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PONTUAÇÃO

CONTEÚDOS

 Ponto final
 Vírgula
 Dois pontos
 Ponto de interrogação
 Ponto de exclamação
 Parênteses
 Aspas
 Travessão
 Reticências

AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS

De maneira geral, pontuação são os sinais que utilizamos, na escrita, para representar
as pausas e as entonações da língua falada. Sem pontuação adequada, um texto pode
parecer um emaranhado de palavras sem sentido, dando margem a várias
interpretações ou podendo, até mesmo, tornar-se incompreensível.

Mas nem sempre foi assim, muitos estudos dizem, que até o século IV a escrita era uma
bagunça.

Como surgiram os principais sinais de pontuação?

Foi um alívio. Até o século IV os textos eram escritos sem pontuação. “Tinham que ser
interpretados”, conta o linguista Flávio Di Giorgi, da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Não era fácil. No Oráculo de Delfos (século VII a.C.), um dos lugares da
Antiguidade em que se faziam profecias consideradas divinas, ainda está escrito (em
grego): “Ides voltarás não morrerás na guerra.” Quem lê entende que irá para a guerra
e voltará a salvo. Era o contrário. Na verdade, queria dizer, se as vírgulas existissem:
“ides, voltarás não (o “não” vem depois do verbo), morrerás na guerra.” Ou seja, vais
morrer.
Os primeiros sinais de pontuação surgiram no início do Império Bizantino (330 a 1453).
Mas sua função era diferente das atuais. O que hoje é o ponto final servia para separar
uma palavra da outra. Os espaços brancos entre palavras só apareceram no século VII,
na Europa. Foi quando o ponto passou a finalizar a frase. O ponto de interrogação é
uma invenção italiana, do século XIV. O de exclamação surgiu no século XIV. Os
gráficos italianos também inventaram a vírgula e o ponto e vírgula no século XV (este
último era usado pelos antigos gregos, muito antes disso, como sinal de interrogação).
Os dois pontos surgiram no século XVI. O mais tardio foi a aspa, que surgiu no século
XVII. Tudo foi ficando mais claro com o aumento da importância da escrita.
Revista Super Interessante

Figura 1- Oráculo de Delfos


Fonte: Shutterstock

Na escrita, alguns recursos da língua oral, como as pausas e a entonação são


representadas, mesmo que não perfeitamente, pelos sinais de pontuação, mantendo-
se assim, o sentido que se deseja dar às mensagens enviadas aos interlocutores.
Nos diálogos, a pontuação, além de organizar o texto, dá a sequência das falas e
permite que o leitor acompanhe o texto de maneira organizada.
Curiosidade

Leia o texto a seguir. Trata-se de um trecho da obra O Evangelho segundo Jesus


Cristo, de José Saramago:

“A mulher não respondeu logo, olhava-o, por sua vez, como se o avaliasse, a
pessoa que era, que de dinheiros bem se via que não estava provido o pobre moço,
e por fim disse, Guarda-me na tua lembrança, nada mais, e Jesus, Não esquecerei a
tua bondade, e depois, enchendo-se de ânimo, Nem te esquecerei a ti, Porquê, sorriu
a mulher, Porque és bela, Não me conheceste no tempo da minha beleza, Conheço-
te na beleza desta hora. O sorriso dela esmoreceu, extinguiu-se, Sabes quem sou, o
que faço, de que vivo, Sei, Não tiveste mais que olhar para mim e ficaste a saber tudo,
Não sei nada, Que sou prostituta, Isso sei, Que me deito com homens por dinheiro,
Sim, Então é o que eu digo, sabes tudo de mim, Sei só isso.”

Foi possível compreender o texto? Talvez você tenha sentido dificuldade. Mas isso
tem um motivo.
O escritor José Saramago, em sua maneira própria de escrever, extinguiu o uso do
travessão para identificar o interlocutor no diálogo. Nesse caso, para reconhecer os
emissores, somos ajudados pelo uso de vírgulas e pela letra maiúscula que inicia as
falas dos personagens. Além disso, o autor elimina, em alguns casos, o uso do ponto
final. Para alguns críticos literários, essa maneira de escrever é uma forma de
redescobrir a escrita.
Agora, leia como ficaria o texto, pontuado de acordo com as regras da língua
portuguesa.

“A mulher não respondeu logo, olhava-o, por sua vez, como se o avaliasse, a
pessoa que era, que de dinheiros bem se via que não estava provido o pobre moço,
e por fim disse:
− Guarda-me na tua lembrança, nada mais.
E Jesus:
− Não esquecerei a tua bondade.
E depois, enchendo-se de ânimo:
− Nem te esquecerei a ti.
− Porquê? sorriu a mulher.
− Porque és bela.
− Não me conheceste no tempo da minha beleza.
− Conheço-te na beleza desta hora.
O sorriso dela esmoreceu, extinguiu-se.
− Sabes quem sou, o que faço, de que vivo.
− Sei.
− Não tiveste mais que olhar para mim e ficaste a saber tudo.
− Não sei nada.
− Que sou prostituta.
− Isso sei.
− Que me deito com homens por dinheiro.
− Sim.
− Então é o que eu digo, sabes tudo de mim.
− Sei só isso.”

Regras de pontuação

Agora, vamos ao estudo das regras para a colocação dos sinais de pontuação.

Ponto final ( . )

O ponto indica o final de uma ideia contida numa oração ou período.


Sei pouco. Quero saber muito mais.

O ponto também é usado nas palavras abreviadas.


Etc.
V. Exa.
Sr.
Av.

Vírgula ( , )

A vírgula é utilizada para separar determinados termos de uma oração nos seguintes
casos:

 Em datas.
Salvador, 04 de junho de 1979.
 Em enumerações.
Ela está feliz, mais bonita, mais amiga das pessoas.

 Para intercalar algum termo que indique

 explicação, retificação ou conclusão:


A vida é prosa e poesia, ou melhor, é muito mais do que isso.

 circunstância de tempo, de modo, de intensidade, etc.:


Todos os dias, ela passa e observa, demoradamente, a vitrine da loja.

Em apostos e vocativos:
Pelé, o rei do futebol, nasceu em Minas Gerais.

aposto (explica o termo anterior)

Querida, venha ver.



vocativo (chamamento)

Atenção!

A vírgula nunca pode separar termos que mantenham uma relação de dependência
entre si. Sendo assim, não se separa o sujeito do seu predicado, o verbo do seu
objeto, etc.

Uso incorreto:
Pedro, enviou a correspondência.
As crianças, acordaram tarde.
O tempo todo, o casal de vizinhos, discute.

Uso correto:
Pedro enviou a correspondência.
As crianças acordaram tarde.
O tempo todo, o casal de vizinhos discute.
Ponto-e-vírgula ( ; )

Indica uma pausa maior que a vírgula e menor que o ponto. É usada para separar
orações muito longas ou alinhavar outras ideias.

No início, até tive um pouco de ciúme; depois, vi que era asneira.

Muitas pessoas compareceram; vários escritores estiveram presentes; todos


elogiaram muito meu livro.

Dois-pontos ( : )

Usam-se os dois-pontos para:

 Anunciar quem vai falar em um diálogo.


De repente, alguém bem próximo de nós, gritou:
– Tire as mãos do carro. (Walcyr Carrasco)

 Destacar uma enumeração que explica uma ideia anterior.


Anote o que precisamos comprar: frutas, pães, leite e muitas bebidas energéticas.

 Anunciar uma palavra ou expressão que esclarece, desenvolve uma ideia anterior.
Aqui nosso lema é: um por todos, todos por um.

 Anunciar uma citação, isto é, fazer uma referência a algo.


Um parágrafo da Constituição esclarece que: “Todos são iguais perante a lei...”.

Ponto de interrogação ( ? )

O ponto de interrogação é empregado para marcar o fim de frases interrogativas diretas


(perguntas).
Os alunos compreenderam todo o conteúdo?

Ponto de exclamação ( ! )

O ponto de exclamação indica surpresa, admiração, espanto.


Que bom que nos encontramos depois de tanto tempo!
Filho, por favor fica quieto!

Atenção!

O ponto de interrogação pode aparecer junto de um ponto de exclamação para sugerir


uma surpresa:

“ Ah, é a senhora?! Pois entre, a casa é sua...” (Antônio de Alcântara Machado)

Parênteses ( )

Os parênteses são usados para intercalar, num texto, uma informação ou explicação
secundária.

O Aedes Aegypti (mosquito transmissor da dengue) está sendo combatido de todas as


formas.

Aspas (“ ”)

São usadas para:

 Apresentar citações que pertencem a outros:


“Eta vida besta, meu Deus!” (Carlos Drummond de Andrade)

 Enfatizar ou ironizar uma palavra ou expressão, chamando mais a atenção sobre ela.
Com que dinheiro ele comprou o “tal carro”?

 Destacar palavras estrangeiras, termos de gíria, títulos de obras e filmes.


Assistimos a um “show” especial de Roberto Carlos.
Esta música é “da hora”.
A obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, ainda causa grandes discussões.
Travessão (  )

É usado para indicar a fala do personagem em um diálogo.

⎯ Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?


⎯ Ele disse que eram de adulto. De um anão.
⎯ De um anão? É mesmo, a gente vê que já estão formados... Mas que maravilha, é
raro à beça esqueleto de anão.
Lygia Fagundes Telles

Atenção!

O travessão pode ter a mesma função da vírgula, do ponto-e-vírgula e dos parênteses


quando empregado para isolar palavras ou frases.

É tão limpo, olha aí ⎯ admirou-se ela. Trouxe nas pontas dos dedos um pequeno
crânio de uma brancura de cal. ⎯ Tão perfeito, todos os dentinhos!
Lygia Fagundes Telles

Em algumas situações, pode também, ser usado para realçar uma conclusão e representar
a síntese do que se vinha dizendo.

Deixai-me chorar mais e beber mais,


Perseguir doidamente os meus ideais,
E ter fé e sonhar ⎯ encher a alma.
Camilo Pessanha

Reticências (...)

Usam-se reticências para:

 Interromper a sequência de uma ideia.


Às vezes, vejo você quieta pelos cantos, olhando longe...

 Revelar dúvida, surpresa, alegria etc., indicando uma pausa para o pensamento.
Você está mudando...

 Indicar, em uma citação, parte de um trecho de uma obra:


“...Um homem vai devagar
Um cachorro vai devagar...”
Carlos Drummond de Andrade

... mais expressividade ao texto

É comum vermos a pontuação utilizada de maneira a dar maior ênfase ao que se quer
expor, para mostrar grande surpresa, irritação, felicidade, questionamento, entre outros,
com a repetição de interrogações ou exclamações, como vemos em mensagens por e-
mail, por aplicativos de celular, em quadrinhos ou em charges:

Figura 2 – Charge Começam as campanhas eleitorais


Fonte: O tempo
ATIVIDADES

1. Leia o trecho do texto Quando a pontuação e a ordem decidem o sentido, de


Pasquale Cipro Neto:

Veja este caso: "Os deputados deixaram o plenário da Câmara irritados". Não
há obrigação de empregar nenhuma vírgula, já que os termos da frase estão dispostos
em ordem direta: sujeito ("os deputados"), verbo ("deixaram"), complemento do verbo
("o plenário da Câmara") e predicativo do sujeito ("irritados").
Agora, vamos fazer o termo "irritados" passear pela frase. Vamos de trás para a
frente. Podemos colocá-lo depois de "deixaram"? É claro que sim: "Os deputados
deixaram, irritados, o plenário da Câmara". Podemos colocá-lo depois de "Os
deputados"? Também é claro que sim: "Os deputados, irritados, deixaram o plenário da
Câmara". Falta começar a frase com o termo, o que também é possível: "Irritados, os
deputados deixaram o plenário da Câmara". Agora, caro leitor, eu lhe pergunto, como
quem não quer nada: que acarreta esse passeio? Nada? Ou tudo?

a) De acordo com o que é exposto no texto, a palavra irritados pode “passear” pela
frase, quer dizer, pode aparecer em diferentes lugares. Qual pontuação permite
que isso ocorra?
_______________________________________________________________

b) O trecho do texto foi encerrado com duas perguntas. Que pontuação permite
reconhecer isso?
_______________________________________________________________

c) Para responder essas perguntas, é preciso analisar a oração e verificar o sentido


que a palavra irritados tem em cada local em que aparece.
Que sinal de pontuação foi utilizado em cada uma das frases, para dar o sentido
que se queria? Explique seus sentidos em cada um dos casos:
I. Os deputados deixaram, irritados, o plenário da Câmara:
II. Os deputados, irritados, deixaram o plenário da Câmara:
III. Irritados, os deputados deixaram o plenário da Câmara:

_______________________________________________________________
2. ITA-SP
“Levantamento inédito com dados da Receita revela quantos são, quanto
ganham e no que trabalham os ricos que pagam impostos. [...].
Entre os nove que ganham mais de 10 milhões por ano, há cinco empresários,
dois empregados do setor privado, um que vive de rendas. O outro, quem diria, é
servidor público. ”
(Veja, 12/7/2000)

a) A ausência de vírgula no trecho em destaque, no primeiro parágrafo, afeta o


sentido? Justifique.
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________

b) Por que o emprego da vírgula é obrigatório no trecho em destaque, no segundo


parágrafo? O que ele permite inferir?
c) _______________________________________________________________
_______________________________________________________________

3. Leia o texto:

Cachorro “persegue” aeromoça na Argentina, é adotado e vai morar na Alemanha

Rubio mudou de vida…e de país. O cachorro, que até recentemente vivia nas
ruas de Buenos Aires, na Argentina, foi adotado e agora mora na Alemanha.
A história do cãozinho começou a mudar em janeiro, quando conheceu a
comissária de bordo Olivia Sievers. Segundo a ONG Mascotas Puerto Madero
Adopciones Responsables, foi amor à primeira vista.
O animal passou a esperar Sievers em frente ao hotel onde ela se hospeda
durante suas viagens. Ganhou carinho e comida, e a amizade entre eles cresceu.
Segundo a ONG, parecia que Rubio sabia quando a comissária chegava à
cidade. E ali estava ele perto do hotel. Quando Sievers partia, o cão também
desaparecia da região.
O cachorro chegou a ser levado a um lar temporário, mas havia um gato na
casa – e Rubio não gostou muito da companhia. Acabou escapando.
Quando Sievers retornou à cidade, reencontrou
o animal. Com auxílio da ONG, a comissária concretizou
o processo de adoção.
Rubio chegou à Alemanha no começo deste
mês, após 14 horas de voo.
A Mascotas Puerto Madero Adopciones
Responsables disse ao Bom Pra Cachorro que a
adaptação vai muito bem e que Rubio está feliz com a
nova família.
Fotos publicadas por Sievers e pela ONG
mostram o cão à vontade: sendo abraçado pela tutora,
brincando com outros cachorros, descansando dentro
de casa ou posando ao lado de flores. Figura 3 – Rubio em sua casa, na
Alemanha
Fonte: Bom pra cachorro
a) No título do texto a palavra persegue aparece
entre aspas. O que isso informa ao leitor?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________

b) Rubio mudou de vida…e de país. Explique a presença das reticências nessa


oração.
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_______________________________________________________________

c) No quinto parágrafo, o travessão indica


I. (___) um diálogo.
II. (___) um destaque a uma conclusão.

d) Assinale a(s) alternativa(s) correta(s) com relação ao último parágrafo do texto:


I. (___) O uso dos dois pontos indicou que na sequência há uma
enumeração explicativa.
II. (___) O uso dos dois pontos foi empregado para expor uma citação.
III. (___) As vírgulas que aparecem, separam uma enumeração explicativa.
IV. (___) As vírgulas foram utilizadas para isolar o vocativo.
4. Qual a diferença entre as orações:
Vocês estiveram juntos.
Vocês estiveram juntos?
Vocês estiveram juntos!
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

5. Um homem rico estava à beira da morte. Pediu papel e pena para escrever seu
testamento, mas morreu antes de fazer a pontuação. Ficou assim:

Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do
alfaiate nada ao povo

Havia quatro concorrentes à herança: o sobrinho, a irmã, o alfaiate, e o povo. De que


maneira cada um deveria colocar a pontuação no texto, para que ficasse com a fortuna
do homem?

Sobrinho:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

Irmã:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

Alfaiate:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

Povo:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
6. Um poeta tinha três namoradas: Soledade, Lia e Maria. Cada uma das três queria
saber a quem ele realmente amava. Ele, então, escreveu o poema:

Se consultar a razão
digo que amo Soledade
não Lia cuja beldade
ser humano não teria
não aspiro à mão de Maria
que não tem pouca beldade

De que maneira o poeta conseguiria agradar a cada uma delas usando apenas os sinais
de pontuação?

a) Soledade:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

b) Lia:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

c) Maria:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

7. A seguir, temos um trecho do conto A solução, de Clarice Lispector. Dele, foram


retiradas toda a pontuação.
Veja como seria complicado compreender seu sentido, por isso, após sua leitura,
pontue-o. Para facilitar, fique atento às palavras iniciadas em letra maiúscula.
Quando necessário, também crie parágrafos.

Foi exatamente durante o almoço que se deu o fato Almira continuava a querer
saber por que Alice viera atrasada e de olhos vermelhos Abatida Alice mal respondia
Almira comia com avidez e insistia com os olhos cheios de lágrimas Sua gorda disse
Alice de repente branca de raiva Você não pode me deixar em paz Almira engasgou-se
com a comida quis falar começou a gaguejar Dos lábios macios de Alice haviam saído
palavras que não conseguiam descer com a comida pela garganta de Almira G. de
Almeida Você é uma chata e uma intrometida rebentou de novo Alice Quer saber o que
houve não é Pois vou lhe contar sua chata é que Zequinha foi embora para Porto Alegre
e não vai mais voltar Agora está contente sua gorda Na verdade Almira parecia ter
engordado mais nos últimos momentos e com comida ainda parada na boca Foi então
que Almira começou a despertar E como se fosse uma magra pegou o garfo e enfiou-o
no pescoço de Alice O restaurante ao que se disse no jornal levantou-se como uma só
pessoa Mas a gorda mesmo depois de feito o gesto continuou sentada olhando para o
chão sem ao menos olhar o sangue da outra Alice foi ao Pronto-Socorro de onde saiu
com curativos e os olhos ainda arregalados de espanto Almira foi presa em flagrante

LEITURA COMPLEMENTAR

Observe o sentido que o poeta João Cabral de Melo Neto deu a seu poema intitulado
Questão de pontuação.

Questão de pontuação
Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);

viva em ponto de interrogação


(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):

o homem só não aceita do homem


que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive,
o inevitável ponto final.
MELO NETO, João Cabral de. Museu de tudo e depois.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 146.
Sobre o autor

João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife em 9 de janeiro de 1920. É considerado


um dos poetas mais influentes da segunda metade do século XX, com seu trabalho
definido entre a poesia romântica e a modernidade poética.
Era um poeta do interior, nunca se adaptou à cidade grande e à agitação urbana. Seus
poemas mostravam preocupação com a simetria poética e com a realidade social, em
particular com o Nordeste.
REFERÊNCIAS

COUTINHO, Isabel. Saramago, o escritor que brinca com a pontuação. Disponível


em: <https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/idioma/saramago-o-escritor-que-
brinca-com-a-pontuacao/1691>. Acesso em: 16 ago. 2016. 13h30min.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo.


5.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.

DUKE. Começam as campanhas eleitorais. Disponível em: <


http://www.otempo.com.br/charges/charge-o-tempo-17-8-2016-1.1356685>. Acesso
em: 17 ago. 2016. 10h.

FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar Gramática. São Paulo: FTD, 2003.

FORTAREL, Jô. Enciclopédia do estudante: literatura em língua portuguesa:


escritos e obras do Brasil, África e Portugal. 1. Ed. – São Paulo: Moderna, 2008.

HOUAISS, Antônio. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de


Janeiro: Editora Objetiva, 2009.

INTERESSANTE, Super. Como surgiram os principais sinais de pontuação?


Disponível em <http://super.abril.com.br/historia/ate-o-seculo-iv-escrita-era-uma-
bagunca>. Acesso em: 15 ago. 2016. 11h.

LISPECTOR, Clarice. A solução. In: A literatura brasileira através dos textos. São
Paulo: Editora Cultrix, 2000, p. 556.

MARRA, Lívia. Cachorro “persegue” aeromoça na Argentina, é adotado e vai


morar na Alemanha. Disponível em:
<http://bompracachorro.blogfolha.uol.com.br/2016/08/17/cachorro-persegue-
aeromoca-na-argentina-e-adotado-e-vai-morar-na-alemanha/>. Acesso em: 17 ago.
2016. 11h.

MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. 21ª ed. São Paulo:
Cultrix, 2000.
NETO, Pasquale Cipro. Quando a pontuação e a ordem decidem o sentido.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2504200206.htm>. Acesso
em: 16 ago. 2016.

RODRIGUEZ, Santi. In: Sutterstock. Oráculo de Delfos. Disponível em:


<http://www.shutterstock.com/cat.mhtml?search_source=base_landing_page&languag
e=pt&searchterm=or%C3%A1culo%20de%20delfos&page=1&inline=128700962>.
Acesso em: 15 ago. 2016. 14h.

GABARITO

1.
a) A vírgula.
b) A interrogação.
c) Para organizar o texto e mudar de lugar a palavra irritados na mesma frase,
foram exigidas as vírgulas.
I. Os deputados deixaram, irritados, o plenário da Câmara: neste caso
há a informação do estado de humor em que os deputados deixaram o
plenário.
II. Os deputados, irritados, deixaram o plenário da Câmara: neste caso
sabe-se que apenas os deputados que estavam irritados deixaram o
plenário, os demais permaneceram.
I. Irritados, os deputados deixaram o plenário da Câmara: quanto mais
perto do início da frase, mais ênfase o termo "irritados" recebe. Nesse
caso, o termo deixa de só indicar o estado dos deputados e assume o
sentido de causa.

2.
a) Sim, a ausência da vírgula na oração afeta seu sentido. Nesse caso, seu
significado é o seguinte: dentre os ricos do Brasil, uma parcela deles paga
imposto; outra não. Com a vírgula, a mesma oração dá a entender que todos os
ricos do Brasil pagam imposto.
b) Porque a expressão “o outro” está entre o sujeito e seu predicado “é servidor
público”. Ele permite inferir que houve surpresa e ironia ao referir-se ao servidor
público que, normalmente, tem salário baixo e não é comum receber 10 milhões
por ano.
3.
a) As aspas chamam a atenção para a palavra persegue, que está sendo usada
de maneira irônica, para referir-se ao cão que estava sempre por perto quando
sua atual dona estava hospedada em um hotel na Argentina, cidade onde o
cachorro vivia.
b) Nesta situação, as reticências servem para criar um suspense e em seguida
revelar a grande mudança na vida do cachorro que além de ter sido adotado,
foi viver em outro país.
c) II. um destaque a uma conclusão.
Ao contar que o cão havia morado em um lar temporário, também é revelado
que ele não se adaptou por ter um gato na casa. Para dar maior ênfase ao final
dessa história, foi utilizado um travessão para separar a conclusão de seu
episódio.
O trecho não trata-se de um diálogo, por não transcrever a fala de personagens
em discurso direto.
d)
I. O uso dos dois pontos indicou que na sequência há uma enumeração
explicativa.
III. As vírgulas que aparecem separam uma enumeração explicativa.
4.
Vocês estiveram juntos. – o ponto final indica uma oração afirmativa.
Vocês estiveram juntos? – a interrogação indica uma oração interrogativa, que
questiona algo.
Vocês estiveram juntos! – neste caso, a exclamação indica surpresa.

5.
Sobrinho: Deixo meus bens à minha irmã? Não, a meu sobrinho. Jamais será paga
a conta do alfaiate. Nada ao povo.

Irmã: Deixo meus bens à minha irmã, não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta
do alfaiate. Nada ao povo.

Alfaiate: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga
a conta do alfaiate. Nada ao povo.

Povo: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a
conta do alfaiate? Nada! Ao povo.
6.

Caso Soledade fosse a escolhida:


Se consultar a razão,
digo que amo Soledade.
Não Lia, cuja bondade
ser humano não teria.
Não aspiro à mão de Maria,
que não tem pouca beldade.

Caso Lia fosse a escolhida:

Se consultar a razão,
digo que amo Soledade?
Não. Lia, cuja bondade
ser humano não teria.
Não aspiro à mão de Maria,
que não tem pouca beldade.

Caso Maria fosse a escolhida:


Se consultar a razão,
digo que amo Soledade?
Não. Lia, cuja bondade
ser humano não teria?
Não! Aspiro à mão de Maria,
que não tem pouca beldade.

7. Preste atenção em como a pontuação adequada permite a organização textual com


o uso de: pontos finais (.), vírgulas (,), travessões (─), dois pontos (:), interrogações
(?) e exclamações (!):

Foi exatamente durante o almoço que se deu o fato.


Almira continuava a querer saber por que Alice viera atrasada e de olhos
vermelhos. Abatida, Alice mal respondia. Almira comia com avidez e insistia com os
olhos cheios de lágrimas.
— Sua gorda! disse Alice de repente, branca de raiva. Você não pode me deixar
em paz?!
Almira engasgou-se com a comida, quis falar, começou a gaguejar. Dos lábios
macios de Alice haviam saído palavras que não conseguiam descer com a comida pela
garganta de Almira G. de Almeida.
— Você é uma chata e uma intrometida, rebentou de novo Alice. Quer saber o
que houve, não é? Pois vou lhe contar, sua chata: é que Zequinha foi embora para Porto
Alegre e não vai mais voltar! Agora está contente, sua gorda?
Na verdade Almira parecia ter engordado mais nos últimos momentos, e com
comida ainda parada na boca.
Foi então que Almira começou a despertar. E, como se fosse uma magra, pegou
o garfo e enfiou-o no pescoço de Alice. O restaurante, ao que se disse no jornal,
levantou-se como uma só pessoa. Mas a gorda, mesmo depois de feito o gesto,
continuou sentada olhando para o chão, sem ao menos olhar o sangue da outra.
Alice foi ao Pronto-Socorro, de onde saiu com curativos e os olhos ainda
arregalados de espanto. Almira foi presa em flagrante.
Clarice Lispector

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