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O DIALETO VIRTUAL
Vejamos alguns casos de homonímias, colocados a seguir, que nos fazem pensar não em três formas,
mas em quatro. Observe estes exemplos:
Aqui, a única diferença está no fato de a.1 ser um “neologismo semântico” de a.2. Ambos são verbos,
identificam-se na forma gráfica, têm os mesmos fonemas, os mesmos grafemas, mas se realizam em
campos discursivos diferentes, com diferentes traços de significação. Isso implica dizer que o
semantema dessa palavra terá semas diferentes. Enquanto o sema do primeiro refere-se a banco de
dados eletrônicos e programas de computadores; o segundo, refere-se a mar e a navios. Essa sutil
modificação lingüística, capaz de postular uma nova palavra, é resultado de uma variação contextual.
São inovações lexicais que nos estudos semânticos foram denominadas de Neologismos Semânticos,
mas que não foram caracterizadas ainda nos estudos da palavra. Quando se fala da Significação das
Palavras, costuma-se mostrar quatro classificações que lhes são inerentes: o sinônimo, o antônimo,
os homônimos: homógrafos, homófonos e perfeitos, e os parônimos (CUNHA, 1985, p.96-97.). Mas,
os lexemas, classificados acima como neologismos semânticos, não se enquadram em nenhuma
dessas classificações. São palavras que apresentam como característica o fato de terem valores
sêmicos diferentes, embora tenham a mesma forma, a mesma classificação gramatical, os mesmos
fonemas e os mesmos grafemas.
Esses lexemas que tomam vida própria, ao serem atualizados na fala por um sema inédito, atestam a
existência de forma que deveriam receber uma abordagem no âmbito da gramática. Mas, como esses
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Observe as comparações entre o lexema “rodar” (um programa) do “campo lexical” (VALENTE, 2000,
p. 58.) da informática e do processamento de dados e rodar (percorrer). Entre eles, pode-se dizer
que:
c. não são homônimos homógrafos, porque têm a mesma grafia, mas não
têm vogais com intensidades diferentes;
d. não são homônimos homófonos, porque são iguais na pronúncia, mas não
têm grafias diferentes;
O mesmo se aplica a:
Além dessas palavras, há ainda outros neologismos semânticos como rede, aplicativos, atalhos, rodar,
baixar e carregar, etc, produtivos no campo discursivo da Informática. Alguns até já incluídos em
dicionário, como rede. Mas não prosseguiremos com a abordagem desses virtuônimos, que deverão
ser objeto de outra pesquisa, porque ultrapassam os limites desta Monografia.
A DIALÉTICA EM “ESCANER”
Neste tópico, parece conveniente salientar uma questão lingüística que também repousa sobre os
estudos dos estrangeirismos de informática: a dialética que surge em face da invariabilidade do
sistema diante de uma convivência contínua com o universo mutável do idioma - um subsistema de
unidades sintópicas, sinstráticas e sinfásicas (CARLOTA FERREIRA, 1994, p. 12.) que expõe uma
complexidade de variações que lhes são pertinentes. Essa dialética coloca em evidência a teoria
triádica de Eugênio Coseriu: sistema - norma - fala, porque quando se pensa no idioma, pensa-se na
língua viva, na língua que está em transformação em todos os cantos e em todos os lugares de uma
comunidade de falantes; mas pensa-se, por conseguinte, na fala ou nos falares... que constituem
modos variáveis de realização da norma, que por sua vez é a contextualização dos elementos
pertinentes e não-pertinentes do sistema por uma comunidade. Isso faz supor que há um núcleo
incorruptível, uma semente ou embrião idiomático, que não admite mudanças e que é, sobretudo,
necessária - o sistema, a língua. A dialética que se constrói é exatamente sobre esse fato. A
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Professora Doutora em Letras, Maria Luiza de Carvalho Armando, denomina essa estrutura do sistema
lingüístico de "núcleo básico" e considera que é a partir dela que se pode pensar em uma língua
portuguesa fundamental.
Se por um lado, essa “semente ou embrião idiomático” representa a língua incorruptível, imutável e
estática, por ser um depositório de normas, convenções, acordos e sistematizações puramente
prescritivas; por outro, ela permite a produtividade lingüística com elementos que prioritariamente
não têm legitimidade no sistema, sendo, portanto, flexível e espontânea, como o caso, que veremos a
seguir, do vocábulo scanner que, mesmo sendo do inglês, acabou se tornando produtivo no português
atual, por meio da norma e da fala, que são genuinamente germes de criação.
A questão, portanto, que se coloca é que, enquanto esse “embrião idiomático” é imutável, arbitrário,
restrito e estático; os germes de criação são flexíveis, ilimitados e espontâneos. Assim, o fato
lingüístico torna-se a expressão do estável diante do mutável. Do arbitrário diante do flexível e
formal. Essa Dialética sinaliza seus princípios no caso dos aportuguesamentos. O que não se entende
como condenável, mas que se constata.
Ao se aportuguesar o estrangeirismo scanner, para escaner (s.), criamos também escanear (v.) e nos
deparamos com uma questão morfológica bastante complicada: essas palavras são palavras
vernáculas ou são empréstimos? Se por um lado, podemos considerá-las como vernáculas, por terem
sido resultado de uma RFP (Regra de Formação de Palavras), em que se produziu um substantivo por
derivação prefixal (em escaner), acrescentando como elemento mórfico o prefixo -e, que significa
“movimento para fora” (AZEREDO, 2001, p. 85.); e, se derivamos de “escaner” um verbo por
processo da derivação parassintética (escanear), com o acréscimo, simultâneo, do prefixo -e, que, ai,
se realiza como sendo a vogal alofônica /I/, posicionada antes do radical da forma primitiva -scanne,
e da terminação -ar, que se põe depois, e é formada pela vogal temática -a-, representativa dos
verbos da 1ª conjugação e pelo sufixo -r, que define o infinitivo impessoal - esse processo, no
entanto, deu-se sem a anuência do sistema, porque a regra só prevê formação de palavras com
vocábulos vernáculos e o radical -scane não o é, como já foi dito.
Mas a existência dos lexemas “escaner” e “escanear” parecem afetar mais a taxionomia dos fatos
lingüísticos que a própria língua. Na verdade, a existência de palavras que migram de uma língua para
outra já é um fato incontestável, como mostrou o ensaísta Sérgio Corrêa da Costa, em seu livro
Palavras sem fronteiras (COSTA, 2000.). Esse autor relaciona umas 3000 palavras que aparecem em
textos de diversas línguas, sempre se mantendo a forma e o significado originais. Isso significa dizer
que o vocábulo -scane pode se justificar no seio do idioma como uma forma ambulante, peregrina.
Admitindo-se, portanto, que é legítima a existência de -scane, fica então indefinido pelas gramáticas
atuais o processo que a teria forjado. Talvez se pudesse pensar em compostos híbridos ou em
eruditos. Aqueles que (embora sem o consenso de muitos gramáticos) formam-se
Nenhuma dessas definições se ajusta à forma escaner, por dois motivos: primeiro porque apenas um
dos seus elementos é de outra língua - do inglês; depois, porque o cerne da composição é a
combinação de radical + radical e em escaner tem-se a combinação de prefixo + radical. A
desarmonia dessa criação talvez tenha um motivo: trata-se de uma forma que não é um hibridismo,
porque não encontra uma justificativa especificamente diacrônica. Também não é uma forma
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vernácula, porque o lexema ‘scane’ não pertence ao inventário atual do português. Tem-se, aí, uma
formação atípica com formas que viriam a representar as duas dimensões da língua: a diacronia e a
sincronia, simultaneamente. Para evitar essa incongruidade, ficamos com o conceito do Professor
Horácio Rolim de Freitas:
AOS ESTRANGEIRISMOS
É notário observar na maioria das gramáticas a ausência de um capítulo que trate, exclusivamente,
das inovações léxicas oriundas de empréstimos externos: os estrangeirismos. Se, hoje, o falante
brasileiro recorresse a uma gramática, buscando orientações de como se orientar diante de
estrangeirismo como download, muito provavelmente ficaria sem respostas. Segundo Nelly de
Carvalho, uma das justificativas para a exclusão desses tipos de empréstimos da gramática é a de que
os “gramáticos consideram a língua uma água límpida que não pode ser contaminada. Por isso, em
nome do purismo, não aceitavam os empréstimos”, mas salienta essa autora que uma “água parada,
mesmo límpida, estagna e apodrece” (CARVALHO, 1984, p. 58-59.).
Um dicionário como o Michaelis on-line, por exemplo, apresenta certos descuidos: ao mesmo tempo
em que não aportuguesa Internet, mas dá-lhe um significado ou mesmo atribui uma definição a
browse, não comenta neologismos semânticos como “navegar”. Em alguns casos, dá a origem
incorreta dos estrangeirismos. Deletar, por exemplo, é dado como palavra importada do inglês,
quando na verdade, o inglês a tomou emprestado do latim.
Quanto ao fato dos estrangeirismos não serem comentados pelos gramáticos, é interessante observar
que, no âmbito da formação vocabular portuguesa, os neologismos semânticos e, principalmente, os
sintáticos decorrentes de influência estrangeira têm dado uma ampla contribuição à língua, porque
põem o sistema a produzir. Essa idéia, no entanto, não justifica o emprego de estrangeirismos, mas
mostra que devemos questiona-los com isenção.
Quando se coloca a questão do uso de estrangeirismos e, como neste estudo, mais especificamente a
das lexias recentes e inovadoras de informática, logo se percebe que se tratam de unidades ligadas à
tecnologia da informação e à especialidade do universo eletrônico do processamento de dados. Mas
não são formas alheias. Fazem parte de um discurso (mesmo como lexias estrangeiras) que se
manifesta no bojo de um Plurilingüismo, no dizer de Mikhail Bakhtin (1988, p. 74.). E embora os
termos da informática e do processamento de dados constituam índices particulares, ou seja, signos
que compõem uma linguagem específica - um dialeto, denominado nesta pesquisa de Dialeto Virtual -
vale lembrar as considerações do autor acima sobre a estratificação profissional da língua. Segundo
ele,
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Estando, portanto, num ambiente pluridiscursivo, esse Dialeto Virtual além de “espoliar as
possibilidades intencionais da língua por intermédio de sua realização concreta específica (...),
sobrecarregando suas palavras e formas com suas próprias intenções e acentos típicos” (Idem, p.
74.), passou a contagiar os discursos dos falantes e a ser expressivo também em outros estilos fora
de seu contexto.
Mas a maior parte dos falantes brasileiros, embora aprove essas inovações lingüísticas, não concorda
em utilizar formas vocabulares, com grafias e fonemas incompreensíveis e desconhecidos da fala do
cotidiano e do padrão lingüístico. Muitos perguntam por que esses vocábulos não são aportuguesados.
É o que se nota, por exemplo, nas Tabelas nº 2 e 5, representativas de um questionário aplicado em
uma escola pública e em uma particular: 40% dos alunos-informantes acham que os estrangeirismos
de informática são estranhos. Para 25% dos alunos da escola pública, esses estrangeirismos devem
ser aportuguesados. Na escola particular esse percentual é de 47%. Portanto, parece natural ao
falante o fato de se aportuguesar um estrangeirismo, porque pensam no português como uma língua
de 1.000 anos, com princípios, categorias e propriedades elaboradas ao longo da sua tradição
histórica. Embora, ainda não o tenha, o Português, em sua trajetória histórica, desde o português
arcaico do século XII, com as Cantigas de Amigo, de Amor e de Escárnio e o Testamento de Afonso II
(SILVA, 1996, p. 33.), um documento do terceiro rei de Portugal, datado indiscutivelmente em 1214,
acrescentou ao seu vocabulário as mais diversas procedências etimológicas, que incluíram desde o
latim popular, o árabe, o grego e o francês até o malaio, o persa e o tupi, entre outras. Em cada
tempo histórico, o português foi elaborando seus padrões lingüísticos próprios, fundamentados na
analogia das maneiras e dos hábitos que falantes portugueses haviam desenvolvido em outros
tempos.
Portanto, não é difícil supor que há normas para que uma determinada palavra se inclua ao léxico
português. No entanto, quando se põe a procurar essas normas, vê-se que elas existem no âmbito
dos estudos lingüísticos, principalmente, da Fonética e da Fonologia, mas não se acham relacionadas
a serviço de uma teoria do aportuguesamento. A maioria dos estudiosos, dentre esses, os
lexicógrafos, lingüistas e gramáticos, limita-se a seguir a tradição lingüística, o processo diacrônico da
língua, e a observar como se deu a passagem para o português dessa ou daquela palavra. Diante do
registro da transformação vocabular, estabelecem uma analogia. Mas não seguem nenhum critério.
Não se deve descuidar de que em nenhum momento histórico do Português, desde o Português
arcaico, a língua se viu tão cercada de estrangeirismos. Nenhum outro momento exigiu tamanha
atenção aos empréstimos lingüísticos. No século XVI, durante o Renascimento, ele foi bombardeado
pelo italiano; no século XVII, foi a vez dos galicismos. Mas, nessas épocas como em outras, a
sociedade seguia a passos mais lentos. Uma palavra circulava com mais dificuldade, penetrava com
menos intensidade e até fazer parte do hábito dos falantes, decorria décadas inteiras. O processo
social permitia à linguagem analisar, escolher e assimilar os étimos estranhos. Hoje, não parece haver
tempo para identificar escolhas etimológicas. Se uma palavra estrangeira é necessária ao comércio,
ao progresso tecnológico ou ao avanço cultural, os meios de comunicação em apenas alguns dias ou
meses sedimentam essa palavra na linguagem do dia-a-dia, tanto na linguagem escrita quanto na
oral.
Assim, diferentemente do passado, quando não se justificava um estudo criterioso sobre as formas de
aportuguesamento, hoje parece haver uma necessidade disso, principalmente, quando se observa que
colocamos em nosso universo lingüístico, com caráter permanente e definitivo, palavras como site,
que não representam nenhuma forma de evolução da nossa fonética ou fonologia. O uso de formas
como essa mostra que temos abandonado a capacidade produtiva da nossa língua e os processos de
formação de palavras que refletem a articulação dos portadores de significado gramatical - os
prefixos, sufixos e lexemas - e constituem o inventário fechado da língua (ROSA, 2000, p. 102-103.).
Nesse sentido, esses empréstimos lingüísticos podem até estar tomando o lugar da própria língua!
Será que o nosso idioma contentar-se-á com essa marginalização? Será que ao negligenciarmos os
processos produtivos da língua não estaremos perdendo nosso idioma? Também, por outro lado, será
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necessário a ele um padrão rígido e sofisticado de produção lingüística? Parece que nem uma coisa
nem outra. Mas parece irrefutável que o idioma precise ser valorizado pelos seus falantes. (...)
A ASSIMILAÇÃO
Um estrangeirismo depois de ser ratificado no uso corrente de uma comunidade de falantes e ser
aceito no idioma importador, deve ainda submeter-se ao sistema dessa língua, para que venha
representar enriquecimento do léxico. E nesse caso, primeiramente, deve acomodar-se às leis
lingüística da língua que o recebe: ao seu sistema ortográfico e fonológico e à sua ortoépia. Isso, no
entanto, não parece ser o que ocorre nos dias atuais com os Estrangeirismos de Informática. Quando
pronunciamos [saite] e escrevemos site, estamos representando a pronúncia /ai/ por i. Ocorre que
esse som /ai/ caracteriza um ditongo e em português, não há ditongo representado por um único
grafema. Além disso, nesse sentido, fica evidente uma inconsistência entre o grafema representado
pela letra “i” e a pronúncia em português. Segundo Ricardo Shütz (Disponível na Internet, URL:
http://www.english.sk.com.br/sk-grint.html.), esse tipo de irregularidade já é notória no inglês. Como
exemplo, cita o fato da grafia representada pela letra “i” ter seis fonemas diferentes, entre os quais,
encontra-se:
Vimos acima que a língua inglesa já começa a dar mostra de que seu sistema lingüístico apresenta
irregularidades acima de uma margem aceitável. Todo sistema lingüístico funciona dentro de um
padrão de coerência e regularidade, sustentado pela norma, por isso tem a conceituação de sistema.
Ao se afastar desse padrão de coerência, extingue-se a possibilidade dos processos lingüísticos
manterem-se funcionais. O português já vem apresentando irregularidades não resolvidas já de longa
data, como a questão das consoantes posvocálicas que travam a sílaba, ao se realizarem por meio de
uma redução do som da vogal. Essas consoantes, como salientou Mattoso (1995, p. 56.),
normalmente de origem “erudita”, mostram ser exemplos da enorme tolerância lingüística do falante
do português, principalmente, do falante brasileiro. São formas, vindas por empréstimo do Latim ou
do Grego, que se permitiram fixar sem nenhuma atenção às peculiaridades idiomáticas. Foram,
portanto, mal aportuguesadas e não justificam o processo fonológico da epêntese nem em apto nem
na recente software, por exemplo. São tipos de neutralização da pronúncia da vogal postônica - nos
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casos acima, engendrando sílaba no segundo segmento vocálico - que denotam representação
artificial do sistema vocálico no seio da vitalidade do português contemporâneo. Essa nuance
fonológica, pertinente ao sistema do Latim, passou despercebida na passagem dessas palavras para o
Português, mas devem ser mais bem contempladas a partir de agora. Se possível, devem ser até
evitadas. No momento em que abandono os recursos lingüísticos disponíveis no sistema da língua
portuguesa, para privilegiar empréstimos mal elaborados de língua estrangeira, com a justificativa de
que são palavras mais representativas, aguçadas ou necessárias, deixo de possibilitar que o português
evolua. Qualquer evolução lingüística estabelece a partir da norma. Se esse nível da linguagem não
for exercitado, tende não apenas a limitar a criação vernácula, mas, sobretudo, a ampliar o lugar dos
desvios a ela.
Alguns poderão argumentar que a norma é inflexível, mas o sistema lingüístico precisa de um âmago
incorruptível. O lugar das irregularidades é o idioma. Nele se aceitam as variantes. Deixar de perceber
isso, compromete a língua. Obviamente essas duas considerações supõem uma dialética, mas a
unidade lingüística é resultado desse contra-senso: ela precisa do sistema tanto quanto precisa ser
produtiva e estar a serviço do falante.
O ESTÁGIO LINGÜÍSTICO
1 - a do estrangeirismo;
2 - a da vocabularização;
3 - a idiomática; e
4 - a da dicionarização.
A fase do estrangeirismo é aquela em que a lexia importada é uma forma estrangeira e, portanto, um
estrangeirismo. Nessa fase, a lexia é ainda desconhecida da maioria dos falantes, embora já possa ser
encontrada em artigos especializados de livros, revistas e jornais. Apresenta-se estranha ao sistema,
com grafemas, semas e fones conhecidos apenas pelo sujeito-falante, conhecedor de determinada
área do conhecimento. É o caso, atualmente, de download, os semas que representam essa forma
ainda não foram apreendidos por um universo representativo de falantes; num segundo estágio, ainda
como estrangeirismo, é vocabularizada, ou seja, é incluída no Vocabulário Ortográfico Brasileiro, sob a
égide da Academia Brasileira de Letras; num terceiro estágio (idiomático), é incorporada ao idioma,
sendo atualizada na fala oral e escrita do brasileiro, passando a ser utilizada em todos os meios de
comunicação e aparecendo nos jornais de grande circulação do país, nas músicas e até mesmo em
livros literários e científicos; num quarto estágio - da dicionarização -, essa forma aparece num
número elevado de registros da comunicação, mostrando ser uma lexia comum à fala corrente.
Começa a ser discutida e até analisada pela comunidade que detém o conhecimento formal da língua.
Nesse momento, sendo representada por um universo percentualmente significativo de falantes,
recebe a chancela dos lexicógrafos e é, então, dicionarizada. Mas, a dicionarização de uma forma
estrangeira não significa o seu aportuguesamento. Há muitos estrangeirismos de informática que
foram registrados no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa de 1997 com a grafia de sua
língua original, como é o caso, por exemplo, de buffer, on-line e hardware.
Durante essas fases, a forma estrangeira é submetida aos volteios do vernáculo e o sujeito
assimilador vai definindo em sua fala quais as nuances fonéticas e fonológicas devem ser conservadas
na interação comunicativa. Quando não se processa a adaptação ao sistema lingüística importador
(como é o caso, atualmente, da palavra hardware), a lexia estrangeira é denominada de xenismo, o
que não a descaracteriza como um estrangeirismo apenas a diferencia. Nota-se também durantes
essas fases o registro dessas formas em documentos públicos administrativos (Portarias,
Memorandos, etc.), jornais, revistas, propagandas, folhetos, placas, cartazes, letreiros e sinais.
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Mas, o tempo para a adaptação lingüística acontecer é impreciso. A necessidade será uma das
variáveis mais contundentes para definir a permanência ou a exclusão de uma forma estrangeira.
Quando essa forma for comum e necessária, tanto na linguagem escrita quanto na oral, então se
processará a naturalização lingüística do estrangeirismo. Para isso, esse estrangeirismo deverá ser
incorporado ao sistema lingüístico do português, sujeitando-se aos processos fonológicos. (CALLOU e
LEITE, 2000, p. 43.)
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