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1/18/2016 Módulo II - Deveres: Inciso IX - manter conduta compatível com a moralidade administrativa

Módulo II - Deveres

Unidade 8 - Deveres elencados nos incisos do artigo 116 da Lei 8.112/90


Inciso IX - manter conduta compatível com a moralidade administrativa
O  presente  inciso  impõe  a  repercussão  disciplinar  em  decorrência  de  afronta  ao  princípio  da
moralidade administrativa. A aplicação deste inciso requer a leitura conjunta daquele primado com
a  legalidade  expressa  na  própria  Lei  nº  8.112,  de  11/12/90  ­mais  especificamente,  em  seu  art.
148, que restringe a aplicação do regime disciplinar às condutas associadas direta ou indiretamente
ao exercício do cargo. Com isso, se afastam da incidência as condutas de vida privada do servidor
enquanto  cidadão  comum  (a  menos  que  o  ato  da  vida  privada  tenha  correlação  com  a
administração  pública,  com  a  instituição  ou  com  o  cargo),  totalmente  dissociadas  de  seu  cargo,
criticáveis  tão­somente  à  luz  de  códigos  de  ética.  Daí  porque  a  imoralidade  de  que  se  cuida  é  a
administrativa.  Em  razão  de  o  presente  inciso  tratar  de  condutas  associadas  a  conceitos  morais,
aqui  é  mais  comum  a  equivocada  tentativa  de  se  emprestar  aspecto  disciplinar  a  atos  de  vida
privada.

“(...) sabe­se que a moralidade protegida pelo Direito insere­se no campo da Ética pública, diferenciando
as normas jurídicas não devem adentrar o campo privado dos comportamentos imorais (...). Se o admini
agir fundado em lei, a mera inobservância de um preceito moral não poderia acarretar­lhe sanções.” Fábi
Sancionador”, pgs. 292 e 295, Editora Revista dos Tribunais, 2ª edição, 2005.

Ademais,  além  desse  enfoque  restrito,  no  estudo  da  citada  responsabilização  funcional  atuam
ainda,  com  relevância,  os  princípios  da  razoabilidade  e  da  proporcionalidade,  bem  como  não  se
deve perder de vista a consideração do chamado erro escusável.

Destaque­se que condutas como alcoolismo ou qualquer outro tipo de dependência química requer,
a  princípio,  cuidado  médico  ou  de  assistência  social.  Mesmo  quando  o  problema  repercute  no
desempenho  das  atribuições,  primeiramente  deve­se  investigar  a  existência  ou  não  de  caráter
patológico  na  conduta,  o  qual,  se  presente,  afasta  a  responsabilização  administrativa.  A
repercussão disciplinar somente se justifica se comprovado que, mesmo não havendo patologia, o
comportamento do servidor interfere no desempenho do cargo. 

Os atos atentatórios à moral aqui enquadrados são aqueles de relativa repercussão, decorrentes de
aspectos  meramente  comportamentais  associados  à  cortesia,  à  discrição,  à  apresentação,  ao
respeito à hierarquia. Como o controle da moralidade administrativa recai mais sobre a finalidade
do  ato  do  que  sobre  o  ânimo  do  agente,  cogita­se  de  afrontas  tanto  culposas  quanto  dolosas
(embora  seja  certo  que,  a  princípio,  condutas  dolosas,  dependendo  de  sua  gravidade,  podem
ensejar enquadramentos mais gravosos). É necessário cautela com este enquadramento, de forte
subjetividade, já que o conceito de moral é mutante no tempo e no espaço. 

O  presente  enquadramento  também  pode  ser  compreendido  sob  enfoque  a  contrario  sensu,
alcançando  os  atos  atentatórios  aos  princípios  jurídicos,  mas  de  gravidade  reduzida  tal  que  não
justifica  o  enquadramento  em  improbidade  administrativa  (art.  132,  IV  da  Lei  nº  8.112,
de 11/12/90. Assim, sob o aspecto do tema em tela, as condutas do agente público podem sofrer
três graus de crítica, em sentido crescente. 

Primeiramente,  aquelas  condutas  que  afrontam  a  moral  comum  da  vida  externa  ou
mesmo  condutas  praticadas  no  exercício  do  cargo  mas  com  ínfimo  poder  ofensivo  ao  Estatuto
podem  encontrar  crítica  no  Código  de  Ética  Profissional  do  Servidor  Público  Civil  do  Poder

http://saberes.senado.leg.br/mod/book/view.php?id=26205&chapterid=67717 1/2
1/18/2016 Módulo II - Deveres: Inciso IX - manter conduta compatível com a moralidade administrativa

Executivo Federal, aprovado pelo Decreto nº 1.171, de 22/06/94, que não se confunde com a Lei
nº 8.112, de 11/12/90, e que não é objeto de instauração de processo administrativo disciplinar. 

No grau intermediário, as condutas cometidas pelo servidor, direta ou indiretamente associadas ao
cargo, com culpa (negligência, imperícia ou imprudência) ou ainda que com dolo, mas de mediano
poder  ofensivo  (à  luz  dos  parâmetros  do  art.  128  da  Lei  nº  8.112,  de  11/12/90)  ao  princípio  da
moralidade administrativa (ou seja, em afronta à moral jurídica), podem ser enquadráveis no art.
116,  IX  da  citada  Lei,  devendo,  por  conseguinte,  ser  objeto  de  apuração  contraditória  no  devido
rito do processo administrativo disciplinar, possibilitando aplicação de penas de advertência ou, no
máximo, suspensão. 

Por  fim,  no  último  grau,  as  condutas  do  servidor,  também  associadas  ao  cargo,  cuja  afronta  ao
princípio  da  moralidade  administrativa  redundam  em  dano  ao  erário,  enriquecimento  ilícito  ou
afronta grave a princípios reitores da administração, atingindo o núcleo do conceito de moral (ou
seja, ferindo o dever de probidade), em conduta indubitavelmente dolosa, podem ser enquadráveis
no art. 132, IV da Lei nº 8.112, de 11/12/90, podendo tomar as definições encontráveis nos arts.
9º,  10  e/ou  11  da  Lei  nº  8.429,  de  02/06/92,  também  sob  apuração  contraditória  no  rito  do
processo  administrativo  disciplinar,  possibilitando  aplicação  de  penas  expulsivas  e  demais
repercussões civis e penais, previstas no art. 37, § 4º da CF.

Sem  prejuízo  do  equilíbrio  harmônico  principiológico,  o  princípio  da  moralidade  administrativa,  ao
lado  do  princípio  da  legalidade,  é  considerado  um  princípio  informador  dos  demais  princípios
constitucionais  reitores  da  administração  pública.  Ademais,  em  função  de  sua  própria  natureza,  é
prescindível legislar sobre a moralidade administrativa (até para que não se a faça dependente da
legalidade).  Tais  fatos  não  só  dificultam  a  conceituação  legal  de  moralidade  administrativa  mas
também  atribui­lhe  aplicação  quase  totalitária  na  atividade  pública,  de  forma  que  esteja,  em
determinado  grau,  diluída  e  subentendida  em  todos  os  mandamentos  estatutários.  De  fato,  a
leitura  atenta  dos  arts.  116,  117  e  132  da  Lei  nº  8.112,  de  11/12/90,  leva  a  perceber  que  a
moralidade  administrativa  paira,  manifesta­se  e,  por  fim,  repercute  na  grande  maioria  das
infrações  disciplinares  neles  elencadas  (enquanto  que  as  máximas  da  impessoalidade,
da  publicidade  e  da  eficiência  têm  suas  repercussões  mais  pontuais  e  restritas).  Em  outras
palavras  (afastadas  da  análise  as  condutas  merecedoras  apenas  de  crítica  ética,  não  atingidas
portanto pela vinculação estatutária), sendo esse um dos dois principais princípios norteadores da
atividade  pública,  a  grande  maioria  dos  enquadramentos  disciplinares  tem  em  sua  base  o
descumprimento  do  dever  de  manter  conduta  compatível  com  a  moralidade  administrativa,  de
forma  que  o  dispositivo  especificamente  insculpido  no  art.  116,  IX  valha  quase  que  como  regra
geral e difusa dos deveres estatutários. 

A  diferenciação  entre  o  enquadramento  de  uma  conduta  no  inciso  IX  do  art.  116  ou  nos  demais
incisos deste artigo ou nos arts. 117 e 132, todos da Lei n° 8.112, de 11/12/90, advém da análise
se  o  ato  infracional  comporta  ou  não  enquadramento  mais  específico,  a  prevalecer  sobre  aquele
mais geral e difuso, de forma que pode­se cogitar de lhe atribuir valor quase residual. E, mnesse
aspecto, além da busca do esclarecimento do ânimo subjetivo com que o ato foi cometido (se com
culpa  ou  se  com  dolo),  também  pode  ainda  se  fazer  necessário  identificar  a  ocorrência  mou  não
dos parâmetros elencados no art. 128 da Lei n° 8.112, de 11/12/90, para diferenciar se o ato, por
exemplo, justifica ser enquadrado em afronta do dever legal de manter conduta compatível com a
moralidade  administrativa  (art.  116,  IX  da  citada  Lei,  aplicável  tato  para  conduta  culposa  quanto
dolosa)  ou  se  merece  menquadramento  em  improbidade  administrativa  (art.  132,  IV  da  mesma
Lei, apenas na hipótese de conduta dolosa). 

http://saberes.senado.leg.br/mod/book/view.php?id=26205&chapterid=67717 2/2

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