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Observação importante
William L. Coleman
Traduzido por
Luiz Aparecido Caruso
ISBN 0-8297-1283-6
Primeira publicação: 1979
Traduzido do original:
A Dozen Daring Christians
Editora Vida
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ÍNDICE
PREFÁCIO ..................................................................................................... 6
BARNABÉ ...................................................................................................... 7
ESTÊVÃO .................................................................................................... 15
TIMÓTEO .................................................................................................... 24
APOLO ........................................................................................................ 33
PEDRO ........................................................................................................ 41
FILIPE .......................................................................................................... 49
CORNÉLIO................................................................................................... 57
TIAGO ......................................................................................................... 71
SILAS ........................................................................................................... 78
MARCOS ..................................................................................................... 87
PAULO - I Parte .......................................................................................... 93
PAULO - II Parte ....................................................................................... 102
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PREFÁCIO
Falemos sobre um jantar. Imaginemos essas pessoas todas assentadas ao
redor duma mesa — que doze fascinantes pessoas com as quais falar. Elas
presenciaram tudo o que aconteceu. Cada uma delas pode contar histórias
assombrosas sobre bondade e amor. Se as cutucarmos, podem lembrar-se de
algumas horríveis atitudes de vingança, revestidas de crueldade e
mesquinhez.
As primeiras pessoas que dirigiram a igreja vieram de uma mistura de
origens e experiências. Eram fabricantes de tendas, pescadores, viúvas,
fariseus, gentios, judeus. Tentaram fundir tudo isso num cadinho, mas às vezes
constituíam uma mistura estranha. Os temperamentos ainda podiam ferver, o
racismo podia exibir sua feia estrutura, e alguns podiam deixar de perdoar.
Todavia, quer estivessem no palácio dum rei, quer acorrentados numa
prisão, tinham uma coisa em comum: cada um deles viveu, sacrificou-se e
estava disposto a morrer por Jesus Cristo.
Enquanto você lê esses capítulos, espero que possa imaginar cada uma
dessas pessoas assentadas ao redor duma mesa. Olhe bem nos olhos delas
enquanto falam daqueles anos de pioneirismo. Preste cuidadosa atenção
quando elas lhe contarem como Deus é bom na pessoa do Cristo vivo.
BARNABÉ
ESTÊVÃO
céu é o meu trono, e a terra o estrado dos meus pés; que casa me edificareis,
diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso?"
Que acusação estava Estêvão procurando derrubar? Que a adoração que
eles devotavam a Deus se tornara cristalizada. Eles não desejavam receber
nenhuma informação nova procedente do céu. Não havia dúvida quanto ao
que Deus se assemelhava, quanto ao que ele queria ou mesmo quanto ao lugar
onde ele tinha sua habitação. As portas de suas mentes estavam fechadas e as
chaves havia muito tempo que tinham caído no Mar Morto.
Os líderes judeus haviam cometido suicídio religioso. Haviam perdido a
humildade, e se não pudessem recapturá-la, casos tais como esse geralmente
seriam fatais.
Houve, certa vez, uma igreja que sofreu do mesmo mal. O trabalho
começou num edifício pequeno, com um punhado de crentes. A congregação
cresceu rapidamente. Logo havia pessoas até encostadas pelas paredes. Novos
convertidos ouviam com corações ansiosos.
Os observadores na comunidade elogiaram-nos pelo evidente milagre.
O pastor louvou-os pelo trabalho árduo e pela consagração. Logo os crentes
começaram a crer no que ouviam e era aquele tal de cumprimentar-se uns aos
outros, dando-lhes tapinhas nas costas.
Não demorou muito para que perdessem sua humildade. Afinal de
contas, eles eram a nata dos evangélicos da região. Ao convencer-se de sua
própria beleza, logo começaram a debicar-se uns aos outros. Então instalou-se
o farisaísmo e começou a cata de picuinhas. Eram cinco grupos diferentes, cada
um deles a puxar a brasa para sua sardinha. Consumidos pelo orgulho,
afogaram-se em sua própria arrogância.
Estêvão sugeria que a mesma coisa havia acontecido com o Sinédrio.
Destituídos de humildade, eles eram rígidos e frágeis nas mãos de Deus. O
vigoroso diácono não queria que falhassem neste ponto, de modo que
procurou atingir o alvo com cuidado.
Ele estivera citando Isaías 66:1, mas agora fala com independência. A
começar de Atos 7:51, ele apresenta seu próprio comentário redatorial. Estêvão
chama a sua audiência de "homens de dura cerviz e incircuncisos", duas formas
descritivas que eles não poderiam ignorar. Consideravam-se a si próprios
obedientes a Deus, e por certo eram circuncidados.
Podemos discutir o tacto que Estêvão usou, porque os primitivos cristãos
não eram mais infalíveis do que a presente safra. Todavia, Lucas não atacou a
mensagem de Estêvão ou seu método de apresentá-la. O Sinédrio continuava
obstinado. Não se impressionaram com Jesus e votaram pela sua condenação.
Não havia motivo algum para que Estêvão esperasse melhor tratamento para
um dos discípulos de Jesus.
Chega o dia de entregar a mensagem sem rodeios, e Estêvão resolveu
que esta era a hora. Ele não estava longe demais de sua base. As acusações que
ele apresentou eram idênticas àquelas arrasadoras apresentadas por Jesus
Cristo: "Qual dos profetas vossos piis não perseguiram?" (Atos 7:52a; Mateus
23:37).
Para a integridade do Sinédrio, a acusação tinha de ser chocante.
Naqueles anos todos eles haviam ensinado estar do lado dos profetas. Eram
palavras duras de proferir ou de ouvir sem mais nem menos.
Contudo, surge de novo o problema da humildade. Como podemos ser
confiantes e humildes ao mesmo tempo? Um verdadeiro ardil, mas
absolutamente essencial. O seguidor de Cristo tem de conhecer aquilo em que
crê (2 Timóteo 1:12). Não obstante, deve também ser aberto e flexível.
Amiúde desejamos que nos ensinem aquilo que já sabemos. Há conforto
em ensaiar novamente o que nos é familiar. Com muita freqüência temos medo
de aprender algo novo. Às vezes consideramos pecado a mudança de nossa
maneira de pensar. Esta falta de abertura qualifica-nos para o Sinédrio do
século vinte.
Para dizer a coisa de modo suave, Estêvão não era benquisto por seu
auditório devido às suas observações. A linguagem de Lucas é gráfica. O
coração daquela gente estava serrado pelo meio. Todos nós podemos
identificar — pensamos que nosso coração foi quebrado; o deles foi cortado
bem no centro.
O rilhar de dentes é de mais difícil compreensão. Alguns dos mais
competentes comentadores crêem que os membros do Sinédrio literalmente
saltaram sobre Estêvão e começaram a morder-lhe a carne. Contudo, talvez
uma explicação melhor seja que meramente rangiam os dentes. O ranger de
dentes era uma forma israelita de revelar angústia e desespero. Eles rilhavam
os dentes de forma ameaçadora.
Pode-se considerar Jó o pai da expressão. Ele descreveu seus infelizes
consoladores como rangendo os dentes (Jó 16:9). Contudo, é quase certo que
eles não o estavam mordendo. Jesus usou a mesma expressão diversas vezes
(Mateus 13:50; 22:13; 25:30).
Os membros do Sinédrio estavam como animais bravios preparando-se
para o ataque. Estêvão não podia duvidar de qual seria o veredicto deles. Ele
ergueu os olhos para o céu e viu a glória de Deus e Jesus em pé à destra do Pai.
Estêvão contou aos ouvintes o que Deus lhe havia mostrado.
Não é fácil para os cristãos gentios do século vinte avaliar esta cena. A
visão de Estêvão parecia absoluta blasfêmia. Tratava-se do mesmo grupo que
condenou a Jesus Cristo. Como podia Cristo estar em pé à destra de Deus?
Eles gritavam e tapavam os ouvidos. Aquilo era dose forte demais para
eles. Numa onda humana eles arremeteram contra Estêvão. Podemos estar
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seguros de que ele não foi tratado com gentileza. Eram punhos, pés, joelhos e
cuspo que voavam de todos os lados como se fossem mísseis. Rompera-se a
represa e não havia como deter a inundação.
A execução de Estêvão não foi puramente um ato de uma multidão
desvairada, nem foi inteiramente ilegal. A pena capital estava dentro dos
limites de poder do Sinédrio. A turba presente reagiu furiosamente, dominada
pelo ódio, mas dentro do contexto de um julgamento.
O depoimento de testemunhas era necessário para completar qualquer
julgamento (Levítico 24:14; Deuteronômio 17:7), e havia testemunhas
disponíveis ali. Elas tiraram suas vestes exteriores porque se esperava que elas
atirassem as primeiras pedras. Depois disso, normalmente se usava um
montão de pedras para sepultar a vítima.
Se o apedrejamento de Estêvão foi executado como a maioria dos demais,
ele foi atirado de um penhasco. Isto muitas vezes causava consideráveis
ferimentos e às vezes matava a vítima. Uma das testemunhas atirou a primeira
pedra na esperança de esmagar-lhe o peito. A seguir, todos na multidão eram
convidados a adiantar-se e atirar pedras. Tinha de ser um modo miserável de
morrer.
Os judeus não se esmeravam por fazer a pena capital parecer agradável.
Nem o faziam os romanos no uso da crucificação. O propósito da execução era
dissuadir os vivos de quebrar a lei.
Se Estêvão foi apedrejado segundo o método tradicional, obviamente ele
sobreviveu à queda. Seus adversários apanharam pedras que podiam ter quase
sessenta centímetros de largura e as arremeteram contra a vítima na vala.
Imediatamente Estêvão se pôs a orar.
Lucas registra dois fatos muitíssimo impressionantes acerca das palavras
de Estêvão, possivelmente as únicas que proferiu. Ele pediu a Jesus Cristo que
o recebesse, o que constitui mais uma prova de que o mártir grego considerava
a Jesus como Deus. Sua segunda preocupação relacionava-se com seus exe-
cutores. Estêvão não queria que Deus lhes imputasse este pecado. Nada de
vingança. Ele seguia o espírito do Cristo moribundo. O jovem diácono havia
feito algo mais do que aprender versículos; ele havia adquirido um espírito.
Estêvão tornou-se um excelente quadro para afixar avisos de votos de
felicidade. Se ele pôde pedir perdão para os que o assassinavam, isto nos dá
grande esperança. Por certo podemos desejar o bem para o mecânico de
automóveis que se esqueceu de apertar o bujão do óleo de nosso carro.
Podemos estender nossa mão de afeto ao vizinho que põe seu estéreo a
funcionar no volume máximo.
Estêvão "adormeceu", mas violentamente. Adormecer ou dormir tornou-
se um eufemismo que se ajustava bem à morte entre os cristãos. Mesmo nessas
condições, é possível uma aceitação pacífica da morte.
A esta altura caminha para o centro do cenário o mais famoso convertido
na história da cristandade. Saulo de Tarso foi testemunha de todos esses
procedimentos.
Saulo era natural de uma cidade da Cilicia e possivelmente tenha ouvido
Estêvão falar na sinagoga dos libertos. Seja lá como for, ele deu plena
aprovação aos que executavam Estêvão. A maneira calma pela qual o diácono
enfrentou a morte e o olhar em seu rosto causaram efeito duradouro sobre
Saulo (Atos 22:20).
Existe a possibilidade de que Saulo tenha feito a Lucas, o historiador, um
relato de testemunha ocular. Em sua morte, Estêvão pode ter proporcionado
um trampolim para o Cristianismo, maior do que ele jamais sonhara.
CAPÍTULO 3
TIMÓTEO
APOLO
ele o conselho? Este homem sentiu que valia a pena correr o risco, e na verdade
ele ajudou um jovem pastor.
Priscila e Áqüila resolveram lançar-se à mesma aventura. Apolo estava
fazendo bom trabalho. Pol que deveria ele dar-lhes ouvidos? Mas este casal
arriscou-se.
Áqüila era um hebreu que morava em Ponto, na Itália. Cláudio havia
dado ordens para que todos os judeus deixassem o país, por isso ele e sua
esposa Priscila tiveram de sair. Não sabemos em que local se fizeram cristãos,
mas os dois se encontraram com Paulo em Corinto. Eram fabricantes de tendas
e assim se associaram profissionalmente com o apóstolo.
Quando Paulo deixou Corinto e foi para Éfeso, levou consigo Áqüila e
Priscila. Paulo foi para Roma, porém o casal ficou para trabalhar na
evangelização. Marido e esposa frequentavam a sinagoga e foi ali que ouviram
Apolo.
Agora eles tinham de resolver se deviam envolver- -se no caso.
Correriam o risco de ver-se rejeitados tentando ajudar a Apolo? Seria preciso
energia e um pouco de intrepidez. Correram o risco.
Esta situação particular era potencialmente explosiva por dois motivos,
pelo menos. Um problema era usar de tacto suficiente para ganhar a confiança
de Apolo. O segundo era a questão de uma mulher dar conselho a um cristão
experiente. Qualquer desses motivos poderia causar dor de cabeça.
O problema do tacto foi tratado com suavidade. Em vez de levantar uma
objeção em público, calma e delicadamente eles convidaram Apolo para ir à
casa deles. Quem quer que tenha ouvido a troca de palavras ásperas no salão
de uma igreja pode avaliar esta atitude. Não havia jeito de dizer como o egípcio
aceitaria esta intromissão. Se ele se mostrasse arrogante e insultado, a cena
poderia ter sido feia.
É fácil proferir algumas observações nada lisonjeiras ao passar por um
salão. Elas estão carregadas de emoção, mas pouca compreensão ou
compaixão; é a crítica onde o coração não entra para ajudar. A apresentação de
tais propostas em particular muitas vezes constitui a diferença entre o calor e
a luz.
Muitas pessoas interessadas podiam ajudar seu pastor se aprendessem a
fazê-lo com moderação. Em primeiro lugar, devem dirigir-se a ele com
bondade e bom senso de humor. Com frequência os pastores melhoram
consideravelmente mediante a atuação de um membro amável, paciente.
A segunda dificuldade era a presença de uma mulher corrigindo um
homem. Na maioria das culturas seria difícil de aceitar, e os hebreus não consti-
tuíam exceção.
Talvez seja significativo que Lucas coloque o nome de Priscila antes do
nome do marido. Em alguns casos isto nada significa, mas aqui pode ter
importância. A senhora Áqüila estava, provavelmente, assumindo a liderança
na discussão. Isto não quer dizer que ela sempre o fizesse. Mas nesta ocasião
parece que ela era a mais agressiva — é possível que ela fosse também mais
encantadora.
Não há necessidade de ver as mulheres nos postos de liderança como
imoderadas e mandonas. Elas também podem ser inteligentes, decisivas e
úteis. Muitas situações poderiam ser melhoradas ouvindo- -se o bom conselho
das mulheres. Talvez muitos maridos pudessem evitar considerável agonia se
dessem ouvidos mais frequentemente a suas esposas.
Felizmente, Priscila não era inibida demais e assim podia ajudar. Por
outro lado, Áqüila nada tinha de inseguro e dessa maneira podia permitir a
ajuda da esposa. Priscila tinha uma contribuição a fazer, e não seria o esposo
que a impediria de fazê-lo. Talvez seja por isto que Paulo fala desse casal com
tanta frequência (Romanos 16;3; 1 Çoríntios 16:19; 2 Timóteo 4:19).
Priscila e Áqüila pareciam maduros bastante para tratar do assunto. A
questão agora era Apolo. Como receberia ele a crítica nessas circunstâncias? A
resposta é breve. O conselho deles provavelmente não tomou muito tempo, e
o problema foi solucionado. Não há sinal de discussão acalorada ou de
melindres feridos.
Depois da discussão de caráter íntimo, o autor não nos diz se Apolo foi
rebatizado. Em realidade, ele ignora por completo as alterações. Lucas faz isto
porque a mudança foi de curta duração? Pareceria tolice para nós ou talvez nos
escapasse por completo? Afinal de contas, o que naquele tempo constituiu um
problema urgente pode não significar nada para nós hoje. Lucas não considera
o caso digno de menção.
Fosse qual fosse a situação, os três emergem dela como gigantes.
Cresceram juntos — Apolo não foi insistente em fazer as coisas a seu próprio
modo, e Áqüila e Priscila não estavam resolvidos a impor coisa alguma.
De imediato Apolo tornou-se aceitável aos crentes locais. O selo da
aprovação foi aposto e todos ofereciam estímulo. Como poderiam ajudar? Qual
seria o próximo passo? Que ministério Apolo tinha em mente?
Era um quadro inteiramente novo — tão diferente dos milhares de outros
desacordos que terminam em amargura.
Apolo achou que devia partir para a Acaia. Lá ele mudaria para sua
principal cidade: Corinto. O evangelista itinerante estava destinado a
desempenhar um importante papel nesta região.
Os cristãos de Éfeso ficaram tão contentes com seu novo amigo que
escreveram cartas de apresentação. Esta era uma prática comum, uma vez que
os estranhos podiam alegar qualquer coisa. Uma carta cordial seria
extraordinariamente útil em ajudar a quebrar o gelo.
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PEDRO
Por que teria Jesus Cristo escolhido um vulcão para pintar em seu cenário
nesta terra? Sem dúvida ele tinha suas razões para fazê-lo. Não temos dúvida
também de que ele conhecia as personalidades que escolheu para seus
discípulos. Ter-lhe-ia sido igualmente fácil reunir uma dúzia de tranquilos
executivos principiantes. Em vez disso, ele reuniu um amplo sortimento de
fogos de artifício.
Se considerarmos os discípulos como fogos de artifício, Pedro não era
uma estrelinha. Não há uma luz quieta para representá-lo. Simão era como um
foguete com um fusível defeituoso. Não havia jeito de saber quando ele
detonaria, ou se detonaria.
Sejam quais forem os problemas que Pedro tenha enfrentado como
discípulo, ele brilha como couraça nova no livro de Atos. No decorrer dos doze
primeiros capítulos ele é, indiscutivelmente, o personagem principal na igreja
cristã. Como parteira que atendeu ao nascimento da igreja, Pedro é responsável
pelo parto seuro do Cristianismo, pelo aroma saudável e pelas vestes quentes.
Ela chegou com faces robustas e um grito tranquilizador. O pescador
encarregou-se dessa parte.
Jesus não cometeu o engano que muitos de nós teríamos cometido. Com
frequência somos atraídos para personalidades agradáveis, firmes e até mesmo
previsíveis. Elas são as mais seguras. Cristo via potencial além da fachada. Se
Pedro era barulhento, esse fato não perturbava o Messias. Quando Pedro era
impetuoso, Jesus era paciente. Mesmo quando Simão agia de modo covarde,
Cristo podia facilmente ver além dessa atitude. Pedro conseguiria chegar lá.
Ele só precisava de tempo e compreensão.
É interessante ver quanto ele melhorou após a ressurreição. Não
obstante, Pedro nunca conseguiu aparar por completo todas as arestas de sua
personalidade. Pedro e Paulo, dois gigantes de Deus, defrontaram-se e
trocaram palavras ásperas. Mas, a verdade é que nenhum dos apóstolos
chegou a aproximar-se da perfeição.
A personalidade de Pedro é um grito contra os clamores modernos por
conformidade. Muitas organizações cristãs parecem pensar que sua força
reside em que todos se curvem perante elas. Querem que todos pensem da
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O Sinédrio fez novas ameaças a Pedro e João, mas estes cristãos não se
deixavam intimidar. Haviam acertado suas contas com Deus e não iam ser
demovidos de sua fé.
O concílio agora se sentia um tanto receoso das crescentes multidões.
Elas eram um grupo em expansão, que no momento excedia a casa dos 5.000
(Atos 4:4). O dia de lidar com uma dúzia de tipos variegados ou com 120
desorganizados já passara. Agora era bom que o Sinédrio tomasse cuidado
com o que fazia.
Pedro voltou diretamente ao trabalho de pregação. Os ventos eram fortes
e eles tinham a intenção de manter as velas enfunadas.
A jovem igreja estava cheia de entusiasmo e disposta ao sacrifício, mas
ao mesmo tempo havia problemas internos. Um dos primeiros, e de gravidade,
envolvia dinheiro, e Pedro lançou-se direto no meio do problema. Conforme
sabemos, muitos vendiam espontaneamente seus bens pessoais e davam o -
produto da venda aos apóstolos, embora não fossem, de modo algum,
obrigados a fazê-lo.
Ananias e Safira eram um casal cristão que concordou em vender seus
bens e doar o produto da venda aos apóstolos para o fundo de socorro.
Estavam ansiosos por agradar seus novos amigos, mas infelizmente o casal
permitiu que sua avidez lhes eliminasse o bom senso. Talvez tivessem boas
intenções. Desejavam desesperadamente ser aceitos. Fazendo- -lhes justiça,
podemos dizer que talvez desejassem também dar parte de seus bens para
ajudar os outros. Mas houve um ponto onde os motivos se misturaram, e eles
resolveram mentir.
O casal vendeu uma propriedade como muitos outros haviam feito, mas
se viram torturados entre guardar uma parte do dinheiro e dá-lo todo à igreja.
Como poderiam eles ser aceitos como cristãos de primeira linha e ainda
guardar parte do dinheiro? Essa a pergunta que se faziam. Havia somente um
modo. Não era preciso dar todo o dinheiro. Bastava aparentar que haviam
dado.
Isto parece desonesto e enganoso? Sem dúvida. Mas também é
incompreensível. Ananias e Safira seriam bons santos padroeiros para muitos
de nós. Todos temos feito coisas ridículas para impressionar uns aos outros.
Com demasiada frequência, depois que nos tornamos cristãos continuamos na
mesma vida de antes. Levamos nossas inseguranças para dentro da igreja.
Alguns de nós comparecemos a concertos cristãos que não poderíamos
nem mesmo começar a apreciar. Outros dão testemunho porque Maria e
Joaquim o fazem. Outros ainda concordam com doutrinas peculiares nas quais
realmente não creem. Todos se curvam à pressão para impressionar uns aos
outros. Quanto mais mudamos, tanto mais somos os mesmos.
De algum modo, Pedro soube de imediato o que havia acontecido. Em
sua mente não podia haver concessões aqui. Não se poderia permitir que a
igreja começasse baseada em premissas enganosas como esta.
Pedro confrontou a Ananias e certificou-se de que todos entendessem a
situação. Ninguém tinha de dar sua propriedade (Atos 5:4) — competia a eles
guardar ou dar. Mas não tinham o direito de enganar. Procuravam mentir a
seus companheiros. Em realidade, haviam mentido a Deus.
Ao ouvir esta severa condenação, Ananias caiu morto, imediatamente. A
morte foi ocasionada por causas naturais ou sobrenaturais? Nenhum de nós
pode dizê-lo com certeza. Os jovens que estavam ali presentes tomaram o
corpo e o sepultaram sem demora.
Possivelmente a cena toda pareça cruel e destituída de amor, mas para
Pedro a questão era crucial. Ele não podia permitir que a igreja emergente
crescesse em corrupção. Se o permitisse, ela estaria em pé de igualdade com as
religiões pagãs locais.
Se a atitude de Pedro tivesse persistido no decorrer dos séculos, a igreja
teria estado em melhores condições, Alguns tratamentos dispensados a negó-
cios cristãos têm sido mais do que obscuros. Mais de uma carta tem
representado mal as condições financeiras de organizações cristãs.
Uma revista cristã publicou um apelo especial feito por uma organização
missionária. O edifício da sede fora destruído num incêndio e estavam levan-
tando uma grande soma para construir novo prédio. Disse o repórter que a
carta deixou de mencionar que o edifício estava totalmente coberto por seguro.
Talvez alguns de nós estejamos mais preocupados com a imagem do que
com a honestidade. Felizmente, em sua maioria os indivíduos e as
organizações são cuidadosos ao extremo; contudo, há prática artificiosa
suficiente para preocupar-nos a todos.
Quando lemos o livro de Atos, dois problemas se repetem na igreja
primitiva. Um deles é a igualdade; há muito debate sobre a admissão dos
gentios. O segundo é o dinheiro (o fundo de assistência às viúvas, Simão o
mago, alívio da fome). Esses problemas eram as arestas duras que estavam
sendo batidas na bigorna da imaturidade.
A igreja moderna pode encontrar boas diretrizes acompanhando o
progresso que a igreja fez. Em alguns lugares, ambos esses problemas são
tratados de forma excelente. Outros grupos têm problemas ainda piores nessas
áreas do que os teve a igreja do primeiro século.
Pedro não podia aceitar ligeiramente o problema do engano, mas seria
difícil considerarmos o apóstolo culpado na morte de Ananias. Três horas
depois o pescador interrogou a Safira com igual firmeza. Ela repetiu a mentira
anterior. Pedro lhe disse sem rodeios o que havia acontecido a seu esposo.
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Quando Safira soube da morte do marido, ela teve um colapso e caiu aos
pés de Pedro. Dentro de um segundo ela também estava morta. Os mesmos
homens que haviam sepultado seu esposo levaram-na também (Atos 5:10).
Surge uma pergunta quanto ao verdadeiro cristianismo de Ananias e
Safira. É uma pergunta justa, mesmo que seja impossível dar-lhe resposta. O
que eles fizeram não era evidentemente cristão. Pedro foi dramático neste
ponto. Contudo, o comportamento não pode ser o critério absoluto para se
julgar uma crença. Tenho feito muitas coisas que eu não consideraria cristão.
Perdoem-me, mas tenho suspeita de que vocês também o têm feito.
Pode um não-crente mentir ao Espírito Santo? Não há evidência
suficiente aqui para provar que não eram cristãos. Apenas o bastante para
demonstrar enorme imaturidade. Somos membros de um grande clube.
A verdadeira mensagem do relato se encontra em Atos 5:11. Um
tremendo temor espalhou-se por toda a igreja. A mensagem fundamental do
evangelho é paz e livramento do medo; no entanto, há medo saudável. A
ausência total de medo seria um perigo. "Quanto aos que vivem no pecado,
repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam" (1
Timóteo 5:20).
Pedro continuou com um espantoso ministério. Ele não teve um
assistente de relações públicas ou um secretário de imprensa — ele não
necessitava de nenhum. As notícias do poder de Cristo espalhavam- -se
naturalmente. As pessoas eram, literalmente falando, transportadas por
quilômetros apenas para que pudessem aproximar-se do apóstolo. Este
ministério de cura servia como prova irrefutável da miraculosa energia do
evangelho.
Os sumos sacerdotes ficaram tão irritados com a publicidade, que
mandaram prender de novo o apóstolo. Foram indelicados o bastante para
lembrar a Pedro que eles lhe haviam proibido pregar a Cristo. Pedro, por sua
vez, lembrou-lhes que ele tinha a obrigação primária de obedecer a Deus (5:29).
Quando o concílio ouviu sua resposta agressiva, resolveram que Pedro
necessitava de uma cirurgia de emergência que lhe tirasse a vida.
Gamaliel, doutor da lei e fariseu, interveio e salvou a pátria (Atos 5:34).
O respeitado sábio tinha peso em suas considerações. Ele era lembrado com
grande reverência entre os judeus. O Mishna alega que Israel não conheceu
outro rabino como ele. Um de seus mais famosos alunos foi outro fariseu por
nome Saulo de Tarso (Atos 22:3).
Gamaliel persuadiu o Sinédrio a afastar-se dos cristãos. Numa forma de
transigência, eles batiam nos cristãos e os soltavam. É quase com indiferença
que lemos de surras aplicadas aos discípulos. Não me sinto mal quando leio a
esse respeito em meu confortável escritório. Pouco se ganha em deter-se na
dor; inclusive os apóstolos não se preocupavam com isso. Eles saíam
"regozijando-se" (Atos 5:41). Não obstante, era uma experiência violenta.
Muitas vezes eles tinham as costas dilaceradas e a cura era lenta.
Essas surras eram frequentes na igreja primitiva (Atos 16:22; 16:37; 18:17;
21:32; 22:19). Em alguns países, ainda hoje podem ser frequentes.
Os apóstolos quase correram de volta ao templo. Começaram a pregar
de novo o evangelho que estavam proibidos de anunciar. O ministério de
Pedro continuou como dantes, sem diminuição.
Um dos mais famosos milagres de Pedro foi a ressurreição de Dorcas
(Atos 9:36). Nenhum convertido apresentou mais repercussões para Pedro do
que Cornélio (Atos 10, 11). Pedro não tinha certeza de que Deus queria salvar
os gentios, por isso a conversão do centurião gentio foi um marco no
crescimento espiritual de Pedro. Ela provou que inclusive as Rochas podiam
mudar.
Não somente Pedro batizou Cornélio, mas viajou para Jerusalém a fim
de defender seus atos. O discurso de Pedro perante o concílio foi monumental
para criar uma atitude aberta com relação aos convertidos gentios (Atos 15).
Às vezes retratamos Pedro como um cacarejo pobremente coordenado.
Saímos perdendo com isso. Os que conheceram o homem amavam-no grande-
mente. Ele necessitava desta afeição pessoal, uma vez que a oposição o tratava
com franca hostilidade. Numa de suas frequentes idas para a prisão, seus
amigos em Jerusalém oraram incansavelmente pelo livramento do homem
(Atos 12:5 e ss.), e Deus o livrou de modo miraculoso.
Neste incidente da prisão, Pedro dormia tão profundamente que a luz
brilhante do anjo nem chegou a despertá-lo. O anjo teve de cutucá-lo. Pedro
dormia em paz, muito embora Herodes pudesse tê-lo executado.
O pescador permaneceu vigoroso a vida toda e proporcionou excelente
liderança. Escreveu duas epístolas instrutivas. Na segunda ele demonstrou
uma crença apaixonada na volta de Cristo.
Pedro, longe de ser um cristão inconstante, sofreu grandes tormentos de
consciência. No decorrer da vida ele meditou continuamente no problema dos
convertidos gentios. Perante o concílio de Jerusalém (Atos 15) o apóstolo
defendeu o pleno direito deles. Mas outras vezes ele tinha pensamentos
diferentes que o faziam sofrer.
As faces sorridentes dos cristãos gentios faziam-no disposto a aceitá-los.
Por certo a visão que ele recebeu de Deus o impulsionava (Atos 10). Não
obstante, seus fortes escrúpulos continuavam a remorder.
Em algum ponto ao longo do ministério de Pedro, ele e Paulo
desavieram-se por causa do problema. O pescador havia regressado e agora
rejeitava a aceitação plena dos gentios. Paulo diz-nos que lhe resistiu face a face
em virtude do problema (Gálatas 2:11-14).
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FILIPE
apenas uma cidade receber as boas-novas, agora ela se divulgaria numa área
de quase duzentos quilômetros quadrados.
A despeito de nossos planos elaborados para espalhar o evangelho,
grande parte do trabalho se faz por meio de migrações. Uma nação captura
prisioneiros de outro país. Esses novos escravos levam o Cristianismo consigo.
As pessoas são expulsas de sua terra (como os menonitas) e levam consigo a
história de Jesus Cristo. Os exércitos entram em outros países e seus soldados
e capelães falam sobre o Messias. É difícil saber quais os acontecimentos
causados por Deus e quais os que ele meramente usou. Bem, talvez não haja
tanta importância em sabê-lo. O ponto importante é como utilizar tais situações
com real proveito.
Uma vez que os cristãos começaram a mudar-se de Jerusalém, a vida foi-
lhes mais fácil. Por fim, invadiram também os estados gregos (Atos 11:19).
Filipe logo se viu localizado numa cidade da Samaria. Esta era uma
região ideal para pregar o evangelho. A população constituía-se de mestiços
desprezados pelos judeus. Aqueles, por sua vez, não perdiam o sono por causa
de seus vizinhos do sul. Ao pregar ali, Filipe mostrou a ampla compaixão do
evangelho.
Que acontecimento espetacular! Algumas atividades ministeriais são
silenciosas e sutis. Outras são exatamente como a comemoração de uma grande
data nacional. A visita de Filipe foi uma festa de rojões e estrelinhas! A cidade
estava cheia de possessos do demônio. Lucas, o escritor, é específico quanto à
existência deles, mas francamente pouco sabemos a respeito. Que tipo de
pessoa estava sujeita à possessão? Era uma situação total ou algo que vinha e
desaparecia? Será que alguns casos não eram epilepsia mal diagnosticada?
Provavelmente era tudo isso aí.
Havia um grande número de pessoas sujeitas a fenômenos estranhos,
alguns deles de origem satânica. Alguns eram de ordem nacional; a maioria
era incompreensível. Hoje em dia há muitas comparações interessantes com
aquela situação. As pessoas fazem coisas estranhas, coisas difíceis de
identificar.
Uma coisa sabemos: Filipe causou um forte impacto sobre a comunidade.
Muitos que anteriormente estavam possuídos de espíritos "imundos" (Atos
8:7), tiveram esses espíritos expelidos. Pessoas que haviam falado com vozes
incontroláveis, já não tinham tais vozes. OS que outrora se atiravam ao fogo
agora eram pessoas estáveis. O milagre não era insignificante. Pessoas antes
aleijadas agora dançavam pelas ruas. Outros que tinham corpos retorcidos e
doloridos, estavam eretos como pinheiros.
Vivo numa pequena cidade que talvez seja um pouco maior do que
aquela que Filipe visitou (somos cerca de 4.000 habitantes). Que aconteceria se
alguém viesse à nossa cidade e curasse a todos? Meu amigo se veria livre de
sua bengala; a senhora de cabelos brancos deixaria de manquejar. A criança
surda poderia jogar fora seu aparelho de ouvido. Tento imaginar o impacto
sobre nossa comunidade. A pessoa que realizasse esses milagres teria atrás de
si um cortejo em um minuto. Pois bem, é fácil ver por que houve grande
"alegria" naquela cidade (Atos 8:8).
Filipe teve uma carinhosa recepção. As pessoas abriam os braços para
receber este homem extraordinário. Também ouviam atentamente ao que ele
dizia. Suas palavras faziam sentido. Filipe encontrara solo fértil e estava
colhendo ricas recompensas para Jesus Cristo.
A despeito de toda esta evidente prosperidade espiritual, uma pessoa
compreendeu o evangelho apenas pela metade. Simão era um homem que
valia a pena conhecer. Ele teria sido um personagem fascinante em quaisquer
circunstâncias, mas adicionou uma dimensão estranha, ímpar, à vida de Filipe.
O povo desta cidade samaritana tinha grande respeito por Simão.
Consideravam-no um homem bom, que tinha o poder de Deus. Era um
feiticeiro, senhor de uma considerável capacidade. O feiticeiro mantinha uma
posição singular em qualquer cidade do primeiro século. Provavelmente
poderíamos compará-lo mais proximamente a um mágico. Não o cavaleiro de
chapéu preto, com uma vassoura, que estamos acostumados a imaginar, mas
as habilidades de um feiticeiro corriam ao longo das mesmas linhas.
Não sabemos ao certo que tipo de maravilhas ele realizava, mas eram
evidentemente impressionantes. Possivelmente ele podia conjurar vozes e sons
e realizar curas de alguma natureza. Fosse qual fosse o processo empregado,
ele havia ganho considerável respeito, e a cidade prestava-lhe homenagem.
Os cristãos eram menos receptivos a esses curandeiros. Eles são
chamados de enganadores, imorais; e são colocados na mesma categoria dos
mentirosos e dos assassinos (Gálatas 5:19-21; 2 Timóteo 3:8}.
A pregação de Filipe não foi eficaz somente com as massas; ela atingiu
Simão o mago. Outros concordavam em ser batizados em nome de Jesus Cristo;
acreditavam ser ele o Messias que perdoava os pecados. A fila de convertidos
encompridou-se. Simão foi movido pelo que viu e ouviu. Também achou fácil
crer e pediu o batismo. Quando o escritor descreve a fé que Simão revelou, não
o faz com reservas, não há notas de advertência ao pé da página, porém mais
adiante há motivo para duvidar de sua sinceridade. Contudo, a esta altura, sua
fé parece ser aceita pelo que revela.
Ainda que tardiamente, algumas lições há dignas de ponderação com
respeito a milagres. No Novo Testamento eles são usados como apologética
válida. Não somente Jesus e seus discípulos fizeram uso deles, mas o Antigo
Testamento está literalmente cheio deles. Não podemos negar, porém, que
Jesus Cristo tinha verdadeiro medo de milagres como meio de conversão.
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Muitos dos milagres que Jesus operou ele os fez por compaixão e não
visando à conversão. Ele se comovia. A dor, o desfiguramento e a morte
definitivamente o preocupavam. Jesus alimentou multidões porque estavam
famintas.
Ele considerava os milagres uma boa introdução ao evangelho, mas
estava atento a eles. Numa ocasião, pelo menos, muitas pessoas desejaram crer
nele por causa de seus milagres, e ele retirou-se (João 2:23 e ss.). Quando os
fariseus forçaram Cristo a produzir um sinal, ele revoltou-se. Jesus declarou
que uma geração má e adúltera pede um sinal (Mateus 12:39).
Filipe pregou a Jesus Cristo e seu reino (Atos 8:12), de maneira que
nenhuma falta de sinceridade da parte de Simão pode ser lançada sobre o que
ele ouviu. Ele pode ter-se pasmado tanto pelos milagres que ouviu pouca coisa
da mensagem. Ou, é possível que tenha crido no poder de Cristo. Ele poderia
ter aceito o Messias somente nesta base — fé sem rendição.
Encontramo-nos na espinhosa posição de julgar a fé alheia. Que é que
uma pessoa crê? Com que profundidade? Com que sinceridade? Geralmente
terminamos em posição incômoda e deficiente na tentativa de medir os outros.
Como de costume, teremos de contentar-nos em deixar o julgamento para
Deus.
Pedro e João haviam permanecido em Jerusalém nos dias da mais forte
perseguição.'Não sabemos como era a vida; mas estamos certos de que os
riscos pessoais eram altos. Ao receberem notícias das conversões em Samaria,
fizeram planos para a viagem ao norte. Chegados a Samaria, impuseram as
mãos sobre os novos convertidos e cada um deles recebeu o Espírito Santo.
Francamente, não estamos seguros da forma como o Espírito se
manifestou. Os que receberam o Espírito falaram em línguas como aconteceu
no dia de Pentecoste? É muito provável que sim. Houve outros indícios?
Também é possível. Podemos estar razoavelmente seguros de que a prova era
muitíssimo visível. Simão viu algo poderoso e desejou possuí-lo. Sua mente
correu veloz e, naturalmente, para sua antiga forma de vida. Havia um modo
lógico e prático de receber este dom. Simão o compraria.
Recebeu Simão a próva do Espírito Santo? É possível que tenha recebido
o poder, e então se ofereceu para comprar a franquia de sorte que ele, por sua
vez, pudesse revendê-la a outros? Praticamente falando, qualquer coisa é
possível. O autor não diz que Simão estava excluído de receber o Espírito. Ele
nunca se refere a Simão como a um não- -crente.
Quando Simão se ofereceu para comprar o poder, ele preparou para si
mesmo um lugar na história. Daí para a frente, sempre que um clérigo tentasse
comprar um posto mais elevado, sua tentativa era chamada de "simonia".
Houve tempo em que esta era uma prática mais ou menos frequente. Se um
indivíduo desejasse tornar-se bispo, podia oferecer- -se para comprar o cargo.
Quase sempre o conseguia.
Mas Pedro respondeu à oferta com uma língua contundente. A sugestão
deixou-o furioso. Disse a Simão que esperava que seu dinheiro perecesse com
ele. Pedro insistiu em que o mago não estava realmente convertido e deveria
arrepender-se de imediato (Atos 8:22).
Para o apóstolo, Simão mago estava em "fel de amargura" (Atos 8:23) e
em laço de iniquidade. O julgamento de Pedro foi rápido e incisivo. Não
poderia haver lugar para o plano de Simão. Não se poderia permitir a ninguém
nem mesmo imaginar que tal coisa seria ou poderia ser tolerada.
Simão ficou boquiaberto com a resposta. Afinal de contas, era apenas
uma simples transação. Em nada diferia de qualquer oferta que ele tivesse feito
a qualquer outro espírita ou mágico.
O problema aqui envolvido é mais importante do que a pessoa de Simão.
É difícil imaginar o mago, mas o princípio não. Simão pode ter sido um cristão
novo e meramente recorreu ao que melhor lhe pareceu. Talvez ele não
percebesse o total campo de ação da moralidade cristã. Por certo muitos
cristãos ainda usam seu antigo conjunto de ética. Alguns não acham que sua fé
cristã tenha alguma coisa que ver com as escolhas pessoais.
Mas o princípio prevalece: Deus não está impressionado com dinheiro.
Se investigarmos os ensinos de Cristo sobre o assunto, descobriremos que ele
tem um quase desprezo pelas riquezas. Ele nunca consideraria a concessão de
favores ou de prestígio aos financeiramente capazes.
É óbvio que o problema de conceder favores aos ricos infestou a igreja
primitiva. Tiago falou vigorosamente contra isto (Tiago 2:1-4).
Filipe desempenhou um importante papel neste momento histórico. Ele
apresentou o evangelho a Simão. Encontramos o expedito evangelista envolvi-
do também em fazer que a igreja andasse direito desde o primeiro dia.
Havia chegado o momento de espalhar o evangelho por toda a Samaria.
Em sua viagem de volta a Jerusalém, Pedro, João e Filipe detiveram-se em
diversos lugares a fim de anunciar as boas-novas. Quando Filipe chegou a
Jerusalém, recebeu uma visita definida do Anjo do Senhor (Atos 8:26). Ele
queria que Filipe deixasse a cidade grande e fosse para o deserto de Gaza.
Uma famosa estrada corria ao sudoeste de Jerusalém na direção do Egito.
Essa estrada atravessava as planícies da Filístia e seguia nas proximidades do
Mar Mediterrâneo. Nos tempos modernos, o território entre Gaza e Egito é
conhecido pelo nome de Faixa de Gaza. É uma rota importante para quem vai
a Israel, ao Egito e a outras nações.
Filipe não parece questionar a estratégia de deixar a cidade cheia de
gente e dirigir-se para uma de pequena população. Afinal de contas, os planos
de Deus sempre têm sido benéficos, embora amiúde surpreendentes. Esta não
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evangelho de Cristo que seu pai passou a vida divulgando (Atos 21:8). Paulo,
em visita àquela região, fez uma parada em sua viagem para ver o veterano
guerreiro.
Filipe era o resumo de um excelente espírito cristão. Sem pretender
ganhar fama para si próprio, ele abriu novos campos em nome do Salvador
ressurreto.
CORNÉLIO
DORCAS
TIAGO
Como teria sido crescer com Jesus Cristo? Ele tinha irmãos e irmãs
vivendo sob o mesmo teto, e às vezes deve ter sido difícil. Se achamos que foi
difícil crescer com nossos irmãozinhos, imagine se um deles tivesse sido
perfeito! Toda vez que entrássemos em dificuldade ficaríamos com. maior raiva
daquele que não entrava.
Há muita coisa que não sabemos a respeito do lar deste carpinteiro em
Nazaré. Contudo, há algumas peças que podemos juntar. Sabemos que era um
lar da classe trabalhadora. Podem não ter vivido em desesperada pobreza, mas
também não eram abastados.
Jesus tinha quatro meio-irmãos mais novos: Tiago, José, Judas e Simão.
Tinha, também, um número desconhecido de meio-irmãs (Mateus 13:54-56).
Existe alguma possibilidade de que sejam os filhos mais velhos de José. É mais
provável que sejam os filhos mais novos de Maria. Isto adiciona pouca cor ao
nosso quadro. Jesus foi criado num lar que tinha de seis a oito meios-irmãos e
irmãs. O dinheiro pode ter sido suficiente, mas talvez não houvesse de sobra.
Não há motivo para crer que não se dessem bem como crianças. Eles
podiam ter sido a família mais feliz ao norte de Jerusalém. Há somente duas
forças silenciosas que podem indicar tensão. A primeira era um irmãozinho
sem pecado. O segundo indício é a relutância dos irmãos e irmãs em crer. Eles
francamente não pensavam que ele era o que alegava ser.
O Tiago que encontramos no capítulo 15 de Atos é um desses irmãos. O
outro Tiago, que foi discípulo, Herodes mandou matar (Atos 12:2). Tiago, o
irmão de Jesus, passou por alguns momentos angustiantes antes de poder
aceitar Jesus como Messias.
Os sentimentos negativos dos irmãos de Jesus manifestaram-se durante
seu ministério por ocasião da festa dos tabernáculos. Jesus havia deixado a
Judéia porque a oposição contra ele se tornara brava, e uma viagem a Jerusalém
para a festa parecia estar em ordem. Jesus, contudo, resolveu omitir esta
observância e ficou na Galiléia.
A esta altura seus irmãos começaram a zombar dele. Acharam que ele
devia ir para o sul e exibir-se. Em essência, diziam-lhe que levasse para a Judéia
seu poder mágico.
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Sua família pode ter-se sentido embaraçada pela reviravolta que ele
estava causando. Os milagres, as multidões e aqueles ditos estranhos não eram
o tipo de atenção que eles desejavam. Talvez a melhor coisa a fazer seria ele
passar mais tempo na Judéia. A esta altura seus irmãos não acreditavam nele
(João 7:5).
Esses poucos e breves relances são tudo o que vemos com relação à
família de Jesus. Deles podemos reunir alguns elementos e coletar uns poucos
sentimentos. É difícil avaliar a profundeza dessas emoções.
Eles deveriam constituir um estímulo para qualquer pessoa que sinta
certa pressão nos relacionamentos domésticos. São sentimentos lamentáveis,
porém não são raros. Onde quer que haja a dinâmica dos seres humanos, há
potencial para a fricção. Na família de Jesus Cristo existiu um pouco disto.
Jesus sabe exatamente como você se sente.
Algo aconteceu à família de Cristo entre este debate da Judéia e sua
ressurreição. Nenhum dos autores dos evangelhos forneceu-nos os
pormenores. Talvez os irmãos começassem a ouvir com maior cuidado. É
possível que a prisão e crucificação de Jesus tivesse um efeito revelador na vida
deles.
Seja qual for a causa, o resultado é óbvio. Após a ressurreição de Cristo
encontramos um grupo de crentes aguardando no cenáculo em Jerusalém.
Dentre eles encontram-se Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos (Atos 1:14).
Aconteceu algo dramático, algo que transforma vidas. Talvez seja Paulo quem
nos dá a melhor pista. O apóstolo diz-nos que Tiago presenciou a ressurreição
de Jesus (1 Coríntios 15:7). Se o seu irmão ainda não havia crido, este
acontecimento histórico deve ter selado a prova. A partir deste ponto, Tiago
estava pronto a dar a vida pelo irmão a quem anteriormente ele nunca
entendera muito bem.
Logo em seguida Tiago foi aceito por seus companheiros cristãos como
um dirigente capaz. O fato de ele ter visto pessoalmente o Salvador
ressuscitado dava-lhe uma posição especial no grupo. Paulo referiu-se a ele
como apóstolo no mesmo sentido em que se referiu aos outros daquele círculo.
Por que Tiago surgiu com tanta rapidez como um preeminente líder na
igreja primitiva? Foi por causa de sua sincera dedicação e serviço? Não há
dúvida de que essas qualidades eram evidentes em sua vida. Contudo, pode
ter sido também uma espécie de respeito pelo fato de ele ser irmão de Jesus
Cristo. Certamente isto havia chamado a atenção de todos. Paulo observou
claramente esta distinção em Gálatas 1:19: "E não vi outro dos apóstolos, senão
a Tiago, o irmão do Senhor.,, Se estivéssemos na mesma sala com o irmão do
presidente da república, todos logo ficaríamos sabendo. Com toda a
probabilidade esse relacionamento ampliou o ministério de Tiago.
Existe certa possibilidade de que Tiago tentasse colocar em segundo
plano os vínculos familiares. Ao escrever sua excelente epístola ele descreve a
si mesmo nos mais simples dos termos. Referiu-se a si mesmo como um tríplice
servo de Deus, de Jesus Cristo e das dispersas tribos de Israel (Tiago 1:1). Tiago
prefere não explorar o fato de ser irmão de Cristo.
Tiago manteve ministério entre os judeus. À medida que se ampliava o
ministério dos discípulos, muitos levaram o evangelho às nações gentias. Seja
qual for o motivo, Tiago viu seus talentos especiais como mais ajustáveis entre
seu próprio povo.
A próxima vez que encontramos Tiago, ele desempenha um papel
significativo na igreja de Jerusalém (Atos 15). Realizou-se naquela cidade um
concílio de suma importância, por volta do ano 45 de nossa era. Reuniram-se
as mais famosas figuras para solucionar um problema arrasador. Pedro, Paulo,
João, Barnabé e Tiago estavam entre os renomados personagens que se
reuniram. Neste tempo Jerusalém ainda era considerada como a igreja-mãe e
centro das atividades do Cristianismo.
Não há concílio da história mais importante do que este. O problema da
aceitação dos gentios foi uma cena dramática que provou a igreja em sua
infância. Se falhassem nesta prova, o ministério da igreja seria drasticamente
alterado e limitado. Todos nós podemos louvar a Deus porque o debate termi-
nou tão bem. De outro modo, todos nós estaríamos levando pesadas cargas,
ainda tentando agradar a Deus.
Tiago desempenhou um papel principal em dirigir a igreja com acerto.
Se ele tivesse recuado aqui, o evangelho teria enfraquecido consideravelmente.
A discussão toda começou porque Paulo e Barnabé estavam obtendo grande
êxito em seu ministério aos gentios. As igrejas estavam sendo estabelecidas e
os não-judeus estavam entrando para elas em grande número.
Inevitavelmente surgiu a importante questão: Não têm esses gentios de
tornar-se judeus antes que possam tornar-se cristãos? No âmago deste debate
estava a circuncisão. Alguns crentes diziam que uma pessoa incircuncisa não
estava salva, quer Cristo tivesse morrido ou não por seus pecados (Atos 15:1).
Paulo e Barnabé não aguentavam mais. Eles não iam permitir que essas
algemas fossem colocadas nos novos convertidos. Ao chegaram a Jerusalém,
deram um bom relatório aos apóstolos e aos presbíteros. Deus estava
claramente operando um notável milagre.
Mas alguns cristãos não podiam participar de seu entusiasmo. Eram
crentes que tinham vindo do ramo fariseu do Judaísmo. A conversão deles fora
genuína, porém muitos tinham trazido consigo a mentalidade legalista. Ainda
viam Deus como um obstinado perpetrador de leis mesquinhas.
Desde sua conversão eles haviam afrouxado muito. Seus velhos amigos
não os teriam reconhecido. Agora eles tinham mente muito mais aberta. A
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graça de Deus deixara suas marcas na vida deles, mas ainda não podiam
chegar a esse ponto. Certamente Deus não tinha revogado toda a lei do Antigo
Testamento.
Abandonar a circuncisão era o mesmo que nulificar os dez
mandamentos. Ora, na opinião de alguns, os cristãos estavam transformando
sua liberdade em disparate.
O legalismo sempre tem sido um ponto doloroso na comunidade cristã.
O que o faz duplamente perigoso é que ninguém admite ser culpado. Pergunte
a alguém se ele é legalista e ele lhe dirá que não. É horroroso demais para
alguém admiti-lo. Nenhuma igreja se denominaria Igreja Legalista da Região
Norte. Essas criaturas já estão extintas, mas ainda estamos cercados por elas.
Os cristãos primitivos precisavam livrar-se deste problema. Desde
aqueles tempos, nós também temos tido de lutar com o mesmo conceito.
Legalismo é crer que Deus mostrará favor para conosco se guardarmos certas
regras. Essas regras geralmente são arbitrárias e escolhidas pelos legalistas,
mas eles se recusam a admitir o fato. No que concerne ao legalista, toda lei veio
diretamente das Escrituras — mais ou menos.
Ainda tentamos influenciar a vida das pessoas em nome da justiça.
Temos um forte sentimento acerca de alguma coisa e vamos insistir nas
mínimas coisas. Legalismo é dizer às pessoas o que elas podem usar e a
quantos cultos devem comparecer. Outras vezes é dizer a uma pessoa quanto
ela deve dar. Pode ser a tentativa de controlar a vida de uma mulher divor-
ciada.
O processo é destituído de graça. Geralmente sofre de falta de amor. As
atitudes e a compreensão encontram-se num nível mínimo. Juízo e condenação
encontram-se lá no alto.
Os fariseus cristãos provavelmente desejavam romper com este padrão.
Por certo haviam percorrido um longo caminho, mas alguns conceitos de
liberdade estavam meramente além de sua compreensão. Paulo constituía uma
exceção. O apóstolo orgulhava-se de ser fariseu, como seu pai (Atos 26:5; 23:6).
Sua mente, porém, havia sofrido uma drástica sacudidela. Agora ele via o
legalismo como inimigo da cruz de Cristo (Gálatas 2:19). Alguns pensam que
Paulo escreveu a carta aos Gálatas antes deste concílio e que ela ajudou a pôr
lenha na fogueira.
Pedro é um exemplo perfeito do homem que agoniza entre duas
posições. Quando se reuniu com o concílio em Jerusalém, o pescador defendeu
vigorosamente a liberdade. Mais tarde, Pedro vacilou de novo. Sem dúvida
houve diversos discursos inflamados de ambas as partes. Lucas não registra
todos eles, mas o apelo de Pedro foi tão impressionante que não poderia ser
ignorado. Pedro havia percorrido um longo caminho e presentemente era a
favor de aceitar os gentios na igreja sem mais delongas.
Deu seu testemunho pessoal de que havia pregado aos não-judeus e
estava convencido de que Deus se manifestava entre eles (Atos 15:7-11). Paulo
e Barnabé então tomaram a palavra e fizeram grande contribuição ao tema. O
auditório permanecia em silêncio, alguns deles ouvindo provas que jamais
haviam considerado anteriormente.
Então Tiago assumiu a liderança. Estava de pleno acordo com seus
colegas apóstolos. O problema dos fariseus não podia prevalecer. A posição
exata de Tiago com o grupo não é clara. Creem alguns que ele era presidente
do concílio. Por certo lhe votavam profundo respeito.
Todos esses homens, e Tiago em particular, merecem grande parte do
crédito por assumirem uma posição. Seus sentimentos pessoais e sua
reputação tinham de ser sacrificados. Se falhassem, o Cristianismo estava
destinado a ser uma seita judaica. Era assim que o mundo pagão agora olhava
para eles. Se falhassem nesta prova, nunca poderiam livrar-se desta sombra.
Dois pontos eram supremos na discussão: Devia a igreja de Jesus Cristo
ser um ministério universal, ou somente dirigido a um limitado segmento? A
segunda questão era a aceitação pessoal: Iam os cristãos judeus permitir que
os gentios entrassem para a igreja sem as restrições judaicas?
Tiago e seus amigos estabeleceram um importante precedente. Estava de
acordo com a excelente tradição do próprio Cristo. Resolveram arriscar-se em
favor dos oprimidos. Sem levar em conta sua popularidade pessoal, eles
expressaram seus sentimentos.
Se alguma vez você já esteve no calor de uma batalha, pode muito bem
avaliar o que estava acontecendo. Os que não desejam tomar posições
enquanto se decidem problemas vitais tornam a questão dolorosa. Eles
compreendem o que você sente. Vêem com clareza o significado da questão.
Não obstante, para proteger seu conforto e prestígio pessoais eles preferem
ficar calados. Graças sejam dadas a Deus por aqueles que sabem quando
levantar-se e expor seus sentimentos.
O irmão de Cristo não era um cabeça-dura. Ele fez uma proposta que
acalmaria a situação e ao mesmo tempo sossegaria as consciências judaicas.
Mas certos aspectos não podiam ser comprometidos. A circuncisão podia não
ser um requisito indispensável à salvação — Jesus Cristo não estabeleceu esta
ou qualquer outra cláusula. Os apóstolos estariam exorbitando se tentassem
vincular quaisquer cláusulas ao contrato. Não haveria ritos de iniciação para
fazer-se cristão. Aceite nossos agradecimentos, Tiago, por manter com clareza
os problemas importantes.
Contudo, não se poderia permitir que a liberdade degenerasse em
estupidez. Havia algumas práticas gentias que deviam ser evitadas para serem
bondosos com os crentes judeus.
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Para começar, deviam evitar a carne que tinha sido oferecida a ídolos se
houvesse um judeu cristão por perto. Nada havia de errado com o alimento. A
carne geralmente era vendida ou distribuída de alguma forma. Para os cristãos
gentios era uma questão simples. Os ídolos não podiam comê-la e uma vez que
eram pedras mortas, nem mesmo poderiam contaminá-la. Depois de ter sido
colocada diante de estátuas sem vida, não havia sentido em jogar fora a carne
boa — eles podiam muito bem comê-la. Mas os cristãos judeus não podiam ver
o problema tão inocentemente, Para eles a carne tinha sido oferecida a uma
divindade pagã. Se a divindade era real ou falsa, esse não era o ponto.
Tiago estava de acordo com os gentios. A carne nada significava. Mas
eles precisavam aprender outra lição importante: Evitar escandalizar os com-
panheiros cristãos. Gentios, quando seus amigos judeus vierem para a ceia, não
sirvam a carne do templo. Guardem-na para piqueniques com seus parentes.
O segundo ponto no conselho de Tiago era como uma brasa dormida.
Muitas pessoas que a pegam não a seguram por muito tempo. Os cristãos
gentios foram estimulados a evitar a prostituição. Mas não é natural que todos
os cristãos a evitem? Por que Tiago a acrescenta aqui?
No mundo gentio a relação matrimonial muitas vezes estava em ruínas.
Muitos olhavam para os exercícios sexuais com a mesma brandura com que
podíamos considerar o jogo de tênis. Estavam menos convencidos de um amor
permanente entre um homem e uma mulher. As explorações sexuais pouco
tinham que ver com a vida pura ou piedosa.
Se este era o motivo (e é um grande "se"), podemos entender o que Tiago
dizia. A vida deles era uma confusão. Haviam-se casado, haviam-se divorciado
e assim iam levando a vida. Mas agora em Jesus Cristo suas vidas estavam
sendo transformadas. Eles não eram completos e havia obstáculos que tinham
de ser removidos. Durante este período de reajustamento, eles deviam manter
uma atitude reservada.
Os judeus não podiam entender as mudanças pelas quais os gentios
estavam passando. A infidelidade era estranha à maioria deles. Os cristãos
gentios sabiam quais eram as mudanças que eles tinham de fazer na maioria
das áreas, muito embora em algumas áreas a questão não fosse clara. Tenham
calma até que as coisas estejam deslindadas, dizia Tiago. Deste modo os judeus
se pacificam e a nova igreja pode permanecer em relativa paz.
A terceira preocupação era comer carne cujo sangue não tinha sido
derramado propriamente. Os judeus não a comeriam a menos que o sangue
tivesse sido adequadamente derramado. Os gentios não viam nada de errado.
Tiago disse: Vão em frente e comam, porém não façam zombaria. Algum dia
os cristãos judeus poderão adaptar-se.
Antes de tudo, lembrem-se dos pontos essenciais: Vocês são livres. Os
gentios não têm de fazer-se judeus ou seguir os seus costumes antes que se
possam tornar cristãos. Não haverá recuo ou concessão.
O concílio, com efeito, aplaudiu a Tiago: Achamos que você, Tiago, usou
de excelente sabedoria. Vamos pôr isso em letra de forma e mandar a
mensagem às igrejas locais.
Não há registro de oposição à proposta, embora possamos supor com
segurança que houve alguma. A mentalidade dos fariseus normalmente não se
renderia com tanta facilidade. Mas se fizeram objeção mais tarde, eles foram
tragados pela solidariedade cristã.
Esses homens estavam assumindo um risco. Há, porém, um risco
inerente à vida cristã. Eles podiam ser mal interpretados. A igreja cristã podia
dividir-se imediatamente em facções judia e gentia. Tiago e seus amigos
resolveram aproveitar a oportunidade. A menos que a igreja defenda a
verdade, ela não será digna de ser preservada.
O concílio escolheu dois judeus e dois gentios para entregar a mensagem.
Eles deviam dirigir-se diretamente a Antioquia onde ela seria calorosamente
recebida.
Tiago percorrera um longo caminho. Um dia ele escarneceu de seu irmão
Jesus para que ele entrasse na perigosa Judéia; agora ele era um grande
defensor do evangelho puro mediante a fé. Sua contribuição para a igreja e
seus membros seria enorme, tanto durante a sua vida como ainda hoje.
CAPÍTULO 10
SILAS
fúria com que os atacantes correm atrás da bola quando veem a possibilidade
de um bom lance.
Esta foi, provavelmente, a primeira experiência de Silas de ser arrastado
pelos pés, mas para Paulo não era novidade. Ele já tinha sido apedrejado e
arrastado para fora de Listra algum tempo antes (Atos 14:19). Infelizmente ele
obteria o mesmo modo de transporte mais tarde em Jerusalém (Atos 21:30). Se
não fosse pelos rasgões da pele e pelas pancadas na cabeça, Silas poderia ter
considerado isso como uma experiência educativa.
Paulo e Silas logo se viram diante das autoridades locais. Segundo o
sistema da colônia romana, essas autoridades eram chamadas pretores e
residiam dois em cada colônia. Quando a multidão apresentou suas acusações
contra Paulo e Silas, é provável que as tivessem deturpado, torcendo os fatos.
Seus acusadores chamaram-nos de judeus. Às vezes era um título de respeito.
Aqui neste caso, provavelmente fosse depreciativo. Os judeus muitas vezes
têm sido diferentes. Para muitos, ser diferente é crime.
Este é o motivo por que tantos cristãos sofreram nos primeiros tempos.
Surgiam boatos acusando-os de toda sorte de comportamento atroz por sua
recusa de conformar-se. Muitos de nós temos dificuldade em tolerar as pessoas
que não andam de acordo com nosso passo peculiar.
Para garantir a conformidade religiosa, os romanos promulgavam leis
que proibiam certa propaganda. Somente as formas aceitas de religião podiam
ser toleradas em suas províncias. Paulo e Silas enfrentavam graves acusações,
e eles tinham pouca coisa para recomendá-los. Os pretores rasgaram as vestes
dos acusados e ordenaram que fossem açoitados.
Seria um engano de nossa parte considerar este espancamento leve
demais. Os lictores que acompanhavam os magistrados eram altamente
profissionais. Eles levavam varas e um machado. Cada um deles estava
preparado para tratamento corporal ou castigo capital quando convocados
para isto.
Não sabemos quantas vezes eles apanharam com varas. De acordo com
a lei judaica teriam sido 39 açoites; é difícil saber como era no sistema romano.
Os perseguidores tinham um ódio especialmente cruel contra os dois. Via-se
na escolha de suas palavras a presença do preconceito. Só podemos imaginar
como foram espancados sem consideração pelas suas vidas.
Silas passa por uma nova experiência. Paulo estava destinado a levar
surra em duas outras ocasiões, mas para Silas tratava-se de uma nova aventu-
ra. Não há registro de que alguma vez ele a tenha recomendado a outros.
Os dois apóstolos foram, portanto, lançados no cárcere. Não eram meros
prisioneiros comuns; foram atirados no cárcere interior, e a expressão "cárcere
interior" não é empregada aqui por acaso. As prisões romanas tinham três
seções principais: o vestíbulo, o cárcere exterior e a seção interior.
"Cárcere interior" era uma expressão para causar calafrios em quem a
ouvisse. Tratava-se, literamente, de uma masmorra. Só entrava luz ou ar
quando a porta se abria. Era, sem dúvida, o pior tratamento que se podia
dispensar a um preso.
O carcereiro conhecia bem o trabalho e era metódico no seu desempenho.
O conforto das criaturas não figurava nos primeiros lugares em sua lista. A
descrição de suas funções podia resumir-se numa breve linha: "Tome o
máximo cuidado para que ninguém escape." Com essa ordem a predominar
em tudo, ele conduzia cada prisioneiro ao seu devido lugar, isto é, prendia-os
com os pés no tronco.
Aqui também é fácil deixar de lado a idéia de uma confortável sala de
estar; os troncos eram lugares horríveis destinados a infligir a dor mais
angustiante. Esses troncos eram semelhantes àqueles usados no tempo da
escravidão. Havia diversos buracos para prender as pernas dos presos. Esses
buracos ficavam distantes um do outro para garantir que a dor fosse contínua.
Enquanto se encontrava nesta posição mais que incômoda, Silas teve
tempo para recapitular a situação. Por que cargas d'água estava ele ali num
calabouço horrível com as pernas separadas de modo a causar-lhe dor nas
costas? Porque ele havia dito a um punhado de mulheres que Jesus Cristo
morrera por elas? Porque uma mulher e sua família foram batizadas? Porque
foi expelido o demônio de uma adivinhadora?
Pareciam motivos muito fracos para encarcerar dois homens. Mas o
evangelho era importante. Se ele podia libertar algumas pessoas, esse
livramento constituía ameaça para outras. Silas estava aprendendo essa lição
enquanto tentava fazer que o sangue circulasse por seus membros.
As prisões podem, às vezes, constituir-se em excelentes laboratórios —
bons lugares para provar nossas teorias e expandir nossa mente. Paulo e Silas
acharam que nunca teriam melhor oportunidade de praticar o saudável
pensamento positivo do que agora. Assim, por volta da meia-noite acharam
por bem que este era um bom lugar para experimentar seus talentos musicais.
Além do mais, seu auditório, os demais presos, não tinham outra escolha senão
ouvir. Além disso, chupar o polegar e sentir pesar por si mesmos não davam o
mínimo resultado. Cantar parecia algo para salvar o espírito e a alma.
Com pouca timidez eles abriram a boca e flexionaram os pulmões.
Estavam orando — não num canto sossegado como muitos de nós fazemos.
Conversar com Deus em voz alta parecia uma coisa perfeitamente sadia para
se fazer. Se eles acrescentassem uns poucos compassos de música, seria muito
melhor. Como lunáticos numa hora de acesso, eles ali estavam como que a
dirigir uma festividade doméstica.
Não sabemos a que distância se encontravam os outros presos, mas
evidentemente podiam ouvir com clareza. A palavra "escutavam" indica
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prazer. Os salmos eram ouvidos através das paredes da masmorra onde antes
só haviam ecoado gritos de dor e maldições.
Silas era agora membro de um dueto que cantava à meia-noite. Havia
uma pequenina distância entre ser missionário e ser bronco.
No meio deste interlúdio musical um tremendo terremoto abalou a
prisão. É fácil ver o quadro: Quando as paredes vieram abaixo, as barras se
separaram. As cadeias se soltaram das paredes. Quando o carcereiro se
recuperou do choque, correu imediatamente para as portas e as encontrou
abertas. Supôs que os presos tivessem fugido.
O horrorizado soldado desembainhou a espada e ia enterrar a lâmina em
seu corpo. Não poderia viver com a derrota e viu no suicídio a saída mais
razoável.
Paulo, em pé naquela escuridão, gritou: "Não te faças nenhum mal, que
todos aqui estamos!" Nenhum preso havia escapado. Talvez não tivessem tido
tempo; é possível que ainda estivessem tentando livrar-se dos escombros. De
qualquer maneira, estavam todos ali.
O carcereiro não podia acreditar que ainda estivessem na prisão.
Aliviado, correu para Paulo e Silas, caiu-lhes aos pés, e perguntou-lhes o
que devia fazer para salvar- -se. Realmente não entendemos sua pergunta.
Estava ele procurando salvação física? Precisava de proteção contra seus
superiores? Ou reconheceu ele as qualidades espirituais dos missionários?
Conquanto não saibamos o significado da pergunta, podemos estar
certos da resposta que lhe foi dada. Paulo e Silas disseram-lhe que cresse em
Jesus Cristo.
Provavelmente o carcereiro residia no conjunto da prisão. Ele levou os
presos para conhecer sua família. Os membros de sua família também creram
em Jesus Cristo e foram batizados naquela noite.
Pode ser que este não fosse o tipo de trabalho missionário que Silas tinha
em mente, mas estavam acontecendo coisas estranhas. A maioria de nós teria
buscado a primeira saída daquela prisão. Poderíamos pensar nisso mais tarde,
mas a coisa para fazer era sair. Silas, contudo, estava-se tornando uma nova
pessoa. A vida parecia conter um novo conjunto de valores. Ele resolveu
permanecer ao lado de Paulo naquela miserável prisão.
No dia seguinte os pretores tiveram uma mudança de coração. Não
sabiam se esses cristãos tinham algo que ver com o terremoto, mas não iam
correr novos riscos. Soltem-nos. Tirem-nos da prisão e da cidade
imediatamente.
Não sabemos como Silas se sentiu com relação a esta liberdade repentina,
porém Paulo a rejeitou de imediato. Haviam sido presos, julgados e
espancados publicamente. Não tinham a mínima intenção de abandonar a
cidade às ocultas. Os pretores teriam de vir à prisão e pessoalmente escoltá-los
para fora da cadeia.
As autoridades não estavam dispostas a discutir. Para piorar o problema,
descobriram que os presos eram cidadãos romanos. Dirigiram-se diretamente
à prisão e delicadamente lhes pediram que deixassem a cidade. Porém Paulo e
Silas tiveram momentos alegres. Visitaram a casa de Lídia e renovaram a
comunhão com os crentes locais. Depois, com toda calma, deixaram Filipos.
Todos estavam impressionados: os não-crentes, os novos convertidos, e
inclusive Paulo e Silas. Deus havia realizado algumas coisas notáveis e dera
início a uma igreja acolhedora e permanente em Filipos.
A montanha-russa estava longe de terminar para Silas. Em Tessalônica,
as multidões se voltaram contra eles e acossaram os que se converteram. Paulo
e Silas foram obrigados a fugir durante a noite e ir para Beréia. Aqui eles viram
mais gente ainda aceitando a Jesus Cristo.
Quando Paulo se foi para Atenas, Silas e Timóteo ficaram para trás; mais
tarde, porém, juntaram-se a ele. Então se dirigiram a Corinto e começaram
outra igreja.
Nunca se pode acusar a Silas de levar uma vida enfadonha. Quando ele
e Paulo saíram de braços dados, estava lançada uma das maiores aventuras da
vida. Silas nunca sonhou que estaria cantando louvores a Deus na prisão, no
meio da noite, em Filipos. Mas ele não teria perdido essa oportunidade por
nada no mundo.
MARCOS
Cresceu na fé
PAULO - I Parte
ele resolveu que a melhor coisa a fazer era voltar para Tarso. Talvez o tempo
se encarregasse de eliminar a fumaça e curar as feridas.
Com a conversão de Paulo, a perseguição à igreja reduziu-se a nada.
Seria difícil exagerar o terror que ele havia provocado nos primitivos crentes.
Ele havia massacrado a igreja (Atos 8:3). Agora ninguém era mais responsável
do que ele pela paz e prosperidade da mesma instituição. Seus membros
repentinamente se sentiram seguros porque Paulo era um deles (Atos 9:31).
A controvérsia acerca do nome do apóstolo parece interminável. Sua
solução, com toda a probabilidade, é simples. Ele sempre usou ambos os
nomes, Saulo e Paulo. Seus amigos judeus chamavam-no de Saulo. Ao tornar-
se missionário aos gentios, a maioria das pessoas usava o nome mais popular,
Paulo. Nada havia de complicado (Atos 13:9).
Se a igreja gozava de relativa paz, ela não estava ociosa. Novos grupos
de crentes surgiam aqui e acolá. Um grupo estava em Antioquia. Quando os
dirigentes da igreja de Jerusalém souberam do grupo, enviaram Barnabé até lá
para verificar. Ele ficou tão impressionado que foi a Tarso buscar seu velho
amigo Paulo, e os dois passaram um ano todo trabalhando com os novos
cristãos. Paulo estava acelerando a marcha.
Uma grande fome assolou o império romano durante o governo de
Cláudio. Os cristãos de Antioquia responderam à crise enviando socorro aos
necessitados em Jerusalém. Paulo teve o privilégio de ir com Barnabé nesta
missão de amor (Atos 11:28-30).
Paulo revelou muitas facetas durante suas aventuras cristãs. Às vezes ele
se acomodava e exercia o pastorado por alguns anos. Outras vezes ele era um
escritor que se dedicava extensamente à tarefa.
Poucas coisas o agradavam mais do que o papel de professor. Durante
anos Paulo viajou como consagrado missionário.
Sua carreira diversificada e colorida levou-o a uma variedade tremenda.
Ele não se sentiria feliz com algumas opiniões que alguns sustentam hoje.
Muitas vezes há uma pressão que insiste: "Uma vez pastor, sempre pastor." Se
um missionário não retorna ao campo, seria melhor que sofresse da coluna,
pois do contrário pensaríamos que ele sofreu uma crise moral.
Que teríamos pensado de Paulo? Na melhor das hipóteses, que era um
inconstante. Ele era livre e móvel. Se se sentisse levado a abandonar este
projeto e perseguir aquele, era o que ele fazia. Ele não podia ficar paralisado,
preocupando-se com o que os outros diriam, ou se o compreenderiam.
Uma grande parte do tempo de Paulo ele o passou como missionário.
Boa parte desses anos ele passou na estrada, visitando cidades. Sua primeira
viagem como ave totalmente emplumada começou por sugestão da igreja em
Antioquia.
Os crentes dessa igreja tinham um conceito fascinante sobre a escolha de
missionários. Os presbíteros de uma igreja local aproximaram-se de dois
consagrados cristãos e lhes pediram que se tornassem missionários. A igreja,
por sua vez, empenhou-se em oração (Atos 13:1-4).
Esta pode ser uma vasta melhoria quanto a algumas de nossas praxes
atuais. Em geral colocamos a maior pressão sobre a pessoa que deseja tornar-
se missionário. Segundo o sistema de Antioquia, a igreja tomou a iniciativa.
Dirigiram-se ao candidato em potencial e lhe disseram como sentiam que o
Espírito estava dirigindo.
Fale acerca de um construtor de confiança! Paulo e Barnabé devem ter-
se sentido como se estivessem planando no ar. As provações que enfrentariam
seriam suficientemente ruins. Pelo menos contavam com o ânimo de saber que
a igreja os apoiava. Talvez muitas igrejas contemporâneas devessem voltar à
mesma prática.
A primeira viagem missionária de Paulo foi um giro pela ilha de Chipre
e pela parte inferior da Ásia Menor (Atos 13; 14). Havia alguns no grupo,
incluindo Barnabé e João Marcos.
Um dos mais dramáticos acontecimentos ocorridos na viagem veio logo
no início, em Pafos, na ilha de Chipre. Como aconteceu em todas as suas para-
das, o povo dedicava-se ao paganismo. Adoravam a deusa chamada "A
Pafiense", uma divindade síria.
Enquanto estavam ali, o procônsul local, Sérgio Paulo, desejou vê-los
porque ele estava curioso com relação ao evangelho. Os apóstolos atenderam,
mas encontraram severa oposição. Barjesus, também chamado Elimas, mágico
e curandeiro local, bloqueou- -lhes o caminho, tentando impedi-los de ver o
procônsul.
Paulo não desperdiçou tempo com o charlatão e pelo poder de Deus feriu
a Elimas de cegueira (Atos 13:11). Enquanto seus amigos o levavam embora, o
missionário entregou as boas-novas, e o resultado líquido foi a conversão do
procônsul.
Era óbvia a presença de Deus no ministério de Paulo. Eles estavam
prontos para enfrentar todos os poderes com que se defrontassem. A próxima
parada foi Perge, onde João Marcos deixou a comitiva. Depois disso
prosseguiram para outra Antioquia — esta localizada na Pisídia.
Como sempre acontecia, os missionários visitaram a sinagoga e foram
convidados a falar à congregação. A apresentação que Paulo fez do evangelho
foi clara e comovente. Uma grande parte das pessoas desejava ouvir mais e no
sábado seguinte quase toda a cidade se apresentou para ouvir Paulo.
Este tipo de reação fez que algumas pessoas enlouquecessem. Porém,
quanto mais furiosas ficavam, tanto mais decididamente Paulo fazia ouvir sua
mensagem. Um evangelho de graça e perdão estava sendo pregado tanto a
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judeus como a gentios, mas no entender de alguns, esse evangelho era pior do
que o paganismo.
As multidões se reuniam para atormentar os homens e logo se viram
obrigados a deixar a cidade. Os apóstolos sacudiram o pó de seus pés e se
dirigiram para a cidade seguinte. Este era um velho símbolo de desprezo.
Alguns creem que era um gesto literal, e pode ter sido. Nesse caso, uma pessoa
e seu grupo paravam com grande aparato e tiravam as sandálias. Com grande
drama levantavam cada uma e as sacudiam para eliminar o pó. Qualquer
pessoa que presenciasse a cena saberia que eles tinham sido insultados.
Cristo ensinou seus discípulos a fazerem isto sempre que o auditório lhes
fosse hostil (Mateus 10:11-14). Se ele tencionava que o gesto fosse literal ou
figurativo é assunto que se pode discutir até o sol raiar.
Os missionários continuaram a ir de uma cidade para outra pela Ásia
Menor. Em Icônio muitos creram e os restantes os expulsaram da cidade.
Pregaram extensivamente nas regiões de Derbe e Listra. Em Listra Paulo curou
um homem que nunca tinha andado. O populacho ficou assombrado diante
deste indiscutível milagre (Atos 14:11). Devido a seus antecedentes pagãos, o
povo supôs que Paulo e seus amigos eram deuses. Chamaram a Barnabé de
Júpiter, e Paulo de Mercúrio. O único meio de tratar uma divindade era cultuá-
la, mas os cristãos declinaram da honra e o fizeram aos brados.
A fama é uma loucura passageira. Não passou muito tempo e alguns
homens tentaram matar os missionários a pedradas, e quase o conseguiram.
Paulo foi assaltado e atirado para fora dos portões, dado como morto.
Recuperou-se e no dia seguinte pôde viajar para Derbe.
Muitas vezes vemos uma viagem missionária como linhas num mapa.
Eles foram da cidade A para a cidade B e daqui para a cidade C. Em realidade,
essas viagens tinham menos de rifle e mais de espingarda. Percorriam de volta
o mesmo caminho, espalhavam-se pelo interior, passavam semanas aqui,
meses ali, e às vezes anos em vários lugares. Não estavam numa viagem de
promoção. Iam a toda parte onde pensavam que podiam entrar. Os missio-
nários tentavam deixar um ministério duradouro em cada região. Nomeavam
presbíteros que cuidassem do trabalho depois que eles se retirassem.
Quando Paulo voltou a Antioquia, apresentou um relatório à sua igreja.
Deus havia operado milagres e abrira o evangelho aos gentios. Então Paulo e
Barnabé tiraram algum tempo para comparecer ao monumental concílio em
Jerusalém (Atos 15). O testemunho deles foi de considerável valor em dar plena
estatura aos convertidos gentios.
Logo o zelo por anunciar as boas-novas fervia-lhes nas veias. Paulo e
Barnabé resolveram fazer nova visita àquelas áreas onde haviam pregado
antes. Barnabé e Paulo discutiram o caso de levar consigo João Marcos, uma
vez que ele os havia deixado durante a primeira viagem. Paulo recusou; assim,
Barnabé separou-se e levou consigo Marcos. Paulo pode ter errado. Então ele
escolheu Silas.
A segunda viagem missionária de Paulo levou-o a percorrer milhares de
quilômetros. Ele e Silas apanharam Timóteo ao longo da rota e também Lucas
foi junto. Alguns dos pontos destacados da viagem foram Filipos, Tessalônica,
Atenas e Corinto.
Em Filipos Paulo e Silas cantavam à noite na prisão (Atos 16:25). Antes
de terminarem o trabalho ali, o carcereiro tornara-se um cristão arrependido.
A próxima parada foi Tessalônica. Viram muitos convertidos e deram
início a uma excelente igreja. Como aconteceu em diversas cidades, tiveram de
fugir à noite.
Em Atenas Paulo pregou seu famoso sermão na Colina de Marte. A
história da ressurreição teve uma mistura de interpretações. Alguns a
receberam avidamente, enquanto outros apenas oscilavam e davam boas
risadas (Atos 17:32).
O quarto e principal acontecimento ocorreu em Corinto. As boas-novas
foram entregues primeiramente aos judeus da cidade. Rejeitaram-na, de modo
que Paulo, Silas e Timóteo se voltaram para os gentios. Tício Justo e Crispo,
este governador da sinagoga, aceitaram Jesus como o Messias, e Deus pediu a
Paulo que permanecesse em Corinto. Continuou a trabalhar com eles durante
um ano e meio.
A caminho de casa Paulo visitou Cencréia, Éfeso e Cesaréia. Em Cencréia
Paulo raspou a cabeça e tomou voto (Atos 18:18). Não sabemos por que fez isto.
Com toda a probabilidade foi grandemente movido por alguma coisa. É
possível que ele tenha raspado a cabeça duas vezes — uma vez quando tomou
voto e de novo quando o voto se completou. Nosso cabelo cresce à razão de 12
a 15 cm por ano, de modo que Paulo deve ter passado meses com pouco mais
do que uma camada flocosa de cabelos.
A reunião em Antioquia deve ter sido acolhedora quando Paulo voltou.
As amizades cristãs muitas vezes são profundas. Os que estiveram
estimulando desde o princípio tinham um lugar todo especial.
Contudo, Deus não tinha acabado de usar o fariseu convertido. Depois
de passar algum tempo em Antioquia, Paulo lançou-se à terceira viagem
missionária. Esta viagem novamente levaria o apóstolo a milhares de
quilômetros. Nós, os que temos automóvel, talvez achemos difícil avaliar o que
essas viagens significavam. Normalmente, o pé era o único meio de transporte.
Às vezes passava alguma carroça, mas o viajante logo desejava voltar a andar
a pé. O melhor método era viajar de navio, mas naturalmente havia poucos
lugares a que os navios podiam ir.
Em Éfeso Paulo encontrou crentes que conheciam somente o batismo de
João. Ouviram falar do Messias, mas o conhecimento que tinham era limitado.
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CAPÍTULO 13
PAULO - II Parte
Sempre que você tentar agradar a todos, o teto está sujeito a desabar.
Paulo alimentou os mais elevados ideais — se houvesse qualquer modo de
manter toda gente feliz, ele teria encontrado esse caminho. Mas às vezes o tiro
saiu pela culatra e o apóstolo feriu-se.
Sua situação é semelhante à de qualquer cristão. Há uma tensão suave
que nos faz desejar agradar-nos uns aos outros. Sabemos pela Bíblia e pela
experiência que não temos nenhum direito de ofender as pessoas. Em
realidade, Paulo foi o principal arquiteto deste princípio. Ele escreveu a diretriz
à igreja de Corinto: "Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a
fim de ganhar o maior número possível" (1 Coríntios 9:19).
A despeito de nossas mais nobres intenções não podemos manter todos
contentes. Chega um ponto em que devemos tragar a linha divisória e
meramente fazer a coisa a nosso modo. A ansiedade de Paulo por evitar ondas
resultou em confinamento agonizante.
Quando o apóstolo chegou a Jerusalém, contou aos cristãos judeus locais
os milagres que estavam acontecendo entre os gentios. Seu relatório recebeu
um misto de interpretações. Consequentemente, os presbíteros chegaram a um
compromisso tendo em mira agradar a todos. Paulo necessitava de fazer algo
para provar que ele não tinha abandonado o Judaísmo. De acordo com o plano,
esta providência cativaria os cristãos judeus de ambos os lados.
Felizmente, a seu ver, a oportunidade lhes batia à porta. Quatro homens
iam ao templo a fim de tomar os votos judaicos de purificação. Se Paulo se
juntasse a eles e pagasse parte da despesa, os judeus por toda parte ficariam
emocionados.
O plano pareceu bom para Paulo. Mas se ele tivesse sabido o que o
aguardava, o apóstolo poderia ter tomado a próxima diligência para a Ásia
Menor.
Houve uma revolta nos pátios. Alguns homens reconheceram Paulo
durante as cerimônias e queixa- ram-se em voz alta. Para eles Paulo era o
cristão judeu que ensinava blasfêmia contra o Antigo Testamento. Também o
acusaram de levar consigo ao templo um efésio por nome Trófimo, o que
constituía uma clara violação da lei do templo.
Com toda a probabilidade, esta última acusação não passava de um
boato acalorado. Quando as pessoas ficam com raiva, gritam tudo. Os
membros da multidão sabiam que o gentio era amigo de Paulo, mas
provavelmente não tinham visto Trófimo no templo.
Era um ato irresponsável por parte da multidão.
Todos deveríamos lembrar-nos da cegueira do ódio. Mesmo as cabeças
mais frescas fazem coisas irracionais e cruéis nessas circunstâncias.
Vemos o ódio ao máximo de sua cegueira na crucificação de Cristo. Ele
foi morto por causa do mais vil dos instintos. Jesus sabia que ele havia sido
entregue em virtude de inveja (Mateus 27:18). Um importante fator na
destruição é, muitas vezes, uma paixão fugitiva.
A multidão se avolumou instantaneamente. Os que gritavam coisas
absurdas eram convincentes. Não que as multidões saibam discernir com
maior acerto; elas são tradicionalmente seguidoras e não pensadoras. O grande
grupo pressionou Paulo de imediato. Agarraram-no e brutalmente o
arrastaram para fora do templo. Era agora uma multidão incontrolável que
começava a bater no apóstolo com força suficiente para matá-lo.
A morte de Paulo teria sido certa se alguém não interviesse. Um
voluntário anônimo (talvez o modesto Lucas) correu para chamar os guardas
romanos. Justo ao noroeste do templo estavam aquarteladas as tropas numa
fortaleza chamada Antônia. Estavam localizadas perto do templo para o
propósito específico de controlar multidões.
Pelo menos 200 soldados vieram da guarnição. Sem vacilar, desceram a
toda pressa os degraus que conduzem diretamente ao templo. A vista de solda-
dos correndo amedrontou de tal modo a covarde multidão que quase
evaporaram.
Incapaz de calcular imediatamente o que estava errado, o capitão
romano acorrentou Paulo. Todos lançavam acusações, o que só aumentava a
desordem. O capitão resolveu prender o apóstolo até que pudesse esclarecer o
problema.
Enquanto Paulo era conduzido escadas acima, perguntou se lhe era
permitido dirigir-se à multidão. O comandante consentiu e reinou silêncio
entre o ruidoso grupo.
Paulo aproveitou a oportunidade para dar seu testemunho. Passo por
passo, explicou quem era ele e como se tornara cristão (Atos 22:1-21).
A multidão podia estar um tanto inquieta, mas ouviu até certo ponto.
Todavia, quando Paulo lhes lembrou sua missão aos gentios, de novo pegaram
fogo. Reagiam agora como crianças frustradas. Rasgavam as vestes, atiravam
pó ao ar, em desespero gritavam juramentos e apelos. O discurso de Paulo não
havia terminado bem.
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DOZE CRISTÃOS
INTRÉPIDOS
Perfis de coragem no primeiro século para inspirar nossa fé no século vinte!