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LICENCIATURA EM FILOSOFIA
JUAZEIRO-BA
2018
ÂNGELO ANTÔNIO MACEDO LEITE
JUAZEIRO-BA
2018
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE ANIMAL LABORANS EM HANNAH
ARENDT
BANCA EXAMINADORA
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JUAZEIRO-BA
2018
Dedico este trabalho a minha amada
esposa Maria Franciane e a minha
querida filha Ana Beatriz.
AGRADECIMENTOS
Em especial ao prof. João Batista Farias Junior (UFPI) pela orientação e as valiosas
contribuições neste trabalho.
Santo Agostinho
RESUMO
The purpose of this course work conclusion is to analyze what Hannah Arendt says
about the human activity of labor by The Human Condition, with the aim of verifying
the specific concept and what is its role within Hannah Arendt's critique of modernity.
For this, this was structured through three basic chapters. In the first chapter is
discussed the crisis in modernity according to Arendt's thought. In this chapter stands
out the figure of the animal laborans, its characteristic and its way of acting. In the
second chapter there is an analysis of Arendt's criticism to Marx. In this chapter, the
concept of work is discussed in order to understand modernity. In the third chapter, it
discusses the importance of the concept of animal laborans, especially its victory of
several observations made by the author. As a conclusion, we see that the concept
of animal laborans is fundamental for the understanding of Arendtian thought. The
concept of animal laborans is essential to understanding the aspects of politics in the
modern world.
INTRODUÇÃO........................................................................................................................10
DA MODERNIDADE...............................................................................................................25
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................30
REFERÊNCIAS......................................................................................................................32
10
INTRODUÇÃO
1
Neste TCC, a tradução para o original de labor, work e action será respectivamente trabalho, obra e
ação, conforme orientações feitas por Adriano Correia na edição brasileira da obra A Condição
Humana publicada pela Forense Universitária em 2016.
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Diante disso, Arendt não poupou críticas a análise parcial feita por seus
antecessores, e utiliza esse conceito como algo essencial na sua obra. O que
realmente tem de especial no conceito de animal laborans, que fez Hannah Arendt
lançar críticas especialmente a Karl Marx? Ou seja, diante do que exposto na obra A
Condição Humana, qual a importância do conceito de animal laborans para a
compreensão da filosofia de Hannah Arendt? Partindo destes questionamentos
básicos, esse TCC busca dialogar neste contexto para compreender melhor o
pensamento arendtiano.
O trabalho faz parte da vida do homem há muito tempo, há quem diga que
desde a sua origem da humanidade. O trabalho tem sido fundamental para manter a
espécie humana viva. É através dele que o homem interage com a natureza, agindo,
modificando, transformando e criando algo que o ajude ou torne a vida mais feliz e
menos sofrida.
Para Marx (2010), a operação realizada por uma aranha ao tecer sua própria
teia ou a construção de uma colmeia feita por qualquer abelha não se compara a
atividade de um arquiteto ou tecelão. Pois, o que distingue o pior arquiteto da melhor
abelha ou um jovem arquiteto de uma experiente abelha é que eles (arquiteto e
tecelão) figuram nas suas mentes a construção antecipada de algo antes de realizar
a transformação. Há neste processo, o que Marx (2010) idealizou como prévia-
ideação. Ou seja, "no fim do processo do trabalho aparece um resultado que já
existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o
material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha
conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar
e ao qual tem de subordinar sua vontade". (MARX, 2010, p. 212)
Para alcançar o objetivo aqui exposto, esta monografia foi estruturada com o
objetivo inicial de analisar a crise na modernidade segundo pensamento arendtiano,
onde a cultura do descarte, é uma das principais preocupações assinalada por ela
no prólogo d'A Condição Humana. O que é importante destacar no pensamento
arendtiano é que a modernidade passa por um processo de crise muito
provavelmente ligado a vitória do animal laborians, através de muitas de muitas
perspectiva de análise. Entender o conceito, o contexto e o sentido empregado do
animal laborians na obra de Arendt, torna fundamental para buscar compreender o
seu pensamento e a crise da sociedade em que vivemos. Este será o tema para o
próximo capítulo.
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preocupante, pois de certa maneira, isso representa um alívio ilusório diante de uma
possível prisão física aos limites da terra.
Percebe-se que o mundo atual vive uma crise que põe em risco o futuro de
toda vida orgânica da Terra e neste contexto, a possibilidade de resolução desse
problema está cada vez mais ligada a espera da política e não simplesmente da
esfera técnica ou da revolução. Portanto, cabe aos homens, enquanto seres da
ação, a sua solução. Neste caso, este é um problema que não pode ser deixado
para cientistas ou políticos profissionais de plantão. A vida activa do homem cabe a
ele mesmo analisá-la e realizá-la.
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Para Correia (2013) uma das primeiras motivações da autora para escrever A
Condição Humana foi a necessidade da investigação entre a relação marxismo e
totalitarismo suscitada logo após a publicação de sua principal obra até então: A
Origem do Totalitarismo, publicada no ano de 1951. Verifica-se, segundo esse
mesmo autor, que na elaboração da segunda edição, Arendt acrescentou o último
capítulo nesta obra, nos dando a entender que iria surgir outro livro, para dar
continuidade a lógica do pensamento arendtiano.
Como também ressalta Correia (2013) foi analisando a obra de Marx, que
Hannah Arendt percebeu a importância do trabalho da vida dos homens. Ela destaca
alguns elementos da filosofia de Marx na sua obra, porém fez uma análise ímpar,
diferente da marxiana, ao analisar o trabalho no interior da vida activa do homem.
Segundo Arendt, a vida activa está dividida em 3 atividades chaves: o trabalho
(labor), a obra (work) e a ação (action).
Para Arendt (2016) o conceito de trabalho foi bem compreendido pelo antigos,
porém muito desprezível por uma classe social, por representar uma atividade que
desgasta principalmente o corpo, ao invés da mente. Era uma atividade menor, mas
necessária para a sobrevivência. Talvez por isso, os antigos justificassem a
escravidão, para a manutenção de um estilo de vida próprio daquela civilização.
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Para Arendt, o homem busca ser senhor de toda a Terra e senhor de si pela
ação. É pela ação que o homo faber consegue se escapar da esfera do trabalho a
medida que toma consciência de si e do significado de sentido das coisas, fora da
esfera da utilidade. Nas palavras da própria autora: "A ação, única atividade que
ocorre diretamente entre os homens, sem a mediação das coisas ou da matéria,
corresponde à condição humana da pluralidade, ao fato de que os homens e não o
Homem, vivem na terra e habitam o mundo". (ARENDT, 2016, p. 09). É na ação que
o homo faber se transforma no homem político.
A atividade desenvolvida pelo homo faber, a obra, tem sido essencial para a
manutenção da vida do ser humano na terra e no processo de evolução do ser
humano. Ela tem evoluído com o homem. Através das mudanças tecnológicas é
possível verificar uma adaptação do homem sobre alguns desafios apresentado pela
natureza . A obra tem ajudado o homem a ampliar suas habilidades e melhorar o
bem estar de uma sociedade.
Na visão marxista, a obra e o trabalho não se diferencia muito entre si, pois
possuem elementos em comum que estão presentes na sobrevivência da
humanidade, como também na estão na base da atividade econômica e social de
uma sociedade. Segundo Marx (2010) foi na modernidade, especialmente com o
surgimento da sociedade capitalista, que a obra se tornou essencial para a
economia, pois, é através da obra que o homem cria as mercadorias, elemento
primordial para a constituição da riqueza em uma sociedade.
Embora alguns animais utilizem algumas ferramentas para realizar algo, foi
somente a espécie humana que se valeu de sua inteligência e conseguiu aprimorar
os meios de trabalho, dando início ao processo de desenvolvimento que culminaram
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na revolução industrial. Foi através das melhorias dos meios de trabalho que a
humanidade vivenciou diferentes modos de produção e de vida.
Por sua vez, a ideia de "trabalho concreto" está relacionada ao seu valor de
uso e caracterizado pelo modo operatório da atividade realizada pelo homem na
natureza, diferenciando-se de uma atividade profissional para outra. Já o "trabalho
abstrato" está relacionado ao valor-de-troca da força utilizada pelo trabalhador e é o
mecanismo utilizado para permitir a comparação entre os diferentes "trabalhos
concretos" realizados por diferentes trabalhadores, igualando os diferentes tipos de
atividades a um denominador comum.
2 Em uma das críticas por Arendt a Marx é a atribuição de ideia marxista do fim do trabalho no
comunismo. Porém, muitos autores filósofos marxistas (Gyorge Lukacs, István Mészáros etc.) não
concordam com a ideia atribuída a Marx do fim do trabalho, uma vez que para estes autores o
trabalho na concepção marxista está a necessidade natural do eterno intercâmbio do homem com a
natureza.
3 A crítica de Arendt a Marx sobre o fim do trabalho no comunismo não é analisado neste TCC, por
entender que seriam necessários outras linhas de argumentação que fugiria o propósito deste TCC.
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Para ela, uma das causa para que a distinção entre trabalho e obra seja
ignorada na modernidade advém pela glorificação a produtividade do trabalho,
diante dos avanços tecnológicos alcançados pela Revolução Industrial. Ao invés da
distinção entre trabalho e obra, Marx e os modernos preferem discutir a relação
entre trabalho produtivo e improdutivo, trabalho material e intelectual, trabalho vivo e
morto, etc. Tudo isso, tendo como elemento central a análise do trabalho muito mais
voltada ao ponto de vista econômico do que do ponto de vista político. Ou seja,
Marx, "encantado" pelo ponto de vista econômico do trabalho em si, deixa de lado a
filosofia política (principalmente Aristóteles) e se aproxima dos clássicos da
economia política (Adam Smith e David Ricardo, por exemplo).
Outro tipo de crítica feita por Arendt a Marx está relacionada ao aspecto do
conteúdo do trabalho. Se para Marx, o trabalho é a categoria fundante do ser social
e elemento de distinção entre os homens e outros animais, para Arendt há um
exagero radical em relação a centralidade do trabalho.
A primeira vez que o termo animal laborans aparece n'A Condição Humana é
no segundo parágrafo do segundo capítulo - Os Domínios Público e Privado. Nele,
Arendt o utiliza na tentativa de explicar que o ser humano é um animal, igual aos
demais, assim como um ser político, quando age interagindo com os demais de sua
espécie. Na medida que age por vontade própria, excluindo a ação coletiva, se
comporta como animal laborans, uma vez que a atividade desse ser (labor -
trabalho) não requer, à princípio, a presença do outro. "A atividade do trabalho não
requer a presença de outros, mas um ser que trabalhasse em completa solidão não
seria humano, e sim um animal laborans no sentido mais literal da expressão"
(ARENDT, 2016, p. 27). Assim sendo, a primeira vez que o termo é utilizado foi com
objetivo de analisar as diferenças do público e do privado, na perspectiva do coletivo
e do individual.
necessidades do seu corpo, não usa esse corpo tão livremente" (ARENDT, 2016, p.
145).
O ser humano vive em uma sociedade, que optou por consumir e devorar as
coisas por ele fabricadas. Como assinala a autora, o ser humano vive a devorar
suas casas, mobílias, carros etc. como se fossem coisas da natureza inseridas no
ciclo biológico da vida. E o resultado físico disso é o individualismo e os respectivos
problemas ambientais do lixo e da poluição.
Como ser vivo, o homem precisa realizar trabalho para nutrir o seu processo
vital. Na qualidade de um ser vivo, o ser humano é sempre um animal laborans,
individualizado nas suas necessidades e recolhido na sua privacidade, na busca da
manutenção sagrada da vida e reprodução da espécie.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente TCC teve como objetivo fazer uma análise sobre o conceito de
animal laborans na obra A Condição Humana da filósofa política Hannah Arendt,
como o propósito de verificar em que consiste esse conceito específico e qual o
papel dele dentro da crítica de Hannah Arendt à modernidade.
O conceito de animal laborans está relacionado com o ser vivo que busca
satisfazer as necessidades biológicas de sua espécie com o intuito de preservar a
vida. Para Arendt, este conceito permaneceu esquecido durante séculos e resgatá-lo
tornou-se essencial para a compreensão da crise no mundo moderno.
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REFERÊNCIAS
CORREIA, Adriano. A vitória da vida sobre a política. Revista Cult. São Paulo:
Editora Bregantini, n. 9, p. 36 - 39, 2018.
CORREIA, Adriano. Hannah Arendt. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. livro I, vol. I, 27a edição, Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. livro I, vol. II, 23a edição, Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.