma nova relação ou afirmação, é
necessário que seja constatada e explicada; e ao mesmo tempo que se dê uma
razão, para o que parece em geral inconcebível, como esta nova relação pode
ser deduzida de outras, que são completamente diferentes dela."
Dessa forma admite-se que Moore nega qualquer tipo de "ponte" entre juízos de
valor e de fato ao passo que Hume, ainda que as admita, em geral "inconcebíveis",
exige algum tipo de justificativa, mantendo a ética e os juízos de valor no campo dos
juízos cognoscíveis (ou seja, não-intuitivos).
A Ética Argumentativa
"Em primeiro lugar, contudo, deixo claro uma similaridade essencial entre o
problema da economia política e o problema da filosofia política - uma similaridade
que os filósofos políticos em sua disseminada ignorância da economia geralmente
negligenciam para acabar em intermináveis ad hocs. O reconhecimento da
escassez não é apenas o ponto de partida da economia política; é o ponto de
partida da filosofia política também. Obviamente, se houvesse uma
superabundância de bens, nenhum problema econômico sequer existiria. Com uma
superabundância de bens tais que meu uso presente destes não reduzisse meu
próprio suprimento futuro, nem o presente ou atual suprimento destes para
nenhuma outra pessoa, problemas éticos como certo ou errado, justo ou injusto
não ocorreriam, assim como também nenhum conflito sobre o uso de tais bens
poderia surgir"
Partindo dessa afirmação, Hoppe procura estabelecer o problema da ética como
o problema de resolver os eventuais conflitos sobre bens tangíveis que surgem a
partir do fato de que tais bens são escassos, ou seja, impossíveis de serem usados
de tal forma que seu uso não implique em uma redução da oferta deste mesmo bem
em uma unidade para outros agentes, e para esse mesmo agente no futuro. Mais a
frente Hoppe ainda percebe que existe uma outra condição
para determinar o problema da ética:
"Eu quero demonstrar que a ética libertária de propriedade privada, e apenas a ética
libertária de propriedade privada pode ser justificada argumentativamente porque é
ela que praxeologicamente presume uma argumentação. Muitas alternativas à ética
da propriedade podem ser propostas,evidentemente, mas seu conteúdo
necessariamente irá contradizer a ética inerente na demonstrável preferência de um
argumentador no próprio ato de realizar proposições, ou seja, no ato de iniciar uma
argumentação"
Alguém ainda poderia argumentar que o uso do corpo para eliminar o outro
sujeito conflitante também seria o uso dos recursos do corpo afim de solucionar
o conflito, e de fato seria. Mas é justamente aí que surge o problema ético porque
essa forma é injustificável de forma proposicional porque ela não permite
que um interlocutor capaz sequer realize proposições justificáveis (afinal, ele
precisará de seu corpo para isso).
Para rebater essa crítica primeiro precisamos estabelecer qual posição é, de fato,
a de Hans-Hermann Hoppe em relação a epistemologia. De acordo com o próprio
autor seu contexto para estabelecer sua justificativa é dado na premissa
racionalista, inclusive um tanto que radical, uma vez que o autor expressamente
rejeita qualquer tentativa de estabelecer um conhecimento empírico autêntico sem
proposições racionais que o sustente, alegando que todo o juízo da experiência é
subordinado ao conjunto de entendimentos racionais de um sujeito sobre a própria
estrutura que ele compreende como experiência, e que é impossível inclusive
pensar racionalmente em uma estrutura do conhecimento distinta desta. Como ele
cita em seu Em Defesa do Racionalismo Extremo:
Além disso, mesmo sendo algo que tem que ser entendido ao invés de
observado, ainda se trata de um conhecimento sobre a realidade. Isto porque as
distinções conceituais presentes neste entendimento não são nada menos que as
categorias utilizadas nas interações mentais com o mundo físico por meio de seu
próprio corpo físico. E certamente, sob todos os aspectos, o axioma da ação não é
auto-evidente em um sentido psicológico, embora uma vez que ele tenha sido
tornado explícito, ele pode ser entendido como uma proposição inegavelmente
verdadeira relativa a alguma coisa real e existente"
"No entanto, para poder interpretar as observações nestas categorias é preciso que
o significado de ação já seja conhecido. Alguém que não seja dotado da capacidade
de agir jamais seria capaz de entendê-las. Elas não são “dadas”, prontas para
serem observadas, mas a experiência que pode ser observada é computada nestes
termos da maneira que é interpretada por um agente."
Nisso defendo que essa sim é uma crítica pertinente a Hans-Hermann Hoppe
e seu conceito de praxeologia: Hoppe parece não compreender que a praxeologia é
uma semântica lógica e que seus axiomas são pertinentes unicamente a essa
semântica, que visa a dar sentido proposicional a certos fenômenos de um ponto de
vista do sujeito. A praxeologia alcança eficiência em ler os fenômenos humanos
justamente por parecer ser a semântica lógica adequada a compreender
comunidades humanas, uma vez que ela admite que indivíduos humanos possam
conter informações únicas capazes de influenciar toda a cadeia informativa humana
no exato momento que esse indivíduo passa a usar de tais informações com a
finalidade específica de alterar a realidade por ele conhecida. A praxeologia também
admite que a própria realidade conhecida pelo sujeito é desconhecida dos demais,
sendo impossível mensurar de forma objetiva tanto a compreensão inicial quanto
final de um sujeito quando ele age.
A partir dessa efetiva confusão de Hoppe surge uma crítica, também comum
à ética argumentativa, e essa sim plausível, de que a ética argumentativa cairia em
uma falácia naturalista ou ainda,que ficaria retida na Guilhotina de Hume, isto é, que
tenta derivar juízos de valor a partir de juízos de fato. Podemos derivar essa crítica,
e compreendê-la como plausível, a partir de quando Hoppe costuma justificar sua
posição ante a Guilhotina dizendo que deriva a sua ética somente a partir de juízos
de fato, não recorrendo a nenhum juízo de valor.
Ele apresenta 3 premissas que são, de acordo com ele, a base de todo o
desenvolvimento da ética argumentativa e que são todas igualmente juízos de fato e
não de valor:
Admitir a ocupação primária como uma forma de resolver esse conflito para
qualquer bem escasso, bem como admitir o próprio corpo como um recurso
escasso, são pré-requisitos necessários para a criação de direitos de propriedade,
que aparecem como deliberações que justificam plausivelmente a ética, mas que
são deliberações, e portanto juízos de valor.
Acontece que quando pensamos no corpo elaborado por HHH ele faz muito
sentido ao reclamar que argumentações exigem o reconhecimento de propriedade
para que sejam justificáveis, e é aqui que percebemos que a segunda premissa, na
realidade, é mal formulada. Na ânsia de justificar seu ponto contra a Guilhotina,
Hoppe comete um erro crasso ao fundamentar sua ética e acaba, ironicamente,
caindo na própria Guilhotina que ele pretende rejeitar. O corpo da ética
argumentativa toma efetiva plausibilidade, e se torna condizente com sua exigência
de justificabilidade para os juízos praxeológicos, quando reformulamos a segunda
premissa da seguinte forma:
Agora temos um fundamento plausível, e este sim totalmente incluso como juízo
de fato. Um sujeito não poderia reclamar proposicionalmente um argumento afim de
solucionar conflitos sobre um bem escasso sem que ele não fosse capaz de
justificar, igualmente, de forma tácita ou explícita, o próprio uso do corpo, em um
sentido praxeológico, ou seja, teleológico, como um recurso, também escasso,
usado afim de solucionar outros conflitos.
Agora sim, não temos mais a ética argumentativa hoppeana formulada nos
mesmos termos, mas o conteúdo é majoritariamente o mesmo contido nas teses de
Hans-Hermann Hoppe, entretanto, graças as críticas, pudemos reformá-lo de uma
maneira cogente.
Essa reformulação afasta de vez a possibilidade de cair em uma Guilhotina
de Hume porque agora, efetivamente, não se baseia em nenhum juízo de fato para
derivar valores, mas sim em juízos de fato para derivar juízos de fato, sendo que um
desses juízos permite a tal "ponte" exigida por Hume em seu tratado quando ele se
diz "supreso" que já uma mudança sútil, mas significativa, de um grupo de
afirmações do tipo "é-são" para "deve ser". Há uma nova relação que é plenamente
explicada através da constatação de propriedades lógicas como a "teleologia" e a
"justificação" que permitem manter os juízos no plano puramente positivos e ainda
assim estabelecer uma relação pertinente com os juízos de valor. E essa ponte se
dá justamente através da formulação da ética argumentativa como uma ética
justificável logicamente e não como justificável moralmente, como citei
anteriormente.
Nesses termos, ainda que resolvamos, por força dos termos, admitir ética
como o conjunto concernente a moral, teríamos um mito e não um conceito que
estivesse referencialmente ligado a um fenômeno cognoscível, sendo que
por outro lado, teríamos a capacidade indubitável de admitir o paradigma
praxeológico como plausível e capaz de compreender o fenômeno de que certas
proposições podem ter suas justificações usadas como meio para solucionar
conflitos entre o emprego de bens tangíveis para certos fins. Aí teríamos apenas
uma questão nominal de chamar esse conceito de outra coisa senão ética, mas
seria um conceito que corresponderia a um conjunto a de juízos racionais,
plausíveis e correspondentes ao que chamamos por realidade, e portanto,
pertinente.
Dessa forma fica por uma vez por todas estruturada a ética argumentativa,
livre de suas críticas menos e mais pertinentes através de uma formulação cogente,
e totalmente circunscrita ao plano praxeológico, de tal forma que podemos até
compreender, facilmente, que a ética é uma disciplina que só pode ser efetivamente
pensada como um "conhecimento" através das categorias praxeológicas, sendo
dispensáveis as demais formas de estabelecer a ética como um corpo de
entendimento plausível seja por cair em uma falácia naturalista, seja por serem, na
verdade, a simples investigação do corpo de costumes morais dos diversos
indivíduos e comunidades e a posterior análise desses costumes de um ponto de
vista maximizador ou minimizador de acordo com um certo referencial específico,
sendo daí delimitadas como úteis ou não a tais referenciais, ou seja, as tais "éticas
utilitaristas", que em algum momento, necessariamente terão de apelar para a
argumentação intersubjetiva de premissas conceituais afim de maximizar ou
minimizar um certo indicador, e nesse ponto terão de cair em um paradigma
praxeológico e portanto, em uma ética argumentativa.
Acredito que esse texto tenha sido capaz de afastar as críticas mais recentes
e elaboradas contra a ética argumentativa, que nos fizeram perceber que, apesar de
ser um corpo conceitualmente forte, tinha algumas de suas premissas
mal formuladas possibilitando más interpretações. Este trabalho teve por objetivo
reformular a ética em termos mais cogentes, mantendo todo o seu arcabouço
conceitual, e afastando as críticas através da boa formulação lógica dos argumentos
Sem mais,
[1] - Ou dados dos sentidos, ou ainda sensum. Me referi a intuição sensível nesse sentido
para não gerar ambiguidades entre “dado” referente à dadidade (givenness) e dado
referente à unidade de informação.
[2] - Alguém poderia dizer que Moore cai no mito do dado ao reclamar a posição de que
juízos morais são subjetivos e “não mais analisáveis”, mas não é o caso, pois Moore não
advoga que tais juízos sejam justificáveis em si mesmos, ou seja, ele não alega um
fundacionaismo epistemológico desses juízos. Ao contrário, ele deixa bem claro que tais
juízos são incapazes de transferir qualquer forma de conhecimento, aliás, esse é
justamente o cerne da crítica dele à Spencer.
[3] - Ver o capítulo 15 da obra de Hans-Hermann Hoppe, The Economics And Ethics Of
Private Property, 2nd edition - Rothbardian Ethics. Durante o capítulo todo é muito claro que
a ética argumentativa está circunscrita dentro do plano da chamada “ordem social”, ou seja,
ela só é um problema pertinente quando temos mais de um ser racional, capazes de
reflexões sobre suas próprias ações e capazes de usar proposições racionais para justificar
suas ações e dessa forma, evitar eventuais conflitos sobre bens tangíveis
Bibliografia