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Disponibilização: Flor de Lótus

Tradução: Flor de Lótus

Revisão Inicial: Mia Draconi

Revisão Final: Nita Oliver

Leitura Final: Flor de Liz

Verificação: Nita Oliver

Formatação: Amarílis Gérbera

Março/2018
The Tower

Lucy Wild

Há dez anos eu tentei salvá-la.

Ela era uma garota inocente presa nas garras de um monstro.

Destruída, machucada e sem nenhum amigo no mundo.

Exceto eu.

Eu não podia ignorar aqueles olhos verdes cintilantes que me imploravam


por ajuda.

Eu lutei o mais duro que consegui para salvá-la, mas eu falhei.

Eu não era mais do que uma criança e seu captor era muito mais forte do
que eu.

Eu quase morri naquela noite.

Mas isso foi há uma década.

Nunca a esqueci.
Nunca esqueci a noite em que a deixei cair.

Tenho tentado ignorar a dor desde então.

E agora o monstro está de volta.

Ela ainda é sua escrava.

O mesmo de antes.

Mas uma coisa mudou.

Eu não sou mais o menino que eu era na época.

Eu me tornei um homem.

Mais do que um homem.

Eu sou um assassino de sangue frio.

E estou prestes a entrar no covil da besta mais uma vez.

Só que desta vez eu vou salvá-la e nada vai me impedir.

*** Este é um romance sombrio que contém cenas que podem


surpreender. Você foi avisado! ***
Um

John

Eu estava afundando lentamente. Não havia motivos para lutar contra


isso. Eu falhei. O rio poderia me levar. Eu bati no fundo e deitei lá, esse seria o
fim da minha curta e miserável vida. Ela se foi. Não tinha porque continuar.

Fechei os olhos, aguardando o fim.

Mas ele não veio.

Em vez disso, uma mão apareceu agarrando o meu ombro e me puxando


para cima. Eu lutei contra isso. Eu não queria ser resgatado. Eu não queria ser
salvo. Era tarde demais, eu merecia morrer.

Tentei retirar os dedos que me seguravam, mas meu braço quebrado


impediu minha mão de se mexer. Tudo o que fiz foi me sacudir violentamente,
tentando chutar, tentando fazer o melhor que eu podia para me afastar.

Então minha cabeça estava acima da superfície. Meu corpo se rebelou


contra o meu desejo de morrer, ofegando e respirando profundamente o ar que
eu não queria nos meus pulmões. Eu queria a morte, eu procurei por isso, eu
precisava disso como eu precisava dela. E ela se foi.
A mão me puxou para o lado de um barco, havia um holofote queimando
meus olhos. Lutei uma última vez, tentando fugir, me sacudindo o suficiente
para me afastar. Eles não me deixaram ir. Uma mão me agarrou novamente e
veio junta com mais outra. Desta vez, quando eu me retorci, minha cabeça bateu
na madeira pintada ao lado do barco. Antes de perder a consciência percebi que
a madeira era verde, como os olhos dela.

Quando acordei, vi que fui colocado dentro do barco, eu tremia


incontrolavelmente. Um cobertor estava em meu rosto. Eles achavam que eu
estava morto? Respirei fundo e depois cuspi água. Ela bateu no cobertor e
gotejou de volta na minha boca. Eu tentei virar, querendo encontrar o rio
novamente, querendo o abraço das suas mãos geladas para me levar para baixo.
Não havia mais nenhum motivo para ficar neste mundo, não agora. Eu falhei
com ela.

Mãos me seguraram novamente. —Quieto. — Disse uma voz grossa. —


Não tente se mover.

O cobertor deslizou para baixo e pude ver uma figura inclinada sobre
mim, seu rosto mal estava visível na escuridão. Perdi a consciência novamente.

Vozes. Vozes falando.

—Parece uma ferida de bala.

—Mantenha pressão sobre isso. Estamos quase lá.

—O que diabos aconteceu com ele?

—Eu pensei que ele estivesse morto.


—O que é isso na mão dele?

As vozes desapareceram como uma estação de rádio que precisava de um


ajuste melhor. Ouvi uma sirene longe e depois mais nada.

Na escuridão, revivi tudo, a mão dela esticada em direção à minha,


aqueles olhos cintilando na luz da suíte e implorando para eu salvá-la. Os meus
movimentos foram abrandados, torturados, era uma agonia reviver, era como
um registro quebrado, eles me rodeavam uma e outra vez. Então a escuridão
caiu sobre mim mais uma vez. Fiquei satisfeito com isso. Uma ruptura na culpa
do meu fracasso.

Mais vozes.

—A pele está queimada.

—Não há impressões digitais?

—Não.

—Ele está voltando.

—Acho que não.

—Tente Dr. Sanchez.

—Você pode me ouvir?

Escuridão novamente. Então eu acordei, minhas pálpebras se separaram


lentamente me mostrando a escuridão de um hospital à noite. Eu pisquei,
olhando para o teto. Tentei mover minha cabeça, mas senti uma dor horrível no
meu ombro. Abri a boca para falar, mas nada saiu, minha garganta estava muito
seca. Um beep soava ao meu redor, junto com ruídos de uma conversa
silenciosa não muito longe. E então mais uma vez escuridão.

Acordei de novo. Era de dia. Eu virei minha cabeça e desta vez conseguiu
fazer o meu pescoço se mover. Havia uma enfermeira ao lado da cama,
escrevendo algo em um gráfico. —Meu Deus. — Ela murmurou antes de gritar.
—Dra. Porter, entre aqui. Olhe para mim. Não tente falar. Basta ficar calmo.

Minha visão ficou turva, eu pisquei e tentei focar meus olhos. Outra
mulher estava ao lado dela. —Você pode me ouvir?

Assenti com a cabeça, abrindo a boca para tentar responder.

—Você está no hospital de St. Jude. Eu sou a Dra. Porter. Você consegue
lembrar o que aconteceu com você?

Eu balancei a cabeça lentamente, os ossos no meu ombro latejaram, me


fazendo estremecer com uma dor horrível.

Eu me sintonizava dentro e fora enquanto ela falava sem parar. —Você


esteve fora por dois dias. Eu não vou mentir, não achamos que você voltaria.
Você perdeu muito sangue. Apenas descanse mais um pouco, vamos conversar
depois. — Ela se virou para a enfermeira abaixando a voz. Eu a ouvi dizer
morfina e a enfermeira concordou, mas depois não foquei em mais nada até eu
ver o rosto dela, a sua mão esticada para mim enquanto eu caía da janela.

—Rebecca!

Eu gritei o nome dela. Ela estava ao meu lado com a mão esticada. Então
quando meus olhos se abriram, ela tinha desaparecido. Eu estava sozinho.
—Shii... — Disse uma voz. Outra enfermeira estava ao meu lado. Esta
estava sorrindo gentilmente. —Você estava tendo um pesadelo.

Havia um pano na minha testa aliviando apenas um pouco a minha dor


de cabeça.

—Você se lembra do que aconteceu com você?

—Hey. — Outra voz chamou. —Como você entrou aqui?

A enfermeira se levantou e caminhou para a porta.

—Segurança!

Então alguém estava ao lado da cama. Um homem mais velho com barba
branca e olhos cansados. —Jornalistas... — Disse ele, a título de explicação. —
Vestida como uma enfermeira é novidade para mim.

O homem sentou ao lado da cama, inclinando-se para mim. —Fazem


qualquer coisa por uma história, e a sua história é intrigante. Olá. Meu nome é
Dr. Milton. Você pode falar?

Eu tentei. O som era fraco como eu. —Sim.

—Bom, isso é realmente bom. Qual é o seu nome? Você consegue se


lembrar?

Eu balancei minha cabeça.

—Deixa pra lá. Vai chegar a hora que irá lembrar. Agora deixe-me
explicar algumas coisas, veja se ajuda com a sua memória. Você foi encontrado
no Tamisa, um pouco depois da meia-noite há dois dias. Você estava usando
uma calça cinza e uma camiseta branca. Lembra-se de algo sobre isso?

—Não. — A voz que saiu da minha boca estava rouca. Não soava como a
minha.

—Você sofreu uma série de ferimentos. Eu vou manter isso simples para
você. Você foi baleado no ombro. Outra bala passou de raspão por sua
bochecha. Você tinha um braço quebrado, duas costelas quebradas e um
tornozelo fraturado. Você tem vários ferimentos por todo o corpo. As partes de
você que não foram machucadas ou cortadas foram queimadas, mas o pior são
suas mãos. Parece que elas ficaram em uma chama durante algum tempo. Você
pulou na água para apagar o fogo? Foi o que aconteceu? Você sabe quem atirou
em você?

—Não me lembro.

—O que é... a torre?

—Por quê?

—Você tem dito isso em seu sono. Isso e Rebecca. Você conhece alguma
Rebecca?

—Não. — Eu minto. Fechei os olhos, o deixando pensar que eu dormiria


de novo. Não podia lhe dizer a verdade.

Eu não tinha esquecido nada. Foi o truque mais cruel que meu cérebro já
pregou em mim. Colocou buracos em minha memória, mas segurou o que
aconteceu. Eu sabia tudo o que tinha acontecido até o momento que eu caí no
Tâmisa. Eu nunca contaria a ninguém. Eu terei minha própria vingança quando
eu estiver bem. Se eu estou vivo é por uma razão, e essa razão tinha que ser
vingar a morte dela.

Mantive meu silêncio ao longo de suas perguntas. Mesmo quando a


polícia apareceu para falar sobre os meus ferimentos de bala, eu não disse nada
mais do que já tinha dito antes. Que eu não conseguia me lembrar. Eles me
disseram que não tinham conseguido descobrir quem eu era. Eu poderia ajudá-
los? Não, não poderia.

Eu estive nessa cama por um longo tempo. Semanas. Talvez meses. Cada
dia parecia um borrão indo para o próximo. Às vezes alguém abria uma janela
mais adiante no corredor. Quando estava realmente calmo e se o vento soprasse
do jeito certo, eu podia ouvir o rio. O chamado era zombador. Isso me levava
de volta ao mundo para o qual eu não queria voltar.

Eu tinha um visitante. Reconheci seu rosto, mas não sabia o porquê.

—Você provavelmente não se lembra de mim. — Ele disse quando se


sentou ao lado da cama.

Eu me virei para olhar para ele. Foi a primeira vez desde que cheguei aqui
que eu consegui virar a cabeça sem sentir dor. Ele era um homem de cinquenta
e poucos anos vestindo lã, cabelos finos, barba grisalha e pele escura. Acho que
ele não é um médico.

—Fisherman. — Ele disse. —Eu te salvei no rio.


Ele entregou algo para mim. —Você tinha isso em sua mão quando eu o
puxei. Achei que tivesse caído do barco, mas eu estava limpando esta manhã e
o encontrei debaixo das redes. Achei que você gostaria de ter de volta.

Minha raiva desapareceu e eu tive que engolir um soluço. Era o colar dela.
Eu estendi minha mão coberta de bandagem e ele pousou o colar gentilmente
na palma da minha mão. —Fico feliz que você tenha conseguido sobreviver. —
Ele disse se levantando. —Posso te visitar novamente?

Não respondi. Eu estava olhando para o colar. Prata barato, a única coisa
que eles a deixaram manter antes de ser levada.

Eu envolvi meus dedos em volta do colar, ignorando a dor. Pensei nela,


naquela noite, quando tudo deu errado.

Bati no pai dela para conseguir a sua localização. Eu pensei que isso me
traria sorte. Ele estava tão desesperado que eu parasse que desistiu do seu único
segredo. Para quem ele a vendeu. Um endereço. Finalmente eu tinha o endereço
que eu estava esperando. Eu sabia onde ela estava. Eu sabia quem a comprou.

Então minha mente foi para outro momento. Ouvi claramente o som do
tiro enquanto eu estava caindo no rio olhando para a janela da qual eu tinha
sido jogado. Ele atirou nela. Ela estava morta. Tudo o que restava dela estava
na minha mão.

Ouvi o som do rio naquela noite depois que ele me visitou. Já não estava
me abalando tanto. A canção do movimento das ondas já não tinha mais tanto
impacto em mim. Eu não queria mais morrer. Eu queria viver. Eu queria ficar
bem. Eu queria voltar e terminar o que eu comecei. Talvez eu não tenha
conseguido salvá-la, mas eu a vingaria. Deus é minha testemunha, aqueles que
a feriram pagariam o preço mais terrível e imaginável.
Dois

Rebecca

Isso foi o mais próximo que eu estive de me salvar do meu próprio inferno
pessoal. Minha mão alcançou a dele e senti a primeira centelha de esperança em
anos quando achei que talvez esse pesadelo terminasse. Então ele foi arrancado
de mim. E eu fiquei sozinha com o demônio novamente.

As coisas que eles fizeram com ele... eu implorei para que fizessem
comigo. Ele não merecia aquilo. Ele só tentou me salvar.

Eles me fizeram assistir.

Eles o deixaram ir até a suíte. Eu deveria saber pelo jeito que Sharp sorriu
quando a porta se abriu. Eu deveria ter gritado em aviso, ter dito a ele para
correr. Mas eu não sabia até que era tarde demais.

Eu estava no canto da suíte, a corrente ao redor do meu tornozelo cavando


minha carne. Eu estava prestes a ser vendida mais uma vez. Era por isso que eu
estava lá. O meu novo proprietário estava negociando os termos. Eu não era
nada além de uma propriedade.

Eu tinha quinze anos. Nos últimos cinco anos eu estive nas mãos do
homem com a bebida na minha frente. Ele estava sentado na mesa com vista
para o Tâmisa. As luzes de Londres iluminavam atrás dele, mas ele estava na
escuridão, uma escuridão que só eu podia ver. Uma completa e total. Nenhuma
luz brilharia sobre uma alma tão perversa. Eu pensei que não pudesse existir
um homem mais cruel no mundo inteiro. Então conheci meu novo dono.

O cheiro no ar, além das bebidas deles, era do creme que Louis colocava
no meu tornozelo. O dano na minha pele não o incomodava há muito tempo.
Eu deveria saber que algo estava acontecendo quando ele de repente começou
a cuidar das minhas feridas. Ele parou de me bater também. Os hematomas
finalmente começaram a desaparecer. —É necessário me certificar que você
esteja em sua melhor forma. — Ele disse, encontrando novas maneiras de me
machucar, maneiras que não deixariam uma marca.

Isso foi há três semanas. A pele no meu tornozelo ainda estava curando,
embora as cicatrizes fossem ficar comigo para sempre. Pelo som da conversa
que ocorria na sala, eu era como um bônus, estava sendo vendida junto com o
apartamento, como parte do mobiliário.

—Vem com seu próprio escravo. — Disse Louis. —O que mais alguém
poderia querer?

O outro homem, aquele que ainda não tinha olhado para mim, estava
rindo. —Será que ela não vai tentar fugir?

Louis sacudiu a cabeça. —Sr. Sharp, ela esteve em minhas mãos desde que
tinha dez anos. Foi vendida por seus pais que estavam mais do que felizes em
se livrar dela.

—Você não respondeu minha pergunta.


—Qual? Se ela tentará fugir? Pode ter certeza que não.

—Poderia me dizer por que você não a leva com você?

—Cá entre nós, tenho gostos peculiares. Ela está um pouco velha demais
para mim.

Eu fiz uma careta por dentro. Eu não queria mais ouvir. Eu tentei bloquear
a conversa e me colocar em meu esconderijo mental. Suas vozes continuavam
tentando se intrometer.

—Registro?

—Nenhum. Ela nasceu em casa. Mantive ela fora do radar. No que diz
respeito ao mundo ela é um fantasma. Ela não existe.

—Você tem certeza?

—Você acha que eu a mantive tanto tempo de que forma?

—Então temos um acordo.

Eles apertaram as mãos. O novo homem, aquele que ele chamou de Sharp,
levantou-se e olhou para mim. Eu virei o rosto instintivamente para o chão. Eu
sabia, por experiência própria, que fazer contato visual era arriscar ter uma dor
imediata.

Um telefone tocou. Louis atendeu. —Entendo. Não, o envie. Isso poderá


ser divertido. — Ele desligou e olhou para mim. —Aparentemente um velho
amigo seu está aqui.
Ele ligou a TV no canto da sala. Olhei para ver uma pessoa em preto e
branco no lobby andando para os elevadores.

—Quem é esse? — Perguntou o Sr. Sharp.

—Alguém interessado em interromper nossa venda.

—Isso não é um leilão, Louis. Eu vim aqui para fazer uma compra direta
a um preço direto.

—Ele não veio comprá-la. Aparentemente, ele veio salvá-la.

—E quem é ele?

—Um conhecido da recepção ligou para nos avisar que ele estava vindo
por causa dela.

—Ele parece uma criança.

—Quem é ele? — Louis me perguntou.

Eu balancei minha cabeça. —Eu não sei.

—Bem, você não se importará quando eu brincar com ele então, não é
mesmo?

O som das armas que estavam sendo preparadas chegou aos meus
ouvidos. Olhei ao redor da sala enquanto os guardas se preparavam. Então eu
olhei para a tela novamente. Eu tinha escutado corretamente? Quem era aquele
na tela? A câmera estava no elevador com ele, apontando para o topo de sua
cabeça. Não consegui ver o seu rosto. Quem era? Não poderia ser John, poderia?
O elevador abriu. Outra câmera o observava se afastando, sua forma
andando pelo corredor. Então, uma única batida. Louis acenou com a cabeça
para o homem à porta. Ele abriu.

Eu soltei um suspiro. Eu não pude evitar. Eu reconhecia esse rosto.


Passaram-se cinco anos desde que o vi pela última vez, e ele não era mais um
garoto de dez anos. Mas então, eu também não tinha mais dez anos. Eu tinha
envelhecido muito mais do que os anos que passaram. Eu teria conhecido esse
rosto em qualquer lugar. Era meu único amigo no mundo. Como ele me
encontrou? O que ele ia fazer?

Eu saí dos meus pensamentos quando Louis chegou ao sofá e se afundou


nele balançando a cabeça. —John Ward. — Disse ele. —A recepcionista me disse
que você está aqui por causa dela.

John deu um passo em frente, seus olhos se estreitando. —Me dê ela.

Louis não parou de sorrir. —Você bebeu?

—Me dê ela agora.

—Tão corajoso. — A porta se fechou atrás de John. —Tão estúpido.

—Apenas deixe ela ir.

—Receio que eu não possa tomar essa decisão. Ela pertence ao Sr. Sharp
agora. O que diz Sr. Sharp? Deseja entregar sua nova aquisição para esse
menino corajoso?

Sharp balançou a cabeça. —Eu acho que prefiro mantê-la para mim. Você
pode ter isso, no entanto. Pense nisso como uma lembrança.
Ele caminhou até mim e puxou o meu colar. Minha única posse, a única
coisa que eu possuía. O colar que eu tinha mantido por cinco anos, ele tirou do
meu pescoço em um instante.

—Tome. — Disse Sharp, segurando-o para John. —Continue. Pegue.

John pegou o colar. Ao mesmo tempo seus lábios diminuíram e ele rugiu,
balançando para o Sr. Sharp, que se abaixou cuidadosamente para fora do
caminho dele.

Dois dos guardas foram para John um segundo depois. Ele foi rápido,
curvando-se para frente e correndo em minha direção. Ele estendeu a mão e eu
a peguei, nossos dedos se separaram rapidamente quando ele foi puxado para
trás. Eu ainda podia sentir o seu toque na minha mão enquanto o agarravam,
este foi o primeiro calor que eu tive desde a minha venda.

Ele conseguiu se libertar do seu aperto, se contorcendo de sua jaqueta e


novamente tentando me alcançar. Ele não tinha visto a corrente, ele não sabia
que era inútil tentar me segurar. Eles o apanharam antes dele dar dois passos.

Ele lutou novamente para se libertar, mas eles eram muito mais fortes do
que ele. — Leve-o. — Disse Louis.

—Não, façam na frente dela. — Disse Sharp. —Eu quero que ela veja isso.
— Ele atravessou o quarto e ergueu meu rosto, apertando minhas bochechas
dolorosamente. —Isso é o que acontece quando você me desafia. — Ele disse,
veneno saindo de suas palavras. —Fará bem a você se lembrar disso. Como você
o conhece? Não quer responder? — Ele se virou para um dos guardas. —Não
deixe ela desviar o olhar.
Então começou. Tentei não assistir fechando os olhos, mas os sons eram
muito altos para ignorar. Cada soco que ele levou, eu sentia como se estivesse
me atingindo com a mesma força. Senti a sua dor. Por que ele veio atrás de mim?
Por que ele fez isso? Como ele me encontrou?

—Entregue o colar. — Disse Sharp. —Você não merece isso. Largue!

Ouvi um rugido de dor e abri meus olhos para encontrar suas mãos sendo
forçadas a entrar na lareira. —Entregue o colar. — Sharp gritou.

—Pare. — Eu gritei. —Por favor, eu estou implorando.

Louis ficou surpreso. Fazia muito tempo que eu não implorava por
qualquer coisa.

—Veja o quanto você a aborreceu. — Disse Sharp, dando um novo soco


contra ele enquanto o cheiro de carne queimada enchia o ar. A força do golpe o
dobrou.

John estava ofegando e sibilando, as chamas ainda lambiam suas mãos.


Ele se lançou para o Sr. Sharp, sua manga queimando enquanto ele voava pelo
ar.

A camisa de Sharp foi atingida por faíscas que começaram a se espalhar


através do tecido. Ele recuou, um guarda tentava freneticamente apagar as
chamas. John correu para ele, mas antes que pudesse alcança-lo, Louis pegou
uma arma e disparou. Ele errou o primeiro tiro, bateu na janela e quebrou o
vidro, enviando um vento frio pela cobertura. Louis disparou novamente, desta
vez acertando John no ombro, enviando-o girando para trás.
Os guardas caíram sobre ele e ele cambaleou de volta. Alguém sofreu um
golpe no queixo e depois ele estava na borda do quadro da janela. O Sr. Sharp
percebeu o que estava acontecendo no momento em que um soco atingiu o
queixo de John, o mandando voando para trás no ar. —Não deixe ele fugir. —
Gritou ele.

Peguei um último vislumbre do rosto de John quando ele escorregou da


beira da janela e sumiu de vista. Sua boca estava aberta e poderia ter sido a
minha imaginação, mas pareceu ser como se ele dissesse “sente-se” quando ele
caiu.

—Não! — Chorei enquanto ele desaparecia. A esperança que havia dentro


de mim morreu naquele momento. A única pessoa que já cuidou de mim foi
embora. Eles o mataram como mataram minha inocência.

Sharp rugiu com raiva, pegando sua própria arma e disparando. Eu


estremeci, pensando que ele estava atirando em mim, mas não senti nenhuma
dor. Uma figura caiu no chão. Ele disparou contra um dos guardas. O homem
caiu no chão, parecia mais surpreso do que com dor. —Eu não tinha acabado
com ele. — Disse Sharp. — Agora saiam todos, e levem ele com vocês. — Ele
apontou para o homem caído. —Louis, você me disse que ninguém sabia sobre
ela. Deseja rever essa afirmação?

—Desculpe, Sr. Sharp. Estava certo de que...

—Não importa. Fique avisado que na transferência do dinheiro haverá


um desconto pelo valor da minha camisa queimada, do tapete arruinado e da
janela quebrada.
—Claro. — Louis assentiu, já apoiado na porta. —Aceite minhas
desculpas, não tinha ideia que ele seria tão agressivo.

—Quanto a você. — Disse Sharp, olhando para mim. —É hora de eu te


conhecer um pouco melhor.
Três

John

Saí do hospital com dinheiro suficiente para uma única noite em um hotel
e um café da manhã. Eu vivia nas ruas antes de encontrá-la, não havia
necessidade de me precipitar.

O pescador foi quem me deu o dinheiro. Ele tinha me visitado uma vez
por semana durante toda a minha estadia no hospital. Adrian, ele havia dito
que esse era o nome dele. Adrian, meu único amigo. De alguma forma ele
tornou as coisas mais suportáveis, apenas conversando comigo. Os médicos
nunca tinham tempo. A polícia me disse para não desaparecer. Eles queriam
continuar me fazendo perguntas. Eu não tinha intenção de responder.

Adrian descobriu quando eu ia receber alta. Ele falou com duas das
enfermeiras. Eu tinha sido movido para um quarto uma semana antes. Senti
como se estivesse preso na UTI para sempre, mas não foram mais do que alguns
meses de acordo com uma das enfermeiras. Segurei o desejo de vingança. Foi
isso que me deu força. Eu me lembrei de dois nomes. Sr. Sharp e Louis. Eu iria
atrás deles. Ainda não sabia como, mas eu faria isso. Eu vingaria a morte dela e
mataria os dois.
Tive muito tempo para pensar enquanto eu estava me recuperando. Eu
percebi que eu tinha sido um tolo entrando naquele lugar e indo lutar com um
homem. Eu tinha sido ingênuo. Eu precisava melhorar, eu precisava me
fortalecer. Então eu precisava pensar em um plano. Ele continua morando lá?
Os tiros teriam perturbado os vizinhos?

O lugar parecia caro. Qualquer tipo de problema teria sido silenciado, eu


não tinha dúvidas disso. Eu tinha visto o que o dinheiro poderia comprar.
Acima de tudo, ele a comprou.

Fico enjoado só de pensar no que ela tinha passado. Havia correntes em


torno de seu tornozelo como se ela fosse um animal e não uma pessoa. Ela tinha
mudado desde a última vez que eu a vi, mas aquele verde cintilante nos olhos
dela permanecia o mesmo. Mesmo depois de tudo o que tinham feito com ela,
isso permaneceu até o fim. Doía como uma adaga no coração pensar que eu
nunca mais veria aqueles olhos.

Adrian me deu dinheiro suficiente para uma noite em algum lugar, isso
era tudo o que ele poderia me dar. Peguei seu dinheiro com gratidão. Eu deixei
o hospital um dia antes de eu receber alta. Eu sabia que a polícia estaria me
esperando. Achei melhor desaparecer. Não conseguiria me vingar se eu
acabasse em custódia.

Eu escolhi um hotel pequeno e barato. Barato o suficiente para não


solicitarem um nome. Ele estava localizado no East End, em uma rua de sentido
único entre as casas simples. Perfeito para as minhas necessidades.
Me sentei no quarto e tentei pensar no meu próximo passo. No hospital,
eu passava tanto tempo pensando em vingança que não tinha parado para
considerar a melhor maneira de chegar até lá.

Primeiro, eu preciso de um emprego. Eu precisava ficar fora do radar por


um tempo, juntar algum dinheiro, de preferência o suficiente para eu comprar
uma arma. Então eu poderia começar a rastrear os dois homens.

Dinheiro primeiro. Vingança depois. Eu poderia roubar. Mas havia o risco


de ser preso, e perguntas seriam feitas se eu fosse associado ao paciente que
sumiu do hospital. É melhor eu ver se consigo encontrar um emprego em algum
lugar.

Foi difícil dormir naquela noite. Eu estava acostumado com os sons do


hospital, os sinais sonoros, as enfermeiras falando, os pacientes tossindo. Ouvir
um casal discutindo pelas paredes finas do quarto era uma experiência
diferente. Deitei com os olhos abertos olhando para o teto, pensando nela.

Na manhã seguinte, levantei cedo. Eu não tinha nada para arrumar. Tudo
o que eu possuía eram as roupas que eu estava vestindo, entregues a mim por
Adrian, que não aceitou nada em troca por elas. A única coisa em minha posse
era o colar no fundo do bolso do meu jeans. Era a minha conexão com ela, o que
me impediu de atender ao chamado do rio.

Passei o dia inteiro procurando trabalho. Os únicos lugares dispostos a


contratar um garoto de quinze anos pediam identificação. Eu não tinha
nenhuma. Tentei uma cozinha depois da outra. Certamente algum lugar
contrataria alguém capaz de fazer trabalho braçal. Mas não, eles queriam uma
I.D. Então cheguei às seis horas da noite sem nenhum emprego. Eu estava
exausto. Eu não tinha ideia de quantas milhas eu tinha caminhado pela cidade,
mas foram muitas.

Eu tinha lugares nas ruas onde eu dormia habitualmente. O mais próximo


era uma passagem subterrânea. Espremendo-me entre dois prédios, eu poderia
entrar no espaço na parte de trás e chegar a um lugar que usei regularmente.
Não era quente, mas seria seco e privado. Ninguém sabia disso.

Me dirigi nessa direção, indo para o centro da cidade. Parei em todos os


restaurantes que passei durante o meu caminho, perguntando se eles tinham
algum trabalho. Mas todas as vezes fui mandado embora.

Eu estava virando a esquina perto de King's Cross quando ouvi um


barulho à minha direita. Estava ficando escuro, mas as luzes da rua me deram
brilho suficiente para ver uma briga em andamento.

Haviam três deles. Um homem de terno estava no chão, levando a pior.


Os outros dois estavam tentando tirar a carteira dele, mas ele não estava
desistindo facilmente. Ele atacou com as mãos, absorvendo os golpes no peito
que me fizeram estremecer, lembrando-me das minhas costelas ainda se
curando.

Eu poderia ter passado direto. Não tinha nada a ver comigo. Um dos
homens estava puxando o pé para trás, pronto para chutar a cabeça da figura
caída.

Saí correndo, empurrando ele para trás antes do golpe pousar no homem
caído. Ele caiu sobre seu companheiro, se levantando enquanto o homem caído
fazia o mesmo. Eu dei um passo para frente com meus punhos prontos. Os dois
homens olharam para nós, notando que as probabilidades não estavam mais
tão a seu favor. Sem outra palavra eles se viraram e correram, nos deixando em
paz.

—Obrigado. — Disse o homem, antes de cuspir um bocado de sangue.

—Você está bem? — Perguntei enquanto ele se dirigia para a grade na


calçada e se inclinava contra ela.

—Eu estou apenas velho. — Ele disse. —Mas eu poderia ter uma bebida
agora. E quanto a você?

Eu acenei com a cabeça e ele me deu um sorriso através dos lábios


partidos, subindo os degraus em direção a uma porta de madeira sólida. —Eu
acho que está fechado. — Eu disse, olhando para o sinal de fechado no lugar.

—Sorte a nossa que eu tenho uma chave. — Ele respondeu, destrancando


a porta e a empurrando. —Vamos entrar.

Cinco minutos depois estávamos sentamos no bar de uma boate vazia. Ele
tinha derramado dois copos generosos de vodca, passando um para mim antes
de beber o outro. —Qual é o seu nome? — Ele perguntou.

—John. John Ward.

—Carl Brown. Proprietário do The Place. O que você acha?

Olhei ao meu redor. —Um pouco quieto.

—Não abrimos as terças-feiras.

—Mas você vem toda semana, certo?


—Certo. Por quê?

—Eles sabiam disso.

—Como assim?

—Aqueles dois. Eles sabiam que você estava vindo.

Ele ficou em silêncio por um minuto. —Com o que você trabalha John?

Olhando para o homem mais velho, decidi jogar. —Atualmente estou


procurando por um emprego.

—Você quer trabalhar para mim?

—Fazendo o quê?

—O que você fez esta noite. Prestando atenção nas coisas. Aqui, pegue
meu cartão e pense nisso. Você me fez um favor, John. Eu aprecio isso. — Ele
ergueu o copo. —Pelos nossos caminhos terem se cruzado.

Eu terminei minha bebida enquanto ele pegava um guardanapo e


pressionava em seu lábio que ainda não tinha parado de sangrar.

Então, a primeira fase estava completa. Eu tinha um emprego. Agora


vinha a segunda fase. Dinheiro. Então, uma arma. Então, vingança. Faça com
que eles paguem pelo que fizeram com ela. Peguei outra bebida quando me foi
oferecido. E mais outra.
Quatro

John

—Gostaria de fazer algo por mim? — Perguntou Carl.

Estávamos em seu escritório no The Place. Eu estava trabalhando para ele


há seis meses, às vezes atrás do bar, mas principalmente na porta, observando
os bêbados e ladrões da cidade.

Sentei-me em frente a ele, me perguntando por que ele me ligou.

—Depende do que seja. — Eu disse.

—Estou construindo um novo clube no Norte. Eu poderia usar alguém


por lá. Podem surgir alguns problemas enquanto estamos nos organizando.

—Você precisa de um segurança? Por que não contrata um?

—Ainda não, talvez quando abrirmos. Por enquanto eu só preciso de


alguém para manter o olho nas coisas. Não posso estar em todos os lugares ao
mesmo tempo.

—De que lugar estamos falando?

—Edimburgo. Já esteve no norte da fronteira?


—Não posso dizer que sim.

—Você vai amar. Todos os haggis que você poder comer estão lá.

—Quanto?

—Como?

—O salário. Quanto?

Ele riu. —É um sim então.

Eu estava no trem no dia seguinte. Eu tinha na carteira o meu pagamento


do mês e alguns extras para me ajudar a encontrar um lugar para ficar em
Edimburgo. No meu bolso, ao lado do colar, havia uma carta. “Endereço e
número.” Carl disse quando me entregou. “Mantenha escondido por enquanto.
Não queremos deixar a concorrência saber, não é?”

O carrinho rolava no meio do corredor, carregado de batatas fritas e latas


de cerveja. —Algo para você, amor? — Uma mulher perguntou enquanto
chegava perto de mim.

—Vodca. — Respondi.

—Está portando qualquer I.D?

—Pareço menor de idade?

—Não para mim. Mas tenho que perguntar a todos. Regras da empresa.

Eu balancei a cabeça e esperei que ela voltasse para o assento do outro


lado do corredor. Assim que seus olhos se desviaram para longe de mim, eu
lancei uma mão para o carrinho e peguei a garrafa em miniatura, a deslizando
diretamente no bolso do meu casaco. No momento em que ela olhou para trás,
eu estava olhando para a janela sem nenhuma preocupação no mundo.

Depois que ela entrou no próximo vagão, eu peguei a garrafa e


desenrosquei a tampa, derramando o conteúdo em minha boca. A The Place
tinha me dado um gosto pela vodca, isso ajudou a acalmar o desespero que
ainda espreitava dentro de mim, que sussurrava no escuro quando eu deixava
de me concentrar.

A viajem parecia durar para sempre, mas finalmente chegamos a


Edimburgo. Saí do trem e fui para a saída, parando no caminho para abrir o
envelope. No interior estava o endereço. Castle Street, 17.

Olhando o jornal, encontrei a lista de A a Z e passei por ela. Castle Street


não estava muito longe e eu chegaria em vinte minutos. Eu franzi a testa quando
cheguei. O número quinze era uma padaria e o número dezenove um
cabeleireiro. Entre eles tinha que ter o dezessete, mas não era uma casa. Era um
banco. O Banco Nacional.

Olhei para a carta novamente. Não era um número de telefone. Era um


número de conta. O que Carl estava fazendo?

Abri a porta do banco e entrei. Haviam duas pessoas esperando em uma


fila. Eu esperei atrás deles, e quando cheguei lá na frente peguei a carta. —Em
que posso ajudar? — Perguntou uma mulher.

Passei para ela a carta. —Não tenho certeza.


Ela olhou para o computador, digitando rapidamente. —Senhor Ward. —
Ela disse olhando para cima. —O seu novo cartão chegou. Se você puder
encostar o seu dedo no scanner.

—Não posso fazer isso. — Respondi a ela, mostrando minha mão com
cicatrizes de queimaduras.

—Eu vejo. — E vi aquele olhar padrão de desgosto. —Aguarde um


momento, por favor.

Ela pegou o telefone e falou calmamente. —Sente-se. — Ela disse depois


de desligar. —Alguém vai vir para vê-lo em breve.

Me sentei em uma das poltronas azuis perto da janela, ignorando as


revistas na mesa em minha frente. O que Carl estava fazendo? Essa era uma das
piadas dele? No tempo que eu estive trabalhando para ele, percebi que ele tinha
a tendência de dar às pessoas a metade dos seus planos e deixá-los resolver o
resto. Eu tinha visto o suficiente para saber que ele estava envolvido em
algumas coisas ilegais. Parte disso era padrão, adulterando bebidas e retirando
os lucros das drogas vendidas nas instalações. Mas algumas delas eram mais
silenciosas, coisas com as quais eu não estava familiarizado. Talvez isso fosse
um desses casos.

—Senhor Ward? — Disse uma voz, me fazendo olhar. Havia um homem


negro com mais de quarenta anos olhando para mim. Na mão direita havia uma
pasta de couro. —Sou o seu gerente, me chame de Wes. Me acompanhe por
favor.

O segui enquanto ele abria a porta para um pequeno escritório.


—Sente-se. — Ele disse, abrindo a porta para eu entrar. —Eu vou fechar
as persianas para termos alguma privacidade.

Ele se sentou em frente a mim, colocando a pasta na mesa. —Devo dizer


que isso é algo novo para mim. Carl disse que eu entenderia quando você
chegasse, e ele estava certo.

Eu não disse nada, esperando para descobrir o que estava acontecendo.

—Não há impressão digital como ele havia me dito, não tinha conseguido
entender o que ele queria dizer, mas aqui está. Perdoe-me, mas posso perguntar
como aconteceu?

—Fogo.

—Entendo. Bem, isso faz sentido. Aqui está o seu cartão. Nós já o
carregamos com $1.000 que deverão ajudá-lo durante o primeiro mês. Incluí
duzentos em dinheiro, considere um presente de boas-vindas. Ele também é
uma I.D e tudo o que você pode precisar para o trabalho.

—Desculpe, que trabalho exatamente?

—Está tudo na carta, Sr. Ward. Vou lhe dar um minuto.

Ele se levantou, passou pela porta e a fechou, me deixando em paz. Abri


a pasta e encontrei uma carta dirigida a mim. Eu li duas vezes.

Era claramente algum tipo de teste. Eu só esperava que estivesse fazendo


isso da maneira certa. Parecia bastante simples. Carl queria comprar um prédio
para construir sua boate. O proprietário estava barganhando, pedindo mais
dinheiro. Eu deveria ver o proprietário e persuadi-lo a vender, então voltar para
o banco e dizer a Wes que foi feito. Havia uma faca na maleta ao lado de um
passaporte em meu nome, a data de nascimento dizia que eu tinha dezenove
anos. Eu entendi a mensagem. Faça isso e mostre ser de confiança. Eu também
receberia cinco mil. Mais do que suficiente para pegar uma arma e voltar para
Londres. O que vai acontecer depois disso não importa.

A porta do escritório se abriu e o gerente olhou para mim enquanto eu


estava empacotando tudo de volta na pasta. —Tudo certo, senhor Ward?

—Sim. — Eu disse, aceitando sua mão e agitando-a firmemente. —


Obrigado por seu tempo, Wes.

Voltei a olhar para a lista de A a Z para encontrar o endereço. Eu carreguei


a pasta sob meu braço. Uma vez que cheguei na rua certa, deixei a pasta
escondida dentro de uma lixeira. Havia uma casa na minha frente. Uma luz
estava acessa no andar de baixo. Ele estava claramente em casa.

Frank Delaney. Cinquenta e três anos. Velho o suficiente para ter medo
quando alguém como eu empurrar uma faca em seu rosto. Essa era a maneira
que devia ser feito. Rápido. Diga a ele para aceitar a oferta então vá embora,
antes dele ter uma chance de olhar em seu rosto.

Eu tentei a porta da frente. Estava destrancada. Entrei tão silenciosamente


quanto pude. Mas antes de eu subir até o limiar, ele estava com suas mãos em
mim. —Então ele manda um menino fazer o trabalho de um homem. — Ele
disse, me puxando para a casa e fechando a porta.
Eu tinha a faca na minha mão, mas ele a jogou longe. Eu fui empurrado
de volta contra a parede dando meu primeiro olhar para o homem que eu vim
ameaçar. Ele era muito mais alto do que eu.

Ele pousou o primeiro soco no meu maxilar. Quando ele bateu, ele riu e
isso veio até mim. Isso me lembrou de Rebecca, do jeito que eles riram quando
eu tentei salvá-la. A risada se repetiu na minha cabeça e senti o aperto do meu
punho. Eu vi sua sombra enquanto ele se aproximava. Eu balancei meu punho
e o peguei de surpresa.

O golpe o atingiu na bochecha e sua cabeça sacudiu para os lados. Minha


mão doía, mas eu ignorei a dor. Antes que ele pudesse reagir, consegui mais
dois golpes e ele começou a cambalear. A risada tinha ido embora, mas eu ainda
podia ouvi-las na minha cabeça, a risada e Rebecca gritando “não” enquanto eu
caía da janela.

Ele me atingiu de novo, mas eu não me importava. Mesmo quando ele


agarrou a faca, eu não me importava. Eu o deixei ter uma vantagem enquanto
corri contra ele com minha cabeça para baixo. Eu o peguei no meio de sua
cintura, retirando o ar de seus pulmões.

Ele deu um único golpe com a faca nas minhas costas, mas então ele estava
caído e eu o segurei com força. —Aceite a oferta. — Eu disse quando puxei para
trás e o chutei de novo.

—Tudo bem. — Ele disse, estremecendo enquanto segurava as mãos na


frente do rosto. — Tudo bem, tudo o que quiser.
Peguei a faca no chão, limpando minha bochecha com a parte de trás da
minha mão. Eu não disse mais nada, apenas me virei, abri a porta da frente e
saí.

Peguei a maleta e fui para o banco. No meu caminho passei por um


homem no telefone que me deu um único olhar de desgosto antes de olhar para
longe. O sangue ainda estava escorrendo da minha bochecha e as pessoas se
viravam para me olhar em choque enquanto eu abria a porta.

Wes olhou para o casal com quem estava falando e seu sorriso
desapareceu. —Com licença, um momento por favor. — Disse ele, atravessando
o caminho em segundos. Ele colocou os braços ao redor do meu ombro e disse
alto. —Por favor, saia senhor.

Uma vez que passamos pelas portas, ele me empurrou pela esquina para
um beco. —Você vai ter que aprender a ser um pouco mais sutil. — Disse ele
me olhando. —Acho que você terminou.

Eu acenei com a cabeça, olhando para cima para ver um dos funcionários
do banco de pé na esquina olhando para nós.

—Vou lidar com ele. — Wes disse me passando um cartão de visita. —


Você foi muito bem, John. Delaney é osso duro de roer.

—O que é isso? — Perguntei, apontando para o cartão.

—Você vai ver. Diga a ele que eu enviei você.

—Mas quem é ele?


—Você ainda tem que ser lapidado, mas você vai aprender. Ele vai te
ensinar.

—E o meu dinheiro?

—Estará em sua conta até o final do dia. Agora mova-se.

Ele se afastou. Eu o ouvi falar com o funcionário enquanto eles voltavam


para o banco. —Ele não precisa de uma ambulância. — Ele estava dizendo. —É
apenas um machucado, isso é tudo. Ele está bem.
Cinco

Rebecca

Eu pensava em John muitas vezes, seu rosto sempre vinha em minha


cabeça, especialmente durante o pior dos abusos. Eu podia vê-lo sorrindo da
maneira que ele sorria quando costumávamos brincar. Eu flutuava para minha
cabeça e me juntava a ele, olhando para baixo, para o que estava acontecendo.
Eu assistia enquanto o Sr. Sharp fazia essas coisas horríveis para mim, ou me
fazia fazer essas coisas com ele. John tocava no meu ombro e me dizia que tudo
ficaria bem. E eu desejava acreditar nele.

Os primeiros dias foram simplesmente horríveis. Eu estive tão perto de


ser resgatada para então ver a chance ser arrancada de mim. Sharp estava
furioso, não porque John estivesse morto, mas porque ele não teve
oportunidade de interroga-lo primeiro. Ele tentou comigo, me batendo até eu
falar. Eu disse muito pouco, não importa o quanto de dor ele me infligiu. Eu
estava acostumada com a dor. Mas quando ele quebrou os meus dedos, eu disse
a ele que éramos amigos, que nos conhecemos desde que éramos crianças. —
Como ele descobriu que você estava aqui? — Ele perguntou quando eu gritei
de dor, segurando minha mão para tentar parar a dor.

—Eu não sei. — Eu solucei.


Chorei muitas vezes no início, mas não fazia diferença. Então desisti de
chorar.

Depois da conversa, ele nunca mais mencionou John para mim, mas ouvi
o nome dele uma vez quando Sharp estava no telefone. Ele recebeu uma ligação
enquanto estava no meio de me chicotear. Normalmente eu seria empurrada
para outra sala enquanto ele falava com o povo dele, mas ele passou dez
minutos me amarrando na cama com nós elaborados, prendendo o meu pescoço
e dificultando a minha respiração, isso parecia excitá-lo. Quando o telefone
tocou, ele olhou para mim e depois disse. —Não vá a lugar nenhum.

Ele respondeu um segundo depois e eu escutei atentamente, feliz por uma


pausa da dor. Eu não podia ouvir a pessoa do outro lado da linha, mas me
lembro vividamente de como eu me senti quando ouvi o nome de John ser
mencionado. —John não pode estar vivo. — Disse Sharp. —Ele caiu da maldita
janela.

Ouvindo a outra pessoa, ele se moveu, passando pela sala até que ele
começou a gritar. —Não me importo com isso. Lide com ele, e faça isso
rapidamente. Use uma câmera, eu quero ver. E faça-me um favor, faça ele
sofrer.
Seis

John

William Adams. Era o que dizia no cartão. Eu nem tinha certeza do por
que eu estava indo vê-lo. O dinheiro estaria na minha conta até o final do dia.
Eu poderia retirá-lo com o cartão, voltar para Londres, encontrar uma arma
adequada e em seguida rastrear o Sr. Sharp e Louis, os dois desprezíveis.

Mas algo me dizia que eu devia ir até esse endereço. Tenho a sensação de
que talvez o dinheiro não fique na minha conta se de repente eu ficar louco.
Então eu voltaria à estaca zero. Eu tinha dinheiro suficiente para pegar um táxi,
mas eu preferi andar. Havia uma chance do táxi ter uma câmera e eu não queria
que meu rosto fosse capturado caso Delaney decidisse ir à polícia com uma
descrição de seu atacante. Eu acho que ele não faria isso, mas era melhor não
arriscar.

Estava tarde quando cheguei lá. Juniper Place, 25. Havia uma placa
indicando Juniper Place, era uma rua sem saída de casas simples. Nada especial.

Não vi nada demais, mas algo me dizia para ter cuidado. Talvez fosse o
movimento no canto do meu olho. Eu tinha acabado de virar a esquina quando
alguém saltou de trás de uma cerca com uma lâmina apontada para mim. Eu
consegui me afastar e ele cortou o ar onde meu rosto tinha estado a um segundo
atrás.

Eu tropecei na calçada e caí. O homem com a faca voltou para mim.


Coloquei minha mão na frente para tentar detê-lo e a ponta da lâmina foi direto
através dela. Eu rugi com dor, afastando minha mão. Ele levantou o punho, o
que significa que ele veio junto com a faca, tropeçando em cima de mim.

Eu consegui dar um chute nele, mas seus punhos estavam batendo na


minha cara. Senti algo sangrando, provavelmente meu nariz, então eu estava
perdendo minha visão. Eu pisquei enquanto tentava lutar contra ele, mas eu
estava cansado demais para fazer algo útil.

Eu vi um punho borrado subindo, pronto para bater na minha cabeça e


acabar com isso. Então do nada ele desapareceu. Eu olhei para cima. Ele estava
inconsciente do meu lado a poucos metros de distância. Ao lado dele estava
outro homem vestido com um terno preto, olhando para a gente como se algo
fosse terrivelmente divertido. —Você é William Adams? — Perguntei, cuspindo
sangue enquanto me levantava lentamente.

—Quem está perguntando?

—John Ward. Wes me enviou.

—Você é o novo cara? — Ele deu um passo em minha direção, olhando a


faca ainda cravada na minha mão. —É melhor eu lidar com isso. Venha comigo.

—E ele?
—Ninguém se atreve a entrar na minha rua. Não se preocupe. Agora
vamos andando.

O segui pelo pavimento. Olhando para trás, eu vi que o homem que me


atacou começando a se mover lentamente.

—Você teve sorte que eu te encontrei. — Disse William. —Como está a


sua mão?

—Doendo.

—Está prestes a doer muito mais.

Ele abriu um portão e me guiou pelo caminho até a porta da frente.


Abrindo a porta, ele fez um sinal para que eu o seguisse.

Um minuto depois eu estava sentado na cozinha enquanto ele lentamente


tirava a faca da minha mão. Eu estremeci, mas consegui não chorar apesar da
dor estar me deixando tonto. Eu gritei quando ele derramou o antisséptico na
ferida.

—Espere aqui. — Disse ele, me deixando. Olhei para a cozinha. Sem fotos
na geladeira e nada nas superfícies. Ele era claramente um cara arrumado.

Ele voltou com um kit de primeiros socorros. —Se mantenha firme. — Ele
disse quando começou a costurar pontos na minha mão. —Você não vai poder
usá-la por alguns dias se quiser que ela se cure.

—Por mim tudo bem.

—Imagino que você queira saber por que está aqui, certo?
—Eu estava me perguntando isso.

—Eu costumava trabalhar para Carl, eu era freelancer. Agora sou o que
você pode chamar de treinador pessoal.

—Como um personal?

—Mais ou menos, exceto que eu treino você para matar, não para obter
um tanquinho.

—Você treina pessoas para matar?

—Você parece surpreso.

—Eu estou.

—Pronto, como está?

Olhei para a minha mão, a ferida parecia muito melhor. A pele estava
inchada e avermelhada, mas a ferida estava fechada pelos pontos. Quando eu
olhei para cima, ele estava derramando um par de bebidas. —Whisky. — Disse
ele. —É a melhor coisa depois de uma briga.

—Eu prefiro vodca.

Ele riu. —Quantos anos você tem? Quinze?

—Como você sabe?

—Eu percebo as coisas. Deixe-me adivinhar. Nenhum pai. Você viveu nas
ruas por um longo tempo. Carl te viu lutando e contratou você. Você queimou
as suas mãos a mais ou menos uns seis meses. Você não tem uma arma com
você, e em uma luta direta sua mão esquerda é a mais fraca. Estou certo?

—Na maior parte sim. Como diabos você faz isso?

—Vou te mostrar com o tempo. Vamos começar devagar e nos sentar em


algum lugar mais confortável. Traga essa toalha, não quero que você sangre no
meu sofá.

Eu o segui até a sala. Era tão estéril como a cozinha. Havia um sofá branco
e duas poltronas. Peguei uma poltrona e ele se sentou no sofá, cruzando os pés
antes de me examinar de perto. —Qual é o seu nome?

—John Ward.

—Por que ele enviou você para Edimburgo?

Eu lhe dei a versão rápida do que aconteceu desde que eu peguei o trem.
Quando terminei, ele me deu outra bebida.

—Posso ver porque Wes enviou você. Delaney não é fácil. Você conseguiu
derrubá-lo?

Eu assenti.

—Mas você não viu o nosso amigo chegar em você esta noite?

—Eu vi algo, mas ...

—Não foi rápido o suficiente. Não importa. Quando eu terminar com


você, não haverá um homem neste país que consiga chegar tão perto e te fazer
qualquer dano. Tudo o que você precisa fazer é concordar em trabalhar mais do
que nunca. Reconhecer que você quer fazer isso.

Pensei no Sr. Sharp deitado no chão como o homem no final da rua. —


Definitivamente eu quero. — Eu disse, minha voz tão fria como a dele.
Sete

Rebecca

Eu assisti as imagens que ele fez. A tela havia sido configurada


deliberadamente, então eu tinha que assistir. Ele me sentou no sofá e colocou a
poltrona de forma que ele pudesse olhar tanto para a tela quanto para mim. A
filmagem estava passando no seu computador e ele o havia ligado na TV para
mostrar na tela grande. Começou com nada além de folhas. —Está escondido
atrás da cerca. — Disse Sharp. —Continue assistindo. Você verá seu amigo
morrer pela segunda vez, nem todos conseguem fazer isso. Deve ser divertido.

Senti uma profunda sensação de pavor. Eu mal tive a chance de processar


o fato de que John estava vivo. Ele havia sobrevivido à queda no rio. Eu não
tinha ideia de como ele tinha feito ou o que aconteceu desde então. Mas alguém
o encontrou e disse a Sharp, provavelmente a mesma pessoa que estava prestes
a atacá-lo quando a filmagem saiu das folhas e saltou para uma figura à
distância.

Era uma rua suburbana, apenas casas normais, nada em especial. Eu vi


John. Eu o vi por breves momentos antes do início da luta. O homem que usava
a câmera se lançou para ele com uma faca. Sharp comemorou, mas então John
deslizou para trás, tropeçando sobre a calçada e caindo. Eu suspirei quando a
faca mergulhou no meio de sua mão. —Como se sente? — Perguntou Sharp
olhando para mim. —Como se sente vendo isso?

Eu não disse nada, ele já estava olhando para a tela novamente, vendo
John ser socado no rosto, um soco depois do outro batendo nele. Eu não podia
olhar. Fechei os olhos, abrindo eles apenas quando Sharp disse. —Que diabos?

De repente a imagem era do céu, o homem estava caindo para trás muito
rapidamente. Um rosto apareceu acima dele e então Sharp ficou de pé dizendo.
—Merda.

Ele pegou o telefone um segundo depois, empurrando as coisas


rapidamente para uma estante de livros. —Ele está de volta. — Disse ele. —Não
sei como, mas ele está de volta. França provavelmente. Isso é o que vou fazer
por agora. Deixe o helicóptero pronto. Descubra exatamente onde Vinnie está e
o envie o mais rápido possível para você. Não me importo com o custo. Se ele
está de volta, todos nós estamos fodidos, ao menos que a gente lide com isso
agora. Ela? Vou levá-la comigo. Ligue-me de volta em dez minutos. Ah, e diga
a quem for que tenha cuidado. Ele abateu Vinnie em menos de um minuto.

Ele desligou antes de se virar para mim. Ele parecia assustado. —Coloque
seus sapatos. Estamos indo embora.
Oito

John

Todos os dias eram dolorosos além de qualquer coisa que eu já tenha


conhecido. William tinha avisado que ele iria me empurrar, mas eu fui dormir
todas as noites com cada músculo do meu corpo doendo. Nós corremos, nós
lutamos boxe, nós pulamos, nós nadamos. Ele me chutou de novo e de novo até
eu poder absorver os golpes sem me encolher. Ele me ensinou a como entrar em
uma sala, como me mover em silêncio, como me misturar em uma multidão.

—Lembre-me por que estamos fazendo isso. — Eu disse enquanto tentava


não vomitar depois de uma corrida de cinco quilômetros que foi mais rápida do
que qualquer outra coisa.

—Porque Carl precisa de um executor.

Era o que eu deveria me tornar. Claro, no final, as coisas seriam muito


diferentes, mas não sabia disso na época. Tudo o que eu sabia era que cada dia
eu estava me tornando mais forte, mais rápido e mais apto.

Sempre que as coisas ficavam difíceis eu pensava nela, no olhar no rosto


dela quando nossos dedos se tocaram. Bastava isso para me manter em
movimento, para me dar uma nova explosão de energia.
Dormia na sala de reposição da casa de William. No armário de cabeceira
mantive o colar dela. Era a última coisa que eu via todas as noites e a primeira
coisa que eu via todas as manhãs. Eu estava fazendo isso por ela. Eu estava
ficando mais forte para ela. Eu me vingaria por ela. Uma vez que eu me sentisse
preparado o suficiente, eu iria embora. Pegaria o trem de volta para Londres e
encontraria seus captores. Não importava o quão bem escondido eles
estivessem. Não importava onde eles estavam. Eu iria encontrá-los, eu sabia
disso, assim como o sol nasce todas as manhãs.

À noite, com meus músculos doloridos além do imaginável, dormia


profundamente. Naquele sono, muitas vezes eu sonhava com ela, as memórias
trancadas queriam se libertar de seu cativeiro e voltar a aparecer novamente.

Muitas vezes sonhei com as vezes que brincamos juntos. Eu cresci em um


prédio na parte mais pobre de Tower Hamlets. No bloco de apartamentos onde
eu morava, havia pouco para fazer. Mas eu tinha ela.

Ela era minha vizinha. Sua família morava no mesmo andar que eu. Eu
podia lembrar disso perfeitamente na minha cabeça. Eu abrindo minha porta,
ignorando o gemido bêbado da minha mãe e de quem estava lá com ela naquela
semana. Eu passava pela passarela de concreto. Descia alguns metros depois de
me agachar para passar pela janela quebrada. Então ao virar a esquina, na
maioria das vezes, ela estava lá, sentada sozinha, esperando por mim.

Nós criamos nossos próprios jogos. Durante cinco anos nos sentamos
juntos naquela passagem. Nós tínhamos a mesma idade. Eu só sabia que eu
tinha seis anos quando nos conhecemos porque ela me contou. Ela esteve
trancada no apartamento durante a vida toda, nunca tinha estado no térreo,
nunca esteve do lado de fora. Os serviços sociais nem sequer sabiam que ela
existia. Nós éramos pessoas esquecidas.

Nós jogávamos pequenos jogos juntos. Nós até inventamos nossa própria
linguagem de gestos. Dessa forma ninguém nos ouviria, ninguém viria
investigar o som das crianças brincando. Nós fazíamos isso sem palavras. Um
dedo para cima, hora do esconde-esconde. Um movimento do pulso, seríamos
astronautas. Foi o momento mais feliz da minha vida. Ela era a única coisa boa
na minha vida. A única coisa pura. Todo o resto era corrupto e sujo. Eu ia
dormir pensando nela, em fugir com ela. Um dia nós faríamos isso, eu disse isso
a ela. Um dia fugiríamos para algum lugar, começaríamos uma nova vida e
ninguém nos encontraria. Era um sonho, mas nos fazia sorrir. Nossos pequenos
jogos inocentes nos impediram de cair em desespero pelo que as nossas vidas
realmente eram.

Mas não durou. Nada de bom dura. Meus sonhos mudaram depois que
eu pensei sobre isso, às vezes eu acordava suando frio, como se tudo tivesse
acabado de acontecer, as imagens vivas diante dos meus olhos.

Tínhamos dez anos quando seu pai, um viciado em drogas inútil, saiu do
apartamento e sorriu para ela, mostrando seus dentes faltando. —Eu acabei de
nos fazer uma fortuna. — Disse ele, inclinando-se e beijando a sua testa. —E é
tudo graça a você, Rebecca.

Eu tinha mergulhado nas sombras. Fomos apanhados juntos um par de


vezes e não terminou bem. As contusões demoraram muito para desaparecer.

Nenhum de nós sabia o que ele queria dizer, mas descobrimos no dia
seguinte. Eu tinha acordado para encontrar minha mãe caída no sofá da sala.
Eu chutei as latas vazias no chão ao lado dela e encontrei uma fatia de pizza
deixada na caixa da noite anterior. Seria o café da manhã mais decente que eu
teria em dias. Saí pela porta, esperando que Rebecca estivesse lá fora.

Ela saiu do seu apartamento quando eu saí, mas ela não estava sozinha.
Ela estava sendo puxada pela mão por um homem alto e com cabelo castanho
gorduroso. O homem deu uma olhada em mim e decidiu imediatamente que
eu não era uma ameaça, então desviou o olhar.

Rebecca murmurava algo, seus olhos brilhavam. O que eles deram a ela?
Eu conhecia esse olhar, era o mesmo que a minha mãe tinha quando tomava
uma nova dose.

O pai de Rebecca estava de pé na entrada olhando para fora. —Desfrute


dela. — Disse ele, sorrindo perversamente.

—Tenho toda a intenção de fazer isso. — Respondeu o homem.

Eu não sabia o que estava acontecendo, mas eu sabia que não era bom.
Corri para o homem e tentei pegar a mão de Rebecca para afastá-la dele. —
Acorde. — Implorei. —Vamos, Bex, acorde.

O homem me pegou pelo pescoço e me jogou para trás ao longo da


passarela. —Mantenha suas mãos fora da minha propriedade. — Disse ele antes
de virar e se afastar. Eu fui correndo atrás dele, mas o pai de Rebecca deu um
soco no meu intestino e me deixou ofegante sem ar, incapaz de fazer qualquer
coisa. Ele ria enquanto fechava a porta na minha cara, o riso ecoou do homem
que se afastava com Rebecca. Tentei persegui-lo, mas caí enquanto tentava me
levantar.
Corri desesperado atrás dela. Eu os vi na escada, abrindo a porta para um
carro que esperava por eles. Cheguei a eles quando o carro partiu, me deixando
de pé gritando o nome dela.

Nesse momento eu acordei, o carro estava se afastando e me deixando


sem a minha única amiga. O único bem na minha vida tinha ido embora.

Então eu continuei treinando. Fiz tudo o que William me disse. Quando


ele decidiu que era hora de treinar artes marciais, eu assenti com a cabeça.
Quando ele me mostrou como esconder uma arma e pegá-la mais rápido do que
o meu adversário, eu o copiei. Quando ele demonstrou como usar fio para
cortar uma garganta, eu o observei, guardando na memória como fazer tudo da
maneira correta.

Ela sendo levada para longe. Nossos dedos se tocando. Minha queda da
janela. O flash do tiro. Em breve seria hora do retorno. Eles não sabiam o que
estava por vir.

Houve uma noite em que William tirou a verdade de mim. Ele nunca mais
mencionou isso e eu também não, mas ele me fez fazer um juramento. Com uma
gota de sangue em um pedaço de papel eu jurei. Ele me entregou para ler. —
Não vou buscar vingança até que William me diga que estou pronto.

—Quando isso vai acontecer? — Perguntei, devolvendo o papel a ele.

—Isso não é algo que pode ser facilmente respondido. — Respondeu ele.
—Mas eu não o manterei mais do que o necessário para completar seu
treinamento. Então você poderá fazer o que quiser.
Nove

John

Perdi a noção dos dias. Eles foram todos um borrão até o dia em que tudo
mudou. Eu estava atento ao juramento que eu tinha feito a William. Eu não irei
para Londres até que ele me diga que eu estou pronto. Ele sabia sobre Rebecca.
Nós conversamos durante muito tempo na noite em que eu fiz o juramento.

—Você sabe que ele pode não viver mais lá. — Ele disse quando eu
terminei minha história.

—Se ele não estiver lá, eu vou caçá-lo.

—Você não conseguirá derrubá-lo se você não for mais rápido quando eu
fizer isso.

Um chute veio na minha direção. Peguei com a minha mão bem a tempo.
—Eu vi isso vindo. — Eu disse.

—E sobre isso?

Eu olhei para baixo. Havia uma faca pressionando levemente o meu


estômago. —Talvez eu não tenha visto isso.
—Porque suas emoções ficaram no caminho. Me diga uma coisa, John. O
que você fez quando ela foi levada?

—Corri para longe de casa. Fui buscá-la.

—E isso te levou a ficar cinco anos nas ruas, correto?

—Correto.

—Você poderia ter mantido um teto sobre a cabeça durante esses cinco
anos em que procurava por ela. Isso não passou pela sua cabeça?

—Eu não poderia ficar em casa, não depois disso.

Ele me olhou de perto por um momento antes de falar. —Você precisa


aprender a afastar suas emoções. Olhe apenas para a situação, nada além disso.
Não deixe seus sentimentos travarem o caminho do trabalho. Se você tivesse
feito isso naquela época, você o seguiria silenciosamente, pegaria a placa do
carro e depois iria rastreá-la, talvez você tivesse recuperado ela.

—Eu tinha dez anos de idade.

—E agora você tem quinze e ainda me deixa te irritar. Eu posso sentir que
você está com raiva. Olhe para mim. Eu estou com raiva?

—Não. — Admiti.

—Eu desligo os meus sentimentos. Se você quer ter alguma chance de


vingá-la, você precisa fazer o mesmo. Agora vá se trocar, nós vamos conseguir
alguma comida.
Eles estavam nos esperando assim que saímos pela porta. Eu sabia que
algo estava errado, mas como de costume William foi mais rápido do que eu.
Assim que colocamos os pés do lado de fora ele se moveu para a direita me
dando um empurrão para a esquerda. Um tiro silencioso bateu na porta de
madeira atrás de nós. —Mova-se. — Gritou William, fazendo um sinal para eu
ir pelo lado esquerdo.

Eu aprendi muito naquela noite. Havia cinco deles. Apenas um veio para
mim, os outros quatro foram para William. Eles claramente não me
consideravam uma ameaça.

O homem que veio para mim estava vestido de preto, uma máscara sobre
o rosto e uma arma com um silenciador na mão. Vi ele se esconder nos arbustos
e o cano da arma apontado para mim. Eu fiz como se eu não o tivesse visto e
continuei, saltando exatamente no momento certo. O tiro foi para onde ele
pensou que eu estaria, mas ele errou. Eu já estava a meio caminho do mato.

Ele tentou disparar novamente, e ao fazê-lo eu rolei para frente, pegando


seus tornozelos e puxando, enviando ele para o chão. Ele tentou se levantar,
mas eu já estava nele, agarrando a sua cabeça e batendo com força no chão.
Antes que ele pudesse reagir, peguei a arma da sua mão e apontei para o peito
dele, puxando o gatilho enquanto ele tentava pegá-la. Seu aperto afrouxou no
meu pulso quando o tiro bateu no lugar.
Não fiz uma pausa para pensar sobre o que eu tinha feito. Em vez disso,
me levantei e fui até William. Os outros quatro estavam trabalhando duro nele,
mas ele conseguiu dar alguns golpes. Eu apontei a arma, mas não conseguia
disparar sem arriscar atingir ele. Um dos homens me viu olhando e virou,
correndo para mim. Disparei duas vezes e ele caiu.

William segurou dois deles e juntou suas cabeças. Isso deixou apenas um
homem de pé, ele olhou para nós antes de virar e correr. William pegou a arma
e apontou, disparando uma vez. O homem caiu.

—Imagino que o Sr. Sharp me encontrou. — Eu disse ofegante, me


apoiando em uma parede.

William balançou a cabeça. —Eles vieram para mim, não para você
garoto.

—Como você sabe?

—Veja como isso é claro. Cinco para pegar um menino de quinze anos de
idade é um exagero. Mas eles não sabem que ao entrar em Juniper Place, eles
quebraram as regras. Eu acho que vou ter que conversar com Carl.

—O que devo fazer?

—Bem, não podemos ficar aqui.

—A polícia?

—Tenho um contato que posso chamar. O problema é que eles enviaram


cinco desta vez. Da próxima vez serão dez.
—Quem enviou?

—É o que eu vou descobrir.

Chegamos no trem juntos naquela noite. Eu pensei que voltaria para


Londres com William, mas quando chegamos em Nova York, ele me disse para
sair. —Preciso que você fique aqui. — Ele disse. —Para o caso de alguma coisa
acontecer comigo. Fique em um hotel e me espere.

—Como você vai saber onde eu estou?

—Não se preocupe, eu vou encontrá-lo.

Eu não discuti. Eu aprendi a não fazê-lo. Havia claramente muita coisa


que ele não estava me dizendo, mas eu só podia esperar para descobrir o que
estava acontecendo. Peguei um quarto em uma pousada tranquila e esperei.
Não consegui tirar a imagem do homem morto da minha cabeça. Eu tinha
matado alguém. Eu era um assassino. O pensamento disso me fez ficar doente.

Dois dias depois William apareceu, ele estava parado no canto da sala
enquanto eu acordava do sonho de Rebecca e o carro que a levava embora.

—Você precisa estar mais atento. — Disse ele enquanto eu me sentava na


escuridão. —Se eu quisesse te matar, o que você faria?

Levantei o edredom para revelar a arma apontada para ele.


—Você está melhorando nisso. — Disse ele com um sorriso antes de
caminhar até a poltrona e sentar nela.

—O que aconteceu? — Perguntei, puxando a arma e sentando na cama.

—Carl está morto.

—O quê? Como?

—Eu o matei.

Eu esperei. Ele estava claramente pensando em como me contar o que


aconteceu.

—Delaney foi até lá para fechar o negócio com ele. Eles acabaram
decidindo trabalhar juntos. Decidiram começar de novo, como parceiros.
Delaney o persuadiu a amarrar as pontas soltas.

—Você quer dizer nós?

—Exatamente. Carl falou com alguém e pagou cinco dos melhores que
conseguiu para lidar com a gente. Delaney o chamou para restaurar sua honra
sendo parte da máfia ou algo assim. Mostrei a ele o erro que cometeu.

—Então, o que fazemos agora?

—Ficaremos aqui por enquanto. Vamos continuar seu treinamento.

—Mas se Carl está morto, para quem estamos trabalhando?

—Você está trabalhando para mim e estou trabalhando para quem possa
me pagar.
—Fazendo o quê?

—Fazendo o que eu costumava fazer. Matar pessoas.


Dez

John

Dez anos depois...

Paris

Cheguei ao hotel antes das nove da noite. O voo tinha sido adiado, o que
reduziu o meu tempo de preparação, mas eu tinha o layout do edifício em
minha mente. Eu deveria estar dentro e fora rapidamente.

Em cada hotel era sempre da mesma forma. Eu entrava como se estivesse


destinado a estar ali e ninguém prestava atenção em mim. Hoje não foi
diferente, eu passei direto pela recepção, seguindo até a primeira escada. De lá,
fiz o meu caminho até o quinto andar e cruzei o corredor principal onde eu
precisaria subir mais alguns lances de escada. Eu estava em um terno de
negócios padrão, me misturando perfeitamente com os outros hóspedes. Eu
precisava chegar ao nono andar. Consegui chegar lá em dois minutos. Minha
frequência cardíaca estava calma, como se eu estivesse passeando.
O quarto estava mais à esquerda, ao lado do armário da lavanderia. O
tapete abafou meus passos. Eu bati na porta e recuei, ficando invisível para o
olho mágico.

—Quem é? — Gritou uma voz do outro lado.

—Serviço de quarto.

Escutei o clique do bloqueio e então eu estava dentro. Eu empurrei a porta


e ela o atingiu no rosto. Ele cambaleou de costas, segurando o nariz que já estava
sangrando. No tempo em que ele levou para perceber o que estava acontecendo,
eu já havia examinado a sala. Não havia sons de outras pessoas, não tinha
ninguém se escondendo nos cantos. Havia uma TV no quarto. Ele estava
assistindo. Não há roupas femininas no chão. Ele estava sozinho.

—O que você quer? — Ele perguntou, o medo evidente em sua voz. —É


dinheiro? Eu tenho dinheiro. Quem te enviou? Quanto eles te pagaram?

Não respondi. Em vez disso peguei a arma do bolso e puxei o gatilho. O


trabalho estava feito. Ele caiu no chão, vermelho brotando em sua camisa.

O que eu tinha sido treinado a fazer era sair o mais rápido possível sem
chamar atenção. Eu já estava dois passos em direção à porta quando eu parei.
Alguma coisa chamou minha atenção.

Havia uma mesa perto da porta e havia pilhas de papéis.

Eu atravessei o quarto rapidamente e lá estava. Uma carta detalhando os


acordos bancários para um dos clientes do homem. A carta não me interessava.
O nome no final sim.
Eu sabia que os segundos estavam passando. A porta ainda estava aberta.
Eu estava assumindo um grande risco. Qualquer um poderia passar e me ver.
Mas não me afastei. Não consegui me mexer. Sr. Sharp. Não poderia ser uma
coincidência. Tinha que ser ele.

De repente voltei no tempo. Caindo da janela de novo. Meus dedos


escorregando dos dela.

Já se passaram dez anos. Eu era uma pessoa diferente. Eu fui treinado. Eu


era eficiente. Eu era um assassino. Saia!

Peguei o papel. Haveria tempo para olhar mais tarde. Eu atravessei a


porta e a fechei atrás de mim. Cinco minutos se passaram e eu desapareci na
multidão.

Eu não olhei para o papel até eu estar no trem, voltando para a Inglaterra.
Não havia nenhum endereço, mas era o nome dele. Como ele conheceu esse
homem que eu matei?

Se eu tivesse encontrado o papel primeiro, eu poderia ter interrogado ele,


usar a técnica amigável que William me ensinou. Muito melhor do que torturar,
faça-os pensar que você é seu companheiro, que você pode ajudá-los desde que
eles o ajudem. Mas ele estava morto. Ele não poderia me dizer nada.

Eu não sabia muito sobre o homem morto. Eu era pago por William para
realizar os trabalhos que ele me mandava. Ele era dado por outra pessoa,
alguém que eu nunca conheceria. Eu não fazia muitas perguntas. Eu só
precisava saber para onde eu estava indo e para quem eu estava indo depois.

Dez anos.
Dobrei o papel e o coloquei de volta no meu bolso, olhando pela janela e
para as luzes cintilantes. Mais um minuto e estarei no canal, voltando para casa
mais uma vez.

Dez anos.

Eu ainda estava esperando meu tiro de vingança. Eu ainda não tinha a


permissão de William para ir atrás do Sr. Sharp. Cada vez que eu mencionava,
ele me dizia para ser paciente. Às vezes eu me perguntava se isso aconteceria.
Talvez eu precisasse apenas fazer. Mas então outro trabalho aparecia e eu estava
viajando pelo mundo para realizá-lo.

Eu não era mais a pessoa que fez o juramento. Eu me tornei hábil em


afastar minhas emoções exatamente como ele queria. Eu fazia isso tão bem, que
havia momentos em que eu nem pensava na vingança. Mas não conseguia
controlar meus sonhos. Ela ainda os preenchia, pensamentos sobre ela, do
passado, do que eu perdi.

A matança tornou mais fácil. Cada vítima me deixava mais frio. Sentia-
me estranho quando pensava sobre aquele primeiro homem que eu tinha
matado debaixo de mim nos arbustos. Eu nunca vi seu rosto, apenas aqueles
olhos dentro da máscara. Eu me senti doente depois daquela noite. Mas agora,
acabei de matar um homem no quarto de um hotel e não sentia nada.

Dez anos.

Foi há tanto tempo, e no entanto passou em um piscar de olhos. Eu tinha


assistido William para aprender a trabalhar nos meus próprios casos. Ele tinha
feito um bom trabalho em me treinar. Havia mais de um milhão e meio em
minhas contas. Era mais do que alguém precisava e era tudo meu. Eu trabalhei
duro por isso. O dinheiro significava nada além de garantir que eu pudesse
pagar minhas contas. Nunca comprei lugares, sempre os aluguei. Eu tinha
números de I.Ds em nomes diferentes. Neste voo eu era Stephen Premmell.
Amanhã eu seria outra pessoa.

Quando cheguei, tinha tomado uma decisão. Quando fui a William, disse
a ele. Ele não pareceu surpreso.

—Eu sabia que você iria querer saber mais cedo ou mais tarde. Diga-me
por que, no entanto.

Mostrei-lhe o papel. —Você vai me dizer?

—Dizer quem nos contrata? Suponho que sim, mas devo avisá-lo, John.
Depois que for por este caminho, talvez você não consiga mais voltar.

—Eu preciso saber.

—Que assim seja. Seu nome é George Naylor e você o encontrará no café
ao lado de The Shambles.

—Ele está aqui em York?

—Seja educado.

Fui ao café na manhã seguinte. Não havia ninguém sentado nas mesas,
mas atrás do balcão um homem estava parado secando as canecas com um pano
manchado. —Posso ajudá-lo? — Perguntou ele.

—Estou procurando George.


—Sou eu.

—Sou John.

Seus olhos se estreitaram momentaneamente antes que o sorriso voltasse


ao seu rosto. —Sente-se. Vou fazer um pouco de chá.

Me sentei observando enquanto ele trabalhava. Ele estava no final dos


cinquenta anos, não parecia muito perigoso, era careca e usava um avental que
tinha visto dias melhores. Mas então, William me ensinou que o melhor lugar
para esconder qualquer coisa era à vista. Ele trouxe duas canecas e pegou o
assento oposto ao meu.

—Açúcar?

—Estou bem.

—O que você quer saber?

Passei o pedaço de papel para ele. —Quem nos contratou para esse
trabalho?

—Um empresário, do mesmo tipo do cavalheiro que você visitou.

—Qual é o nome dele?

—Eu o darei com uma condição. Não fale de mim. Você encontrou os
papéis no hotel, certo? Eu não sei o que você está querendo com isso, e eu não
me importo. Você tem segredos, tudo bem. Mas não me envolva.

—Combinado.
—Só estou fazendo isso como uma cortesia profissional para William e
para você. Você tem feito um bom trabalho para mim ao longo dos anos, melhor
do que qualquer um que eu já conheci. Então você ganhou isso, mas não pense
que significa que somos amigos. Não somos amigos, fui claro?

—Sim.

—Benjamin Hartman.

—Onde ele está?

—Isso você tem que descobrir.

—Obrigado.

Me levantei e assenti com a cabeça antes de sair pela porta. Agora eu tinha
um nome e tempo para descobrir o que ele sabia sobre o Sr. Sharp.
Onze

Rebecca

A França não era diferente da Inglaterra. O mesmo para os outros países


para os quais nós fomos. Foram dez anos antes de voltarmos. Quanto mais
tempo se passava, mais Sharp achava que estávamos seguros.

No começo ele estava aterrorizado com o que ele tinha visto na filmagem.
Nós nos mudamos de um país para outro, nunca ficando em um lugar por mais
de um ano. Eu só sabia que estávamos indo quando já estava acontecendo. Ele
me manteve presa em cada local. Eu nunca via a casa, nunca via o país. Uma
casa, em seguida outra casa em outro lugar. O abuso era o mesmo onde quer
que eu fosse.

Ele relaxou depois de cinco anos do meu próprio inferno pessoal. Só fiquei
viva porque sabia que John estava lá fora em algum lugar. Nunca perdi a
esperança de que ele voltasse para mim. Eu duvidava que isso fosse acontecer,
Sharp era bom em cobrir seus rastros. Mas eu teria me matado sem hesitar se
não me apegasse a esperança.

Meu mundo consistia em ser escrava sexual para o monstro mais sádico
do planeta. Eu não só era sua para usar quando ele queria, mas tinha também
que fazer as tarefas mais comuns para ele. Ele parecia ter ainda mais prazer em
me dar ordens do que me foder.

Passei muito tempo fora de mim, separando o que eu estava fazendo do


que eu era, essa era a única maneira de lidar com tudo sem chorar o dia todo e
a noite inteira.

Eu pensava em John quando eu estava sozinha, pensava na nossa infância.


Quando eu estava nas escadas e corredores com ele, eu era feliz. Em casa eu
tinha dois pais viciados em drogas que só me notavam quando eu estava em
seus caminhos, ou quando queriam me dar uma ordem. Essa era a minha vida.
Não ia a escola, não tinha nenhum amigo além de John. Eu nem conseguia
deixar o bloco de apartamentos onde vivíamos. Eu não podia fugir, eu não tinha
para onde ir. Então eles me venderam. Louis veio me buscar, John tentou detê-
lo, correndo atrás dele e foi esmagado por seus esforços.

Eu estremeci quando pensei na conversa que havia levado a isso. Meu pai
estava feliz, me dizendo que eu finalmente seria útil e que ele havia conseguido
uma maneira de se livrar de suas dívidas. Então Louis apareceu sorrindo para
mim, daquele jeito horrível dele.

John era a única coisa boa em minha vida e eu não fazia ideia se alguma
vez o veria novamente. Eu esperava que sim. Ele era o único que podia me
salvar. Esperei na miséria implacável que a minha vida era. Dez anos de
esperança e espera, e quando eu estava começando a desistir aconteceu algo
realmente inesperado.

Sharp me levou de volta para a Inglaterra.


Doze

John

Demorou uma hora de pesquisa na Internet para encontrar Benjamin


Hartman. Ele morava perto do hospital em uma casa recuada em seu próprio
terreno. Passei pelo lugar um par de vezes, passeando sem nenhum cuidado no
mundo. Os portões eram de ferro forjado com sete pés de altura e câmeras de
vigilância em ambos os lados apontadas para baixo. Havia outras câmeras ao
longo do comprimento das grades que limitavam a propriedade. Mas havia um
ponto cego na parte de trás.

Tinha apenas alguns metros de largura, mas era o suficiente. Eu dei um


passo para trás e esperei para ver se alguém tinha me notado. Eu estava com
uma jaqueta fluorescente, um cartão I.D pendurado em uma corda ao redor do
meu pescoço e uma prancheta em minha mão, o uniforme invisível.

Muitas vezes uma jaqueta fluorescente me levou onde um terno não pôde
me levar. O trabalhador a ser ignorado. Mesmo quando corria pelas grades,
ninguém olhava para o meu caminho.

Eu pouso na grama do outro lado. Levando o meu tempo, atravessei o


gramado para o lado da casa e me dirigi para a janela. Se alguém me parasse eu
diria que estava procurando um vazamento, eu até tinha a documentação para
provar isso.

Eu estava perto da janela quando alguém apareceu. Ele estava vestido


como um mordomo, mas eu poderia dizer pela sua construção que seu
uniforme era tão falso quanto o meu. Conhecia um guarda-costas quando via
um.

—Posso ajudá-lo? — Ele perguntou passando por mim e parando entre


mim e a janela.

—Sim, você pode. — Eu disse no mais grosso sotaque irlandês que eu


consegui. —Eu fui enviado aqui sem um único maldito projeto para a rua inteira
e terei que procurar por todo o gramado como se eu não tivesse nada melhor
para fazer. Você não tem o layout da tubulação, tem?

—O quê?

Mostrei a prancheta em minha mão. —Veja isso?

Ele abaixou a cabeça o suficiente para eu balançar o braço e bater com a


prancheta no pescoço dele. Ele caiu em um instante. Não estava morto, mas ele
não ia se mover durante um tempo.

Pulando a janela, eu escutei. Havia uma TV ligada em algum lugar à


esquerda. Me dirigi por ali.

Eu tinha subido para uma biblioteca com livros encadernados em couro


que se estendiam do chão ao teto. Além disso, havia também um corredor cheio
de vasos e pinturas emolduradas na parede. Uma porta se abriu e outro
“mordomo” apareceu. Antes que ele pudesse abrir a boca eu o derrubei, sem
soltar o seu pescoço até que ele estivesse dormindo como o primeiro.

Virei uma esquina e havia uma porta aberta. O som da TV estava mais
alto aqui. Entrei lentamente. Diante de mim um homem estava sentado olhando
as notícias e rindo alto. A notícia estava em francês. Era sobre o hotel que eu
tinha estado recentemente.

—Desfrutando do show?

O homem sacudiu a mão, seu rosto era uma mistura de pânico e confusão.

—Quem diabos é você? Como você chegou aqui?

Ele tentou alcançar algo, mas eu consegui puxar sua mão antes que ele
pudesse bater no botão embaixo da mesa na frente dele. —Não se mexa. — Eu
disse. —Não vou te machucar se você me disser o que preciso saber.

—Você... você é o cara? — Ele indicou com a cabeça para a TV.

—Diga-me tudo o que sabe sobre o Sr. Sharp.

—Quem?

Retirei o papel que trouxe do hotel, sacudindo em frente ao rosto dele. —


Não me teste. Posso ir embora em um minuto e não te machucar se você falar.
Me ajude.

Não havia nenhum ponto em ameaçar ele. Eu poderia dizer que já


conhecia o tipo de palhaço que ele era, e então eu teria que passar o dia inteiro
tentando descobrir o que ele poderia me entregar, mas pode ser mais rápido se
eu jogar isso da maneira certa.

—Fale comigo sobre Dexter. Por que você o queria morto?

—Não sei do que você está falando.

—Estava apenas assistindo as notícias?

—Não há lei contra isso.

—Não, mas há uma lei contra a contratação de um assassino para matar


alguém para você.

—Você não tem nenhuma prova.

—Eu fiz isso, Sr. Hartman. Agora, por que você queria que Dexter
morresse? — Eu disse com os dentes cerrados, e foi o suficiente para mostrar o
que estava esperando se ele não cooperasse.

—Eu quero comprar a cadeia de restaurantes de Sharp.

—Como isso envolve Dexter?

—Sharp me disse que não venderia, disse que seu contador não deixaria.

—E Dexter era seu contador, certo?

Ele assentiu. —Achei que lhe enviaria uma mensagem. Incentivando ele
a mudar de opinião.

—Então, você viu o Sr. Sharp recentemente?


—Algumas semanas atrás.

—Em seu lugar?

—Sim. Agora, o que é isso? Ele enviou você? Se ele não quer que eu
compre, eu não vou comprar. Não vale a pena passar por isso tudo. Diga a ele
que eu peço desculpas por Dexter. Eu sabia que não deveria ter feito isso, oh
meu Deus, o que eu fiz?

Ele me olhou à beira das lágrimas. —Não grite. — Eu disse.

—Sinto muito, desculpe.

—Você vai me dar o endereço do Sr. Sharp.

—Claro. Olhe aqui. — Ele rabiscou no papel na minha prancheta. —Ok,


estamos bem, certo?

—Estamos bem. — Eu fui para a porta.

Ele me chamou. —É sobre a menina? Porque eu posso fazer algo melhor


por você, confie em mim.

—Que menina?

—A menina que vive com ele. Ela era sua namorada ou algo assim? É por
isso que você está atrás dele, não é? Siga o meu conselho, deixe-a ir ao invés de
prender ela a você.

Voltei, meus punhos se apertando lentamente.

—Como ela é?
—Eu não sei. Cabelo loiro, olhos verdes. Peitos minúsculos. Escute,
nenhuma mulher vale a pena tanto problema.

—Ela vale. — Eu disse puxando minha arma.

—Espera, você disse que não me machucaria. Você prometeu.

—Você está certo, eu disse que não iria te machucar. — Puxei o gatilho. —
Nunca disse que não iria te matar.
Treze

John

—Ela está viva.

William levantou os olhos do seu livro, vendo os olhos selvagens no meu


rosto.

—Se acalme, John. Quem está viva? Do que você está falando?

Eu joguei a prancheta para ele. —Ela está viva e está nesse endereço.

Expliquei rapidamente o que eu descobri em minha visita a Benjamin


Hartman.

—Preciso tirar ela de lá.

—Eu sei que você precisa, mas espere, vamos pensar sobre isso.

—Não. Ela está viva. Eu não posso acreditar que ela está viva e ficou presa
nesse inferno por dez anos e eu não fiz nada. Eu estava esperando que você me
deixasse ir e você nunca deixou, e se eu soubesse eu poderia...
—Sente-se. — Ele disse levantando a voz e apontou para uma cadeira. —
Agora.

Eu sentei, batendo o meu pé com impaciência no chão.

—Eu sei que você está com raiva, mas você não pode simplesmente se
mover sem pensar. Você esqueceu tudo o que eu te ensinei?

—Você não entende. Eu pensei que ela estivesse morta, mas ela não está.
Eu não posso deixar ela lá. Eu preciso salvá-la.

—E você vai, mas essas coisas precisam ser planejadas. Lembre-se do que
aconteceu na última vez em que você tentou salvá-la. Você terminou junto com
os peixes, John.

—Eu não vou esperar.

—Sim você vai. Você vai esperar enquanto verificamos o lugar juntos.

—Você vai me ajudar?

—Não me interprete mal, eu acho que essa é uma má ideia. Você vai estar
cego lutando contra um dos maiores criminosos do país. Mas se você quiser ter
alguma chance de sobreviver, você vai precisar da minha ajuda.

—O que você tem em mente?

—Sharp me odeia com toda a sua força. Ele manteve os seus sensores em
cima de mim durante um tempo, mas eu continuei me afastando deles. Vou
deixar ele achar que pode me pegar, isso não acontece sempre. Vou deixar que
um dos seus homens me veja em algum lugar público. Ele não poderá resistir a
esta isca. Enquanto ele estiver me perseguindo, você entra e pega ela. Agora,
vamos encontrar um plano para você entrar na casa dele, me traga o laptop.

Planejamos o dia todo. Por duas vezes ele teve que me dizer para me
concentrar, mas era impossível.

Ela está viva.

Todo esse tempo eu estava planejando uma vingança por sua memória e
ela estava viva. Eu não tenho ideia do que foi aquele disparo enquanto eu estava
caindo da janela, talvez Sharp tivesse disparado em mim em vez dela. Ela ainda
estava acorrentada? Ela se esqueceu de mim? Esse era o meu maior medo. Que
ela não se lembrasse de quem eu era.

Eu só podia esperar para descobrir, e esperar não era fácil. William passou
o layout dos alarmes pela terceira vez enquanto eu carregava e descarregava
minha arma, desesperado para me mover. Finalmente, logo após a meia-noite
ele decidiu que estávamos preparados.

—Há um café que fica aberto durante toda a noite, não muito longe dali.
— Disse ele enquanto colocava o casaco. —Vamos nos separar uma rua antes.
Espere ele sair.

—Como você tem tanta certeza que isso vai funcionar?

—As pessoas são previsíveis, John, você deveria saber disso.

Vinte minutos depois saímos de um táxi e nos separamos. Ele caminhou


em direção ao café sem mais nenhuma outra palavra. Me movi silenciosamente
pelas ruas até eu estar do lado de fora do prédio em que ela estava. Era um bloco
de vidro e concreto com apartamentos de luxo. Ele estava no sétimo andar.
Esperei em frente à entrada, parado entre as sombras, olhando para as janelas.
Ela estava lá?

Passei tanto tempo achando que ela estava morta, que era difícil me
adaptar a ideia de que ela estava viva. Eu queria segurá-la em meus braços,
dizer a ela que tudo ficaria bem, que eu nunca deixaria ninguém machucá-la
novamente. Mas eu não conseguiria fazer isso até que ele saísse por aquela
porta.

Quando ele apareceu, eu tive que resistir a vontade de correr para matá-
lo. Dez anos de treinamento mantiveram isso sob controle. Eu sabia que com
esse número de guarda-costas com ele, eu não teria chance. Eles me
derrubariam antes mesmo que eu estivesse do outro lado da rua, e nenhuma
quantidade de treinamento iria evitar isso.

Então eu fiquei quieto, mordendo o lábio com tanta força que sangrou. Ele
tinha aquele sorriso presunçoso que eu tinha visto na última vez. Ele estava um
pouco mais acima do peso e seu cabelo estava diferente, mas definitivamente
era ele.

A comitiva entrou em um carro e ele entrou em outro, um homem entrou


com ele. Os veículos se afastaram da rua. Eu contei até cinco silenciosamente na
minha cabeça, para ter certeza de que eles tinham ido antes de eu fazer meu
movimento.

Era um acesso básico para o lobby. O cartão de identificação que William


me deu antes de eu ir para Paris fez seu trabalho. A porta se abriu e então eu
estava correndo pela escada.
Não havia ninguém no caminho. Era apenas um bloco de apartamentos.
Cheguei ao sétimo andar e entrei em um corredor. Havia duas portas, uma à
esquerda, que não era a dele, e uma a direita que era onde eu tinha que entrar.
Ela estava ali, eu simplesmente sabia disso.

Eu usei o cartão novamente e a porta se abriu. Contei três guardas


sentados, mas eles eram muito lentos. Atirei no primeiro antes mesmo dele
perceber que a porta estava aberta. Ele caiu no sofá, a cabeça caída para frente.
O segundo fez como se fosse gritar, mas ficou quieto um segundo depois. O
terceiro teve tempo de puxar a arma, mas não de disparar um tiro. Ele estava
de bruços no chão um segundo depois.

Eu esperei, vendo se havia mais alguém no quarto. Eu segui, abri a porta


e então parei.

Lá estava ela.

Ela não olhou para mim. Ela estava com muito medo. Ela tinha um olho
roxo que eu podia ver debaixo do cabelo que cobria seu rosto. Ela estava com
uma camisola. Seus braços e pernas muito magros e com muitos hematomas.
Ela parecia fraca.

—Rebecca?

Ela olhou para mim e eu vi aqueles olhos verdes cintilantes. A luz


desapareceu, mas ainda era ela. Ela estava viva. Era impossível acreditar. Ela
estava parada na minha frente.

—Vamos. — Eu disse, atravessando o quarto e me esticando para pegar


sua mão. —Precisamos sair daqui.
—Quem é você? — Ela perguntou com sua voz fraca.

—Você não se lembra de mim? — Coloquei a mão no bolso e retirei o


colar, segurando-o para ela.

—John? — Ela disse tirando o cabelo dos seus olhos. —É você?


Quatorze

Rebecca

Nós fugimos juntos.

Os anos desapareceram no momento em que o vi. Não podia acreditar


que fosse ele mesmo. Eu sonhava com frequência que ele viria me salvar, e ali
estava ele, me salvando. Eu tinha certeza que estava imaginando isso. Então ele
me mostrou o colar e eu sabia que era real. Ele realmente estava ali.

Eu sabia que eu o amava. E eu pude ver em seus olhos como ele se sentia
sobre mim. Eram olhos cheios de calor e carinho, algo que eu nunca tinha visto
quando não estava com ele.

—Vamos. — Ele disse, pegando minha mão e correndo para a porta.


Minha mão na dele. Parecia impossível, mas estava realmente acontecendo.
Todos aqueles anos de espera e esperança... estava finalmente acontecendo. Nós
estávamos juntos.

Do lado de fora ele me levou por um beco estreito e depois para uma rua
antes de diminuirmos para um ritmo normal. —Aonde vamos? — Perguntei.
—Vou levar você para conhecer alguém — Respondeu ele. —Um amigo
meu.

Mas quando chegamos a um café, ele parou olhando através da janela e


depois se virando para mim e disse. —Corra.

Nós corremos, me perguntei o que estava acontecendo. Só quando


estávamos dentro do seu carro a duas ruas de distância, ele se acalmou, embora
ele parecesse furioso e chateado na mesma medida. —O que foi? — Perguntei.
—Qual é o problema?

—Eles o mataram. — Ele respondeu. —Eles mataram William.

—Quem é William?

Ele explicou tudo para mim enquanto dirigia, como ele tinha sido levado
sob as asas de William Adams, como ele tinha sido treinado, como ele se tornou
o homem que era por causa dele, e agora ele estava morto. A polícia estava no
café, se tivéssemos sido encontrados lá, a probabilidade seria de que ele fosse
levado, e com isso eu ficaria sozinha novamente com o risco de ser pega a
qualquer momento. Sharp matou William, eu sabia disso sem sombra de
dúvidas.

Conversamos durante todo o tempo em que nos afastávamos da cidade.


Ele me contou tudo o que ele fez, como ele foi resgatado do rio, sua vida depois
disso, as pessoas que ele havia matado, os lugares que ele tinha estado, como
ele estava sempre esperando por uma permissão para me vingar, como seu
mentor o manteve até que ele conseguiu a informação de onde eu estava.
Da minha parte, lhe contei pouco sobre minha vida, mas o que eu disse
foi suficiente para deixá-lo furioso.

Ele queria matar Sharp, voltar e fazê-lo pagar pelo que ele tinha feito
comigo. O convenci a fugir comigo. O que importava para mim não era a
vingança, era fugir e estar com ele. Eu me sentia mais feliz do que nunca.

Não era só porque eu estava livre. Era porque eu estava com ele.
Quinze

John

Nós nos separaríamos pela última vez de manhã. Nunca mais a deixaria
sair da minha vista. George conseguiu nos reservar bilhetes para Praga, mas o
curto prazo significava que estávamos voando separados. Eu odiava só o
pensamento de me separar dela, mas eu jurei que seria a última vez.

—Estarei esperando por você quando você pousar. — Eu disse a ela


quando coloquei os bilhetes na mesa de cabeceira. —Então nós começaremos
nossa nova vida.

—Nossa nova vida. — Ela repetiu para mim como se ela não estivesse
segura do que significavam essas palavras. —Será que realmente estaremos a
salvo lá?

—Pelo menos por enquanto. George vai manter contato comigo. A menor
sugestão de um problema, seguiremos em frente. Ainda acho que você deveria
me deixar matar Sharp.

—Não. — Ela disse, balançando a cabeça. —Eu vi matanças suficientes


que irão durar por toda a minha vida.

—Mas ele a torturou.


—E se você morrer? Quem me protegerá?

Ela ganhou no final. Não conseguia discutir contra isso. Estávamos


hospedados em um hotel perto do aeroporto. Eu tinha reservado o quarto
usando um dos meus I.Ds falso, tomando todos os cuidados que eu pude para
garantir que não seríamos encontrados.

—Ainda não posso acreditar que você voltou para mim — Disse ela.

Eu a olhei. Ela estava sentada na beira da cama com os braços cruzados


em seu peito. Parecia congelada.

—Venha aqui — Eu disse, deitando na cama ao lado dela e a segurando


em meus braços. Ela se deitou sobre mim, o seu peito movendo-se lentamente
enquanto ela respirava. Eu escutei sua respiração sabendo que nunca me
cansaria disso. —Está cansada?

—Um pouco.

Eu puxei as cobertas debaixo de nós e coloquei sobre ela. Eu queria beijá-


la. Era um pensamento que nunca me ocorreu antes. Passei tanto tempo
pensando nela, primeiro sobre salvá-la e depois sobre vingá-la, que isso nunca
passou pela minha mente.

Ela era bonita, mais do que quando a vi pela última vez. Mesmo com as
contusões ela era a mulher mais bonita que eu já tinha visto. Eu fervi com fúria
ao pensar no que ele tinha feito com ela, mas me forcei a me acalmar. William
talvez não estivesse mais por perto, mas eu poderia me lembrar dele, poderia
me lembrar das lições que ele me ensinou. Deixe as emoções ir. Concentre-se no
momento.
Percebi que ela estava olhando para mim, piscando quando aquela faísca
lentamente voltava aos olhos dela. —Obrigada. — Ela disse.

Não pude resistir. Me inclinei e apertei meus lábios contra os dela, pronto
para ela se esquivar. Ela fez, mas apenas por um momento. Então ela estava me
beijando de volta.

A sensação de seus lábios suaves contra os meus trouxe um monte de


novos sentimentos para mim. Eu tinha que tocá-la. Minhas mãos deslizaram
por suas costas e então através da camisola, eu podia sentir sua bunda. A pele
era suave ao toque, me deixando duro como uma rocha.

Suas mãos estavam se movendo pelo meu peito. Ela ergueu minha camisa
e começou a sentir os músculos do meu estômago, traçando as linhas com os
dedos enquanto meu pau começou a se contrair em minha calça.

Tirando a camisola, coloquei minhas mãos nela, sentindo sua pele macia,
a acariciando enquanto ela passava a mão no meu peito. Continuamos a nos
beijar, nossos lábios unidos enquanto nossos corpos se aproximavam.

Pode ter sido o vinho que desfrutamos juntos, poderia ter sido o alívio de
finalmente ter acabado a provação e o tormento. Ou pode ter sido porque tinha
que ser. Seja qual for o motivo, sua mão estava desfazendo o botão que segurava
minha calça e eu estava me movendo em direção ao peito dela, achando seus
mamilos tensos e preparados para mim.

Sua mão fria deslizou dentro da minha calça e agarrou firmemente meu
pau. Eu gemi na boca dela, colocando minha mão na sua coxa, a movendo
levemente para cima e a encontrando molhada. Eu mergulhei um dedo nela e
então foi sua vez de gemer.

A empurrando em suas costas, tirei minha camisa enquanto ela beijava


meu peito. Nenhum de nós havia dito uma palavra, nós não precisávamos. De
alguma forma sabíamos que isso era o certo. Eu beijei suas coxas afastando suas
pernas, antes de passar a minha língua em sua fenda. Ela suspirou, segurando
a parte de trás da minha cabeça enquanto eu brincava com seu clitóris até que
ela se contorceu em minha boca.

Subi na cama quando pensei que ela estava perto, empurrando um dedo
dentro dela e a beijando novamente, usando minha mão para levá-la ao
orgasmo. Olhei profundamente em seus olhos quando ela gozou, observando
sua mudança de expressão. Seu corpo tremia enquanto ela atingia o clímax, sua
boceta se contraiu em torno dos meus dedos, mas em todo o tempo ela olhou
para mim, se aproximando para me beijar quando seu prazer começou a
desaparecer.

Eu empurrei minhas calças até meus tornozelos, chutando-as enquanto


permanecia sobre ela. Uma vez que eu estava nu, segurei meu pau, esfregando-
me entre as pernas dela bem lentamente. Entrei dentro dela até que nossos
quadris estivessem unidos.

Continuamos abraçados quando comecei a empurrar. Comecei


lentamente, ficando mais rápido quando seu corpo começou a balançar contra
mim. A sensação de sua boceta úmida segurando-me no lugar era demais para
eu durar muito tempo. Me entreguei a ela, beijando-a enquanto seus olhos se
fechavam. Então comecei a ir mais rápido, deslizando por todo o caminho
enquanto ela ofegava em outro clímax.

Gozei um segundo depois, incapaz de durar vendo o seu prazer vívido,


tão real, tão inesperado. Bombeei meu pau enquanto eu entrava dentro dela,
enchendo sua boceta com meu esperma.

Quando me acalmei, rolei para o lado a segurando.

—Obrigada. — Murmurou novamente, me agarrando forte, e eu me


perguntei se eu tinha feito algo errado. Ela estava agindo como se estivesse com
medo, mas depois ela me beijou e eu sabia que não era medo. Nós deveríamos
estar juntos e agora estávamos. Uma vez que aterrissássemos em Praga, nunca
mais iríamos nos separar, eu jurei para mim e para ela.
Dezesseis

John

O voo durou apenas duas horas, mas pareceu demorar uma eternidade.
Nossa despedida no aeroporto não foi fácil. Eu odiava me afastar dela, mas eu
pelo menos poderia dizer que seria a última vez. Desembarquei às duas da
tarde. Ela desembarcaria logo depois das seis, mas eu não queria fazer nada sem
ela. E acabei esperando lá mesmo.

O aeroporto estava cheio de gente. Despedidas de famílias, casais em


pausas românticas. E eu. Esperando por ela.

Quando seu voo pousou em terra, eu estava esperando que ela passasse
pela segurança. Eu aguardava ansioso enquanto a multidão atravessava as
portas. Onde ela estava?

—Senhor Ward. — Disse a voz de um homem. Olhei para ver alguém se


dirigindo a mim.

—Eu fui orientado a lhe entregar isso.

Olhei para o envelope na mão do homem. —Quem te deu isso?

—Não o conheço, ele me deu o envelope e a sua foto. Me pagou uma


grande quantia. Você pode acreditar nisso?
Ele já estava se afastando. Pensei em ir atrás dele, mas os guardas de
segurança estavam olhando em minha direção. Me afastei e abri o envelope.

Caro John,

Ninguém tira coisas de mim sem consequências. Eu escutei um pouco sobre a sua
reputação, mas você claramente não conhece a minha. Eu lhe dou uma escolha. Venha
ver a sua amada na torre. Será exatamente como nos velhos tempos, ela é uma riqueza
para mim e você terá sua merda chutada longe enquanto ela assiste. Você pedirá piedade
como William, chorando como uma cadela como ele fez no final. Essa é a primeira opção.
Venha e jogue. Ou, porque eu sou um cara legal, você pode fugir de volta para o buraco
que você esteve todos esses anos. Hora de pôr um fim nisso. Aproveite Praga.

Eu li novamente. Ele sabia sobre o voo. Como ele sabia? —George. — Eu


disse em voz alta. Não poderia ter sido mais ninguém. O filho da puta me traiu.

A torre. Ela estava de volta à torre. A última vez que eu estive lá, eles
ainda estavam terminando a construção. Ele voltou para lá. Sem dúvida na
mesma cobertura. Ele estava fazendo isso para me atormentar ou ele
simplesmente não se importava? De qualquer forma, ele cometeu um grande
erro. Ele pensa que pode me antagonizar para ir por ela, me derrubando antes
que eu chegue perto. Mas ele está errado. Minhas emoções não estão de volta.
Elas se foram. Este era o meu trabalho. Eu estive fazendo trabalhos como este
por anos, todos me prepararam para isso. Um sorriso vacilou em meu rosto. Eu
me olhava agora e eu não era o mesmo menino que fui com quinze anos. Sr.
Sharp desejará que eu seja aquele menino.

Ele pensa que pode tratá-la assim? Ele descobrirá o que significa tirar o
meu amor de perto de mim. Se ele a machucar, se houver um arranhão nela
quando eu chegar lá, ele sofrerá como nenhum homem jamais sofreu. Mas isso
são emoções. Preciso bloqueá-las, me concentrar no trabalho. Mas antes, preciso
encontrar George.

Eu estava no próximo voo de volta, a carta no bolso da minha jaqueta.


Deixei a bagagem para trás. Não havia necessidade de roupas para onde eu
estava indo. Quando cheguei em Londres, eram nove horas e estava escuro lá
fora. Peguei um táxi até o café de George, surpreso ao encontrar tudo iluminado
do lado de dentro.

Eu entrei devagar, a porta estava destrancada. Eu escutei. Não havia


nenhum som. Então, um barulho veio do balcão. Me movi em silêncio, parando
quando vi uma figura caída no chão.

—Desculpe. — Disse George, cuspindo um dente enquanto tentava e não


conseguia se sentar. —Não pude detê-los.

—Está tudo bem. — Respondi, pegando um pano no balcão. Pressionei na


ferida do seu rosto, fazendo o meu melhor para estancar o fluxo de sangue. —
Segure isso aí.
—Havia muitos deles. — Disse ele, tossindo violentamente.

—Me diga o que você sabe sobre a torre.

—Se você vai entrar lá, você precisará do que eu tenho na parte de trás.
Pegue para mim.

Havia uma mala que reconheci na cozinha. Ela tinha sido usada para
transportar coisas por William, coisas como o cartão magnético que ainda
estava no meu bolso. Eu trouxe para ele e a coloquei no chão.

—Abra.

Eu fiz como ele mandou, olhando para a gama de coisas dentro,


reconhecendo não mais que uma ou duas.

—Tome isso, isso e isso. Em seguida vá para o escritório de Vincent


Ellison.

—Quem é ele?

—Sua empresa projetou o sistema de segurança da torre.

Seu rosto começou a ficar pálido. —Vamos. — Eu disse, colocando um


braço por cima do ombro. —Precisamos levá-lo ao hospital.

—Ligue para uma ambulância.

—Eu sou mais rápido. Onde estão as chaves do seu carro?

Coloquei ele no banco de trás do carro antes de subir e sair. Corri pelo
trânsito, chegando lá em dez minutos. Ele me deu o endereço de Ellison e me
falou sobre como usar as coisas que estavam em meus bolsos. Deslizei em um
canto quando chegamos ao hospital. Eu bati na buzina e saí do carro. —Boa
sorte. — George disse com os dentes cerrados quando eu comecei a correr.
Dezessete

John

Para uma empresa de segurança, a segurança de Ellison era bastante


negligente. Um deslize do cartão magnético e eu estava dentro. Então era hora
de testar o dispositivo em minha mão. Apontei para cima e apertei o botão. Logo
eu saberia se funcionaria.

Eu fiz o meu caminho para a sala de depósito, repassando os planos para


entrar na torre e o gravando em minha memória. Eu estava pensando nisso
quando eu saí. Eu toquei o botão novamente no caminho certo. Parecia ter
funcionado. Os alarmes se apagaram, nenhuma das câmeras havia rastreado
meus movimentos. Eu teria que agradecer a George se eu saísse dessa vivo.

O layout da torre. A posição dos alarmes, sensores e câmeras. Eu os tirei


do modelo plano e coloquei em um modelo tridimensional na minha cabeça,
trabalhando na melhor maneira de fazer as coisas para que eu tivesse a melhor
chance possível quando chegasse lá.

Eu fui ao prédio oposto primeiro, subindo até o telhado através da escada


de incêndio exterior. Foi uma longa subida, mas não parei até chegar ao topo.
Uma vez lá, deitei na beirada e olhei para o outro lado usando o telescópio de
George para contemplar a parede baixa. A tela interna substituía uma lente e
era sensível ao calor. Nela, eu podia ver o posicionamento de todos no prédio,
um borrão de calor até eu aumentar o zoom no último andar. Apenas uma
pessoa passeando, claramente um guarda, seguindo a mesma amplitude de
movimento ao redor do espaço, indo de um quarto para o outro.

Mais abaixo no chão eu encontrei o que estava procurando. Lá estava ela.


As emoções começaram a surgir quando me lembrei do mapa e vi onde ela
estava. Ela estava em um armário. Abaixada no chão. Ela estava drogada?
Morta? Não, não haveria calor se ela estivesse morta. —Eu estou indo pegar
você. — Murmurei em voz alta enquanto seguia as outras pessoas. Ele estava
lá.

Tive sorte quando voltei ao chão. Eu estava assistindo a torre, tentando


decidir a melhor maneira de entrar. A porta abriu e de lá saiu alguém que eu
reconheci. Demorou um momento para lembrar. Ele também envelheceu, sua
barriga mais proeminente do que a de Sharp. Era Louis, o homem que a havia
vendido.

Ele claramente foi rebaixado em algum momento. Ele tinha um uniforme


de segurança e parecia miserável. Eu assisti enquanto ele cruzava a rua e se
dirigia diretamente para o bar mais próximo. Eu o segui.

Ele já estava a meio caminho de sua cerveja no momento em que eu entrei.


Me sentei no canto mais escuro e esperei. Pela quantidade que ele estava
bebendo, não demoraria muito. E eu tinha razão. Cinco minutos depois ele se
levantou e entrou no banheiro. Eu segui. Dois minutos depois saí com a sua I.D.
Eu tinha deixado seu corpo em um dos cubículos, o sinal de ocupado do lado
de fora da porta, ele ficaria lá por algum tempo. No momento em que o
encontrassem, eu também já estaria morto ou já teria ido embora.

O cartão magnético poderia ter me colocado dentro do prédio, mas isso


funcionaria muito melhor do que eu tenho planejado.

Dirigi o carro por algumas ruas, me direcionando até a garagem


subterrânea da torre. O segurança na porta deu uma olhada na I.D e acenou
para mim. Fácil.

Parei perto da saída de ar que eu precisava. O carro bloqueou qualquer


pessoa de me ver enquanto eu puxava a grade da saída de ar e subia. De acordo
com o layout isso me levaria ao segundo andar. Eu me arrastei, me trocando
conforme eu seguia. Eu saí com um macacão e com o celular em minha orelha.
—Três deles e mais o seu ninho. — Eu digo. —Precisamos de um grupo maior
se quisermos pegar todos.

As poucas pessoas que me viram sair desviaram o olhar. Continuei


falando alto sobre ratos até chegar à escada. Uma vez que a porta estava fechada
atrás de mim, bati no botão do dispositivo de George. As câmeras e os sensores
seriam desligados. Eu não teria muito tempo. A bateria no dispositivo não
duraria para sempre. Eu precisava me mover rapidamente.

A bateria durou até eu chegar ao último andar. Eu ouvi ela desligar, e


então a câmera acima da minha cabeça começou a se mover. Eu atravessei a
porta e entrei no corredor.

Usei o telescópio para identificar o guarda, tocando na porta exatamente


quando ele passou. Ele abriu a porta, e ao fazê-lo, coloquei minha mão no seu
pescoço, o pegando no ângulo direito para arrancá-lo de seus pés, sobre meu
ombro. Pousando no chão.

Eu usei o telescópio novamente enquanto caminhava, esperando até eu


estar diretamente acima dela. Olhei ao meu redor. A abertura que estava no
layout, não estava lá. O que agora?

Através do telescópio pude ver alguém se aproximando do armário. Eu


precisava me mover rápido. Eu corri até a janela mais próxima, a puxando
aberta e pisando na varanda, o vento me atingindo imediatamente.

Balançando as pernas, não olhei para baixo. Acabei desequilibrando e


pousando na varanda abaixo com um baque. Eu estava em frente à janela que
eu caí da última vez. Desta vez eu estava entrando, não saindo. Eu me levantei,
esbarrando em um vidro chamando a atenção dos guardas.

Eles começaram a atirar de uma só vez. Eu estava em pé, pulando para o


lado, segurando as grades e me pendurando. Eu esperei. Alguém viria verificar
eventualmente. Pendurado no ar, eu podia ouvir o Tâmisa abaixo, mesmo com
os meus ouvidos zumbindo devido aos tiros. O vidro da janela estava coberto
por uma teia de aranha de rachaduras, e quando alguém o empurrou para
verificar, eu me levantei calmamente. Enquanto a pessoa se debruçava, o
agarrei, enviando-o voando pelo ar, seu grito desaparecendo enquanto caía no
rio.

Eu atravessei a janela antes que ela pudesse ser fechada, minha arma
estava pronta. Descarreguei até que estivesse vazia e depois me movi na direção
dos homens restantes.
—Pare agora. — Uma voz ordena, e os guardas param olhando para trás.
Eu vi o que eles viram. O Sr. Sharp estava segurando uma arma na cabeça de
Rebecca. Ela estava com os olhos arregalados de medo enquanto ele a segurava
firmemente ao redor do pescoço. —Abaixe. — Disse ele, fazendo um gesto para
a minha arma.
Dezoito

Rebecca

Ele correu para o canto mais próximo, desaparecendo de vista.

—Não há nenhum lugar para correr. — Sharp disse. —Uma vez que eu
atravesse esta porta, nada poderá abri-la, ela é a mais segura no mundo inteiro.
Você deveria ter se afastado, John.

Fui arrastada para trás e depois uma porta se abriu. Ao mesmo tempo,
uma porta na parede distante se abriu e mais homens correram. Havia muitos
deles. Ele nunca sobreviveria a isso. Eu desejava que ele não tivesse vindo. Não
poderia suportar o pensamento dele ser morto.

—Ele não está aqui. — Gritou alguém.

—Ele tem que estar. — Sharp diz aos homens que estão feridos e que
foram ajudados a se levantar. —Encontre-o.

Os que sobreviveram estavam saindo, mas alguns continuaram se


movendo, juntando-se em busca de John. Onde ele estava?

Sharp continuou movendo-se para trás, arrastando-me para a sala do


pânico que ele se gabou quando foi construída. Ele me jogou atrás dele,
afastando a cabeça. —Ele não pode ter desaparecido. Onde ele está? Você,
guarde esta porta.

Um dos homens ficou de pé na frente da porta, olhando para fora com os


braços cruzados. Sharp olhou para ele. —Onde ele está?

—Que diabos. — Alguém disse.

—O quê? O que foi isso?

Um homem um pouco consciente apareceu, ele estava apenas em calções


boxer. —O que está acontecendo? — Gritou Sharp. —Merda, ele está com um
uniforme. Qual desses é ele?

—Este. — Disse o guarda mais próximo da porta. Sua voz era familiar.
Levantando a cabeça, percebi que era John. Sharp percebeu ao mesmo tempo,
tentando fechar a porta na cara dele. Quando ele fechou, John entrou, a
fechadura sendo trancada atrás dele.

—A melhor porta do mundo. — Disse John enquanto Sharp tentava abri-


la. —Ninguém passa por ela.

Sharp se virou e o empurrou, correndo até mim e erguendo a arma. —


Não faça nada de estúpido. — Disse ele. —Eu odiaria sujar este terno novo de
sangue.

—Largue ela. — Sua arma estava apontada para Sharp.

—Você acha que sou estúpido. Você acha que pode entrar na minha casa,
atirar em meus homens, e eu vou apenas dar ela a você? Não, eu vou fodê-la e
você vai assistir, e quando eu terminar, vou prendê-lo para que você possa
assistir a todas as vezes que eu fizer isso com ela, pelo resto da sua vida. Agora
fique de joelhos.

Olhei para a mão de John, vi o movimento de seu dedo e sabia o que


significava. Quando Sharp apontou a arma para ele, eu o empurrei com as duas
mãos. Sharp caiu para frente e John estava pronto, tirando a arma da mão dele
e a jogando para trás.

—Então é uma briga direta? — Disse Sharp, enrolando as mangas.

Eles se olharam durante alguns segundos. Sharp se moveu primeiro, seu


punho indo para John que se afastou. O golpe bateu na parede um segundo
depois. Sharp rugiu com dor, virando e correndo para John. Os dois se
chocaram, John se afastou, aproximando-se de seus joelhos e rolando para o
lado, deixando Sharp sem equilíbrio.

Os golpes eram muito rápidos para eu acompanhar, mas uma coisa era
certa, John estava perdendo. Ele estava cambaleando, tomando um soco depois
do outro. Ele olhou atrás de Sharp e olhou para mim, e eu entendi o que ele
queria. Comecei a andar para a esquerda, tentando não ser notada.

Sharp fez uma pausa, o punho alto no ar. —Ambos sabemos que eu vou
vencer.

—Sabemos?

—Você é herói demais. Você deveria ter atirado em mim quando teve a
chance.

—Estou fora de balas.


—Esse é o problema aqui. Você deixa tudo de lado. Você deve tentar ser
ruim às vezes.

—É um bom conselho. — Eu digo, pegando a arma aos meus pés e


apontando para Sharp.

—Agora escute...

O som do tiro foi tão alto no espaço confinado que meus ouvidos
zumbiram. John estava dizendo algo, mas eu não conseguia ouvir. Eu atirei
novamente. Sharp pareceu surpreso, suas mãos foram para seu peito quando
um ponto escuro e úmido apareceu, espalhando-se rapidamente. Ele caiu de
joelhos com a boca aberta. Então, caiu para frente. Eu me afastei para longe dele.

—Eu ouvi o suficiente dele. — Eu disse, meus ouvidos ainda zumbindo.


—Agora, o que fazemos?

John olhou em volta da sala. Eu não poderia dizer para o que. Seus olhos
estavam correndo pelas paredes e ele parecia ter detectado algo que eu não
podia ver. Ele agarrou Sharp pelo pulso, arrastando o corpo para a parede mais
distante. —O que você está fazendo? — Perguntei.

—Isso. — Respondeu John, pressionando o polegar de Sharp para um


ponto na parede. Uma porta abriu, revelando um elevador do nada.

—Como você sabia que isso estava aí?

—Eu vi o layout do prédio. Ninguém apenas coloca um elevador sem


planejar primeiro. Vamos.
Os golpes das pessoas que tentavam entrar ficavam cada vez mais
violentos. Entrei no elevador e John me seguiu, sua mão pegando a minha. —É
isso? — Perguntei.

—Sim. — Ele respondeu quando as portas se fecharam. —Acabou.

O elevador abriu na garagem. Ele me conduziu até um carro e me ajudou


a entrar. Nós fugimos um segundo depois, desaparecendo no trânsito da cidade
e deixando a torre para trás. Para sempre.

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