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Março/2018
The Tower
Lucy Wild
Exceto eu.
Eu não era mais do que uma criança e seu captor era muito mais forte do
que eu.
Nunca a esqueci.
Nunca esqueci a noite em que a deixei cair.
O mesmo de antes.
Eu me tornei um homem.
John
O cobertor deslizou para baixo e pude ver uma figura inclinada sobre
mim, seu rosto mal estava visível na escuridão. Perdi a consciência novamente.
Mais vozes.
—Não.
Acordei de novo. Era de dia. Eu virei minha cabeça e desta vez conseguiu
fazer o meu pescoço se mover. Havia uma enfermeira ao lado da cama,
escrevendo algo em um gráfico. —Meu Deus. — Ela murmurou antes de gritar.
—Dra. Porter, entre aqui. Olhe para mim. Não tente falar. Basta ficar calmo.
Minha visão ficou turva, eu pisquei e tentei focar meus olhos. Outra
mulher estava ao lado dela. —Você pode me ouvir?
—Você está no hospital de St. Jude. Eu sou a Dra. Porter. Você consegue
lembrar o que aconteceu com você?
—Rebecca!
Eu gritei o nome dela. Ela estava ao meu lado com a mão esticada. Então
quando meus olhos se abriram, ela tinha desaparecido. Eu estava sozinho.
—Shii... — Disse uma voz. Outra enfermeira estava ao meu lado. Esta
estava sorrindo gentilmente. —Você estava tendo um pesadelo.
—Segurança!
Então alguém estava ao lado da cama. Um homem mais velho com barba
branca e olhos cansados. —Jornalistas... — Disse ele, a título de explicação. —
Vestida como uma enfermeira é novidade para mim.
—Deixa pra lá. Vai chegar a hora que irá lembrar. Agora deixe-me
explicar algumas coisas, veja se ajuda com a sua memória. Você foi encontrado
no Tamisa, um pouco depois da meia-noite há dois dias. Você estava usando
uma calça cinza e uma camiseta branca. Lembra-se de algo sobre isso?
—Não. — A voz que saiu da minha boca estava rouca. Não soava como a
minha.
—Você sofreu uma série de ferimentos. Eu vou manter isso simples para
você. Você foi baleado no ombro. Outra bala passou de raspão por sua
bochecha. Você tinha um braço quebrado, duas costelas quebradas e um
tornozelo fraturado. Você tem vários ferimentos por todo o corpo. As partes de
você que não foram machucadas ou cortadas foram queimadas, mas o pior são
suas mãos. Parece que elas ficaram em uma chama durante algum tempo. Você
pulou na água para apagar o fogo? Foi o que aconteceu? Você sabe quem atirou
em você?
—Não me lembro.
—Por quê?
—Você tem dito isso em seu sono. Isso e Rebecca. Você conhece alguma
Rebecca?
Eu não tinha esquecido nada. Foi o truque mais cruel que meu cérebro já
pregou em mim. Colocou buracos em minha memória, mas segurou o que
aconteceu. Eu sabia tudo o que tinha acontecido até o momento que eu caí no
Tâmisa. Eu nunca contaria a ninguém. Eu terei minha própria vingança quando
eu estiver bem. Se eu estou vivo é por uma razão, e essa razão tinha que ser
vingar a morte dela.
Eu estive nessa cama por um longo tempo. Semanas. Talvez meses. Cada
dia parecia um borrão indo para o próximo. Às vezes alguém abria uma janela
mais adiante no corredor. Quando estava realmente calmo e se o vento soprasse
do jeito certo, eu podia ouvir o rio. O chamado era zombador. Isso me levava
de volta ao mundo para o qual eu não queria voltar.
Eu me virei para olhar para ele. Foi a primeira vez desde que cheguei aqui
que eu consegui virar a cabeça sem sentir dor. Ele era um homem de cinquenta
e poucos anos vestindo lã, cabelos finos, barba grisalha e pele escura. Acho que
ele não é um médico.
Minha raiva desapareceu e eu tive que engolir um soluço. Era o colar dela.
Eu estendi minha mão coberta de bandagem e ele pousou o colar gentilmente
na palma da minha mão. —Fico feliz que você tenha conseguido sobreviver. —
Ele disse se levantando. —Posso te visitar novamente?
Não respondi. Eu estava olhando para o colar. Prata barato, a única coisa
que eles a deixaram manter antes de ser levada.
Bati no pai dela para conseguir a sua localização. Eu pensei que isso me
traria sorte. Ele estava tão desesperado que eu parasse que desistiu do seu único
segredo. Para quem ele a vendeu. Um endereço. Finalmente eu tinha o endereço
que eu estava esperando. Eu sabia onde ela estava. Eu sabia quem a comprou.
Então minha mente foi para outro momento. Ouvi claramente o som do
tiro enquanto eu estava caindo no rio olhando para a janela da qual eu tinha
sido jogado. Ele atirou nela. Ela estava morta. Tudo o que restava dela estava
na minha mão.
Ouvi o som do rio naquela noite depois que ele me visitou. Já não estava
me abalando tanto. A canção do movimento das ondas já não tinha mais tanto
impacto em mim. Eu não queria mais morrer. Eu queria viver. Eu queria ficar
bem. Eu queria voltar e terminar o que eu comecei. Talvez eu não tenha
conseguido salvá-la, mas eu a vingaria. Deus é minha testemunha, aqueles que
a feriram pagariam o preço mais terrível e imaginável.
Dois
Rebecca
Isso foi o mais próximo que eu estive de me salvar do meu próprio inferno
pessoal. Minha mão alcançou a dele e senti a primeira centelha de esperança em
anos quando achei que talvez esse pesadelo terminasse. Então ele foi arrancado
de mim. E eu fiquei sozinha com o demônio novamente.
As coisas que eles fizeram com ele... eu implorei para que fizessem
comigo. Ele não merecia aquilo. Ele só tentou me salvar.
Eles o deixaram ir até a suíte. Eu deveria saber pelo jeito que Sharp sorriu
quando a porta se abriu. Eu deveria ter gritado em aviso, ter dito a ele para
correr. Mas eu não sabia até que era tarde demais.
Eu tinha quinze anos. Nos últimos cinco anos eu estive nas mãos do
homem com a bebida na minha frente. Ele estava sentado na mesa com vista
para o Tâmisa. As luzes de Londres iluminavam atrás dele, mas ele estava na
escuridão, uma escuridão que só eu podia ver. Uma completa e total. Nenhuma
luz brilharia sobre uma alma tão perversa. Eu pensei que não pudesse existir
um homem mais cruel no mundo inteiro. Então conheci meu novo dono.
O cheiro no ar, além das bebidas deles, era do creme que Louis colocava
no meu tornozelo. O dano na minha pele não o incomodava há muito tempo.
Eu deveria saber que algo estava acontecendo quando ele de repente começou
a cuidar das minhas feridas. Ele parou de me bater também. Os hematomas
finalmente começaram a desaparecer. —É necessário me certificar que você
esteja em sua melhor forma. — Ele disse, encontrando novas maneiras de me
machucar, maneiras que não deixariam uma marca.
Isso foi há três semanas. A pele no meu tornozelo ainda estava curando,
embora as cicatrizes fossem ficar comigo para sempre. Pelo som da conversa
que ocorria na sala, eu era como um bônus, estava sendo vendida junto com o
apartamento, como parte do mobiliário.
—Vem com seu próprio escravo. — Disse Louis. —O que mais alguém
poderia querer?
O outro homem, aquele que ainda não tinha olhado para mim, estava
rindo. —Será que ela não vai tentar fugir?
Louis sacudiu a cabeça. —Sr. Sharp, ela esteve em minhas mãos desde que
tinha dez anos. Foi vendida por seus pais que estavam mais do que felizes em
se livrar dela.
—Cá entre nós, tenho gostos peculiares. Ela está um pouco velha demais
para mim.
Eu fiz uma careta por dentro. Eu não queria mais ouvir. Eu tentei bloquear
a conversa e me colocar em meu esconderijo mental. Suas vozes continuavam
tentando se intrometer.
—Registro?
—Nenhum. Ela nasceu em casa. Mantive ela fora do radar. No que diz
respeito ao mundo ela é um fantasma. Ela não existe.
Eles apertaram as mãos. O novo homem, aquele que ele chamou de Sharp,
levantou-se e olhou para mim. Eu virei o rosto instintivamente para o chão. Eu
sabia, por experiência própria, que fazer contato visual era arriscar ter uma dor
imediata.
—Isso não é um leilão, Louis. Eu vim aqui para fazer uma compra direta
a um preço direto.
—E quem é ele?
—Um conhecido da recepção ligou para nos avisar que ele estava vindo
por causa dela.
—Bem, você não se importará quando eu brincar com ele então, não é
mesmo?
O som das armas que estavam sendo preparadas chegou aos meus
ouvidos. Olhei ao redor da sala enquanto os guardas se preparavam. Então eu
olhei para a tela novamente. Eu tinha escutado corretamente? Quem era aquele
na tela? A câmera estava no elevador com ele, apontando para o topo de sua
cabeça. Não consegui ver o seu rosto. Quem era? Não poderia ser John, poderia?
O elevador abriu. Outra câmera o observava se afastando, sua forma
andando pelo corredor. Então, uma única batida. Louis acenou com a cabeça
para o homem à porta. Ele abriu.
—Receio que eu não possa tomar essa decisão. Ela pertence ao Sr. Sharp
agora. O que diz Sr. Sharp? Deseja entregar sua nova aquisição para esse
menino corajoso?
Sharp balançou a cabeça. —Eu acho que prefiro mantê-la para mim. Você
pode ter isso, no entanto. Pense nisso como uma lembrança.
Ele caminhou até mim e puxou o meu colar. Minha única posse, a única
coisa que eu possuía. O colar que eu tinha mantido por cinco anos, ele tirou do
meu pescoço em um instante.
John pegou o colar. Ao mesmo tempo seus lábios diminuíram e ele rugiu,
balançando para o Sr. Sharp, que se abaixou cuidadosamente para fora do
caminho dele.
Dois dos guardas foram para John um segundo depois. Ele foi rápido,
curvando-se para frente e correndo em minha direção. Ele estendeu a mão e eu
a peguei, nossos dedos se separaram rapidamente quando ele foi puxado para
trás. Eu ainda podia sentir o seu toque na minha mão enquanto o agarravam,
este foi o primeiro calor que eu tive desde a minha venda.
Ele lutou novamente para se libertar, mas eles eram muito mais fortes do
que ele. — Leve-o. — Disse Louis.
—Não, façam na frente dela. — Disse Sharp. —Eu quero que ela veja isso.
— Ele atravessou o quarto e ergueu meu rosto, apertando minhas bochechas
dolorosamente. —Isso é o que acontece quando você me desafia. — Ele disse,
veneno saindo de suas palavras. —Fará bem a você se lembrar disso. Como você
o conhece? Não quer responder? — Ele se virou para um dos guardas. —Não
deixe ela desviar o olhar.
Então começou. Tentei não assistir fechando os olhos, mas os sons eram
muito altos para ignorar. Cada soco que ele levou, eu sentia como se estivesse
me atingindo com a mesma força. Senti a sua dor. Por que ele veio atrás de mim?
Por que ele fez isso? Como ele me encontrou?
Ouvi um rugido de dor e abri meus olhos para encontrar suas mãos sendo
forçadas a entrar na lareira. —Entregue o colar. — Sharp gritou.
Louis ficou surpreso. Fazia muito tempo que eu não implorava por
qualquer coisa.
John
Saí do hospital com dinheiro suficiente para uma única noite em um hotel
e um café da manhã. Eu vivia nas ruas antes de encontrá-la, não havia
necessidade de me precipitar.
O pescador foi quem me deu o dinheiro. Ele tinha me visitado uma vez
por semana durante toda a minha estadia no hospital. Adrian, ele havia dito
que esse era o nome dele. Adrian, meu único amigo. De alguma forma ele
tornou as coisas mais suportáveis, apenas conversando comigo. Os médicos
nunca tinham tempo. A polícia me disse para não desaparecer. Eles queriam
continuar me fazendo perguntas. Eu não tinha intenção de responder.
Adrian descobriu quando eu ia receber alta. Ele falou com duas das
enfermeiras. Eu tinha sido movido para um quarto uma semana antes. Senti
como se estivesse preso na UTI para sempre, mas não foram mais do que alguns
meses de acordo com uma das enfermeiras. Segurei o desejo de vingança. Foi
isso que me deu força. Eu me lembrei de dois nomes. Sr. Sharp e Louis. Eu iria
atrás deles. Ainda não sabia como, mas eu faria isso. Eu vingaria a morte dela e
mataria os dois.
Tive muito tempo para pensar enquanto eu estava me recuperando. Eu
percebi que eu tinha sido um tolo entrando naquele lugar e indo lutar com um
homem. Eu tinha sido ingênuo. Eu precisava melhorar, eu precisava me
fortalecer. Então eu precisava pensar em um plano. Ele continua morando lá?
Os tiros teriam perturbado os vizinhos?
Adrian me deu dinheiro suficiente para uma noite em algum lugar, isso
era tudo o que ele poderia me dar. Peguei seu dinheiro com gratidão. Eu deixei
o hospital um dia antes de eu receber alta. Eu sabia que a polícia estaria me
esperando. Achei melhor desaparecer. Não conseguiria me vingar se eu
acabasse em custódia.
Na manhã seguinte, levantei cedo. Eu não tinha nada para arrumar. Tudo
o que eu possuía eram as roupas que eu estava vestindo, entregues a mim por
Adrian, que não aceitou nada em troca por elas. A única coisa em minha posse
era o colar no fundo do bolso do meu jeans. Era a minha conexão com ela, o que
me impediu de atender ao chamado do rio.
Eu poderia ter passado direto. Não tinha nada a ver comigo. Um dos
homens estava puxando o pé para trás, pronto para chutar a cabeça da figura
caída.
Saí correndo, empurrando ele para trás antes do golpe pousar no homem
caído. Ele caiu sobre seu companheiro, se levantando enquanto o homem caído
fazia o mesmo. Eu dei um passo para frente com meus punhos prontos. Os dois
homens olharam para nós, notando que as probabilidades não estavam mais
tão a seu favor. Sem outra palavra eles se viraram e correram, nos deixando em
paz.
—Eu estou apenas velho. — Ele disse. —Mas eu poderia ter uma bebida
agora. E quanto a você?
Cinco minutos depois estávamos sentamos no bar de uma boate vazia. Ele
tinha derramado dois copos generosos de vodca, passando um para mim antes
de beber o outro. —Qual é o seu nome? — Ele perguntou.
—Como assim?
Ele ficou em silêncio por um minuto. —Com o que você trabalha John?
—Fazendo o quê?
—O que você fez esta noite. Prestando atenção nas coisas. Aqui, pegue
meu cartão e pense nisso. Você me fez um favor, John. Eu aprecio isso. — Ele
ergueu o copo. —Pelos nossos caminhos terem se cruzado.
John
—Você vai amar. Todos os haggis que você poder comer estão lá.
—Quanto?
—Como?
—O salário. Quanto?
—Vodca. — Respondi.
—Não para mim. Mas tenho que perguntar a todos. Regras da empresa.
—Não posso fazer isso. — Respondi a ela, mostrando minha mão com
cicatrizes de queimaduras.
—Não há impressão digital como ele havia me dito, não tinha conseguido
entender o que ele queria dizer, mas aqui está. Perdoe-me, mas posso perguntar
como aconteceu?
—Fogo.
—Entendo. Bem, isso faz sentido. Aqui está o seu cartão. Nós já o
carregamos com $1.000 que deverão ajudá-lo durante o primeiro mês. Incluí
duzentos em dinheiro, considere um presente de boas-vindas. Ele também é
uma I.D e tudo o que você pode precisar para o trabalho.
Frank Delaney. Cinquenta e três anos. Velho o suficiente para ter medo
quando alguém como eu empurrar uma faca em seu rosto. Essa era a maneira
que devia ser feito. Rápido. Diga a ele para aceitar a oferta então vá embora,
antes dele ter uma chance de olhar em seu rosto.
Ele pousou o primeiro soco no meu maxilar. Quando ele bateu, ele riu e
isso veio até mim. Isso me lembrou de Rebecca, do jeito que eles riram quando
eu tentei salvá-la. A risada se repetiu na minha cabeça e senti o aperto do meu
punho. Eu vi sua sombra enquanto ele se aproximava. Eu balancei meu punho
e o peguei de surpresa.
Ele deu um único golpe com a faca nas minhas costas, mas então ele estava
caído e eu o segurei com força. —Aceite a oferta. — Eu disse quando puxei para
trás e o chutei de novo.
Wes olhou para o casal com quem estava falando e seu sorriso
desapareceu. —Com licença, um momento por favor. — Disse ele, atravessando
o caminho em segundos. Ele colocou os braços ao redor do meu ombro e disse
alto. —Por favor, saia senhor.
Uma vez que passamos pelas portas, ele me empurrou pela esquina para
um beco. —Você vai ter que aprender a ser um pouco mais sutil. — Disse ele
me olhando. —Acho que você terminou.
Eu acenei com a cabeça, olhando para cima para ver um dos funcionários
do banco de pé na esquina olhando para nós.
—E o meu dinheiro?
Rebecca
Depois da conversa, ele nunca mais mencionou John para mim, mas ouvi
o nome dele uma vez quando Sharp estava no telefone. Ele recebeu uma ligação
enquanto estava no meio de me chicotear. Normalmente eu seria empurrada
para outra sala enquanto ele falava com o povo dele, mas ele passou dez
minutos me amarrando na cama com nós elaborados, prendendo o meu pescoço
e dificultando a minha respiração, isso parecia excitá-lo. Quando o telefone
tocou, ele olhou para mim e depois disse. —Não vá a lugar nenhum.
Ouvindo a outra pessoa, ele se moveu, passando pela sala até que ele
começou a gritar. —Não me importo com isso. Lide com ele, e faça isso
rapidamente. Use uma câmera, eu quero ver. E faça-me um favor, faça ele
sofrer.
Seis
John
William Adams. Era o que dizia no cartão. Eu nem tinha certeza do por
que eu estava indo vê-lo. O dinheiro estaria na minha conta até o final do dia.
Eu poderia retirá-lo com o cartão, voltar para Londres, encontrar uma arma
adequada e em seguida rastrear o Sr. Sharp e Louis, os dois desprezíveis.
Mas algo me dizia que eu devia ir até esse endereço. Tenho a sensação de
que talvez o dinheiro não fique na minha conta se de repente eu ficar louco.
Então eu voltaria à estaca zero. Eu tinha dinheiro suficiente para pegar um táxi,
mas eu preferi andar. Havia uma chance do táxi ter uma câmera e eu não queria
que meu rosto fosse capturado caso Delaney decidisse ir à polícia com uma
descrição de seu atacante. Eu acho que ele não faria isso, mas era melhor não
arriscar.
Estava tarde quando cheguei lá. Juniper Place, 25. Havia uma placa
indicando Juniper Place, era uma rua sem saída de casas simples. Nada especial.
Não vi nada demais, mas algo me dizia para ter cuidado. Talvez fosse o
movimento no canto do meu olho. Eu tinha acabado de virar a esquina quando
alguém saltou de trás de uma cerca com uma lâmina apontada para mim. Eu
consegui me afastar e ele cortou o ar onde meu rosto tinha estado a um segundo
atrás.
—E ele?
—Ninguém se atreve a entrar na minha rua. Não se preocupe. Agora
vamos andando.
—Doendo.
—Espere aqui. — Disse ele, me deixando. Olhei para a cozinha. Sem fotos
na geladeira e nada nas superfícies. Ele era claramente um cara arrumado.
Ele voltou com um kit de primeiros socorros. —Se mantenha firme. — Ele
disse quando começou a costurar pontos na minha mão. —Você não vai poder
usá-la por alguns dias se quiser que ela se cure.
—Imagino que você queira saber por que está aqui, certo?
—Eu estava me perguntando isso.
—Eu costumava trabalhar para Carl, eu era freelancer. Agora sou o que
você pode chamar de treinador pessoal.
—Como um personal?
—Mais ou menos, exceto que eu treino você para matar, não para obter
um tanquinho.
—Eu estou.
Olhei para a minha mão, a ferida parecia muito melhor. A pele estava
inchada e avermelhada, mas a ferida estava fechada pelos pontos. Quando eu
olhei para cima, ele estava derramando um par de bebidas. —Whisky. — Disse
ele. —É a melhor coisa depois de uma briga.
—Eu percebo as coisas. Deixe-me adivinhar. Nenhum pai. Você viveu nas
ruas por um longo tempo. Carl te viu lutando e contratou você. Você queimou
as suas mãos a mais ou menos uns seis meses. Você não tem uma arma com
você, e em uma luta direta sua mão esquerda é a mais fraca. Estou certo?
Eu o segui até a sala. Era tão estéril como a cozinha. Havia um sofá branco
e duas poltronas. Peguei uma poltrona e ele se sentou no sofá, cruzando os pés
antes de me examinar de perto. —Qual é o seu nome?
—John Ward.
Eu lhe dei a versão rápida do que aconteceu desde que eu peguei o trem.
Quando terminei, ele me deu outra bebida.
—Posso ver porque Wes enviou você. Delaney não é fácil. Você conseguiu
derrubá-lo?
Eu assenti.
—Mas você não viu o nosso amigo chegar em você esta noite?
Rebecca
Eu não disse nada, ele já estava olhando para a tela novamente, vendo
John ser socado no rosto, um soco depois do outro batendo nele. Eu não podia
olhar. Fechei os olhos, abrindo eles apenas quando Sharp disse. —Que diabos?
De repente a imagem era do céu, o homem estava caindo para trás muito
rapidamente. Um rosto apareceu acima dele e então Sharp ficou de pé dizendo.
—Merda.
Ele desligou antes de se virar para mim. Ele parecia assustado. —Coloque
seus sapatos. Estamos indo embora.
Oito
John
Ela era minha vizinha. Sua família morava no mesmo andar que eu. Eu
podia lembrar disso perfeitamente na minha cabeça. Eu abrindo minha porta,
ignorando o gemido bêbado da minha mãe e de quem estava lá com ela naquela
semana. Eu passava pela passarela de concreto. Descia alguns metros depois de
me agachar para passar pela janela quebrada. Então ao virar a esquina, na
maioria das vezes, ela estava lá, sentada sozinha, esperando por mim.
Nós criamos nossos próprios jogos. Durante cinco anos nos sentamos
juntos naquela passagem. Nós tínhamos a mesma idade. Eu só sabia que eu
tinha seis anos quando nos conhecemos porque ela me contou. Ela esteve
trancada no apartamento durante a vida toda, nunca tinha estado no térreo,
nunca esteve do lado de fora. Os serviços sociais nem sequer sabiam que ela
existia. Nós éramos pessoas esquecidas.
Nós jogávamos pequenos jogos juntos. Nós até inventamos nossa própria
linguagem de gestos. Dessa forma ninguém nos ouviria, ninguém viria
investigar o som das crianças brincando. Nós fazíamos isso sem palavras. Um
dedo para cima, hora do esconde-esconde. Um movimento do pulso, seríamos
astronautas. Foi o momento mais feliz da minha vida. Ela era a única coisa boa
na minha vida. A única coisa pura. Todo o resto era corrupto e sujo. Eu ia
dormir pensando nela, em fugir com ela. Um dia nós faríamos isso, eu disse isso
a ela. Um dia fugiríamos para algum lugar, começaríamos uma nova vida e
ninguém nos encontraria. Era um sonho, mas nos fazia sorrir. Nossos pequenos
jogos inocentes nos impediram de cair em desespero pelo que as nossas vidas
realmente eram.
Mas não durou. Nada de bom dura. Meus sonhos mudaram depois que
eu pensei sobre isso, às vezes eu acordava suando frio, como se tudo tivesse
acabado de acontecer, as imagens vivas diante dos meus olhos.
Tínhamos dez anos quando seu pai, um viciado em drogas inútil, saiu do
apartamento e sorriu para ela, mostrando seus dentes faltando. —Eu acabei de
nos fazer uma fortuna. — Disse ele, inclinando-se e beijando a sua testa. —E é
tudo graça a você, Rebecca.
Nenhum de nós sabia o que ele queria dizer, mas descobrimos no dia
seguinte. Eu tinha acordado para encontrar minha mãe caída no sofá da sala.
Eu chutei as latas vazias no chão ao lado dela e encontrei uma fatia de pizza
deixada na caixa da noite anterior. Seria o café da manhã mais decente que eu
teria em dias. Saí pela porta, esperando que Rebecca estivesse lá fora.
Ela saiu do seu apartamento quando eu saí, mas ela não estava sozinha.
Ela estava sendo puxada pela mão por um homem alto e com cabelo castanho
gorduroso. O homem deu uma olhada em mim e decidiu imediatamente que
eu não era uma ameaça, então desviou o olhar.
Rebecca murmurava algo, seus olhos brilhavam. O que eles deram a ela?
Eu conhecia esse olhar, era o mesmo que a minha mãe tinha quando tomava
uma nova dose.
Eu não sabia o que estava acontecendo, mas eu sabia que não era bom.
Corri para o homem e tentei pegar a mão de Rebecca para afastá-la dele. —
Acorde. — Implorei. —Vamos, Bex, acorde.
Ela sendo levada para longe. Nossos dedos se tocando. Minha queda da
janela. O flash do tiro. Em breve seria hora do retorno. Eles não sabiam o que
estava por vir.
Houve uma noite em que William tirou a verdade de mim. Ele nunca mais
mencionou isso e eu também não, mas ele me fez fazer um juramento. Com uma
gota de sangue em um pedaço de papel eu jurei. Ele me entregou para ler. —
Não vou buscar vingança até que William me diga que estou pronto.
—Isso não é algo que pode ser facilmente respondido. — Respondeu ele.
—Mas eu não o manterei mais do que o necessário para completar seu
treinamento. Então você poderá fazer o que quiser.
Nove
John
Perdi a noção dos dias. Eles foram todos um borrão até o dia em que tudo
mudou. Eu estava atento ao juramento que eu tinha feito a William. Eu não irei
para Londres até que ele me diga que eu estou pronto. Ele sabia sobre Rebecca.
Nós conversamos durante muito tempo na noite em que eu fiz o juramento.
—Você sabe que ele pode não viver mais lá. — Ele disse quando eu
terminei minha história.
—Você não conseguirá derrubá-lo se você não for mais rápido quando eu
fizer isso.
Um chute veio na minha direção. Peguei com a minha mão bem a tempo.
—Eu vi isso vindo. — Eu disse.
—E sobre isso?
—Correto.
—Você poderia ter mantido um teto sobre a cabeça durante esses cinco
anos em que procurava por ela. Isso não passou pela sua cabeça?
—E agora você tem quinze e ainda me deixa te irritar. Eu posso sentir que
você está com raiva. Olhe para mim. Eu estou com raiva?
—Não. — Admiti.
Eu aprendi muito naquela noite. Havia cinco deles. Apenas um veio para
mim, os outros quatro foram para William. Eles claramente não me
consideravam uma ameaça.
O homem que veio para mim estava vestido de preto, uma máscara sobre
o rosto e uma arma com um silenciador na mão. Vi ele se esconder nos arbustos
e o cano da arma apontado para mim. Eu fiz como se eu não o tivesse visto e
continuei, saltando exatamente no momento certo. O tiro foi para onde ele
pensou que eu estaria, mas ele errou. Eu já estava a meio caminho do mato.
William segurou dois deles e juntou suas cabeças. Isso deixou apenas um
homem de pé, ele olhou para nós antes de virar e correr. William pegou a arma
e apontou, disparando uma vez. O homem caiu.
William balançou a cabeça. —Eles vieram para mim, não para você
garoto.
—Veja como isso é claro. Cinco para pegar um menino de quinze anos de
idade é um exagero. Mas eles não sabem que ao entrar em Juniper Place, eles
quebraram as regras. Eu acho que vou ter que conversar com Carl.
—A polícia?
Dois dias depois William apareceu, ele estava parado no canto da sala
enquanto eu acordava do sonho de Rebecca e o carro que a levava embora.
—O quê? Como?
—Eu o matei.
—Delaney foi até lá para fechar o negócio com ele. Eles acabaram
decidindo trabalhar juntos. Decidiram começar de novo, como parceiros.
Delaney o persuadiu a amarrar as pontas soltas.
—Exatamente. Carl falou com alguém e pagou cinco dos melhores que
conseguiu para lidar com a gente. Delaney o chamou para restaurar sua honra
sendo parte da máfia ou algo assim. Mostrei a ele o erro que cometeu.
—Você está trabalhando para mim e estou trabalhando para quem possa
me pagar.
—Fazendo o quê?
John
Paris
Cheguei ao hotel antes das nove da noite. O voo tinha sido adiado, o que
reduziu o meu tempo de preparação, mas eu tinha o layout do edifício em
minha mente. Eu deveria estar dentro e fora rapidamente.
—Serviço de quarto.
O que eu tinha sido treinado a fazer era sair o mais rápido possível sem
chamar atenção. Eu já estava dois passos em direção à porta quando eu parei.
Alguma coisa chamou minha atenção.
Eu não olhei para o papel até eu estar no trem, voltando para a Inglaterra.
Não havia nenhum endereço, mas era o nome dele. Como ele conheceu esse
homem que eu matei?
Eu não sabia muito sobre o homem morto. Eu era pago por William para
realizar os trabalhos que ele me mandava. Ele era dado por outra pessoa,
alguém que eu nunca conheceria. Eu não fazia muitas perguntas. Eu só
precisava saber para onde eu estava indo e para quem eu estava indo depois.
Dez anos.
Dobrei o papel e o coloquei de volta no meu bolso, olhando pela janela e
para as luzes cintilantes. Mais um minuto e estarei no canal, voltando para casa
mais uma vez.
Dez anos.
A matança tornou mais fácil. Cada vítima me deixava mais frio. Sentia-
me estranho quando pensava sobre aquele primeiro homem que eu tinha
matado debaixo de mim nos arbustos. Eu nunca vi seu rosto, apenas aqueles
olhos dentro da máscara. Eu me senti doente depois daquela noite. Mas agora,
acabei de matar um homem no quarto de um hotel e não sentia nada.
Dez anos.
Quando cheguei, tinha tomado uma decisão. Quando fui a William, disse
a ele. Ele não pareceu surpreso.
—Eu sabia que você iria querer saber mais cedo ou mais tarde. Diga-me
por que, no entanto.
—Dizer quem nos contrata? Suponho que sim, mas devo avisá-lo, John.
Depois que for por este caminho, talvez você não consiga mais voltar.
—Que assim seja. Seu nome é George Naylor e você o encontrará no café
ao lado de The Shambles.
—Seja educado.
Fui ao café na manhã seguinte. Não havia ninguém sentado nas mesas,
mas atrás do balcão um homem estava parado secando as canecas com um pano
manchado. —Posso ajudá-lo? — Perguntou ele.
—Sou John.
—Açúcar?
—Estou bem.
Passei o pedaço de papel para ele. —Quem nos contratou para esse
trabalho?
—Eu o darei com uma condição. Não fale de mim. Você encontrou os
papéis no hotel, certo? Eu não sei o que você está querendo com isso, e eu não
me importo. Você tem segredos, tudo bem. Mas não me envolva.
—Combinado.
—Só estou fazendo isso como uma cortesia profissional para William e
para você. Você tem feito um bom trabalho para mim ao longo dos anos, melhor
do que qualquer um que eu já conheci. Então você ganhou isso, mas não pense
que significa que somos amigos. Não somos amigos, fui claro?
—Sim.
—Benjamin Hartman.
—Obrigado.
Me levantei e assenti com a cabeça antes de sair pela porta. Agora eu tinha
um nome e tempo para descobrir o que ele sabia sobre o Sr. Sharp.
Onze
Rebecca
No começo ele estava aterrorizado com o que ele tinha visto na filmagem.
Nós nos mudamos de um país para outro, nunca ficando em um lugar por mais
de um ano. Eu só sabia que estávamos indo quando já estava acontecendo. Ele
me manteve presa em cada local. Eu nunca via a casa, nunca via o país. Uma
casa, em seguida outra casa em outro lugar. O abuso era o mesmo onde quer
que eu fosse.
Ele relaxou depois de cinco anos do meu próprio inferno pessoal. Só fiquei
viva porque sabia que John estava lá fora em algum lugar. Nunca perdi a
esperança de que ele voltasse para mim. Eu duvidava que isso fosse acontecer,
Sharp era bom em cobrir seus rastros. Mas eu teria me matado sem hesitar se
não me apegasse a esperança.
Meu mundo consistia em ser escrava sexual para o monstro mais sádico
do planeta. Eu não só era sua para usar quando ele queria, mas tinha também
que fazer as tarefas mais comuns para ele. Ele parecia ter ainda mais prazer em
me dar ordens do que me foder.
Eu estremeci quando pensei na conversa que havia levado a isso. Meu pai
estava feliz, me dizendo que eu finalmente seria útil e que ele havia conseguido
uma maneira de se livrar de suas dívidas. Então Louis apareceu sorrindo para
mim, daquele jeito horrível dele.
John era a única coisa boa em minha vida e eu não fazia ideia se alguma
vez o veria novamente. Eu esperava que sim. Ele era o único que podia me
salvar. Esperei na miséria implacável que a minha vida era. Dez anos de
esperança e espera, e quando eu estava começando a desistir aconteceu algo
realmente inesperado.
John
Muitas vezes uma jaqueta fluorescente me levou onde um terno não pôde
me levar. O trabalhador a ser ignorado. Mesmo quando corria pelas grades,
ninguém olhava para o meu caminho.
—O quê?
Virei uma esquina e havia uma porta aberta. O som da TV estava mais
alto aqui. Entrei lentamente. Diante de mim um homem estava sentado olhando
as notícias e rindo alto. A notícia estava em francês. Era sobre o hotel que eu
tinha estado recentemente.
—Desfrutando do show?
O homem sacudiu a mão, seu rosto era uma mistura de pânico e confusão.
Ele tentou alcançar algo, mas eu consegui puxar sua mão antes que ele
pudesse bater no botão embaixo da mesa na frente dele. —Não se mexa. — Eu
disse. —Não vou te machucar se você me disser o que preciso saber.
—Quem?
—Eu fiz isso, Sr. Hartman. Agora, por que você queria que Dexter
morresse? — Eu disse com os dentes cerrados, e foi o suficiente para mostrar o
que estava esperando se ele não cooperasse.
—Sharp me disse que não venderia, disse que seu contador não deixaria.
Ele assentiu. —Achei que lhe enviaria uma mensagem. Incentivando ele
a mudar de opinião.
—Sim. Agora, o que é isso? Ele enviou você? Se ele não quer que eu
compre, eu não vou comprar. Não vale a pena passar por isso tudo. Diga a ele
que eu peço desculpas por Dexter. Eu sabia que não deveria ter feito isso, oh
meu Deus, o que eu fiz?
—Que menina?
—A menina que vive com ele. Ela era sua namorada ou algo assim? É por
isso que você está atrás dele, não é? Siga o meu conselho, deixe-a ir ao invés de
prender ela a você.
—Como ela é?
—Eu não sei. Cabelo loiro, olhos verdes. Peitos minúsculos. Escute,
nenhuma mulher vale a pena tanto problema.
—Você está certo, eu disse que não iria te machucar. — Puxei o gatilho. —
Nunca disse que não iria te matar.
Treze
John
—Se acalme, John. Quem está viva? Do que você está falando?
Eu joguei a prancheta para ele. —Ela está viva e está nesse endereço.
—Eu sei que você precisa, mas espere, vamos pensar sobre isso.
—Não. Ela está viva. Eu não posso acreditar que ela está viva e ficou presa
nesse inferno por dez anos e eu não fiz nada. Eu estava esperando que você me
deixasse ir e você nunca deixou, e se eu soubesse eu poderia...
—Sente-se. — Ele disse levantando a voz e apontou para uma cadeira. —
Agora.
—Eu sei que você está com raiva, mas você não pode simplesmente se
mover sem pensar. Você esqueceu tudo o que eu te ensinei?
—Você não entende. Eu pensei que ela estivesse morta, mas ela não está.
Eu não posso deixar ela lá. Eu preciso salvá-la.
—E você vai, mas essas coisas precisam ser planejadas. Lembre-se do que
aconteceu na última vez em que você tentou salvá-la. Você terminou junto com
os peixes, John.
—Sim você vai. Você vai esperar enquanto verificamos o lugar juntos.
—Não me interprete mal, eu acho que essa é uma má ideia. Você vai estar
cego lutando contra um dos maiores criminosos do país. Mas se você quiser ter
alguma chance de sobreviver, você vai precisar da minha ajuda.
—Sharp me odeia com toda a sua força. Ele manteve os seus sensores em
cima de mim durante um tempo, mas eu continuei me afastando deles. Vou
deixar ele achar que pode me pegar, isso não acontece sempre. Vou deixar que
um dos seus homens me veja em algum lugar público. Ele não poderá resistir a
esta isca. Enquanto ele estiver me perseguindo, você entra e pega ela. Agora,
vamos encontrar um plano para você entrar na casa dele, me traga o laptop.
Planejamos o dia todo. Por duas vezes ele teve que me dizer para me
concentrar, mas era impossível.
Todo esse tempo eu estava planejando uma vingança por sua memória e
ela estava viva. Eu não tenho ideia do que foi aquele disparo enquanto eu estava
caindo da janela, talvez Sharp tivesse disparado em mim em vez dela. Ela ainda
estava acorrentada? Ela se esqueceu de mim? Esse era o meu maior medo. Que
ela não se lembrasse de quem eu era.
Eu só podia esperar para descobrir, e esperar não era fácil. William passou
o layout dos alarmes pela terceira vez enquanto eu carregava e descarregava
minha arma, desesperado para me mover. Finalmente, logo após a meia-noite
ele decidiu que estávamos preparados.
—Há um café que fica aberto durante toda a noite, não muito longe dali.
— Disse ele enquanto colocava o casaco. —Vamos nos separar uma rua antes.
Espere ele sair.
Passei tanto tempo achando que ela estava morta, que era difícil me
adaptar a ideia de que ela estava viva. Eu queria segurá-la em meus braços,
dizer a ela que tudo ficaria bem, que eu nunca deixaria ninguém machucá-la
novamente. Mas eu não conseguiria fazer isso até que ele saísse por aquela
porta.
Quando ele apareceu, eu tive que resistir a vontade de correr para matá-
lo. Dez anos de treinamento mantiveram isso sob controle. Eu sabia que com
esse número de guarda-costas com ele, eu não teria chance. Eles me
derrubariam antes mesmo que eu estivesse do outro lado da rua, e nenhuma
quantidade de treinamento iria evitar isso.
Então eu fiquei quieto, mordendo o lábio com tanta força que sangrou. Ele
tinha aquele sorriso presunçoso que eu tinha visto na última vez. Ele estava um
pouco mais acima do peso e seu cabelo estava diferente, mas definitivamente
era ele.
Lá estava ela.
Ela não olhou para mim. Ela estava com muito medo. Ela tinha um olho
roxo que eu podia ver debaixo do cabelo que cobria seu rosto. Ela estava com
uma camisola. Seus braços e pernas muito magros e com muitos hematomas.
Ela parecia fraca.
—Rebecca?
Rebecca
Eu sabia que eu o amava. E eu pude ver em seus olhos como ele se sentia
sobre mim. Eram olhos cheios de calor e carinho, algo que eu nunca tinha visto
quando não estava com ele.
Do lado de fora ele me levou por um beco estreito e depois para uma rua
antes de diminuirmos para um ritmo normal. —Aonde vamos? — Perguntei.
—Vou levar você para conhecer alguém — Respondeu ele. —Um amigo
meu.
—Quem é William?
Ele explicou tudo para mim enquanto dirigia, como ele tinha sido levado
sob as asas de William Adams, como ele tinha sido treinado, como ele se tornou
o homem que era por causa dele, e agora ele estava morto. A polícia estava no
café, se tivéssemos sido encontrados lá, a probabilidade seria de que ele fosse
levado, e com isso eu ficaria sozinha novamente com o risco de ser pega a
qualquer momento. Sharp matou William, eu sabia disso sem sombra de
dúvidas.
Ele queria matar Sharp, voltar e fazê-lo pagar pelo que ele tinha feito
comigo. O convenci a fugir comigo. O que importava para mim não era a
vingança, era fugir e estar com ele. Eu me sentia mais feliz do que nunca.
Não era só porque eu estava livre. Era porque eu estava com ele.
Quinze
John
Nós nos separaríamos pela última vez de manhã. Nunca mais a deixaria
sair da minha vista. George conseguiu nos reservar bilhetes para Praga, mas o
curto prazo significava que estávamos voando separados. Eu odiava só o
pensamento de me separar dela, mas eu jurei que seria a última vez.
—Nossa nova vida. — Ela repetiu para mim como se ela não estivesse
segura do que significavam essas palavras. —Será que realmente estaremos a
salvo lá?
—Pelo menos por enquanto. George vai manter contato comigo. A menor
sugestão de um problema, seguiremos em frente. Ainda acho que você deveria
me deixar matar Sharp.
—Ainda não posso acreditar que você voltou para mim — Disse ela.
—Um pouco.
Ela era bonita, mais do que quando a vi pela última vez. Mesmo com as
contusões ela era a mulher mais bonita que eu já tinha visto. Eu fervi com fúria
ao pensar no que ele tinha feito com ela, mas me forcei a me acalmar. William
talvez não estivesse mais por perto, mas eu poderia me lembrar dele, poderia
me lembrar das lições que ele me ensinou. Deixe as emoções ir. Concentre-se no
momento.
Percebi que ela estava olhando para mim, piscando quando aquela faísca
lentamente voltava aos olhos dela. —Obrigada. — Ela disse.
Não pude resistir. Me inclinei e apertei meus lábios contra os dela, pronto
para ela se esquivar. Ela fez, mas apenas por um momento. Então ela estava me
beijando de volta.
Suas mãos estavam se movendo pelo meu peito. Ela ergueu minha camisa
e começou a sentir os músculos do meu estômago, traçando as linhas com os
dedos enquanto meu pau começou a se contrair em minha calça.
Tirando a camisola, coloquei minhas mãos nela, sentindo sua pele macia,
a acariciando enquanto ela passava a mão no meu peito. Continuamos a nos
beijar, nossos lábios unidos enquanto nossos corpos se aproximavam.
Pode ter sido o vinho que desfrutamos juntos, poderia ter sido o alívio de
finalmente ter acabado a provação e o tormento. Ou pode ter sido porque tinha
que ser. Seja qual for o motivo, sua mão estava desfazendo o botão que segurava
minha calça e eu estava me movendo em direção ao peito dela, achando seus
mamilos tensos e preparados para mim.
Sua mão fria deslizou dentro da minha calça e agarrou firmemente meu
pau. Eu gemi na boca dela, colocando minha mão na sua coxa, a movendo
levemente para cima e a encontrando molhada. Eu mergulhei um dedo nela e
então foi sua vez de gemer.
Subi na cama quando pensei que ela estava perto, empurrando um dedo
dentro dela e a beijando novamente, usando minha mão para levá-la ao
orgasmo. Olhei profundamente em seus olhos quando ela gozou, observando
sua mudança de expressão. Seu corpo tremia enquanto ela atingia o clímax, sua
boceta se contraiu em torno dos meus dedos, mas em todo o tempo ela olhou
para mim, se aproximando para me beijar quando seu prazer começou a
desaparecer.
John
O voo durou apenas duas horas, mas pareceu demorar uma eternidade.
Nossa despedida no aeroporto não foi fácil. Eu odiava me afastar dela, mas eu
pelo menos poderia dizer que seria a última vez. Desembarquei às duas da
tarde. Ela desembarcaria logo depois das seis, mas eu não queria fazer nada sem
ela. E acabei esperando lá mesmo.
Quando seu voo pousou em terra, eu estava esperando que ela passasse
pela segurança. Eu aguardava ansioso enquanto a multidão atravessava as
portas. Onde ela estava?
Caro John,
Ninguém tira coisas de mim sem consequências. Eu escutei um pouco sobre a sua
reputação, mas você claramente não conhece a minha. Eu lhe dou uma escolha. Venha
ver a sua amada na torre. Será exatamente como nos velhos tempos, ela é uma riqueza
para mim e você terá sua merda chutada longe enquanto ela assiste. Você pedirá piedade
como William, chorando como uma cadela como ele fez no final. Essa é a primeira opção.
Venha e jogue. Ou, porque eu sou um cara legal, você pode fugir de volta para o buraco
que você esteve todos esses anos. Hora de pôr um fim nisso. Aproveite Praga.
A torre. Ela estava de volta à torre. A última vez que eu estive lá, eles
ainda estavam terminando a construção. Ele voltou para lá. Sem dúvida na
mesma cobertura. Ele estava fazendo isso para me atormentar ou ele
simplesmente não se importava? De qualquer forma, ele cometeu um grande
erro. Ele pensa que pode me antagonizar para ir por ela, me derrubando antes
que eu chegue perto. Mas ele está errado. Minhas emoções não estão de volta.
Elas se foram. Este era o meu trabalho. Eu estive fazendo trabalhos como este
por anos, todos me prepararam para isso. Um sorriso vacilou em meu rosto. Eu
me olhava agora e eu não era o mesmo menino que fui com quinze anos. Sr.
Sharp desejará que eu seja aquele menino.
Ele pensa que pode tratá-la assim? Ele descobrirá o que significa tirar o
meu amor de perto de mim. Se ele a machucar, se houver um arranhão nela
quando eu chegar lá, ele sofrerá como nenhum homem jamais sofreu. Mas isso
são emoções. Preciso bloqueá-las, me concentrar no trabalho. Mas antes, preciso
encontrar George.
—Se você vai entrar lá, você precisará do que eu tenho na parte de trás.
Pegue para mim.
Havia uma mala que reconheci na cozinha. Ela tinha sido usada para
transportar coisas por William, coisas como o cartão magnético que ainda
estava no meu bolso. Eu trouxe para ele e a coloquei no chão.
—Abra.
—Quem é ele?
Coloquei ele no banco de trás do carro antes de subir e sair. Corri pelo
trânsito, chegando lá em dez minutos. Ele me deu o endereço de Ellison e me
falou sobre como usar as coisas que estavam em meus bolsos. Deslizei em um
canto quando chegamos ao hospital. Eu bati na buzina e saí do carro. —Boa
sorte. — George disse com os dentes cerrados quando eu comecei a correr.
Dezessete
John
Eu atravessei a janela antes que ela pudesse ser fechada, minha arma
estava pronta. Descarreguei até que estivesse vazia e depois me movi na direção
dos homens restantes.
—Pare agora. — Uma voz ordena, e os guardas param olhando para trás.
Eu vi o que eles viram. O Sr. Sharp estava segurando uma arma na cabeça de
Rebecca. Ela estava com os olhos arregalados de medo enquanto ele a segurava
firmemente ao redor do pescoço. —Abaixe. — Disse ele, fazendo um gesto para
a minha arma.
Dezoito
Rebecca
—Não há nenhum lugar para correr. — Sharp disse. —Uma vez que eu
atravesse esta porta, nada poderá abri-la, ela é a mais segura no mundo inteiro.
Você deveria ter se afastado, John.
Fui arrastada para trás e depois uma porta se abriu. Ao mesmo tempo,
uma porta na parede distante se abriu e mais homens correram. Havia muitos
deles. Ele nunca sobreviveria a isso. Eu desejava que ele não tivesse vindo. Não
poderia suportar o pensamento dele ser morto.
—Ele tem que estar. — Sharp diz aos homens que estão feridos e que
foram ajudados a se levantar. —Encontre-o.
—Este. — Disse o guarda mais próximo da porta. Sua voz era familiar.
Levantando a cabeça, percebi que era John. Sharp percebeu ao mesmo tempo,
tentando fechar a porta na cara dele. Quando ele fechou, John entrou, a
fechadura sendo trancada atrás dele.
—Você acha que sou estúpido. Você acha que pode entrar na minha casa,
atirar em meus homens, e eu vou apenas dar ela a você? Não, eu vou fodê-la e
você vai assistir, e quando eu terminar, vou prendê-lo para que você possa
assistir a todas as vezes que eu fizer isso com ela, pelo resto da sua vida. Agora
fique de joelhos.
Os golpes eram muito rápidos para eu acompanhar, mas uma coisa era
certa, John estava perdendo. Ele estava cambaleando, tomando um soco depois
do outro. Ele olhou atrás de Sharp e olhou para mim, e eu entendi o que ele
queria. Comecei a andar para a esquerda, tentando não ser notada.
Sharp fez uma pausa, o punho alto no ar. —Ambos sabemos que eu vou
vencer.
—Sabemos?
—Você é herói demais. Você deveria ter atirado em mim quando teve a
chance.
—Agora escute...
O som do tiro foi tão alto no espaço confinado que meus ouvidos
zumbiram. John estava dizendo algo, mas eu não conseguia ouvir. Eu atirei
novamente. Sharp pareceu surpreso, suas mãos foram para seu peito quando
um ponto escuro e úmido apareceu, espalhando-se rapidamente. Ele caiu de
joelhos com a boca aberta. Então, caiu para frente. Eu me afastei para longe dele.
John olhou em volta da sala. Eu não poderia dizer para o que. Seus olhos
estavam correndo pelas paredes e ele parecia ter detectado algo que eu não
podia ver. Ele agarrou Sharp pelo pulso, arrastando o corpo para a parede mais
distante. —O que você está fazendo? — Perguntei.