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Sabemos que até aos séculos XIX e XX, a História era feita a partir dos

heróis, esquecendo o povo que com eles partia para a guerra, dos monarcas
que se alimentavam e à sua numerosa corte com os impostos pagos pelos
seus servidores mais esquecidos, mas aos quais se ficavam a dever os
grandes monumentos e feitos gloriosos que ficavam para o futuro, apenas
se devendo e tendo como engenheiros, arquitectos e guerreiros os monarcas
e príncipes. Sabemos que apenas se falava e escrevia sobre a nobreza e o
alto clero, os mestres das ordens religiosas e militares…

Ora, em Fossier, o leitor não encontrará na Gente da Idade Média, nem


sequer ricos mercadores ou monges piedosos. Cavaleiros armados para a
guerra, essa galeria de personagens pintadas a vivas cores e erradamente
enaltecidas como se actuassem sozinhas, que representavam uma parte
diminuta e superficial de referências quando estas não podiam deixar de ser
feitas de todo. E só assim. A gente vulgar, comum, os populares que faziam
mexer a economia, propagar a religião, servir os mais importantes
elementos da sociedade tão-só reconhecidos pelos nomes de família…ao
Homo nem uma referência, excepto globalmente por trabalharem de Sol a
Sol para pagarem os impostos àqueles e servirem o Reino como
reparadores de pondes abatidas, muralhas caídas, fontes sem funcionarem,
caminhos esbatidos pela fúria dos cavalos e dos invasores e tomarem parte
como pés-descalços nas guerras frequentes, defensivas e ofensivas. O povo,
esta gente comum, geralmente tratada tão só como um grupo de figurantes,
passa a ser a protagonista central desta obra.

O presente estudo propõe-se deitar abaixo os tópicos, as ideias


preconcebidas e os erros nos quais se costumava cair ao pensar, ler e
escrever sobre a Idade Media. Para isso, longe de estudos eruditos da
sociedade medieval, da sua economia e da sua história cultural ou artística,
o autor centra-se nas gentes comuns da época longa - séc. V ao XV. O
leitor não encontrará os que só representam a parte mais superficial dos
esquecidos da época.

Fossier restitui ao mundo a gente miúda, porque vulgar, preocupada com as


doenças, as pestes, a lepra, a malária e a tuberculose que a ataca, a falta de
higiene. de víveres para a sua sobrevivência e dos seus dependentes, as
inesperadas e acentuadas mudanças climáticas, o crescente pagamento de
impostos e os árduos trabalhos braçais obrigatórios, além da morte, que os
espera a todo o momento; de esses homens, mulheres, crianças, novos e
velhos que, como nós, vivem em família e em sociedade, se alimentam e
amparam.

Tendemos a associar o Medievo com una obstinada imagem de violência,


caos e ignorância de que é muito difícil desprenderem-se. Tenhamos em
conta que, ainda hoje, esses factores não nos são de todo alheios e. por isso,
eis num bom momento para entendermos – diz Fossier “para nos
aproximarmos” - essas gentes da Idade Média, sem duvida mais perto de
nós do que os cavaleiros, os monges ou os Senhores laicos ou eclesiásticos
são o espelho da miséria e isolamento a que estavam votadas.

Esta é a história de pobres gentes, de gentes vulgares, daquelas que têm


como principal preocupação a chuva ou o calor excessivos, o que têm na
sua escudela ou fatia de pão e o que a vizinha contou, o sapato que magoa
ou o jogo de bola; e Deus, finalmente, Deus que sabe e vê tudo. Não
vamos, pois, encontrar aqui homens e mulheres que nasceram como
privilegiados da sociedade de então e que mais não eram do que “espuma
da Idade Média”. Aqui estão todos os outros, aqueles de que nunca se fala
porque eles não falam, mas cujas penas e alegrias continuam a ser as
nossas.

1.a O Homem e o OUTRO. Esta uma situação linguística dos nossos dias
que é muito diferente da que encontramos na Idade Média. O homem era
apenas um homem perdido. Não havia palavra para o designar. Usava-se
Homo, enquanto o que o dominava e lhe exigia o impossível era o Dominus
que detinha o dominium, era o dono da terra em que o Homo trabalhava
para ele, porque o dominus, o dom, exercia o dominium sobre ele (pp. 280-
281).

2ª. VIVER EM GRUPO. Os homens sem nome agrupavam-se? Para quê?


Por quê? Bernard de Chartres diria, no século XII: “Nós somos apenas
anões aos ombros de gigantes, desse modo vemos mais longe e melhor que
eles, mas nada seríamos se eles não nos elevassem à suas altura”. O texto
de Fossier, no seu todo, apontando a Idade média, mostra que Fossier
discorda. Era o homem do povo que levava aos ombros o gigante. Nem
convinha que os anões vissem fosse o que fosse, para além daquilo que
sabia que lhe competia fazer para o bem do gigante. Até a esmola que se
dava ao senhor prior, o cura das almas, destinava-se a este e não ao pobre:
era mais uma garantia que um dom do coração. (pp. 281-287)
3ª. COMO AGRUPAR-SE?

Na aldeia. Na congregatio hominum. Na cidade que não nasceu nem


cresceu de modo diferente da aldeia. Atenas era apenas uma acrópole
defensiva, como Roma com o Palatino de Rómulo. Marselha era tão-só um
bom ancoradouro. Lyon, uma notável confluência de cursos de água.
Veneza era apenas um arquipélago. Madrid ou Aigues-Mortes não
passaram de criações artificiais. As cidades europeias, na sua grande
maioria eram castelos, com zonas envolventes destinadas à agricultura e
criação de gado. Vejamos um grupo de gente – pode passar-se em qualquer
ponto da Europa – procurando um pedaço de terra onde possa fixar-se de
um modo duradouro. A terra ingrata ou a cidade sobrepovoada, o abandono
do nomadismo ou mesmo aumentar o espaço que já dominava. O HOMO
sem cara nem nome corta o mato ao terreno, queima-o, limpa o solo das
pedras mais grosseiras, afugenta os ratos e os répteis. Vai murar a terra ou
sinalizá-la.

Fizera a escolha de um habitat que correspondia a motivações muito


simples: uma terra boa e sã que já tivesse dado as suas provas,
A
figura primitiva dos aglomerados campesinos das famílias livres, semi-
livres e servas – podendo ser constituídas por homiziados – encontra-se
muito fortemente marcada pela opção inicial. O castro provençal, italiano,
hispânico…o castelnau gascão, o puech de Auvergne e os terpen da Frísia
concentravam-se em elevações do terreno; os bourgs da Charente, os rupts
da Lorena e os villers da Picardia eram grandes amontoados em campo
raso, planaltos (planícies no alto) ou na base das elevações, bem junto a
cursos de água, com vantagens e inconvenientes, as ruas direitas e as vilas
novas, ou do meio, ou da direita, de cima ou de baixo…em espinha de
peixe ou em planta ortogonal são marcas de uma reunião de conquistadores
ou de reacções autoritárias. As mais alargadas ou cidades, com um maior
número de gente e casas, eram, de ordinário, gizadas em forma de estrela
(pp. 286-293)

4.ª ONDE AGRUPAR-SE ?

Há grande dificuldade em avançar números globais e esboçar uma curva


evolutiva da população. Existem, de facto, listas de rendeiros, de
contribuintes ou de requisitados, por vezes nominativas, munidas de dados
económicos ou profissionais. Mas com mais do que meras estimativas não
poderemos avançar.

Em zonas de aldeias agrupadas, já foram tentadas contagens: em França,


por exemplo.

A Arqueologia já forneceu elementos de estruturas habitadas. Números de


50 a 200 almas em superfícies de dois a quatro hectares dão densidades
plausíveis, atendendo aos espaços, que continuavam rurais.

Em contrapartida, os números urbanos causam surpresas. Por um lado, a


extensão do edificado e dos hortos ou courtils adjacentes é irrisória. Mas
centros urbanos como Paris, Milão, ou Colónia não excedem os 500 ou 600
hectares.

Ver inicio da pág 295 e estimativas.

pp. 294-307

5.º RIR E FOLGAR (pp. 307-314).

O TEATRO, A MÚSICA, A FESTA, A FEIRA, AS PROCISSÕES E


OUTRAS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS, OS AUTOS, OS
JOGOS…
6.º PRECAUÇÕES E DESVIOS

Crises nunca faltarem para deserdenar e desorganizar os pequenos


núcleos sociais de que temos vindo a falar.

No caso da Europa, por exermplo, por ocasiãodo contacto das culturas


mediterrânicas cm as culturas germano-célticas, do séc. III ao séc.
VIII,

Em França, não havia unidade do povoamento nem consciência de


“pátria”,nem de nação. Não havia uma língua comum, nem fronteiras
ou destino indiscutíveis. No entanto, existia um molde de crenças mais
ou menos estanque: a cristandade, ou seja todos os homens e mulheres
que se diziam seguidores da doutrina global de Cristo. Havia, contudo,
rebeldes, sempre os houve, e núcleos de judeus e mouros aqui e ali.

Aos olhos dos demãos povos – o Islam , por exemplo -, esses homens e
mulheres eram “francos”. O erro é evidente, provinha do facto de,
nesses tempos, o profano e o sagrado se acharem misturados e o poder
ser teocrático – era o dominium, o da fé e o do povo “dominante”.

7.ª A ORDEM E AS “ORDENS”

A Ordem celeste dominava o mundo. Baseava-se numa harmonia


cósmica estabelecida desde sempre. Para alguns autores – Dumézil, por
exemplo -, tratava-se apenas de uma característica da cultura indo-
europeia. Mas refutemos: todos, por todo o lado, pretos, índios,
amarelos, brancos, todos espalhados pelo mundo criam na existência
de um Ser Superior, responsável pela situação de todos na Terra.

Não posso concordar com Robert Fossier quando faz ver que “o que
podemos encontrar na Europa, entre greco-romanos, os Celtas e os
Germanos, não possui, ao que parece, qualquer conteúdo espiritual:
tem-se a impressão de que o jurídico e o económico sobrelevavam na
representação dos humanos á responsabilidade moral e religiosa”.
Odin, Thor, Zeus, Júpiter e todo o respectivo elenco, nos contos e nas
falas deles e dos seus crentes, englobavam, nas suas reflexões a
repartição humana. Livres, servos, crentes ou gentios, depois frades e
leigos, virgens ou casados, com família ou sem ela.

Foi nos tempos carolíngios, no séc. IX, que se esboçou a mutação


essencial: nem em Erigenes, nem em Héric d’Auxerre, notamos
qualquer ideia de a Ordem de Deus assentar nas três ordens mais
generalizadas ou, até, mais precisas… correspondentes a um estatuto
social também este, a nosso ver, bem ou mal acertado, igualmente
específico. A formulação deste esquema por Adalbéron de Laon, cerca
de 1020 ou 1030, tornar-se-ia regra intangível, adoptada pelos doutos:
oratores, bellatores, laboratores, tríade muito mal traduzida por “os que
rezam”, “os que combatem” e “os que trabalham” – por outras palavras. Os
clérigos, ou guerreiros e os outros, se se quiser, a Igreja, a nobreza e o
povo. Os clérigos dependiam da vontade de Deus, representado pelo Papa,
que encarnava Cristo na Terra. Os combatentes eram os nobres, cavaleiros
da nobreza, os arma… e os outros eram a massa confusa dos que se não
incluíam nas duas primeiras classes, a “terceira ordem”, um simples
rebanho de fiéis, grex fidelium. Não esqueçamos nem ponhamos de parte
uma eventual opção de vida (hoeresis), evidentemente condenável pela
Ordem estabelecida, mas nunca os devemos considerar de flagrante
imobilismo social. Lembremos o que ocorreu na Inglaterra, em França, na
Alemanha… , mais tarde e por razões várias (pp. 316-329).
8. ª A LEI E O PODER (PP. 329-342)

“Costume” é uma palavra-chave dos tempos medievais. Aparece, nos


manuscritos, em expressões como esta: “costume he desi he direito”.
Surgem palavras e frases, como consuetudo, usus, habitus, o que se faz, o
que sempre se fez.

O costume era “antigo”, quando atestado havia já dez anos, pelo menos, no
dizer dos anciãos que, na aldeia, eram consultados de um modo muito
oficial, e de grande antiguidade, quando reconhecido de ainda antes disso.
Fazia jurisprudência a norma consuetudinária e o resultado do julgamento,
da opinio iuris, para casos posteriores. Foi fonte de Direito. Esta
Jurisprudência renovava-se, pois, á medida os casos registados e
perpetuava-se pela memória de geração em geração. Aplicava-se a tudo o
que, em caso de litígio o Direito Canónico não resolvesse, tais como,
problemas de heranças, gestão fiscal, conflitos de interesses, utilizando
sanções espirituais e, em casos mais graves, físicas também.

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