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MSRI_Construtivismo_a_Escola_de_Copenhaga_e_a_Securitização_V14JAN2K13PM2

Relações Internacionais

Mestrado de Relações Internacionais

Construtivismo, a Escola de Copenhaga


e a Securitização
Docente: Prof. Doutor Carlos Amaral

Discente: Aníbal M. da Costa Fernandes (n.º20127193)

Ponta Delgada

Janeiro de 2013

Aníbal MC. Fernandes 20127193@aluno.uac.pt

i
MSRI_Construtivismo_a_Escola_de_Copenhaga_e_a_Securitização_V14JAN2K13PM2

ABREVIATURAS

Abreviaturas Descrição
CEPCR Centre for Peace and Conflict Research
COPRI Conflict and Peace Research Institute
CS/EC Copenhague School / Escola de Copenhaga (Copenhague)
CSS Center for Security Studies/ Centro de Estudos de Segurança
ETH Eidgenössische Technische Hochschule Zürich
EU/UE European Union/Union Européenne-União Europeia
ICT /TIC Information and Communications Technologies/Tecnologias de
Informação e Comunicação
IR/RI Relações Internacionais/International Relations
NGO/ONG Non Government Organizations/Organizações Não Governamentais
OSCE Organization for Security and co-operation in Europe/Organização
para Segurança e Cooperação na Europa
UN/NU United Nations/Nações Unidas
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

ii
Resumo

Os objetivos deste trabalho são três. O primeiro é de perceber quais as abordagens das
teorias de RI que melhor se adaptam ao estudo do campo da segurança internacional
com um interesse particular na, designada, Revolução da Informação. O segundo de
perceber o papel síntese da Escola de Copenhaga, por via da abordagem do
construtivismo social através do seu conceito de securitização, em particular no campo
da segurança internacional. O terceiro, o de explorar uma framework que permita fazer
a ponte entre uma abordagem das teorias de RI – que suportam a securitização
(nomeadamente, a construtivista, interpretativista e abrangente) – e a sua
implementação nos estudos do campo da segurança das RI – com especial interesse nos
reflexos do campo da segurança (da informação) – no dealbar do século XXI.

Palavras-chave: Relações Internacionais, Teorias de RI, Segurança Internacional, Construtivismo,


Escola de Copenhaga, Securitização, Revolução da Informação

iii
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Índice

ABREVIATURAS .......................................................................................................... ii

Resumo ........................................................................................................................... iii

Índice ............................................................................................................................... 4

Introdução ....................................................................................................................... 5

Teorias de RI para a Securitização ............................................................................... 6

1.1 As teorias de RI e a Securitização ..................................................................................... 6


1.2 O Papel de síntese da Escola de Copenhaga e o construtivismo ....................................... 7
Operacionalizações da Securitização ............................................................................ 9

2.1 Breves notas sobre o conceito de Securitização ................................................................ 9


2.2 Contextos de Securitização: filosófico vs. Sociológico(pragmático) .............................. 10
2.3 A Securitização e a Revolução da Informação ................................................................ 12
Conclusões ..................................................................................................................... 13

Bibliografia .................................................................................................................... 14

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Referencial com os matizes do Construtivismo vs Racionalismo nas RI e vertentes


do Construtivismo para o campo da Segurança e a posição ABRANGENTE da CS/Escola de
Copenhaga..................................................................................................................................... 8
Ilustração 2 – Análise de Securitização em contexto, retirado de (Balzacq, 2010) .................... 12

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - O vocabulário do ato pragmático de segurança, retirado de (Balzacq, 2010) ......... 11

Aníbal MC. Fernandes 20127193@aluno.uac.pt

4
Introdução

"The study of security is a hard case for theories of IR. In recent academic scholarship,
‘constructivist thinking’ of the subject has risen to the challenge. It has, in effect,
become one of the dominant approaches for examining security practices." (Eriksson
& Giacomello, 2006)1

O período do pós-Guerra-fria mostrou que, quer o realismo (aglutinador das


análises de segurança internacional, durante décadas), quer o (neo)realismo e a
abordagem racionalista de ambos, não tinham – respostas consistentes – para as
situações emergentes que preenchiam as agendas políticas após o colapso e
fragmentação da URSS, “queda” do muro de Berlim, desmembramento da República
Socialista da Jugoslávia, etc2 (Eriksson & Giacomello, 2006). Esta falta de respostas,
abriu caminho para outro tipo de abordagens – mais abrangentes – suportadas pelos
polos de reflexão de estudos para a paz3 (Duque, 2009) baseados, deste lado do
Atlântico, em que, atores internacionais de natureza não-militar, fatores e estruturas
não-materiais, dados de construção social, quer de conhecimento, quer da realidade
eram tidos em conta nas análises das ameaças à segurança internacional, logo muito
mais coerentes com a situação de mudança global, por via da abordagem construtivista
que passou a dar importância às ideias na política internacional, assim como, a maneira
pela qual essas ideias se processam. Com a difusão do poder assimétrico dos atores não
estatais associado à proliferação da informação a ele subjacente, uma consequência
“nuclear”, entre outras, foi o incremento e a profusão da assim chamada Revolução da
Informação (segundo determinados autores é exagerado conotar “The ability to master
the generation, management, use, built and also manipulating of information (Balzacq,
2010)4” de “Revolução”, tratando-se, apenas e, antes de uma Evolução):
“From this perspective, the alleged ‘revolution’ instead resembles a gradual process
with neither a clear beginning nor a foreseeable end, making the applicability of the
term ‘revolution’ in the narrower sense somewhat questionable. The term ‘evolution’
would seem much more appropriate: it better describes the gradual adjustment and the
non-linearity of the development (Cavelty & Brunner, 2007)5

Esta evolução introduziu novos vetores de ameaça no campo da segurança da


disciplina de RI, que não foram tidos em conta, no devido tempo, quer na pesquisa do
campo, quer nas teorias de RI proeminentes: (neo)realismo e liberalismo6 (Eriksson &
Giacomello, 2006). De onde se poderá inferir que “[…] there is obviously a gap to be
filled in security studies: to address the impact of the information revolution for the
general understanding of security in the contemporary world, as well as for explaining

1
Ver pp. 221-244.
2
Idem pp. 223.
3
Em pp. 462.
4
By Myrim Dunn Calvety in Contemporary Security Studies (Oxford University Press 2012 25:
CyberSecurity pp.2 with the forthcoming in : Allan Collins (ed)
5
Ver pp. 2, 3.
6
Em pp. 228, citando (Lonsdale, 1999) – “Information Power: Strategy, Geopolitics, and the
Fifth Dimension,” Journal of Strategic Studies 22 (2-3): 137-57.
5
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variation in security relations and policies across the world.7” (Eriksson & Giacomello,
2006)

Teorias de RI para a Securitização

1.1 As teorias de RI e a Securitização


"Realism, liberalism, and constructivism stand out as the main theoretical perspectives
in contemporary IR. Although overlaps, linkages, and internal varieties are matters of
discussion, they are generally perceived and portrayed as separate perspectives.
Asking what each of these perspectives can normally say about security in the digital
age clarify the potential relevance of each perspective, and may serve as a source of
inspiration for further theory building and empirical research." (Eriksson &
Giacomello, 2006)8

Ao contrário do racionalismo (que dava uma importância singular às variáveis ou


fatores materiais do sistema internacional), o construtivismo não as ignora, mas pelo
contrário, dá muito mais importância aos fatores sociais. No entanto estes fatores só
adquirem significado, para efeito de análise, por meio da estrutura de conhecimento
compartilhado, na qual se inserem, ou seja, por meio das ideias. Os construtivistas
consideram que as estruturas de ideias e os agentes, em processos dinâmicos, se vão
constituindo, criando espaço para a mudança social operacionalizada pelos agentes
(Duque, 2009)9.
Dentro do construtivismo, também, registam-se vários entendimentos, relativos à
natureza do conhecimento, que levantaram pelo menos duas questões epistemológicas
principais – a do “relativismo” (sobre se existe ou não uma realidade externa aos
observadores, que possa ser testada de forma empírica e, se sim, será possível de ser
adotada), e a da “natureza” (se as explicações das causas seriam apropriadas para os
estudos sociais e, se sim, elas implicariam a naturalização de práticas construídas
socialmente, ou ainda, se seria possível separar o observador do agente) – que se
refletem depois no campo da segurança. Assim, com base nos estudos sobre os
pressupostos anteriores, Fearon e Wendt (2002, pp. 56-58) definem, separando, três
posições construtivistas: a positivista (que concorda com uma realidade objetiva e que
pode ser “testada” de forma empírica, assim como, que as explicações causais podem
ser aplicadas aos estudos sociais – logo “objetivista” – e que procura espelhar alguns
procedimentos das ciências naturais); a interpretativista, que concorda com o
“relativismo” mas discorda do “naturalismo” (i.e. são também “objetivistas” – por
consideraram que há uma realidade externa aos observadores - e acreditam que as
explicações causais, obrigam, à necessidade de naturalização das práticas construídas
socialmente); e, a pós-moderna que discorda, quer da realidade objetiva e da separação
entre o observador e o agente (pois isso implicaria sempre a naturalização das práticas
observadas, i.e., interferência nas práticas sociais sob observação) (Duque, 2009)10.

7
Em pp. 228.
8
Ver pp. 228.
9
Ver pp. 467.
10
Ver pp. 472.
6
“A abordagem da identidade por parte da teoria crítica fundamenta-se em pressupostos
sobre o poder. Os teóricos críticos veem o poder como sendo exercido em cada
intercâmbio social, e há sempre um ator dominante nesses intercâmbios. Desmascarar
as relações de poder é uma grande parte da agenda substantiva da teoria crítica; o
construtivismo convencional, por outro lado, permanece ‘neutro analiticamente’ sobre
a questão das relações de poder (HOPF, 1998, pp. 185). (Duque, 2009)11

Poder-se-á concluir que o construtivismo também não é monolítico, à semelhança


de outras “correntes” que contribuíram para a disciplina de RI. De modo análogo, Hopf
(1998) faz uma destrinça entre o que denomina de variações crítica e convencional do
construtivismo. Assim, os críticos possuem o objetivo de iluminar e emancipar os
indivíduos, ao permitir, por meio da observação e da análise, as relações sociais do
poder. Já os convencionais não dão relevância a essa questão.
Quanto à securitização, ela surge na disciplina de RI, através de: “A circle of
European scholars, now widely known as the ‘Copenhagen school’ (CS), has striven to
rekindle security studies on the basic creed that security is a speech act.” (Balzacq,
2010) 12

1.2 O Papel de síntese da Escola de Copenhaga e o construtivismo


“Ao longo das duas últimas décadas, a Escola de Copenhague desenvolveu um quadro
teórico e conceitual inovador, cujo escopo permite a interpretação de continuidades e
mudanças no cenário internacional, ao ser aplicável não só ao período atual como
também à história recente das relações internacionais. O grupo de Copenhague
realizou uma produtiva síntese tanto das vertentes tradicionalista e crítica de segurança
internacional como das abordagens realista e construtivista de teoria das Relações
Internacionais: ele abriu espaço, assim, para uma nova agenda de pesquisa na área.”
(Duque, 2009)13

No que concerne ao campo da segurança, o construtivismo estabelece, também,


três vertentes, a saber: a tradicionalista que realça o exercício da força para questões do
foro militar, analisando as questões de segurança de forma “objectivista” e é, em alguns
autores, estado-cêntrica, logo, poderá ser associada ao racionalismo e à tendência
positivista (anteriormente referida) ou “convencional” do construtivismo; a crítica, que
considera, tanto, as ameaças e os objetos de segurança, poderem ser construídos
socialmente, mas que essa construção obriga a uma interferência ou naturalização, e,
dão muito relevo à emancipação dos indivíduos; e, a abrangente na qual se insere a
Escola de Copenhaga que defende à semelhança da crítica a emancipação dos
indivíduos (com a subjacente construção social dos objetos e das ameaças em que existe
naturalização), e a definição do significado de segurança como ato da fala ou “speech
act” (que mais adiante será pormenorizado), detendo uma posição “coerente” – porque
mais consentânea com algum, digamos, pragmatismo, de encontrar soluções (não só no
plano teórico) para problemas complexos - entre as outras duas posições – a
tradicionalista e a crítica.

11
Ver idem, citado por Duque.
12
cf. Buzan, Barry; Waever, Ole e de Wilde, Jaap (1998), Security: a New Framework for
Analysis, Boulder CO: Lynne Rienner, cited by Balzacq, Thierry in pp.8.
13
Ver pp. 475.
7
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Uma vez que quer os matizes do construtivismo na disciplina de RI, quer as


vertentes do mesmo sobre o campo da segurança são o reflexo de posições variadas
sobre as fontes e tipos de conhecimento, suas propriedades e os subsequentes
comportamentos dos atores e suas relações (onde as franjas de interferência são muitas
vezes difíceis de discernir e concetualizar), concebemos e sugerimos a imagem seguinte
que tenta visualizá-las de forma, espacial, pois mais objetiva. O 1.º separador (da esq.
para a dir.) ou cinza divide o racionalismo do construtivismo. Dever-se-á interpretá-la
(cronologicamente), da esquerda até ao vértice central (mais perto de nós) e percorrendo
cada uma das guias (a do fundo em relação à disciplina de RI e a do centro e da direita
relacionam-se com as variações do campo da segurança (segundo Fearon e Wendt e a da
direita segundo Hopf). A CS/ES vem a situar-se no “pipeline” CONSTRUTIVISTA 
INTERPRETATIVISTA  ABRANGENTE como se pode ver, seguindo a seta.

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Ilustração 1 – Referencial com os matizes do Construtivismo vs Racionalismo nas RI e vertentes do


Construtivismo para o campo da Segurança e a posição ABRANGENTE da CS/Escola de
Copenhaga
A Escola de Copenhaga tem como base a criação do Centre for Peace and
Conflict Research CEPCR, em 1985. Nos nossos dias, designa-se por Conflict and
Peace Research Institute COPRI. Ole Waever esteve neste projeto desde a sua génese,
ao qual se juntou em 1988, Barry Buzan, que havia contribuído para percebermos
melhor as posições neorrealistas e liberais. O lema da EC de “desenvolvimento criativo”
caracterizando-se por uma dinâmica coletiva dos seus autores e contribui para uma nova
abordagem aos problemas de segurança nas RI no período após a Guerra-fria. A EC
desvinculou-se da vertente crítica dos estudos de segurança ao passar a pressupor que
existe uma realidade empírica que pode ser investigada. Entre as contribuições mais
relevantes da EC para os estudos de segurança, teremos: (i) o conceito de
securitização; (ii) as novas unidades de análise de segurança; e (iii) a abordagem
multissetorial da segurança (de realçar que até ao presente, não foi possível a criação
de um subsetor unicamente relacionado com, pelo menos, a Revolução da Informação
ou “virtual”, “The Copenhagen School, while advocating a wide understanding of security, has

8
not considered the informational revolution at all.” (Eriksson & Giacomello, 2006)14, como se
abordará a seguir), havendo vários setores já estabelecidos: militar, político, económico
(e corporativo transnacional), societal (não confundir com segurança ligada ao bem
estar social), e ambiental, havendo no entanto alguns autores que se referem, também,
ao religioso. De seguida será abordado o conceito de securitização proposto pela EC e
que constituiu, na altura, uma peça fundamental na assunção da mesma como referência
nuclear nos estudos do campo de segurança da disciplina de RI.

Operacionalizações da Securitização

“A noteworthy constructivist approach to security is the theory of ‘securitization,’


developed by the ‘Copenhagen School.’ This is about how, when and with what
consequences political actors frame something (anything) as a matter of security
(Buzan at al., 1998; Weaver, 1995; Williams, 2003). The emphasis is on ‘speech act’
(that is, political language) and the implications this has for political agenda-setting
and political relations. Securitization implies that an ‘existential threat’ is identified,
and that this ‘speech act’ prioritizes the issue on the political agenda, legitimating
extraordinary measures such as secrecy, the use of force, and the invasion of privacy.”
(Eriksson & Giacomello, 2006)15

O conceito de securitização é o mais relevante contributo da epistemologia


construtivista, quer na disciplina de RI, quer no campo da segurança internacional. Parte
do princípio que o mundo social – as identidades e interesses dos agentes – é constituído
por estruturas e processos intersubjetivos e coletivos, sendo as ameaças à segurança
construídas socialmente. Os critérios para a aplicação da securitização partem de
práticas subjetivas, através das quais o agente securitizador estabelece socialmente a
existência de uma ameaça à sobrevivência de uma unidade do sistema em análise. A EC
utiliza o conceito de “speech act” (como atrás referido).

2.1 Breves notas sobre o conceito de Securitização


“[W]ith the help of language theory, we can regard ‘security’ as a speech act.
In this light, security is not of interest as a sign that refers to something more
real; the utterance itself is the act. By saying it something is done (as in betting,
a promise, naming a ship). […] The word ‘security’ is the act […] In this
instance, security is an illocutionary act, a “self-referential’ practice; Its
conditions of possibility are constructive of the speech act of saying ‘security’.
Segundo os seu autores [John L. Austin (1962) e Searle (1969)], o “speech act” ou
ato da fala, baseia-se na premissa de que o discurso é, também, uma forma de ação de
caráter preformativo – no sentido que a expressão é um ato social envolvendo um
emissor e um recetor que operam por convenções arbitrárias ou “regras construtivas”
que afetam o seu comportamento recíproco -, logo, implicando algum tipo de
consequência. Mas isso só acontece se, e só se, o agente securitizador for, por
exemplo, um representante do Estado e, se encontrar em condições efetivas de
14
Ver pp. 234.
15
Idem.
9
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implementar as medidas consequentes do seu discurso – feito com uma retórica e


gramática, próprias. Mas pelo facto ser emitido, o discurso não é, por si só efetivado de
forma automática. Ao ser emitido ele é, ainda, e só, uma iniciativa de securitização ou
securitization move. Só será de facto vinculativo se, quem o ouve (a assistência),
considerar legitimação a quem o proferiu (e se a forma obedeceu à regras próprias)
como agente securitizador. Quando isso acontece, o tema, saí da esfera da política
normal e passa para a esfera da política de emergência. Então em síntese, uma
securitização, bem sucedida, terá que cumprir três passos: ao existir(em) ameaça(s) a,
pelo menos, uma unidade do sistema; conceção de uma ação emergencial; e, efeitos nas
relações entre as unidades por meio da quebra de regras da esfera da política normal.
Por norma o construtivismo, não advoga a permanência das unidades após a
securitização no plano emergencial, bem pelo contrário, sendo ideal, isso sim, que todas
as unidades ameaçadas regressem ao estado da política normal, i.é. que seja efetuada
uma “desecuritização” da(s) unidade(s) anteriormente ameaçada(s) e securitizada(s).

2.2 Contextos de Securitização: filosófico vs. Sociológico(pragmático)


Uma vez que a teoria do ato da fala tem limitações, ainda mais, quando utilizada
por algumas das correntes construtivistas (mesmo a, menos, ortodoxa – a
positivista/interpretativista, convencional e abrangente), foi necessário encontrar formas
de transpor o “fosso” no modelo teórico da securitização na disciplina de RI por forma a
uma aplicação à realidade, em particular no campo da segurança (isto para já não falar
no sub-campo da informação na “era digital”). Autores como Tierry Balzacq, Myriam
Dunn Cavelty, etc. tentam criar frameworks que possam ser aplicadas às realidades de
securitização da “era digital” em plena r(E)volução da informação em um quadro de
globalização acelerada. Por razões de brevidade e escassez de espaço abordaremos, em
forma sintética, uma só Framework proposta por Thierry Balzacq.
Apesar de a linguagem ser, também, uma componente essencial das interações no
contexto da securitização, cujo propósito é o de convencer uma audiência no sentido de
ver o mundo de uma forma específica e, permitir que o agente securitizador possa
transportar a unidade ameaçada para fora do quadro da política normal – securitizando-a
(através de um securitization move) – e, posteriormente, aja em conformidade com o
discurso emitido, quase sempre, este ato da fala, só por si, mesmo respeitando as regras
definidas no quadro da teoria linguística (que lhe está subjacente), não é suficiente para
que tenha o êxito desejado no plano da realidade do mundo da política mundial. Para
que isso aconteça serão necessárias atitudes persuasivas, através de análise
argumentativa, que fixem a emergência da ameaça como um facto social, i.e. através de
razões intersubjetivas. Clarificando: Enquanto o ato da fala possa, ainda, e por si só,
produzir alguns efeitos seguindo as regras, a análise argumentativa tem em si os
procedimentos discursivos para o sucesso, desde que, associada a uma estratégia de
persuasão com alguma razoabilidade. Assim sendo, o modelo sociológico da
securitização contribui com um novo processo – de argumentação persuasiva e
razoabilidade – para o seu entendimento, que explore, de forma natural, as variações,
cruciais, de significância da segurança, como consequência da estruturação política das
ameaças em análise. Tendo por base estes considerandos, de um, novo, modelo
sociológico, a securitização será um processo, em que a utilização:
“patterns of heuristic artifacts (metaphors, image repertories, analogies, stereotypes,
emotions, etc.), are contextually mobilized by a recognized agent, who works
persuasively to prompt a target audience to build a coherent network of implications
10
(feelings, sensations, thoughts, and intuitions), that concurs with the enunciator’s
reasons for choices and actions, by investing the referent subject with such an aura of
unprecedented threatening complexion that a customized political act must be
undertaken immediately to block its development.” (Balzacq, 2010) 16

Isto pode ser definido como um ‘ato pragmático’, porque dá mais atenção ao
contexto em que a securitização acontece, tendo em conta o estado dos oradores, e
atende aos efeitos que as declarações de segurança provocam na audiência, mais do que
o modelo da EC. Neste modelo sociológico, a securitização não conduz
necessariamente à adoção de medidas excecionais. O contraponto entre esta estratégia e
a visão do ato da fala, paraleliza a diferença entre os ‘pragmáticos’ e os ‘pragmáticos
universais’. Os primeiros lidam com a usabilidade da linguagem, incluindo a sua
policromia para atingirem os fins em vista. Os segundos, ao contrário, estão,
primeiramente, preocupados com os princípios fundamentais e as regras subjacentes à
ação comunicacional17. Se as regras não forem seguidas, a ação comunicacional é
distorcida, e assim o mecanismo não será bem sucedido. O cerne da questão não será
propriamente se o discurso “faz” coisas (no sentido da consequência), mas em vez
disso, sob que condições o conteúdo social e o entendimento da segurança produz
ameaças (i.e., se é mesmo consequente ou tem efeito). Esta abordagem mostra-nos os
benefícios de conceber a securitização em sentido pragmático. O conceito de segurança
como ato pragmático (baseado em um modelo sociológico de securitização) pode ser
definido em três níveis intrinsecamente relacionados mas distintos, a saber: ao nível do
agente, ao nível do ato e, ao nível do contexto.
CONSTITUENT Remarks
ANALYTICS
 Power positions Attributes, beliefs, desires, or principles of action; the
Agent  Personal and social social identity; the nature of target audience, and the main
identities opponents or alternative voices within the relevant social
 Target audience(s) field, etc.
Levels

 Action types Appropriate language to use in order to perform an act; ;


 Heuristics artefacts Which heurist artifacts shall a securitizing actor can use;
Act  Practices and Policy forms bodily activities or mental activities, background
tools knowledge and instrument in which transforms the entity
into a threat, etc.
 Distal The sort of occasion or genre of interaction the
Context  Proximate participants take; recursive effects, meaning that
persuasive arguments operate in cascade, etc.
18
Tabela 1 - O vocabulário do ato pragmático de segurança, retirado de (Balzacq, 2010)

Em suma, o ato pragmático de securitização está interessado, quer nos efeitos


causais, quer nos constitutivos do discurso – texto e ação – dependendo do contexto, e
vice-versa. Então, o modelo proposto oferece-nos as combinações das três dimensões
que permitam a identificação de perspetivas diferentes mas complementares na análise
de securitização.
Cada quadrante contém fatores diferentes envolvidos na caracterização de
problemas públicos como ameaças. Os eixos funcionam como calibradores não

16
Ver pp.18.
17
Citado por Balzacq pp. 18 Habermas, J. (1984). The Thoery of communicative Action (Vol. 1). Boston:
Beacon Press.
18 VER pp. 22.
11
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anulando as dicotomias. Cada interseção entre os dois eixos indica formas diferentes de
fixar o processo da ação discursiva, a qual será empírica, no limite. Apesar de nos
podermos confinar a um âmbito de procura, quer à singularidade de qualquer um dos
quadrantes ou interceção, devermos para um, cada vez, mais, credível estudo de
securitização, procurar indagar uma resposta em ambas as três dimensões: ‘como’,
‘quem’ e ‘o quê’. Estas, quando inclusas em contextos definidos (i.e., ‘quando’ e
‘onde’), confrontam a principal preocupação de qualquer analista em securitização:
entender como estruturar a política a partir de uma imagem de ameaça. Com este fim, o
estudo dos discursos de segurança devem inicialmente identificar o assunto em
referência como uma ameaça. Três critérios, cada qual por si autossuficiente, e de
importância operacional: (1) O assunto deverá ser alvo de uma ação parlamentar; (2)
deverá ser alvo de atenção pública ou debate; ou (3) o assunto deverá ser alvo de
atividades relacionadas com a opinião pública ou ações políticas e/ou legais.
Context

Policy tools
Frames
Functional Aspects Action-types
Storylines
Heuristic artefacts

How

Horizontal axis

Nature of the
Map of the world
Ontological Aspects agents involved
offered
Power positions

Who What

Semiotics Pragmatics

Horizontal axis

19
Ilustração 2 – Análise de Securitização em contexto, retirado de (Balzacq, 2010)

2.3 A Securitização e a Revolução da Informação


Os estudiosos da securitização enquadrada na disciplina de RI e no campo da
segurança internacional, parece-nos que, têm tentado encontrar formas de, por um lado,
consolidar a metateoria relativa às várias correntes aceites e, por outro, pôr essa
estrutura de conhecimento – relacionando-a – com problemas concretos da disciplina e
do campo, com maior acutilância após a Guerra-fria. A tarefa não tem sido fácil, como
vimos, devido às fronteiras teóricas de interferência das várias correntes, seus ‘quês’ e
‘porquês’, suas objeções – declaradas - à sua utilização em quadros exteriores ao estado
e ao setor militar (por parte dos racionalistas e neoliberais) ou em áreas particulares e
empíricas (por parte dos críticos, pós positivistas e pós estruturalistas). Assim, quem
tem conseguido algum avanço entre as restrições teóricas e as objeções às
implementações, tem sido a corrente abrangente dos positivistas/interpretativistas -
conotados com “uma base alargada” da EC. Perante a evidência fatual da entropia
causada quer na disciplina de RI, quer no campo da segurança internacional pela
“entrada triunfal” e irreversível da “era digital” e da r(E)volução da informação, uma
vez que, “A variety of theories and concepts have been proposed in the past few years
by scholars attempting to gasp the theoretical and practical impacts of recente

19
VER pp. 26.
12
developments and to explain the changes to international politics induced by the
information revolution” (Dunn, 2002)20, e a corrente abrangente trabalhou para
encontrar um compromisso, entre as ortodoxias teóricas (críticas, pós modernistas) e as
necessidades empíricas dos estados e das organizações transnacionais que lidam com os
problemas da segurança e que têm de procurar respostas concretas para os mesmos no
mundo globalizado em que vivemos.

Conclusões

“[…] there are two interrelated problems in past efforts at understanding security in
the digital age. First, theory and practice on this matter are so distant that they
hardly ever inform each other. Second, existing IR theories are plagued by an
entrenched dualism, implying great difficulties for theoretical adaptation and
application in analyses of the complexities of the emerging new digital world.21”
(Eriksson & Giacomello, 2006)

Este trabalho permitiu constatar que existem, pelo menos, dois problemas
estruturais no estudo da securitização. O primeiro consiste em definir uma base teórica
consistente em que possa assentar os estudos de securitização aplicados quer em geral à
disciplina de IR, quer em particular ao campo da segurança. Assim, será necessário
prosseguir o trabalho científico de estruturação dos fundamentos teóricos da
securitização. A escola que parece endereçar melhor o problema é a do construtivismo
social na sua abordagem CONSTRUTIVISTA  INTERPRETATIVISTA 
ABRANGENTE, faltando ainda, resolver alguns problemas de base ontológica e
epistemológica, relacionados com a fundamentação teórica do conceito e outros de
significado concetual, metodológico e de implicações empíricas, como:
“What kind of audience(s) matter(s), in what context(s)? What are the respective
power of securitizing agents (media, political elites, think tanks, etc.)? How do we
weight the respective heuristic artefacts of securitization (emotions, storylines,
metaphors, pictures, policy tools)? What are the condition of possibility for
desecuritization?22” (Balzacq, 2010).

O segundo, bem mais complexo e abrangente aos subcampos da segurança,


nomeadamente ao da r(E)volução da informação, porque, por um lado, existe um
“fosso” entre a teoria “disponível” (consequência do problema anterior) e a necessidade
de implementação de procedimentos que apliquem, aquela, de forma consistente,
pragmática e reprodutiva ao campo da segurança e, por outro, de maior amplitude,
quando se tenta aplicar a teoria ao subcampo da segurança da informação digital em
contexto global de trocas transnacionais entre atores de índole diversa, quer
corporativos, NGO ou estatais não-militares. Alguns autores referem que será
necessário uma mudança de paradigma porque, “securitization are now often repeated
without further substantive innovation” ou então “securitization would be no more than

20
Ver Preface.
21
Ver pp. 22.
22
Ver pp. 28.
13
MSRI_Construtivismo_a_Escola_de_Copenhaga_e_a_Securitização_V14JAN2K13PM2

an intelectual vogue23” (Balzacq, 2010) e como tal, permanecerá um mero conceito


teórico. No entanto, existem investigadores que, aceitando o desafio, continuam a
trabalhar nessa mudança de paradigma, criando Frameworks que possam endereçar esse
tipo de desafio como é o caso de Myriam Dunn Cavelty do Centro de Estudos de
Segurança (CSS) do Instituto Tecnológico de Zurique (ETH Zurich) (Cavelty M. D.,
2008), entre outros. Por razões de brevidade, não nos foi possível abordar o seu
trabalho, ficando para uma outra oportunidade ao desenvolver o tema da securitização.

Bibliografia

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8). London: Routedge.

Cavelty, M. D. (2008). Politics and threat construction - Theoretical underpinnings. In M. D.


Cavelty, Cyber-Security and Threat Politics (pp. 24-40). New York: Routledge.

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Outline of Debates and Implications. In M. D. Cavelty, & E. M. Brunner, ”Power and security in
the information age” (pp. 2, 3). Hampshire:: Ashgate Publishing.

Dunn, M. (2002). Information Age Conflicts - A study of the Information Revolution and a
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Duque, M. G. (set/dez de 2009). O Papel de Síntese da Escola de Copenhague nos Estudos de


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Eriksson, J., & Giacomello, G. (2006, Jul). The Information Revolution, Security, and
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Habermas, J. (1984). The Thoery of communicative Action (Vol. 1). Boston: Beacon Press.

Mey, L. J. (2001). Pragmatics: An Introduction. Oxford: Blackwell.

23
Ver pp. 27.
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