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conhecimento

A histórica
contribuição
do ensino
privado no
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15 anos 15 anos
A
educação escolar no Brasil nasceu da iniciativa pri-
vada, quando, em 1533, os Franciscanos fundaram
na Bahia o primeiro estabelecimento de ensino em
terras de Santa Cruz. A atuação da iniciativa privada na
educação brasileira, em que pese a variedade de formatos
que assumiu ao longo dos últimos cinco séculos, deu-se de
forma ininterrupta na história do nosso país, consolidando
uma contribuição ímpar na formação e no desenvolvimen-
to da nacionalidade brasileira. Considerando o contexto do
Manoel Alves* Brasil Colônia, não é de se estranhar que a primazia do
ensino privado tenha recaído sobre a escola confessional.

Comentar a atuação do ensino privado na educação brasi-


leira passa necessariamente pela escola confessional, mor-
mente a católica, por força dos laços históricos e culturais
do Brasil com o catolicismo. Fique claro, no entanto, que
tal atuação, mesmo quando subvencionada parcialmente
pelo poder público, nunca se sujeitou a princípios esta-
tizantes. Ao contrário, sempre salvaguardou os mesmos
princípios da livre iniciativa que seguem a nortear a ação
da totalidade do ensino privado. Assim, fica patente que
a história do nosso país e do nosso povo seria distinta, e
sumamente mais pobre, sem o pioneirismo e o altruísmo
do ensino privado.

A escola confessional, de denominações variadas, desde tem-


pos imemoriais, foi sempre secundada, ainda que em número
reduzido, por iniciativas de leigos e mestres-escola que, mui-
tas vezes em suas próprias casas, levavam o conhecimento
das primeiras letras às crianças dos mais recônditos rincões
deste extenso território. Os exemplos pululam.

Ao fazer de tais iniciativas seu ganha-pão, não descuravam


do ideal magnânimo de forjar valores nas futuras gera-
ções. Algumas vezes, ações dessa natureza ocorriam de
modo improvisado e despretensioso, quase caseiro e fami-
liar, mas não menos revestidas do elevado ideal de instruir
a infância, alçando-a do obscurantismo da ignorância. Des-
sa forma, muitas crianças puderam prosseguir seus estu-
dos, tornando-se figuras de proa em todas as áreas da vida
nacional.

Assim, neste artigo, vimos prosseguir com a reflexão ence-


tada quando da publicação do livro Em benefício da edu-
cação, comemorativo dos 10 anos do Projeto Linha Direta,
em 2006, iniciativa em prol da educação brasileira, mere-
cedora de nossos aplausos.

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que, por vezes, contasse com o apoio financei-

O ensino ro do Estado.

privado no
Depois de ter criado, em 1532, as capitanias
hereditárias, com a intenção de ocupar, defen-
der e povoar as terras descobertas pouco an-

Brasil nasce tes, entre as preocupações do rei de Portugal,


no momento de criar o governo-geral, estava a

confessional
de promover a instrução. Confiou tal tarefa à
Igreja. Com o governador-geral Tomé de Souza,
chegam ao Brasil seis jesuítas, com a missão de
ensinar a língua portuguesa, a doutrina cristã, a

D
urante a maior parte do período colo- leitura e a escrita. Com as escolas dos jesuítas,
nial (1500-1759), as tarefas do ensino no nascia a obra educacional mais importante dos
Brasil ficariam sob encargo de ordens três primeiros séculos da história brasileira.
religiosas, sobretudo Franciscanos e Jesuítas,
mas também Oratorianos, Dominicanos, Bene- O cuidado com a aprendizagem profissional e
ditinos, Carmelitas e Capuchinhos. Como reli- agrícola revela, nesses princípios da coloniza-
giosos, eles tinham suas estruturas próprias, ção, a preocupação com uma educação adap-
desenvolvidas, eficazes e autônomas, consti- tada ao contexto local e às necessidades da
tuindo-se em regime de caráter privado, ainda Colônia. O plano foi seguido, e os jesuítas se
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puseram a serviço de uma educação para to- Apesar dos elementos que se poderiam con-
dos. Em 1586, os jesuítas estabeleceram suas siderar negativos na pedagogia dos jesuítas,
diretrizes educacionais, optando pelo ensino como, por exemplo, a sua subordinação à es-
secundário. Em 1599, a Sociedade de Jesus colástica, contrária à moderna filosofia carte-
aprovou a Ratio Studiorum, a ser seguida no siana e às novas ciências físico-naturais, a ação
mundo inteiro e em função da qual reestrutu- da Companhia de Jesus consolidou a resistência
rou suas instituições no Brasil, transformando- à hegemonia do Estado na educação por meio
as em colégios para o ensino das letras e das de uma organização escolar fora do seu con-
artes liberais. trole. A relação entre autonomia institucional
e ação educacional caracteriza bem a força da
Essa orientação encaminhou os jesuítas natu- resistência do ensino privado frente ao flerte
ralmente para educar, de preferência, os mem- estatizante desde os tempos do Brasil Colônia.
bros das famílias mais aquinhoadas financei-
ramente, ao ministrar-lhes um ensino do tipo Após a expulsão dos jesuítas do Brasil, a escola
clássico, humanístico, literário, acadêmico e pública estatal nasce pela alocação de recur-
abstrato, conforme o ideal da época. A hege- sos financeiros e de pessoal para este fim. A
monia política de uma minoria de funcionários intenção de Pombal era, por meio dos agentes
públicos, proprietários de terras e donos de educativos pagos e controlados pelo Estado,
engenhos de cana sobre a maioria de colonos formar os quadros administrativos e políticos a
brancos, nativos, mestiços e escravos negros seu restrito serviço. Ele procurava fortalecer o
definiu a direção da educação. Tais colégios, centralismo próprio do despotismo que visava a
mantidos no começo pela Corte, recebem sub- instalar, ranço que parece perdurar até nossos
sídios provenientes dos impostos da Colônia, dias.
que apenas começara a se organizar ao final do
século XVI.

Às expensas do erário público, somente uma Com as escolas dos


minoria teve acesso à educação. Essa elite de-
cidia, também, sobre a organização e a orien- jesuítas, nascia a obra
tação do sistema de ensino. A Companhia de educacional mais importante
Jesus ocupou-se, em grande parte, da educação
das elites. Poder-se-ia, assim sendo, concordar dos três primeiros séculos
com Fernando Azevedo, que na obra A cultura da história brasileira.
brasileira diz que “a vocação dos Jesuítas não
era, certamente, a de se ocupar da educação
primária ou profissional, mas da educação das
classes dirigentes, aristocráticas, baseada no Naquele momento, o Estado começou a reor-
ensino das humanidades clássicas.” ganizar o ensino e, ao mesmo tempo, estabe-
lecer seus novos objetivos. Mas, para isso, foi
A expulsão da Companhia de Jesus de Portu- necessária ao menos uma década ao governo
gal e do Brasil foi executada, por ordem do de Pombal. Quanto à definição dos objetivos,
Marquês de Pombal, em 1759. Há divergências jamais o conseguiu plenamente. Sob o aspecto
quanto ao número de estabelecimentos de en- da organização, em 1759, pelo decreto de 28 de
sino que os jesuítas possuíam naquela época. junho, ele criava a Direção-Geral, uma espécie
Segundo diversos autores, eles eram em torno de Ministério da Educação para a Colônia, para
de 20. Pode-se dizer que, com a expulsão dos se encarregar de toda a estrutura educacional
jesuítas, encerra-se uma primeira fase da edu- no Brasil. A intenção era modernizar a educa-
cação brasileira. A presença de outros estabe- ção da elite colonial para que ela pudesse ser-
lecimentos particulares assegura a continuida- vir melhor aos interesses e projetos de explo-
de do ensino privado. ração da metrópole portuguesa.

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Tal Direção-Geral, responsável por todo o en- em 1808, introduziu o que era necessário para
sino público, levou mais de dez anos para criar o progresso da vida administrativa, cultural e
as estruturas básicas que permitiram pôr em educativa, e reduziu tais antagonismos. Na es-
andamento o sistema escolar. Entre as mudan- fera educacional, a iniciativa mais relevante
ças mais significativas da organização, citamos foi a instalação, por decretos reais, das ins-
os concursos de admissão ao ensino; a expedi- tituições de ensino superior. Foi dada ênfase
ção de licença para ensinar; a obrigatorieda- à formação superior para alguns ofícios técni-
de de autorização para abertura de escolas, cos, necessários para desenvolver a infraestru-
inclusive de iniciativa privada; a definição dos tura de uma cidade, que passou a ser sede do
livros escolares; a conversão do Curso de Hu- reino. Entretanto, para os ensinos primário e
manidades, criado pelos jesuítas, em Classes secundário, as iniciativas são pífias, de quase
Reais (cursos separados em várias disciplinas). abandono.

Entretanto, os objetivos propostos para um en-


sino mais moderno, conforme os modelos das
grandes potências europeias, deveriam levar
um maior número de jovens às universidades;
... com a expulsão dos
aprofundar a língua materna (o Português), em jesuítas, encerra-se
vez do Latim e do Grego; dar um ensino de
natureza científica (Física, Matemática etc.);
uma primeira fase da
e ministrar um ensino prático. Diversos pes- educação brasileira.
quisadores são unânimes em afirmar que as
mudanças educacionais não ultrapassaram o
nível político e organizacional, limitando-se à
introdução de novos métodos, da laicidade no No âmbito do ensino privado, ocorre o mesmo.
ensino, de novos livros, sem falar da responsa- Desde a expulsão dos jesuítas, apenas alguns
bilidade direta do Estado sobre o conjunto da seminários, internatos para moças e pequenas
educação, não conseguindo alcançar os obje- escolas paroquiais foram fundadas. Foi o perío-
tivos pedagógicos propriamente ditos. Alguns do de menor atividade da iniciativa privada na
autores chegam mesmo a falar em retrocesso história educacional brasileira. A Independên-
pedagógico. cia, em 1822, não alterou esse quadro de ma-
rasmo educacional em que o país foi lançado.
D. Maria, assumindo após o Marquês de Pom- A Corte foi substituída pelas elites econômicas
bal, permitiu que a escola católica avançasse e intelectuais. Considere-se a independência
em iniciativas educacionais bastante importan- como simples transferência de poderes dentro
tes, entre as quais o Seminário de Olinda, que de uma mesma classe, na qual se encontravam
foi, a uma certa época da história do Brasil, os intelectuais que ocuparam postos da admi-
um dos centros educativos de maior destaque. nistração pública.
Fundado por Monsenhor José Joaquim de Aze-
vedo Coutinho, formado em Coimbra, no novo Em 1824, o Brasil promulga sua primeira Consti-
espírito liberal, converteu-se num centro fre- tuição, que consolida muito do estado sociopo-
quentado por parte do clero e dos intelectuais lítico e econômico do tempo da Colônia, inclu-
progressistas, partidários da independência da sive no concernente às relações do Estado com
Colônia. a Igreja. Embora reconhecido como religião
oficial do Brasil, o catolicismo permaneceu no
Em cerca de meio século (1759-1808), o ensino regime de padroado, sem restabelecer rela-
público no Brasil teve sua trajetória marcada ções diretas com Roma, restringindo sua ação
frequentemente por antagonismos espúrios em ao campo educacional. Quanto à educação, a
relação ao ensino privado e ao confessional. nova Constituição pensou, pela primeira vez,
A instalação do governo português no Brasil, inspirada no modelo da Constituição francesa

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de 1791, na criação de um Sistema Nacional dade de todo o Ensino Superior existente ou a
de Educação, propondo escolas primárias para ser criado.
todas as cidades, colégios e liceus em cada ca-
pital e Ensino Superior nas grandes cidades. A descentralização desarticula os dois sistemas
(o primário e o secundário). O Ensino Superior
No entanto, os recursos necessários para or- passa a “organizar” o ensino secundário como
ganizar a educação pública, mesmo no nível preparatório às faculdades. Todas as escolas do
primário, foram reduzidos pelas dificuldades Brasil criam seus currículos e organizam suas
econômicas, causadas pelo aumento do consu- estruturas em função dos exames de admissão
mo e, em consequência, da importação; pela estabelecidos pelas instituições de ensino su-
economia essencialmente agrária; pelo endivi- perior. Alguns grandes colégios foram criados
damento do país (começaram aí os emprésti- e concebidos pelo poder público como modelos
mos exteriores) e pelo nascimento do apare- para a educação nacional, capazes de habilitar
lho burocrático do Estado. A exceção foram os para os exames superiores. O mais célebre foi o
cursos superiores criados em função da neces- Colégio Dom Pedro II, do Rio de Janeiro.
sidade de se formarem novos quadros da ad-
ministração pública, a saber: as Faculdades de O Ato Adicional à Constituição teve uma segun-
Direito do Rio de Janeiro (1825), de São Paulo da consequência, também muito importante
e de Recife (1827). Essas faculdades tiveram para a educação no Brasil, sobretudo para o
grande desenvolvimento em relação aos outros desenvolvimento do ensino privado. A falta de
níveis de ensino. Nesses outros níveis, coube à recursos das províncias para organizar seu pró-
iniciativa privada expandir-se para responder à prio ensino, público e gratuito, especialmente
demanda emergente. Tal expansão perdura até em nível secundário, abriu espaço para que a
os dias de hoje. iniciativa privada assumisse tal tarefa. Nesse
contexto, ela pôde, pouco a pouco, conforme
as circunstâncias em cada província, ampliar
seu espaço. Consolida-se o ensino privado fi-
nanciado diretamente pelos pais dos alunos,

A consolidação
nos moldes como subsiste até hoje.

Grosso modo, o ensino no país dividia-se em: 1)

do ensino ensino público, primário e gratuito, em estado


de abandono; e 2) ensino secundário, privado

privado
e pago, mantido por famílias dotadas de recur-
sos, em função de seu acesso aos estabeleci-
mentos de ensino superior. Em ambos os casos,

no Brasil os setores populares se viram desprestigiados,


mesmo por parte do Estado, sobre o qual re-
caía o dever constitucional da oferta escolar.

N
o dia 7 de abril de 1831, Dom Pedro I ab- A partir desse momento, as escolas privadas
dica em favor de seu filho e vai para Por- secundárias proliferaram, na medida em que o
tugal. Durante a Regência, é decretado acesso ao Ensino Superior se ampliava. Setores
um Ato Adicional à Constituição (1834), o qual da sociedade buscavam ver seus filhos incorpo-
influenciará de maneira significativa a evolu- rados à classe dos homens “letrados”, habilita-
ção da educação no Brasil. A nova legislação dos a preencher determinadas funções sociais.
descentralizou a direção da educação. O ensi-
no primário, bem como o secundário, estavam, Com a Lei da Liberdade de Ensino, aprovada
até aquele momento, sob a exclusiva responsa- pelo Imperador em 1854, a expansão do ensino
bilidade do governo de cada província. Ao go- privado prossegue, não somente pela má qua-
verno central cabia unicamente a responsabili- lidade da escola pública, mas, sobretudo, por

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um amplo entendimento da sociedade de que a
escola particular lhe oferecia perspectiva edu-
cacional culturalmente enriquecida, universa-
lizada e prenhe de valores liberais. Até então,
quase toda a população feminina era analfa-
beta. As poucas exceções haviam frequenta-
do somente a escola primária. Pouco a pou-
co, a iniciativa privada, sobretudo através da
educação feminina, oferecida por instituições
educacionais confessionais, em novos cursos
secundários para moças, inaugurou-lhes novas
possibilidades.

A Igreja Católica enceta um processo interno


de reestruturação organizacional denominado
romanização, no qual proliferam escolas cató-
licas mantidas por congregações religiosas eu-
ropeias – uma das estratégias de tal processo.
Ao mesmo tempo, os ideais liberais, anticleri-
cais, positivistas e republicanos tomavam cada
vez mais força no seio da sociedade brasileira.
Nessa conjuntura, em 18 de abril de 1879, foi
decretada uma reforma do ensino que ficou co-
nhecida pelo nome de seu principal articula-
dor: Leôncio de Carvalho.

... a expansão do ensino privado


prossegue, (...) por um amplo
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entendimento da sociedade de
que a escola particular lhe
oferecia perspectiva educacional
culturalmente enriquecida ...

Entre as diferentes medidas para o ensino pri-


vado, a mais importante foi a ampliação dos
parâmetros para a liberdade de ensino, medida
que tornou possível a manifestação de outras
tendências pedagógicas e tornou livre o credo
religioso dos alunos. Ficava, assim, definitiva-
mente, instituído o pluralismo educacional no
Brasil, somente no final do seu quarto século
de história. A medida estimulou que tendências
pedagógicas, segmentos da sociedade e confis-
sões religiosas diversas abrissem estabeleci-
mentos escolares.

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Com o advento da República, instaura-se um dia 30 de abril de 1931, decretou-se a volta do
período dos mais importantes para o ensino ensino religioso à escola pública. A nova Cons-
privado. Nesse período, houve relevantes mu- tituição de 1934 proclamava, entre outros, o
danças políticas na educação. Uma nova Cons- ensino religioso facultativo nas escolas públi-
tituição é promulgada em 1891, estabelecendo cas, a ajuda financeira às escolas privadas e
o regime presidencial de sistema federativo. confessionais e a liberdade de organização de
Como consequência natural desse sistema, um sindicato para a educação católica, origem
a descentralização concedida ao ensino, em do movimento sindical patronal no ensino pri-
1834, foi definitivamente adotada no sistema vado, tão pungente nos dias atuais. Finalmen-
educativo brasileiro. te, com a Constituição de 1937, consagra-se o
princípio de recursos públicos também para a
A forte influência positivista no movimento escola particular.
republicano se fez sentir na reforma do ensi-
no, decretada em 1890, sob a coordenação de Foi neste período que surgiu a Escola Nova,
Benjamim Constant, que tinha por finalidade com uma geração de educadores de caráter li-
sintonizar a educação nacional aos ideais re- beral – com destaque para Anísio Teixeira – que
publicanos. As proposições básicas eram a lai- se empenhavam na luta por um ensino público
cização, a gratuidade e a preponderância das de qualidade e laico, em oposição ao ensino
disciplinas científicas, rompendo com o mo- privado. Foi a época de grandes conflitos entre
delo humanista clássico. Numa palavra: uma privatistas e publicistas. Tal conflito colocava
escola estatal acessível a todos. A reforma foi em xeque a livre iniciativa na educação. O gol-
um fracasso. A maior parte virou letra morta. pe de Estado de 1945 depôs o ditador Vargas.
­B enjamin ­Constant e sua equipe perderam de Há uma abertura democrática. Novas formas
vista as variá­veis econômicas, como a falta de de organização social e política são adotadas.
recursos e de infraestrutura, assim como tam- A Constituição de 1946 manteve todos os di-
bém os obstáculos políticos, a falta de apoio reitos adquiridos anteriormente pelo ensino
das classes dirigentes e dos intelectuais que privado. Mas foi com o advento da Lei 4.024 –
não queriam prejudicar a formação de seus fi- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
lhos no ensino privado. (LDB), de 1961 – que a escola particular passou
a usufruir da autonomia desejada. A renovação
As outras reformas que se seguiram nada con- impregna as ações dos estabelecimentos de en-
seguiram. Nenhuma das reformas empreen- sino privado.
didas pelo Estado, apesar de suas nuances às
vezes contraditórias, modificou de maneira sig- Em função do crescimento demográfico da
nificativa o sistema escolar. A despeito de seus classe média, a partir dos anos 1950 e 1960,
méritos, essas reformas sempre ignoraram os e da incapacidade da escola confessional em
conflitos sociais, econômicos, políticos e ideo­ acompanhar o crescimento da demanda, os es-
lógicos. No contexto da falta de recursos hu- tabelecimentos escolares mantidos por educa-
manos e materiais do Estado para a educação, dores e empresários da educação se veem em
o ensino privado vai rapidamente ocupar os es- vertiginoso crescimento a partir dos anos 1970.
paços vazios, sobretudo no ensino secundário. O desenvolvimento econômico do país, a pre-
cária qualidade do ensino público e a crescen-
O descontentamento provocado pela Repúbli- te qualidade do serviço educacional prestado
ca Velha (1889-1930) fez eclodir um movimento pela escola particular propiciam o crescimento
militar que culminou na queda do presidente do setor privado, tendo à frente empresários
Washington Luiz. Foi o cardeal Leme que, a e dirigentes extremamente competentes e or-
pedido de Getúlio Vargas, conseguiu conven- ganizados na gestão educacional. É o boom do
cer Washington Luiz a renunciar. Isso contri- ensino privado, em um primeiro momento na
buiu para restituir à Igreja influência política Educação Básica, e a partir dos anos 1990, tam-
no Estado Novo. Entre as novas decisões, no bém no Ensino Superior.

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se segmentando em função das características de

À guisa de seu financiamento direto ou indireto.

conclusão:
Formas de financiamento estatal podem pressupor
contrapartidas que irão certamente em direção a
uma maior intervenção do Estado, mormente na

financiamento gestão acadêmica e financeira das instituições esco-


lares, a exemplo do que ocorre em outros países. É

público é
necessário ter consciência de que conquistar certos
direitos (ou distinções) pode ter um preço, que cos-
tuma ser pago com a autonomia. Seria, pois, opor-

sinônimo de tuno, pensar em constituir, em nível nacional, uma


melhor organização do ensino privado neste mo-

intervenção?
mento histórico da sua trajetória no país, a fim de
defender a liberdade de ensino plena e sem reser-
vas, em um mercado livre e sem controles estatais,
com completa autonomia financeira e gerencial. Tal

E
ntre tantos, assinalo aqui um instigante organização deve mobilizar a totalidade do ensino
tema, recorrente no debate sobre o ensi- privado, sem exceções.
no privado: as variadas formas, diretas e/
ou indiretas, de financiamento estatal para o en- O debate acerca das relações entre Estado, socieda-
sino privado, especialmente aquelas sob forma de de e ensino privado é amplo e multifacetado, mor-
imunidade/isenção fiscal e tributária. As posições mente se considerarmos que a escola particular não
entre os diversos segmentos do ensino privado (as é uma realidade monolítica. Em meio a tal pluralida-
escolas com e sem fins econômicos, as confes- de, as diversas formas de organização e atuação do
sionais e as não confessionais) devem ser claras, ensino privado podem e devem repensar seu locus
responsáveis e coerentes. Ainda que não sejam específico e diferenciado no cenário da educação
posições antagônicas, inconciliáveis e excluden- nacional e do mercado educacional, sem compro-
tes, é preciso clareza na opção por parte de cada meter e/ou enfraquecer as lutas comuns a todo o
segmento, sem tergiversar quanto ao repúdio a ensino privado.
qualquer intervenção estatal na livre iniciativa em
educação. Assim, o ensino privado no Brasil estará O aprendizado e a articulação de uma nova organiza-
ção nacional do setor social e econômico em que se
constitui o ensino privado, em que pesem as diferen-
ças existentes, são essenciais para a salvaguarda de
seus direitos e prerrogativas legais, particularmente
a liberdade de ensino. Assim, veríamos superados
o excessivo fracionamento e atomização em que a
organização do setor se encontra. Com este intui-
to, devemos prosseguir e aprofundar o debate, na
defesa dos inalienáveis direitos do ensino privado. 
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*Doutor em Ciências da Educação pela Universidade


de Paris, MBA em Gestão de Negócios e Inovação,
presidente das Fundações Universa e L´Hermitage e
da Rede Católica de Educação, professor do Stricto
Sensu em Educação da Universidade Católica de Bra-
sília, consultor em Gestão Educacional

www.lhermitage.org.br

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