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Instituto Batista Bíblico da Bahia - Fundamentalista

Índice
Índice............................................................................................................................... 1
Teologia Bíblica do Novo Testamento...................................................................... 2
DEFINIÇÃO .................................................................................................................. 2
Produção Teológica no Período Intertestamentário ............................................ 3
Continuação...Período Interbíblico ........................................................................... 9
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO ........................................................ 16
Primeira parte............................................................................................................. 22
TEOLOGIA DO APÓSTOLO PAULO ................................................................... 22
Definição de Salvação por Aníbal Pereira Reis ................................................... 34
Segunda parte ............................................................................................................. 48
TEOLOGIA NA EPÍSTOLA AOS HEBREUS ..................................................... 48
TEOLOGIA DE TIAGO ............................................................................................ 49
TEOLOGIA DO APÓSTOLO PEDRO ................................................................... 51
TEOLOGIA NA EPÍSTOLA DE JUDAS .............................................................. 52
TEOLOGIA NO APOCALIPSE............................................................................... 53
Terceira parte.............................................................................................................. 54
OS QUATRO EVANGELHOS................................................................................. 54
PARALELO SIGNIFICATIVO................................................................................ 56
OS SINÓTICOS E JOÃO.......................................................................................... 56
Dualismo Joanino....................................................................................................... 57
AS PRINCIPAIS DOUTRINAS............................................................................... 58
João, o Batista............................................................................................................. 61
O Messias ..................................................................................................................... 63
O Espírito Santo ......................................................................................................... 68
OS ENSINOS DE JESUS......................................................................................... 70
TEOLOGIA DO APÓSTOLO JOÃO ...................................................................... 71
Referências Bibliográficas ........................................................................................ 72

Teologia Bíblica do Novo Testamento


Professor: Fábio Reis
Instituto Batista Bíblico da Bahia - Fundamentalista

Teologia Bíblica do Novo Testamento

DEFINIÇÃO

Teologia é a ciência que trata do nosso conhecimento de Deus, e das


coisas divinas. A teologia abrange vários ramos, vejamos:

Teologia exegética vem da palavra grega que significa extrair. Esta


teologia procura descobrir o verdadeiro significado das Escrituras.

Teologia Histórica - Envolve o Estudo da História da Igreja e o


desenvolvimento da interpretação doutrinária.

Teologia Dogmática - É o estudo das verdades fundamentais da fé


como se nos apresentam nos credos da igreja.

Teologia Bíblica - Traça o progresso da verdade através dos diversos


livros da Bíblia e descreve a maneira de cada escritor em apresentar
as doutrinas mais importantes.

Teologia Sistemática - Neste ramo de estudo os ensinamentos


concernentes a Deus e aos homens são agrupados em tópicos.

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Produção Teológica no Período Intertestamentário 1


Introdução

Nas Bíblias, passar do Antigo Testamento para o Novo Testamento é


uma mera questão de virar algumas páginas em branco. De Malaquias
a Mateus a distância aparente que se nos apresenta é tão pequena que
não passa nunca pelas nossas mentes inicialmente que um período de
quatrocentos anos houve entre o domínio persa com Neemias
governando a Judéia até o domínio romano com Herodes a
governando. Este período é chamado de período intertestamentário.

O Helenismo e a Religião Judaica na Diáspora

São muito escassas as informações da vida na Judéia nos séculos IV e


III A.C. O Evento melhor documentado é o que teve maior impacto
sobre os judeus e sobre o mundo conhecido: a conquista do Oriente por
Alexandre Magno. Em 333 ele derrotou os persas em Isso e se dirigiu
para o sul e conquistou Tiro, passou por Jerusalém onde foi bem
recebido pelo Sumo Sacerdote Jádua que o identificou com o chifre do
bode peludo em Daniel, mostrando-lhe a passagem do livro. A súbita
morte de Alexandre em 323 dividiu o Império para os seus quatro
generais dos quais Ptolomeu e Selêuco, herdeiros do Egito e Síria
respectivamente, inauguraram as dinastias que disputaram a
Palestina. Inicialmente, os Ptolomeus eram possuidores da Palestina.

A conquista grega do Oriente teve efeito profundo na cultura. Valores,


crenças e práticas gregas foram assimilados no Oriente e a isso damos
o nome de Helenismo. O Helenismo introduziu o grego koiné como
idioma cultural e comercial do mundo mediterrâneo e o regime da
polis nas cidades conquistadas: a democracia regida pelos cidadãos,
homens livres e proprietários de terra que elegiam seus
representantes, os magistrados que governavam a cidade. A maior
polis da época, Alexandria, recebeu muitos judeus pois o mundo,
globalizado pelo Helenismo, não apresentava barreiras.

A Fé judaica era tolerado e respeitado. Os judeus podiam, conforme


decreto de Alexandre, observar o shabbath, coletar e administrar seus
próprios impostos, possuir poder judiciário para julgar os de sua
própria raça e estavam isentos de culto aos deuses dos lugares onde
estivessem. Ser judeu era obedecer a Lei, reconhecer o Templo como

1
Pesquisa de Teologia Bíblica do Antigo Testamento.
Prof.: Rev.: Isaías Cavalcanti. Sem.: JosiaS Macedo Baraúna Jr.
Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro, 1998.

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local de adoração, enviar para lá o imposto anual e, se possível, visitá-


lo pelo menos uma vez por ano em uma das grandes festas.

A distância de onde viviam para a Palestina, e mesmo na Palestina


para o Templo, provocou o desenvolvimento da sinagoga, a reunião
religiosa para orações, leitura da Palavra e observância dos sábados ao
longo dos anos em todas as polis onde haviam judeus. O mundo antigo
nunca vira nada parecido: um culto sem imagens, sem sacerdotes,
apenas com leitura sagrada, orações e pregações.

O Estudo das Escrituras e a Septuaginta

Com o advento da sinagoga, o estudo e a interpretação das Escrituras


começou a ganhar importância sobremodo independente, ocupando o
centro da vida religiosa judaica.

No processo de adaptação da Torah ao uso prático, os eruditos teólogos


realizaram façanhas interpretativas. O mais destacado sistema de
interpretação era o do Rabi Akiva ben Joseph: toda sílaba da Torah
tinha sentido independente. Outro sistema de interpretação era o do
judeu helenista Aristóbulo de Panéias: compreensão de alegorias na
Torah, sistema aperfeiçoado por Fílon de Alexandria.

Foi nessa época de propagação popular das Escrituras que o Rei


Ptolomeu II, Filadelfo (284-247 A.C.), mandou em 277 A.C. traduzir a
Torah para o grego a partir da proposta de Demétrio Falerus, Diretor
da Biblioteca de Alexandria. A ordem de tradução foi enviada a
Eleazar, o Sumo Sacerdote, que respondeu prontamente, escolhendo
setenta e dois teólogos exegetas lingüistas para esta tarefa. A
Septuaginta, como ficou conhecida esta tradução, incluía a Lei, os
Profetas, os Escritos Canônicos e, posteriormente, os Escritos
Extracanônicos, conhecidos pelos católicos como deuterocanônicos e
pelos protestantes como apócrifos.

Os Livros Extracanônicos da Septuaginta e os Pseudepígrafos

Esses livros extracanônicos se constituem, ao lado dos pseudepígrafos,


a literatura judaica mais importante do período intertestamentário.
São 13 livros e quatro textos adicionais:2

a. Sabedoria de Salomão: Tratado de ética, que recomenda a sabedoria e


a retidão, condenando a iniqüidade e a idolatria. Seu autor foi um
2
São os livros escritos sob um nome fictício. Para outros são os escritos judaicos, extra-bíblicos, não inspirados do Antigo
Testamento. São considerados de valor no estudo do cânon, e alguns estudiosos os incluem no mesmo grupo dos apócrifos.

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homem genial e piedoso, crente na imortalidade da alma, que adotou o


pseudônimo de Salomão, identificando-se com o sábio rei que construiu
o primeiro Templo. Seus ensinamentos são ilustrados com fatos da
peregrinação no deserto, mostrando bom conhecimento de história e
Pentateuco. Escrito em cerca de 100 A.C.
b. Eclesiásticus: Também conhecido como a Sabedoria de
Jesus ben Sirach e trata de ética, Diz Ter sido traduzido pelo neto do
seu autor para o grego.
c. Epístola de Jeremias: Esta epístola controvertida é
dirigida aos judeus no exílio a evitarem a idolatria de Babilônia.
Atualmente é encontrado nas Versões da Bíblia a partir da Vulgata
como o sexto capítulo do Livro de Baruque, mas Eusébio, em sua
História Eclesiástica, firmado em Orígenes, diz que esta epístola faz
parte da Profecia de Jeremias assim como as Lamentações.
Desconhece-se a existência de um original hebraico.
d. A História de Suzana: Fábula verossímil adicionada ao
Livro de Daniel que é o protagonista. O sábio Daniel livra Suzana das
acusações falsas que recebera.
e. Bel e o Dragão: Outra fábula verossímil, semelhante a de
Suzana. Aqui Daniel derrota o dragão que guardava o santuário de
Bel na Babilônia.
f. Cântico dos Três Mancebos. É o registro sem amparo
histórico, embora verossímil, da adoração ao Deus que salvou os três
amigos de Daniel na fornalha de fogo ardente. Nenhum dos relatos é
confirmado por Josefo.
g. Primeiro Livro Pseudepígrafo de Esdras: A história de
Israel contada a partir do reinado de Josias até a volta do Cativeiro
sob a liderança do Sumo Sacerdote Esdras em total ampliação ao
relato bíblico.
h. Segundo Livro Pseudepígrafo de Esdras: Este não está na
Vulgata, a exemplo daquele. É um livro de história em estilo profético.
Chama nele à atenção a vocação profética de Esdras, que as Escrituras
desconhecem, e, como Profeta, Esdras foi, inspirado por Deus, o
reconstituidor do Cânon queimado por Nabucodonosor na destruição
do Templo (14:18-48).
i. Primeiro Livro dos Macabeus: Tratado histórico de grande
valor, relatando fielmente os acontecimentos políticos desde a morte
de Antíoco Magno (219 A.C.) até o final da Guerra de Independência
Judaica.
j. Segundo Livro dos Macabeus: Da pena de Jasom de
Cirene, é uma fantasia baseada na história desde Seleuco IV,
Filopátor (187-175 A.C.) até cerca de 165 A.C.

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k. Terceiro Livro dos Macabeus: Narra a pretensão de


Ptolomeu IV, Filopátor, em entrar no Santo dos Santos em 217 A.C. O
livro cobre até 175 A.C.
l. Quarto Livro dos Macabeus: Tratado de moral que faz dos
macabeus exemplo de conduta e firmeza doutrinária.
m. Judite: Narrativa com pretensões históricas sobre a viúva
protagonista que seduziu Holofernes, comandante assírio. Enquanto
ele dormia, Judite cortou sua cabeça. Inspirado, sem dúvida, na
história bíblica de Jael e Sísera (Juí.4:17-22). Há anacronismos
geográficos no livro como Nabucodonosor ter sido Rei da Assíria.
n. Tobias: Narrativa fictícia de um certo Tobias de Naftalí,
piedoso pai cego de um filho também chamado Tobias. O filho vai a
Rages, na Média, cobrar uma dívida e é levado por um anjo a
Ecbátana para casar-se com uma viúva que havia se casado sete vezes
e ainda era virgem, sendo seus sete maridos mortos por Asmodeu, um
demônio. Como oitavo marido, Tobias sobreviveu a fúria do anjo
assassino queimando fígado de peixe cujo mau cheiro espantou-o. O fel
de peixe serviu para curar a cegueira de seu pai.
o. O Repouso de Ester: Amplificação da narrativa bíblica sem
acrescentar nada de valor.
p. Baruque: Livro intitulado com o nome do copista do
Profeta Jeremias que inclui orações e palavras de conforto a Israel
cativo.
q. Oração de Manassés: É a confissão de pecados, petição de
perdão e súplica do Rei de Judá, levado cativo à Babilônia pelo Rei da
Assíria.

A exemplo dos dois livros apócrifos de Esdras, a literatura judaica


deste período produziu outros livros, muitos deles valiosos, cujos
autores propostos não podem sê-los. São pseudepígrafos:

a. Salmos de Salomão: 18 salmos semelhantes aos canônicos que


denunciam a classe dominante opressora e defendem a causa dos
pobres e piedosos.
b. Livro dos Jubileus: Narra de forma verossímil o discurso de Deus a
Moisés no dia 16 de Sivã do primeiro ano do Êxodo que é um convite a
subir ao monte a fim de receber as tábuas da Lei. Em seguida,
Metatron, o Anjo da Presença (Teofania), por ordem de Deus narra a
História, desde a Criação até aquele momento. De autoria essênia.
c. Livro de Enoque: Composto pelo Livro de Enoque original, citado por
Judas; pelo Livro de Noé, Que é um fragmento do Livro de Lameque;
pelo Apocalipse das Semanas; e pelo Apocalipse dos Símbolos dos
Animais. O livro original, que não é de autoria de Enoque (bem como o

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Livro de Lameque não é de Lameque), gozava de credibilidade na


Igreja Primitiva. A Igreja Católica o baniu no Século VI.
d. O Testamento dos Doze Patriarcas: Livro composto de doze obras, em
sua maioria essênias, sobre os Doze Patriarcas, com extensa
escatologia e apologia à Ética. A Profecia dos Dois Messias, que não é
de origem essênia, surge no Testamento de Simeão e no Testamento
de Dã. O Testamento de Levi chama seu protagonista de sacerdote em
paralelo com Jubileus 32:1.
e. A Assunção de Moisés: Livro que conta inicialmente a designação de
Josué como sucessor de Moisés e a morte de Moisés. A atual
apresentação do livro possui suas três primeiras linhas apagadas, a
inserção de um livro essênio de ficção à época de Herodes, e sua
conclusão está fragmentada. O livro original não é essênio.
f. O Martírio de Isaías: É a narrativa essênia dos fatos que antecederam
a morte do Profeta pelas mãos de Manassés.
g. A Vida de Adão e Eva: Narrativa essênia sobre as revelações da vida
de Adão e Eva contadas a Moisés pelo Arcanjo Miguel.
h. A Carta de Aristéias: É o relato sobre a tradução grega da Torah, a
Septuaginta, escrita por uma pessoa envolvida na obra.
i. Segundo Livro de Baruque: Apocalipse narrando da Destruição de
Jerusalém ao Reinado do Messias.

A Comunidade Samaritana

Raça mista de israelitas do norte, elementos provenientes da Caldéia e


da Média, além de judeus, os samaritanos eram o povo encontrado na
terra quando os de Judá voltaram do cativeiro. O fato dos samaritanos
admitirem casamento misto foi o motivo para serem separados dos
judeus em 350 A.C., ano em que Manassés, irmão do Sumo Sacerdote
Jônatas, despojou Nicasis, filha de Sambalate, Governador da
Samaria, que veio a aliar-se a Alexandre, o Grande. Alexandre
mandou construir no Monte Gerizim o Templo Samaritano onde
Manassés tornou-se o Sumo Sacerdote. O templo foi destruído no ano
129 A.C. por João Hircano o que não impediu que um altar fosse
mantido no cume do monte em funcionamento mesmo à época de
Jesus.

O Templo Samaritano tornou-se o abrigo dos judeus indisciplinados e


vítimas do jugo fariseu e saduceu, recebendo a todos de braços abertos.
O Cânon Samaritano se constitui do Pentateuco, Sefer-Ha-Jamim (o
Livro de Josué, ampliado até à época do Império Romano) e a Doutrina
de Marqã, que é a história de Moisés.

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O Período Macabeu e a Apocalíptica

Após Ptolomeu IV, Filopáter, ter tentado entrar no Santo dos Santos
(217 A.C.) e ter sido acometido de paralisia total, oprimiu os judeus,
seus vassalos. Morto Filopáter em 204 A.C., Ptolomeu Epifânio (204-
180 A.C.) assumiu o trono egípcio e perdeu a Palestina no ano seguinte
para Antíoco Magno, que veio livrar os judeus da opressão egípcia. A
disputa pelo território durou até 198 A.C. quando Antíoco a recuperou
definitivamente. Antíoco foi sucedido por Seleuco IV, Filopáter (180-
175 A.C.) que foi assassinado pelo seu tesoureiro, Heliodoro. Antíoco
Epifânio assumiu o trono (175-164 A.C.) e se notabilizou por uma
campanha para total helenização dos judeus. Em campanha contra o
Egito em 171 A.C., se ouviu que tinha morrido. O partido nacionalista
dos judeus recuperou o ânimo com a notícia de sua morte. Quando
Antíoco soube que Jerusalém comemorara sua falsa morte, ele se
enfureceu e invadiu Jerusalém num sábado matando 40 mil pessoas
em três dias numa campanha disciplinadora que incluiu invadir o
Santo dos Santos, roubar o castiçal de ouro, a mesa, o altar de incenso
e todos os vasos, além de destruir os livros da Lei, sacrificar uma porca
no altar, aspergir com seu sangue o Templo e erigir a estátua de Zeus
Olímpico nele.

Por um período de 2300 dias, o santuário esteve profanado. Em 169


A.C., Antíoco fez outra campanha contra o Egito e era bem sucedido
até que embaixadores romanos o humilhassem, lhe entregando um
decreto do Senado Romano exigindo sua retirada. Antíoco, temeroso,
bateu em retirada e se vingou sobre Jerusalém.

É neste quadro que surge o Sacerdote Matatias, o primeiro dos


Macabeus. Apeles, o comissário do Rei, veio forçar todos os habitantes
de Modin, uma aldeia de Judá, a se conformarem ao culto pagão.
Matatias negou-se com sua família a obedecer o rei. Um renegado
judeu compeliu a multidão à idolatria, sendo assassinado por Matatias
que também matou Apeles e destruiu o altar pagão construído por ele.
"Todo o que tiver o zelo da Lei e quiser manter a Aliança, venha após
mim", assim surgiu o grupo dos hassidim que como guerrilheiros se
portaram contra Antíoco vencendo-o definitivamente em 165 A.C.
Judas, filho de Matatias, foi declarado Príncipe da Judéia com a
independência e a purificação do Templo. Antíoco estava em
campanha na Pérsia quando soube que seus generais, Serom, Górgias
e Lísias, foram derrotados pelos judeus, morreu de tristeza e doente na
Babilônia quando tentava retornar para recuperar a Palestina.

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Judas governou a Palestina até 161 A.C quando morreu e Jônatas, seu
irmão assumiu (161-144 A.C.), ano que Demétrio I, o Sóter (162-151
A.C.) que sucedeu a Antíoco V, Eupator (164-162), o sucessor de
Epifânio, tomou Jerusalém. Na controvérsia do trono sírio entre
Demétrio I e Alexandre Balas (151-146 A.C.), Jônatas apoiou o último
que venceu e matou seu rival. Houve paz entre os judeus e os sírios até
a controvérsia entre Balas e Demétrio II suscitasse novos confrontos.
Balas terminou assassinado e Demétrio II foi proclamado rei como o
Nicatóris (146-144 A.C) mas foi deposto pelo filho de Balas, Antíoco
VI, que reclamou e conquistou o trono mas foi traído por Trífom, seu
general, que usurpou o trono e decidiu subjugar os judeus. Ele
assassinou Jônatas em 144 A.C. Simão, seu irmão, assumiu o
Principado (144-135) e apoiou o retorno de Demétrio II ao trono que
ocorreu em 129 A.C. mas, numa incursão à Pérsia foi capturado e
Antíoco VII assumiu o trono (126-96 A.C.), derrotando Trífom. Simão,
por sua vez, foi assassinado num banquete e João Hircano, seu único
filho sobrevivente o sucedeu (135-105 A.C.). A Síria se mostrou
enfraquecida pelas disputas pelo trono e Roma dava sinais de
supremacia. Aristóbulo, sucessor de João Hircano, seu pai, assumiu o
título de Rei dos Judeus (106-105 A.C.) mas Antipater havia sido
nomeado por Roma em 109 A.C.) como Procurador da Judéia. Este é o
pai de Herodes.

Neste período macabeu (171-37 A.C.) formou-se a teologia apocalíptica


cujas características são: a punição para os pecados presentes; que o
fim está próximo; que haverá uma catástrofe cósmica; que o mundo
será dominado pelos judeus; que não há o fim do mundo mas o fim
deste desenvolvimento pecaminosos da história; a restauração de
Jerusalém; a eternidade do domínio judaico mundial; o Reino do
Messias de mil anos ou eterno nesta terra de mar a mar.

Continuação...Período Interbíblico
Queda do império persa e ascensão do império grego

O Velho Testamento termina com o império persa no poder, Ciro


permite que os judeus voltem e reconstruam sua terra (538 a.C).
Depois dele sobem ao trono persa, Cambises (530-522) quando as
reformas de Jerusalém são paradas (Ed. 4), Dario I (522-486), neste
período o templo de Jerusalém é completado (período de Ageu e
Zacarias), o mundo grego começa a desafiar os persas com a vitória
em Maratona (490); Xerxes (486-464 – período do livro de Ester),
Artaxerxes (464-423), com Malaquias termina finda-se o período
Bíblico veterotestamentário, neste ínterim no ocidente se levanta o
povo grego impondo o poder de Atenas em 429.
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Ainda surge pelo Império persa, Dario II, Artaxerxes II, III, Arses
e Dario III (423-331), no ocidente temos a queda de Atenas e a
ascensão de Esparta (404 – guerra do Peloponésio). Filipe II da
Macedônia derrota os gregos (338)3.

Alexandre o Grande e a divisão do seu império

Então surge em 335 a.C. Alexandre, filho de Filipe, conquistando o


mundo em nome do Império grego, quando Alexandre destruiu Tiro e
repeliu o império de Dario III, o sacerdote judeu Jadua afirmou que
este era o cumprimento da profecia de Daniel 8 à 10, reconhecendo
que Alexandre era o bode do terceiro império mundial que suplantaria
o império persa4.
Porém como se sabe Alexandre morreu muito jovem aos 33 anos seu
reinado foi de 12 anos e 6 meses. E morreu sem deixar herdeiros. Com
sua morte o Império grego foi dividido imediatamente, contudo alguns
generais de menor importância ficaram desgostosos com a divisão e
entraram em guerra, a batalha de Ipso em 301 a.C. foi decisiva. O
resultado dessa batalha foi a divisão do império em reinos do norte e
do sul, Seleuco ficou com a Síria, Mesopotâmia e Pérsia (Selêucidas);
Lisímaco assumiu o controle da Ásia Menor e Trácia; Cassandro ficou
com a Macedônia; e Ptolomeu assumiu a Fenícia, Egito e Palestina
(Ptolomeus)5 estes mantiveram constante batalhas uns com os outros
pelo poder total.
Seleuco guerreou contra Lisímaco e se apropriou do seu reino.
Cassandro sofreu uma derrota interna por parte dos habitantes
gregos que assumiram total independência até o domínio dos
romanos.

3
FARIA, Marco Alexandre, R.G. (10/08/2006)
http://www.icegob.com.br/marcos/Mapas/Apostila_per_interbiblico_nova.htm.
4
Conta-se que quando Alexandre chegou a Jerusalém foi recebido por Jadua que afirmou ser ele o vigário
de Deus conforme o profeta Daniel havia dito e, então, Alexandre anunciou que não permitiria que
Jerusalém fosse ataca jamais ou o seu templo corrompido. IRONSIDE, H.A. Quatrocentos anos de
silêncio, de Malaquias a Matheus. São Paulo: CEP. 1988. pp.13,14.
5
Conforme a profecia de Daniel 11. IRONSIDE, H.A. Quatrocentos anos de silêncio, de Malaquias a
Matheus. P.19.
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Linhas filosóficas dos dias helenísticos

Devemos fazer uma distinção breve sobre helênico e helenístico, é


considerado helênico tudo que se refere a cultura grega antes de
Alexandre, e helenístico o que veio depois, a diferença se encontra na
inclusão da cultura oriental, devido as conquistas de Alexandre sobre
o oriente.
Os helenísticos tinham linhas filosóficas que devem ser
consideradas importantes para o conhecimento panorâmico do mundo
neotestamentário.
Os cínicos, seu grande líder foi Diógenes, pregavam uma busca
pelo homem honesto e livre de coisas artificiais. O homem poderia
encontrar dentro dele mesmo a satisfação, eles desprezavam tudo que
fosse criado para satisfazer o homem, música, arte, dinheiro, etc.6
Estóicos e epicureus, fundados respectivamente por Zenão e
Epicuro, pregavam o bem da sociedade e do individuo negando a
necessidade de esperar por questões espirituais, afirmavam que tudo
vem da matéria.
Os Estóicos com algumas diferenças, entendiam que o cosmos
funcionava como um conjunto de regras para um bem final, o mal era
relativo, pois de alguma forma ele iria contribuir para a perfeição
final.
Entendiam que o homem é guiado pela sorte, e tem que entender
que o seu fim já está traçado pelo destino da perfeição universal, ele
pode aceitar ou se rebelar, mas sem conseguir mudar coisa alguma.
Eram pessoas que pregavam a disciplina, tolerantes e generosos,
diferente dos cínicos, aceitavam que o homem tivesse participação nas
atividades seculares.
Os epicureus repudiavam a visão mecanicista dos estóicos com
respeito ao mundo, tinham uma visão mais helênica que
propriamente helenística, eles criam que o homem realiza suas
atividades para o seu bem e tem o direito de escolher como tudo será,
sua vida não é determinada pelo cosmo.
Aceitavam os prazeres, mas repudiavam os exageros carnais. Eram
mais materialistas, entendiam que até a alma é matéria e que os
deuses não interagem com o mundo, mas vivem também buscando o
seu próprio prazer. Aceitavam que o homem deveria ser bom, mas
apenas com a finalidade de alcançar a sua própria felicidade. Eles
negavam a justiça absoluta, pois afirmavam que algo é justo se
contribui para o bem-estar do indivíduo.

6
BURNS. E.M. História da Civilização Ocidental, vol. 1. 44ª, 1980. p.130.
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Os céticos, para eles o conhecimento é por meio da percepção dos


sentidos, por isso é limitado e sempre relativo, nada se pode provar.
Podemos sempre ter noção do que as coisas parecem, porém nunca
podemos realmente afirmar como elas são. A coisa mais sensata a
fazer é deixar de lado a busca por um juízo absoluto e viver em busca
da felicidade7.

Jerusalém sob o domínio Ptolomeu


Israel ficou sob domínio dos Ptolomeus, quando as guerras entre os
seleucidas e ptolomeus chegaram a Jerusalém os judeus tomaram
partido ao lado de Antígono, rei seleuco, que havia decidido controlar a
região dos ptolomeus, a Palestina; por isso Sóter, filho de Ptolomeu
Lagos resolveu afligir os judeus. As constantes batalhas entre esses
dois reinos arrasaram a Palestina. A cidade de Jerusalém foi
destruída e levaram milhares de judeus cativos para o Egito.
Por fim os judeus decidiram apoiar os ptolomeus, o destaque que se dá
a este governo foi que quando os judeus estavam sob o sacerdócio de
Eleazar foi feita a tradução das Escrituras para o grego, a
Septuaginta, e que foi guardada na biblioteca imperial de Alexandria.
Os reis do norte e do sul continuaram suas brigas, e em tempos, seus
acordos de paz. Sempre o território da Palestina era foco da disputa,
pois quem controlasse a região, controlava a passagem entre Egito,
Ásia e Europa. Contudo por mais de um século os judeus estiveram em
relativa paz.
Mas foi com Antíoco IV, seleuco, (175 a.C) que a Palestina realmente
padeceu. Prevendo o vagaroso avanço dos romanos, Antíoco
intensificou o ataque aos ptolomeus e o controle da Palestina. Os
sacerdotes judeus buscaram aliança com Antíoco Epifânio que
rapidamente providenciou apoio e desenvolvimento (helenização) para
a palestina, cultura, moda, jogos olímpicos, esta tomando forma o
partido dos saduceus. Contudo esta atitude não agradou a linha
ortodoxa dos judeus que não aceitavam a tal helenização.
Em 171 Antíoco invade o Egito, ouve-se o rumor em Jerusalém que
Antíoco morrera em batalha, os judeus comemoram isto, esta
comemoração indignou Antíoco que desencadeou uma terrível
perseguição religiosa contra os judeus.

7
BURNS. E.M. História da Civilização Ocidental, vol. 1. pp.130-132.
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A Revolta dos Macabeus

Antíoco também mandou queimar Bíblias, proibia a guarda do sábado,


mandava matar as mulheres e os filhos que fossem circuncidados,
profanou o templo queimando uma porca no altar e depois erigindo ali
uma estátua de Zeus, o que para os judeus foi a gota d’água das
blasfêmias.
Com isto se inicia a revolta dos Macabeus, sob a liderança de Matatias
pai dos que levaram o sobrenome de Macabeus (martelo de Deus), da
família de Asmon. Um dia um comissário de Antíoco foi até este
homem e exigiu que ele sacrificasse aos ídolos. Matatias recusou, mas
um judeu tomou a frente e decidiu fazer o sacrifício, Matatias, já idoso,
avançou sobre o judeu e o matou e logo avançou sobre o comissário e
também o matou em seguida destruiu o altar.
Um grupo de judeus tomou partido ao lado de Matatias e fugiram para
se proteger e viver sua religião. Um grupo de soldados sírios foi
mandado para extinguir a rebelião e os encontrou num dia de sábado;
os judeus recusaram lutar neste dia e morreram milhares, por isso os
judeus decidiram mudar e prometeram defender o seu país, inclusive
no dia santo. Matatias morreu em 166 a.C. e seu filho Judas toma a
liderança dos rebeldes.
Os judeus venceram a batalha contra Antíoco e em 164 a.C.
reedificaram o templo. Com isto deu-se início a dinastia Hasmoneana
(Hasmon, ancestral dos Macabeus). Porém isto não agradou a todos os
judeus, pois o irmão de Judas, Jonatas Macabeus, havia se tornado o
sumo-sacerdote, o problema era que ele não era da linhagem correta (a
família de Zadoque). E então diversos partidos entre os judeus, já
existentes, passaram a ter uma forma mais distinta.

Os partidos judeus

Os Fariseus, mestres da Lei que enfatizavam uma rigorosa e fanática


observância da Lei e dos costumes judaicos; Os fariseus eram apoiados
pela linha dos sacerdotes, desde Jadua até Simão que sempre
buscaram se apegar fortemente às Escrituras e criaram uma coluna de
ódio contra os judeus que fossem mais brandos com os gentios.
Eles não aceitavam o sacerdócio feito pelos hasmoneanos pois não era
da linhagem de Zadoque. O termo fariseu é interpretado como “os
separados”. Com o tempo eles se tornaram maioria no sinédrio e
passaram a ser sinônimo da religião judaica.
Os saduceus, que se opunham aos fariseus, estes eram mais liberais e
a favor de uma helenização dos próprios judeus; sua origem não é
certa, alguns colocam como origem de Zadoque, outros dizem que vem
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de Salomão. Contudo sua forma teve começo historicamente falando


quando a influência helênica e romana se manifestou.
Os saduceus sempre foram a favor dos ricos, contudo por temerem o
povo, muitas vezes se rendiam as opiniões dos fariseus. Mas na
verdade eram céticos com respeito a muitas questões religiosas,
aceitavam apenas o Pentateuco. Seu período de maior influência foi
nos dias de Herodes com o favor de Roma. Junto com os fariseus
controlavam o sistema política dos judeus.
Os essênios, mais radicais, criam que o precisavam se exilar para
buscar mais ao Senhor (foram eles que nos legaram os escritos de
Qunram); Contra a politicagem dos partidos já citados, eles buscaram
uma vida contemplativa para viver sua religiosidade. Eram contra o
envolvimento político, contra possuir escravos, costumavam praticar a
hospitalidade.
Os zelotes, nacionalistas fanáticos, considerados como bandidos pelos
Hasmoneus. E posteriormente também odiados pelos saduceus,
tinham uma interpretação mais farisaica da religião, contudo era
adeptos da violência. Já foram comparados aos macabeus, estiveram
ativos defendendo Jerusalém contra os romanos.
Os fariseus foram os que mais lutaram e mais influenciaram, contudo
em sua luta por preservar as regras do judaísmo, eles adulteraram
muitas regras da Bíblia reduzindo-as a meros rituais que com o tempo
foram se tornando práticas ascéticas, iludindo a mente do povo que
começou a pensar que pela guarda de certas normas poderia agradar a
Deus.

Invasão Romana

A partir de 142 a.C. os judeus gozaram de uma certa liberdade,


apesar de suas lutas internas. Contudo em 63 a.C. Pompeu, general
de Roma, invadiu Jerusalém e a conquista para o Império Romano. O
império nomeou Herodes “O Grande” como governador da Judéia, que
apesar de ter reconstruído o Templo, ficou famoso pelo seu
comportamento egoísta, ciumento e desconfiado, Herodes foi
considerado louco por muitos. – Esta foi a preparação para o cenário
do Novo Testamento.

14 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Os Teólogos do Período Intertestamentário

Foi à época de João Hircano que surgiram os fariseus e saduceus. O


saduceu é um membro da aristocracia que só aceita a validade da
Torah, sendo conservador nas antigas doutrinas do Antigo
Testamento. Já os fariseus são rigorosos pietistas que levam em
consideração a tradição oral junto com a Torah. Sua piedade faz
reconhecer a existência dos anjos e dos demônios e crê na ressurreição
dentre os mortos, além de esperar pelo Messias. Ambos criam na
retribuição e eram classe dominante à época de Jesus.

Aspectos Teológicos do Período Intertestamentário

Teontologia.
A nova compreensão da realeza de Deus era enfatizada nos termos
gregos pantokrátor ( "Todo-Poderoso") e hypsistos ( "Altíssimo") na
Septuaginta. A Septuaginta traduziu IaHVeH por Kyrios.
Antropologia.
A pré-ordenação do curso do mundo criou a doutrina da Soberania de
Deus oposta a rebelião satânica que provocou a Queda do Homem,
cuja redenção será efetuada no eschaton pelo Messias.
Soteriologia.
O pensamento messiânico judaico é em grande parte produto dos
séculos II e I A.C., presente em Enoque, Salmos de Salomão,
Testamento de Simeão, Testamento de Levi, Testamento de Zebulom,
Testamento de Dã, Assunção de Moisés e o Segundo Livro
Pseudepígrafo de Esdras nos quais é retratado como Juiz Escatológico
sacrificado e ressurreto, duplicado nas pessoas de um rei e de um
sacerdote, como a Consolação, Parakalesin, de Israel, o Salvador de
Israel e como o Filho do Homem. A condição escatológica de Juiz
fundiu-se à condição profética de Rei sucessor de David e, somada à
crença do Filho do Homem que vem do Céu, trouxe a definição
intertestamentária do Messias: o Filho do Homem que vem do Céu, da
semente de David, Rei e Juiz Escatológico.
Escatologia.
O desenvolvimento escatológico do período intertestamentário, graças
a apocalíptica, fez tomar vulto a crença na ressurreição dentre os
mortos para participar do Reino Eterno (ou de Mil Anos) do Messias,
Filho de David.

15 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento forma a Parte II da Bíblia. E ele uma


coleção de vinte e sete livros, mas tem somente um terço do volume da
Parte 1, o Antigo Testamento. Antigo Testamento cobre um período de
milhares de anos de história, mas o Novo Testamento menos de um
século.

"Novo Testamento" quer dizer, de fato, "Novo Pacto" em


contraste com a antiga aliança. O vocábulo "testamento" transmite-
nos a idéia de uma última vontade, e só passa a ter efeito na
eventualidade da morte do testador. Assim é que o novo pacto entrou
em vigor em face da morte de Jesus (Hebreus 9:15-17).

Escrita originalmente em grego, entre 45-95 D.C. Os livros do


Novo Testamento não estão arranjados na ordem cronológica em que
foram escritos. As primeiras epístolas de Paulo foram os primeiros
livros do Novo Testamento a ser escritos, e não os evangelhos.

E mesmo o arranjo das epístolas paulinas não segue a sua


ordem cronológica, porquanto Gálatas (ou talvez 1 Tessalonicenses) foi
a epístola escrita bem antes daquela dirigida aos Romanos, a qual
figura em primeiro lugar em nossas Bíblias pelo fato de ser a mais
longa das epístolas de Paulo; e entre os evangelhos, o de Marcos, não o
de Mateus, parece ter sido aquele que primeiro foi escrito.

A ordem em que esses livros aparecem, por conseqüência, é


uma ordem lógica. Os evangelhos estão postos em primeiro lugar
porque descrevem os eventos cruciais de Jesus. Entre os evangelhos, o
de Mateus vem apropriadamente antes de todos devido à sua extensão
e ao seu intimo relacionamento com o Antigo Testamento, que o
precede imediatamente. No livro de Atos dos Apóstolos, uma
envolvente narrativa do bem sucedido surgimento e expansão da
Igreja na Palestina e daí por toda a Síria, Ásia Menor, Macedônia,
Grécia e até lugares distantes como Roma, na Itália.

(O livro de Atos é a segunda divisão de uma obra em dois


volumes, Lucas-Atos.) Bastam-nos essas idéias quanto aos livros
históricos do Novo Testamento.

As epístolas e, finalmente, o livro de Apocalipse, explanam a


significação teológica da história da redenção, além de extraírem dai
certas implicações éticas. Entre as epístolas, as de Paulo ocupam o
primeiro lugar e entre elas, a ordem em que foram arranjadas segue

16 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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primariamente a idéia da extensão decrescente, levando-se em conta a


grande exceção formada pelas Epístolas Pastorais (I e II Timóteo e
Tito), as quais antecedem a Filemom, a mais breve das epístolas
paulinas que chegaram até nós.

A mais longa das epístolas não-paulinas, aos Hebreus (cujo


autor nos é desconhecido), aparece em seguida, depois da qual vêm as
epístolas Católicas ou Gerais, escritas por Tiago, Pedro, Judas e João.

E por fim, temos o livro que lança os olhos para o futuro


retorno de Cristo, o Apocalipse, livro esse que leva o Novo Testamento
a um mui apropriado clímax.

O Novo testamento é o livro mais vital o mundo. Seu tema


supremo é o Senhor Jesus Cristo. Seu objetivo supremo é a Salvação
dos seres humanos. Seu projeto supremo é o reinado final do Senhor
Jesus num império sem limites e eterno.

Dentro do estudo do Novo testamento estaremos observando as


principais Doutrinas e Teologia.

Apesar de Teologia do Novo Testamento ser o título de uma


grande número de livros, seu sentido exato está longe de ser óbvio.
Parte do problema resulta das diferentes aplicações da palavra
teologia. Rudolf Bultmann, por exemplo, tem uma obra notável em
dois volumes intitulada Teologia do Novo Testamento, em que ele
estuda boa parte do Novo testamento. Duas das divisões principais
chamam-se “A teologia de Paulo” e “A teologia do evangelho e das
cartas de João”, mas as outras divisões principais são “Pressuposições
e temas da teologia do Novo Testamento” (neste ele inclui os capítulos
“A mensagem de Jesus”, “A proclamação nos primórdios da igreja” e “A
proclamação da igreja helenista independentemente de Paulo”) e “O
desenvolvimento que resultou na igreja antiga”. Isso parece indicar
que, apesar de o título do livro fazer referência ao “Novo Testamento”,
ele encontra teologia em apenas dois lugares: nos escritos de Paulo e
nos de João. Ele estabelece uma nítida diferença entre o ensino de
Jesus e teologia, conforme sua afirmação inicial: “A mensagem de
Jesus é um dos pressupostos da teologia do Novo Testamento, em vez
de fazer parte dela propriamente dita”. Da sua classificação é possível
concluir que a maior parte do Novo Testamento não é teologia, e de
qualquer forma parece que há duas teologias e não só uma.

17 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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W. G. Kümmel, porém, escreveu um livro cujo título completo é


The theology the New testament according to its major witnesses: Jesus
– Paul – John. Isso parece indicar que existe algo que ele considera “a”
teologia do Novo Testamento, apesar de ficar uma dúvida, pois,
enquanto há um capítulo chamado “A teologia de Paulo”, os outros
capítulos não têm essa palavra no título (“A proclamação de Jesus
segundo os três primeiros evangelhos”, “A fé da primeira comunidade”
etc.). Em todo caso, ele desautoriza a maioria do dos escritores. Não se
pode dizer que Kümmel lida com a teologia “do Novo Testamento”.

Está claro que “teologia” pode ser entendido de mais de uma


maneira. Geoffrey W. Bromiley a define brevemente nestes termos:
“Para ser exato, teologia é o que se pensa e diz sobre Deus”. O Shorter
Oxford Englihs dictionary a vê como “o estudo ou ciência que trata de
Deus, sua natureza e atributos e suas relações com o ser humano e
com o universo”. Claramente ele se refere ao pensamento sistemático
sobre Deus, e podemos entendê-lo neste sentido: “Um sistema coerente
de idéias que interpretam de maneira lógica os assuntos relativos a
Deus”. Talvez fosse melhor dizer: “... idéias que em princípio são
capazes de interpretar...”, pois nossas teologias nem sempre são tão
coerentes e eficientes como gostaríamos. Mas elas representam nossa
tentativa de explanar de modo ordeiro nossa compreensão de Deus e
da sua revelação em Cristo, e de tudo o que isso significa para os seus
adoradores. “Teologia do Novo Testamento”, portanto, é a
compreensão das questões relativas a Deus expressas no Novo
Testamento, nele subentendidas ou dele dedutíveis. Ele ela não se
traduz necessariamente sempre em termos usados pelos escritores do
Novo Testamento, mas está implícita no que eles disseram, pois o que
eles dizem sempre tem por base sua compreensão dos caminhos de
Deus. Se levarmos o termo “Novo Testamento” a sério, resistiremos à
tentação de descartar passagens ou livros que consideramos de
importância inferior ou até não autênticos. Tudo no Novo Testamento
faz parte do pensamento da igreja antiga, quer remonte ao próprio
Jesus, quer a um dos seus seguidores.
É inevitável que surja a questão de até que ponto devemos
repetir o que os escritores do Novo Testamento disseram e até que
ponto devemos interpretá-los. Nossa preocupação principal está
naquilo que “eles queriam dizer” ou naquilo que “eles querem dizer”?
Não há como escapar da primeira pergunta. Temos de fazer a
tentativa sincera de encontrar o sentido que autores transmitiram
quando escreveram seus livros numa situação histórica específica.

18 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Precisamos ter em mente que os escritores dos livros do Novo


Testamento não estavam escrevendo obras teológicas completas.
Estavam concentrados nas necessidades das igrejas às quais
escreviam. Essas igrejas já conheciam o Antigo Testamento, porém
esses escritos novos com o tempo se tornaram a parte mais importante
das Escrituras da comunidade de fiéis. Como tal, devem ser estudados
à parte, com as seguintes perguntas em mente: O que esses escritos
significam? Que teologia expressam ou subtendem? O que há de valor
permanente neles?

É com perguntas como essas que devemos estar nos


preocupando durante esse estudo. Ele não é uma história dos tempos
do Novo Testamento, nem uma descrição da religião do Novo
Testamento. Ele também não parte da idéia de que o Novo Testamento
foi escrito como teologia. Como acabamos de mencionar acima, os
escritores do Novo Testamento escrevia para responder às
necessidades das igrejas do seu tempo como eles as entendiam. Mas o
que eles escreveram não deve ser visto como uma coleção de reflexões
aleatórias. Por trás de todos esses livros está a profunda convicção, a
profunda convicção teológica, de que Deus agiu em Cristo. Em outras
palavras, há teologia por trás de todos os textos do Novo Testamento.

“A teologia bíblica não pode se preocupar com as investigações


críticas e especializadas sobre a origem dos escritos do NT, porque ela
é apenas uma ciência histórico-descritiva e não histórico-crítica”.
Antes, a teologia está preocupada com fé, esperança e amor, pecado
salvação, vida aqui e agora, as esperanças para o futuro, e acima de
tudo com Deus e o que ele fez em Cristo.

Com isso não se quer negar a existência de um


desenvolvimento do pensamento neotestamentário. Certamente houve
um desenvolvimento, mesmo que não tenhamos condições de
acompanhá-lo com precisão. Em todo caso, porém, a tarefa da teologia
é descritiva e não histórica. Ela se ocupa em dizer quais são os ensinos
teológicos dos vários textos, não em explicá-los e em mostrar como
seus vários autores chegaram a eles. Os cristãos se concentram em um
grupo de livros em sua condição canônica, e não em como eles
conquistaram tal condição. O teólogo, é claro, precisa ter alguma
preocupação com a história. Os documentos do Novo Testamento
surgiram em determinada época e determinada cultura, e ambas estão
distantes de nós. Temos de voltar a essa época e fazer nossas
perguntas sob a perspectiva dessa cultura, se quisermos entender o
sentido dos documentos. O que estou querendo dizer é que não vamos
fazer um mapeamento completo da seqüência de eventos da igreja
19 Teologia Bíblica do Novo Testamento
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antiga e a maneira pelas quais os documentos vieram a existir em sua


forma presente, como se esse empreendimento fosse um prelúdio
necessário à teologia.

O teólogo cristão, por isso mesmo, se envolve com seu objeto.


Morgan afirma que “o teólogo não tem a mesma liberdade do
historiador. Ele não pode dizer que foi assim que a tradição entendeu o
cristianismo, sem que isso lhe represente uma opção de vida. Se quiser
continuar sendo um teólogo cristão, ele tem de poder alegar
continuidade com a tradição, e isso significa tecer o desenho de sua
própria posição com os fios recebidos do passado”. Em certa medida,
todos os cristãos estão envolvidos nessa tarefa de identificar os fios no
Novo Testamento e formar com eles um desenho. Pode ser que
ninguém tenha sucesso completo nessa empreitada; não somos
suficientemente grandiosos e nossa compreensão não é abrangente o
suficiente para dar conta da tarefa. Pode até ser que alguns achem
que a tarefa é um esforço para conciliar o que é irreconciliável.
Todavia, pelo menos o que estamos tentando fazer em estudo como
este é englobar o ensino de todo o Novo Testamento. Estamos tentando
ser, não paulinistas ou seguidores de João ou dos teólogos sinóticos,
mas teólogos do Novo Testamento. 8

Isso leva outro problema com que se defronta todo aquele que
quer escrever uma teologia do Novo Testamento nestes dias — a idéia
muito difundida de que há diferenças consideráveis entre os escritores
dos vários livros do Novo Testamento. Alguns argumentam que não
pode haver uma teologia “do Novo Testamento”; preferem pensar em
várias “teologias”. 9 Eles acham que as diferenças entre os escritores
são tão grandes que só podem falar de contradições e, é claro, se há
contradições, é inútil procurar uma teologia comum.

Ao mesmo tempo, porém, em que reconhecemos as diferenças,


também temos de ver que há uma unidade. Se não existisse algum
tipo de unidade, os vários livros não teriam todos sido aceitos no
mesmo cânon. Apesar de todas as suas diferenças, os escritores dos
livros do Novo Testamento eram todos reconhecidos como cristãos,
assim como todos os outros fiéis que não escreveram livros. Havia algo

8
É a partir de uma convicção como essa que muitos em nosso dias preferem trabalhar com um “cânon dentro do cânon”; eles
consideram um ou alguns livros canônicos confiáveis e relegam os demais a um lugar secundário, ou até os desprezam
completamente. Hans Küng mostra que isso “requer nada menos do que ser mais bíblico que a Bíblia” (Structure of the church, New
York, 1964, p. 164). Seja como for, todas essas idéias são totalmente subjetivas; na há nenhuma razão convincente para destacar
uma parte do Novo Testamento do restante. Tudo depende da escolha pessoal do pesquisador e, seja qual for essa escolha, ela
inevitavelmente resulta numa teologia empobrecida pelo omissão de partes importantes das Escrituras. Hasel fez uma avaliação
proveitosa do “cânon dentro do cânon” com referências à literatura (New Testament theology, p. 164-170).
9
Cf. Schlatter: “A teologia do Novo Testamento tem de ser dividida em tantas teologias quantos são os autores do Novo
Testamento” (Morgan, Nature of New Testament teology, p. 140)

20 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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que diferenciava os cristãos das outras pessoas, algo reconhecido tanto


pelos próprios cristãos quanto pelos de fora que olhavam para eles.
Havia o consenso entre os cristãos de que Deus agira em Jesus de
Nazaré, principalmente em sua morte ressurreição. Havia consenso de
que o que Deus fizera exigia deles uma atitude de confiança (a palavra
que usavam era “fé”) e uma conseqüente vida de serviço — serviço
prestado ao seu Deus e às outras pessoas.

Isso quer dizer que não devemos presumir precipitadamente


que formas distintas de expressão necessariamente indicam
contradições irreconciliáveis. Existe o que se pode chamar de “unidade
na diversidade”, e onde ela existe devemos procurá-la. Talvez
possamos usa uma ilustração da nossa própria experiência. Em uma
igreja de pessoas que pensam da mesma forma é bem comum
entrarmos diferenças. Alguns membros estão mais bem informados e
pensam mais profundamente que outros. Alguns destes talvez se
expressem de maneira que os primeiros não escolheriam, maneira
sujeita a objeções legítimas.

Até aqui eu disse apenas que nas igrejas de hoje às vezes


encontramos expressões totalmente diferentes usadas por pessoas
cujas convicções básicas são praticamente as mesmas, e que a mesma
coisa pode acontecer no Novo Testamento. Há autores e pensadores
notáveis no Novo Testamento, mas, por maiores que sejam suas
diferenças, temos de estar cientes de que eles eram membros da
mesma comunidade de fé; não tinham saído de algum deserto, sem
nenhuma convicção religiosa. Tinham sido todos moldados pelo
contato com Cristo, mas também, até certo ponto, pela comunidade à
qual pertenciam. O que eles escreveram é ensinamento cristão, por
mais individual que seja sua expressão. E todos escreveram sob a
tutela do mesmo Espírito Santo.

Esse assunto pode ser estudado de muitas formas diferentes.


Poderíamos começar com os evangelhos, passar para Atos, tomar as
cartas em ordem cronológica e terminar com Apocalipse. Ou
poderíamos pôr tudo em ordem cronológica — pelo menos na ordem
que conhecemos. Há outras possibilidades, como mostra amplamente a
grande variedade de teologia do Novo Testamento. Na falta de um
procedimento aceito universalmente, começaremos com os escritos de
Paulo, pois pode haver poucas dúvidas de que eles formam a parte
mais antiga do Novo Testamente. Depois disso, a declaração fica
complicada, mas passaremos para o Jesus retratado por Marcos,
Mateus, Lucas — Atos e João — nessa ordem. Isso não significa que o
ensino de Jesus seja incerto ou inatingível. Pelo contrário, os
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evangelhos apresentam relatos confiáveis de Jesus, e seus atos e


palavras são de importância fundamental. Mas não há como negar que
os relatos são posteriores aos escritos de Paulo, e devem ser estudados
depois de Paulo. Hebreus virá depois, e a seguir os demais textos. Se
houver objeções a essa ordem, é normal. Mas há objeções a qualquer
ordem. E, a exemplo da observação bem-humorada que alguém fez
sobre a teologia sistemática, não importa muito onde você começa; é
preciso passar por todos os lugares antes de sair. Com esse
pensamento estimulante diante de nós, passaremos a analisar os
livros do Novo Testamento.

Primeira parte
TEOLOGIA DO APÓSTOLO PAULO

Era da tribo de Benjamim, nativo da cidade de Tarso, tinha cidadania


romana como direito de nascença, de família influencial, tinha
herança judaica, grega e romana. Sua natureza era profundamente
religiosa. Era homem educado em toda cultura secular.

No caminho de Damasco, numa intervenção divina, o Senhor se revela


a ele. Assim passa a reconhecer que os cristão a quem perseguia
pertenciam ao Senhor Jesus Cristo. Houve uma transformação
instantânea.

Tema central de seu ensinamento é a Graça. Vejamos:

Efésios 2 : 8 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé,


e isto não vem de vós, é dom de Deus;

Romanos 3 : 24 sendo justificados gratuitamente pela sua


graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus,

I Coríntios 15 : 10 Mas pela graça de Deus sou o que sou; e


a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito
mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de
Deus que está comigo.

Efésios 3 : 8 A mim, o mínimo de todos os santos, me foi


dada esta graça de anunciar aos gentios as riquezas
inescrutáveis de Cristo,

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Paulo apresenta a Graça como uma atitude de Deus para com o


homem, Ef. 2:7; uma obra em seu favor, tito 2 : 11; um Dom concedido
ao homem, Ef. 4 : 7.

Gálatas 5 : 16 Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não


haveis de cumprir a cobiça da carne.

Paulo ao referir-se em " andai em espírito " que dizer que devemos
usar nossas qualidade para inclinar-se à Deus. No cristão a vida
espiritual é o domínio das inclinações da carne. É o viver consciente no
Espírito.

Sua teologia enfatiza o homem em seu estado completo. Corpo, Alma e


Espírito.

I Tessalonicenses 5 : 23 E o próprio Deus de paz vos


santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo
sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

II Pedro 2 : 13 recebendo a paga da sua injustiça; pois que


tais homens têm prazer em deleites à luz do dia; nódoas
são eles e máculas, deleitando-se em suas dissimulações,
quando se banqueteiam convosco;

II Coríntios 2 : 3 E escrevi isto mesmo, para que, chegando,


eu não tenha tristeza da parte dos que deveriam alegrar-
me; confiando em vós todos, que a minha alegria é a de
todos vós.

I Tessalonicenses 1 : 6 E vós vos tornastes imitadores


nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra em muita
tribulação, com gozo do Espírito Santo.

Hebreus 4 : 12 Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e


mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e
penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e
medulas, e é apta para discernir os pensamentos e
intenções do coração.

23 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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O Conceito de Paulo sobre o Espírito Santo

A Ação do espírito Santo no ministério do apóstolo era real. Paulo nos


orienta a termos uma vida totalmente voltada para a submissão ao
Espírito Santo.

A santificação, o crescimento na graça é fruto do viver no Espírito. O


Espírito Santo é Deus operando no aperfeiçoamento do Corpo de
Cristo, a Igreja. A Igreja aparece como corpo onde Cristo é a cabeça.

Os escritos de Paulo

Paulo era um homem muito talentoso, e seu ministério abrangente e


eficaz10 foi grande ajudado pelo fato de que ele transitava bem em dois
mundos, o judeu e o helenista (talvez devêssemos acrescentar um
terceiro — o mundo romano). Ele era “israelita da descendência de
Abraão, da tribo de Benjamim” (Rm 11.1; cf. 2Co 11.22), algo do que
ele claramente se orgulhava. Sobre descendência e realização ele pôde
escrever: “Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu
ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo
Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo,
perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei. Irrepreensível”
(Fp 3.4-6). Seu estilo de vida estava de acordo com sua profunda
convicção de que o caminho para Deus não era o da obediência à lei,
mas, dependendo da ocasião, podia seguir os costumes judaicos; por
exemplo, Lucas nos conta que ele cortou o cabelo em Cencréia por
causa de um voto (At. 18.18), evidentemente de nazireu. 11 Apesar de
se tornar um cristão fervoroso, vindo a dedicar-se inteiramente a viver
por Cristo e a pregá-lo, ele não retornou ao judaísmo. Ele podia
pergunta: “Qual é a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da
circuncisão?” e apesar da lógica do seu argumento nos fazer esperar a
resposta “nenhuma”, ele responde: “Muita, sob todos os aspectos...”
(Rm 3.1-2). Em todos os seus escritos ele faz constantes referências às
Escrituras dos judeus, e está claro que até o fim dos seus dias ele
prezava muito o fato de Deus ter dado tal tesouro ao seu povo.
Há uma grande diferença na maneira como ele tratava os escritos
gregos. Fica claro, pelo conhecimento que Paulo tinha da língua grega,
10
Edgar J. Goodspeed disse: “Paulo com certeza dominou a teologia cristã desde o primeiro século, e até hoje, em medos do século
vinte, está revelando novos valores morais. (Paul. Philadelphia, 1947, p. 221). Cf. Michael Grant: “Sem o terremoto espiritual que
ele causou o cristianismo provavelmente nem teria sobrevivido”. Sua importância, porém, também é muito mais ampla, além da
esfera religiosa. Ele tem exercido uma influência enorme, geração após geração, sobre eventos não religiosos e maneiras de pensar
— sobre política e sociologia e guerra e filosofia e toda essa esfera intangível em que os processos de pensamento das sucessivas
épocas se formam”; mais adiante ele chama Paulo de “um dos homens mais destacados que fizeram a história da humanidade”
(Sanit Paul. New York, 1976, p.1)
11
Alguns afirmam que esse voto não poderia ter sido de nazireu, pois nesse caso o cabelo podia ser raspado apenas em Jerusalém.
Mas I. Howard Marshall cita evidências de que o sacrifício tinha de ser oferecido em Jerusalém, mas o cabelo podia ser cortado em
outro lugar (The acts of the apostles. Leicester, 1980, p. 300).

24 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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que todos os tesouros da literatura grega estavam abertos para ele,


mas em todos os seus textos ele cita autores gregos apenas duas vezes
(1Co 15.33; Tt 1.12; Lucas fala de mais uma citação, esta num sermão,
em Atos 17.28). o interesse de Paulo estava no Antigo Testamento; ele
o cita constantemente e, muito interessante, quase sempre da
Septuaginta (em grego) e não do hebraico.
Paulo se identificava com Israel. Mesmo escrevendo aos gentios, ele
chama Abraão e também Isaque de “nosso pai” (Rm 4.1; 9.10) e faz
referências aos “nossos pais” (1Co 10.1). Ele espera paz para “o Israel
de Deus” (Gl 6.16). 12 Talvez essa identificação em nenhum outro lugar
seja tão tocante como no tratamento emocional que ele dá ao problema
da rejeição do Messias por Israel. Cristo era tudo para Paulo (Fp 3.8),
mas ele podia desejar ser maldito e separado de Cristo se isso pudesse
ser de proveito para seus companheiros israelitas (Rm 9.3) Fica claro,
de tudo o que Paulo escreveu, que ele valorizava muito sua herança
judaica. Apesar de não poder compará-la com a vida cristã(2Co 3.11),
ele ainda achava que havia “glória” nela (Rm 9.4; 2Co 3.7). Ela era
diferente de muitos cristãos convertidos a uma nova religião, que se
tornam amargos em relação à fé que deixaram para trás. Paulo era
totalmente cristão, mas também totalmente israelita, e seus escritos
não farão sentido para nós se não tivermos isso mente.
Apesar de ser judeu, Paulo deixou claro que o trabalho para o qual
fora chamado devia ser feito em boa parte entre os outros povos do
mundo. Ele era o apóstolo dos gentios (Rm 11.13), “ministro de Cristo
entre os gentios” (Rm 15.16); seu chamado era pregar Cristo entre os
gentios (Gl 1.16; Ef. 3.8) falou de um acordo com os apóstolos de
Jerusalém pelo qual ele e Barnabé deviam dirigir-se aos gentios,
enquanto Tiago, Pedro e João voltavam-se para os judeus (Gl 2.9). Ele
se chamou de prisioneiro de Cristo Jesus, por amor [dos] gentios” (Ef
3.1), e de “mestre dos gentios” (1Tm 2.7; também, em alguns
manuscritos, 2Tm 1.11).
Esse pano de fundo complexo complica nosso estudo dos escritos de
Paulo. O mesmo acontece com o estilo literário do apóstolo. Ele corre
na frente, muitas vezes deixando de fora palavras que esperava que

12
O sentido exato dessa expressão é muito debatido. Muitos concordam com arc?: “A todos quantos andarem de conformidade com
esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles, sobre o Israel de Deus”, o que iguala o Israel de Deus à igreja. Mas essa maneira de
se referir à igreja não é encontrada em nenhum outro lugar, e alguns entendem a referência como sendo ao Israel não-cristão. Na
décima nova bênção acrescentada às Dezoito Bênção há uma oração por paz e outras bênçãos “sobre nós e sobre o teu povo Israel”.
Se Paulo pensava assim, ele “agora ora por seus compatriotas que ainda não aceitaram a Cristo” (Raumond T. Stamm, IB, 10:591).
F. F. Bruce se lembra de que Paulo espera a salvação de “todo Israel” (Rm 11.26) e vê aqui uma “perspectiva escatológica” (The
epistle to the Galatians.
Grand Rapids, 1982, p. 275). N. Herman Ridderbos, porém, sustenta a primeira opinião: “Em vista do que foi dito antes (cf. 3.29;
4.28,29), dificilmente podemos duvidar de que este Israel de Deus não se refere ao Israel empírico, nacional, como um parceiro
igualmente autorizado junto com os crentes em Cristo (‘a todos quantos andarem de conformidade com esta regra’), nem apenas aos
crentes da nação israelita, mas a todos os crentes do novo Israel. Nesta bênção, portanto, o apóstolo tem em mente os leitores da sua
carta, desde de andem segundo a nova regra, mas a partir deles o escopo se abre para incluir no sentido mais amplo os crentes, o
novo povo de Deus” (The epistle of Paul to the churches of Galatia. London, 1954, p. 227). E, apesar de não chamar
especificamente a igreja de Israel em outro lugar, ele claramente a considerava o verdadeiro Isral (Rm 2.28-29; 9.6; Fp 3.3)

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seus leitores completassem (e que eles esperam estar completando


corretamente!). Ele é um pensador original, às vezes lutando com a
língua para dizer coisas que ninguém tinha dito antes. Isso aumenta
nossa dificuldade e, ao mesmo tempo, torna nosso estudo
compensador. 13
Alguns estudiosos mostram o desenvolvimento havido no pensamento
de Paulo das primeiras para as últimas cartas, mas essa busca
provavelmente é em vão. As cartas procedem todas de um período de
tempo relativamente curto, perto do fim da vida de Paulo. Paulo já era
cristão e havia pregado durante dezessete anos ou mais antes de
escrever a primeira das cartas que temos dele. A essência do seu
pensamento deve ter sido formada bem antes de ele escrever suas
cartas. As diferenças entre as cartas devem ser explicadas pelas
circunstâncias diferentes do apóstolo e palas diversas situações que as
provocaram, e não por suposto desenvolvimento em sua maneira de
pensar.
Precisamos ter em mente que os escritos de Paulo são cartas de
verdade, escritas para pessoas de verdade que enfrentavam problemas
de verdade. Ele nenhuma vez tenta organizar uma sinopse da sua
teologia. Pela maneira que alguns temas se repetem e diante do modo
que Paulo trata deles, podemos deduzir que eles são importantes. Mas
ele não falou muito sobre assuntos não controversos, e isso inclui
temas importantes como a autoridade das Escrituras ou a
pessoalidade de Deus. Todas as cartas de Paulo são escritos
ocasionados, não capítulos de um teologia sistemática, e temos de
tomar cuidado para não pensar que podemos apresentar uma sinopse
organizada de todos os temas teológicos que ele considerava
importantes. Entretanto, tudo o que ele escreve tem base teológica, e
isso nos permite fazer afirmações com confiança. Podemos não ser
capazes de propor uma forma sistemática da “teologia de Paulo”, mas
podemos dizer com certeza que ele deu expressão a algumas idéias
teológicas importantes. Constituam ou não essas idéias uma teologia
completa, seu estudo pode ser compensador.
Não devemos esquecer que esses textos foram produzidos em datas
remotas. Não há certeza sobre algumas datas, mas a mais antiga carta
de Paulo que temos deve ter sido escrita uns vinte anos após a
crucificação, e o conjunto principal dos seus textos completou-se em
poucos anos. Por isso não demorou para os elementos essenciais da
doutrina cristã aparecerem em sua formulação paulina. Esse fato é
importante, principalmente numa época em que alguns críticos dão a

13
Cf. Stephen Neill: “Como grande pensador, Paulo pode ser, e muitas vezes é, terrivelmente difícil. Mas isso não é intencional.
Sempre de novo ele está tentando dizer coisas que nunca tinham sido ditas antes e para as quais ele não tem vocabulário disponível.
[...] Com freqüência acontece que, quando Paulo está sendo mais difícil, ele também é mais original” (Jesus through many eyes.
Philadelphia, 1976, p. 42).

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impressão de que, durante muitos anos, a igreja antiga estava


ocupada pela tarefa de desenvolver e moldar o que veio a ser a
ortodoxia cristã.
Existem aqueles que afirmam que Paulo adotou muitas coisas da
igreja antiga14, mas isso levanta a pergunta: “Que igreja antiga?” Não
há motivo para duvidar da estimativa de Martin Hengel de que Paulo
se converteu “entre 32 e 34”. 15 Certamente houve cristãos antes de
Paulo, mas não muitos. Se havia alguém que pertencia à igreja
“antiga”, Paulo era um deles; e quando a tradição cristã foi
estabelecida, ele fez parte do processo. 16Permita-me dizer com toda
clareza que não há nenhuma razão para achar que houve grandes
desenvolvimentos na teologia cristã antes de Paulo se tornar cristão.
Sua teologia é muito completa e muito profunda — e muito antiga.
Mas os escritos de Paulo são evidências sólidas de que a posição cristã
básica estava muito bem firmada antes da metade do primeiro século,
menos de vinte anos após a morte de Jesus. Escritores que surgiram
depois acrescentaram muito, mas a teologia de Paulo é rica e plena, e
sua data antiga é um elemento importante.

Deus no centro

O grande interesse de Paulo está em Deus. 17 Geralmente


consideramos óbvio que um escritor do Novo Testamento escreva sobre
Deus, e essa suposição tem seus motivos. Mas, via de regra, não
notamos que Paulo usa o nome de Deus com freqüência
surpreendente. Sua terminologia é realmente excepcional. Ele se
refere a Deus bem mais do que qualquer outro autor no Novo
Testamento. Ele tem mais de 40 por cento de todas as referências a

14
A. M. Hunter, por exemplo, relaciona sete pontos que Paulo assumiu: “1) o kerygma apostólico...; 2) a confissão de Jesus como
Messias, Senhor e Filho de Deus; 3) a doutrina do Espírito Santo como dinâmica divina da nova vida; 4) o conceito da igreja como o
novo Israel; 5) os sacramentos do batismo e da ceia do Senhor; 6) as ‘palavras do Senhor’ que Paulo cita ou indica conhecer em suas
cartas; e 7) a esperança da parousia — da vinda de Cristo em glória” (The gospel according to st. Paul. Philadelphia, 1966, p. 12).
15
Between Jesus and Paul. Philadelphia, 1983, p. 11. Baseando-se em inscrições que dão a data em que Gálio foi procônsul da
Acaia, na estada de Paulo em Corinto (At 18.11ss) e nas informações sobre eventos em Gálatas 1.18,21 ele chega a 32-34 d.C. para
a conversão de Paulo; ele entende que a crucificação ocorreu em 30 d.C. (p. 30-31). Geoge Ogg data a ressurreição em 33 d.C. e a
conversão de Paulo em 34 ou 35 (The chronology of the life of Paul. London, 1968, p. 30). Nils A. Dahl põe a conversão de Paulo
“apenas uns dois anos após a morte de Cristo” (Studies in Paul. Minneapolis, 1977, p. 2).
16
Mesmo considerando o tempo que ele passou na Arábia (Gl 1.17), que não pode ter sido muito longo, pois está incluído em um
período de três anos em que ele também fez outras coisas (Gl 1.18), não houve um período longo em que Paulo esteve desligado da
vida da igreja. Ele ficou por um tempo indeterminado em Tarso (At. 9.30; 11.25), mas não há razão para crer que ele estava sem
contato com a igreja. O homem que tivera a experiência em Damasco e a personalidade vigorosa revelada na correspondência
paulina não era de ficar à margem da vida de igreja. Não temos como velo ativo desde o começo. A opinião de Becker de que Paulo
“não recebeu a tradição mas várias tradições” (Paul the apostle, p. 118-119), como outros veredictos, deixa de ver o envolvimento
de Paulo com a igreja desde cedo. Ele faz referência à “variedade e multiplicidade de tradições pré-paulinas na igreja antiga” (p.
127). Dahl também vê Paulo como dependente de “tradições que existiam antes” (Studies in Paul, p. 10), mas também se refere ao
“impacto decisivo de Paulo sobre a igreja em seus anos de formação” (p. 19), e diz ainda: “Uso aqui o termo comum de cristianismo
‘pré-paulino’ para me referir a ensinos que Paulo provavelmente teve em comum com outros mestres e pregadores cristãos antigos”
(p. 96; itálico meu).
17
Cf. Dean S. Gilliland: “O primeiro fator que condicionou o pensamento de Paulo foi seu conceito judaico de Deus. [...] Deus é
único, vivo e totalmente justo, executa seus propósitos no mundo, mantém comunhão com o ser humano e cria uma família para si
aqui na terra. Deus no centro tornou a religião de Paulo pessoal, ética, histórica e oficialmente monoteísta” (Pauline theology E
mission practice. Grand Rapids, 1983, p. 20).

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Deus no Novo Testamento (548 em 1314) — uma proposição muito


alta. É realmente extraordinário que um só escritor, cujos escritos
perfazem cerca de um quarto do Novo Testamento, tenha quase
metade das referências a Deus. Em Romanos ele usa a palavra Deus
153 vezes, em média uma vez a cada 46 palavras. Não é fácil usar
qualquer outra palavra tantas vezes.18Paulo não mantém a mesma
proporção em toda a sua correspondência,mas em todas as suas cartas
ele fala muito de Deus.
Paulo era um homem dominado pelo pensamento acerca de Deus, e
falava constantemente daquele que lhe era central. Tudo que ele
tratava, ele racionava com Deus. Ele ensinou que Deus é soberano
sobre a vida, em todos os seus aspectos, tanto que não há nenhuma
parte da nossa experiência para a qual possamos dizer que Deus é
irrelevante. Paulo via a importância de Deus em tudo no tempo
presente, e contava com a chegada de uma época em que Deus seria
“tudo em todos” (1Co 15.28).

Um Deus glorioso

Como todo judeu, Paulo é um monoteísta rígido; só há e só pode haver


um Deus (Rm 3.30; 1Co 8.4, 6; Gl 3.20; Ef 4.6; 1Tm 1.17; 2.5). Esse
único Deus ele vê como Pai do seu povo (Rm 1.7; 1Co 1.3; 2Co 1.2-3; Gl
1.3-4; Ef 4.6; 5.20; Fp 1.2; 1Tm 1.2; 2Tm 1.2; Tt 1.4), e o Pai é
claramente um grande Deus. A riqueza, a sabedoria e o conhecimento
mais profundos são ele (Rm 11.33).
Relacionado com isso está o interesse de Paulo na glória (ele usa a
palavra 77 vezes, quase 47 por cento das ocorrências no Novo
Testamento). Uma vez ele lamenta que os pecadores ficam sem a
glória de Deus (Rm 3.23; cf 1.23), e ele pode se referir à “esperançada
glória de Deus” (Rm 5.2). O mais das vezes, porém, ele se compraz na
glória de Deus ((2Co 4.6, 15; Fp 2.11) ou vê como motivação para a
conduta: devemos como Abraão, “dar glória a Deus” (Rm 4.20; cf. 15.7;
1Co 10.31; 2Co 1.20; Fp 1.11). Frequentemente ele fala de “glorificar”
a Deus (Rm 15.6, 9; 1Co 6.20; 2Co 9.13; Gl 1.24). O Deus que é tão
central em Paulo é um Deus glorioso.

18
Em Romanos as únicas palavras que Paulo usa com mais freqüência do que “Deus” são o artigo definido, kai (“e”), en (“em”) e
autoj (“ele”). Mesmo palavras muito comuns como de (( “mas” ou “e”) e o verbo “ser” são usados com menos freqüência. Dos
conceitos teológicos importantes nesta carta, o próximo mais freqüente é “lei” com 72 ocorrências, bem mais atrás. Depois vêm
“Cristo” (65 vezes), “pecado” (48), “Senhor” (43) e “fé” (40). As estatísticas não significam tudo, mas devemos estar cientes de que
Paulo usa a palavra “Deus” com freqüência comum.

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A predestinação

Paulo insiste muito em que a vontade de Deus está sendo feita; ele
fala disso repetidamente (p. ex. Rm 1.10, 12.2; 1Co 1.1; 4.19; Ef 1.1,4-
5, 11; Cl 1.1; 4.12 1Ts 5.18). A verdade central do cristianismo é que
Cristo “se entregou a si mesmo pelo nossos pecados”, e ele o fez
“segundo a vontade de nosso Deus e Pai” (Gl 1.4), pensamento que
Paulo repete de várias maneiras. Há uma forte defesa da
predestinação no capítulo que inicia Efésios, onde lemos que os crentes
foram escolhidos em Cristo antes da criação do mundo (v. 4) e
predestinados para a adoção por meio de Jesus Cristo (v. 5). O
“beneplácito” de Deus foi objetivado em Cristo (v. 9), e os crentes
foram “predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as
coisas conforme o conselho da sua vontade” (v. 11).
A predestinação, como Paulo a entendia, dá segurança: “ Aos que de
antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu filho. [...] E aos que predestinou, a esses também
chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que
justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.29-30). Moffatt traduz
Romanos 11.29 assim: “Deus nunca volta atrás com seus dons e
chamado”. Deixados por conta própria, nunca teríamos certeza de ter
feito o que é necessário para a nossa salvação. No entanto, não fomos
deixados assim: Deus nos predestinou e nos chamou de seus. Isso é
uma maneira de dizer que toda a nossa salvação, do início ao fim, é de
Deus. Temos a segurança de que Deus nos escolheu antes da criação
do mundo e que ele não volta atrás em seu chamado. Nada mais pode
nos dar essa segurança.
Também devemos notar que Deus predestina as pessoas para
realizações éticas. Paulo não vê essa doutrina como um incentivo à
preguiça. Antes, fomos “criados em Cristo Jesus para boas obras, as
quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef
2.10). Por sermos eleitos de Deus, devemos “nos revestir de ternos
afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de
longanimidade” (Cl 3.12). A predestinação não é para nos dar
privilégios, mas para nos dar trabalho. Ela é um lembrete de que as
boas obras não são opcionais para o crente, mas o próprio objetivo da
sua predestinação.

29 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Deus julgará

Paulo vê Deus agindo como juiz agora mesmo. Para os crentes isso é
providência compassiva de Deus, em que “somos disciplinados pelo
Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1Co 11.32). Os
sofrimentos por que passamos são evidências do amor de Deus. Ele
nos disciplina para evitar que soframos o destino dos mundanos.
Devemos ter em mente que o julgamento faz parte do evangelho (Rm
2.16); talvez não consigamos nos adaptar facilmente à idéia de que o
julgamento faz parte das boas novas, mas se quisermos entender como
Paulo vê o julgamento, temos de tentar olhar para o julgamento por
outras lentes.
O pecado colhe o que plantou, pois os pecadores recebem, “em si
mesmos, a maneira da punição do seu erro” (Rm 1.27). Seria fácil ver
isso como um processo natural de causa e efeito, pelo qual as próprias
conseqüências inevitável do pecado são a punição do pecado. Contudo,
apesar de Paulo reconhecer que há alguma verdade nisso, ele insiste
em que a mão de Deus está em tudo. Três vezes ele diz que Deus
“entregou” os pecadores gentios às conseqüências desagradáveis do
seu pecado (Rm 1.24, 26, 28). Deus nunca é neutro; ele sempre se opõe
ao mal. Paulo chega a dizer que, aos pecadores que “não acolheram o
amor da vedade para serem salvos”, “Deus lhes mandou a operação do
erro” (2Ts 2.10-11).
Em passagens como essa teria sido fácil expressar o pensamente de
modo impessoal. Paulo, porém, não está visualizando um processo em
que um Deus inoperante fica só olhando. Deus é ativo e participa do
processo, 19 ele que fez esse universo moral para que aqueles que
rejeitam o “amor da verdade” acabem crendo numa mentira. Isso faz
parte do julgamento divino. A conseqüência inevitável da rejeição da
salvação de Deus é o engano, mas novamente Paulo não relega isso à
ação de causas naturais. Deus está envolvido nisso. No mesmo espírito
ele cita de Isaías palavras que dizem que Deus dá aos pecadores um
“espírito de entorpecimento” (Rm 11.8). Os pecadores se desligam da
vida real e se restringem a um entorpecimento total e à horrível
incapacidade de ver as boas dádivas de Deus pelo que são. E a mão de
Deus está nisso também. Paulo não deixa lugar para um Deus
ausente.
De outro ponto de vista, o juízo de Deus é mostrado nas perseguições e
aflições que os cristãos tessalonicenses sofreram (2Ts 1.5). Essas

19
A. L. Moore rejeita como “dualismo intolerável” a idéia de que alguns são atraídos por Deus e outros por Satanás: “Não podemos
aceitar isso nem por um instante. Por isso, enquanto nos versículos 13s. deus é apresentado por todo processo de salvação, nos
versículos 11s. ele também não é excluído da atividade no processo de incredulidade que leva à perdição” (1 and 2 Thessalonians.
London, 1969, p. 105). F.F. Bruce diz a mesma coisa com outras palavras: “Ser iludido pelo erro é a condenação divina em que
incorrem inevitavelmente neste universo moral aqueles que fecham os olhos para a verdade” (Word biblical commentary: 1 & 2
Thessaloniasn. Waco, 1982, p. 174).

30 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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tribulações lhes foram enviadas como disciplina amorosa de Deus, e é


porque a mão de Deus está nessa disciplina, e porque eles estão
cientes disso, que os cristãos são capazes de suportar tão bem as
tribulações.
Todavia, apesar de o julgamento presente ser uma realidade inegável,
para Paulo é mais importante o julgamento futuro, o julgamento que
ocorrerá no fim dos tempos. Deus irá “julgar os segredos dos homens”
(Rm 2.16), ele escreve, e claramente essa verdade é básica: nada pode
ser escondido de Deus, e ninguém escapará ao exame (Rm 2.3; 14.12).
O julgamento será universal, e os que estão fora da igreja são
mencionados especificamente (1Co 5.13). Além de julgar a todos, Deus
o fará com justiça perfeita, imparcial (Rm 2.11), e com “justo juízo”
(Rm 2.5; 2Ts 1.5-6), de acordo com a verdade (Rm 2.2). Aqueles que
amam a lei são advertidos de que dar ouvidos à lei não é suficiente; ser
justo diante de Deus significa obedecer à lei (Rm 2.13). Isso parece
uma referência a discussões judaicas. Alguns rabinos pensavam que
bastava ouvir a lei, e que todos os israelitas seriam salvos. Paulo
insiste em que a lei tem de ser não apenas ouvida, mas também
obedecida, se quisermos ser justos perante Deus. O julgamento de
Deus é um assunto muito mais sério do que muitos dos seus
compatriotas pensavam. Eles não tinham uma solução fácil.
De vez em quando Paulo diz que as pessoas receberão louvor de Deus
no julgamento (Rm 2.29; 1Co 4.5), porém, na maior parte das vezes ele
está preocupado com a verdade de que, quando pensamos no
julgamento, pensamos naqueles com quem Deus não está satisfeito
(1Co 10.5), os que enfrentam a destruição eterna (1Co 3.17; 6.13).
Mesmo assim, não importa como se veja o julgamento, para o apóstolo
a coisa básica é que Deus se ocupa em executá-lo.

O amor de Deus

Numa passagem muito importante Paulo nos diz que “Deus prova seu
próprio amo para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós,
sendo nós inda pecadores” (Rm 5.8). Isso é totalmente estranho à
experiência humana. Nós sabemos que eventualmente alguém dá sua
vida por outra pessoa, mas faz esse gesto incrivelmente nobre em
favor de uma pessoa boa ou por alguém a quem está ligado de alguma
maneira, ou talvez por uma boa causa. Ninguém morre
voluntariamente por alguém que não estima. Porém, enquanto o ser
humano ainda era pecador e, assim, indigno aos olhos de Deus, Cristo
morreu por ele. Esse é um pensamento essencial em Paulo e está por
trás de muitas coisas que ele escreve. Deus dá seu amor
indistintamente; ele o derramou em nosso coração pelo Espírito Santo
(Rm 5.5).
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E seu amor é todo-poderoso. Numa magnífica passagem retórica,


Paulo chega ao seu ponto alto com o pensamento de que nada em todo
este mundo ou fora dele pode separar do amor de Deus aquele que é de
Deus (Rm 8.38-39). “O amor de Deus” faz parte natural da bênção
(2Co 13.14), e os cristãos são os “filhos amados” de Deus (Ef 5.1). Deus
faz coisas pelo seu povo. Podemos traduzir assim Romanos 8.28: “Deus
age em todas as coisas para o bem...” ou: “Todas as coisas cooperam
para o bem...” Independentemente de como traduzimos a frase, a idéia
é que Deus traz boas dádivas ao seu povo (“coisas” não cooperam por
si). O amor de Deus está em ação em nós e por nós (cf. o pensamento
semelhante em 1Co 2.9). Deus é realmente “rico em misericórdia” e
por isso nos amou com um grande amor, apesar de nossa
pecaminosidade (Ef 2.4). Ele dá com generosidade aos que o amam, e
espera que eles respondam dando aos outros. Quando o fazem,
descobrem que “Deus ama a quem dá com alegria” (2Co 9.7). Não
devemos passar por cima da ênfase de Paulo no amor de Deus e no seu
constante cuidado em favor dos que ele criou. Esse amor divino é tão
característico, que Paulo fala com naturalidade dos crentes com
“amados de Deus”, “chamados para ser santos” (Rm 1.7; cf 2Ts 3.5; Tt
3.4).
Os versículos acima mostram que amor e eleição andam juntos, e esse
vínculo também pode ser visto em outras passagens (p.ex. Rm 9.25;
11.28; Cl 3.12; 1Ts 1.4; 2Ts 2.13)20. As pessoas nem sempre percebem
isso, e algumas entendem a eleição como um processo lúgubre em que
Deus arbitrariamente predestinou certas pessoas para a perdição
eterna. Como Paulo a entendia, porém, a eleição operada por Deus é
um meio de resgatar pessoas, não de condená-las. É o exercício do
amor de Deus. E é eficaz. Ninguém pode levantar acusações contra os
eleitos de Deus (Rm 8.33). Paulo vê esse princípio em ação na história
de Israel, em que “o propósito de Deus, quanto à eleição” está claro
(Rm 9.11). É verdade que nessa passagem somos informados da
rejeição de Esaú bem como da eleição de Jacó, mas Paulo rejeita de
modo determinado e enfático a acusação de que Deus é injusto. Seu
argumento é complexo, mas está claro que ele insiste em que o
propósito de Deus é misericórdia (Rm 9.15).
Um aspecto interessante do chamado, que obviamente significa muito
para Paulo, é que Deus não escolheu os atraentes e promissores entre
as pessoas deste mundo, mas os tolos, os fracos, os inferiores e até “as
coisas que não são” (1Co 1.28). Deus não segue a trilha da sabedoria

20
Provavelmente devemos incluir esta citação de Malaquias: “Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú” (Rm 9.13). A melhor
maneira de entender essas palavras é como referência a nações e não a indivíduos, e como uma indicação de eleição. C. E. B.
Cranfield toma as palavras nesse sentido e acrescenta: “Contudo, mais uma vez, precisa ser sublinhado que o mesmo que acontece
com Ismael acontece com Esaú: o rejeitado continua sendo, de acordo com o testemunho da Bíblia, objeto do cuidado compassivo
de Deus” (A critical and exegetical commentary on the epistle to the Romans, ii. Edinburgh, 1979, p. 480). Cf. Gênesis 27.39-40;
Deuteronômio 23.7.

32 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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como este mundo a conhece que de qualquer forma não pode nos levar
até Deus (1Co 1.20-21; 3.19). Não devemos deixar de ver que, apesar
de Deus, em sua sabedoria, chamar pessoas que não impressionam sob
nenhum aspecto humano, ele não as deixa como estão. Ele as
transforma em algo especial, pois as chama à santidade (1Ts 4.7).21

A salvação de Deus

O Deus que ama de modo tão profundo não abandonará os pecadores à


perdição, e toda teologia e experiência religiosa de Paulo estão
baseadas diretamente no que Deus fez em Cristo em favor da nossa
salvação.
Às vezes, no Antigo Testamento, justiça e salvação estão vinculadas,
como quando Deus diz: “A minha salvação durará para sempre, e a
minha justiça não será anulada” (Is 51.6), e quando o salmista escreve:
“O Senhor fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça perante
os olhos das nações” (Sl 98.2). Deus não esquecerá seu povo. É certo
que ele o liberte, e ele o fará. O fato de Deus agir de acordo com o
direito não quer dizer que há uma lei ou norma acima dele à qual ele
tem de obedecer. Na Bíblia, Deus é revelado como grande, e não há
ninguém nem nada acima dele. Ele age de acordo com o que é justo,
porque é um Deus justo. É-lhe natural agir com justiça.
É importante entender que Paulo, quando diz que Deus salva, está
querendo dizer que ele salva de uma maneira que é segundo a justiça.
Há outras maneiras de compreender a salvação, além de uma posição
legal, e Paulo usa várias. Por exemplo, Deus oferece Cristo como
“propiciação” (Rm 3.25). Algumas pessoas não entendem palavras
como propiciação, e isso acontece mais porque os estudiosos de hoje o
conceito da “ira de Deus”. Para nós, porém, deve estar claro que Paulo
visualiza um Deus irado com os pecadores.
Esse é o foco do seu longo argumento em Romanos 1.18-3.20. A
passagem é iniciada com a declaração de que a ira de Deus é revelada
do céu contra toda foram de mal (Rm 1.18), e depois ira aparece mais
três vezes (2.5, 8; 3.5). Em uma passagem em que Paulo podia muito
facilmente ter dito que o pecado traz consigo sua próprias
conseqüências temíveis, ele declara que “Deus os entregou” a essas
conseqüências (Rm 1.24, 26, 28). O que é isso, senão a ira de Deus em
ação? De fato, Paulo deixa isso subentendido, incluindo as palavras no
desenvolvimento do seu tema de que a ira de Deus se revela contra
toda impiedade (v. 18). O apóstolo diz diretamente que “ira e

21
Ernest Best mostra que “elas são ‘os santos’, os santificados, que pertencem ao domínio de Deus”. Ele ainda comenta que, apesar
de o escravo ou o homem livre chamado para ser cristão permanecem escravo ou homem livre, “o impuro chamado para ser cristão
não pode permanecer impuro, porém precisa buscar a santificação” (A commentary on the first and second epistles to the
thessalonians. Lodon, 1977, p. 168).

33 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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indignação” estão guardadas para os pecadores (Rm 2.5, 8) e que Deus


é quem faz os pecadores sentirem a sua ira (Rm 3.5; 922).
A palavra propiciar significa “desviar a ira”, geralmente por meio de
uma oferta. A Bíblia diz que é pelo que Cristo fez que somos salvos da
ira (Rm 5.9; 1Ts 1.10). Deus “não nos destinou para a ira, mas para
alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.9).

Definição de Salvação por Aníbal Pereira Reis

Definida, e bem definida, a significância desse termo, com mais


facilidade entender-se-ão os ensinamentos da Santa, Infalível e
Inerrante Palavra de Deus.

1) – De sua freqüência nas Escrituras intere-se a sua infere-


se a sua importância.
O verbo Salvar (sozo, grego original) é encontrado 111 vezes no
Novo Testamento e 45 o Substantivo salvação (soteria).
2) –Os nossos dicionários definem Salvação como livramento
de um perigo, da ruína, da morte.
3) – Nem sempre, contudo, essa palavra tem nas Santas
Escrituras idêntico significado quanto aos seus motivos.
Aliás, em nosso usual linguajar é assaz comum o emprego de
um termo com vários sentidos. Por exemplo, lembrança. Às vezes a
usamos como sinônimo de saudação, outras como dádiva ou presente e
outras como coisa, própria para ajudar a memória.
Os missionários norte-americanos encontraram sérias
dificuldades em aprender nossa língua causada pela riqueza de
significados em muitas de nossas palavras. Lembro-me também do
vocabulário bomba. Bomba é um explosivo que produz estampido
muito em voga nas celebrações populares. É uma espécie de doce. É
uma máquina para levar a água.
É um aparelho para encher de ar o pneumático. Bomba é
reprovação na escola. Também é um acontecimento desagradável.
Designa o sabor ruim de algum alimento. Bomba no Rio Grande do Sul
é o canudo com que se suga da cuia do chimarrão.
4) – De igual forma o vocabulário salvação tem nas Sagradas
Escrituras vários sentidos que passamos a verificar:
1º - O sentido militar ou político-social.
Deus deu salvação a Israel quando o libertou do jugo egípcio (Êx.
14:30; 15:2) e também quando, através de Sansão, favoreceu os
israelitas salvando-os dos filisteus (Jz. 15:18) e dos amonitas (I Sm.
11:13).

34 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Pelo fato de dar vitória nas batalhas militares Deus é chamado


de Salvador (Sl. 106:21; At. 7:35).
Supondo os israelitas haver de ser o Messias um Redentor
político, aclamaram Jesus Cristo, quando de sua entrada triunfal em
Jerusalém, com o grito “hosanná”, que etimologicamente significa: dá
a “vitória” ou “dá a salvação”. No caso, salvação política do jugo
romano.
No capítulo 3º do livro do Profeta Habacuque encontram-se
magníficas figuras do enaltecimento de Deus, o salvador nesta
acepção.
2º - O sentido de livramento de u eminente desastre ou da
destruição.
Quando da grande tempestade marítima os discípulos foram
acordar o Mestre clamando-lhe: “Salva-nos, Senhor que estamos
perecendo” (Mt. 8:25). E Pedro quando ameaçado de sossobrar nas
águas revoltas: “Senhor salva-me” (Mt. 14:30). Na oportunidade da
visita dos gregos, Jesus afirmou-lhes: “Agora, a minha Alma está
perturbada; e que direi Eu? Pai salva-me desta hora? Mas para isto
vim a esta hora” (Jô. 12:27).
Com esse significado o vocábulo foi empregado pelos
espectadores do Calvário, os sacerdotes, os soldados (Mt. 27:40, 42,
49), as próprias autoridades que zombavam do Crucificado e os
malfeitores dependurados (Lc. 23:35, 39). Assim também Lucas o usa
quando descreve o naufrágio do navio da viagem de Paulo para Roma
(At. 27:20).
3º - A acepção de livramento da tribulação (Sl. 34:7; Is. 33:2; Jr.
14:8) ou de enfermidades como quando muitas vezes se dá a súplica
angustiada da mãe aflita ao medico: doutor, salva meu filho! Aliás, o
latim salus, salutis, donde as nossas palavras saúde, salutar e suas
derivadas, que quer dizer saúde e salvação.
É o caso da mulher acometida de fluxo de sangue a quem Jesus
sarou (Mt. 9: 21-22; Mc. 5:34; Lc. 8:48; do heme da mão mirrada
curado na sinagoga num dia de sábado (Mc. 3:4); do cego de Jericó a
quem Jesus disse: “vai, a tua fé te salvou” (Mc. 10:52); daquele único
dos dez leprosos que demonstrou gratidão e a quem Jesus assegurou:
Levanta-te, e vai: a tua fé te salvou (Lc. 17:19); do comentário dos
discípulos quando Jesus lhes disse estar Lázaro dormindo: “Senhor, se
dorme estará salvo” (Jô. 11:12).
4º - O sentido estrito, absoluto, escatológico, em dimensão
espiritual, quando uma pessoa se torna participante da salvação
espiritual outorgada por Cristo. É a libertação do perdido e o refúgio
em completa segurança.

35 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Neste sentido a palavra salvação é verificada por 37 vezes no


Novo Testamento. E das 111 vezes do emprego do verbo salvar muitas
delas é com esta significância.
Desta forma é entendida:
No Cântico de Zacarias (Lc. 1:77);
Na explicação sobre o Nome Jesus (Mt. 1:21):
No comentário de João: “Porque Deus enviou o Seu Filho ao
mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo
fosse salvo por Ele” (Jô. 3:17); na advertência de Jesus á samaritana:
porque a salvação vem dos judeus” (Jô. 4:22);
Na pergunta dos discípulos quando o moço rico recusou o convite
do Mestre para segui-lo: “Quem poderá, pois, salvar-se?”
Na proclamação de Cristo em casa de Zaqueu: “por que o Filho
do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc.19:10);
Na Grande comissão: “I de por todo mundo, pregai o Evangelho
a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas que não crê
será condenado” (Mc. 16:15-16);
Na assertiva de Pedro perante o Sinédrio (Atos 4:12);
Na exclamação da possessa em Filipos (At. 16:17);
Também no velho Testamento é esta a significância mais
freqüente do vocabulário salvação e do seu verbo correlato, como em
Is.45:8; 49:8; 51:5,6,8; 56:1; Sl. 12:5; 50:23; 67:2; 91:16; 119:123,
166,174.
Emprega-lo-emos ao longo destas páginas neste sentido
espiritual. 22

O reino de Deus

Os evangelhos sinóticos têm muito a dizer sobre o “reino de Deus”.


Esse não é o tema favorito de Paulo, mas aparece em seus escritos. Ele
diz que esse reino não é uma questão de comida e bebida, mas que se
ocupa da justiça e de coisas do gênero (Rm 14.17; cf. 1Co 8.8); em
outras palavras, com qualidades que Deus aprecia e não com desejos
humanos. O reino tem mais a ver com pode do que com palavras (1Co
4.20); o poder de Deus (não o esforço humano) é primordial. Isso não
quer que o esforço humano não tenha lugar (Cl 4.11), mas que não é a
coisa mais importante. Mais uma vez, é Deus quem considera os
tessalonicenses dignos do reino (2Ts 1.5).
Há um aspecto presente do reino, mas também uma nítida ênfase
escatológica, à qual Paulo várias vezes dá espaço. Ela reflete sua
convicção de que Deus estará em ação nos últimos tempos. Assim, ele

22
Extraído do Livro “O Crente pode perder a salvação?” de Dr. Aníbal Pereira Reis Ex-padre – Segunda Edição. / Edições
“Caminho de Damasco” Ltda. 1987.

36 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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nos diz que malfeitores de vários tipos não herdarão o reino (Gl 5.21)
e, mais uma vez, que carne e sangue não podem herdá-lo (1Co 15.50).
Em sua forma final, este corpo físico e terreno não têm lugar nele (os
valores do corpo são conservados na ressurreição, mais isso é outro
assunto). É “no fim” que toda autoridade terrena será eliminada, e o
reino será entregue a Deus, que será “tudo em todos” (1Co 15.24-28).
A ressurreição pertence a Deus. Foi Deus quem ressuscitou a Cristo
(p.ex. Rm 10.9; Cl 2.12; 1Ts1. 10); via de regra a Bíblia fala da
ressurreição de Jesus dizendo que ele foi ressuscitado, 23apesar de
algumas vezes dizer que Jesus ressuscitou (p.ex. Rm 14.9; 1Ts 4.14). E
no fim dos tempos é Deus quem ressuscitará os mortos (1Co 6.14). A
morte é poderosa demais para que possamos vencê-la. Mas não é
poderosa demais para Deus, e no fim ele a derrotará definitivamente
(1Co 15.50-57).
Que mais posso dizer? Essa breve visão panorâmica de forma alguma
esgotou a noção que Paulo tem da incessante atividade de Deus, mas é
suficiente para destacar algo que muitas vezes deixamos de ver: que
Paulo é um homem na presença de Deus. Mais do que qualquer outra
coisa, está preocupado com o fato de que o grande Deus, o único Deus,
agiu para a salvação de pecadores, e essa atuação tem muitas facetas.
Ela se concentra na cruz, mas também está manifesta em uma
variedade extraordinária de formas. Aonde quer que Paulo olhe, ele vê
a Deus.

Jesus Cristo, o Senhor.

O Conceito de Paulo sobre a Pessoa de Cristo

Cristo foi o tema central da pregação de Paulo, a morte foi para que os
nossos pecados fossem apagados e consequentemente as nossas almas
resgatadas e alcançarmos a reconciliação com Deus.

No ensinamento de Paulo abrange também a vinda do Senhor. Ele


destaca essa vinda em duas fases, para arrebatar a Igreja onde não
será visto pelo mundo incrédulo e Jesus vindo em glória para
implantar o milênio aqui na terra esta vinda será visível a todo olho:

Para arrebatar a Igreja. I Cor. 15 : 50 - 52; I Tes. 4 : 16 - 17

Para implantar o milênio. Mat. 24 : 29 - 30, II Tes. 1 : 7

23
A. W. Argyle diz que apenas oito das sessenta e quatro referências que temos no Novo Testamento à ressurreição de Cristo dizem
que ele ressuscitou; todas as outras afirmam que o Pai o ressuscitou. Essa ênfase mostra “que a vitória sobre o túmulo pode ser uma
realização, não da natureza humana, nem mesmo da natureza perfeita de Cristo, mas de Deus. Deus estava em Cristo, e foi Deus
quem o ressuscitou” (ExpT 61 [1949-50]:187).

37 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Muitos cristãos costumam referir-se ao nosso Salvador como “Cristo”,


porém poucos estão cientes de que esse é um hábito que devemos a
Paulo. Ao contrário dos outros autores do Novo Testamento, Paulo usa
o título “Cristo” com grande freqüência. Das 529 ocorrências no Noto
Testamento, 379 se encontram nas cartas de Paulo; isso dá a
proporção extraordinária de quase 72 por cento. O número maior de
ocorrências nem texto não-paulino está em Atos com 25 casos (Paulo
tem 65 em diferente do uso de qualquer outro escritor do Novo
Testamento.
A palavra “Cristo” é, naturalmente, a transliteração de uma palavra
grega que significa “ungido”, assim como “Messias” é a transliteração
de uma palavra hebraica com o mesmo sentido. No Antigo
Testamento, várias pessoas eram ungidas, com destaque para o rei de
Israel, conhecido como “o ungido do Senhor” (1Sm 16.6; 2Sm 1.14).
Também lemos que os sacerdotes eram ungidos (Ex 30.30; Lv 4.5) e,
com menos freqüência, os profetas (1Rs 19.16). em cada caso a ação
significava que a pessoa em questão era solenemente separada para o
serviço de Deus.
O título não foi aplicado muitas vezes a Jesus durante a sua vida
terrena (17 vezes em Mateus, 7 em Marcos, 12 em Lucas e 19 em
João). Mas os primeiros cristãos reconheceram que Jesus era esse
escolhido por Deus, como se vê claramente no uso livre que Paulo faz
da expressão e no uso mais eventual pelos outros escritores.
É interessante que Paulo também usa o nome “Jesus”, com bastante
freqüência. Ele ocorre 214 vezes — estando atrás apenas de João (que
o usa 237 vezes). Intrigante é que, enquanto Paulo se refere a tão
poucos incidentes na vida terrena de Jesus, ele usa tantas vezes o
nome que lembra sua vida terrena. Pode ser que ele esteja
evidenciando a verdade de que a natureza humana de Jesus foi real e
importante. Quando junta os dois nomes, como faz muitas vezes, Paulo
prefere a ordem “Cristo Jesus” (83 casos) a “Jesus Cristo” (26 casos).
24Quando, porém, ele inclui o título “Senhor”, a ordem normalmente é

invertida: ele diz “nosso Senhor Jesus Cristo” mais vezes (54) do que
“Cristo Jesus nosso Senhor” (8). O título completo aparece 62 vezes
nos escritos de Paulo, enquanto no restante do Novo Testamento há
apenas 19 ocorrências.
Paulo usa o título “Senhor” 275 vezes, 38 por cento do total de 718 no
novo Testamento. Essa palavra, como em nossa língua, pode ser usada
como tratamento comum numa conversa formal ou, num sentido mais
restrito, na referência a uma pessoa de posição social elevada. A
palavra é usada no primeiro sentido na parábola em que Jesus fala do
filho que disse ao seu pai: “Sim, senhor [eu vou trabalhar na vinha];

24
Esses números precisam ser considerados aproximados, já que a ordem nos manuscritos difere com grande freqüência.

38 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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porém não foi” (Mt 21.29). Todavia, precisamos tem em mente que as
cartas de Paulo, em sua maioria, foram dirigidas a pessoas do mundo
grego da época, em que “Senhor” era aplicado muitas vezes não só a
um nobre, mas a alguém ainda mais exaltado — um deus. Um convite
bem conhecido para um jantar traz as seguintes palavras: “Antônio,
filho de Ptolomeu, convida você para jantar com ele à mesa do senhor
Sarápis...” Esse é um convite para uma refeição no templo de um ídolo
(cf 1Co 8.10); participar de refeições em lugares como esse parece ter
sido um hábito muito difundido. Proclamar Jesus como Senhor fazia
muito sentido no mundo grego da época. Era também especial para os
leitores judeus, pois quando o Antigo Testamento foi traduzido para o
grego, essa palavra foi usada para traduzir o nome divino “Javé”.
Aqueles que conheciam essa tradução estavam familiarizados com
“Senhor” como maneira de se referir a Deus (costume que vemos até
hoje em algumas versões, em que SENHOR [grafado em versal-
versalete] é a maneira comum de traduzir “Javé”).
Paulo chama Jesus de “Filho de Deus” 4 vezes, e outras 13 vezes ele
escreve “seu Filho”, “seu próprio Filho” ou algo parecido. Esse é um
título que pode ser muito ou pouco importante; por isso, ele é atribuído
aos crentes em geral (Rm 8.14), mas também para Jesus, quando
adquire importância máxima. Assim, Paulo diz que a ressurreição
mostra que Jesus é o “Filho de Deus com poder” (Rm 1.4). Ele diz que
Deus o revelou (Gl 1.16) e enviou (Rm. 8.3; Gl 4.4). Deus não poupou
seu próprio Filho (Rm 8.32), declaração que nos leva à “morte do seu
Filho” (Rm 5.10) e ao evangelho do Filho (Rm 1.9). Paulo viveu pela fé
no Filho de Deus (Gl 2.20, e Deus predestinou os crentes a serem
conformes à “imagem” do seu Filho (Rm 8.29). Por causa disso, o Filho
é pregado (2Co 1.19), e aqueles que respondem são chamados “à
comunhão” do Filho (1Co 1.9); eles são “transportados para o reino do
Filho do seu [de Deus] amor” (Cl 1.13). O conhecimento pleno do Filho
ainda fica para o futuro (Ef 4.13) e, de fato, esperamos o Filho que vem
do céu (1Ts 1.10). O Espírito é do Filho de Deus (Gl 4.6). Está claro
que, quando Paulo pensa em Jesus como o Filho de Deus, ele o
imagina ocupando o lugar mais elevado. Nos escritos de Paulo
devemos conferir a esse termo o sentido máximo, não o mínimo.

39 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Cristo e Deus

De várias maneiras, Paulo denota o aspecto mais-que-humano de


Cristo. Um dos seus hábitos é ligar seu Salvador a Deus, referindo-se
a ele no mesmo fôlego como Deus Pai. Assim, ele normalmente começa
suas cartas com a saudação: “Graça a vós outros e paz, da parte de
Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Rm 1.7; 1Co 1.3; 2Co 1.2;
Gl 1.3; Ef 1.2; Fp 1.2; 2Ts 2.16-17). Ele pode falar de Deus como “o
Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 15.6; 2Co 1.3; 11.31; Ef
1.3; cf. Ef 1.17; Cl 1.3).
Há algumas passagens importantes em que Paulo se detém no
relacionamento de Cristo com Deus. Filipenses 2.5-11 é uma delas;
muitos a consideram um hino antigo adotado por Paulo. É possível que
seja esse o caso; ele contém alguns termos incomuns, e vários
estudiosos organizaram o material como uma poesia. Não há razão por
que o próprio Paulo não pudesse ter composto o hino, nem adotado um
hino escrito por outro.
Muitos estudiosos de hoje insistem que a passagem deve ser entendida
em termos soteriológicos, ou seja, que ela fala do que Cristo fez por
nós, mas isso não significa que o que ele diz não nos ajuda a
compreender a natureza de Cristo. 25 Paulo diz que Cristo.
“Subsistindo em forma de Deus”, “não considerou que o ser igual a
Deus era algo a que devia apegar-se” (v. 6, NVI). Essas duas frases
com certeza denotam divindade. 26 Não é fácil entender a “forma de
Deus” como significando algo menos do que isso. Pode-se dizer o
mesmo sobre qualquer outro ser humano ou anjo? A segunda
expressão não vê a igualdade com Deus como um avanço na posição de
Cristo. Se é este o caso, que outra posição poderia ele ter, senão a de
Deus?
Paulo, em seguida diz que Cristo veio para se tornar “em semelhança
de homens” e que ele se humilhou e se tornou “obediente até a morte e
morte de cruz” 27(v. 7-8). Não devemos deixar de ver que mesmo essa
declaração de inferiorização tem implicações de divindade. A morte,
para nós, não é uma questão de escolha, mas de necessidade; para ele,
foi resultado de obediência, e por isso mostra que há algo nele que é
maior que seu caráter humano.

25
Cullmann enfatiza a obra salvífica de Cristo e afirma: “A cristologia funcional é a única que existe”. Mas ele diz também: “Não
podemos falar simplesmente da pessoa sem a obra, nem da obra sem a pessoa” (The christology of the New Testament, p. 326).
26
Carmen Chrsti, de Ralph P. Martin (Cambridge, 1967) é um estudo exaustivo dessa passagem. Ao resumir sua análise do v. 6b, c,
ele diz: “O Cristo pré-encarnado tem, como posse pessoal, a igualdade singular do seu lugar na Divindade como ei&(kw&(n ou morfh&&(de
Deus. [...] Ele tinha igualdade divina, podemos dizer, de jure, porque existiu eternamente na ‘forma de Deus’’’ (p. 148). Johannes
Behm vê uma referência à “imagem da majestade divina soberana”; o “sinal externo específico” da “igualdade essencial” de Cristo é
a “morfh (qeou” (TDNT 4:751).
27
Karl Barth insiste em que isso não significa que ele deixou de ser Deus: “Ele se humilhou, mas não o fez deixando de ser quem é”
(Church dogmatics, iv, i. Edinburgh, 1956, p. 180).

40 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Paulo não está levantando Jesus como um Deus rival ou como alguém
que de alguma forma diminui o lugar especial do Pai, pois tudo é “para
glória de Deus Pai”. Não há oposição nem rivalidade, mas uma
unidade profunda e perfeita. 28
Não se pode dizer que a passagem seja fácil de entender. Há exegetas
que pensa que ela retrata Jesus como alguém superior aos seres
criados, porém inferior a Deus. Deus não o exalta e lhe dá o nome
acima de todo nome? James D. G. Dunn explica esse texto nos termos
da tipologia de Adão. O sentido é que “toda escolha com alguma
conseqüência, feita por Cristo, era uma antítese das escolhas de Adão;
cada estágio da vida e do ministério de Cristo teve o caráter de uma
posição de queda assumida espontaneamente”. Isso, porém, não faz
justiça à linguagem que Paulo usa: “subsistindo em forma de Deus”, “a
si mesmo se esvaziou”, “tornando-se em semelhança de homens”,
“reconhecido em figura humana”: isso é mais do que tipologia de
Adão.29 Algumas coisas talvez não sejam expressas como esperaríamos
que Paulo as expressasse. Mas se ele estava adotando e adaptando um
hino escrito anteriormente, estava até certo ponto limitado às palavras
que empregou. Em todo caso, a força da linguagem permanece. O
ponto central é colocar Cristo junto com Deus, não com os seres
criados.
Outra passagem importante é Colossenses 1.15-20. 30 Ele diz que o
“Filho do seu amor” (v. 13) é “a imagem do Deus invisível” (v. 15).
“Imagem” (eikõn) pode significar cópia; p.ex., a imagem do imperador
numa moeda. Mas a palavra também pode ser usada para indicar, não
dessemelhança (uma imagem, não a coisa real), mas semelhança (a
imagem é exatamente igual, não diferente). É este segundo sentido
que se exigem aqui. Paulo está dizendo, não que o Filho é diferente do
Pai, mas que é exatamente igual a ele. 31Além disso, ele é o
“primogênito de toda a criação”. Isto não quer dizer que ele foi o
primeiro a ser criado; antes, significa que a relação que ele tem com
toda a criação é a que o primeiro filho tem com os bens do seu pai; na
antiguidade, uma grande propriedade envolvia uma multidão de
pessoas — dependentes empregados e escravos — que tinha graus
variados de importância. Porém, o primogênito do pai, o filho que era
seu herdeiro, era o mais importante de todas. O termo primogênito
28
Cf. Martin: “Jesus glorificado é objeto da adoração do mesmo modo como os judeus invocam o Deus da aliança” (Carmenn
Christ, p. 252).
29
Cullmann declara: “Todas as afirmações de Filipenses 2.6ss. devem ser entendidas da perspectiva da história de Adão no Antigo
Testamento”. Ele, porém, chaga a uma conclusão bem diferente do pensamento de Dunn: “Ao contrário de Adão, o Homem
Celestial que, em sua preexistência, representava a verdadeira imagem de Deus, humilhou-se em obediência e agora recebe a
igualdade com Deus, da qual não tomou posse como ‘usurpação’’’ (Christology, p. 181).
30
Essa passagem, como Filipenses 2.5-11, é por muitos considerada um hino anterior a Paulo que o apóstolo adotou e adaptou com
acréscimos próprios.
31
Cf. H. Kleinknecht: “Imagem não deve ser entendida como uma magnitude alheia à realidade e presente apenas na consciência.
Ela tem parte na realidade. Na verdade, ela é a realidade” (TDNT 2:389).Martin diz:” A expressão ‘imagem de Deus’ não é explicada
completamente pelo sentido de ‘representante de Deus’, por mais perfeita que se pense que essa representação seja. A frase precisa
incluir a idéia de que o próprio Deus está pessoalmente presente, Deus manifestus, em seu Filho” (Carmen Christi, p.112-113).

41 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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indicava uma relação de importância, e esse é o sentido aqui. O Filho é


o mais importante de tudo o que existe, porque tem um
relacionamento com o Pai que nada nem ninguém têm em toda a
criação.32
Na verdade, a criação se deu “nele” (v. 16); isso pode significar que ele
foi o agente de Deus em ocasioná-la (cf. 1Co 8.6), ou pode estar perto
do pensamento de Paulo em outros lugares de estar “em Cristo” (veja
em At.17.28 a idéia de estar “em” Deus); tudo o que existe está
abrangido por sua atividade criadora. O apóstolo passa a descrever
isso em termos de lugar (no céu ou na terra), visibilidade (visível ou
invisível) e autoridade (tronos, soberanias etc.); nada fica de fora. E,
além de toda essa criação fantástica ter sido realizada “por meio dele”,
ela também foi feita “para ele” (o que também é dito do Pai; Rm 11.36;
1Co 8.6). Ele é o fim e o objetivo de tudo; tudo caminha em direção a
ele como o alvo definitivo. Ele é o Alfa e o Ômega de toda a criação, seu
começo e fim. Ele é “antes de todas as coisas” (v. 17).33 A referência é
primordialmente ao tempo; ele existiu antes de tudo, e isso traz
consigo o pensamento de que ele, naturalmente, tinha preeminência
sobre todas as coisas. Além disso, ele não só criou todas as coisas, mas
também as sustenta; é nele que “tudo subsiste” (synesteken). A criação
não funciona sem sua mão para sustentá-la.
Paulo passa à questão de que essa pessoa suprema é cabeça do corpo,
que é a igreja (v. 18), e depois diz que ele é o “princípio” (arche); o
termo provavelmente reúne os sentidos de prioridade no tempo e
origem (cf. Hb 2.10). Ele é “o primogênito de entre os mortos”, uma
referência à ressurreição. Ralph P. Martin cita Lohse para apresentar
a idéia de que a combinação de “princípios” e “primogênito” indica que
ele é o fundador de um novo povo (cf. Rm 8.29); será que existe um elo
entre a criação e nova criação?). O propósito (hina) disso é que ele “em
todas as coisas tenha a primazia”. Não podemos perder de vista o fato
de que Paulo está atribuindo a Cristo o lugar mais elevado que se pode
imaginar. Há algo do mesmo pensamento em sua próxima declaração
de que toda a “plenitude” estava nele, temo que denota a totalidade
dos poderes divinos. 34 Para Paulo, os poderes divinos não estão, é
claro, dispersos por múltiplas divindades, mas concentrados num só
Deus, e esse Deus, em toda a sua plenitude, habita em Cristo. A isso
se acrescenta a informação que sua ação reconciliadora não só trouxe
libertação às pessoas na terra, mas também é eficaz no céu (v. 20).

32
“Ele é o Senhor da criação e não tem rival na ordem criada” (Martin, Colossians, p. 58).
33
Sobre e@stin Lightfoot comenta: “O imperfeito h}n poderia ter sido suficiente (comp. Jô 1.1), mas o presente e!stin
declara que essa preexistência é existência absoluta” (Colossians, p. 153).
34
Lightfoot vê nisso “um termo técnico reconhecido na teologia que denota a totalidade dos poderes e atributos divinos”
(Colossians, p. 157; veja também seu excurso, p. 255-271). A palavra certamente foi usada pelos gnósticos mais tarde para indicar a
totalidade dos poderes divinos. Se essa idéia já existia na época de Paulo, ele está negando que Cristo fosse apenas parte do
plh(rwma; todo o poder divino residia nele.

42 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Esse é um impressionante conjunto de descrições, que deixa muito


claro que Paulo não via a Cristo apenas como o homem de Nazaré,
mas também como detentor de significado cósmico. Ele é supremo
sobre a igreja, porém é muito mais do que isso. Ele foi o agente de
Deus ao trazer a criação à existência, e é supremo sobre toda
autoridade, seja celestial, seja terrena. A passagem é uma expressão
impressionante da suprema grandiosidade da pessoa de Cristo.
As funções divinas
É no contexto de tudo isso, mesmo sem expressá-lo em termos tão
complexos, que Paulo concebe a Cristo como alguém que existia antes
da encarnação. Sobre a rocha que os israelita encontraram no deserto,
ele diz: “A rocha era Cristo” (1Co 10.4). Essa é uma afirmação com
aspectos difíceis, mas não há nenhuma dúvida de que Paulo tinha
certeza da preexistência de Cristo. (cf. 2Co 8.9; Gl 4.4; Fp 2.6). 35
Há uma referência ao “mistério de Deus, Cristo” (Cl 2.2), bem como ao
“mistério de Cristo” (Cl 4.3; também Ef 3.4). Ora, a palavra grega
mysterion, que traduzimos por “mistério”, não tem exatamente o
mesmo sentido em nossa língua. Ela não significa algo difícil de
descobrir, alguma coisa que poderemos desvendar se nos esforçarmos e
nos concentrarmos nas pistas certas. Pelo contrário, ela significa algo
impossível de descobrir, algo como “segredo”, porém geralmente um
segredo já revelado.
A palavra é aplicada com freqüência ao evangelho, e essa é uma
ilustração esplêndida do termo. Quem poderia ter imaginado que
nossa salvação jamais é produto dos nossos próprios esforços? Nem
nossas boas obras, nem nossas orações, nem nosso estudo da Palavra
de Deus e dos caminhos de Deus, nenhum empenho humano. Quem
teria adivinhado que ela exigiria a vinda do Filho de Deus em condição
inferior, como um bebê em Belém, para viver em relativa obscuridade
e morrer rejeitado? Essas verdades tiveram de ser reveladas. Elas
constituem um mistério divino, o evangelho.
Os judeus se orgulhavam da revelação que Deus lhes dera por Moisés,
mas Paulo afirma que eles não entenderam Moisés. Quando os textos
da antiga aliança são lidos, há um “véu” que os impede de entender o
verdadeiro significado. O véu, porém, é tirado “em Cristo” (2Co 3.14-
16). Em outras palavras, a chave da revelação, mesmo no Antigo
Testamento, quando lido corretamente, leva a Cristo (Gl 1.7).

35
Cf. John Knox: “Paulo não só fala da preexistência de Cristo, mas obviamente pressupõe que o conceito era conhecido dos seus
leitores e que eles não precisavam ser convencidos da sua veracidade. Ele nenhuma vez o explica ou defende. Nenhuma vez o
debate. Isso deixa claro que, pelo menos em suas igrejas, e provavelmente também em outras, a idéia estava bem difundida quando
suas principais cartas foram escritas, entre quinze e vinte anos após a crucificação de Jesus” (The humanity and divinity of Christ.
Cambridge, 1967, p. 10-11). John A. T. Robinson, em termos semelhantes, defende que o conceito da preexistência de Cristo é
muito antigo (Twelve New Testament studies. London, 1962, p. 143 n. 12).

43 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Cristo é Deus?

Será que alguma vez Paulo se refere nitidamente a Cristo como Deus?
Pode-se interpretar certas passagens dessa maneira. A mais destacada
é Romanos 9.5, que a NVI traduz: “Cristo, que é Deus acima de todos,
bendito para sempre!”, e a ARA: “Deus bendito para todo o sempre”.
Algumas considerações de peso favorecem a primeira tradução: 1) A
estrutura da frase, pois se espera que “o qual” se refira a “o Cristo”
(que o precede) e não a “Deus” (que vem depois). A construção é
semelhante à de 2Coríntios 11.31, onde não há dúvida de que o “que”
se refere ao que o precede. 362) Se as palavras não se referem a Cristo,
elas, formam uma bênção que louva a Deus, e essa bênção
normalmente começa: “Bendito seja Deus...” A ordem das palavras não
apóia a versão da ARA. 3) A referência a Cristo “segundo a carne” faz-
nos esperar outra declaração, a título de contraste. A expressão não
pode ser deixada em aberto, como ficaria se aceitarmos a tradução da
ARA. 4) Uma doxologia de júbilo, que louva a Deus, dificilmente se
enquadra no contexto, que, de modo geral, tem um tom triste, mas é
admissível logo depois da menção a Cristo, sublinhado sua grandeza e,
em conseqüência, a magnitude da dádiva oferecida a Israel. 5) A
atribuição da bênção a Deus exige uma mudança abrupta de sujeito.
Devemos observar mais algumas passagens. Paulo fala da “graça do
nosso Deus e Senhor, Jesus Cristo” (2Ts 1.12, NVI nota) e do “nosso
grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2.13). 37Nos dois casos, é
fácil entender a frase grega como referência a apenas uma pessoa,
definida tanto como “Deus” quanto como “Cristo”. Nos dois casos o
artigo definido vem antes de “Deus” e não é repetido antes de “Senhor
[Salvador] Jesus Cristo”, construção esta que é mais natural entender
como indicação de que se está falando de apenas uma pessoa. Isso não
é totalmente indiscutível, pois os escritores do Novo Testamento não
aplicam a gramática sempre com tanta correção. Em todo caso,
“Senhor” quase sempre é definido, mesmo sem o artigo; pode ser
traduzido com o sentido de “o Senhor”. Podemos dizer que nos dois
casos existe a possibilidade de que Jesus Cristo esteja sendo chamado
de “Deus”.

36
O particípio w!n não ocorre muitas vezes no Novo Testamento com uma frase prepositiva e também um substantivo
a que se refere, por isso é improvável que o( w!n e)pi_ pa&ntwn se refira a qeo&j. Outro ponto a favor é que a pontuação
em nossos textos, obviamente, não é original, de modo que não podemos ter certeza se Paulo teria posto um ponto
depois de as&rka (como a NVI na nota de rodapé) ou uma vírgula (como a NVI no texto).
37
Ronald A. Ward cita as palavrasd em Tito 2.13 da ARA: “Nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo”, e comenta: “Pode haver
poucas dúvidas de que essa seja a tradução correta” (1 and 2Timothy & Titus, p. 261). (William Hendrikse considera o único artigo
impressionante e vê apoio para essa interpretação no fato de que em nenhum lugar no Novo Testamento e)pifa&neia
(“manifestação”) é aplicada a mais de uma pessoa, e essa única pessoa é sempre Cristo (New Testament
commentary, exposition of the pastoral epistles. Grand Rapids, 1957,p. 373-375).

44 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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“Em Cristo” e “com Cristo”

Uma das expressões favoritas de Paulo é “em Cristo”, com variações


como “no Senhor”, “em Cristo Jesus” e “nele”. Ela ocorre em todas as
cartas de Paulo, com exceção de Tito. Interessante é que Paulo nunca
diz “em Jesus”; isso pode indicar que ele tinha o Senhor ressurreto em
mente. Ele aplica a expressão a si mesmo com bastante liberdade, mas
não está se referindo a um estado peculiar a si próprio nem a líderes
cristãos. Todo fiel, não importa a sua posição social ou suas
desvantagens educacionais, está “em Cristo”. As palavras se aplicam a
indivíduos (2Co 12.2) e também a igrejas (Gl 1.22).
Às vezes a expressão significa simplesmente “cristão”. Por exemplo,
quando Paulo diz que Andrônico e Júnia estavam “em Cristo” antes
dele (Rm 16.7), ele quer dizer que eles eram cristãos antes que ele se
convertesse. Os “fiéis em Cristo Jesus” (Ef 1.1) são claramente os
cristãos, e o mesmo vale para os “irmãos no Senhor” (1.14; cf. 1Co 1.30;
Fm 16). A expressão pode ser ligada ao começo da vida cristã , como
quando lemos que Rufo fora “eleito no Senhor” (Rm 16.13) e que o
escravo “foi chamado no Senhor” (1Co 7.22). Ela pode se referir à
concretização da salvação, pois quem está “em Cristo” é nova criação
(2Co 5.17) e, também, quem estava longe foi, em Cristo, trazido para
perto (Ef 2.13; o versículo faz referência ao “sangue de Cristo”, que
efetuou isso). Em Cristo Jesus, Paulo gerou os cristãos em Corinto,
“pelo evangelho” (1Co 4.15).
A expressão pode sinalizar as atitudes que devem caracterizar os
cristãos. Eles devem “pensar concordemente, no Senhor” (Fp 4.2); as
contendas não combinam com estar em Cristo.
Há muitas maneiras de evidenciar a verdade de que o trabalho cristão
genuíno é feito “em Cristo”; os que trabalham a serviço do Senhor são
“cooperadores em Cristo Jesus” (Rm 16.3, 9), e foi “no Senhor” que
Arquipo recebeu seu “ministério” (Cl 4.17). Paulo escreve aos
tessalonicenses sobre pessoas “que [os] presidem no Senhor” (1ts 5.12)
— evidentemente os que ocupam cargos de liderança na igreja local.
Ele se esforça para apresentar “todo homem perfeito em Cristo” (cl
1.28; cf. Apeles “aprovado” 38em Cristo”, Rm 16.10). Os coríntios são
“frutos do trabalho” de Paulo e o “selo” do seu apostolado no Senhor
(1Co 9.1-2).

38
Do&kimoj significa “aprovado, que passou no teste”. Cranfield acha que a palavra é aqui usada “possivelmente
porque Paulo sabia que, em alguma dificuldade específica, ele provara ser um cristão fiel”, ou Paulo talvez não
pretendesse nada mais do que simplesmente variar o elogio (Romans, 2: 791). A primeira opção aparece ser a mais
provável.

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Escravos do pecado

O Conceito de Paulo sobre o Pecado

Romanos 5 : 21 Para que, assim como o pecado veio a


reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça
pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso
Senhor.

O pecado é uma realidade e Paulo o apresenta como uma herança de


Adão.

Romanos 5 : 12 Portanto, assim como por um só homem


entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim
também a morte passou a todos os homens, porquanto
todos pecaram.

Adão fora criado para viver eternamente e continuaria nesta condição


se não houvesse pecado. Toda a criação sofre por causa do pecado, este
é universal e afeta toda natureza e não somente o homem.

Romanos 8 : 19 - 22 Porque a criação aguarda com ardente


expectativa a revelação dos filhos de Deus. Porquanto a
criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas
por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que
também a própria criação há de ser liberta do

cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos


filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação,
conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora;

O pecado tem múltiplas facetas, e Paulo usa vários termos para


mostrar isso. 39Ele não tem uma idéia simplista do que seja o pecado.
E, apesar de certamente enfatizar sua seriedade, não está obcecado
com ele como alguns dos seus detratores têm afirmado. Ele usa a
palavra traduzida por pecado (hamartia) 64 vezes, 48 das quais em
Romanos, carta em que ele trata do assunto com mais vagar. Portanto,
em todas as outras cartas juntas a palavra “pecado” ocorre apenas em
catorze casos.

39
A palavra básica é a(marti&a, “errar o alvo” (que Paulo usa 64 vezes), com os substantivos correspondentes a(marti&a,
(2 vezes), a(martwlo&j (8) e o verbo a(marta&nw (17). Pecado também é a)diki&a, “injustiça” (12); os cognatos são a!dikoj,
“injsuto” (3) e a)dike&w, “agir mal” (9). Pecado também é a)nomi&a, “iniqüidade” (6), com a!nomoj, “iníquo” (5) e a)no&mwj,
“de modo iníquo” (2); parakoh&, “desobediência” (2); a)se&b & eia, “impiedade” (4), com a)sebh&j, “ímpio” (3); para&basij,
“passar do limite, transgressão” (5), com paraba&thj, “transgressor” (3); para&ptwma, “dar passo em falso” (16);
pw&rwsij, “endurecer” (2); kaki&a, “maldade” (6), com kako&j, “mau” (26) e kakou=rgoj, “malfeitor” (1); h3tthma,
“derrotar” (2); ponhri/a, “malignidade” (3), com ponhro/j, “maligno” (13); e1noxoj, “culpado” (1).

46 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Na maior parte das vezes, Paulo usa a palavra no singular: o pecado


não é só um mal que fazemos, mas um poder que nos mantém em
sujeição. Mais de uma vez ele diz que em geral somos “escravos do
pecado” (Rm 6.17, 20), e uma imagem viva nos vê como “vendidos à
escravidão do pecado” (Rm 7.14). Assim como um escravo é vendido a
um senhor (quer goste, quer não), nós estamos sob o controle do
pecado (quer gostemos, quer não). Paulo diz sobre si mesmo que foi
feito “prisioneiro da lei do pecado” (Rm 7.23), em que a figura é da
captura de um prisioneiro de guerra. Uma referência à “lei” nesse
contexto é inesperada, mas, como diz Grandfield, “é uma maneira
convincente de mostrar que o poder que o pecado tem sobre nós é uma
caricatura terrível, uma paródia grotesca da autoridade que, por
direito, é da santa lei de Deus”. Paulo está dizendo duas coisas: 1) o
pecado não tem o direito de nos controlar (nós que somos feitos à
imagem de Deus) e 2) mesmo assim, ele assumiu o controle. Por isso é
que, apesar de talvez servirmos40 à lei de Deus com nossa mente, nas
atuais circunstâncias, na carne, servimos à lei do pecado (Rm 7.25).

Está claro que Paulo tem uma teologia profunda e bem-ponderada. Ela
não é transmitida de forma sistemática, e todos temos dificuldades ao
tentar organizá-la em um sistema coerente. Mas esse problema é
nosso, e não de Paulo. Ele tinha certeza de que Deus havia feito algo
maravilhoso em Cristo, e essa certeza permeava todo o seu
pensamento. Ele tinha certeza de que Deus levaria o que fizera a um
ponto culminante e magnífico no mundo futuro, quando todo o mal
será destruído e o triunfo de Deus e do bem se manifestará. Ele tinha
certeza de que Deus, em seu amor, suprira todas as necessidades do
seu povo nesta era, e especificamente que enviara seu Espírito Santo
para guiá-lo e conduzi-lo no caminho do amor. O amor de Deus é a
grande realidade dominante e desperta o amor no coração do povo de
Deus. Nada é maior do que o amor (1Co 13.13)

40
Douleu/w, “servir como escravo” rege as duas orações.

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Segunda parte

TEOLOGIA NA EPÍSTOLA AOS HEBREUS

A Superioridade de Cristo

A fim de impedir seus leitores de retornarem ao judaísmo, o autor


ressalta a superioridade de Cristo, especialmente em relação a várias
características do judaísmo originadas do Antigo Testamento. O tema
é a superioridade de Cristo, um tema reiterado por toda a obra,
mediante exortações para que seus leitores não apostatassem da fé
cristã.

Cristo é superior aos profetas do Antigo Testamento, o herdeiro do


universo, o criador, o reflexo exato da natureza divina, o sustentador
da vida, o purificador dos pecados, o Ser exaltado e, por conseguinte, a
última e mais excelente palavra de Deus ao homem (vide 1:1-3a).

Cristo também é superior aos anjos, porque Cristo é o Filho divino e


criador eterno, mas os anjos são apenas servos e seres criados (vide
l:3b - 2:18). Era mister que Ele se tivesse tornado um ser humano a
fim de estar qualificado como aquele que, por Sua morte, pudesse
elevar o homem.

Cristo é superior a Arão e seus sucessores no ofício sumo sacerdotal. O


autor da epístola aos Hebreus primeiramente destaca dois pontos de
semelhança entre os sacerdotes arônicos e Jesus Cristo:

1- À semelhança de Arão, Cristo foi divinamente nomeado ao sumo


sacerdócio, e 2 - ao compartilhar de nossa experiência humana, Cristo
adquiriu por nós uma simpatia pelo menos igual àquela de Arão.

Os itens frisados da superioridade de Cristo sobre Arão são:

1 Cristo se tornou sacerdote em virtude de um juramento divino, mas


não assim com os aronitas,

2 Cristo é eterno, ao passo que os aronitas morriam e tinham de ser


substituídos;

3 Cristo é impecável, ao passo que os aronitas não o eram;

4 As funções sacerdotais de Cristo envolvem as realidades celestiais,


mas as dos aronitas dizem respeito somente a símbolos terrrenos;

48 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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5 Cristo ofereceu-se a Si mesmo voluntariamente como um sacrifício


que jamais precisará ser repetido, ao passo que as repetitivas ofertas
de animais desmascaram a sua ineficácia, pois animais inferiores não
podem tirar os nossos pecados; e

6 O próprio Antigo Testamento, escrito durante o período do


sacerdócio arônico, predizia que sobreviria uma nova aliança, que
tornaria obsoleto ao antigo pacto, segundo o qual funcionava o
sacerdócio arônico.

Exortações Finais

A epístola aos Hebreus, encoraja os seus leitores a uma contínua


perseverança, citando, como exemplos, os heróis da fé do Antigo
Testamento, e, finalmente, citando a pessoa de Jesus como o mais
extraordinário exemplo de paciente perseverança sob os sofrimentos,
após o que recebeu o seu galardão.

Em conclusão, o escritor sagrado exorta os seus leitores ao amor


mútuo, à hospitalidade (especialmente necessária naqueles dias, para
os pregadores itinerantes), à simpatia, ao uso saudável e moral do
sexo, dentro do matrimônio, evitar a avareza, à imitação dos líderes
eclesiásticos, evitar os ensinamentos distorcidos, à aceitação
conformada diante da perseguição, às ações de graças, à generosidade
e à oração. Ler Hebreus 10:19 - 13.25.

TEOLOGIA DE TIAGO

Tiago, líder da Igreja de Jerusalém e irmão do Senhor Jesus Cristo e


não o apóstolo. Embora não fosse crente em Jesus, durante o
ministério público do Senhor. Tiago foi testemunha do Cristo
ressurreto.

I Coríntios 15 : 5 - 7 que apareceu a Cefas, e depois aos doze; depois


apareceu a mais de quinhentos irmãos duma vez, dos quais vive ainda
a maior parte, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago,
então a todos os apóstolos.

A epístola de Tiago é o livro prático do Novo Testamento, como


Provérbios o é do Antigo. De fato, suas declarações francas e concisas
de verdades morais têm semelhança notável com Provérbios.

Ela contém muito poucas instruções doutrinárias; o seu propósito


principal é pôr em relevo o aspecto religioso da verdade.

49 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Tiago escreveu a certa classe de judeus cristãos na qual se


manifestava uma tendência de separar a fé das obras. Pretendiam ter
a fé, mas existia entre eles impaciência sob provação, contendas,
acepção de pessoas, difamações e mundanismo.

Tiago explica que uma fé que não produz santidade de vida é coisa
morta. Salienta a necessidade de uma fé viva e eficaz para obter a
perfeição cristã.

Não há qualquer conflito entre a Teologia de Paulo e a de Tiago.


Paulo fala do aspecto espiritual e Tiago o prático. As obras para Tiago
expressam a fé.

Efésios 2 : 8 - 9 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto
não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém
se glorie.

Tiago 2 : 14,17 Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem
fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo? Assim também a
fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.

A epístola de Tiago encontrou algumas dificuldades para adquirir


lugar no cânom do Novo Testamento. Vejamos:

1 A brevidade da epístola, sua natureza prática e não doutrinária.

2 Fato de Tiago não ser um dos Apóstolos.

3 A incerteza da identidade de Tiago.

4 A aparente contradição com a doutrina paulina da fé

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TEOLOGIA DO APÓSTOLO PEDRO

Pedro era um homem modesto, simples, pescador e observador, sincero


e por natureza impulsivo, sempre falando, sempre ativo tomava a
frente com facilidade, violento, instável etc.

Pedro dirigia-se aos cristãos dispersos pelas províncias da Ásia Menor,


para confortar os que fieis que sofrem as perseguições em muitos
lugares.

Lucas 22 : 31 - 33 Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos
cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos.
Respondeu-lhe Pedro: Senhor estou pronto a ir contigo tanto para a
prisão como para a morte.

Para edificação dos novos convertidos não somente dos judeus, mas,
também, entre os gentios. Para alertar aos cristãos sobre as falsas
doutrinas que tinham entrado nas igrejas.

O Conceito de Pedro sobre a Pessoa de Cristo

I Pedro 1 : 3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,


que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva
esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,

Jesus é apresentado por Pedro como o Salvador cuja obra redentora foi
consumada no gólgota.

Jesus é considerado a Pedra Viva e Preciosa para os crentes, e pedra


de tropeço para os incrédulos, conforme descrito no capítulo 2: 4 - 10
da primeira epístola de Pedro. Jesus é o exemplo que devemos segui-
lo.

Jesus é fiel para com os seus; Ele voltará para recompensar a seus
servos, I Pedro 5 : 1 - 11.

51 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Muitos dos seus ensinos ele aprendeu diretamente de Jesus Cristo:

ENSINOS DE JESUS ENSINOS DE PEDRO


Mateus 13 : 17 Pois, em verdade I Pedro 1 : 10 Desta salvação
vos digo que muitos profetas e inquiririam e indagaram
justos desejaram ver o que vedes, diligentemente os profetas que
e não o viram; e ouvir o que profetizaram da graça que para
ouvis, e não o ouviram. vós era destinada
João21 : 15 Depois de terem I Pedro 5 : 2 Apascentai o
comido, perguntou Jesus a rebanho de Deus, que está entre
Simão Pedro: Simão Pedro: vós, não por força, mas
Simão, filho de João, amas-me espontaneamente segundo a
mais do que estes? Respondeu- vontade de Deus; nem por torpe
lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te ganância, mas de boa vontade;
amo. Disse-lhe: Apascenta os
meus cordeirinhos.
Lucas 22 : 31 Simão, Simão, eis I Pedro 5 : 8 Sede sóbrios, vigiai.
que Satanás vos pediu para vos O vosso adversário, o Diabo,
cirandar como trigo; anda em derredor, rugindo como
leão, e procurando a quem possa
tragar;

TEOLOGIA NA EPÍSTOLA DE JUDAS

Judas se identifica como o irmão de Tiago. Dessa maneira, também


era irmão de Jesus, mas, por modéstia, descreveu a si mesmo como um
“servo de Jesus Cristo”.

Judas tinha tencionado escrever um tratado doutrinário, mas a


infiltração da Igreja por parte de falsos mestres o compelira a alterar a
natureza de sua epístola para uma exortação em defesa da verdade do
evangelho.

Enfatiza a fé e o Dom de Deus. O Espírito Santo como fonte de vida e


poder para o crente, e uma vida de santidade como dever de cada filho
de Deus; e Cristo como juiz.

Judas 6 aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram
a sua própria habitação, ele os tem reservado em prisões eternas na
escuridão para o juízo do grande dia,

52 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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“Anjos que caíram” Quem são estes personagens? Os anjos que


pecaram com Lúcifer. Estes encontraram-se em algemas eternas. O
lugar preparado para o Diabo e seus anjos.

A carta foi escrita para exortar e animar os crentes a batalharem pela


fé. Lembrando-lhes os castigos recebidos pelos ímpios no passado.

Os abusos no campo da fé serão castigados como ocorreu com os anjos


que caíram. A santificação do crente é um dever.

TEOLOGIA NO APOCALIPSE

O Apocalipse é uma mensagem que alcança todos os tempos. Embora


tenha uma mensagem para o presente, o seu alcance penetra até o
estado eterno.

Os sete candeeiros são as sete igrejas locais, mas com características


futuras simbolizam as Igrejas de todos os tempos. As sete estre1as são
os sete anjos ou mensageiros destas igrejas.

No termino de cada mensagem as Igrejas há uma exortação da parte


do Espírito Santo. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz as
Igrejas.

A Pessoa de Cristo no Apocalipse

Jesus depois de consumar Seu ministério terreno, apresenta-se nesta


revelação como O Rei do Universo, Juiz que executará a sua missão
neste mundo e no reino espiritual ma1dade. No reino das trevas de
satanás.

A humanidade sem Cristo, passara pelo vale escuro da tribulação. Os


que lhe pertencem sairão redimidos e viverão na Pátria Celestial, com
Cristo por toda a eternidade.

Jesus Cristo em sua revelação entre as Igrejas e o envio de mensagens


a estas Igrejas, identifica - SE como o Príncipe dos reis da terra diante
do qual todo joe1ho se dobrara. O Primogênito dos mortos, a Fiel
Testemunha e Àquele que nos ama. Ele revela a grande tribulação que
há de envo1ver a terra antes do Seu reino milenar.

Ele revela o estado eterno e a nova Jerusalém. Jesus é o Herdeiro do


Trono conforme as Escrituras. A vitória mencionada é incontestável.

53 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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A Bíblia em seus primeiros capítulos fala-nos da criação do homem,


da sua queda e do pecado. Enquanto O Criador anunciava os castigos
que deviam envolver Satanás e o homem, prometeu um Redentor
Vitorioso que restauraria todas as coisas. À trajetória do Apocalipse
revela-nos a redenção e a gloria dos remidos.

Terceira parte

OS QUATRO EVANGELHOS

Vamos dirigir agora a nossa atenção aos quatro evangelhos. Uma


coleção de registros muito especial quando os examinamos
coletivamente. Para começar, nos encontramos perguntando: Por que
há quatro evangelhos, especialmente quando os três primeiro parecem
abranger quase o mesmo assunto? Um só não seria melhor?

Como estamos tratando de escritos divinamente inspirados, a resposta


final, naturalmente, é que há quatro porque Deus assim quis: mas
podemos acrescentar que existem razões claras para Deus Ter feito
isso.

Existem quatro evangelhos em lugar de um, de modo a apresentar-nos


um retrato de Cristo. Os quatro Evangelhos têm cada um uma
individualidade que não pode ser anulada.

A unidade do tema, somada à sua diversidade é que os torna tão


interessantes à mente e tão satisfatório ao coração.

Também podemos explicar a necessidade dos quatro evangelhos


facilmente pelo fato de ter havido, nos tempos apostólicos, quatro
classes representativas do povo: Judeus, Romanos, Gregos e a Igreja.

Cada um dos evangelistas escreveu para uma dessas classes,


adaptando-se ao seu caráter, às suas necessidades e ideais.

Livro Povo Revelação Figura

Mateus Judeus O Filho de Deus Leão


Marcos Romanos O Servo Boi
Lucas Gregos Filho do homem Rosto de homem
João Igreja O Salvador Águia

54 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Mateus Sabendo que os Judeus esperavam pela vinda do Messias,


prometido no Velho Testamento, apresenta Jesus como o Messias o
filho de Deus.

O leão era o símbolo da tribo de Judá, a tribo real. Em Mateus nosso


Senhor é singularmente “o Leão da Tribo de Judá”

São João 3 : 17 e eis que uma voz dos céus


dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo.

Em Mateus, o evangelho do Rei, vê-se nos primeiros capítulos o Rei


dos Judeus e por Fim o Rei soberano nos céus e na terra, enviando
para exigir sua sujeição e homenagem.

Marcos Escreveu aos Romanos, um povo cujo ideal era o poder e o


serviço, assim Marcos descreveu Cristo o Servo fiel.

O boi é o emblema do trabalho servil. Ele representava entre os


antigos do oriente, o trabalho paciente e produtivo. A ênfase do livro se
encontra num Cristo ativo, um Servo forte mas humilde.

Em Marco, o evangelho do grande Servo de Deus, enfatizam-se os atos


de Cristo, não as Suas palavras, Marcos conta a lida incansável do
Servo de Jeová.

Lucas Escreveu a um povo culto, os Gregos, cujo objetivo era atingir


a perfeição e assim chegar a ser deus, assim Lucas apresenta Cristo
como o Filho do homem, perfeito em tudo e que chegou a ser Deus.

O homem é símbolo de inteligência, razão, emoção, vontade,


conhecimento, amor.

Lucas 5 : 24 Ora, para que saibais que o Filho


do homem tem sobre a terra autoridade para
perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te
digo: Levanta-te, toma o teu leito e vai para
tua casa.

Em Lucas , o evangelho do Filho do homem, mostra-se o coração de


Jesus em uma série de manifestações de Sua compaixão, ternura e
amor.

55 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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João ao escrever tinha em mente a Igreja, pois já fazia muitos anos


que Cristo tinha sido crucificado e as verdades do Evangelho estavam
sendo esquecida, por isso João, vendo as necessidades dos cristão de
todas as nações apresenta as verdades mais profundas do Evangelho.

João 4 : 42 e diziam à mulher: Já não é pela


tua palavra que nós cremos; pois agora nós
mesmos temos ouvido e sabemos que este é
verdadeiramente o Salvador do mundo.

Em João, o evangelho do Filho de Deus, vê-se como Jesus assemelha-


se à natureza da águia que voa e nos leva às alturas da Sua divindade
eterna. É o livro que nos revela o mistério de Ele ser com o Pai.

PARALELO SIGNIFICATIVO

Ezequiel 1 : 10 E a forma dos seus rostos era como o rosto de homem; e


à mão direita todos os quatro tinham o rosto de leão, e à mão esquerda
todos os quatro tinham o rosto de boi; e também tinham todos os
quatro o rosto de águia;

O Leão simboliza a soberania a força suprema, o homem a mais alta


inteligência, o boi o serviço, a águia o celestial o divino.

Os quatro aspectos são necessários para transmitir toda a verdade.


Como soberano Ele vem para reinar e governar. Como servo vem para
servir e sofrer. Como Filho do Homem vem para participar e consolar.
Como Filho de Deus vem para revelar e remir.

Maravilhosa fusão - soberania e humanidade; humildade e divindade.

OS SINÓTICOS E JOÃO
Sinótico: Que tem forma de sinopse; resumido. Os evangelhos de
Mateus, Marcos e Lucas cobrem quase o mesmo terreno, apresentando
apenas narrações dos fatos enquanto o registro de João, além de Ter
sido escrito mais tarde do que os demais trata em sua maior parte da
matéria não mencionada por eles.
O evangelho de João é obra de um teólogo, que apresenta Jesus como o
Cristo, o Filho de Deus.

56 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Dualismo Joanino
Enquanto os três primeiros evangelhos trazem um dualismo
escatológico, que consta de uma narração do já e ainda não, vivendo
num dualismo entre a presença do Reino e a presença do mundo
pecaminoso, sendo um dualismo cronológico horizontal. Já o livro de
João trás um dualismo vertical, entre o céu e a terra, entre a carne e o
Espírito, Luz e Trevas.
João trata de dois mundos e não de dois tempos Jo 8.23; 16.11;
11.9; 13.1; 3.13; 20,17.
Trevas e luz – mundo inferior são as trevas, mas o mundo de
cima é a Luz. Há entre eles o conflito Jo 1.5. Quem recebe Jesus passa
para o mundo da luz 12.36.
Carne e Espírito – em João a carne é do mundo inferior e o
Espírito do mundo superior. A vida da carne é humana e fraca 1.3.
Mas carne não é pecaminosa em si, 1.14, carne expressa a
humanidade a fragilidade. A carne está presa a este mundo e não pode
elevar o homem a Deus 6.63. Somente através do Espírito é que se vai
a Deus, o Espírito Santo 4.24.
Mundo – Para João a palavra Kosmos possui vários significados.
Pode ser criação 17.5, ou planeta terra 11.9, lugar onde os homens
habitam 6.14. Mundo também significa os habitantes do mundo 12.19,
3.16, 4.42, 1.29.
Entretanto, João trás uma nova significação para a palavra
mundo, ele afirma que este mundo também é pecaminoso 7.7; 17.25;
1.10. Os discípulos de Jesus fazem parte do mundo, mas foram
chamados para sair dele para pertencer a Jesus 17.6.
Satanás - O mundo é visto como estando sob o controle de
Satanás 8.44, 13.27.Como príncipe deste mundo, ele tenta vencer
Jesus Cristo 14.30.
Pecado – João enfatiza o pecado não como vários atos contrários
à lei de Deus, mas como um modo de vida 16.18, 8.34.
Morte – Morte é um adereço do mundo inferior 5.24.

57 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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AS PRINCIPAIS DOUTRINAS

Estamos apresentando as Doutrinas fundamentais contidas no Novo


Testamento, através de um simples esboço, o estudo mais profundo
será apresentado quando da matéria específica.

Doutrina de Deus

João 7 16 - 17 Respondeu-lhes Jesus: A minha doutrina


não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém
quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é
dele, ou se eu falo por mim mesmo.

A Existência de Deus

A Natureza de Deus

Os Atributos de Deus

Doutrina de Cristo

Mateus 1: 18 Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim:


Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se
ajuntarem, ela se achou ter concebido do Espírito Santo.

Natureza de Cristo
Os Ofícios de Cristo
A Obra de Cristo

Doutrina do Espírito Santo

Romanos 8: 11 E, se o Espírito daquele que dos mortos


ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos
ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também os vossos
corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.

A Natureza do Espírito Santo


O Espírito Santo no Antigo Testamento
O Espírito Santo em Cristo
O Espírito Santo no Cristão
Os Dons do Espírito

58 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Doutrina dos Anjos

Hebreus 1: 13 - 14 Mas a qual dos anjos disse jamais:


Assenta-te à minha direita até que eu ponha os teus
inimigos por escabelo de teus pés? Não são todos eles
espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos
que hão de herdar a salvação?

Sua Natureza
Sua Classificação
Seu caráter
Sua Obra
Reino das trevas

Doutrina do Homem

Mateus 19: 4 Respondeu-lhe Jesus: Não tendes lido que o


Criador os fez desde o princípio homem e mulher,

A Origem do Homem
A Natureza do Homem
A Imagem de Deus no Homem

Doutrina da Salvação

Romanos 3: 24 sendo justificados gratuitamente pela sua


graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus,

A Natureza da Salvação

Justificação

Regeneração

Santificação

59 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Doutrina da Igreja

Atos 11: 22 Chegou a notícia destas coisas aos ouvidos da


igreja em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia;

A Natureza da Igreja

A Fundação da Igreja

As Ordenanças da Igreja

A Organização da Igreja

Doutrina das Últimas Coisas

Mateus 24: 3 E estando ele sentado no Monte das


Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em
particular, dizendo: Declara-nos quando serão essas
coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo.

Sinais da Vinda de Jesus

Arrebatamento da Igreja

Tribunal de Cristo

Bodas do Cordeiro

Grande tribulação

Milênio

Juízo do Trono Branco

60 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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João, o Batista

Novo Profeta

Durante séculos não havia mais profetas em Israel, mas eles se


contataram apenas com a leitura dos antigos profetas e os novos
escritos chamados de apocalípticos41. A Aparição de João causa um
alvoroço muitos iam ouvi-lo pregar (Mc 1.5).
A vida de JOÃO, O BATISTA, visava preencher um propósito
todo especial, ou seja, o de ser o precursor do Messias. Os outros
profetas de toda a história, Deus falava diversas vezes, mas com
JOÃO, O BATISTA foi diferente, Deus falou uma única vez “e veio à
palavra de Deus a JOÃO, O BATISTA”.
Tal como se no caso do próprio Senhor Jesus, pouco se sabe acerca
do período de preparação de JOÃO, O BATISTA.
JOÃO, O BATISTA deu inicio ao seu ministério público poucos
meses antes do Senhor Jesus iniciar seu próprio ministério. Tal como
se deu com o filho de Deus, JOÃO, O BATISTA dispunha de
curtíssimo prazo para cumprir seu ministério. Josefo afirma que
JOÃO, O BATISTA era pessoa dotada de grande magnetismo pessoal
e força de atração. A vida dele foi como um brilhante meteoro que
apareceu subitamente coriscou durante um breve período, e
desapareceu. Alguns chegaram a pensar que ele seria o Messias
prometido, mas primeiro capítulo do evangelho segundo João cuida
em mostrar que essa opinião estava equivocada, porquanto JOÃO, O
BATISTA nunca fizera tal reivindicação. Todavia, a vida de JOÃO, O
BATISTA foi de tal modo dotada de poder que os outros o
identificaram como Elias. E Herodes o confundiu com o próprio Senhor
Jesus. 42

41
Era um tipo de literatura que constava de relatos sobre como seria o fim do mundo, era uma forma comum de muitos judeus
escreverem. Este estilo literário surgiu durante o período chamado por nós de interbíblico, quando nasceu nos corações judeus a
esperança de paz em tanta perseguição, principalmente no período de Antíoco IV, conhecido pela sua violência contra os costumes
judaicos. Era um período que o povo clamava pela vinda do messias, e sofria com o domino estrangeiro, eram constantemente
exortados pelos profetas a persistirem.
42
Trecho extraído do Livro “Quem foi João, o Batista” – Pr. Humberto Vieira. Cap. 4 p. 36

61 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Sua mensagem

Constava da mesma esperança dos judeus, a vinda do Reino de


Yahweh. Isto quer dizer que viria a punição dos ímpios e a purificação
dos justos.

Em sua mensagem

João pregava o batismo que apontava para o “derramar do Espírito


do Senhor” que traria tanto a punição quanto a justificação.

Encontramos em Mat. 3, a mensagem deste homem e devemos


aprender muito com a mensagem de JOÃO, O BATISTA.
Vamos verificar a partir do versículo cinco que mesmo com uma
mensagem dura, as multidões vinham de longe para ouvi-lo, “Então
iam ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a província
adjacente ao Jordão; E eram por ele batizadas no rio Jordão,
confessando os seus pecados”.
Multidões de pessoas iam ao deserto verificar um homem
estranho, hoje temos igrejas com ventilador, microfone, até cadeiras
almofadadas etc. E muitos ainda arrumam desculpas para não ir
cultuar Deus. Quais têm sido suas desculpas para não servir a Deus?
O contexto ainda mostra o grupo de pessoas que iam ter com JOÃO, O
BATISTA, eram fariseus, saduceus, sacerdotes, soldados e muitos
outros. Não eram simples pessoas que questionavam JOÃO, O
BATISTA, eram pessoas entendidas. Quando estas pessoas se
aproximaram, JOÃO, O BATISTA mandou uma mensagem tão
suave, que talvez nós ovelhas hoje não suportássemos. “Raça de
víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?”
Esta expressão “raça de víboras”, se refere às diversas
serpentes que existiam naquela época e também naquele local. Os
campos eram habitados por serpentes de vários tipos bem conhecidas
pelo povo. Quando ele se refere a “raça de víboras”, ainda completa
a frase dizendo: “quem vos ensinou a fugir da ira futura?”. Havia
um costume, de se queimar toda a erva daninha, como preparação
para o plantio. Naturalmente que quando o fogo começava, serpentes
de muitos tipos eram postas em fuga. A visão das serpentes fugindo do
fogo ilustrava bem a conduta dos fariseus e dos saduceus.
A serpente simboliza uma pessoa venenosa, enganadora,
maliciosa. Ver Sal 58:4-5. Você conhece alguém assim? Pastor você
tem alguém que se diz ovelha com estas características? Cuidado
serpente é pior que bode, serpente mata até bode. Lembre-se de qual

62 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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animal o diabo usou, para se apossar e tentar Eva. Temos ali o


primeiro caso de possessão da história. 43

Vemos que ele fala de um duplo batismo, água e fogo.


Pregava o arrependimento dos pecados. Uma volta a Lei de Deus,
uma vida de boas obras. Por isso João rejeitou o legalismo fariseu.

João e Jesus
Mateus 11. 1-13 – O reino chegou com Cristo ou não?
Jesus manda responder que ele estava fazendo o que Isaías falou
sobre a vinda do Reino. João termina uma fase da história, em Jesus
começa a outra e última.

O Messias
A palavra messias é o mesmo que Cristo que quer dizer ungido.
Ungido significa untado, o uso hebraico a unção tem a finalidade de
destacar dos demais. Ungia-se os sacerdotes e os Reis, contudo apenas
a unção de Rei envolvia a chamada: expectativa messiânica. Que é a
espera dos judeus por um Rei que virá para governar da parte de Deus
todo o mundo.
O messias esperado já tinha todas as características que
envolvem a unção, autoridade, poder e honra, esperava-se agora que
ele tomasse o seu posto. E o Velho Testamento sempre prometeu que
este messias seria o Renovo de Davi (Jr 23.5).
O Novo Testamento vai ser unânime em declarar que Jesus de
Nazaré é o Messias prometido esse título foi tão claro e
exaustivamente usado para Jesus que acabou sendo um complemento
do seu nome. Temos então, a expectativa do messianismo sendo
cumprida.
A esperança do Velho Testamento é que o messias venha assumir
o governo teocrático de Israel e que seja o legítimo representante de
Yahweh. A figura da um líder ungido sempre se relaciona com uma
pessoa que recebe um encargo divino.

43
Mais detalhe deste assunto encontra no livro do Pr. Humberto “Quem foi João, o Batista”

63 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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O Messias no período intertestamentário

Não é um termo que ocorra com muita freqüência, no livro de


Salmos de Salomão (apócrifo), há algumas referências ao “Filho de
Davi” e “ungido do Senhor”. No 4º livro de Esdras fala do messias
revelado que surgirá da posteridade de Davi. No Apocalipse de
Baruque fala do Rei de Israel que trará paz. Em 1º Enoque fala de um
homem preexistente e sobrenatural. Ainda vemos a expectativa do
messias na comunidade de Qumran que esperava pelo Sacerdote e
pelo Rei Ungido. O que pode-se notar é que a visão que eles têm de
messias foi a imagem que se solidificou nos dias de Jesus, um messias
da linhagem de Davi que sentaria no trono e expulsaria os romanos e
os subjugaria.
O messias nos evangelhos
Apesar de ser importante as considerações judaicas sobre o
messias, a base para a doutrina sobre o messias deve ser baseada e
firmada nos evangelhos que trazem o Messias revelado.
É bastante claro que o povo esperava que um messias aparecesse
(Jo 1.20,41). Filho de Davi (Mt 21.9). Uma aparição repentina (Jo 7.26-
27). E que fosse eterno (Jo 12.34).
E como falamos, os judeus queriam que o messias fosse o novo
imperador do mundo, chegando a tentar forçar Jesus a assumir o
trono (Jo 6.15).
O nome Cristo nos evangelhos é mais um título que um nome de
Jesus, como ficou característico no meio eclesiástico. Apenas alguns
textos davam a entender a idéia de que Cristo era o nome de Jesus.
Este fato é um forte argumento contra os liberais que afirmam
que os livros do Novo Testamento foram compilados séculos mais tarde
para justificar certas práticas da igreja. Esta teoria é chamada de
catolicismo primitivo, afirma que a igreja dos séculos 2º e 3º
acrescentaram textos às Escrituras para justificar suas práticas.
Acontece que, se isto é verdade, logo deveríamos esperar que a palavra
cristo fosse usada como nome próprio do Senhor como era comum falar
na igreja helênica, assim, podemos aceitar como muito anteriores
esses textos e descartar a hipótese do catolicismo primitivo.

64 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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O Reino de Deus

Dualismo Escatológico

No Velho Testamento temos a espera pela restauração e plenitude


do Reino, a ordem do mundo ser redimida.

Chamam isto de “século vindouro”, este século é marcado pela


ressurreição dos mortos (Lc 20.35).

Nas páginas do Novo Testamento podemos ver que há algo deste


novo mundo, a conversão de mente feita pelo Espírito é uma promessa
do Reino.

Por isso vemos que há um dualismo escatológico, ou se preferirmos


chamar como na teologia sistemática “já e ainda não”.

Já vivemos a escatologia, os crentes já têm a mente do Reino, não


podemos continuar com a mentalidade deste mundo.

Mas os crentes devem anunciar que ainda falta algo acontecer, as


irrupções catastróficas de Mateus 24.

Significado do Reino de Deus

Reino presente

Jesus afirmou que seu ministério foi o cumprimento da promessa


da vinda do Reino (Lc 4.21).
Por todos os sinóticos vemos a missão de Jesus como cumprimento
do Reino (Mt 12.28).
O reino se mostrou atacando o domínio de Satanás e libertando os
homens com o poder de Deus.
Nesta passagem temos a essência do Reino nos sinóticos, Mt 12.29
Jesus veio aprisionar Satanás e irá depois destruí-lo.
Hoje Satanás está enfraquecido. Sempre que há um exorcismo é
marca de que Satanás perde o seu poder.

65 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Estrutura do Reino nos Sinóticos:

Implicação de estar no Reino

Mudança radical (Mc 9.43), primazia em tudo em nossa vida (Lc


14.26).

Mt 11.12 indica que se queremos participar deste Reino que veio


devastando as trevas, temos de tomar uma postura violenta contra o
modo de vida passado.

Mas isso não implica que para sermos salvos temos de praticar
obras, mas implica numa responsabilidade dos salvos.

O reino de Deus não é ganho pelo esforço, mas é um presente de


Deus (Lc 12.32).

Mas é algo que somos chamados a buscar sob a promessa de termos


a satisfação de todas as nossas necessidades (Lc 12.31) – Contudo, a
má compreensão de Reino pode produzir o que chamamos de teologia
da prosperidade.

66 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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A Salvação que o reino oferece

Não falamos apenas de salvação de redenção alcança somente no


céu, mas na comunhão atual com Deus. Nos dias de hoje pensamos em
ensinar sobre a futura salvação quando viveremos com nossos corpos
glorificados em Nova Sião, contudo perdemos de vista que o Reino de
Deus está entre nós e já nos revela a salvação.
Muito embora é necessário lembrar que esse Reino está num
caráter parcial. Ao nos convertermos temos a garantia da futura
salvação, contudo não devemos pensar que até nossa morte já não
experimentamos algo desta salvação. Afinal de contas ao nos
convertermos o Espírito Santo nos sela e nos concede dons e o Fruto,
quais nós já participamos nesta vida presente.
Claro que não devemos perder de vista que vivemos ainda a
expectativa da final ressurreição e completa implementação do Reino
entre nós (Lc 22.30, Mc 14.25) há uma expectativa futura. Além de que
aqui percebemos que ainda há muita luta para seguir a carreira cristã.
Devemos procurar compreender o Reino presente, em sua chegada,
ele está começando, por isso, já desfrutamos de algumas bênçãos,
porém outras ainda aguardamos.
Nossa alma já experimenta algumas bênçãos, contudo não podemos
nos iludir achando que estamos vivendo em completa santidade diante
de Deus e num mundo sem influência satânica (que vai se esvaindo
aos poucos).
Hoje vivemos a era do perdão, fomos perdoados por Deus, já
participamos deste perdão que nos garante a capacidade de, com o
Espírito Santo, servir a Deus (Mc 1.4; 2.10). Mais hoje o Reino ainda
não é completo, Deus se serviu de dividir a chegada do Reino em dois
momentos distintos, primeiro a salvação do homem, depois a punição
do pecado.

67 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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O Espírito Santo
Nos evangelhos sinópticos é enfatizado o fator do Espírito Santo
como inaugurador do Reino de Cristo e que as obras de Cristo são
efetuadas pelo poder do Espírito Santo.
João também fala da ação do Espírito Santo sobre Cristo, mas a
ênfase é falar do Espírito Santo como substituto de Cristo. E que
Cristo dá do seu Espírito, realizando a distinção entre o Velho
Testamento o Novo Testamento.
João 3.34-35, é a única declaração de que Jesus fez o que fez pelo
Espírito Santo em João.
João assume a idéia de que o Espírito Santo este subordinado a
Cristo e será entregue, após a ressurreição aos discípulos, 20.22,23.
O Espírito Santo transformaria as palavras dos discípulos em
canais de bênçãos, Jo 7.39.
O Espírito Santo veio para assumir o lugar de Jesus e para
capacitar os discípulos, para levar a Fé.A presença do Espírito Santo
em João é o cumprimento de uma capacitação espiritual do Velho
Testamento, Jo 14.17. De certa forma o Espírito Santo estava e
habitava em Israel, mas o Novo Testamento fala com mais freqüência
dessa habitação.
Mas o Velho Testamento sempre fala de uma espera messiânica,
quando haverá uma dimensão nova sobre a chegada do Espírito Santo.
O cumprimento final é receber o Espírito Santo de um modo novo,
Jl 2.28.
João trata do seu dualismo também com respeito ao Espírito.
Jo 6.63, alguém pode pensar que João está falando do dualismo
grego de carne como algo mal, mas não podemos esquecer que a ênfase
de João quanto a carne é a idéia de limitação desta e incapacidade de
servir a Deus.
A teologia de João mostrará que Deus usará a carne como veículo
para o Espírito fazer sua vontade.
Quando Jesus se faz carne, ele está inaugurando uma nova
condição do homem.
Que Pelo Espírito ele poderá caminhar a Deus, assim podemos
como homens, ter a esperança de que há salvador.
Devemos manter a idéia de que a carne não é má, mas é limitada
para alcançar o mundo superior, Jo 3.6.
Com a vinda do Espírito Santo ao mundo, poderemos adorar a
Deus em qualquer lugar, Jo 4.23.
Adorar em espírito deve ser visto sem esquecer do uso da palavra
espírito em João. Esse Espírito é adorar pela mediação de Cristo.
Lembremos que o contexto está falando de adorar da forma do
Velho Testamento em contraste com a nova forma.

68 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Forma espiritual e não mais em um lugar, pois estamos de fato


adorando a Cristo por meio do próprio Cristo, sem mediadores.
E em verdade enfatiza o complemento da palavra de Deus, Jesus,
a verdade, Jo 1.17.
O Espírito Santo em João é o paracleto divino que veio ser o nosso
mediador.
Quando pensamos em mediador vem a nossa mente a pessoa de
Jesus.
Mas o próprio Jesus promete um outro mediador, Jo 14.16.
O Paracleto virá como Cristo veio, Jo 5.43; 16.28;18.37.
O paracleto é o espírito da verdade, Jesus é a verdade, Jo.14.6,
logo é o próprio espírito de Cristo.
A promessa de não sermos órfãos vem da vinda do Espírito Santo,
Jo 14.18.
Mas devemos fazer a distinção misteriosa da Trindade, ele não é
Cristo, mas é o Espírito de Cristo, o Espírito Santo.
A presença do Espírito Santo nos discípulos de Cristo é de dar a
eles uma experiência jamais experimentada.
NO Velho Testamento o Espírito Santo possibilitava que o povo
tivesse capacidade espiritual para exercer cargos, Jz 3.10,
independente de fossem bons ou maus, Balaão, Saul, eles eram
representantes da autoridade e da Palavra de Deus.
Essa capacidade ia e voltava, Jz 14.6; I Sm 16.14, Sl 51.11.
Agora no Novo Testamento ele envolverá o povo e habitará nele,
Jo 14.16,17.
O cumprimento do seu papel messiânico é de exaltar a pessoa de
Cristo, chamar a atenção para as coisas que Cristo representava no
Velho Testamento.
Jesus prometeu que ele guiaria os discípulos por toda a verdade,
Jo 16.13.
O Espírito Santo daria poder aos crentes, Jo 16.7, a promessa de
fazer maiores obras é esse poder, Jo 14.12.
Inclui o ministério eclesiástico, Jo 20.23, O perdão por meio das
Palavras de Cristo e o juízo porque não creram nas Palavras, Jo 16.8-
11.

69 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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OS ENSINOS DE JESUS

Os ensinamentos de Jesus fora fundamentado nas Escrituras do Velho


Testamento. Mateus 4 : 10 Então ordenou-lhe Jesus: Vai-te, Satanás;
porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.

Os ensinos de Jesus Cristo revelam claramente que Ele era o Messias


prometido. Seus ensinamentos eram inspirados por Deus por isso
estão ainda hoje vivos em nossa memória.

Ele apresentava-se diante do povo, usava linguagem do povo. Ele


usava as figuras conhecidas para ensinar as idéias corretas e desfazer
as errôneas. O Centro dos ensinamentos de Jesus Cristo era a fé. A fé
ensinada por Jesus, opera gloriosos resultados, vemos:

A Fé Opera Milagres Mateus 9 : 2 E eis que lhe trouxeram um


paralítico deitado num leito. Jesus, pois, vendo-lhes a [fé], disse ao
paralítico: Tem ânimo, filho; perdoados são os teus pecados.

A Fé Promove Santificação Atos 26 : 18 para lhes abrir os olhos a


fim de que se convertam das trevas à luz, e do poder de Satanás a
Deus, para que recebam remissão de pecados e herança entre
aqueles que são santificados pela fé em mim.

A Fé Revela as Qualidades Romanos 1 : 8 Primeiramente dou


graças ao meu Deus, mediante Jesus Cristo, por todos vós, porque
em todo o mundo é anunciada a vossa fé.

A Fé Garante Salvação Romanos 3 : 26 para demonstração da sua


justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e também
justificador daquele que tem fé em Jesus

A fé é crer que Deus é fiel. Ela é a força que move a mão de Deus. A fé
conduz o indivíduo em perfeita relação com Deus.

Jesus Cristo pregava o Evangelho do Reino, não um reino político ou


material mas um reino espiritual e futuro. Jesus enfatizava o aspecto
escatológico. Nos Seus ensinamentos Jesus Cristo enfatizava que Sua
morte e ressurreição era uma necessidade para salvação do ser
humano. Por várias ocasiões Jesus Cristo ensinou esta Doutrina.

70 Teologia Bíblica do Novo Testamento


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Lucas 19 : 10 Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que


se havia perdido.

Marcos 10 : 33 dizendo: Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do


homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas; e
eles o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios;

João 11 : 25 Declarou-lhe Jesus: Eu sou a [ressurreição] e a vida;


quem crê em mim, ainda que morra, viverá;

João 12 : 47 E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as


guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo,
mas para salvar o mundo.

Jesus ensinou que o homem na condição o seu destino é a perdição


eterna. Mateus 16 : 26.

TEOLOGIA DO APÓSTOLO JOÃO

João filho de Zebedeu e de Salomé, irmão menor de Tiago, foi um dos


primeiros discípulos e ser escolhido pelo Senhor e o último a morrer,
humilde e simples, conhecido com Apóstolo do Amor.

O centro, a base, o alicerce da teologia de João é a pessoa de Cristo.


Ele introduz sua teologia apresentando três declarações que excedem o
entendimento do ser humano.

João 1 : 1 - 2 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o


Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.

Este princípio é diferente de iniciar, começar, partida. Gênesis 1 : 1


"No princípio criou Deus os céus e a terra" .

Este princípio é indefinido. É um tempo quando por um ato soberano


Deus criou o universo.

João guiado pelo Espírito Santo nos conduz para além das eternidades
passadas. Esta teologia é chamada de Cristocêntrica, porque para o
apóstolo, Cristo é tudo. Não é uma teologia apenas da razão, é uma
teologia do Espírito. A mensagem de João mostra que Deus pode ser
conhecido em Jesus Cristo.

João 16 : 13 Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos


guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o
que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras.
71 Teologia Bíblica do Novo Testamento
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Referências Bibliográficas
Panorama do Novo Testamento, Robert H. Gundry
Vida Nova
Através da Bíblia Livro por Livro, Myer Pearlman
Vida
Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, Myer Pearlman
Vida
Teologia Sistemática, A. B. Langston
Juerp
Os Amigos de Jesus, E. Percy Ellis.
CPAD
Manual da Escola Dominical, Antonio Gilberto.
CPAD
Manual Bíblico, Henry H. Halley
Vida Nova
Novo Comentário da Bíblia, F. Davidson
Vida Nova
Pequena Enciclopédia Bíblica, O. S. Boyer
IBAD
Examinai as Escrituras, J. Sidlow baxter
Vida Nova
Autor
Ev. José Ferraz
http://www.orbita.starmedia.com/~omensageiro1

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72 Teologia Bíblica do Novo Testamento


Professor: Fábio Reis
Instituto Batista Bíblico da Bahia - Fundamentalista

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(Teses e Dissertações, 1)
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Material não publicado do Professor Leandro Andrade (usado com a devida
autorização)
Morris, Leon Teologia do Novo Testamento –1ª Edição 2003 – Tradução
Hans Udo Fuchs – Ed. Vida Nova.
Dr. Reis Pereira Aníbal Ex-padre – “O Crente pode perder a salvação?”
Segunda Edição / Edições “Caminho de Damasco” Ltda. 1987
Vieira, Humberto. Quem foi João, o Batista?

73 Teologia Bíblica do Novo Testamento


Professor: Fábio Reis

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