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TUTORIA DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO II

Regência: Prof. Dr. Miguel Nogueira de Brito


Tutor: Gonçalo Caro
1º Ano – Noite

Existência, validade e eficácia de lei.


Para assegurar os objetivos que constitucionalmente lhe são atribuídos, o Estado tem de realizar
permanentemente várias atividades a que se dá o nome de funções. Uma das funções principais
do estado é a sua função legislativa, que consiste na prática de atos por parte dos órgãos
constitucionalmente competentes, que obedecem a um procedimento previsto na Constituição e
apresentam a forma de Lei (maxime, lei, decreto-lei e decreto legislativo regional).
A lei tal como abordado na cadeira de Introdução ao Direito I, é considerada uma fonte de direito
imediata no sentido que dai decorrem diretamente normas jurídicas. O próprio art.1º nº 2 do CC,
considera lei “todas as disposições genéricas providas dos órgãos estaduais competentes”, o que permite inferir
que os órgãos estaduais detêm o monopólio do processo legislativo.
No que concerne ao conceito de lei, a doutrina portuguesa não se mostra de todo o modo unívoca
na adoção de uma posição unânime.
Oliveira Ascensão1, adota a posição no sentido de considerar lei o texto jurídico que contém uma
ou mais regras, emanado com a observância das formas estabelecidas por uma autoridade
competente com o intuito de alterar a ordem jurídica existente através do pautar de situações
concretas.
Marcelo Rebelo de Sousa/Sofia Galvão2 não referindo especificamente um conceito de lei,
consideram que para se falar de lei devemos ter sempre um ato legislativo (lei em sentido formal)
emanado da Assembleia da República, decreto-lei do governo ou um decreto legislativo regional
tal como resulta do art.112º da CRP.
Miguel Teixeira de Sousa3, numa posição crítica, defende que é incorreta a definição de lei
apresentada pelo art.1º CC, uma vez que é inaceitável a equiparação da lei às normas pois através
do argumento lógico facilmente conseguimos descortinar que a lei é fonte de normas e estas por
sua vez são conteúdo das leis. Define assim lei como “um texto significativo de regras jurídicas”.
Miguel Nogueira de Brito4, seguindo a linha doutrinal de Oliveira Ascensão, considera que leis
não são regras, mas as próprias fontes das regras. Propõe este autor que lei é o texto escrito
significativo de uma ou mais normas jurídicas, emanado com observância das formas
estabelecidas, de uma autoridade competente para pautar critérios jurídicos de solução de
situações concretas.
A lei, sendo um ato jurídico, está sujeita aos desvalores que atingem os atos jurídicos:
a) Inexistência: desvalor associado ao próprio processo de constituição (Ex: falta de
promulgação pelo Presidente da República – art.137º CRP; falta de referenda ministerial –

1
Vide JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito – Introdução e Teoria Geral
2
Vide MARCELO REBELO DE SOUSA/ SOFIA GALVÃO, Introdução ao Estudo do Direito
3
Vide MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, Introdução ao Direito
4
Vide MIGUEL NOGUEIRA DE BRITO, Introdução ao Estudo do Direito
1
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art.140º/2 CRP). O ato legislativo encontra-se de tal forma desconforme com o direito que
não existem bases que permitam identificar que estamos diante de um ato jurídico. A lei
inexistente é uma mera aparência de lei que não produz qualquer efeito.
b) Invalidade: regime regra da lei que desrespeita uma regra sobre produção jurídica contida na
CRP. A lei inválida pode-se reconhecer como tal, mas não respeita certos critérios de
produção normativa. Os vícios que geram a invalidade são a inconstitucionalidade formal (Ex:
art.116º/2 CRP), orgânica (Ex: DL emanado do Governo em matéria da competência
exclusiva da AR) e material (discordância com princípios não essências da CRP).
Dentro da invalidade importa distinguir entre nulidade (invalidade mais intensa) e
anulabilidade (invalidade menos intensa). O ato nulo é por si inaplicável; o ato meramente
anulável aplica-se enquanto os órgãos competentes não tomarem a iniciativa da sua anulação.
c) Ineficácia: perante uma situação de ineficácia, a lei possui todos os requisitos, mas um
determinado ato ou facto que lhe é exterior, paralisa ou impede a produção dos seus efeitos
jurídicos (v.g. a lei que não é publicada em Diário da República).

Entrada em vigor de uma lei


Esta temática do inicio e cessação de vigência das leis é uma formulação muito simplificada pois,
não é correto afirmar que uma lei entra em vigor num determinado momento, produz efeitos
enquanto está em vigor e deixa de produzir efeitos ou deixa de estar em vigor noutra data. A lei
mesmo sem estar em vigência nunca deixa de existir, os tribunais por exemplo hoje em dia
aplicam leis que já estão revogadas, pis eram aquelas que vigoravam à data da ocorrência fáctica.
O processo legislativo comporta, ele próprio, várias fases: iniciativa legislativa; discussão;
aprovação; promulgação pelo Presidente da República; publicidade e entrada em vigor. Para se
poder afirmar que o processo legislativo findou e que uma lei entra em vigor, esta deve ser
publicitada, nomeadamente no Diário da República, Diário da Assembleia da República e Jornal
Oficial das Regiões Autónomas, conforme impõe o art.119º CRP e art.5º CC, de modo a tornar
público o ato que visa incrementar uma alteração na ordem jurídica vigente.
Porém, não basta que a lei seja publicada. É certo que com a publicação a lei fica em condições
de produzir os seus efeitos, no entanto à luz do art.5º/2 do CC é necessária a observância de um
hiato temporal entre a publicação e a entrada em vigor de modo a que a lei seja conhecida. Esse
período é designado de vacatio legis.
De acordo com o preceito acima referido, cabe à própria lei, a fixação do próprio período de
vacatio legis, caso não se verifique, aplica-se o prazo do art.2º/2 da Lei n.º 74/98, de 11 de
novembro (Lei Formulária), dispondo que o “a lei entra em vigor no 5º dia após a sua
publicação”.
Este prazo de 5 dias deve ser interpretado como sendo supletivo, não vinculando o legislador na
fixação de um prazo de vacatio legis mais curto ou mais longo por razões imperiosas de urgência.

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Embora o art.2º/1 da lei 74/98 dispor que em caso algum, o início de vigência da lei se verificará
no próprio dia da publicação, a verdade é que o próprio legislador pode optar por uma suspensão
do prazo de vacatio legis em determinadas circunstâncias, nomeadamente:
1. Situações de inadiável urgência (v.g. casos de calamidade pública);
2. Situações que visam evitar a frustração do objetivo da própria lei (v.g. Se uma lei pretender
evitar a pesca de certa espécie de peixe, o período de vacatio legis permitiria a pesca intensa
daquela espécie pondo em causa os objetivos iniciais da lei).
Caso prático n.º 1
É aprovada a Lei n.º 8/2017, de 3 de março, que tem por objeto a aprovação do estatuto jurídico
dos animais. Esta lei foi publicada no DR de 6 de março de 2017, e disponibilizada online, no
mesmo dia, no sítio da Internet.
Considere as seguintes hipóteses:
a) No seu art.2º dispõe-se: “Esta lei entra imediatamente em vigor”;

O art.2º/1 da Lei n.º 74/98, dispõe que “em caso algum, o inicio de vigência da lei se verificará no
próprio dia da publicação”. Da análise do objeto da lei 8/2017, não parece estar em causa nenhum
dos motivos de supressão do prazo de vacatio legis impondo o seu inicio de vigência no
imediato. No entanto, estando em causa uma lei de igual valor ordinário, nada impede que
seja derrogada por uma lei de valor hierárquico igual ou superior. Devemos entender que a
vontade do legislador ao pretender

Da interpretação do art.2º/2 da lei 74/98 esta lei não poderá entrar em vigor no 5º dia após
a sua publicação uma vez que a ratio desta alínea esta apenas pensada para os casos específicos
de falta de menção de data de inicio de vigência.

Parece é existir um contrassenso na interpretação do art.2º nº1 da lei 74/98 uma vez que a lei
entra em vigor no dia por si fixado nunca coincidindo com o da sua publicação. Esta
interpretação deve-se ao facto de se garantir sempre a efetivação do conhecimento da lei pelos
seus destinatários, sendo a entrada imediata em vigor uma exceção verificável em razões
imperiosas de celeridade da produção dos efeitos jurídicos de uma determinada norma.

b) A Lei 8/2017 nada determina acerca da sua entrada em vigor.

Não determinando nada acerca da sua entrada em vigor, de acordo com o art.5º/2 do CC,
aplica-se o prazo supletivo de 5 dias, previsto no art.2º nº2 da Lei 74/98. A contagem do
prazo faz-se nos termos do art.279º al. b) CC, não se contando o dia da publicação.

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Entrada em Vigor Produção de Efeitos

Após publicação no jornal oficial e Requer a entrada em vigor de uma lei e


decorrido o período de vacatio legis, a lei a sua aplicação às situações fácticas que
entrará em vigor no prazo por ela ocorrem ou que venham a ocorrer.
estabelecido.
Na falta de estipulação, ela entrará
supletivamente em vigor, após o 5º dia.

Eficácia automática da lei Aplicabilidade do escopo normativo


ao caso concreto

Termo da vigência de uma lei

A regra em matéria de vigência de uma dada lei é que ela vigorará para sempre, salvo os
casos em que a própria lei prevê o seu período de vigência. Todavia, pode suceder que a
lei veja a sua produção de efeitos suspensa durante certo lapso temporal, que findo o qual,
os retomará. Pode suceder também que a lei deixe de produzir definitivamente os seus efeitos,
implicando a cessação de vigência da lei.

As leis podem cessar a sua vigência por revogação, caducidade, desuso ou costume contra
legem. Passaremos em seguida a analisar cada uma destas modalidades de cessação de
vigência.

A. Revogação

A revogação vem atualmente prevista no art.7º do CC, consistindo na cessação de


vigência ou eficácia, de uma lei por virtude da elaboração de uma outra, de valor
hierárquico igual ou superior (lex superior derrogat lei inferior), e que com ela se mostre
incompatível. Esta modalidade é expressão do brocado latino lex posterior derrogat legi
priori.
A ratio desta figura está no facto de a renovação do sistema normativo do ordenamento
jurídico pressupor a substituição das antigas leis pelas posteriores, por serem estas a
expressão da vontade do legislador democrático num determinado período.

Qua o critério para aferir a posteridade de uma lei em relação a outra?

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A revogação de uma lei implica sempre uma sucessão de leis no tempo entre uma lei
nova e uma lei antiga. Normalmente é de fácil determinação o momento em que ocorre
a revogação pois, a lei mais recente é simultaneamente aquela que é publicada e entra
e m vigor num momento mais tardio, mas pode acontecer que devido à proximidade
temporal que as difere, surjam dificuldades na sua determinação, a saber:

1. Lei publicada posteriormente entra em vigor antes de uma lei publicada


anteriormente com normas incompatíveis (Ex: A lei 1 é publicada a 10 de fevereiro
e entra em vigor a 25 de fevereiro; a lei 2 é publicada a 12 de fevereiro entra em
vigor a 23 de fevereiro);
2. Duas leis incompatíveis publicadas em datas diferentes entram em vigor na mesma
data (Ex: a lei 3 é publicada a 12 de maio e a lei 4 é publicada a 15 de maio, mas
ambas entram em vigor a 20 de maio).
3. Duas leis incompatíveis, são publicadas na mesma data, mas entram em vigor em
momentos distintos (Ex: A lei 5 e a lei 6 são publicadas a 10 de março);

No que respeita à primeira situação, é fácil a solução, uma vez que o critério da
publicidade nos ajuda na aferição de que a lei posterior, que revoga a anterior, é por
isso a que é publicada posteriormente (lei 2).
A segunda situação também poderá ser resolvida através do critério da publicidade.
Oliveira Ascensão defende que a lei revogatória é aquela que é publicada
posteriormente (lei 4).
A terceira questão, levanta dúvidas, pois, diante da impossibilidade da utilização do
critério da publicidade, visto terem sido publicadas na mesma data, a entrada em vigor
poderá servir de parâmetro na resolução da questão, na medida em que manifestará a
última intenção do legislador, porém, Menezes cordeiro e Miguel Nogueira de Brito
equacionam a resolução deste problema através de uma interpretação abrogante com a
consequente integração de lacunas.

Abstratamente são apontados quatro critérios de resolução do problema da


posteridade da lei, a saber:
1. Critério da aprovação da lei;
2. Critério da data da publicidade;
3. Critério da data da entrada em vigor;
4. Lacuna de colisão, pela interpretação abrogante, integrada nos termos do art.10ºCC;

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Modalidades de revogação
Ao abrigo do art.7º do CC, a revogação pode ocorrer sob diversas modalidades, consagrando
este artigo apenas três modalidades, pese embora poderem ser fixadas outras modalidades.

1. Revogação Expressa e Tácita

A revogação diz-se expressa quando há uma indicação inequívoca de revogação pela lei
posterior da lei anterior, também designada de revogação por declaração.
Ex: A lei 1 contém no seu art.18º menção expressa que são revogados os artigos 12º a
44º da lei 2.
A revogação assume a forma tácita quando se consubstancia numa incompatibilidade do
novo regime (revogatório) com o regime anterior (revogado), também designada de
revogação por incompatibilidade.
Ex: A lei 4 dispõe que a nova taxa de IVA sobre um certo bem é de 13% e a lei 3 dispunha
que a taxa de IVA sobre esse mesmo bem era de 6%.

2. Revogação Substitutiva e Simples

Diz-se substitutiva a revogação se a lei nova, alem de cessar a vigência da lei anterior vem
substituir o seu regime. Ex: A lei 5 diz que revoga a lei 4 e estabelece um novo regime
jurídico para os animais.
A revogação simples ocorre quando a lei posterior apenas expressa a cessação de vigência
da lei anterior. Ex: Art.20º: “A que se faz entrar em vigor revoga a lei 24/2017”.

3. Revogação Total e Parcial

A revogação total ou abrogação, verifica-se quando a lei anterior cessa integralmente a


sua vigência. Ex: A lei 6 deixa de vigorar devido à entrada em vigor da lei 7.
A revogação parcial, ou dita derrogação, ocorre quando só uma parte da lei anterior perde
a sua vigência. Ex: A lei 8 faz revogar os arts.34º a 56º da lei 7.

4. Revogação Global e Individualizada

A revogação global ou também denominada de substituição, ocorre quando uma lei


posterior regula integralmente todo um ramo do direito. Este tipo de revogação vem
previsto no art.7º nº2 CC “da circunstância de a nova lei regular toda a matéria da lei anterior”.
Ex: É publicado o DL n.º 36/2003, de 05 de março, que aprova o novo código da
propriedade industrial. É igualmente revogada toda a legislação anterior que seja
incompatível ou não com as disposições do presente código.

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A revogação individualizada verifica-se sempre que uma lei nova revoga especificamente
uma parte da matéria. Ex: Entra em vigor a Lei 31/2012, de 14 de agosto que versa sobre
o regime jurídico do arrendamento urbano.

B. Caducidade
A caducidade diz respeito à cessação de vigência de uma lei por menção expressa dessa
mesma lei. Está prevista no art.7º nº 1 do CC: “quando se não destine a ter vigência temporária…”
São duas as formas de caducidade:
a) Facto previsto na lei: é a própria lei que determina o seu prazo de vigência;
b) Desaparecimento dos pressupostos de aplicação da lei: uma lei é feita para vigorar
enquanto perdurarem determinados pressupostos, findo esses, a lei deixa de ter
fundamento, ou objeto, para a sua aplicação.

C. Desuso
Consiste na mera inobservância da lei, na erosão da sua força normativa, sem que nenhuma
norma de sinal contrário tenha entrado em vigor.
Ex: Uma certa comunidade deixa de aplicar uma certa lei que regula a divisão das águas, por
considerar que não existem razões para a sua aplicação.
D. Costume contra legem

Nesta hipótese, a lei deixa de vigorar devido a uma norma consuetudinária, de sentido oposto,
que esvazia de conteúdo a norma jurídica.
Ex: A morte de touros nas festividades anuais de Barrancos, constitui um costume contra legem
relativamente ao Decreto nº 15.355, de 14 de abril de 1929 que proclamava no seu art.1º que
“em todo o território da república portuguesa ficam absolutamente proibidas as touradas com touros de morte”.

Caso prático n.º 2


A 7 de Outubro de 2003, o legislador português aprovou, por Decreto-Lei, o novo regime
jurídico da Propriedade Horizontal, que passou desde então a constar de diploma autónomo.
Este novo regime jurídico reúne questões que eram anteriormente disciplinadas pelos artigos
1414.º a 1438.º-A do Código Civil e questões que constavam dos Decretos-Leis nos 268/94 e
269/94, ambos de 25 de outubro.
É incluída uma norma revogatória dos artigos de todos os diplomas referidos.
1) Qualifique o tipo de revogação ocorrido na situação hipotética descrita.

A revogação pode ser classificada como:

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a) Revogação expressa: uma vez que a própria lei contempla um artigo que revoga as
disposições anteriores sobre a matéria;
b) Revogação substitutiva: é aprovado um novo regime jurídico autónomo para uma dada
matéria em substituição de nomas anteriormente vigentes;
c) Revogação parcial/derrogação: pois embora entre em vigor um novo regime da
propriedade horizontal que irá reger, dali em diante essa matéria, este diploma não revoga por
completo por exemplo todo o código civil, mas apenas os artigos sobre aquela matéria, o
mesmo se entende quanto às disposições dos Decretos-Leis nos 268/94 e 269/94;
d) Revogação global: a nova lei pretende reger toda a matéria de um ramo específico do direito
(propriedade horizontal), substituindo o anterior regime em vigor;

Caso prático n.º 3


A 23 de Outubro de 1990 foi publicado em Diário da República o Decreto-Lei n.º 330/90, que
aprova o Código da Publicidade. Nada é expressamente dito sobre a respetiva entrada em vigor.
Do artigo 17.º deste diploma constam as seguintes normas:
“Artigo 17.º
Publicidade relativa a menores
1 – As comunicações comerciais e a publicidade de quaisquer eventos em que participem menores,
designadamente atividades desportivas, culturais, recreativas ou outras, não devem exibir ou fazer qualquer
menção, implícita ou explícita, a marca ou marcas de bebidas alcoólicas.
2 – Nos locais onde decorram os eventos referidos no número anterior não podem ser exibidas ou de alguma
forma publicitadas marcas de bebidas alcoólicas.

No Diário da República de 28 de novembro de 1990 é publicado o Decreto-Lei n.º 355/90, do


qual constam os seguintes artigos:
“Artigo 3.º
Venda de bebidas alcoólicas
1 – É lícita a venda de bebidas alcoólicas em quaisquer recintos onde se realizem atividades desportivas,
culturais ou outras, desde que devidamente autorizada nos termos do artigo seguinte.
2 – Como forma de promover a venda a que se refere o número anterior, é permitida a exibição de publicidade
relativa a bebidas alcoólicas.
Artigo 10.º
Entrada em vigor
O presente diploma entra em vigor na data da sua publicação.”

a) Qual o efeito do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 355/90 sobre a legislação anterior?
O art.3º do DL.355/90 consta de uma lei posterior que se apresenta incompatível com o
disposto no art.17º do Decreto-Lei n.º 330/90 (Código da publicidade).

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Ao apresentar uma solução de certa forma incompatível com um regime em vigor, vem
revogar tacitamente essa mesma disposição. A revogação pelo art.3º é uma revogação parcial
individualizada, na medida em que revoga apenas o art.17º do código da publicidade.
Dando-se cumprimento ao princípio lex posterior derrogat legi priori, o art.3º vem revogar o art.17º
alterando o regime em vigor.

Problemática da sucessão de leis


Regra geral, poder-se-ia pensar que a lei dispõe apenas para o futuro, ou seja, após a sua
publicação e decorrido o período de vacatio legis, a lei entra em vigor, revogando automaticamente
todas as leis anteriores que se achem em contradição com o que nela é disposto, como poderia
sequer equacionar-se uma problemática de sucessão de leis visto ela aplicar-se aos factos
posteriores que lhe venham a suceder?
A problemática assenta no facto de, durante o período em que perduram as situações da vida
reguladas pelo direito, elas podem entrar em contacto com mais do que um regime legal dispondo
sobre a mesma matéria em causa.
Caso prático n.º 4
Ana celebra em 2010 um contrato de arrendamento pelo período de 4 anos, constituído á luz de
uma Lei1 que regulava que os contratos de arrendamento com duração superior a 6 meses podiam
ser celebrados por documento particular. Em 2012 é alterada essa lei para uma Lei2, de conteúdo
oposto, que dispunha que tais contratos têm de ser celebrados por escritura pública.
Pergunta-se: O contrato de ana mantem-se válido?

2012
Lei1 Lei2
Contrato de arrendamento > 6 meses: Contrato de arrendamento > 6 meses:
Doc. Particular autenticado Escritura Pública

Situação
Jurídica
Efeitos

A opção de aplicação da L1 ou da L2 não é arbitrária, ela deve atender a duas funções:


a) Função de estabilização: salvaguarda de direitos e expectativas legitimas criadas pelas
situações que surgiram no momento em que a lei estava em vigor;
b) Função de dinamização: se o legislador alterou um dado regime, significa que essa disciplina
não corresponde já á solução mais justa, segundo o juízo do legislador acompanhando um
progresso social. A partir do momento da entrada em vigor da lei nova, as suas disposições
devem aplicar-se a todas as relações que foram criadas á luz da sua vigência.

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O método mais eficaz para a resolução de um caso de sucessão de leis no tempo, é olharmos
para as disposições da nova lei e verificar o seu âmbito de aplicação – Direito transitório.
1. Direito transitório formal: verifica-se sempre que a nova lei contém uma disposição que
indica qual a lei que deve resolver o problema de sucessão de leis.
2. Direito transitório material: a lei nova fixa uma regulamentação própria para resolver o
problema da sucessão de leis, não coincidente com a disciplina da lei nova nem da lei antiga,
situando-se na sua transição.

Embora seja esta a solução ideal e preferível, a realidade é que são raras as vezes em que o
legislador fixa um regime transitório e quando o faz fá-lo com imensas falhas o que levou a
doutrina e jurisprudência a apontarem outros critérios para resolver este problema de sucessão
de leis.

Resolução do caso prático nº4

O contrato de Ana foi celebrado á luz da Lei1 que dispunha a forma de documento
particular autenticado para a celebração de arrendamentos superiores a 6 meses,
traduzindo o desígnio do legislador naquela altura. A superveniência de uma Lei2 de
conteúdo contrário impondo a celebração de tais contratos através de escritura pública,
não significa que se deverá aplicar esta nova visto a situação jurídica ter sido constituída
á luz daquela lei, criando nos intervenientes expectativas e direitos que deverão ser
salvaguardados por terem sido constituídos á luz de uma lei que estava em vigor. O
contrato deverá manter-se válido.

Princípio geral de não retroatividade

A retroatividade significa a projeção dos efeitos de uma lei sobre factos do passado, isto é, sobre
factos ocorridos antes da sua entrada em vigor.
A nossa ordem jurídica dota como critério geral o princípio da não retroatividade da lei nova, o
que significa que uma lei não dispõe para o passado.

Lei1 Lei2

SJ A, aplica-se a Lei2 SJ B, aplica-se a Lei2


(retroatividade)

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Podem-se distinguir essencialmente quatro graus de retroatividade, consoante o modo como a


lei nova venha afetar a estabilização alcançada por uma questão jurídica suscitada no passado.

I) Retroatividade de grau máximo ou extrema;


Verifica-se quando a lei nova se aplica a todas as situações com origem no passado não
respeitando as situações definitivamente decididas por decisão judicial transitada em julgado
(quando os tribunais não a podem modificar).

Ex: A lei A criminaliza a falsificação de documentos, em 2008 surge a nova lei B que a
despenaliza. Marta, que havia sido condenada pela prática de crime de falsificação de
passaporte, com a aplicação retroativa da lei B, Marta deverá ser imediatamente libertada
cessando a execução da sua pena.

II) Retroatividade quase extrema;


Ocorre quando a lei nova se aplica a todas as situações com origem no passado, salvo as
definitivamente decididas por sentença transitada em julgado.
Ex: Ana deve a Berta 900 euros derivado a ter pernoitado uma semana no seu hotel em
Sintra, mas não lho paga na data aprazada, recorrendo Berta a tribunal para executar o seu
crédito. A lei N(ova) vem alterar o prazo de prescrição desses créditos de alojamento de 18
meses para 3 meses. A lei N não se aplica a esta situação.
III) Retroatividade agravada;
A lei nova atinge os efeitos já produzidos de factos passados, mas ainda não encerrados, ou
seja, a lei posterior vai aplicar-se a todas as situações constituídas no passado, mas salvaguarda
os efeitos produzidos por decisão judicial ou título equivalente. É respeitado o caso julgado.
O título equivalente, é explicado pela doutrina5 com recurso ao art.13º do CC, onde se refere
que: “… ficam salvos os efeitos já produzidos pelo cumprimento da obrigação por sentença
passada em julgado, por transação, ainda que não homologada, ou por atos de natureza
análoga”.
A lei nova não se aplica quando existe:
a) Cumprimento de obrigações;
b) Transação (contrato pelo qual as partes previnem ou terminam um litígio mediante
reciprocas concessões);
c) Atos de natureza análoga;

IV) Retroatividade de grau mínimo ou ordinária

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Vide MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, Aplicação da lei no tempo…
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A lei nova atinge apenas os efeitos presentes e futuros de factos passados, ou seja, aplica-se
às situações jurídicas decorridas antes da lei e que se verificam ainda no presente.

Ex: Sara em março de 2017 compra um computador a José no valor de EUR 1.000,00, tendo
ficado convencionado o pagamento em dez prestações mensais de 100 euros. Nada tendo
dito a propósito do local de cumprimento da obrigação, aplica-se a disposição legal supletiva
que prevê o domicílio do credor (José). Em dezembro de 2017 uma lei nova vem determinar
que o pagamento deve ser feito por transferência bancária, esta nova lei apenas se irá aplicar
retroativamente às prestações vincendas (a debitar a partir daquela data).

O art.12º do Código Civil

O art.12º CC exprime o princípio geral de que a lei só tem eficácia para o futuro, consagrando
um princípio de não retroatividade por razões de estabilidade. A lei não dispõe apenas para o
futuro, ela aplicar-se-á também às situações presentes existentes no momento da sua entrada em
vigor.
O art.12º faz a destrinça entre dois tipos de normas:
a) As que dispõem sobre requisitos de validade formal ou substancial de factos ou sobre efeitos
(nº 2, 1ª parte);
b) As que dispõem sobre o conteúdo de certas situações jurídicas (nº2, 2ª parte).

Com isto quer-se dizer que o art.12º faz uma distinção entre os casos em que a lei nova só se
aplica aos factos novos e os casos em que a lei nova se aplica ao conteúdo das relações jurídicas
constituídas antes da lei nova, mas que subsistem à data da sua entrada em vigor.

Consagra-se aqui o princípio geral da não


1ª parte retroatividade por razões de estabilidade

Nº 1 Admissão de exceções ao princípio da não


retroatividade. A haver retroatividade, presume-se
2ª parte
que seja sempre de grau mínimo.

Só visar “factos novos” significa que a LN se aplica


aos factos novos e a LA aos factos antigos.
Artigo 12º
1ª parte Aplica-se sempre a lei antiga quando seja matéria
de condições de validade ou factos e efeitos
jurídicos.
Nº 2 Se abrange as relações jurídicas já constituídas que
subsistam à data da sua entrada em vigor, significa
que a LN se aplica a situações passadas.
2ª parte
Aplica-se sempre a lei nova quando diga respeito
ao conteúdo das relações jurídicas abstraindo dos
factos que lhe deram origem.
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Regência: Prof. Dr. Miguel Nogueira de Brito
Tutor: Gonçalo Caro
1º Ano – Noite

O art.297º do Código Civil

O art.297º CC, apresenta um regime diferenciado consoante a LN encurte ou alongue um


determinado prazo. O critério para aplicação deste regime é facto de apenas se aplicar aos prazos
que estejam em curso no momento da entrada em vigor da LN.

O prazo à luz da LN é mais curto e de acordo com


a LA falta mais tempo para se completar. Aplica-se
1ª parte
Nº 1 a LN e o prazo conta-se a partir da entrada em
Encurta vigor da nova lei.
prazo O prazo à luz da LN é mais curto, porem pela LA
Artigo 297º 2ª parte falta menos tempo pra se completar o prazo.
Aplica-se a LA.
Nº 2
Aplica-se a LN mas desconta-se o tempo já decorrido na
Estende
vigência da LA.
prazo

Se o prazo for fixado pela LN pela primeira vez, este só se deverá contar a partir da entrada em
vigor da LN.

O art.297º do Código Civil

Designa-se de lei interpretava a lei que realiza interpretação autêntica, devendo possuir um valor
igual ou superior ao da lei interpretada, apresentando caracter vinculativo aos aplicadores do
direito.
Requisitos para classificar uma lei de interpretativa:

1. A solução da lei anterior é controvertida ou incerta;


2. A solução apresentada pela lei nova deve ser de tal ordem que o interprete a ela posa
chegar sem ultrapassar os limites da interpretação – art.9º/2 CC.
3. A lei interpretativa deve ser posterior à lei interpretada;
4. A lei interpretativa deverá ser hierarquicamente igual ou superior à lei interpretada;

Retroatividade vs. Retroconexão

Pode dizer-se que existe retroatividade quando uma lei nova se aplica a factos passados.
Ex: A lei1 entra em vigor a 2/5/2017 dispondo que a celebração de um certo tipo de contrato
exige a escritura pública, prevendo-se a sua aplicação aos contratos já celebrados.

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António celebrou a 30/6/2006 um contrato em que não se exigia forma de escritura pública. A
lei1 será retroativa se for aplicada ao caso de António.
Aqui o facto passado é a celebração do contrato por António que se trata de um facto
constitutivo.

A retroconexão verifica-se sempre que um facto pressuposto do passado sirva de referência para
definir o regime jurídico que durante a sua vigência é criada.
Ex: Entra em vigor em janeiro de 2017 o DL. y/2017 que contem o seguinte conteúdo:
“O aluno que não realizar a cadeira de Teoria Geral do direito Civil I, não poderá realizar
a cadeira de Teoria Geral do Direito Civil II”.
Ana em 2018, pretende saber se poderá frequentar a cadeira de TGDC II, uma vez que não
realizou a cadeira I no primeiro semestre.
Neste caso a lei posterior vem definir o regime a aplicar subsequentemente com base em factos
pressupostos do passado.

Sanções

Traços gerais, as sanções podem ser definidas como consequências jurídicas negativas contra
aqueles que hajam violado uma norma. Pressupõe-se neste plano, a existência de duas normas: a
norma violada, e a norma sancionatória.

a) Sanções negativas: consequências desfavoráveis que traduzem uma punição para o infrator
de uma norma de comando.
b) Sanções positivas ou premiais: consequências positivas que se traduzem na reação ao
cumprimento/observância de uma norma jurídica.

Convém separar a norma sancionatória da própria sanção. A norma sancionatória tem uma
previsão e uma estatuição, sendo a sanção a estatuição da norma sancionatória.

NORMA SANCIONATÓRIA (art.131º Código Penal)


Previsão Estatuição
Quem matar outrem… … é punido com pena de prisão de oito a
dezasseis anos Sanção

Classificação das sanções:

1. Critério do bem em que incidem: patrimoniais ou pessoais


2. Critério da natureza da infração: administrativas, disciplinares, civis e criminais.
3. Critério da finalidade da sanção:
3.1 Reconstitutivas - reconstituição integral da situação que existia antes da ocorrência do
ilícito. Ex: art.562º CC.

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3.2 Compensatórias – quando não é possível a reconstituição inicial da situação existe
como que uma espécie de compensação pela prática do ilícito. Ex: 566º/1 CC.
3.3 Punitivas – aplicam penas ao violador da norma
3.4 Preventivas – destinam-se a prevenir a violação no futuro de certas normas Ex:781º CC
3.5 Compulsórias – visam obrigar o individuo a cumprir uma norma quando o
cumprimento ainda é possível. Ex: 754º CC.

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