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a principal nota característica da verdade tal como vista por Lacan é sua resistência ao
saber (IANNINI, 2009, p.8).
Lacan recusa que a “querela dos métodos” defina a totalidade das alternativas possíveis
no campo epistemológico (IANNINI, 2009, p.162).
esse objeto a deve ser inserido, já o sabemos, na divisão do sujeito pela qual se estrutura
(...) o campo psicanalítico (cf. LACAN, E:877- 888).
Iannini (2009) nos lembra quão radical é a operação epistemológica perpetrada por Lacan
no curso de seu 15º seminário, em um texto célebre e cronologicamente correlato àquele,
intitulado “La méprise du sujet supposé savoir”, onde encontramos na pena do
psicanalista a desconcertante proposição de que o inconsciente, àquele momento, ainda
não havia sido bem compreendido. Vale ainda destacar que é no esforço de encaminhar
a questão da possibilidade de apreensão do inconsciente como objeto que se furta a
objetividade do método, tanto mais este se pretenda pautar-se por um distanciamento de
qualquer consentimento, o saber que se nomeia positivo, que Lacan avançará sua crítica
do sentido, apontando os desfiladeiros imaginários nos quais se opera a proliferação
semântica, risco sempre presente na consecução do discurso psicanalítico. Tal esforço é
correlato ao que fora empreendido por Freud, como nos mostra Teixeira (2010), ao
comentar a direção do esforço freudiano na transição que vai do sonho de injeção de Irma
ao caso Emma, em estabelecer parâmetros no desenvolvimento de sua teoria que
escapassem ao risco de reprodução desenfreada de sentidos que o elemento sexual
convoca no tratamento de questões a ele relativas. A psicanálise não se configura, dessa
forma, como um conhecimento formal, isto é, sob a rubrica de um discurso provedor de
sentido. O tratamento da questão em psicanálise admite no seio de sua própria
constituição discursiva o elemento traumático que insiste em inscrever sua opacidade nos
dados que recolhe da experiência clínica, e isto, delimita, por sua vez, o ponto a partir do
qual algo se escreve.
A primeira frase dos Escritos é uma citação de Buffon, que diz: “o estilo é o homem”
(E:9). Esta passagem tornou-se célebre, mas levou muita gente a creditar na conta
do estilo lacaniano a recuperação da subjetividade na escrita teórica, como se se tratasse
de alguma forma de re-apropriação do elemento expressivo na prática discursiva
(IANNINI, 2009, p.275).