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Universidade de Brasília

Faculdade de Direito
Filosofia do Direito
Docente: Otávio Souza e Rocha Dias Maciel
Discente: Pedro Henrique Marinho Carvalho
Artigo Final da disciplina Filosofia do Direito

O violento fundamento performativo da lei como


sustentáculo à manutenção do direito no estado
total policialesco.
Interconexões e contraposições entre o conceito de justiça de Derrida e o conceito de
Estado totalitário de Hannah Arendt.

Resumo:

O objetivo do presente artigo é alcançar uma compreensão do fundamento


das leis, utilizada pelo filósofo franco-argelino Jacques Derrida na obra Força de Lei,
como originada a partir de um ato de violência. A partir dessa premissa, procurei
apresentar interconexões e até mesmo, contraposições entre esse fundamento autoritário,
com a manutenção de um Estado Totalitário policialesca nos moldes arenditianos. Para
cumprir essa tarefa, primeiramente apresenta-se o contexto em que surge o conceito do
fundamento performativo da lei de Derrida, ao mesmo tempo em que são introduzidos os
conceitos arenditianos acerca da violência estatal. A violência criadora mantida pela
violência. Deste modo, resta claro ao fim da obra que as leis – ou o direito - não possuem
seu fundamento na justiça, mas que ele se funda sobre ele mesmo a partir de uma
violência performativa que está presente desde o primeiro instante de formulação da lei,
sendo mantido pela violência estatal e seu corpo policial e burocrático.

Palavras Chave: Violência – fundamento performativo – Derrida – criação das leis –


Estado totalitário – banalidade do mal – Hannah Are
Introdução

O Filósofo Franco argelino Jacques Derrida, postula que “se a justiça não
é necessariamente o direito ou a lei, ela só pode tornar-se justiça, por direito ou em
direito, quando detém a força, ou antes, quando recorre à força desde seu primeiro
instante, sua primeira palavra”. Deste modo, percebe-se que a força está na origem da
justiça, desde o princípio. Vale notar que desde o primeiro momento – o momento do
nascimento - a lei já possui a força que a faz ser lei. Assim, a justiça enquanto
exteriorizado mediante o direito positivado em nossas constituições, códigos e leis
extravagantes, só existe na medida em que se apropria da força desde o momento criador,
ou, o instante em que, se edificam o direito e a lei por meio da palavra inicial.

Derrida expressa esse pensamento, analisando o uso da palavra “justo”


que, num primeiro momento, se apresenta no sentido da justiça, ou em outras palavras, é
justo tudo aquilo que é seguido, assim, seguimos a justiça por que ela inerentemente é
justa. Mas há ainda um segundo sentido da palavra justa, sendo aquilo que nos é imposto
por meio do direito positivado estatal de maneira sempre violenta. Essa violência
encontra seu reduto no Estado Totalitário – regime de governo exaustivamente estudado
pela autora Judia Hannah Arendt.

Em relação a esse peculiar regime governamental, arendt delinea a


proxima e até mesmo a dependencia do totalitárismo com o conceito da banalização do
terror da manipulação das massas do acriticismo face à mensagem do poder. Por meio de
seus livros, compreende-se que Arendt postulava que seria plenamente possível servir-nos
do conceito de totalitarismo para explicar os problemas oriundos de um regime que
aniquilava o terreno da política e utilizava o terror como uma forma central do
relacionamento do Estado como seus cidadãos, a fim de manter um sistema de leis
originado de maneira autoritária, sem a participação efetiva da população.

Além disso, a autora procura demonstrar em seus escritos que o


totalitarismo era o feto de um século que tinha esquecido as velhas teorias políticas,
tornando obsoletos conceitos que antes orientavam os que se preocupavam em discutir e
trazer à tona as questões dos diferentes sistemas e regimes de governo, bem como suas
variadas formas. Uma nova barbárie havia sido gestada por um contexto político que
gerou um regime incomparavelmente mais cruel que aqueles conhecidos
tradicionalmente. É nesse contexto, que o direito gerado de forma violenta, encontra
terreno fecundo para prosperar e fincar suas raízes, legitimando-se mediante um discurso
banal de ódio.
A Violência fundadora

Derrida deixa transparecer em seus textos, bem como, em suas análises de


outros filósofos - notadamente do pensamento formulado por Pascal – o fato de que no
próprio momento fundador das leis, do direito – ou implicitamente: da justiça – faz-se
presente uma força performativa atrelada a uma força interpretadora. Importa salientar
que o termo performativo, ao qual o filósofo irá recorrer algumas vezes, diz respeito a
uma espécie de enunciado que fundamentalmente não pode ser nem verdadeiro nem
falso. Isto posto, quando utiliza a expressão força performativa, o filósofo refere-se a uma
força que está sendo exercida no momento criador, que está acontecendo quando é de fato
pronunciada e por isso essa força é também interpretadora.

Em relação à essência desses atos performativos, reputo útil transcrever o


que escreve John Langshaw Austin, em seu texto Performativo-constatativo:

O enunciado constativo tem, sob o nome de afirmação tão


querido dos filósofos, a propriedade de ser verdadeiro ou
falso. Ao contrário, o enunciado performativo não pode
jamais ser nem um nem outro: tem a sua própria função,
serve para realizar uma ação. (OTTONI, 1998, p. 111) .

Deste modo, segundo o entendimento trancrito acima, Austin admite duas


espécies de enunciados, os enunciados constativos ou constatativos e os enunciados
performativos. Assim, só interessa á compreensão deste artigo, os atos performativos, que
são aqueles que realizam uma ação ao serem enunciados. Nesse caso, são as palavras
corretas e no tempo certo que são responsáveis pela efetivação da ação. Assim, também
as leis podem ser consideradas como enunciados performativos; elas são impostas à
medida que se fazem leis e, naturalmente, desde o ato fundador a lei é, em sua essencia,
violenta.

O instante fundador da lei, que é aquele que “rasga por uma decisão”, que
altera e promove uma ruptura com a continuidade da história, é um momento
naturalmente violento, é o momento em que uma antiga ordem preestabelecida será
quebrada para que surja outra, nova e igualmente violente. Nessa direção, percebe-se que
existe uma violência fundadora no instante em que um novo direito se apresenta e finca
suas raízes no “fazer a lei”, e essa violência é “performativa” e “interpretativa”, o que
remete á ideia de que desde a primeira palavra, o primeiro instante, a lei se faz impor por
uma força violenta que lhe garante sua aplicação à esfera pública, bem como, á esfera
privada dos cidadãos. É importante destacar que em seu momento fundador, ou seja,
naquele em que a lei está sendo construída, haverá apenas a força e a lei nasce a partir da
força que é violenta.

O que é o justo?

De acordo com essa linha de raciocínio, não existiria justiça nem injustiça;
o momento fundador, este que é a ruptura do contínuo e circular movimento da história,
irá sempre e inevitavelmente depender dessa força violenta que é performativa e geradora
de um novo direito. Essa ideia de que no momento fundador da lei, e consequentemente
do direito, não há justiça nem injustiça, mas apenas a força, relembra o pensamento de
Pascal que, conforme vimos anteriormente, afirma que o justo é e sempre foi – e sempre
será ? - aquilo ou aquele que detém a força, “é justo que o que é mais forte seja seguido”.

Assim, o “justo” direito, se apresenta como aquele que possui força para
“fazer-se lei”. Ainda quanto à questão da violência fundadora das leis, Derrida irá
escrever que:

“Já que a origem da autoridade, fundação


ou fundamento, a instauração da lei não pode, por
definição, apoiar-se finalmente senão sobre elas mesmas,
elas mesmas são uma violência sem fundamento”
(DERRIDA, 2010, p. 26).

Conclui-se a partir dos conceitos apresentados que, não existe fundamento


para lei, senão a própria lei. O direito se funda no próprio direito. Deste modo, sua
autoridade se funda sob ela mesma, sem que sejam necessárias quaisquer elementos ou
condições que a estabeleçam prima facie. Ou seja, o fundamento da lei é a força
performativa, pois ela se pronuncia como habitual e estritamente necessária. Nesse
sentido, já que não há direito fundador do direito, ele será violento e sofrerá violência.

Já em relação ao pensamento da filósofa, ativista e escritora Hannah


Arendt, o direito e consequentemente a Justiça é sinônimo de legitimidade. Exatamente
por essa razão, ela irá – por meio de seus escritos e discursos – questionar a lei, os
princípios do direito, as normas jurídicas, e até mesmo a própria constituição, na medida
em que esta rege relações interpessoais, e é a norma de reconhecimento fundamental.

Nesse sentido, o conceito de Justiça para Hannah Arendt, é mais visível


nas relações de Direito Público, pois o caso concreto é sempre levado à avaliação de uma
autoridade pública, ou um de órgão público, respectivamente, juízes singulares e
Tribunais, esferas de pronúncia e afirmação da lei, igualmente imergidas em um contexto
violento de imposição mediante argumentos de autoridade. Investigando o problema mais
profundamente, a Justiça em Hannah Arendt, aparece um sentido equitativo.
Referida Autora, procura abordar o conceito das leis e da Justiça a partir
das experiências do Totalitarismo no Regime Nacional-Socialista Alemão (1933-1945),
que se utilizou do esvaziamento das normas legais, perpetuando o ordenamento jurídico
criado violentamente, impondo seu cumprimento mediante o “terror”.

Instância do “não-direito” no Estado Totalitário

O instante de fundação do direito representa a instauração de uma violência em face da


novidade, diante do não decifrável, tal como o “fundo místico” citado por Derrida no
texto “Do Direito à Justiça”. Essa violência “originária” obsta o curso natural do direito
vigente a fim de inaugurar coercivamente outro. O instante de fundação atua como um
“corte”, abrindo passagem para a instituição do novo.

Esse momento criador do direito é uma instância de não-direito. Derrida postula esse
evento peculiar e transformador, que pode ser observado inúmeras vezes ao longo da
história de todas as nações civilizadas, é:

“o momento em que a fundação do direito


fica suspensa no vazio ou em cima do
abismo, suspensa a um ato performativo
puro que não teria de prestar contas a
ninguém e diante de ninguém”.

Em princípio, o ato de instauração do direito faz-se mediante esse ato


performativo violento, o qual, em si mesmo, não é passível de predicação, nem mesmo de
julgamento de validade. O ato de fundação se concretiza num momento e num espaço de
absoluta indeterminação. Somente o direito vindouro poderá, retrospectivamente, conferir
legitimidade àquela violência reputada como original.

Em relação a essa instância violenta de não direito, indispensável à criação


do próprio direito, encontramos uma interconexão com os regimes totalitários da idade
moderna, na medida em que estes se aproveitariam dessa inconstância legal, para impor
seu modo peculiar de dominação. Segundo Hannah Arendt, nessa forma de dominação do
Estado totalitário não se observa um propósito ou uma meta fina, o que se objetiva é
incluir o maior número de pessoas possíveis. Vale a citação:

A tomada do poder através dos instrumentos de violência


nunca é um fim em si, mas apenas um meio para um fim, e
a tomada do poder em qualquer país é apenas uma etapa
transitória e nunca o fim do movimento. O fim prático do
movimento é amoldar à sua estrutura o maior número
possível de pessoas, acioná-las e mantê-las em ação; um
objetivo político que constitua a finalidade do movimento
totalitário simplesmente não existe.”

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