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Cadernos PDE
II
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Título: A LEI DOS POBRES: um obstáculo ao desenvolvimento do mercado de
trabalho assalariado na Revolução Industrial Inglesa.
Autora: Miriam dos Santos Teodoro
Disciplina/Área: História
Escola de Implementação do Projeto Colégio Estadual Marechal Costa e
e sua localização: Silva – EFM – Rua Vasconcelos
Jardim, 1696 – Cidade Gaúcha – PR.
Município da escola: Cidade Gaúcha
Núcleo Regional de Educação: Cianorte
Professor Orientador: Dr. Roberto Leme Batista
Instituição de Ensino Superior: UNESPAR/ Paranavaí
Relação Interdisciplinar: História, Sociologia
Resumo: Esta Unidade Didática tem como
objetivo estudar a Lei dos Pobres e
sua adaptação na Revolução
Industrial inglesa. Trata-se, portanto,
de compreender como esta Lei se
constituiu num obstáculo ao
desenvolvimento do mercado de
trabalho assalariado. Faremos um
estudo sobre o campo inglês no final
do século XVIII e início do século XIX.
Analisaremos a grande onda de
enclosures – os cercamento –, a
crescente pressão sobre os direitos
comunais, o surgimento da
Speenhamland Law (Lei
Speenhamland – 1795). Interessa-nos
também compreender por que uma
nova Lei dos Pobres entrou em vigor
em 1834. A pesquisa terá como
referencial teórico as obras clássicas
de Marx e Engels e a historiografia,
principalmente os historiadores
marxistas britânicos entre outros.
Com isso, teremos suporte suficiente
para a produção de materiais
didáticos destinados ao ensino do
conteúdo temático, referentes às
turmas do segundo ano do Ensino
Médio no Colégio Estadual Marechal
Costa e Silva – E. F. M., de Cidade
Gaúcha - Paraná.
Palavras-chave: Lei dos Pobres; Revolução Industrial;
Speenhamland; Classe trabalhadora.
Formato do Material Didático: Unidade Didática
Público: 2º ano
Apresentação
Ao longo de sua
vida escolar você
já estudou a
respeito da
Revolução
Industrial. O que
guarda em sua
memória sobre o
conteúdo?
Em que disciplinas
figura 1 você estudou o
assunto?
Para você a
Revolução
Industrial constituiu
um fato importante
para a sociedade?
Por quê?
figura2
Para você o que é
ser pobre?
Figuras :
1- Representação
do Parlamento na
instituição da Lei
figura 3 dos Pobres.
2- Homem e as
Ilustrações: Cristiano Rosa
mudanças no
transporte.
3- Locomotiva.
1. A Revolução Industrial
Foi na Inglaterra, na última terça parte do século XVIII, que nasceu a grande
indústria moderna. Desde o princípio, sua arrancada foi tão repentina, e teve tais
conseqüências, que pode ser comparada a uma revolução. [...] Mas, por mais rápida
que pareça ter sido a Revolução Industrial ligava-se a causas longínquas.
(MANTOUX, s/d, p.1).
O produtor direto, o trabalhador, só pôde dispor de sua pessoa depois que deixou
de estar acorrentado à gleba e de ser servo ou vassalo de outra pessoa. Para
converter-se em livre vendedor de força de trabalho, que leva sua mercadoria a
qualquer lugar onde haja mercado para ela, ele tinha, além disso, de emancipar-se
do jugo das corporações, de seus regulamentos relativos a aprendizes e oficiais e
das prescrições restritivas do trabalho. Com isso, o movimento histórico que
transforma os produtores em trabalhadores assalariados aparece, por um lado,
como a libertação desses trabalhadores da servidão e da coação corporativa, [...].
Por outro lado, no entanto, esses recém-libertados só se convertem em
vendedores de si mesmos depois de lhes terem sido roubados todos os seus
meios de produção, assim como todas as garantias de sua existência que as
velhas instituições feudais lhes ofereciam. E a história dessa expropriação está
gravada nos anais da humanidade com traços de sangue e fogo. [...] O ponto de
partida do desenvolvimento que deu origem tanto ao trabalhador assalariado como
ao capitalista foi a subjugação do trabalhador. O estágio seguinte consistiu numa
mudança de forma dessa subjugação, na transformação da exploração feudal em
exploração capitalista. (MARX, 2013, p. 786/787).
Portanto, a marcha da evolução capitalista produziu várias revoluções,
entre as quais, “[...] os momentos em que grandes massas humanas foram
despojadas súbita e violentamente de seus meios de subsistência e lançadas
no mercado de trabalho como proletários absolutamente livres”. A base de todo
o processo que lança os trabalhadores ao mercado é “[...] a expropriação da
terra que antes pertencia ao produtor rural, ao camponês, constitui a base de
todo o processo”. (MARX, 2013, p. 787).
Na Inglaterra, a servidão desapareceu no final do século XIV. Constituiu-
se ali uma população de maioria de “[...] camponeses livres, economicamente
autônomos, qualquer que fosse o rótulo feudal a encobrir sua propriedade.”
Formou-se então de uma classe de trabalhadores agrícolas que constituída em
parte, por camponeses “[...] que empregavam seu tempo livre trabalhando para
os grandes proprietários, em parte, numa classe de assalariados propriamente
ditos, classe essa independente e pouco numerosa, tanto em termos relativos
como absolutos.” De fato, “[...] o prelúdio da revolução que criou as bases do
modo de produção capitalista ocorreu no último terço do século XV e nas
primeiras décadas do século XVI.” Nesta época “[...] uma massa de proletários
absolutamente livres foi lançada no mercado de trabalho pela dissolução dos
séquitos feudais.” O poder real desenvolveu ações que acelerou violentamente
a dissolução dos séquitos feudais. Porém, o poder real não foi a causa
exclusiva dessa dissolução, pelo contrário foi a ação do grande proprietário
feudal. (MARX, 2013, p. 789-790).
[...] foi o grande senhor feudal que, na mais tenaz oposição à Coroa e ao
Parlamento, criou um proletariado incomparavelmente maior tanto ao expulsar
brutalmente os camponeses das terras onde viviam e sobre as quais possuíam os
mesmos títulos jurídicos feudais que ele quanto ao usurpar-lhes as terras
comunais. O impulso imediato para essas ações foi dado, na Inglaterra,
particularmente pelo florescimento da manufatura flamenga de lã e o consequente
aumento dos preços da lã. A velha nobreza feudal era aniquilada pelas grandes
guerras feudais; a nova nobreza era uma filha de sua época, para a qual o dinheiro
era o poder de todos os poderes. Sua divisa era, por isso, transformar as terras de
lavoura em pastagens de ovelhas. (MARX, 2013, p. 790).
O campo inglês foi arruinado pela expropriação das terras dos pequenos
camponeses, que tiveram suas habitações violentamente demolidas. O Estado
tentou uma série de legislação aterrorizante contra os grandes proprietários.
Isto se deu em decorrência do desenvolvimento do capital e a exploração e o
empobrecimento inescrupulosos das massas populares. Porém, destaca Marx
que “[...] as queixas populares e a legislação, que desde Henrique VII, e
durante 150 anos, condenou a expropriação dos pequenos arrendatários e
camponeses, foram igualmente infrutíferas.” Ou seja, a legislação não serviu
para nada, pois não impediu o avanço do capital e a destruição da pequena
propriedade camponesa. A legislação lutou em vão, pois não conseguiu manter
sequer a propriedade comunal. (MARX, 2013, p. 791).
No século XVI ocorreu mais um “[...] terrível impulso ao processo de
expropriação das massas populares”, devido à Reforma e, “[...] em
consequência dela, pelo roubo colossal dos bens da Igreja. Na época da
Reforma, a Igreja católica era a proprietária feudal de grande parte do solo
inglês.” O fim dos monastérios lançou os moradores de suas propriedades no
proletariado. Os bens da Igreja foram distribuídos aos favoritos do rei, ou,
simplesmente vendidos por um baixo preço a especuladores, que expulsaram
os antigos vassalos hereditários. Dessa forma, também “[...] a propriedade,
garantida por lei aos camponeses empobrecidos, de uma parte dos dízimos da
Igreja foi tacitamente confiscada.” (MARX, 2013, p. 792-793).
Foi diante desta realidade que a rainha Elizabeth I, após um giro pela
Inglaterra, no 43º ano de seu reinado, reconheceu oficialmente, em 1601, o
pauperismo das massas populares. Criou-se então a Lei dos Pobres, por meio
da introdução dos impostos de beneficência, que por vergonha veio ao mundo
sem nenhuma exposição de motivos. Em 1641, uma lei de Carlos I
“estabeleceu a perpetuidade desse imposto, somente em 1834 ela recebeu
uma nova forma, porém, mais rígida”. (MARX, 2013, p. 793).
Leia no quadro abaixo nota crítica de Karl Marx sobre este problema:
Os grandes proprietários rechaçam a Lei dos Pobres
O ‘espírito’ protestante pode ser reconhecido, entre outras coisas, no fato seguinte.
No sul da Inglaterra, vários proprietários fundiários e arrendatários abastados
congregaram suas inteligências e formularam dez perguntas acerca da correta
interpretação da Lei de Beneficência da rainha Elizabeth, submetendo-as em
seguida a um célebre jurista daquele tempo, [...] para que esse desse parecer.
Alguns dos arrendatários mais ricos da paróquia imaginaram um modo engenhoso
pelo qual todos os inconvenientes da aplicação dessa lei podem ser evitados. Eles
propuseram a construção de uma prisão na paróquia. A todo pobre que se negasse
a ser ali encarcerado seria negado o auxílio. Seria então anunciado à vizinhança
que aqueles que estivessem dispostos a arrendar os pobres dessa paróquia
deveriam apresentar ofertas lacradas, num determinado prazo, pelo preço mais
baixo pelo qual ele os retiraria de nosso estabelecimento. Os autores desse plano
supõem que nos condados vizinhos haja pessoas avessas ao trabalho e
desprovidas de fortuna ou crédito para obter um arrendamento ou um [negócio] de
modo a viver sem trabalho. Se um ou outro pobre morresse sob a tutela do
contratante, a culpa recairia sobre este último, pois a paróquia teria cumprido seu
dever para com esses mesmos pobres. Nosso receio, porém, é de que a atual lei
não admita qualquer medida prudencial (prudential measure) desse tipo; mas
podeis estar certo de que os demais freeholders [arrendatários] deste condado e
dos condados vizinhos se somarão a nós para incitar os representantes na Câmara
dos Comuns a propor uma lei que permita a reclusão e o trabalho forçado dos
pobres, de modo que seja vedado qualquer auxílio a toda pessoa que recuse seu
próprio encarceramento. Isso, esperamos, impedirá que pessoas em estado de
indigência requeiram ajuda [“...]” R. Blakey, The History of Political Literature from
the Earliest Times (Londres, 1855). (MARX, 2013, p. 793-794).
Formada pela família real inglesa (1485-1603). Fundada por Owen, o seu neto
Henrique VII foi proclamado rei depois de ter assassinado o seu tio Ricardo III.
Sucedeu-lhe o seu filho Henrique VIII, que em 1534 separou a Igreja da Inglaterra da
de Roma. Posteriormente foram coroados o seu filho Eduardo VI e as suas filhas
Maria I e Elizabeth I. A dinastia terminou com a morte desta, em 1603. (Enciclopédia
Barsa Universal, 2007, v. 18).
A Lei dos Pobres constitui uma ação genuinamente britânica criada para
lidar com a questão social. No principio de sua criação tinha uma finalidade. Ao
longo da sua existência foi preciso várias adaptações para atender a exigência
da relação entre patrões e trabalhadores. Para Mantoux a Lei dos Pobres
permite entender a situação das classes trabalhadoras na Inglaterra “constitui
um dos capítulos mais originais da legislação inglesa, e do reinado de
Elizabeth”. A finalidade original da lei era a repressão à mendicância e à
vagabundagem, bem como um alívio à pobreza existente. Dois sentimentos
brotavam no seio da lei, sendo um de “caridade cristã” e o outro de um
“violento preconceito social”. (MANTOUX, s/d, p. 442-443).
Segundo Mantoux (s/d) a Lei dos Pobres foi aplicada por meio de
alternâncias entre a fraqueza e o rigor. Na intenção de acabar com os
mendigos profissionais, o que prevaleceu foi o rigor da lei, a obrigatoriedade do
trabalho e a internação nas “casas correcionais” as workhouses que se
assemelhavam a prisões. Essas “casas de correção” eram instituições
fundadas com o objetivo de “[...] atender e formar a camada alijada da
sociedade – homens, mulheres, enfermos, ociosos, criminosos e crianças - nos
padrões requisitados pelo sistema que se organizava, e com isso legitimar a
formação da nova sociedade.” (DORIGON, 2006, p. 10).
Mantoux descreve as razões das workhouses serem tão temidas:
Uma das causas que mais contribuíram para dar a essa instituição de caridade
um caráter de dureza quase desumano, foi a base estreitamente local de sua
organização. Cada paróquia achava que só tinha que socorrer seus pobres,
excluindo os recém-chegados, que considerava intrusos: aliás, é provável que
algumas paróquias tenham tentado desembaraçar-se dos encargos de sua
competências às custas de outras paróquias, mais ricas ou menos avaras. Para
acabar com esse abuso, foi decretada, em 1662, a lei do domicílio (Act of
settement). Todo individuo que mudasse de local de residência podia ser
mandado de volta à paróquia onde tinha sido seu domicílio legal, independente
de sua vontade: a expulsão (removal) era pronunciada por dois juízes de paz, a
pedido dos administradores dos impostos dos pobres. E para justificar essa
decisão, não era preciso que a pessoa visada estivesse em estado de indigência
que requeresse ajuda imediata, tornando sua presença onerosa para a paróquia
onde viera se estabelecer: bastava que a eventualidade fosse considerada
provável. (MANTOUX, s/d, p. 443-444).
Hobsbawm (1982) ressalta também que o código Tudor servia para livrar
os pagadores de impostos e taxas de ter um grande número de pobres ou
pobres em potencial para sustentar nas paróquias, além de garantir “[...] aos
empregadores da paróquia uma reserva local de força de trabalho”. Sendo
assim, o sistema no final do século XVII, era local e
paroquial, porém, antes disso, no reinado de Elizabeth I
Glossário e nos dos primeiros Stuarts houve esforços
Artífice (do lat. governamentais no sentido de estabelecer um controle
artificiale-) s. 2 gên. 1. nacional dos pobres, com coordenação estatal, até que
Pessoa que se dedica
“[...] novamente no século XVIII, se verificasse uma
a qualquer arte
mecânica; operário. 2. tendência de crescimento das unidades de
Fabricante de administração, através de combinação de paróquias e
artefato. 3. Indivíduo
seu agrupamento em ‘uniões’, tornando-as mais
que inventa. 4. Autor.
5. Obreiro, criador. flexíveis, permitindo a ajuda ocasional fora da casa dos
Enciclopédia Barsa
pobres da aldeia ou da união. (HOBSBAWM, 1982, p.
Universal, 2007, v.2. 51).
VEJA MAIS
ATIVIDADES
Elizabeth A Era de
ouro
3. A Revolução Industrial
(duração 2:16)
https://www.youtube.c
om/watch?v=Zooxkgh
W0PE
PARA IR ALÉM
Assista o filme:
Elizabeth
Inglesa 5 figura - Fonte:
6 - Uma máquina
a vapor de
Watt. O motor a
vapor,
6 figura -
abastecido
Fonte:http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.ph
primeiramente
p?foto=485&evento=3#menu-galeria
com carvão,
impulsionou a
Revolução
Industrial no
Reino Unido.
7 vídeo
7 - Revolução
https://www.youtube.com/watch?v=U8YrlmfmMZo
Industrial
De acordo com a interpretação de Hobsbawm Inglesa
As invenções técnicas
https://www.youtube.com/watch?v=m8WDzFtd5hI
Sob a lei elisabetana, os pobres eram forçados a trabalhar com qualquer salário que
pudessem conseguir e somente aqueles que não conseguiam trabalho tinham
direito a assistência sobre a forma de abono salarial. Durante a vigência da
Speenhamland Law, o individuo recebia assistência mesmo quando empregado, se
seu salário fosse menor do que a renda familiar estabelecida pela tabela.
(POLANYI, 2000, p.101).
Foi à luz dessas concepções vagamente definidas, mas defendidas com firmeza,
que os magistrados de Berkshire, reunidos em Speenhamland em 1795, tentaram
reformar a Lei dos Pobres, transformando-a, de uma instituição que suplementava
o funcionamento normal da economia, num mecanismo sistemático para garantir
aos trabalhadores um salário que desse para viver. Fixou-se um nível mínimo,
subordinado ao preço do trigo. Se os rendimentos fossem inferiores àquele mínimo,
deveriam ser suplementados pelos fundos dos pobres. Em suas formas mais
extremas o ‘Sistema Speenhamland’ não se generalizou como supunha no
passado, mas na forma mais moderada – e , para o período, extraordinariamente
gerosa – de uma sistemática pensão-família para homens com muitos filhos, o
sistema tornou-se quase universal em muitas partes do sul e do leste.
(HOBSBAWM, 1978, p. 97).
ATIVIDADES
1- Ao longo do texto sobre a Speenhamlad o que você define sobre está lei de
abono aos trabalhadores pobres? Ela atendeu a finalidade para qual foi criada?
Justifique sua resposta.
[...] É verdade que muitos dos pobres mais necessitados foram abandonados à sua
sorte quando se retirou a assistência externa, e entre aqueles que sofreram mais
amargamente estavam os “pobres merecedores”, orgulhosos demais para se
recolherem aos albergues, que se haviam tornado um abrigo vergonhoso. Em toda
a história moderna talvez jamais se tenha perpetrado um ato mais impiedoso de
reforma social. Ele esmagou multidões de vidas quando pretendia apenas criar um
critério de genuína indigência com a experiência dos albergues. Defendeu-se
friamente a tortura psicológica, e ela foi posta em prática por filantropos benignos
como meio de lubrificar as rodas do moinho de trabalho. O comum das queixas,
porém, relacionava-se realmente com a erradicação abrupta de uma instituição tão
antiga ao mesmo tempo que se efetuava uma transformação tão radical. Disraeli
denunciou essa “revolução inconcebível” na vida do povo. Entretanto, se levasse
em conta apenas a renda monetária, a condição do povo logo poderia ser
considerada como melhor. (POLANYI, 2000, p. 105).
Poucos estatutos foram mais desumanos que a Lei dos Pobres de 1834, que
tornava qualquer socorro social “menos elegível” que o mais baixo salário vigente,
confinava-o a centros de trabalho com características de penitenciária, separando
pela força maridos, mulheres e filhos, a fim de castigar os pobres por sua
indigência e desencorajá-los da perigosa tentação de procriar novos miseráveis. A
lei nunca foi inteiramente aplicável, pois onde os pobres tinham força resistiram a
seus extremos, e com o tempo ela se tornou um pouco menos rigorosa. No
entanto, ela constituiu a base para a previdência social inglesa até as vésperas da I
Guerra Mundial, e as experiências de infância de Charlie Chaplin atestam que ela
não havia mudado muito desde que Oliver Twist, de Dickens, exprimiu o horror
popular por aquela monstruosidade legal na década de 1830. E por essa época –
na verdade, até a década de 1850 – pelo menos 10% da população inglesa era
formada de indigentes. (HOBSBAWM, 1978, p. 83).
De fato, a Lei dos Pobres em sua versão de 1834 foi uma vitória da
burguesia industrial e urbana. Portanto, esta classe conseguiu impor a lei que
transformou a sociedade numa economia de mercado. A partir da revogação
do sistema de Speenhamland o mercado de trabalho foi ampliado, pois os
trabalhadores que perderam a assistência do “direito de viver” das paróquias,
para conseguir a subsistência da família, tiveram que passar a comparecer no
mercado para vender a única mercadoria que possuía: sua força de trabalho.
Nesse sentido, tiveram que se deparar com o capitalista comprador da força de
trabalho.
Polanyi (2000) salienta que a reforma da Lei dos Pobres começou de
fato em 1832 com a aprovação da Lei Parlamentar da Reforma. A primeira
ação importante da reforma foi à abolição da Speenhamland. Diante dos
métodos paternalistas e assistencialistas da Speenhamland “com a vida no
campo”, fez com que os defensores mais radicais da reforma não tivessem
coragem de propor um período de transição menor do que dez ou quinze anos.
Quando, na realidade, a Speenhamland foi extinta “[...] de forma tão abrupta
que desmascara a lenda do gradualismo inglês, adotada em época posterior,
quando se procurava argumentos contra a reforma radical”. Isto provocou um
choque brutal, cujo pesadelo marcou a consciência “[...] de inúmeras gerações
da classe trabalhadora britânica”. (POLANYI, 2000, p. 125-126).
Esse autor afirma enfaticamente que:
O sucesso dessa operação dilacerante, no entanto, foi
conseqüência da profunda convicção de amplos estratos da
população, inclusive os próprios trabalhadores, de que o
sistema que pretendia auxiliá-los, na aparência, estava de fato
espoliando-os, e que o “direito de viver” era uma enfermidade
que os levaria à morte. (POLANYI, 2000, p. 126).
Na visão de Polanyi a nova Lei dos Pobres de 1834 foi uma exigência do
capitalismo que impôs a revogação do sistema de Speenhamland, pois este
servia aos interesses da Inglaterra rural e também “[...] a população
trabalhadora em geral, contra o funcionamento total do mecanismo de
mercado”. O autor ressalta que, quando a Speenhamland foi revogada “[...]
grandes massas da população trabalhadora pareciam mais espectros de um
pesadelo do que seres humanos”, pois fisicamente estavam definhados e
desumanizados. Entretanto, por outro lado, “[...] as classes dominantes
estavam moralmente degradadas”. (POLANYI, 2000, p. 126-127).
Esta nova realidade consistiu na imposição do mecanismo de mercado.
O trabalho humano – para Polanyi – foi transformado em mercadoria, enquanto
que “[...] o paternalismo reacionário tentara em vão resistir a essa necessidade.
Fugindo aos horrores da Speenhamland, os homens correram cegamente para
o abrigo de uma utópica economia de mercado”. (POLANYI, 2000, p. 127).
ATIVIDADES
1- Leia o livro Oliver Twist, tradução de Machado de Assis e Ricardo Lísias, 1ª.
Ed., São Paulo Hedra, 2002 indicado no Veja Mais.
2- Assista o filme Oliver Twist, o mesmo é baseado no VEJA MAIS
romance de Charles Dickens que trata o fenômeno da
delinquência provocada pelas condições precárias da
sociedade inglesa no meado do século XIX. Filme Olver
Twist (duração
3- Após assistir o filme descreva a situação do personagem 1:31:30)
principal e demais quatro personagens que lhe chamou sua http://www.youtube.co
atenção. Em sua descrição destaque os aspectos sociais, m/watch?v=NJ2DQFFj
--0
econômicos de cada um e as perspectivas que tinham de
mudar a situação em que se encontravam na sociedade. O clássico da literatura
escrito por Charles
4- Durante o enredo do filme como se apresentam as ações Dickens ganha aqui
uma versão produzida
das instituições para o bem estar dos seres humanos? para televisão. A
Comente as ações e quem eram os representantes das história é situada na
Inglaterra do século
mesmas.
19, quando o jovem
Oliver Twist se vê
sozinho nas ruas de
Londres. Envolvido por
6. Os trabalhadores do campo no período da um bando de patifes e
ladrões, é preso por
Revolução Industrial
um crime que não
cometeu. Agora ele
precisa provar sua
inocência, escapar da
gangue, e achar a
família que sempre
desejou.
Acesso ao
livro Oliver Twist em
pdf
http://machado.mec.go
v.br/images/stories/pdf/
Figura 8 ilustrações: Cristiano Rosa
traducao/matr03.pdf
No século XIX, na Inglaterra, ainda havia
camponeses que viviam arando o solo, pois tinham um
pequeno “pedaço de terra para uso próprio”, porém, quando
os políticos e panfletários se referiam ao campesinato, tratava-se dos
“trabalhadores assalariados agrícolas” (HOBSBAWM, 1982, p. 25).
Thompson (1987) destaca que, entre 1790 e 1830, os trabalhadores
agrícolas se constituem no maior grupo entre todos os trabalhadores. Esse
autor salienta que é necessário considerarmos no mínimo quatro formas
distintas entre patrões e empregados:
Thompson salienta que acima de tudo está o efeito das Leis dos Pobres,
antes e depois de 1834, pois “[...] a ocorrência das diferentes injustiças podia
ser considerada de uma forma completamente distinta em diferentes épocas e
depois de 1834”. De fato, em algumas regiões a forma de pagamento podia até
indicar uma melhoria no padrão de vida, mas, de fato, geralmente, “‘[...] temos
de encarar essas concessões como ‘um sutil eufemismo para os baixos
pagamentos na agricultura’ – uma forma de manter os salários baixos ou, em
casos extremos, de eliminar totalmente o salário em moeda”. (THOMPSON,
1987, p. 43-44).
Thompson destaca o fato dos processos que estavam transcorrendo em
diversas partes do país se constituir num emaranhado de evidências
conflitantes, pois o desenvolvimento agrícola no século XVIII não tinha nenhum
desejo altruístico ou humanista de eliminar as terras improdutivas, muito menos
os pressupostos contidos na entediante frase de – “alimentar uma população
em crescimento”. O objeto era aumentar os rendimentos e os lucros. O fato é,
que a prática fundada nos argumentos de aumentar as rendas e a
produtividade da terra, fez com que “[...] de uma vila a outra, o cercamento
avançava, destruindo a economia de subsistência dos pobres que já era
precária”. Diante do violento processo dos cercamentos o indivíduo que não
conseguisse provar ter direitos legais sobre a terra, não recebia compensação.
Enquanto que “[...] aquele que conseguisse prová-los, recebia um pedaço de
terra impróprio, para prover a sua subsistência, sendo obrigado a arcar com
uma parcela desproporcional nos altos custos do cercamento”. Nesse sentido,
Thompson crava a seguinte sentença: “[...] os cercamentos [...] representaram
claramente um caso de roubo de classe, cometido de acordo com as
regulamentações sobre a propriedade baixadas por um Parlamento de
proprietários de advogados”. Tratava-se de uma “[...] redefinição da natureza
da propriedade agrária”. (THOMPSON, 1987, p. 44-45).
A organização nos moldes da organização da propriedade capitalista
significou uma “[...] ruptura na estrutura tradicional dos costumes e dos direitos
dos aldeões”. Isto implicou numa contundente violência contra os camponeses.
Thompson descreve a situação da violência do seguinte modo:
De fato, esse direito senhorial nada tinha de exclusivo: assim como nas terras do
open Field o senhor como que cedera uma parte de seus direitos territoriais aos
camponeses livres, também concedeu-lhes o usufruto dos bens dos bens ditos
comuns. Mas, no common, acontecia o mesmo que no open Field: terminada a
colheita, não eram todos os habitantes que podiam levar seus rebanhos ao campo
ceifado, mas apenas aqueles que tinham um ou vários lotes de terra na paróquia.
Após terem juntos cultivado o solo, eles o utilizavam juntos, como um pasto
comum: era a consequência natural da aliança, da associação costumeira que os
unia. O common estava submetido ao mesmo regime: ele era comum, não a
todos os proprietários. Apesar da aparência, não era terra livre, cujo uso não
estava submetido a restrição alguma: o acesso a ela era permitido em função de
títulos, e na proporção desses títulos. (MANTOUX, s/d, p. 136).
O direito de cada um era determinado de acordo com o tamanho da
propriedade, quanto mais lotes (parcelas) o camponês tivesse no open Field
(campo aberto), mais animais podia enviar à terra comum. Portanto, fica
evidente que “[...] o usufruto dessa terra chamada comum não somente não
cabia a todos, mas era destinado a cada um na proporção daquilo que já
possuía”. Desse modo, a verdade é que “[...] nada poderia estar mais distante
de uma igualdade ideal, cujo modelo deve ser buscado, não num passado mal
estudado ou mal compreendido, mas na especulação racional que, ajudada
pela experiência, prepara o futuro”. (MANTOUX, s/d, p. 137).
A posição de Mantoux sobre as terras comuns é expressa da seguinte
forma:
Por pouco igualitário que fosse o regime das terras comuns inglesas, ele oferecia
vantagens reais à população pobre. Independentemente dos direitos
proporcionais à superfície ou ao valor das propriedades, às vezes existiam outros
direitos, que eram os mesmos para todos os habitantes da paróquia. Em certos
distritos, qualquer família que ocupasse uma casa podia levar a pastar dois ou
três animais na terra comum: faculdade preciosa para quem toda fortuna se
resumia a uma vaca, algumas aves, um porco que se matava à aproximação do
inverno. E quando não era um direito reconhecido, o costume interferia, costume
sempre mais flexível e, em geral, mais humano do que as leis. Uma antiga
tolerância permitia a quase todos os camponeses da Inglaterra usufruir, ás vezes
em grande medida, o bem comum. As mulheres recolhiam lenha para
aquecimento. Em certas localidades do Yorkshire, era na terra comum que os
tecelões pobres estendiam suas peças de tecido, após o branqueamento ou a
tintura. Enfim, abrigos, cabanas, habitações humildes nela se erguiam: as terras
baldias tinham muito pouco valor para que se impedisse que alguns pobres nela
se instalassem e vivessem. Sem nenhum direito reconhecido, mas por uma
espécie de permissão tácita, multiplicavam-se as choças, construídas com
materiais leves retirados do próprio common: os cottagers e os squatters eram
muitos, e aquilo que lhes permitiam retirar naquele domínio que não lhes
pertencia, trazia algum alívio à sua vida rude e precária de assalariados rurais.
(MANTOUX, s/d, p. 137-138).
Não a imagem sonhada pelos poetas, As suas entranhas são de fogo vivo
escravos brancos.
Nas suas orelhas, os suspiros e gritos Está destinado por ele a perecer.
Vapor
VEJA MAIS
6- Após assistir dois episódios da série The
Mill, relate como a série retratava a vida dos
operários.
http://www.seriesvideobb.com/2013/08/as
sistir-the-mill-1-temporada-online.html
7- Em grupo, produza uma peça teatral para encenar em sala, retratando a vida
dos operários nas fábricas ou nas cidades industriais.
REFERÊNCIAS
MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Vol. I e II, col. “Os
Economistas”, 3. Ed. São Paulo: Nova Cultural 1988.