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UFRGS – Programa de Pós-Graduação em Sociologia – Curso de Doutorado

Disciplina: Debates Teóricos X: Pensadores do Brasil – 2014/2


Professor: Dr. Raúl Enrique ROJO
Discente: Valesca Daiana Both Ames

Resenha: CASTRO, Josué de. Geopolítica del hambre. Madrid, Ediciones Guadarrama,
1972. Capítulo III “El hambre en el Nuevo Mundo”, Subcapítulo: “El ejemplo brasileño: el
conflicto entre la industria y la agricultura (vol. I, pp. 214-257).

“El hambre no es más que una expresión – la más negra y la más trágica – del subdesarrollo
econômico”

A obra de Josué de Castro, Geopolítica del hambre, tem como objetivo analisar o
processo de desenvolvimento brasileiro e sua relação com a fome, como o próprio título
sugere. Para tanto, o autor realiza uma análise a respeito de aspectos históricos, políticos e
econômicos brasileiros que, conjugados, caracterizariam o Brasil como “um país de escassez,
um país onde dois terços da população sofrem as consequências da escassez de alimentos”
(CASTRO, 1972, p. 216).
Segundo Josué de Castro, a fome no Brasil possui raízes históricas, datadas do período
de colonização do país, momento em que os aventureiros colonizadores portugueses
preocupavam-se apenas com aquilo que lhes poderia oferecer uma vantagem imediata e
direta. Esse tipo de conduta teria gerado ciclos econômicos destrutivos, desequilibrando, nas
palavras de Castro (1972, p. 216), a “saúde econômica” da Nação, o que, podemos dizer, teria
prejudicado a “saúde” do povo brasileiro, devido à fome.
Neste sentido, Castro (1972) aponta a inaptidão do Estado brasileiro para arbitrar
entre, por um lado, interesses privados e, por outro, interesses coletivos ou, ainda, entre
interesses nacionais e interesses estrangeiros. Essa inaptidão do Estado levaria a uma situação
em que os interesses estrangeiros predominariam e orientariam a economia brasileira para o
cultivo de produtos exportáveis, ao invés de uma agricultura intensiva de subsistência,
interesse coletivo nacional, que permitiria combater a fome.
Essa situação de prevalência do interesse estrangeiro frente ao interesse nacional,
segundo Castro (1972), vem se estendendo por longo tempo, datando do início do período
colonial. A característica deste tipo de economia “colonial” é a exploração de produtos
primários, como a cana de açúcar, o ouro, o café e a borracha, para a exportação aos grandes
centros metropolitanos. A consequência desta organização econômica é a aparição de um
sistema agrário de tipo feudal, com concentração de terras e monocultivo.
Segundo Castro (1972), o predomínio do cultivo do café na região Sul do Brasil,
especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX, fez surgir
uma economia de tipo capitalista e dualista, que separou cada vez mais o Norte e o Sul do
país, visto que a situação financeira do governo dependia do comércio exterior, praticamente
reduzido à exportação do café. A centralização do poder político nas mãos do “Sul” brasileiro,
fez com que os resultados do progresso estivessem a serviço de poucos desinteressados no
futuro da Nação, resultando em um “desenvolvimento anormal, parcial, limitado aos setores
mais rentáveis, [...] deixando ao abandono os setores básicos, indispensáveis para o
verdadeiro progresso social” (CASTRO, 1972, p. 216). Assim, se manteve no país setores
improdutivos, caracterizados pela miséria, pelo atraso e pela fome, ao lado de outros com
todas as aparências de um verdadeiro progresso.
Como aponta Castro (1972), as dicotomias entre o Norte e o Sul brasileiro são
acentuadas ainda mais pela política econômica fragmentária do Estado, que tem como
objetivo “desenvolver mais o que já está desenvolvido”. Assim, o Nordeste continua
subdesenvolvido, caracterizando-se como principal produtor de matérias primas e produtos
básicos exportáveis, “colônia” do governo brasileiro. Enquanto que o Sul recebe
investimentos estatais para o incentivo de sua industrialização. Essa dicotomia de índices de
produção, renda e consumo entre as diferentes camadas da população e regiões do país,
conforme o autor, são as causas de seu subdesenvolvimento.
Os planos de desenvolvimento econômico postos em prática por Juscelino Kubitschek
e pelo Estado Militar, segundo Castro (1972), não foram satisfatórios no sentido de promover
uma maior integração econômica, política e social nacional. Como exemplo, o autor cita os
mecanismos empregados pelo Governo Militar no combate à inflação: a queda dos salários
reais e as restrições ao crédito. Essa política econômica repercutiu fortemente sobre as
condições de vida das classes trabalhadoras, fazendo com que a demanda por bens diminuísse,
prejudicando a produção industrial do país.
Os resultados desta política econômica, que privilegia determinados grupos sociais e
regiões do Brasil, faz com que o mesmo seja considerado como uma “terra de contrastes”. Um
país caracterizado por grandes extensões de terra apropriadas por poucos, onde predomina o
cultivo com vistas à exportação; onde apenas dois por cento das terras são exploradas para o
cultivo de produtos essenciais, resultando em um dos coeficientes de consumo de alimentos
básicos per capita mais baixos do mundo, ao lado de uma indústria de alto nível moderno.
Um país com alta renda média per capita que, no entanto, não é bem repartida entre a
população, concentrando-se nas mãos de poucos.
Segundo Castro (1972), a distorção brasileira mais acentuada é a existente entre o
atraso da agricultura e o progresso do setor industrial. O atraso da agricultura se manifestaria
não apenas no escasso volume de produção, mas também nos índices de produtividade do
trabalhador agrícola e da terra cultivada, que são os mais baixos do mundo. Esse
subdesenvolvimento da economia agrícola, para o autor, dificultou a industrialização e o
desenvolvimento da economia nacional, a partir da década de 1960, devido à raridade e ao
custo elevado da produção, além da dificuldade de formação de um mercado interno capaz de
absorver a produção industrial, consequência do baixo poder de compra dos trabalhadores
rurais.
Para Castro (1972) torna-se premente corrigir o desequilíbrio entre o setor agrícola e o
industrial, por meio de uma política de incentivo à economia agrícola, cuja produção segue
sendo insuficiente para compensar o crescimento da população, resultando em dificuldades de
consumo para a mesma e acentuação do fenômeno inflacionário. Desta forma, o
desenvolvimento da agricultura constitui, segundo o autor, a única solução para o problema
do subdesenvolvimento brasileiro, representando uma necessidade histórica.
Seguindo seu argumento, o autor irá criticar a tendência dos políticos e economistas
brasileiros em concentrar-se no processo de industrialização do país, colocando em segundo
plano a produção de bens de consumo básicos para a população. Segundo Castro (1972), a
política econômica brasileira não necessita privilegiar apenas uma destas dimensões, podendo
equilibrar os investimentos, de acordo com as circunstâncias sociais e as disponibilidades
econômicas existentes. Esse equilíbrio seria necessário para evitar ressentimentos e tensões
sociais, compartilhando o sacrifício “necessário ao desenvolvimento” entre as diferentes
regiões e grupos sociais.
Como possibilidade de solução dos problemas enfrentados pelo setor agrícola
brasileiro, Castro (1972, p. 250) sugere a realização de uma reforma agrária, sendo esta
considerada um “procedimento de revisão das relações jurídicas e econômicas entre os que
detêm a propriedade agrícola e os que se dedicam às atividades rurais”. Para o autor, esta seria
uma medida que favoreceria todas as classes e grupos sociais, pois possibilitaria o
desenvolvimento equilibrado do país, permitindo fazer frente ao problema que assola grande
parte da população brasileira, a fome.
Desta forma, concluímos que Josué de Castro considera a fome como resultado das
condições econômicas, políticas e sociais brasileiras, reflexo do processo de colonização
imposta, primeiramente, pelo governo português e, posteriormente, pelo próprio governo
brasileiro em relação à região Nordeste do país. Para superar essa situação de
subdesenvolvimento e, consequentemente, de fome, o autor sugere a realização de reformas
sociais, como a reforma agrária, contrapondo-se aos interesses dos grandes latifundiários. Ao
considerar a fome como fruto de causas sociais, Castro contrapõe-se àqueles que a
consideraram primariamente consequência de causas naturais ou climáticas como, por
exemplo, Euclides da Cunha, em sua obra Os Sertões, ou Gilberto Freyre, em Casa Grande &
Senzala. Ademais, Castro diferencia-se dos autores supracitados no sentido em que sugere
claramente a necessidade de realização, no Brasil, de reformas políticas e econômicas, que
permitam fazer frente ao seu processo de subdesenvolvimento. Por este motivo, podemos
dizer que os escritos de Castro são motivados por sua preocupação com a população que sofre
com o problema da fome, buscando esclarecer suas causas e possibilidades de solução.

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