Sei sulla pagina 1di 8

educação

ca otas raciais
no jogo
nti-racismo
Por: Fausto Antonio, Doutor em Teoria Literária pela Unicamp e Escritor

Editoriais e opositores das políticas de co. Há, igualmente, cotas implícitas e longo prazo, precisamos ir além da
cotas falam em políticas universais. para brancos em todos os espaços da constatação de que os negros são dis-
Nesse caso, os dados, isto é, a realida- sociedade. Por outro lado, o branque- criminados. Tal recorte é necessário na
de concreta do racismo à brasileira nos amento político e ideológico tem, na medida em que milhões de negros, se-
mostra que há desvantagens ocupa- contramão, o enegrecimento físico da cularmente postos à margem, bradam
cionais, locacionais, educacionais e ju- população. A miscigenação, no nosso por cidadania e exigem que a nação se
rídicas profundamente consolidadas e caso, não redundou e não redundará ocupe deles. Os negros não são inte-
que impedem a cidadania a milhões de em branqueamento e/ou brancura. grados no Brasil, a subcidadania preci-
negros. As propaladas políticas univer- As cotas e o Estatuto da Igualdade sa ser revertida. Isso é um risco para a
sais não se constituem, dentro da reali- Racial acirram, o que perspectiva unidade nacional. As políticas compen-
dade brasileira, em meios eficazes para etnocêntrica-racista instalada no país satórias servem, além de superar o es-
corrigir as causas, o racismo amplamen- não deseja, o debate e a compreensão tágio de constatação do racismo, para
te urdido no tecido social e imaginário. da nossa realidade concreta. Somos o manter a coesão nacional. As cotas, o
Há, no centro do sistema racista brasi- país, fora do continente africano, com Estatuto da Igualdade Racial não acir-
leiro, uma política de branqueamento a maior contingente populacional ne- ram o ódio racial, é o contrário. O risco
barrando a ascensão e o acesso dos gro. Não haverá país algum sem a cons- para unidade nacional não advém da
descendentes da negrura aos bens cul- trução de um projeto civilizatório e de política de implementação de cotas, mas
turais, educacionais e de toda monta. nação inclusivo para os milhões de ne- da subcidadania dada ao negro e da não
Os sistemas televisivos e educacionais gros e índios. integração de milhões de afro-brasileiros.
são exemplares a esse respeito. Os va- Avultam, desse modo, algumas pergun- Da mesma forma, as cotas e o Estatu-
lores chamados de universais, nesses tas, o que precisamos fazer para supe- to da Igualdade Racial não inauguram,
sistemas, estão consolidados a partir da rar as desvantagens locacionais, ocupa- como querem muitos ideólogos da de-
brancura e da Europa. O imaginário cionais, educacionais e jurídicas? Além mocracia racial, da cordialidade e do
brasileiro, pela força da naturalização de um projeto político nacional e de silêncio em torno do debate, a raciali-
do racismo erigido entre nós, é bran- mudanças estruturais de curto, médio zação do país. Somos, desde os primór-

28 Revista Afirmativa Plural ! Agosto / Setembro 2007


educação

Foto: Divulgação

Fausto Antonio

dios da colonização, profundamente ras, manipula dados, abstrai a realida- cotas e da implementação do Estatuto
racializados. O destino da nação híbri- de concreta e se constitui, então, como é fomentada sob o prisma dos bran-
da e das raças cruzadas, desde a colô- expressão da exclusão. cos da classe dominante e por uma
nia e com mais força após o 13 de maio Raça, meio e clima eram fatores usa- equivocação premeditada do conceito
de 1888, tirou o sono e assombrou as dos, de forma emblemática e enfática de raça. A ciência é novamente convo-
elites intelectuais e econômicas nacio- no final do século XIX e início do sé- cada. O conceito biológico, sobejamen-
nais. A imigração, as perseguições, a culo XX, como categorias de análise e te superado desde o século XVIII, não
violência física, simbólica e o apaga- justificadora do nosso atraso cultural, resolve o impasse. Mas é nessa seara
mento temático, corpóreo e as desigual- social e educacional. As desigualdades que mergulham as personalidades que
dades raciais em marcha até os dias atu- raciais são, estruturalmente falando, deveriam ter uma posição crítica em
ais explicitam as táticas e as estratégias pontos nucleares para a construção e relação ao racismo à brasileira. Aqui é
das elites nacionais. manutenção das injustiças instaladas no prudente recuperar a noção de raça e
A historiografia, a literatura e as ciên- país. Sob esta perspectiva, a aprovação etnia a partir dos dados anatômicos e
cias, como expressão da sociedade bra- do sistema de cotas e o Estatuto da culturais. O conceito étnico-racial, de
sileira, erigiram-se a partir de funda- Igualdade Racial devem assegurar a forma transitiva, como o concebe o
mentos raciais e racistas. É flagrante, centralidade do critério de raça, etnia e Movimento Negro Brasileiro, isto é,
nos artigos contrários às cotas, a bus- cor. Devem assegurar o campo tático historicamente construído nas tensas
ca de apoio na ciência. Aliás, a exclu- de exposição, através de uma política de relações que permeiam, sempre hierar-
são do negro sempre encontrou apoio Estado, da urgência no que se refere à quizando, o cotidiano, o acesso e a as-
na ciência. O respaldo científico, no superação das desigualdades raciais. censão social de negros e brancos no
caso das desigualdades raciais brasilei- A propaganda tenaz dos opositores das passado escravista e hoje. !

Agosto / Setembro 2007 ! Revista Afirmativa Plural 29


v
educação

aga reservada
A política de cotas está em pleno funcionamento no Brasil –
mais de 40 universidades já reservam vagas para alunos
negros. Agora só falta o país responder duas perguntas:
precisamos disso? E dá certo?

Texto: Mauro Tracco, Ilustração Daruman,Design: Josi Campos, Edição: Sérgio Gwercman.

Matéria original da revista Superinteressante. Edição Número 239, de maio de 2007. www.superinteressante.com.br

Em 2005, o governo japonês organi- se dizer pró-cotas. O debate sobre o Agora pense por alguns milésimos de
zou um processo internacional para tema, porém, anda quente. De um lado, segundo: qual desses grupos colocará
oferecer bolsas na Universidade de as cotas são defendidas como a única mais gente no mercado de trabalho e,
Osaka. Joelson Souza de Santana, fi- forma de resolver, de maneira imedia- principalmente, nos empregos que pa-
lho de uma empregada doméstica e de ta, o problema do racismo e suas con- gam os melhores salários? Você nem
um caminhoneiro, negro, foi o único seqüências socioeconômicas. Do outro, precisa somar à equação o preconcei-
brasileiro premiado. Na época, ele era são apontadas como uma fonte de no- to dos empregadores para concluir que
o melhor aluno do curso de português- vos problemas, além de não terem dado os brancos levam vantagem. “Defen-
japonês da UERJ, apesar de ter tido certo onde foram implementadas. Mais do as cotas porque ainda não me apre-
uma formação deficiente, estudando surpreendente é descobrir que, en- sentaram uma proposta melhor para
apenas em escolas públicas. quanto teóricos teorizam e o Legislati- promover a inclusão”, diz frei David,
O sucesso e a capacidade de superar vo não legisla, o Brasil implementa a diretor da ong Educafro. Para ele, o
adversidades fazem da trajetória de todo vapor sua política de cotas: de for- Brasil chegou a um ponto em que ape-
Joelson uma história tocante. Talvez ma independente, mais de 40 universi- nas uma atitude drástica, como cotas
o único que não se emocione ao ouvi- dades já reservam vagas por critérios universitárias, pode reverter a desigual-
la seja o estudante branco que perdeu raciais ou econômicos. dade racial. E vale lembrar que mudar
a vaga para ele no vestibular, apesar Como o debate está mais do que pos- esse quadro não é bom apenas para os
de ter se saído melhor na prova. to, é melhor você escolher seu lado da negros, mas para todo o país, que ga-
Joelson foi beneficiado pelo sistema trincheira. Porque o resultado dessa ba- nha uma sociedade mais justa e aumen-
de cotas. São vários nomes: ação afir- talha vai dizer muito sobre o país que ta a diversidade de sua mão-de-obra.
mativa, discriminação positiva, políti- o Brasil será nos próximos anos. A idéia de que devemos usar dois pe-
ca compensatória. sos e duas medidas para tratar grupos
O argumento pró-cotas
Mas a idéia é uma só: corrigir a desi- desiguais não é exatamente um tabu.
gualdade entre negros, pardos e bran- Veja os números do último censo: 5,8 Deficientes físicos têm reservados os
cos dando benefícios ao lado mais fra- milhões de brasileiros com mais de 25 melhores lugares do estacionamento.
co. Projetos como o Estatuto da Igual- anos tinham curso superior completo. Aceitamos isso por saber que se trata
dade Racial e a Lei de Cotas tramitam Desses, 82,8% eram brancos. Juntos, ne- de um grupo em desvantagem na hora
há anos no Congresso. Decisão que é gros e pardos somavam 14,3% - apesar de se locomover (ou será que os mo-
bom, nada - apesar de o governo Lula de representarem 47,3% da população. toristas que não respeitam as vagas ex-

30 Revista Afirmativa Plural ! Agosto / Setembro 2007


educação

Brasileiros Com Curso


Superior Completo

Entre todos os Brasileiros que


concluiram o 3º grau, 82,8% são
brancos. Os negros e pardos são
apenas 14,3%.

Agosto / Setembro 2007 ! Revista Afirmativa Plural 31


educação

32 Revista Afirmativa Plural ! Agosto / Setembro 2007


educação

clusivas estão protestando contra essa direto, dá para combatê-lo com maior nas. Assim que o equilíbrio for atingi-
política?). facilidade”, diz frei David. Em outras do no ensino superior, a reserva de
Ricos pagam mais imposto que pobres. palavras, não se resolve um problema vagas pode ser extinta. O sistema de
É justo. A lógica para a reserva de va- sem antes fazer uma profunda refle- cotas seria um mal menor que corrige
gas universitárias, dizem seus defenso- xão para admitir que ele existe. Afir- um mal maior - e saldaria uma dívida
res, é a mesma: negros estão em des- mar que nosso país é muito de 400 anos do Brasil com seus negros.
vantagem em termos de oportunida- miscigenado, ou então que o precon- Que dívida é essa? Quando nossa eco-
des de ascensão social. Por isso mere- ceito nacional é contra pobres, e não nomia era baseada no açúcar e no ouro,
cem um tratamento diferenciado. Co- contra negros, seriam algumas das for- eram os negros que geravam boa parte
tas universitárias são uma medida de mas em que se expressa a negação des- da riqueza nacional. Em troca dos bens
emergência. Uma tentativa de resolver sa doença. que produziram, receberam chicotadas.
um problema que existe há quase 400 “Fingir que a miscigenação eliminou as A Lei Áurea, de 1888, deu aos escra-
anos. Claro que melhorar a qualidade vos a liberdade, mas nenhuma oportu-
do sistema de ensino público básico é nidade de vida. Não vieram junto com-
fundamental, permitindo que os mais
pobres freqüentem escolas tão boas
quanto as dos ricos, é o melhor cami-
nho para promover a igualdade. Mas
até quando as classes mais baixas, onde
se encontra a maioria dos afrodescen-
dentes, vão esperar que o governo in-
vista a sério na qualidade das escolas?
“ O Brasil é um país
racialmente
desigual. Brancos
vivem em
condições muito
pensações financeiras, programas de
absorção pela sociedade ou um incen-
tivo para que os escravos fossem edu-
cados e treinados para trabalhar como
assalariados. As distorções sociais que
esses equívocos provocaram não foram
resolvidas até hoje.

O argumento anticotas
É justo desperdiçar uma geração na fila melhores que os
de espera? “Mesmo que o ensino pú- Para poder se beneficiar das cotas, é
blico melhorasse a ponto de permitir
negros. O diploma preciso fazer uma escolha: ou se é bran-
que seus alunos competissem em pé universitário tem co ou se é negro. Essa proposta de di-
de igualdade no vestibular com alunos visão explícita dos brasileiros em duas
oriundos dos colégios particulares, os muito a ver categorias é o primeiro ponto a tirar
estudantes negros levariam cerca de 32 do sério os opositores das cotas. Ques-
com isso.


anos para atingir o atual nível dos alu- tiona-se a criação de um sistema que
nos brancos”, escreve o antropólogo subverte um pilar da democracia: a idéia
Kabengele Munanga no livro Educa- raças é uma forma de racismo”, afirma de que todos somos iguais perante a
ção e Ações Afirmativas. o senador Cristovam Buarque. “O ra- lei. “Para combater o racismo, o Esta-
Nascido na República Democrática do cismo existe hoje porque o Brasil não do vai instituir o negro como figura ju-
Congo, Munanga é professor de Polí- tem médicos negros, não tem juízes ne- rídica. Isso nunca existiu em nosso sis-
ticas Raciais da USP. Para ele, o Brasil gros, não tem engenheiros negros. tema legal”, diz a antropóloga Yvonne
é um país onde o preconceito e a dis- Quando a elite for branca e negra, o Maggie, da UFRJ. Para ela, o efeito
criminação social não foram erradica- racismo acaba”, acredita o senador. E, dessa “produção artificial de etnias e
dos. Por isso há diferenças entre ser apesar de admitir que a política de co- raças” é o fim da identidade nacional.
“branco pobre” e “negro pobre”. O tas prejudicará alguns brancos, obriga- Deixamos de ser cidadãos do Brasil para
primeiro é discriminado pela condição dos a ceder seu lugar a estudantes com nos tornar brasileiros negros ou brasi-
social e o segundo é discriminado pela nota inferior, Buarque afirma que é pre- leiros brancos. “É o caminho para a di-
condição social e racial. “A política do ciso cometer injustiças pontuais para fusão do ódio racial no Brasil”, afirma
tapinha nas costas tem massacrado os corrigir uma enorme injustiça histórica. o sociólogo Demétrio Magnoli.
negros. Em países onde o racismo é Além disso, as cotas não seriam eter- Outra distorção, na opinião dos críti-

Agosto / Setembro 2007 ! Revista Afirmativa Plural 33


educação

cos da política de cotas, é a supressão to fez, por exemplo, com que 3 milhões gabarem por promover o avanço racial.
do mérito como critério de recompen- de negros trocassem a pobreza e as Quem não quer uma mamata dessas?
sa. Uma organização meritocrática é escolas fracas do sul pelas regiões ur-
Dá certo?
aquela que dá as melhores oportuni- banas e modernas do norte. O efeito
dades a quem demonstrar mais habili- da mudança logo foi sentido: a porcen- Então o país decidiu que, sim, é preci-
dade e talento. tagem de famílias negras abaixo da li- so aumentar a presença de negros nas
Ao derrubar essa idéia, mesmo com a nha de pobreza caiu de 87% em 1940 universidades. Mas como fazer isso?
boa intenção de criar uma sociedade para 47% por volta de 1960. Depois Como determinar quem é negro em
em que mais pessoas tenham acesso à de 1970, quando foram adotadas as co- um país miscigenado como o Brasil?
meritocracia, as cotas podem estigma- tas, essa taxa diminuiu apenas um pon- E, mais importante, como garantir que
tizar quem é beneficiado por elas. “Nos to percentual. A conclusão é que so- um empurrãozinho simples - o direito
EUA, os estudantes asiáticos tiram dos mente a combinação de crescimento de cursar a universidade - resulte anos
brancos mais vagas nas universidades econômico e bom ensino é capaz de mais tarde em melhores empregos, me-
de ponta do que os negros. Mas não transformar os indicadores sociais de lhores salários e menos desigualdade?
são obrigados a lidar com o mesmo res- um país. Cotas - para negros, para imi- Estudos da Universidade de Brasília,
sentimento. Isso porque existe a per- grantes ou para pobres - não resolvem uma das primeiras a admitir alunos via
cepção de que eles entraram por méri- o problema. cotas no país, mostram que esses estu-
to e não ajudados por um sistema de Há ainda o temor de ver a qualidade do dantes têm rendimento acadêmico se-
cotas. Ou seja: o ressentimento não é ensino piorar com a entrada de alunos melhante aos demais. E, para os dire-
em relação à perda de vagas, mas ao que não tiveram as melhores notas no tores da universidade, a questão do es-
modo como isso acontece”, diz vestibular. Para esses críticos, as funções tigma parece não existir - apesar do
Thomas Sowell, economista da Univer- primordiais da universidade pública são misterioso incêndio no dormitório dos
sidade Stanford e autor de Ação Afir- a formação de alto nível e a pesquisa, estudantes negros em março. “Aqui,
mativa ao Redor do Mundo, uma aná- não a prestação de um auxílio social ao não se observam atos discriminatórios
lise dos resultados de políticas compen- país. “Quando as universidades admi- contra os cotistas”, diz Jaques Jesus, di-
satórias implantadas no planeta. Há tem alunos por critérios não acadêmi- retor da Assessoria de Diversidade e
mais um ingrediente no caldo da estig- cos, há um risco real de que elas se trans- Apoio aos Cotistas.
matização: estudos mostram que as formem em grandes escolões de baixa O mesmo acontece na UERJ, que re-
ações afirmativas beneficiam mais a qualidade”, diz Simon Schwartzman, ex- serva 20% das vagas para alunos da
classe alta do grupo alvo do privilégio, presidente do IBGE. rede pública, 20% para negros e 5%
deixando os mais pobres na mesma. Por fim, o time anticotas não tem dú- para portadores de deficiência. Uma pes-
Em seu trabalho, Sowell desfaz outro vidas de que o caráter temporário é quisa interna mostrou que o desempe-
mito, freqüentemente citado por defen- uma farsa. A maioria dos países que as nho dos alunos aprovados pelo sistema
sores das cotas: a de que as ações afir- adotam acaba por prorrogá-las. Qual de cotas só ficava aquém na área de tec-
mativas foram responsáveis pela ascen- político quer se expor à impopularida- nologia. Mas, apesar de as pesquisas in-
dência social dos negros nos EUA. Seu de de suspender um benefício? Ao con- dicarem que tudo vai bem na UERJ,
estudo mostra que a proporção da po- trário, as cotas costumam ser amplia- há um dado que preocupa: o número
pulação negra que freqüentava as uni- das para beneficiar outros grupos em de candidatos que se inscreve para con-
versidades dobrou nas duas décadas desvantagem (leia: mais votos). Quan- correr às vagas por cotas cai ano a ano.
que precederam a revolução dos direi- do a Índia adotou a ação afirmativa, Pablo Gentili, do Laboratório de Polí-
tos civis ocorrida nos anos 60. Nesse em 1949, foi determinado um prazo de ticas da Cor da UERJ, diz que os per-
período, logo após a 2ª Guerra Mun- 10 anos. A reserva está até hoje em vi- calços econômicos são o principal mo-
dial, os EUA passaram por um perío- gor. O motivo? tivo de desânimo dos cotistas. Os cus-
do de crescimento econômico sem pre- Cotas não custam nada ao governo. E tos de transporte e livros e a necessi-
cedentes em sua história. O crescimen- ainda dão aos políticos a chance de se dade de trabalhar em período integral

34 Revista Afirmativa Plural ! Agosto / Setembro 2007


educação

para ajudar no orçamento familiar são


grandes obstáculos para esses alunos. Quem é negro no Brasil?
Assim, o acesso à vaga não se trans-
forma em acesso à informação. Nos EUA a coisa é simples: negros de recrutamento e seleção das empre-
Enquanto o número de cotistas dimi- quase só fazem filhos com negros e sas”, diz frei David. Apesar disso, as
nui no Rio a quantidade de universitá- brancos, com brancos. Mas como sa- “fraudes raciais” com o objetivo de se
rios negros e pardos no Brasil só cres- ber quem é quem num país como o aproveitar do benefício são comuns
ce. Entre os anos 2000 e 2005, a pre- Brasil, que instituiu o mulato como cor no Brasil.
sença deles nas universidades subiu de nacional e onde japonês dorme com A UnB instituiu uma comissão para jul-
18% para 30%. Na avaliação da Secre- italiana, branca com negro e negra com gar se a autodeclaração é verdadeira.
taria de Políticas de Promoção da Igual- índio? Segundo pesquisa do geneticista Os integrantes da banca, cujos nomes
dade Racial, do governo federal, entre Sérgio Pena, 87% da população brasi- não são revelados, dão uma bela olhada
os principais motivos desse aumento leira tem pelo menos 10% de ancestra- na foto do candidato. Decidem assim,
está a adoção de políticas afirmativas. lidade africana. Os números da pesqui- no olho (como os policiais e os recruta-
Se for mantido o ritmo atual, diz a se- sa mostram ainda que são 77 milhões dores), quem é negro e quem não é.
cretaria, a desigualdade no acesso à os brasileiros que têm pelo menos 90% O tribunal racial da UnB recebeu uma
educação superior entre negros e bran- de ancestralidade africana, aqueles que chuva de críticas. A Academia Brasi-
cos no Brasil pode praticamente aca- apresentam traços físicos bem carac- leira de Ciências, por exemplo, afir-
bar em 15 anos. E há ainda o exemplo terísticos dos nativos daquele continen- mou que o preconceito racial no país
do exterior. Muitos países estão ten- te. “A discriminação contra os negros não deve ser enfrentado com critéri-
tando gerar inclusão sem uma reserva ocorre de acordo com o fenótipo, e os destituídos de qualquer base cien-
fixa de vagas. Os EUA, por exemplo, não pelo genótipo. Quanto mais ca- tífica. Em 2005, nada menos que 48%
abandonaram esse sistema em 1978, racterísticas afro a pessoa possui, mai- dos candidatos inscritos tiveram suas
quando a Suprema Corte o julgou in- or é o grau de discriminação. fotos rejeitadas e foram impedidos
constitucional. Hoje, a raça é um fator Os policiais sabem muito bem discri- pela banca de concorrer a uma vaga
legítimo no julgamento dos processos minar, assim como os departamentos pelo sistema de cotas.
de admissão, mas não pode ser o úni-
co. “Levamos em conta um conjunto e instituições de ensino fazem um es- dor. Mostra que as universidades são um
de dados, como desempenho escolar, forço conjunto. Segundo Patrick Fish, instrumento eficaz no combate à desi-
história de vida, condição econômica da organização Educação Melhor para gualdade racial. Mas também guarda um
e lugar de origem”, diz Mark Fancher, a África do Sul, o plano nacional exige alerta: a jornada contra o racismo é lon-
advogado do Projeto de Justiça Racial que as instituições tomem medidas para ga, custa caro e, principalmente, não
da Universidade de Michigan. aumentar o número de alunos negros. pode ser vencida por decreto. !
Os EUA até permitem que pessoas “Mas a tarefa fica a cargo das universi-
menos preparadas sejam aceitas nas dades, não é imposta por uma lei”, diz
Para saber mais
universidades, mas com o intuito de Fish. Para responder ao chamado, as ins-
promover a diversidade no campus. tituições de ensino criaram cursos pre- Não Somos Racistas
Ali Kamel, Nova Fronteira, 2006.
Nesse sentido, um branco criado no paratórios que ajudam o aluno a suprir
caipira Alabama tem tanto potencial os requisitos da educação superior. O Ação Afirmativa ao Redor do Mundo
quanto um negro de Nova York. governo, por sua vez, gastou US$ 166 Thomas Sowell, UniverCidade.
A África do Sul seguiu por outro cami- milhões em um programa de bolsas uni- www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
detalheobraform.do? select_action
nho. O país onde foi criado o apartheid versitárias que beneficia 100 000 jovens
=&co_obra=5216
decidiu não adotar cotas universitárias. por ano. Em 1994, negros formavam Link para download do livro Educação e
E está conseguindo resolver o proble- 47% do corpo estudantil. Em 2006, Ações Afirmativas.
ma da desigualdade. Para isso, governo 71%. O exemplo sul-africano é anima-

Agosto / Setembro 2007 ! Revista Afirmativa Plural 35

Potrebbero piacerti anche