Roberto Lobato Corrêa: Espaço, Um Conceito Chave Para a Geografia
O espaço possui diversas significações em diversas ciências. Várias correntes já discutiram
sobre o significado de espaço e o autor enfatiza vários desses pensamentos. Para começar, Corrêa admite que existem cinco conceitos chave para a geografia, sendo eles: paisagem, região, espaço, lugar e território. E conforme já dito anteriormente, há conceituações diferentes em cada corrente de pensamento, algo salutar, já que discussões e conflitos fazem a geografia evoluir como ciência. Para começar, Corrêa explica a definição de espaço para a Geografia Tradicional. Segundo o autor, a corrente tradicionalista privilegia os conceitos de paisagem e região, definindo estes como conceitos chave. Entretanto, o espaço estava presente das teorizações de Ratzel, que definiu como base indispensável para a vida humana. É tratado também dos conceitos de território, que é uma apropriação por um grupo e espaço vital, que são os recursos necessários para o desenvolvimento humano. Hartshorne também fez grandes contribuições, definindo o espaço como absoluto, tem existência em si mesmo. Espaço contém e está contido. Já para a Geografia Teorética-Quantitativa, que é calcada no positivismo e tinha visão unitária de ciências naturais, o espaço aparece pela primeira vez como conceito-chave. Paisagem, lugar e território passam a ter significação secundária. Entretanto, o autor considera o espaço na definição dos lógicos-positivistas como limitada, privilegiando a distância, que é vista como uma variável independente. As contradições, os agentes sociais, o tempo e as transformações são deixadas em segundo plano, privilegiando o presente eterno e subjacente. Ainda segundo Corrêa, as representações matriciais e topológicas devem se constituir em meios operacionais que nos permitam extrair conhecimento sobre localizações e fluxos, hierarquia e especializações funcionais, sendo uma importante contribuição para a compreensão da organização espacial. A Geografia Crítica, caldada no materialismo histórico e na dialética, rompe com as correntes anteriores. O espaço é conceito chave, e a indefinição das categorias de análise do espaço também são uma preocupação. Harvey tenta reconstruir geograficamente a teoria marxista, onde as dimensões espaciais haviam sido ignoradas. Após estudos, afirmou-se que o espaço em Marx é tratado de forma parecida com as ciências burguesas, considerando o espaço apenas como um reflexo eterno da sociedade. Harvey reafirma o papel do espaço como fundamental para a constituição e o devir da sociedade, havendo conexão entre espaço e tempo. Corrêa secunda ao afirmar que o espaço deve ser entendido como espaço social, vívido e de estreita relação com a prática social, não é absoluto, vazio e puro, nem é apenas produto da sociedade. Espaço é um locus da reprodução das relações sociais e de produção. É notável a afirmação de Milton Santos, que diz que não é possível conceber uma determinada formação socioeconômica sem recorrer ao espaço. Modo de produção e formação socioeconômica são categorias independentes. A sociedade só se torna concreta por meio do seu espaço. Formação socioespacial é meta-conceito, é um paradigma que contém e está contido nos conceitos chave de natureza, paisagem, espaço (organização espacial), lugar e território. Assim, o espaço deve ser analisado por categorias, que são estrutura, processo, função e forma. A forma é o espaço em seu aspecto visível, não tem autonomia e se analisada sozinha, é apenas uma aparência. Função é uma tarefa, atividade ou papel desempenhado por algum objeto. Estrutura é a inserção de forma e função e o processo é a ação que se realiza de forma contínua, visando um resultado. Por último, Corrêa analisa o espaço na visão Humanística e Cultural. Esta também é uma crítica à geografia positivista, tem raiz historicista, pautada na subjetividade, experiência, sentimento e simbolismo. Aqui, o singular é importante. O conceito de paisagem é importante, assim como o de região. Entretanto, o conceito chave é o de espaço vivido, ligado à geografia francesa e a visão vidaliana, além da psicologia genética de Piaget. Espaço vivido é fragmentação em função do pertencimento do mesmo povo, linguagem, referências básicas para o cotidiano em sua dimensão espacial. O autor enfatiza ainda o conceito de práticas espaciais, sendo estas ações espacialmente localizadas que impactam o espaço, alterando ou preservando-o. São ancoradas em padrões culturais próprios de cada sociedade, buscando a gestão e administração de territórios. Estes conceitos são muito importantes para a compreensão de como o homem trata seu espaço, quais são suas possibilidades. A seletividade espacial é apontada por Corrêa como um julgamento com base nos atributos do espaço. Atributos como solo e matéria prima, por exemplo, pesam positivamente para a escolha de determinado espaço, caso obedeçam as características estabelecidas por projetos. Essa definição do autor mostra o homem como ser racional e seletivo, buscando satisfazer suas necessidades frente ao espaço. A fragmentação é outra prática espacial. É a divisão com base na seletividade, satisfazendo necessidades dos atributos julgados como necessários para o desenvolvimento. Mas também há o remembramento, que é uma política que visa a racionalidade do espaço de atuação, estando apenas onde é vantajoso. A antecipação espacial é a reserva de território, garantindo o controle antecipado de determinado espaço. É uma antecipação da matéria-prima, mercado consumidor ou condições favoráveis para uma implementação de atividades. Por fim, a marginalização espacial se deve ao fato de que o valor atribuído a determinado espaço pode mudar ao longo do tempo, seja por razões econômicas, políticas ou culturais. Assim, a diminuição da importância provoca uma marginalização de alguns lugares, afetando completamente a dinâmica e também a qualidade de vida. Passa a ser um ponto fora da rede de fluxo. Portanto, pode-se concluir que a sociedade é ativa na natureza. O homem e espaço são indissociáveis. O estudo apenas do espaço puro deixa de lado uma das principais característica da geografia, a de ciência social. O homem faz relações sociais e espaciais e estas relações transformam o espaço. Roberto Lobato Corrêa contribui muito para um entendimento do teor destas transformações, tornando-as mais concretas. O espaço está em movimento constante, juntamente com a sociedade e esse movimento é devido as suas intencionalidades frente ao espaço.
Uma proposta de formação continuada de professores de ciências por meio da elaboração de uma sequência didática para o ensino de zoologia no 7o ano do ensino fundamental