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COMECEMOS PELA ETIMOLOGIA:

Algumas formas do verbo "ser" vieram do latim vulgar essere, que se origina do latim
esse, sum, enquanto outras formas, inclusive a forma do infinitivo "ser", vêm do latim
sedēre, sedeō, que significa "estar sentado". O esse do latim, se origina do grego εἰσί
(eisi), sendo εἰσί a terceira pessoa do plural do indicativo ativo presente do verbo
ser/estar em grego. A sua forma no infinitivo é εἶναι (einai), e a forma da primeira
pessoa do singular do indicativo ativo presente é εἰμί (eimi).

O verbo grego εἰμί (eimi) (ser/estar - sou/estou) vem da raiz do Proto-Indo-Europeu


*h₁ésmi, significando, ao que tudo indica, existir, ser e estar, de onde também se
originam outras palavras cognatas da mesma família linguística, a se destacar o
sânscrito अअअअअ (asmi) e o inglês am. A terceira pessoa do singular do indicativo
ativo presente no grego é ἐστί (esti), enquanto em latim é est, em alemão é ist, em
inglês é is, em francês é est, em italiano é è, em espanhol é es e, finalmente, em
português, é.

No tocante aos particípios presentes, em grego temos no nominativo singular o


masculino ὤν (on), o feminino οὖσα (ousa), e o neutro ὄν (on). Podemos verter para
o português literalmente o masculino como "o que é", "aquele que é", o feminino
como "aquela que é" e o neutro como "aquilo que é", ou novamente, "o que é". Ou
ainda podemos verter com a palavra "ente". Ente vem do latim ens.

De οὖσα (ousa) surge uma palavra muito importante no vocabulário filosófico grego
que geralmente é vertida como "essência" e/ou "substância", a saber, οὐσία
(ousia). Originalmente οὐσία era usada com o sentido de "bens", "propriedade", e
depois também com as noções já citadas de "essência" e "substância", além de
"realidade imutável", "ser" etc.
PARMÊNIDES E O SER

O primeiro filósofo a colocar explicitamente o conceito de SER foi PARMÊNIDES DE


ELEIA (século VI a.C. - século V a.C.). Para ele, seria impossível falar ou pensar no
Não-Ser, pois o Não-Ser nada refere. Para o pensador de Eleia, O Ser, que existe
para além das ilusões do mundo sensível da doxa, é uno, eterno, imóvel, não
gerado e imutável:

"O SER É E O NÃO SER NÃO É".

Platão tenta resolver a questão do Não-Ser nos diálogos Parmênides e Sofista ao


passar a entender o Não-Ser como ALTERIDADE (diferença) em relação ao Ser em
vez de CONTRARIEDADE. (Por exemplo, "o belo não é feio"). Segundo o discípulo de
Sócrates, quando dizemos "o não-ser não deve participar nem da unidade nem da
pluralidade" e o não-ser "é impronunciável, inefável e inexprimível" já dizemos o Não-
ser uno, pois dizer o já implica unidade, e contradizemos a ideia de que ele não
possa ser pronunciado ou expressado, pois lhe aplicamos o é. Platão então,
negando Parmênides, defende a comunhão entre Ser e Não-ser. Impondo a
introdução do OUTRO (ou diferença) e do Mesmo chega à acepção predicativa do
Ser. Esclarece que podemos designar uma única e mesma coisa por uma pluralidade
de nomes porque a acepção identitativa (A=A) não é a única possível ao Ser, o
homem pode então também ser chamado de bom e não apenas de homem ("o
homem é bom" e não apenas "o homem=homem" e "o bom=bom"). Podemos,
com a ideia de predicação, tratar as coisas como capazes de participação mútua.
Com a ideia de identidade, podemos supor a todas as coisas como incapazes de
união mútua.

A partir daqui, convém distinguir os dois usos fundamentais desse termo.

1) O uso predicativo, em virtude do qual dizemos "Sócrates é homem", ou "a rosa é


vermelha".

2) O uso existencial, em virtude do qual dizemos "Sócrates é" (= existe) ou "a rosa é"
(= existe). Embora nem sempre explicitamente formulada, essa distinção é assumida
ou pressuposta quase universalmente. Em Parmênides. Platão dá destaque à
diferença entre a hipótese "o um é um" e a hipótese "o um é"; nesta última "É"
significa "participação no Ser." Aristóteles expressa de várias formas a mesma
diferença: como diferença entre É como terceiro predicado e É como segundo
predicado como diferença entre É como predicado por acidente, e é predicado
como diferença entre "Ser alguma coisa" e "Ser absolutamente.

Ser predicativo e Ser existencial baseiam-se ainda na distinção aristotélica entre tese
e hipótese, como premissas do silogismo: a primeira não assume a existência do
objeto a que se refere; a segunda, sim (An. post., 1, 2, 72 a 18).

A diferença entre esses dois significados de Ser permanece constante na tradição


filosófica posterior a Aristóteles. S. Tomás afirma:

"Ser tem dois significados: num modo significa o ato de Ser no outro significa a
composição da proposição que o homem encontra ao juntar o predicado ao
sujeito.”
Na lógica terminista medieval distinguia-se o verbo Ser como segundo constituinte
da proposição, do verbo Ser que aparece como terceiro constituinte, em função
predicativa ou de cópula (ligação). Kant estabeleceu a distinção entre a posição
predicativa ou relativa, expressa pela cópula de um juízo, e a posição absoluta ou
existencial, com que se põe a existência da coisa. Na filosofia moderna e
contemporânea, essa distinção é lugar-comum, embora nem sempre seja
explicitamente formulada. Na evolução sofrida pelas interpretações desses dois
significados de Ser ao longo da história, pode-se perceber uma correspondência entre
as interpretações do primeiro significado e as do segundo. Contudo, por uma questão
de clareza, o estudo de cada uma delas deverá ser feito em separado.

1)SIGNIFICADO PREDICATIVO. Nas interpretações do significado predicativo é


possível distinguir três doutrinas fundamentais: A) inerência (característica essencial);
B) identidade (ou suposição); C) relação.

A) Segundo a doutrina da inerência, Ser, na relação predicativa, significa pertencer


ou inerir. "Sócrates é homem" significa que a Sócrates inere a essência homem; "a
rosa é vermelha" significa que à rosa pertence a qualidade vermelho, e assim por
diante. O fundamento dessa doutrina é a teoria aristotélica da substância (v.). De
fato as relações de inerência que podem ser expressas pelo verbo Ser são
esclarecidas e distinguidas por Aristóteles com base nas relações entre a substância e
sua essência necessária, ou entre a substância e suas outras determinações
categoriais ou acidentais. Aristóteles diz: "Inerir, inerir necessariamente e inerir
possivelmente são coisas diferentes". Inerência necessária é a da essência
necessária (expressa pela definição) à coisa da qual é essência; inerir ou inerir
possivelmente é referir-se à coisa com uma qualidade, quantidade ou qualquer outra
das determinações categoriais não incluídas na definição da coisa ou puramente
acidentais. Este é o significado da distinção aristotélica entre Ser necessário (ou por
si) e Ser acidental. "Em sentido acidental, dizemos, por exemplo, que o justo é
músico, que o homem é músico e que o músico é homem, ou dizemos que o
músico constrói quando acontece de o construtor ser músico ou de o músico
ser construtor: em todos esses casos, dizer 'isto é aquilo' significa 'A isto
ACONTECE aquilo’” Ao contrário, a inerência necessária ou por si não tem caráter
acidental, e, mesmo ao especificar-se segundo as categorias, seu principal
fundamento é a SUBSTÂNCIA. Aristóteles diz: "Assim como 'é' inere a todas as coisas
de modos diferentes, pois a algumas inere de modo primário e a outras de modo
secundário, também o ‘o quê' [essencial inere absolutamente à substância e só de
certo modo às outras coisas. A respeito de uma qualidade podemos até perguntar o
que ela é, e por isso até uma qualidade é exemplo de essência, mas não de modo
absoluto. Assim, alguns afirmam que, por lógica, o não Ser É, todavia não é de
modo simples, mas apenas como não Ser, o mesmo se diga da qualidade".
Portanto, segundo Aristóteles, o Ser predicativo expressa a inerência ao sujeito de
sua essência necessária, de determinações categoriais (que, embora não
pertencendo à essência, dependem dela) ou de determinações acidentais. Esse
significado de Ser tem um sentido privilegiado, que é o inerir substancial, ou seja, o
inerir da essência necessária (expressa pela definição) à substância definida.
"Sócrates é animal bípede" é um caso de inerência predicativa privilegiada se "animal
bípede" é definição do homem, porque é a inerência da essência necessária à
substância. As outras determinações, como por exemplo: "Sócrates é filósofo",
constituem casos de inerência secundária ou acidental.

As características fundamentais desse conceito do ser predicativo são: sua redução a


um tipo único de relação, qualificada como pertença ou inerência; privilégio
concedido à forma necessária dessa relação, ou seja, à forma como ocorre essa
relação entre substância e essência. Estas características são mantidas pela
doutrina em exame ao longo de toda a sua história, que é longuíssima. A tradição
lógica medieval até o séc. XIII (quando do ressurgimento das doutrinas dos estoicos)
não conhece alternativa. As doutrinas modernas de caráter racionalista geralmente as
compartilham. Leibniz diz:

"Todo predicado verdadeiro tem algum fundamento na natureza das coisas, e


quando uma proposição não é idêntica, vale dizer, quando o predicado não está
compreendido expressamente no sujeito, é preciso que esteja compreendido
virtualmente: é isso que os filósofos chamam de “i-esse”, ao afirmarem que o
predicado está no sujeito".

Do mesmo modo, para Hegel, o significado predicativo de Ser é a identidade entre


individual e universal, ou seja, aquela mesma relação entre substância e essência
que para Aristóteles era o caso privilegiado de relação predicativa. Hegel diz:

"A cópula (união) “É” vem da natureza do conceito, que é de ser idêntico a si
mesmo ao se tornar extrínseco: como momentos seus, o individual e o universal
são determinações que não podem ser isoladas".

Segundo Hegel, o juízo tende a expressar de modo mediato ou reflexo a unidade


entre predicado e sujeito, vale dizer, a unidade de um conceito único que, através do
próprio juízo e, mais completamente, através do silogismo, articula-se em suas
determinações necessárias. A doutrina exposta por alguns hegelianos ingleses, de
que Ser predicativo significa referência de um conceito ao sistema total da realidade
(de sorte que, no juízo, o conceito é uma qualificação essencial da Realidade
Universal), representa a forma assumida pela doutrina hegeliana da cópula na
filosofia contemporânea. Também nessa forma, pode-se reconhecer a teoria da
inerência: a substância ou realidade a qual o predicado inere é a totalidade do
real, em vez de ser (como na doutrina de Aristóteles) uma única substância.

B) A segunda interpretação fundamental de Ser predicativo é de identidade ou


suposição: segundo ela, a cópula significa identidade do objeto ao qual o sujeito
e o predicado da proposição se referem ou no lugar do qual estão. Assim, por
exemplo, na expressão "Sócrates é branco", a cópula indicaria simplesmente que o
sujeito "Sócrates" e o predicado "branco" referem-se ao mesmo objeto existente, que
portanto, pode ser qualificado com um ou com o outro dos dois termos. A origem
desta doutrina está provavelmente na LÓGICA ESTOICA, na qual é fundamental a
referência de qualquer enunciado a uma situação de fato imediatamente presente.
Mas é expressa claramente só na lógica do séc. XIII, em polêmica com a teoria da
inerência. Ockham diz:

"Proposições como 'Sócrates é um homem' ou 'Sócrates é um animal' não


significam que Sócrates tem humanidade ou animalidade. Tampouco significam
que a humanidade ou a animalidade está em Sócrates, nem que o homem ou o
animal é uma parte da substância ou da essência de Sócrates, ou uma parte do
conceito ou da substância de Sócrates. Significam que Sócrates é na realidade um
homem e é na realidade um animal: não no sentido de Sócrates ser esse predicado
'homem' ou esse predicado 'animal', mas no sentido de que existe alguma coisa em
lugar da qual esses dois predicados estão no lugar de Sócrates".

Essa doutrina é expressa quase nos mesmos termos por Hobbes:

"A proposição é um discurso que consta de dois nomes conjuntos: quem fala pretende
dizer que, para ele, o segundo nome é um nome da mesma coisa cujo nome é o
primeiro, ou — o que dá no mesmo — o primeiro nome está contido no segundo. Por
exemplo, o discurso 'O homem é animal', em que os dois nomes estão reunidos pelo
verbo é, é uma proposição porque quem a enuncia pretende dizer que, para ele, o
segundo nome 'animal' é nome da mesma coisa cujo nome é 'homem'".

Essa doutrina foi substancialmente reproduzida por Stuart Mill, que distinguia as
afirmações "essenciais", ou seja, gerais, que só explicam a essência nominal de uma
coisa das proposições "reais", que sempre implicam a existência do sujeito a que se
referem "porque, no caso de um sujeito inexistente, a proposição nada teria para
asseverar".

A referência á realidade imediatamente dada ou intuída é a primeira característica


fundamental da doutrina em exame. Os lógicos do séc. XIV chegavam a considerar
falsa até mesmo proposições tautológicas como "A quimera é quimera", quando
nelas o sujeito representa um objeto inexistente. A segunda característica dessa
doutrina é a identidade da referência objetiva dos termos da proposição (identidade
da coisa em lugar da qual estão).

C) A interpretação do Ser predicativo como relação que é ato ou operação do


sujeito pensante tem como pressuposto óbvio o princípio cartesiano de que o objeto
imediato do conhecimento humano é apenas a ideia. Desse ponto de vista, a
proposição apresenta-se como juízo e começa a ter esse nome porque juízo é
exatamente o ato com que o espírito escolhe ou decide. Descartes diz:

"Dos meus pensamentos, alguns são como imagens das coisas, e a eles só convém o
nome de ideia: como quando represento um homem. Uma quimera, o céu, um anjo, ou
Deus. Outros pensamentos têm, além destas, outras formas; p. ex. quando quero,
temo, afirmo ou nego, estou concebendo alguma coisa como objeto da ação de
meu espírito, mas, com essa ação, acrescento alguma outra coisa à ideia desse
objeto; desses pensamentos, alguns são chamados de vontades ou emoções;
outros, de juízos".

Portanto, segundo Descartes, juízo é uma ação do espírito por meio da qual "se
acrescenta alguma coisa" a ideia que se tem de um objeto; em outros termos, é um
ato de unificação ou síntese. Esta noção é claramente expressa na Lógica: "Quando
digo 'Deus é justo', 'Deus' é o sujeito dessa proposição, justo' é o atributo, e a palavra
'é' marca A AÇÃO do MEU ESPÍRITO que afirma, ou seja, que liga as ideias 'Deus' e
'justo' como convenientes um ao outro". A definição lockiana de conhecimento
como "percepção de vínculo e concordância ou de discordância e oposição entre
nossas ideias" expressa exatamente a mesma tese. Locke diz:

"Tudo o que sabemos ou podemos afirmar sobre uma ideia qualquer reside em ser
ou não essa ideia igual a uma outra; em coexistir ou não com alguma outra ideia no
mesmo sujeito; em ter uma ou outra relação com alguma outra ideia; ou em ter
existência real ou fora do espírito".

Portanto, mesmo em seu USO existencial, o verbo Ser só faz expressar relações
percebidas pelo espírito, vale dizer, as relações cuja realidade está no sujeito
cognoscente, embora não somente nele. Kant expressou esse mesmo conceito ao
afirmar que o ato de juízo, atividade própria do intelecto, é a síntese:

"Entendo por síntese, no sentido mais amplo dessa palavra, o ato de unir diversas
representações e compreender a sua multiplicidade num só conhecimento".

Todas as interpretações idealistas da relação predicativa no mundo moderno partem


dessa afirmação kantiana. Atividade sintética, poder sintético do espírito, síntese a
priori são expressões às quais a interpretação idealista do kantismo a partir do
Romantismo, emprestou um significado enfático e criativo, que de certo não tinham
na doutrina de Kant, de qualquer modo, expressa o caráter subjetiva da atividade
sintética que como tal só pode operar entre "ideias" ou "representações", vale dizer,
entre elementos ou estados do mesmo sujeito. A dificuldade fundamental que se opõe
a essa doutrina é a óbvia consideração de que uma asserção qualquer não visa a
estabelecer uma relação entre duas ideias, representações ou conceitos, mas entre os
objetos aos quais se faz referência através deles. Quando se afirma "Sócrates é um
homem", não se quer dizer que a representação Sócrates é homem, mas sim o
indivíduo real ao qual o nome se refere. Em observações desse tipo que se baseia a
alternativa objetivista.

A doutrina da cópula (verbo que liga o sujeito ao predicado) como relação objetiva foi
apresentada pela primeira vez por De Morgan e adotada pelo criador da lógica
matemática, Boole. Para este, a lógica tem duas espécies de relações: entre coisas
e entre fatos; estas últimas também podem ser chamadas de relações entre
proposições. De acordo com essa teoria, a relação expressa pela cópula é a mesma
em todas as formas proposicionais, não porque sua natureza esteja expressa na
proposição, mas porque é estabelecida por convenção. A cópula pode então
expressar uma relação qualquer. Nesse sentido, ela foi chamada por De Morgan de
cópula abstrata. Peirce distinguiu os vários tipos de cópula da seguinte maneira:
"Cópula transitiva é aquela para a qual é válido o modo Barbara (tipo de silogismo
válido). Alguns autores demonstraram o importante teorema de que, se usamos A1
para representar a espécie de cópula cujo exemplo é 'maior que', então existe algum
termo relativo R tal que a proposição S e P seja precisamente equivalente a 'S é R a P
e é R a qualquer coisa à qual P seja R'. Cópula de inclusão correlativa é aquela
para a qual são válidos tanto o modo Barbara quanto a fórmula de identidade. Se
representarmos essa cópula com é, existirá um termo relativo R tal que a proposição
'S é P' seja precisamente equivalente a S é R a qualquer coisa à qual P é R. Se a
última proposição se seguir da penúltima, qualquer que seja o termo relativo R, a
cópula será a de inclusão, usada por Peirce e outros. De Morgan usa uma cópula que
vale para qualquer relação que seja ao mesmo tempo transitiva e conversível, como
p. ex. 'igual a' ou 'da mesma cor de'. Para cada cópula desse tipo existirá algum termo
relativo R tal que a proposição 'S é P' será exatamente equivalente a 'S é R a cada
coisa e só a cada coisa à qual P é f. Tal cópula pode ser chamada de identidade
correlativa. Se a última proposição se seguir da penúltima, a cópula é a de
identidade, usada por Thompson, Hamilton, Baynes, Jevons e muitos outros"
(Coll. Pap., 3, 622). Com mais simplicidade, hoje se costuma distinguir uma cópula de
pertença, simbolizada por E, que designa a relação entre um indivíduo e uma classe;
uma cópula de inclusão, simbolizada por U, que designa a relação entre uma
classe e outra classe; estas duas espécies de cópulas são distinguidas de operador
(ou quantificador) existencial (v. OPKRADOR). De qualquer forma, a característica
fundamental desta concepção de S. predicativo é a máxima generalidade: as outras
interpretações de cópula podem ser consideradas casos especiais de relação, e
como tais analisados. Além desses, é possível considerar outros casos. É exatamente
essa teoria da cópula que possibilita a doutrina da proposição como função,
segundo a qual o predicado é a função, e o sujeito é a variável da função (v.
FUNÇÀO).

2)SIGNIFICADO EXISTENCIAL. O segundo significado fundamental de Ser, o


existencial, deve ser dividido em dois significados subordinados: A)como
existência em geral; B)como existência privilegiada.

A) Em primeiro lugar, Ser pode significar existência no geral e indeterminado, mas


especificável ou definível de acordo com um critério qualquer. É nesse sentido que
Aristóteles afirma que "o Ser se diz de muitos modos” e que se pode até dizer que
o não Ser, é. Mas, tomado nesse sentido, o significado de Ser coincide com o de
existência.

B) Em segundo lugar, Ser pode significar existência privilegiada ou primária, na


sua modalidade primeira e fundamental, da qual dependem todas as suas
manifestações determináveis. Na maioria das vezes, este segundo significado é
preparado e anunciado pelo acima exposto. O Ser se diz de muitos modos, mas
apenas UM é seu significado primário e fundamental. Esse é o ponto de vista de
Aristóteles. É justamente da relação entre os múltiplos significados que, à primeira
vista, parecem caber ao Ser e o significado único e fundamental nos quais eles devem
ser integrados, que nasce o chamado "PROBLEMA DO SER". Trata-se do problema
do significado primário, único e simples que se presume no Ser, mas que permanece
mais ou menos oculto na multiplicidade dos seus aspectos aparentes. A
investigação metafísica, na sua forma clássica, funda-se nesse problema. Trata-se
de ver se existe um significado primário de Ser em primeiro lugar, no sentido de
expressar melhor que os outros, a existencialidade do Ser, e em segundo lugar, no
sentido de possibilitar a integração dos outros significados, servindo-lhes de
fundamento ou princípio.

A indagação do problema do Ser tende à determinação de um significado que


preencha esses dois requisitos. Mas a disputa a que dá origem só se compara à
"BATALHA DE GIGANTES" de que falava Platão, em que se defrontam os gigantes,
ou "filhos da terra", para os quais toda a realidade é corpo, e os deuses, que
afirmam a incorporeidade do Ser e o reduzem às FORMAS IDEAIS. Na realidade, o
significado de Ser não é suficientemente estabelecido pelo caráter de corporeidade
ou pela sua negação, porque um ser considerado corpóreo pode ter os mesmos
caracteres formais de Ser considerado incorpóreo, como ocorria com o Ser de que
falavam os dois grupos protagonistas da "batalha de gigantes". É bem verdade que os
caracteres formais do Ser evidenciados como solução do problema, ou seja, como
determinação do significado primário de Ser, são sempre extraídos de uma esfera
particular do Ser, ou pelo menos de um grupo de entes, ou de um ente, de algum
modo privilegiado e tomado como exemplo. Mas também é verdade que em todos os
casos só se pode obter resposta ao problema do Ser quando, entre os caracteres da
esfera, do grupo ou do ente considerado, se escolhe um que seja passível de
generalização, vale dizer, que possa também referir-se às outras esferas, grupos ou
entes. Nesse sentido, Platão desafiava os materialistas a dizerem o que há de
comum entre as coisas corpóreas e as incorpóreas, desde que se diga que
ambas são.

Mas apesar de se procurar um significado primário formal (generalizável) do Ser pode-


se dizer que todas as soluções para o problema só fazem privilegiar, ou seja
considerar primária e fundamental, uma modalidade determinada do ser. Ora, como
as modalidades pelas quais o Ser pode ser enunciado ou asseverado são três
(necessidade, possibilidade e assertoriedade), teoricamente também são três as
possíveis soluções para o problema do ser. Mas, uma vez que (como veremos) a
assertoriedade se reduz à necessidade, ao longo da história da filosofia encontram-
se DUAS SOLUÇÕES FUNDAMENTAIS, bem evidentes por trás das aparentes
multiplicidades e disparidades das soluções propostas. Para a primeira dessas
soluções (que indicaremos com A1) o Ser primário é a necessidade; para a segunda
(que indicaremos com B1) o S. primário é a possibilidade. Na investigação do
significado do ser, a primeira delas não toma em consideração a própria investigação,
enquanto a segunda pode tomar esse fato em consideração, atribuindo-lhe
importância na determinação do significado do ser. Como fazem Platão e os
Existencialistas.

A1) A interpretação do Ser segundo a modalidade da necessidade prevalece na


metafísica clássica. A famosa tese de Parmênides. "O Ser é e não pode não ser",
estabelece que o significado fundamental do Ser é a NECESSIDADE (e não
contingencialidade), o não poder não ser: no que se refere ao tempo, é eternidade
(simultaneidade) no que se refere a multiplicidade, é unidade: no que se refere ao
devir (nascer e morrer), é imutabilidade (fr. 8, 2-4, Diels). Aristóteles também dá
prioridade à necessidade. Para ele, o princípio de contradição, que fundamenta a
sua "filosofia primeira" (ciência do Ser enquanto Ser), é o princípio que postula a
necessidade do Ser, que se realiza na substância. Aristóteles diz:

"Se a verdade tem significado, necessariamente quem diz homem diz animal bípede
porque isso significa homem. Mas se isso é necessário, não é possível que o
homem não seja animal bípede: necessidade significa exatamente isto: é
impossível que o Ser não seja".

O aspecto pelo qual é necessário que um Ser seja (o único graças ao qual o Ser é
objeto de ciência, visto que do Ser acidental não há ciência, Ibicl., VI, 2. 1027 u) é a
sua substância. Aristóteles diz:
"É um só o significado do Ser, a sua SUBSTÂNCIA. Indicar a substância de uma
coisa é indicar o seu Ser" (Ibid., IV, 4, 1007 a 26).

Portanto, para ele, a substância é o sentido primário do Ser, é também o sentido


fundamental, no qual os outros significados podem ser integrados, visto que, para
Aristóteles, todas as determinações distinguidas ou distinguíveis do Ser são aspectos
ou manifestações da substância.

Este ponto de vista aristotélico foi decisivo para o desenvolvimento posterior do


problema do Ser. Graças a ele, o significado primário e fundamental do Ser passou a
ser (e continua sendo para grande parte da filosofia) a NECESSIDADE, com os
atributos, que traz consigo, de imutabilidade, eternidade, unidade, etc.

Mesmo quando esses atributos deixaram de referir-se à estrutura formal do Ser (o que
ocorreu no neoplatonismo antigo e árabe e no aristotelismo medieval), e passaram
a referir-se a um ENTE PRIVILEGIADO (ou seja, não a todas as substâncias, mas à
substância superior QUE SERIA DEUS), considerou-se que as outras substâncias
derivariam ou participariam desta, e que derivariam ou participariam de sua
necessidade e de seus atributos. Assim, segundo S. Tomás, a participação das coisas
criadas no Ser de Deus é participação da perfeição e da imutabilidade d'Ele (.V.
Th., I, q. 65. a. I). Mas o conceito que dominou a metafísica medieval e, através dela, a
moderna e a contemporânea, foi exposto por Avicena no séc. XI: a necessidade do
Ser como tal. Todo Ser enquanto tal, é necessário. Avicena dizia:

"Se Uma coisa não é necessária em relação a si mesma, é preciso que seja possível
em relação a si mesma, mas necessária em relação a uma coisa diferente" (Met., II,
I. 2).

A propriedade essencial do possível é exatamente esta: precisar de outra coisa


que o faça existir em ato. Mas, por isso mesmo, o que existe em ato existe
sempre necessariamente, só que às vezes sua necessidade provém de outra coisa.
Os mesmos conceitos, expressos por Algazel (Met., I, I, 8), fundamentaram a
escolástica judaica e cristã.

No mundo moderno, o conceito de Ser como necessidade foi reafirmado


principalmente por Spinoza e Hegel. Spinoza viu o Ser de Deus na necessidade, e
o Ser das coisas na necessidade com que derivam da substância divina (Et., I, 8,
scol. II).

Hegel expressou esse mesmo conceito com o famoso aforismo que serviu de base
para toda a sua filosofia:

"O que é racional é real; o que é real é racional."

A racionalidade do real é a sua necessidade; em virtude dela, o real, em suas


determinações fundamentais, só pode ser o que é. Por isso, Hegel diz que: "a função
da filosofia é entender o que é, pois o que é, é a razão" (Fil. do dir., Pref.). Também
por isso não existe um Dever Ser, um ideal, uma perfeição que seja diferente do Ser e
em cujo nome se esteja autorizado a criticar o Ser ou a dar-lhe lições.
"O que está entre a razão como espírito autoconsciente e a razão como realidade
presente, o que diferencia aquela razão desta e não permite que se encontre
satisfação nesta é o empecilho de alguma abstração que não se libertou e não se
tornou CONCEITO" (Ibíd., Pref.).

Noutras palavras, só com falsas abstrações distingue-se o que deveria ser do que é,
racionalidade de Ser real; isso significa que o SER REAL é tudo o que DEVE SER, e
que sua modalidade, seu sentido primário, é essa NECESSIDADE. Por outro lado,
toda a filosofia de Hegel está voltada para a demonstração da necessidade das
determinações do Ser, visa a mostrar que o Ser, em sua realidade, é tudo o que
deve ser. A necessidade continua sendo o caráter primário do Ser em concepções
filosóficas díspares. Quando Johann Gottlieb Fichte afirma que Ser e atividade do
eu são a mesma coisa, está reconhecendo como caráter essencial dessa atividade a
necessidade com que ela se põe e o não-eu (Wissenschaftslehre, 1798, § 1).
Conceber o Ser como "Consciência" ou "Matéria" não faz diferença: as
determinações qualitativas não influenciam sua determinação formal primária.
Tanto o Absoluto dos idealistas (Green, Brad- ley e outros) quanto a matéria dos
materialistas são Ser necessários. Necessária é a HISTÓRIA, de que fala Croce,
tanto quanto é necessário o Ato Puro, de que fala Gentile. Este afirmava: "A
necessidade do Ser coincide com a liberdade do espírito" (Teoria generale, XII, §
20). Mesmo Rosmini, para quem a idéia do Ser como "Ser possível" é fundamento do
conhecimento humano, vê na necessidade e na universalidade os caracteres primários
do Ser. Husserl afirma energicamente a necessidade do Ser que ele considera
primário, que é o Ser da consciência:

"A tese do mundo, que é acidental, opõe-se a tese do meu eu puro e do viver do eu,
que é necessária e indubitável. Toda coisa dada, mesmo que presente em carne e
osso, pode não ser; mas uma vivência, dada em carne e osso, não pode não ser.
Esta é a lei essencial que define essa necessidade e essa acidentalidade.”

Característica típica dessa concepção do Ser, ou melhor, uma das teses


fundamentais, é a identificação entre SER E RACIONALIDADE, que serviu de
princípio para a filosofia de Hegel. Algumas vezes essa identificação foi entendida
como imanentismo (v.), no sentido de imanência do Ser na consciência. Embora esta
também seja uma tese hegeliana, nada tem a ver com a outra. Foi expressa pela
primeira vez por Parmênides, que, exatamente nesse sentido, identificou Ser e
pensar (Fr. 5; Fr. 8, 34-36, Diels). Certamente a tese de Parménides nada tinha a ver
com o imanentismo, porque a noção de consciência nem sequer tinha nascido,
expressava apenas o caráter racional da necessidade ontológica. Esse mesmo
caráter era expresso por Aristóteles, na doutrina de que a determinação fundamental
da substância é a essência necessária, que é a razão de ser da coisa. Para Rosmini,
o Ser possível era a própria forma da razão (Nuovosaggio, § 396). A tese em
questão, ao mesmo tempo em que expressa a necessidade do Ser, postula um
conceito correspondente de razão em geral.

Ao que parece, a ontologia de Hartmann escapa a essa tradição, pois não assume a
necessidade como significado primário do Ser, mas a efetividade (à qual seriam
redutíveis possibilidades e necessidades. A efetividade e a terceira alternativa da
modalidade do Ser, a ASSERTORIEDADE. O Ser ao qual o dever ser e o poder ser se
reduzem, segundo Hartmann, é o Ser simplesmente existente, em sua pura
efetividade ou atualidade, o Ser que, no domínio da realidade de fato, apresenta-se
"desse modo e não de outro", ou seja, como existência análoga à matéria. Mas os
enunciados nos quais, segundo Hartmann, se expressa a redução do necessário e do
possível ao atual demonstram que, na realidade, a efetividade ainda é e sempre foi
necessidade. Esses enunciados são os seguintes: Aquilo que é realmente possível é
também realmente efetivo; o que é realmente efetivo é também realmente
necessário; e o que é realmente possível é também realmente necessário.
Negativamente: a aquilo cujo Ser é realmente impossível também é realmente
inefetivo; o que é realmente inefetivo também é realmente impossível; Aquilo cujo não-
Ser é realmente possível também é realmente impossível.

Assim, o primado da assertoriedade não tem significado diferente do primado da


necessidade. A ontologia de Hartmann pretendeu apresentar a terceira solução
teoricamente possível para o problema do Ser, mas essa solução é idêntica, mesmo
em sua enunciação à interpretação do Ser como necessidade, típica da antiga
metafísica.

B1) O primeiro a formular a concepção de Ser primário como POSSIBILIDADE foi


Platão, para quem essa concepção atende a DUAS exigências fundamentais: em
primeiro lugar, explicar por que se diz que tanto as coisas corpóreas quanto as
incorpóreas são, em segundo lugar, levar em conta o fato de que o Ser é ou pode ser
conhecido (Ibid., 248 e). A primeira exigência exclui que a materialidade ou a
imaterialidade possam fazer parte da definição do Ser. A segunda exclui que da
definição do Ser possam fazer parte determinações necessárias; p. ex.: que o Ser
seja necessariamente imóvel (ou seja, que tudo “seja imóvel”), ou que o Ser esteja
necessariamente em movimento (ou seja, que "tudo esteja em movimento"), etc. Em
vista disso, Platão afirma que O SER É APENAS POSSIBILIDADE, portanto, pode-se
dizer que qualquer coisa é, desde que tenha uma possibilidade qualquer de praticar
uma ação, ou então de ser submetida a uma ação por parte de outra coisa qualquer,
ainda que insignificante e mesmo que essa ação seja mínima e só ocorra uma vez.
Nesse sentido, possibilidade nada tem a ver com a potência de Aristóteles. A
potência, de fato é tal apenas em relação a uma atualidade que ela só, é o Ser
primário. Mas para Platão o Ser primário é mesmo possibilidade. Possibilidades são
também as relações reais entre os entes: estes não se mesclam nem deixam de
mesclar-se em absoluto, mas apresentam determinadas possibilidades de relações. O
mesmo que acontece com as letras do alfabeto e com os sons — alguns podem
misturar-se e outros não — acontece com todas as coisas: desse modo, não é tarefa
da filosofia enunciar a tese universal da necessidade ou da impossibilidade da
comunicação, mas estudar em particular quais são as coisas que podem unir- se
entre si e quais as que não podem. Este conceito não dá ensejo a uma metafísica
simetricamente oposta àquela que interpreta o Ser como necessidade: não dá ensejo
a nenhuma metafísica. É essa sua principal característica. De fato, se é possibilidade,
o Ser não tem determinações unívocas necessitantes: não é necessário que ele seja
um, e não muitos; imutável, e não mutável; imóvel, e não em movimento; eterno,
e não temporal etc. De duas determinações opostas e contraditórias, não é
necessário que uma lhe pertença e a outra não: ambas podem pertencer-lhe em
determinadas, mas diferentes condições. Portanto, não é possível enumerar
definitivamente as determinações unívocas do ser. Platão chegara a essa
conclusão em Parmênides; neste diálogo mostra-se que o Ser não é um ou muitos,
mas um e muitos ao mesmo tempo, no sentido de que tanto pode ser um quanto
muitos, e que o mesmo vale para as outras de suas determinações eventuais. A
desconcertante conclusão deste diálogo é que "o uno, sendo ou não sendo, ele e as
outras coisas, em relação a ele e entre si, todas, em tudo, são e não são, aparecem e
não aparecem", palavras que reconhecem a possibilidade de determinações opostas
do Ser e excluem que ele possa ser chamado de "um" ou "muitos", ou mesmo
simplesmente "Ser" em sentido único e absoluto. Deste ponto de vista, uma
metafísica que seja o inventário sistemático das determinações unívocas e absolutas
do Ser é manifestamente sem sentido. Portanto, não se deve esperar que essa
concepção dê formulações sistemáticas, análogas ou correspondentes à filosofia
primeira de Aristóteles, à metafísica clássica. Ao contrário, podemos dizer que essa
concepção tende a evidenciar-se sempre que a determinação das características
universais e necessárias do Ser cede lugar à investigação empírica: esta última
é busca de possibilidade, não de determinações necessárias. Deste ponto de
vista, pode-se dizer que a tradição filosófica empirista a herdeira e principal
representante da concepção de Ser cuja primeira formulação se encontra no Sofista
de Platão. Uma possibilidade pode ser determinada unicamente com base na
experiência, na observação dos fatos, nunca por meio puramente racional ou a
priori. Atribuir ao Ser o significado de possibilidade significa abrir caminho a
indagações específicas, destinadas a determinar, em cada caso, de que possibilidade
se trata. Com fundamento na concepção, mesmo que as determinações do Ser
mudem, é necessário que mudem, pois a mudança é determinada por princípio,
absolutamente previsível. Quanto à concepção do possível, ao contrário, toda
determinação, porquanto possível, só pode ser confirmada por investigação ad hoc.

Sabemos que para os estóicos o significado do Ser estava na possibilidade de


praticar ou de sofrer uma ação; por isso, chamavam de entes apenas os corpos
(PLUTARCO, Comm. Not., 30. 2, 1073; DIÓCI. L, VII, 56); mas, apesar de tê-los
encaminhado para o materialismo, esse princípio não constituiu a base de um
empirismo coerente. O empirismo, ao contrário, surge sempre que se nega a tese
fundamental da concepção oposta, que é a redutibilidade do Ser a predicado. Tal
negação pode ser considerada uma tese típica dessa concepção, assim como é típica
da outra a identificação entre Ser e racionalidade. No fim da Escolástica, Ockham
formulava a tese de que o Ser ou o não-Ser de uma coisa só pode ser alcançado pelo
“conhecimento intuitivo”, que é a própria experiência, de tal modo, podia afirmar a
irredutibilidade do Ser a uma determinação conceitual e o seu significado de
possibilidade. E diz: "À pergunta a coisa existe?” só se pode responder quando
se sabe se a coisa existe: isso acontece quando se conhece uma proposição na qual
o Ser existencial é predicado do sujeito. Ora, uma proposição assim discutível (...) de
nenhum modo pode ser conhecida com evidência, se a coisa significada pelo sujeito
não for conhecida intuitivamente e em si: p. ex., se ela não for percebida por um
sentido particular ou se não for um inteligível não sensível que seja visto pelo intelecto
de modo análogo àquele pelo qual a faculdade visual externa vê o objeto visível.
Assim, ninguém pode saber com evidência que o branco é ou pode ser se não
viu algum objeto branco; e embora eu possa acreditar nas pessoas que me falam da
existência do leão, do leopardo e assim por diante, não conheço com evidência
essas coisas (Summa log., III 2).

Aqui o sentido primário do Ser é posto na possibilidade da experiência.


Conseqüentemente, Ockham atribui necessidade apenas às proposições
condicionais ("Se o homem é, o homem é um animal racional"), enquanto nega que
uma proposição afirmativa qualquer possa ser necessária. Todas as proposições
afirmativas são contingentes porque a proposição "O homem é animal racional"
seria falsa por falsa implicação, se o homem não existisse. Esses reparos
implicam duas teses fundamentais:

1) o Ser não é redutível a um predicado;

2) e o Ser é uma possibilidade que pode ser expressa só por uma proposição
contingente.

Esta última tese revela a modalidade primária que as observações de Ockham


atribuem ao Ser essa modalidade é a POSSIBILIDADE. O empirismo clássico do séc.
XVII-XVIII atém-se a essa modalidade.

Locke contrapõe a certeza das proposições universais, que não dizem respeito à
realidade, à contingência das proposições particulares, que dizem respeito à
existência.

"As proposições universais, de cuja verdade ou falsidade podemos ter conhecimento


seguro não dizem respeito à existência; as afirmações ou negações particulares,
que não seriam certas se transformadas em gerais, referem-se apenas à existência,
pois declaram somente a união ou a separação acidental das ideias em coisas
existentes, ideias que em sua natureza abstrata, podem não ter entre si nenhuma
ligação ou rejeição conhecida".

Portanto, com exceção apenas da existência de Deus, conhecida por meio da


demonstração, ou seja, por meio da relação que ela tem com outras existências,
segundo Locke a existência é conhecida de modo contingente e imediato, através
de uma relação direta com o objeto: relação que É INTUIÇÃO NO CASO DA
EXISTÊNCIA do eu e SENSAÇÃO NO CASO DA EXISTÊNCIA DAS COISAS. Isso
exclui que a existência seja um predicado ou que de qualquer maneira possa ser
reduzida a uma determinação conceptual. Locke diz:

"Como, com exceção da existência de Deus. não existe nenhuma conexão


necessária de qualquer existência com a existência de algum homem em
particular, segue-se que ninguém em particular pode conhecer a existência de
outro ser senão quando este, atuando sobre ele passa a ser PERCEBIDO. O fato
de se ter a ideia de uma coisa em mente não demonstra a existência dessa coisa,
tanto quanto o retrato de um homem não serve de testemunho de sua existência no
mundo, ou tanto quanto as visões de sonho não constituem, por si, uma história
verídica.”

Esse conceito da sensação como órgão de conhecimento do que existe nada mais é
que o antigo conceito estoico de REPRESENTAÇÃO CATALÉPTICA, que "deriva de
um ente subsistente e é impressa e marcada por ele, de tal modo que se conforma a
ele.” Essa doutrina equivale a definir o Ser das coisas como possibilidade de
manifestação delas à percepção ou como percepção mesma.

A definição de Ser como possibilidade é explicitamente retomada pela filosofia alemã


do séc. XVIII em especial por Wolff:

"Ente é o que pode existir e consequentemente, cuja existência não repugna."

Mas nesta definição tudo depende, obviamente, do significado de possível. E a


propósito Wolff retoma um conceito talvez oriundo de Duns Scot que se encontra já
formulado em Leibniz:

"possível é o que não implica contradição, vale dizer, o que não é impossível.”

Desse ponto de vista, a possibilidade era definida como simples ausência da


impossibilidade, ou seja, como necessidade negativa. Portanto, nessa doutrina, a
concepção de Ser em termos de possibilidade era simples aparência. Kant, com muita
firmeza, viu o que se escondia por trás dessa aparência:

"O jogo de prestígio, em virtude do qual a possibilidade lógica do conceito (que não se
contradiz) é confundida com a possibilidade transcendental das coisas (em virtude da
qual ao conceito corresponde um objeto), pode enganar e contentar só os
inexperientes".

A "possibilidade real" é a dada por uma INTUIÇÃO SENSÍVEL, isto é. pela


experiência atual ou possível. Consequentemente, Ser não é predicado real, ou seja,
um conceito de alguma coisa que se pode acrescentar ao conceito de uma coisa. Se
alguém disser Deus é ou que Deus existe, não estarei afirmando um predicado novo
do conceito de Deus, mas apenas o conceito em si, com todos os seus predicados, e o
objeto em relação ao meu conceito. Ambos devem ter exatamente o mesmo conteúdo,
porém nada se pode acrescentar ao conceito que expressa simplesmente a
possibilidade quando penso seu objeto como dado (com a expressão: 'Ele é').
Deste ponto de vista, está claro o caráter limitado e condicional de qualquer
possibilidade ou Ser, portanto o caráter fictício ou fantasioso de uma "possibilidade
absoluta", que valha sob qualquer aspecto.

Na filosofia contemporânea, as doutrinas abaixo remetem-se a essa interpretação do


significado do Ser:

a)Teorias que, em matemática, em física e nas ciências em geral, definem a existência


como modo de Ser particular; p. ex., como "ausência de contradição", "possibilidade
de construção" ou "possibilidade cie verificação". A modalidade não necessária do Ser
que assim se define é evidente.

b) Formas do empirismo que só reconhecem Ser aos objetos de experiência possível.


E a possibilidade de experimentação e observação que define o significado do Ser.

c) Teorias filosóficas que afirmam o primado da possibilidade. Seu precedente está


na filosofia de Kierkegaard que foi o primeiro a propor uma interpretação da
existência humana em termos de possibilidade. Por outro lado, o mesmo ponto de
vista pode ser reconhecido em alguns aspectos em Husserl e nas doutrinas a ela
ligadas. Embora Husserl privilegie o Ser da consciência e o considere
NECESSÁRIO, ao contrário das realidades das coisas, a análise fenomenológica,
sob esse aspecto, é uma análise de POSSIBILIDADE; para ela, como disse
Heidegger:

"mais elevada que a realidade está a possibilidade".

Husserl diz:

"Para mim, o lato (amplo) de uma natureza, um mundo cultural e humano, com as
suas formas sociais, etc, existirem significa que as experiências correspondentes me
são possíveis, ou seja, que, independentemente de minha experiência real desses
objetos, posso, a qualquer instante, realizá-los e desenvolvê-los em certo estilo
sintético. Isso significa que me são possíveis outros modos de consciência
correspondentes a essas experiências como atos de pensamento indistinto etc, e
que é inerente a esses atos a possibilidade de eles serem confirmados ou invalidados
por meio de experiências de um tipo previamente estabelecido.”

Deste trecho significativo, decorre que a análise fenomenológica é uma análise em


termos de possibilidade; vale dizer: a possibilidade é o significado primário que ela
atribui ao ser. O mesmo acontece no existencialismo.

Heidegger disse: "O ser-aí, enquanto compreensão, projeta o seu Ser em


possibilidades" na realidade, todas as análises cie Heidegger têm como tema as
possibilidades do ser-aí, que constituem o tema da analítica existencial. Do mesmo
modo, para Jaspers, as possibilidades objetivas constituem a própria existência,
enquanto Sartre afirma que "o possível é uma estrutura do para-sí, ou seja, da
consciência". É verdade que para Sartre, distinguir-se-ia dessa estrutura o Ser em si
que é o Ser do fenômeno que não seria nem possível nem necessário, mas
simplesmente existente. Entretanto, Sartre atribui a esse mesmo Ser o caráter de
contingência e não acha possível analisar o ser em si senão a partir do ser para si,
a consciência: portanto, nessa doutrina, o primado da possibilidade é evidente.

Cumpre observar, porém, que uma das características da concepção em exame é a


recusa explícita das soluções simples e globais para o problema do Ser, ou a
desistência de encontrá-las; portanto, é o abandono do tratamento "metafísico" desse
problema. De fato, reconhecer o significado do Ser como possibilidade exige que
se passe imediatamente à consideração e ao estudo das possibilidades, nos
campos específicos em que são condicionadas, onde têm "realidade". Logo, não
é possível desenvolver uma metafísica da possibilidade, tomando como modelo
a metafísica clássica da necessidade e visando a substituí-la. Uma tentativa desse
gênero só teria como resultado o retorno puro e simples à metafísica da necessidade:
isso se demonstra no próprio Heidegger, que, ao abandonar o terreno da análise
existencial e passar á elaboração do "problema do Ser em geral", voltou às teses
clássicas da metafísica tradicional com o reconhecimento da necessidade do Ser.
RESUMO:

O conceito de Ser atravessa toda a história da filosofia, desde os seus primórdios.


Embora já colocado pela filosofia indiana desde o século IX a.C., foi o eleata
Parmênides quem introduziu, no Ocidente, esse longo debate, que percorre os séculos
e as diversas culturas até os nossos dias.

O Ser é portanto um dos conceitos fundamentais da tradição filosófica ocidental.


Platão acreditava que o ser é o poder existir.

Usualmente, na tradição grega, a palavra SER (einai) assume variados significados


diferentes os quais serão apresentados por Platão no diálogo Sofista de maneira mais
detalhada solucionando, dessa forma, os problemas lógicos e semânticos que
subjazem a algumas das formulações centrais da República.

Algumas Significações:

1. Existência: para exprimir o fato de que determinada coisa existe. Por exemplo: "a
erva é" (= existe)", mas também "o unicórnio é" (ao menos no sentido de existência
mental). Lembremos que os gregos não tinham uma palavra específica para a
existência.

2. Identidade: para identificar e/ou distinguir algo e/ou alguém em relação a si mesmo
e/ou aos outros. Por exemplo "A=A" ou "A beleza é bela"

3. Predicação: para exprimir uma propriedade de determinado objeto. Por exemplo: "y
é x" ou a maçã é vermelha. Platão descobriu que é condição da predicação "não haver
identidade entre os referentes dos nomes colocados nas posições de sujeito e
predicado." Por exemplo: "Vênus é a estrela da manhã". Gramaticalmente, temos um
sujeito e um predicado, mas logicamente temos uma falsa predicação, pois "Vênus" e
a "estrela da manhã" são termos cujo objeto é o mesmo, um dos planetas do
Sistema Solar.

4. Veritativo: Nos diálogos da velhice, Platão conseguiu separar os valores veritativos


da ontologia, ou seja, verdadeiro e falso passaram a ser qualidades do discurso
sobre o mundo. Platão desloca a verdade do SER para o discurso. O sentido
metalinguístico veridical permite ao verbo SER significar a verdade de uma
proposição.

Em filosofia, ser é considerado não só como um verbo (existir) mas também como
substantivo ("tudo o que é"). Os termos ser e existência podem ter significados
diferentes, embora, na linguagem corrente, possam ser sinônimos ("ser" como "o fato
de ser" = existência). As formas identitativa e predicativa são objeto de estudo da
lógica.

Problema com o significado de ser na filosofia de Hegel

Bertrand Russell percebe que a lógica de Hegel foi construída sobre uma confusão a
respeito dos significados do verbo ser
"O argumento de Hegel nesta porção de sua 'Lógica' depende completamente de
confundir o 'é' da predicação, como em 'Sócrates é mortal', com o 'é' da identidade,
como em 'Sócrates é o filósofo que bebeu a cicuta'.

Devido a esta confusão, ele pensa que 'Sócrates' e 'mortal' precisam ser idênticos.
Vendo que eles são diferentes, ele não infere, como outros fariam, que há um erro
em algum lugar, mas que eles exibem 'identidade na diferença. Novamente,
Sócrates é particular, 'mortal' é universal. Portanto, diz ele, dado que Sócrates é
mortal, segue que o particular é o universal — tomando completamente o 'é' como
expressivo da identidade. Mas dizer que 'o particular é o universal' é auto-
contraditório. De novo, Hegel não suspeita de um erro mas prossegue para sintetizar
particular e universal no indivíduo, ou universal concreto. Isto é um exemplo de como,
por descuido desde o início, sistemas de filosofia vastos e imponentes são
construídos sobre confusões estúpidas e triviais, que, senão pelo fato quase
incrível de que não são intencionais, se estaria tentado a caracterizar como
trocadilhos."

FONTES:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 878 - 888

"Ser es simplemente poder": Más de 2.000 años después los científicos ratifican una teoría de Platón

WILLIANS, B. Platão. São Paulo: Unesp, 2000.

SANTOS, J. Trindade. Platão: a construção do conhecimento. São Paulo: Paulus, 2012.

DIAS, J. R. Barbosa. O Ser no "Sofista" de Platão. Kalagatos, revista de filosofia. Fortaleza. v.7 n. 14,
2010. p. 57 - (Wikipédia).

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