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Frederico de Holanda
Ele presta atenção à história, mas a subverte. Solta os palácios de Brasília do chão ou os
rodeia por espelhos d’água, criando elaboradas transições entre fora e dentro, milenar
atributo de monumentalidade. Mas não há elevados pódios nem imensas escadarias. A
entrada é por suaves rampas (Supremo Tribunal Federal, Palácio do Planalto) ou por
passarelas sobre a água, que levam a vestíbulos surpreendentemente no mesmo nível da
rua (Palácio do Itamaraty, Palácio da Alvorada). E as transições entre interior e exterior
são suavizadas por zonas de sombra – os “alpendres remansos” de que nos fala João
Cabral de Melo Neto. No Congresso Nacional (Brasília), seu projeto preferido, ele
radicaliza: reesculpe o terreno, o acesso é por múltiplos níveis, as vias do entorno estão
em alturas diversas, já nem sabemos o que é piso e o que é teto.
A busca da ambiguidade entre dentro e fora, das suaves transições entre interior e
exterior, fazem-no criar o “tema” Casa do Baile (Pampulha, Belo Horizonte): dois
elementos opacos separados (e ligados) por um espaço aberto mas coberto, por uma
marquise que reduz bom trecho do prédio a um simples teto. A arquitetura é apenas uma
sombra criada às margens da lagoa, diluem-se fronteiras entre cultura e natureza. O
tema recorre em variações, como transparência na parte central do prédio: sua casa na
Estrada das Canoas (Rio de Janeiro), o Palácio da Alvorada, o Palácio do Itamaraty, o
projeto original do Congresso Nacional, cujo vestíbulo ligava visualmente, através do
edifício, a Esplanada dos Ministérios, a oeste, à Praça dos Três Poderes, a leste.
A incorporação da natureza tem o ápice na Casa das Canoas: a transparência central faz
da mata circundante as paredes da concha doméstica. No Alvorada, ele brinca com
ilusões óticas: o jogo de espelhos do vestíbulo esconde a parca opacidade interna e
funde visualmente o jardim, a leste, ao gramado da chegada, a oeste. O edifício parece
mais transparente do que é. Variação de ilusão ótica ocorre no Museu de Arte
Contemporânea (Niterói). O apoio central do edifício está dentro de um espelho d’água
que mascara o promontório onde o museu se ergue, e parece levar o prédio para dentro
da Baía da Guanabara.
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