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Sociologia da Educação

Universidade Braz Cubas - UBC

Mogi das Cruzes

2012
Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233 - Mogilar

CEP 08773-380 - Mogi das Cruzes - SP

Reitor: Prof. Maurício Chermann

EQUIPE DE PRODUÇÃO CORPORATIVA

Gerência: Adriane Aparecida Carvalho

Orientação Pedagógica: Karen de Campos Shinoda

Coordenação de Produção: Diego de Castro Alvim

Revisão de Textos: Adrielly Rodrigues, Taciana da Paz

Coordenação de Edição e Arte: Michelle Carrete

Diagramação: Amanda Holanda

Ilustração: Everton Arcanjo

Impressão: Grupo VLS / Infotec / Jet Cópias

Imagens: Fotolia / Acervo próprio

Os autores dos textos presentes neste material didático assumem total

responsabilidade sobre os conteúdos e originalidade.

Proibida a reprodução total e/ou parcial.

© Copyright UBC 2012


A Braz Cubas

A Braz Cubas

Nascida em 1940, na cidade de Mogi das Cruzes, a Braz Cubas, que iniciou suas
atividades com um pequeno curso preparatório, conta hoje com cerca de 20 mil alu-
nos, entre as modalidades presencial e educação a distância.

Ao longo desses 75 anos no mercado, a instituição passou por diversas trans-


formações, abrigando, inclusive, cursos de ginásio, nível médio, comércio, até que
chegou a Faculdade de Direito, em 1965.

O ensino superior, estimulado pela política da educação, cresceu em todo o


País e a Braz Cubas, atendendo às exigências e necessidades do mercado, continuou
a crescer, tanto no aspecto acadêmico, quanto no social, até que em 1985, o Conse-
lho Federal de Educação reconhece a então Federação das Faculdades Braz Cubas
como Universidade.

A importante notícia veio valorizar a região de Mogi das Cruzes e premiar uma
longa carreira de bons serviços prestados à educação brasileira, formando profissio-
nais competentes e capacitados ao mercado de trabalho.

Missão

Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem


diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã.

Visão

Ser reconhecida como uma instituição de Ensino centrada na aprendizagem.

Valores

Cidadania, humanização, sabedoria, humildade e transparência.

3
Sumário

Sumário

Apresentação 7
O Professor 9
Introdução 11

1Unidade I
Introdução à Sociologia Geral e da Educação 13
1.1 Alguns fundamentos da reflexão sociológica que são imprescindíveis para se entender o
mundo social 14
1.2 “O Príncipe” – N. Maquiavel 22
1.3 Considerações da Unidade I 23

2Unidade II
Linha explicativa positiva funcionalidade e a Sociologia Compreensiva 25
2.1 A vez de Augusto Comte 25
2.2 A vez de Émile Durkheim 28
2.3 A vez de Max Weber 35
2.4 Considerações da Unidade II 36

3Unidade III
A Sociologia dialética de Karl Marx e implicações em Rousseau 37
3.1 Um histórico de vida a ser considerado 37
3.2 Princípios Antropológicos 42
3.3 A Alienação 44
3.4 A Alienação do produto do seu trabalho 45
3.5 A Alienação no ato de produção 46
3.6 O homem alienado de sua espécie 47
3.7 O homem alienado do seu semelhante 47
3.8 A Ideologia Alemã 48
3.9 A história 49
3.9.1 Da produção da consciência 50
3.10 Outras ideias gerais sobre o marxismo 52
3.11 O Manifesto Comunista 52
3.12 Considerações da Unidade III 53

4Unidade IV
Educação, Globalização, Neoliberalismo e Pós-Modernidade 55
4.1 Educação e Globalização ou Neoliberalismo 55
4.2 Globalização/Neoliberalismo 57
4.3 E a educação? 59
4.4 Darwinismo Social e Neoliberalismo 65
4.5 Considerações da Unidade IV 66
Referências 67
Apresentação

Apresentação

Seja bem-vindo(a) à disciplina de Sociologia da Educação. Convido você, ca-


ro(a) educando(a), a iniciar os estudos em uma temática que não somente fortalece
a sólida formação do futuro profissional da educação, conjuntamente com outras
disciplinas, mas também nos autoriza a dizer que ingressamos num estudo sobre
as questões ligadas à participação consciente na vida política da sociedade na qual
estamos inseridos.

Aquilo que aponto aqui faz parte, sem dúvida, de uma discussão que precisa
ser explorada detalhadamente consultando, de modo especial, as obras originais
dos autores citados. Por isso, não será demais frisar que aqui você terá um pequeno
fragmento dos estudos na área da sociologia do educando. É necessário, portanto,
que você busque outras fontes, tanto diretamente ligadas ao conteúdo oferecido
aqui, quanto em bibliotecas, sites de revistas ou, enfim, nas diversas fontes confiá-
veis de que dispomos. Lembre-se de que vídeos (incluindo as teleaulas), noticiários,
artigos em revistas, jornais, entre outros, devem fazer parte da rotina de estudo.

Minha preocupação vai com a chamada “geração MTV”, “geração facebook” e


outras que não conseguem acompanhar ou formular argumentos de modo siste-
mático e reflexivo. Isso se torna preocupante, pois nos deixa cegos e a margem da
ignorância. Saber, ter a informação é importante, mas digeri-la é imprescindível.

Por fim, quero dizer que não se sinta só. Estarei junto a você nessa caminhada,
partilhando conhecimentos, experiências e, ainda, indicando possíveis referências
para que você possa ter uma formação exemplar. Que você se sinta encorajado a ir à
busca de novas respostas (por mais que permaneçam as velhas perguntas) construí-
das por meio da pesquisa e dos novos conhecimentos.

Portanto, você está convidado a me seguir nessas discussões para juntos dis-
cutirmos os ideais que possam guiar as relações sociais e, com isso, reavivar e aca-
lentar o sonho de uma sociedade justa, em que se possa viver num completo estado
de bem-estar social.

O homem que a educação deve realizar, em cada um de nós,


não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a socie-
dade quer que ele seja; e ela o quer conforme o reclame a sua
economia interna, o seu equilíbrio.
(Emile Durkheim)

7
Não é a consciência que determina o ser social. Ao contrário, é o
ser social que determina a consciência.
(Karl Marx)

Por trás de todas as discussões atuais sobre as bases do sistema


educacional, se oculta em algum aspecto mais decisivo a luta
dos “especialistas” contra o tipo mais antigo de “homem culto”.
Essa luta é determinada pela expansão irresistível da burocrati-
zação de todas as relações públicas e privadas de autoridade e
pela crescente importância dos peritos e do conhecimento es-
pecializado.
(Max Weber)
O Professor

O Professor

Prof. Dr. Algacir José Rigon

Docente Algacir José Rigon. Possui graduação em Fi-


losofia pela Universidade de Passo Fundo (UPF-2002);
Mestrado em Educação pela Universidade de Passo
Fundo (UPF-2005) e Doutorado em Educação pela
Universidade de São Paulo (FE-USP - 2011). Tem ex-
periência na área de Filosofia, com ênfase em Filoso-
fia, Filosofia da Educação, Fundamentos da Educação,
Metodologia, Genética e Linguagem, Psicologia da
Educação e Prática Pedagógica.

9
Introdução

Introdução

O nosso propósito, neste percurso de aprendizado, é subsidiar as reflexões


em torno das grandes mudanças sociais e, ainda, relacionadas ao trabalho – espe-
cificamente o docente. Geralmente, o problema aparece nessas situações colocado
como um problema de educação, ou seja, se fala em qualificação profissional, busca
por compreender o que está acontecendo na sociedade, a possibilidade das pessoas
acompanharem, num sentido pessoal, as mudanças sociais, enfim, uma porção de
expectativas que mexem com os brios da educação. Nessas circunstâncias, tam-
bém é comum encontrar pessoas que ao serem interpeladas sobre a perspectiva
de que a sociedade se modifique, de que o Brasil melhore, de que o estado geral de
bem-estar das pessoas seja elevado a algum nível superior, respondam a partir do
“senso comum”, isto é, sem respostas plausíveis. Na maior parte dos casos, gerando
uma sensação de pessimismo em relação ao futuro da sociedade.

A sociologia da educação, nesse sentido, é um saber que se tenta construir


racionalmente para compreender as relações estabelecidas socialmente, bem como
para se pensar a educação de forma crítica. Isto é, buscam-se com esse estudo as
contribuições de diversos teóricos para explicar os fatos sociais e os acontecimentos
educacionais. Portanto, cabe destacar os questionamentos e as possíveis respostas
para a justificação e legitimação das políticas educacionais adotadas, o direito uni-
versal a educação ou o pensar sobre uma educação enquanto direito universal, para
que todos possam usufruir concretamente dos benefícios daquilo que a humanida-
de produziu em termos de cultura ao longo dos tempos. Outra questão ainda se faz
necessária aqui: como devem ser os mecanismos de transmissão, apropriação da
cultura, dos conhecimentos ou da ciência?

Os temas que nos pautam nestas próximas unidades estão orientados, ain-
da, para formar uma base diversificada de análises, referenciais e/ou pressupostos
para que os futuros educadores, com apoio nesses referendos, compreendam um
pouco mais os processos e mecanismos sociais que conduzem a organização da
escola, bem como daquilo que está institucionalizado enquanto processo educativo
(pedagógico).

Por fim, em alguns momentos o texto trata unicamente de apresentar a for-


ma como os autores pensavam, a teoria num sentido “cru”. Em outros momentos,
exploramos relações com a organização do processo educativo, com a organização
da sociedade em geral e, também, implicações particulares para a vida como cida-
dão. De todo modo, destacam-se, sempre que possível, aqueles aspectos que con-
tribuem para a educação direta ou indiretamente.

11
Sociologia da Educação Unidade 1

1 Unidade I

Introdução à Sociologia Geral e da Educação

Objetivos da Unidade:

• Propiciar a reflexão sobre a relação entre o contexto educacional e


as relações sociais de determinado contexto;

• Introduzir o pensamento sociológico.

Competências e Habilidades da Unidade:

• Percepção da relação entre os estudos sociológicos e os aspectos


educacionais;

• Interpretação e compreensão das relações sociais como relações


que implicam determinada visão de homem enquanto indivíduo, e
de sociedade enquanto coletividade.

Mas, enfim, o que é a Sociologia e para que serve?

13
Unidade 1 Sociologia da Educação

1.1  Alguns
fundamentos da reflexão sociológica que são
imprescindíveis para se entender o mundo social

Não há, em Sociologia, uma uniformidade de opiniões a respeito daquilo que


esta disciplina representa para o homem em geral. Na maioria das vezes, a Sociolo-
gia é tomada como uma arma poderosa para servir apenas a alguns interesses que,
via de regra, são sempre os interesses das classes dominantes (a dita minoria privile-
giada). Para outros tantos, a sociologia não tem sido nada mais, nada menos, do que
uma ferramenta para as classes revolucionárias – é a tese de que (se você observar
vai perceber) quem estuda sociologia com maior destaque são os participantes dos
movimentos sociais: MST, MABs, MCP e outros. Contudo, embora exista essa diver-
gência de utilização da Sociologia, ainda é necessário responder a pergunta primeira:

Resumidamente,

É a ciência que estuda o homem e o meio huma-


Sociologia
no em suas múltiplas relações.

Dito de outra forma,

É o estudo das sociedades humanas e de todos aqueles pro-


cessos que interligam os indivíduos, podendo ser, nesse caso,
em pequenos grupos, comunidades, associações (as mais di-
versas), em instituições, nações, dentre outros agrupamentos.

Outras áreas do saber ou do conhecimento (ciência) também estudam o indiví-


duo e suas relações, mas o foco é outro. Por exemplo,

a psicologia estuda o homem, mas podemos falar de indivíduo, pois estuda o homem
isolado, isto é, sem suas relações com as instituições.

A Sociologia se diferencia, pois estuda especificamente os fenômenos que


acontecem quando vários indivíduos formam um “todo” organizado (grupos de dife-
rentes tamanho e/ou formas) e, ainda, possuem uma determinada forma de relação
(interação). Em última instância, pode-se dizer que o objeto da sociologia é o estudo
do homem na sociedade.

Alguns pesquisadores fazem uma diferenciação, ou seja, subdivisões da so-


ciologia conforme suas especificidades. Outros nem tanto, apenas apontam que há
uma sociologia geral, que é detentora de regras gerais, conceituações gerais a respei-

14
Sociologia da Educação Unidade 1

to das organizações sociais e algumas vertentes menores que se dedicam a alguma


especificidade do objeto (que é o homem na sociedade). Assim, conforme algumas
especificidades, teríamos sociologia da educação, da religião, do direito, da família,
comparada, descritiva, entre outras.

O que nos cabe é um objeto específico, ou seja, a sociologia da educação. As-


sim, pode-se perguntar novamente:

mas a educação, para a


sociologia, o que é?

A educação, num sentido mais específico, é a ação de alguns membros da sociedade


sobre outros de alguma forma, a ação das gerações mais velhas sobre as gerações
mais novas, a ação dos adultos sobre as crianças e adolescentes (E. Durkheim).

Apesar desse conceito geral, deve-se salientar que a educação nunca foi a mes-
ma durante todos os tempos. Conforme foram se modificando as configurações so-
ciais, também foi se configurando novas formas educativas. Assim, tem-se que a edu-
cação foi cristã (ou religiosa) na Idade Antiga e Medieval, na Renascença foi leiga e, no
momento contemporâneo de nossa existência, educação no sentido mais científico,
educação que exige o status de ciência – a pedagogia.

15
Unidade 1 Sociologia da Educação

Os precursores, os primeiros pensadores a se debaterem com o estudo das


relações humanas e a constituição das sociedades, foram, talvez, os helênicos (os
gregos). Essas primeiras ideias carregavam o peso da religiosidade das diferentes
populações, ou mais do que isso, estavam atreladas ao fato de se pensarem algumas
leis, regras (direito, legislação...) de convivência com a única finalidade de que a so-
ciedade pudesse ser uma organização harmônica.

Nesse sentido é que temos algumas propostas de Platão, no seu livro “Repúbli-
ca” e, ainda, Aristóteles, de modo especial, no livro intitulado “A Política”. Esse cenário
de interpretação, inclusive de fundamento religioso, ganhou força na Idade Medieval.
Apenas foi modificada a partir da Renascença, primeiramente nos questionamentos
de Campanella (A Cidade do Sol) e T. Morus (Utopia).

A partir desse momento, os problemas sociais tiveram uma tonalidade econô-


mica e eram pensadas por meio do uso da força, ou seja, relações de “mando” e, foi
desse aspecto que alguns trabalhos precursores, como os de Maquiavel (Itália em
Florença, 1469 - 1527) e Montesquieu (França em Bordéus, 1689 - 1755) trataram do
problema do homem na sociedade. Muitos outros autores se tornaram conhecidos
por trabalhos nessa área: T. Hobbes, Bacon, Descartes, Hume, Locke, Rousseau etc. Con-
tudo, aquilo que se considera estudo científico dos fatos humanos se constitui so-
mente em meados do século XIX. Nessa época, quer ser queira, quer não se queira,
assistia-se ao triunfo dos métodos das ciências naturais. Os pensadores de desta-
que nessa posteridade foram Augusto Comte (1798-1857), Karl Marx, Emile Durkheim,
Max Weber, Talcott Parsons e outros.

Isso, pode-se apontar, foi a comprovação da fecundidade do caminho metodo-


lógico da ciência apontado ainda por Galileu (Itália em Pisa, 1564 - 1642) e outros. Al-
guns desses pensadores que, inevitavelmente, procuravam conhecer cientificamen-
te os fatos humanos passaram a abordá-los, por sua vez, segundo as coordenadas
das ciências naturais. Outros, ao contrário, resistiram a essas tentativas e afirmavam
que o fato humano detinha certa especificidade e, por conseguinte, havia a conse-
quente necessidade de uma metodologia própria.

Metodologia das Ciências Humanas

Deveria levar em consideração, principalmente, o fato de que os fenômenos naturais, tanto no


sentido de serem externos aos homens, bem como os internos, são conhecimentos que não
exigem que o homem tenha consciência (eles existem por si só), tampouco o homem pode
modificá-los, mas, nas ciências sociais, o que se procura conhecer é algo que diz respeito a pró-
pria experiência humana, nesse sentido, algo que diz respeito aos aspectos que o homem cria,
modifica, significa, em suas relações com os demais e na sociedade (algo interno no sentido da
subjetividade humana).

16
Sociologia da Educação Unidade 1

As distinções sugeridas entre as ciências humanas e as ciências naturais são as


mais variadas. Mas podemos nos ater, conforme alguns sociólogos, somente a uma
em especial, isto é, a distinção entre experiência externa e experiência interna, que já
é o bastante para fazer uma diferenciação entre uma série de contrastes metodoló-
gicos para esses agrupamentos científicos. Sendo assim, as ciências exatas partiriam
da observação sensível e, concretamente, seriam experimentais. Nesse caso, é pos-
sível obter dados mensuráveis, regularidades estatísticas, enfim, tudo o que possa
conduzir à formulação de leis de caráter matemático.

diriam respeito à própria Com isso, atingiriam não as


experiência humana, seriam generalidades de caráter matemá-

Ciências introspectivas, esfera da tico, mas sim, e apenas, as descri-


Humanas subjetividade e, em termos ções qualitativas de tipos e formas
de pesquisa, utilizariam a fundamentais da vida do espírito,
intuição direta dos fatos. aspectos ideais.

possuem uma forma de pensar


originada na tradição do empirismo
(são teóricos que tem
inglês que, por sua vez, é um pensa-
inspiração nas ideias de
mento que tem origem em Francis
Augusto Comte e defendem
Bacon ( Inglaterra em Londres, 1561
Os chamados que tanto as ciências exatas
– 1626), depois, segue adiante, com
positivistas quanto as ciências humanas
David Hume ( Escócia em Edimbur-
possuem o mesmo princípio
go, 1711 – 1776 ), e, ainda, numa
fundamental que as torna
série de outros pensadores que
ciência e as identifica)
os seguiram, de modo especial, no
século XIX.

Nessa perspectiva de pensamento estão as abordagens, conforme já mencio-


nei, de figuras como Augusto Comte (França, 1798 – 1857 ) e Émile Durkheim ( Fran-
ça, 1858 – 1917 ).

é considerado, ainda hoje, como o fundador da sociologia moder-


Émile Durkheim na, ou seja, aquele que deu para a sociologia o status de disciplina
científica.

Mas a posição que via as ciências humanas como idênticas às ciências exa-
tas, ou como ciências que poderiam ter como fundamento os mesmos princípios,
não foi uma posição homogênea. Haviam muitos que eram antipositivistas, isto é,

17
Unidade 1 Sociologia da Educação

adeptos de uma distinção entre ciências humanas e ciências naturais. Alguns nomes
importantes de estudiosos que pensavam dessa forma são, sobretudo, os idealistas,
filósofos, como aqueles pertencentes a época do Romantismo, cito Hegel ( Alemanha
em Esturgarda, 1770 – 1831 ) e Schleiermacher ( Polônia em Breslau, 1768 – 1834).
Outros representantes dessas posições foram pensadores que tiveram inspiração
no filósofo alemão, Imanuel Kant (Alemão de Konigsberg, 1724 – 1804). São, portanto,
os chamados neokantianos: Wilhelm Dilthey (Alemanha em Briebrich, Renânia, 1833
– 1911), Wilhelm Windelband (Alemanha em Potsdam, 1848-1915) e Heinrich Rickert
(Alemanha em Danzig, 1863 – 1936).

O modo explicativo seria carac-


terístico das ciências naturais,
que procuram o relacionamento
procedeu a uma distinção
causal entre os fenômenos.
entre explicação (erklären)
Dilthey e compreensão (verstehen)
que teve grande êxito na área A compreensão seria o modo
sociológica. típico de proceder das ciências
humanas, que não estudam fatos
que possam ser explicados pro-
priamente, mas visam aos proces-
sos permanentemente vivos da
experiência humana e procuram
extrair deles seu sentido.

Os sentidos, por sua vez, na perspectiva de Dilthey, são dados na própria experiência do
investigador, ou de outra forma, mas dependem sempre da relação com a experiência, nunca
tem uma origem exata e precisa a partir do significado. Poderiam, ainda, ser empaticamente
apreendidos por outros em interação com o investigador, conforme a vivência de cada um.

Esses personagens como Dilthey, Windelband, Rickert e outros, contudo, foram


filósofos e historiadores. Nesse caso, não são, propriamente, cientistas sociais, no
sentido que a expressão ganharia no século XX. Outros levaram o método da com-
preensão ao estudo de fatos humanos particulares, constituindo diversas disciplinas
compreensivas. Na sociologia, essa tarefa estaria muito mais a cargo de um sociólo-
go chamado Max Weber.

Levando-se em conta os esforços realizados por tantos pensadores, desde a


Antiguidade, para entender a sociedade e o seu desenvolvimento, o homem e suas
relações, a Sociologia poderia ser considerada a mais velha de todas as ciências, a
que primeiro teve origem. Tanto que hoje em dia praticamente todo mundo é “soció-
logo” — “porque todos estamos sempre analisando os nossos comportamentos e as

18
Sociologia da Educação Unidade 1

nossas experiências interpessoais”1 —, pois, até por razões emocionais, de alguma


forma nos acostumamos a contemplar e a dar palpite sobre os movimentos da socie-
dade, as forças que conduzem os seres humanos, as razões dos conflitos sociais, as
origens da família, as relações entre Estado e Direito, o funcionamento dos sistemas
políticos, a função das ideologias e das religiões etc.

Segundo esse raciocínio, podem ter sido sociólogos das religiões alguns santos, que dedicaram
sua vida a pensar algumas relações entre as pessoas, por exemplo, Agostinho (354 – 430 ),
Tomás de Aquino (1225 – 1274) e padre Antônio Vieira (1608 - 1697), que interpretavam a
realidade social de acordo com os dogmas e interesses da Igreja Católica.

Santo Agostinho2, por exemplo, fala das relações entre os homens quando
pensa sobre o aspecto ontológico do mal. Ele diz que o mundo em que vivem os ho-
mens possui algo chamado de mal. Esse fenômeno conhecido tem por desconhecido
sua origem e ainda mais, está embutido de alguma forma nos homens que, por tal,
são criaturas de Deus que afirmam ter criado tudo.

Se criou, por que criou, se


Será, portanto, que afirmam ser um “ser” bom,
esse Deus criou o perfeito e tudo mais? Se não
mal também? criou de onde provém este
mal?

Talvez Agostinho tenha encontrado uma possível solução através de Plotino


em que o mal não é um ser, mas deficiência e privação de ser. No Livre-Arbítrio,
Agostinho afirma que Deus criou todas as coisas por meio do verbo e de sua pro-
cedência todas as coisas são boas, sendo que o pecado não pode fazer parte da
ordem providencial e por tal é preciso compreender aquilo em que cremos. Parece
então que chega a conclusão de que a fonte do mal está no abuso da liberdade, mas
a liberdade é, todavia, um bem. A discussão que se dá entre Agostinho e Evódio se
refere à questão se Deus é o autor do mal. Decorrente disso, é feito uma distinção
entre um mal que Deus poderia ser a causa, mas que na verdade é uma provação e
de um mal que se comete e não se sabe a origem, ou unicamente se sabe que cada
um que pratica uma má ação é autor de tal. Ele deixa claro também que o mal não
pode ser ensinado.

1  TURNER, 2000.

2  Para tratar de Santo Agostinho, tomou-se por base os apontamentos de REALE, G. História da Filosofia, Cap. XV:
p.455 e 456.

19
Unidade 1 Sociologia da Educação

Escreve Agostinho, mais ou menos dessa forma, segundo Miguel Reale:

se fosse uma subs-


, não é uma substância, porque
E o mal, cuja origem eu buscava
tível e, por isso, sem
ia, seria um bem . E, na verd ade, seria uma substância incorrup
tânc
isso, um bem que, de
ida um gran de bem ou seria uma substância corruptível e, por
dúv
nte como tu fizeste
ito à corrupção. Por isso, vi clarame
outra forma, não poderia estar suje
boas todas as coisas.

Agostinho faz esta afirmação ao olhar do ponto de vista metafísico, ontológico


e diz que o que existe são apenas graus inferiores de ser em relação a Deus e não
mal no cosmos. No cosmos os desajustes que poderiam parecer “o mal” fazem parte
do todo harmônico como um conjunto de “momentos articulados”. Pode ainda jul-
gar que a existência de seres nocivos é um “mal”, mas isto, diz Agostinho, é porque
estamos medindo com o metro da nossa utilidade e de nossa vantagem contingente,
pois cada coisa tem o seu sentido e razão de ser e desse modo é algo positivo.

Do ponto de vista moral, o mal é o pecado e depende da “má vontade”, que diz
Agostinho ter uma causa deficiente, a qual é uma tendência por haver diversos bens,
de a vontade preferir a criatura ao invés de Deus. A vontade se torna má porque se
volta contra a natureza, dirigindo-se daquele que é seu ser supremo para um ser
inferior, por que a liberdade é algo bom e o pecado está no homem, como Agostinho
deixa claro quando diz:

“O bem em mim é obra tua, é teu dom; o mal em mim é o meu pecado”.

Em relação ao mal físico, afirma ser o mal do pecado que corrompe a alma e
esta reflete no corpo, tornando assim a “carne corruptível”. O mal parece ser então
uma privação de ser ou privação de bem e cuja solução proposta para esse problema
é estética, para o mal físico e moral.

Sendo privação de ser o mal é algo não metafísico e só pode ter vindo ao mundo humano atra-
vés do pecado original e atual; para tal a humanidade foi punida, os homens foram punidos
com sofrimentos. Diz ainda, com a vinda de Cristo torna-se possível apenas a restituição do mal
moral, mas as consequências físicas do mal continuam.

20
Sociologia da Educação Unidade 1

O mal
da
al e depende-se
o su a gê ne se no pecado origin
tem en tã uma pred ti-
es
us pa ra a re de nção, como que
graça de De mais sorte que ou
tros.
o em qu e un s pela graça terão
naçã
afirmando que o
am en to cr ist ão ) interveio nisso
(o pens o que
Porém, a igreja sabe de antemão
de cis ão e qu e Deus apenas
homem é livre na
al.
acontecerá no fin
passa-
o de em algumas
fíc il pa ra Agostinho a pont e
mal foi mui to di mesmo modo qu
O problema do m o um a au sê ncia de bem, do
ao mal apenas co cilante.
gens se referirem o permaneceu va
lu z. Su a po siç ão nessa questã
sência de
as trevas são a au

Sua teoria serviu de sustentação por muito tempo, e até hoje pode-se dizer
que ainda é muito usada. No entanto, o problema do mal atual parece ter outras
dimensões da qual a teoria de Agostinho, como um todo, está um pouco inválida e
muito criticada. O mundo moderno está voltado para a ciência e fica difícil uma teoria
consistente sobre qualquer coisa quando se afirma que a verdade não é absoluta,
mas sim válida até que ninguém prove ao contrário ou válida apenas se for provada
cientificamente. Seria de tamanha dificuldade estabelecer uma solução para esse
problema.

Vive-se num mundo em que os conceitos estão um tanto em crise, segundo


a concepção pós-moderna, e, portanto, não há como fazer com que se afirme uma
verdade, mas apenas possibilidade de verdade, o que faz com que o homem conti-
nue inseguro e o problema esteja aí para ser manipulado. O homem científico fica,
se visto de maneira mais profunda, num padrão em que o mal passa a ser uma pos-
sibilidade de existir, na medida em que relativizamos a existência de Deus e também
não sabe-se com certeza o que é o mal. Isto fica como uma problematização para se
aprofundar mais a questão. Por ora, pode-se dizer que o mal é um problema cons-
tante que sempre afeta a mente das pessoas, ou de outra forma, se faz presente
nas relações sociais entre os homens. Contudo, aquilo que Agostinho não o resolveu
teve outras propostas de investigações, por outros pensadores e também em outras
áreas do saber.

Outros pensadores notáveis também trataram, de alguma forma, da sociolo-


gia, como lbn Khaldun, historiador islâmico (1332 – 1406 ). Falemos um pouco de Ibn
Kaldun:

21
Unidade 1 Sociologia da Educação

como o historia-
Ibn Khaldun é um precursor das ciências sociais e é reconhecido
árabe de então dominava
dor principal do mundo árabe em seu tempo. Mas, o mundo
É considerado como his-
também o Mediterrâneo, Espanha e metade de Europa do leste.
de Sevilha, embora
pânico-árabe, pois sua família foi uma das principais e mais antigas
e estadista, professor nas
tivesse nascido na Tunísia e morrido no Cairo. Era diplomata
idade e magistratura.
instituições precursoras do que hoje associamos a ideia de univers

trata do mundo
Sua obra mestra é “Muqaddimah” ou “introdução à história”, que
teoria da história e do
árabe e muçulmano. Entretanto, julgou necessário conformar uma
como Arnold Toynbee
seu método, e ao fazê-lo, produziu um tratado, que segundo alguns,
es sin duda lo más gran-
(Inglaterra, 1889 – 1975) , «desarrolla una filosofía de la historia que
do que um tratado da his-
dioso de su tipo jamás escrito, en cualquier tiempo o lugar». Mais
sobre o fenômeno social
tória ou da sua filosofia, é um exemplo de um enfoque analítico
é um tratado geral da
que hoje em dia nós chamamos Sociologia. O livro I de sua história
chamamos de Ciência
Sociologia; o II e o III são sobre a sociologia da política (o que hoje
ão e conhecimento.
Política); o IV é sobre economia política e o V versa sobre educaç

“asabiyah”, ou
Toda a obra está estruturada em torno de um conceito que chamou
que surge espontanea-
coesão social. Este é o elemento ordenador do fenômeno social
conformado e institucio-
mente das relações entre as pessoas e os grupos, que pode ser
do ou debilitado pela
nalizado pela cultura e a religião, mas que também pode ser destruí
decadência.

r a existência
Ibn Khaldun é um precursor das ciências sociais modernas ao anuncia
econômico, legal e moral.
de determinada ordem social subjacente ao fenômeno político,

que chamou “im al


“Em suas palavras, ao definir o que viu como a ciência nova
ia da sociedade”. (traduzi-
umran”, ou ciência da cultura, verificou que esta “ciência...própr
do do artigo original em espanhol).

1.2  “O Príncipe” – N. Maquiavel

Por sua vez, Maquiavel criticava toda interpretação teológica da sociedade.


Após uma época em que se vive praticamente em nome de Deus, dos homens, e
do lucro e isso seria a Idade Média, surge a Modernidade. Porém, sabe-se que não
existe um marco, ou corte abissal nessa mudança ou transformação, mas sim um
período de transição que se estende dos fins da Idade Média, com o surgimento de
novas ideias, provocadas por “n” fatores, até o começo da Modernidade em que de
fato se distingue ou fica claro que ocorreu essa mudança, seja de valores, costumes
ou outros ideais.

22
Sociologia da Educação Unidade 1

Vamos entender melhor este assunto e conhecer Maquiavel estudando o ma-


terial que já encontra-se em seu ambiente virtual de aprendizagem – AVA. Lembre-se
de estudar todo o conteúdo da unidade antes de realizar as atividades. Qualquer
dúvida, entre em contato com o seu tutor ou leve-a para discussão no fórum. Quem
sabe a sua dúvida não é a mesma dos seus colegas?

Bons estudos!

1.3  Considerações da Unidade I

É parte desta unidade a primeira teleaula. Lembre-se de assisti-la no seu am-


biente virtual de aprendizagem para complementar seus estudos. Com isso, você
aprofunda a compreensão das relações sociais e o primeiro contato com as discus-
sões gerais de Sociologia da Educação.

Na plataforma você também terá disponível uma atividade para análise, fórum
de dúvidas e links para que você se aprofunde nesses aspectos. Não se esqueça de
buscar essas novas informações, inclusive, antes de testar seu conhecimento.

Na próxima unidade você contemplará a perspectiva sociológica chamada de


positiva funcionalista e também a perspectiva da sociologia compreensiva.

Bom trabalho!

23
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
2

Unidade II
2

Linha explicativa positiva funcionalidade e a


Sociologia Compreensiva

Objetivos da Unidade:

• Evidenciar as especificidades da explicação positivista-funcionalista


e da chamada sociologia compreensiva;

• Elucidar as grandes vertentes dessas formas de pensar.

Competências e Habilidades da Unidade:

• Percepção da concepção positivista e suas aplicações contemporâ-


neas, definindo com clareza as características principais do positi-
vismo-funcionalista e sua afinidade com a interpretação das rela-
ções sociais.

2.1  A vez de Augusto Comte

O núcleo da filosofia de Comte radica na ideia de que a sociedade só pode ser


convenientemente reorganizada por meio de uma completa reforma intelectual do
homem. Ele achava que antes da ação prática, seria necessário fornecer aos homens
novos hábitos de pensar de acordo com o estado das ciências de seu tempo. Por
essa razão, o sistema comteano estruturou-se em torno de três temas básicos :


uma filosofia da história com o objetivo de mos- uma fundamentação e classifi-
trar as razões pelas quais uma certa maneira de cação das ciências baseadas na
pensar (chamada por ele filosofia positiva ou pen- 2º filosofia positiva.
samento positivo) deve imperar entre os homens.

uma sociologia que, determinando a estrutura


3º e os processos de modificação da sociedade
permitisse a reforma prática das instituições.

25
A Unidade
Braz Cubas
2 Sociologia da Educação

A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método científi-
co como base para a organização política da sociedade industrial moderna.

O estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano. O termo po-


sitivo designa o real em oposição ao quimérico, a certeza em oposição à indecisão,
o preciso em oposição ao vago. É o que se opõe às formas teológicas ou metafísicas
de explicação do mundo.

Ex: a explicação da queda de um objeto ou corpo: o primitivo explicaria a queda como uma
ação dos deuses; o metafísico Aristóteles explicaria a queda pela essência dos corpos pesados,
cuja natureza os faz tender para baixo, onde seria seu lugar natural; Galileu, espírito positivo,
não indagaria o porquê, não procuraria as causas primeiras e últimas, mas se contentaria em
descrever como o fenômeno da queda ocorre, lei da gravidade.

Não era apenas quanto ao método de investigação que a filosofia positivista


se aproximava das ciências da natureza. A própria sociedade foi concebida como um
organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonica-
mente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso, o positivismo foi chamado
também de organicismo.

Para o positivismo, a realidade é formada por partes isoladas, de fatos atômicos; a explicação
dos fenômenos se dá através da relação entre eles; não se interessa pelas causas, mas pelas
relações entre os fenômenos; rejeição ao conhecimento metafísico; há somente um método
para a investigação dos dados naturais e sociais. Tanto um quanto outro são regidos por leis
invariáveis.

s estados
Em sua lei dos trê
senvolvi-
ou estágios do de teoriza que o desenv
ctu al, olvimento
mento intele
intelectual humano hav
ia passado
historicamente prime
iro por um
Comte estágio teológico, em
que o mundo e
a humanidade foram
explicados nos
termos dos deuses e
dos espíritos;
tentou também uma clas
sificação das ciências;
baseada na hipótese que
as ciências tinham se
afísico
desenvolvido a partir da um estágio met
compreensão de princípi
os depois através de es esta-
simples e abstratos, para e as explana çõ
daí chegarem à compreen- transitório, em qu de ca usas
são de fenômenos complex das essências ,
os e concretos. Assim, as vam nos termos e fin al-
ciências haviam se desenv s abstraçõe s;
olvido a partir da matem
á- finais, e de outra od er no.
tica, da astronomia, da físic tágio positivo m
a e da química para atingir mente para o es po r um a
o campo mais complexo gio se distingu ia
da biologia e finalmente Este último está
da co nh ec i-
sociologia. limitações do
consciência das
m en to humano.

26
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
2

De acordo com Comte, esta última disciplina, a Sociologia, não somente fechava
a série, mas também reduziria os fatos sociais à leis científicas, e sintetizaria todo o
conhecimento humano, como ápice de toda a ciência. Embora não fosse dele o con-
ceito de sociologia ou da sua área de estudo, Comte ampliou seu campo e sistema-
tizou seu conteúdo. Dividiu a Sociologia em dois campos principais: Estática Social,
ou o estudo das forças que mantêm unida a sociedade; e Dinâmica Social, ou o
estudo das causas das mudanças sociais.

estudo da estática social

deve ser iniciado com o entendimento do Consenso Social, que é a interdependência social ou
interpenetração dos fenômenos sociais. Segundo Comte, os fenômenos sociais só podem ser
estudados em conjunto porque eles são fundamentalmente conexos. E é pelo consenso social
que pode existir a harmonia social.

A sociedade é composta de unidades chamadas de células so-


ciais. Essas células são famílias e não indivíduos. A família, por-
tanto, é a verdadeira unidade social por ser a associação mais
espontânea que existe. Ela é a fonte espontânea da educaçã
o
moral e constitui a base natural da organização política.

A sociedade deve ser organizada com base no “organismo do-


méstico”, que tem como características principais a subordina-
ção, de modo especial, a subordinação espontânea da mulher
ao homem e dos filhos aos pais. A união da família que é pos-
sível graças a união de seus membros. A cooperação, de onde
resulta a sociabilidade no meio familiar. E, por fim, o altruísm
o,
isto é, o sentimento familiar que, por sua vez, desenvolve o pra-
zer de fazer pelo outro e para o outro.

De uma outra forma, toda sociedade deve possuir uma ordem, proveniente
dos instintos sociais do indivíduo e que se manifesta através da família. Essa ordem
exige para a sua sobrevivência uma autoridade. Na família essa autoridade é o ma-
rido e na sociedade é o governo. Não há sociedade sem governo, nem governo sem
sociedade. Por tal, o governo deve manter uma intervenção “universal e contínua” na
sociedade, de forma material, intelectual e moral, para evitar que o progresso a invia-
bilize. Segundo Comte, o progresso enfraquece a união e a cooperação, fragilizando
a ordem. Essa é a intervenção do “conjunto sobre as partes”.

As forças sociais que determinam as estruturas sociais são: a material, a in-


telectual e a moral. Disso, tem-se que a organização social baseia-se na divisão do
trabalho social e na combinação de esforços. E, uma vez percebidos esses aspectos,
tem-se que todo estado social é uma consequência do passado e uma preparação

27
A Unidade
Braz Cubas
2 Sociologia da Educação

para o futuro. Não há espaço para quaisquer vontades superiores. As leis que regem
o estado social são leis análogas às leis biológicas. E exatamente por essa analogia
conclui-se que a humanidade caminha para a completa autonomia, o que ocorrerá
quando for ultrapassada a sua etapa metafísica.

Mas nada é eterno! A evolução da sociedade, da mesma forma que no indiví-


duo, leva-a para o inevitável caminho da decadência final.

a humanidade assumiu a fase teológica ou fictícia, que foi uma fase provisó-
No início
ria, mas o ponto de partida necessário para todo o processo cultural.

é a metafísica ou abstrata, que é transitória, na qual os agentes sobrenatu-


A segunda fase
rais são substituídos por forças abstratas, entendidas como seres do mundo.

é a positiva, científica ou real, que é a fase definitiva da humanidade, quando


A terceira fase
o homem descobre a impossibilidade de obter conhecimentos absolutos e
desiste de indagar sobre a origem e a finalidade do universo, assim como
sobre as causas íntimas dos fenômenos. O homem passa a se preocupar
apenas em descobrir as leis efetivas que estabelecem as relações invariáveis
de sucessão e semelhança. Estudam-se as leis e abandonam-se a pesquisa
das causas.

O problema fundamental do estado positivo é a conciliação da ordem com o


progresso, que é a condição necessária ao aparecimento do verdadeiro sistema po-
lítico. Toda ordem estabelecida deverá ser compatível com o progresso, assim como
todo progresso, para ser realizado, deverá permitir a consolidação da ordem.

De outra forma, o Estado Positivo significa o fracasso da Teologia e da Metafísi-


ca. Em seguida vem o domínio do Positivismo e da Sociologia, fazendo surgir a “Reli-
gião da Humanidade”, com o predomínio do altruísmo e da harmonia social.

2.2  A vez de Émile Durkheim

Durkheim viveu numa época de grandes conflitos sociais entre a classe dos em-
presários e a classe dos trabalhadores. É também uma época em que surgem novos
problemas sociais, como: favelas, suicídios, poluição, desemprego etc. No entanto, o
crescente desenvolvimento da indústria e tecnologia fez com que Durkheim tivesse
uma visão otimista sobre o futuro ciclo do capitalismo. Ele pensava que todo o pro-
gresso desencadeado pelo capitalismo traria um aumento generalizado da divisão

28
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
2

do trabalho social e, por consequência, da solidariedade orgânica, a ponto de fazer


com que a sociedade chegasse a um estágio sem conflitos e problemas sociais.

Com isso, Durkheim admitia que o capitalismo é a sociedade perfeita; trata-se ape-
nas de conhecer os seus problemas e de buscar uma solução científica para eles. Em
outras palavras, a sociedade é boa, sendo necessário, apenas, “curar as suas doenças”.

Tal forma de pensar o progresso de um jeito positivo fez com que Durkheim
concluísse que os problemas sociais entre empresários e trabalhadores não se resol-
veriam dentro de uma luta política, e, sim, através da ciência, ou melhor, da sociolo-
gia. Esta seria, então, a tarefa da sociologia:

compreender o funcionamento da sociedade capitalista de modo objetivo para observar,


compreender e classificar as leis sociais. Descobrir as que são falhas e corrigi-las, substituí-las
por outras mais eficientes.

A estrutura da sociedade, por seu turno, é formada pelas esferas política, eco-
nômica e ideológica. Essas esferas formam a estrutura social responsável pela con-
solidação do Capitalismo. Ao refletir sobre a sociedade, Durkheim começou a elabo-
rar algumas questões que orientaram seu trabalho, por exemplo:

a) O que faz uma sociedade ser sociedade?

b) Qual é a relação entre o indivíduo e a sociedade?

c) Como os indivíduos transformam o social?

d) O social é a superação do individual?

e) Em que momento os indivíduos constituem uma sociedade?

Outra preocupação de Durkheim, assim como outros pensadores, era a forma-


ção de uma ciência social desvinculada das ciências naturais. Além disso, na emer-
gência do proletariado era preciso encontrar formas de controle, de tal forma que o
indivíduo se integrasse à ordem. Esse princípio será aplicado na educação.

A contribuição de Durkheim foi de importância fundamental para que a Sociolo-


gia adquirisse o status de ciência, pois ele estuda a sociedade e separa os fenômenos
sociais da Psicologia, construindo um objeto e um método. Na obra “As regras do Mé-
todo Sociológico”, publicada em 1895, definiu o método a ser usado pela Sociologia
e as definições e parâmetros para a Sociologia tornar-se uma ciência, separada da
Psicologia e Filosofia. Ele formulou o tipo de acontecimentos sobre os quais o soció-
logo deveria se debruçar: os fatos sociais. Esses constituiriam o objeto da Sociologia.

29
A Unidade
Braz Cubas
2 Sociologia da Educação

Nesse aspecto, a primeira regra do método é, sem dúvida, tratar o FATO SO-
CIAL como COISA.

im
e Durkhe
Para Émil
fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir, exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder coer-
citivo e compartilhadas coletivamente. Variam de cultura para cultura e tem como base a moral social,
estabelecendo um conjunto de regras e determinando o que é certo ou errado, permitido ou proibido.
Não podem ser confundidos com os fenômenos orgânicos nem com os psíquicos, constituem uma
espécie nova de fatos.

As principais características, segundo Durkheim, dos Fatos Sociais são: a) é ge-


ral, se repete em todos os indivíduos e tem natureza coletiva; b) é exterior e indepen-
de da vontade ou adesão consciente do indivíduo. Ex.: leis; c) é coercitivo,3 ou seja, se
impõe sobre o indivíduo.

s
Fatos sociai

deveriam ser encarados como coisas, isto é, objetos que lhe sendo exteriores poderiam ser medidos,
observados e comparados independentemente do que os indivíduos pensassem ou declarassem a seu
respeito. Para se apoderar dos fatos sociais, o cientista deve identificar dentre os acontecimentos gerais e
repetitivos aqueles que apresentam características exteriores comuns.

é considerado como uma coisa, em última instância, para afastar os pré-conceitos, as pré-noções e o indivi-
dualismo, ou seja, seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser estudado.

é, ainda, reconhecido, pelo poder de coerção que exerce ou que pode exercer sobre os indivíduos, identifi-
cado pelas sanções ou resistências a alguma atitude individual contrária, e quando é exterior a ele. Ex.: se
um aluno chega ao colégio de roupa de praia, ele estará em desacordo com a regra e sofrerá sanção por
isso, seja voltar para casa ou uma advertência por escrito.

O social é o “entre nós”. Onde se dá a interação, a troca. As transformações que


se produzem no meio social, sejam quais forem as causas, repercutem em todas as
direções do organismo social e não podem deixar de afetar mais ou menos todas as
suas funções.

Durkheim não aceita a ideia que diz ser o social formado de processos psíqui-
cos. Durkheim afirma que o social não pertence a nenhum indivíduo, mas ao grupo
que sofre pressões e sansões sendo obrigado a aceitá-lo. Partindo do princípio de
que o objetivo máximo da vida social é promover a harmonia da sociedade consigo
mesma e com as demais sociedades, e que essa harmonia é conseguida através do
consenso social, a “saúde” do organismo social se confunde com a generalidade dos

3 Coerção: repressão, restrição de direitos, que limita a liberdade de agir individual. Ex.: a
regra da escola é usar uniforme composto de blusa com logotipo do colégio, calça jeans azul
e tênis.

30
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
2

acontecimentos e com a função desses na preservação da harmonia, desse acordo


coletivo que se expressa sob a forma de sanções sociais.

Quando um fato põe em risco a harmonia, o acordo, o consenso e, portanto,


a adaptação e evolução da sociedade, estamos diante de um acontecimento de ca-
ráter mórbido e de uma sociedade doente. Portanto, normal é aquele fato que não
extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade
e, que reflete os valores e as condutas aceitas pela maior parte da população. Pato-
lógico é aquele que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social e pela
moral vigente.

Em As regras do método sociológico, escrito em 1894, outra coisa que Durkheim


coloca é que:

1º) Devemos afastar sistematicamente todas as ideias pré-concebidas ou pré-noções ao se


estudar um fato social:

Ideia é a representação mental de alguém ou coisa concreta ou abstrata.

Pré-conceber significa antecipar uma ideia, sem saber ao certo o que é. Ex.: naquela escola,
dizem que o ensino é fraco; escola pública é sinônimo de má qualidade no ensino; todo
político é corrupto, acho que Roberto gosta de vinho suave.

2º) Os fatos sociais devem ser explorados de acordo com os seus aspectos gerais e co-
muns, evitando suas manifestações individuais. Ex.: Aspectos gerais da dengue: A dengue
é uma doença febril aguda, causada por vírus, de evolução benigna, na forma clássica, e,
grave, quando se apresenta na forma hemorrágica. A manifestação individual da dengue
varia de pessoa para pessoa. Uma pessoa pode ter dengue hemorrágica enquanto outra
pode ter dengue simples.

3º) Para explicar um fenômeno social devemos separar dois estudos: o da sua causa e o da
sua função. Ex.: qual a função do professor na escola? Qual é a causa do desinteresse do
aluno pelo conteúdo oferecido na escola?

4º) A pesquisa da causa que determina o fato social deve ser feita entre os fatos sociais
anteriores e nunca entre os estados de consciência individual. Ex.: em dada comunidade, há
histórico de violência doméstica. Os relatos, anteriores e atuais, determinaram ser a violência
doméstica um fato social naquela comunidade e não somente um caso isolado ou individual.

5º) Devemos buscar a origem primeira de todo processo social de alguma importância na cons-
tituição do meio social interno.

31
A Unidade
Braz Cubas
2 Sociologia da Educação

interno
Meio social

é a família, grupo da escola, o ambiente em que a pessoa se desen-


volve. A interação entre a pessoa e o meio ambiente representa a
dinâmica da vida. É um processo de ação e reação a estímulos po-
sitivos ou não e que serão responsáveis pelo despertar ou bloqueio
das potencialidades da pessoa.

é qualquer mudança ou interação social em que é possível destacar uma qualidade ou


cial
Processo so direção contínua ou constante. Produz aproximação (cooperação, acomodação, assi-
milação) ou afastamento (competição, conflito).

Em seu livro “Da divisão do trabalho social” de 1893, Durkheim reconhecia a


existência de duas consciências. Segundo ele:

(...) em cada uma de nossas consciências há duas consciências:


uma, que é conhecida por todo o nosso grupo e que, por isso,
não se confunde com a nossa, mas sim com a sociedade que
vive e atua em nós; a outra, que reflete somente o que temos
de pessoal e de distinto, e que faz de nós um indivíduo. Há aqui
duas forças contrárias, uma centrípeta e outra centrífuga, que
não podem crescer ao mesmo tempo.

Para Durkheim, o social é modelado pela Consciência Coletiva4, que é uma rea-
lidade social resultante do contato social. Essa consciência difere da consciência in-
dividual5, pertencendo a todos enquanto integrados e a nenhum em particular. Os
fenômenos sociais refletem a estrutura do grupo social que os produz (ideia da So-
ciologia Moderna).

Se a sociedade é o corpo, o Estado é o seu cérebro e por isso tem a função de


organizar essa sociedade, reelaborando aspectos da consciência coletiva. Vemos que
a sociedade capitalista está cheia de problemas. Nesse sentido, Durkheim admitia
que o Estado é uma instituição que tem o dever de elaborar leis que corrijam os ca-
sos patológicos dessa sociedade.

4 Consciência coletiva: conjunto das maneiras de agir, pensar e agir, característica de


determinado grupo ou sociedade. Impõe-se à consciência individual. É a forma moral vigente
na sociedade. Ela aparece como regras estabelecidas que delimitam o valor atribuído aos
atos individuais. Ela define o que, numa sociedade, é considerado ‘imoral’, ‘reprovável’ ou
‘criminoso’. A punição é o meio de voltar a consciência coletiva.

5 Consciência individual: traços de caráter ou temperamento e acúmulo de experiências pessoais


que permite relativa autonomia no uso e adaptação das maneiras de agir, pensar e sentir.

32
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
2

Em resumo: Se cabe a Sociologia observar, entender e classificar os casos pato-


lógicos, procurando criar uma nova moral social, cabe ao Estado colocar em prática
os princípios dessa nova moral.

Neste contexto, a Sociologia e o Estado complementam-se na organização da


sociedade para, na prática, evitarem os problemas sociais. Isso levou Durkheim a
acreditar que os sociólogos devessem ter uma participação direta dentro do Estado.

Por outro lado, basta uma rápida observação do contexto histórico do século
XIX para se perceber que as instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia
muito questionamento, valores tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita
gente vivendo em condições miseráveis, desempregadas, doentes e marginalizadas.
Ora, numa sociedade integrada essa gente não podia ser ignorada, de uma forma ou
de outra toda a sociedade estava ou iria sofrer as consequências.

Durkheim acreditava
que a sociedade, fun
através de leis e reg cionando
ras já determinadas,
que os problemas soc far ia com
iais não tivessem sua
na economia (forma ori gem
pela qual as pessoas
mas sim numa crise mo tra bal ham ),
ral, isto é, num estado
que várias regras de con soc ial em
duta não estão funcionan
exemplo: se a crimina do. Por
lidade aumenta a cad
que as leis que regula a dia é por-
mentam o combate ao
falhas e mal formulad crim e são
as. A esse estado de
em que as leis não fun cris e soc ial
cionam, Durkheim den
patologia social. Por om ina de
outro lado, os proble
podem ter sua origem mas sociais
também na ausência
o que por sua vez se de regras,
caracterizaria como ano
mia.

Frente a patologia social (regras sociais falhas), cabe à Sociologia captar suas
causas, procurando evitar a anomia (crise total), através da criação de uma nova
moral social que supere a velha moral deficiente. Na tentativa de “curar” a socieda-
de da anomia, Durkheim escreve em seu livro “Da divisão do trabalho social”, sobre
a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros da
sociedade. A solução estaria em cada membro da sociedade exercer uma função na
divisão do trabalho, como o que acontece no organismo biológico, em que cada ór-
gão tem uma função e depende dos outros para sobreviver.

Cada indivíduo ou cidadão será obrigado a seguir um sistema de direitos e deve-


res e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. O im-
portante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmen-
te precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica.

33
A Unidade
Braz Cubas
2 Sociologia da Educação

Durkheim através do estudo da solidariedade – apoiando-se em Heráclito


(Grécia em Éfeso na Jônia, 540 a.C. - 470 a.C.) e Aristóteles ( Grécia em Estagira, 384–
322 a.C.) – vai dizer que há sempre um processo em direção ao consenso- em que
não há conflito. Durkheim se preocupa com a função do direito e como é trabalhado o
consenso e a solidariedade. Quando a consciência coletiva é abalada, a punição deve
ser aplicada. O indivíduo deve seguir a consciência coletiva, as regras.

Nas sociedades simples, os indivíduos são a extensão do coletivo, da coletivi-


dade. A consciência individual se dilui, se perde na coletividade. E isso se dá natural-
mente. Nas sociedades complexas, o consenso se dá através do contrato, e tem a ver
com a especialização. A solidariedade, nesse caso, neutraliza uma possível barbárie
na civilização.

O meio natural e necessário a essa sociedade é o meio natal, onde o lugar de


cada um é estabelecido pela consanguinidade e a estrutura dessa sociedade é sim-
ples. O indivíduo, nessa sociedade, é socializado porque, não tendo individualidade
própria, se confunde com seus semelhantes no seio de um mesmo tipo coletivo.

mecânica orgânica
Solidariedade Solidariedade

o direito é repressivo (Penal). Crime é tudo aquilo


é a solidariedade por dessemelhança. É típica das
que diz respeito a consciência coletiva, ao consen-
sociedades capitalistas, pois prevê grande interde-
so. O crime é o rompimento de uma solidariedade
pendência entre os indivíduos, como resultado da ace-
social. Todo ato criminoso é criminoso porque fere
lerada divisão do trabalho. Essa interdependência é o
a consciência comum, que determina as formas
principal elo de união social, ao invés das tradições,
de solidariedade necessárias ao grupo social. Não
dos costumes e dos laços sociais mais estreitos tendên-
reprovamos uma coisa porque é crime, mas sim é
cia a uma maior autonomia individual, pela especiali-
crime porque a reprovamos. A solidariedade social
zação de atividades. Ainda, há, ao fim de tudo, uma
representada pelo Direito Penal é a mais elemen-
influência menor da consciência coletiva.
tar, espontânea e forte.

É fruto das diferenças sociais, já que são essas diferenças que unem os indiví-
duos pela necessidade de troca de serviços e pela sua interdependência. Os mem-
bros da sociedade onde predomina a Solidariedade Orgânica estão unidos em virtu-
de da divisão do trabalho social. O meio natural necessário a essa sociedade é o meio
profissional, onde o lugar de cada um é estabelecido pela função que desempenha.
A estrutura dessa sociedade é complexa. O indivíduo nessa sociedade é socializado
porque, embora tenha sua individualidade profissional, depende dos demais e, por
conseguinte, da sociedade resultante dessa união.

34
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
2

Na solidariedade orgânica o direito é restitutivo, cooperativo. O Direito Restitutivo coopera-


tivo é preventivo. Evita, previne a repressão, a dor. O contrato é uma forma de prevenir que a
transgressão seja muito grande. Quanto mais civilizada for uma sociedade, maior o número de
contratos dele, que servirá para prevenir desobediências. Os costumes são a fonte do direito,
mas tudo aquilo que é mais importante para a consciência coletiva torna-se direito, regra.

Podemos tornar estes conceitos mais fáceis de serem entendidos a partir de


um exemplo: imaginemos um professor que necessite formar grupos para desen-
volver o tema da aula. O professor pode querer a formação dos grupos a partir de
dois critérios: ele pode pedir nos alunos que formem grupos livremente, a partir da
amizade existente entre eles. Uma segunda opção é pedir aos alunos para formarem
grupos de forma que em cada um dos grupos fique uma pessoa que saiba datilogra-
fia, uma outra que saiba desenhar, outra que tenha experiência de redação, e, por
fim, uma que domine bem o conteúdo das aulas, que seja o coordenador do grupo.

No primeiro caso, o que uniu os alunos no grupo foi um sentimento, a amizade,


de onde teríamos a solidariedade mecânica. No segundo caso, o que uniu os alunos
em grupo foi a dependência que cada um tinha da atividade do outro: a união foi
dada pela especialização das funções, de onde teríamos a solidariedade orgânica.

Durkheim admite que a solidariedade orgânica é superior à mecânica, pois ao


se especializarem as funções, a individualidade de certo modo é ressaltada, permitin-
do maior liberdade de ação. No grupo formado por amigos pode acontecer que um
elemento discorde muito das opiniões de outro; esse fato pode trazer um conflito
que põe em risco a existência do grupo. Nesse caso, os elementos devem agir de
acordo com as ideias comuns do grupo, e não a partir das suas próprias ideias. Já no
grupo onde a união dá-se pela atividade especializada, a individualidade é ressalta-
da, pois dentro da sua atividade cada um age como bem entende, e aí a divergência
de opiniões não põe em causa a existência do grupo.

2.3  A vez de Max Weber

Max Weber nasceu e teve sua formação intelectual no período em que as primei-
ras disputas sobre a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa,
sobretudo em seu país, a Alemanha. Filho de uma família da alta classe média, Weber
encontrou em sua casa uma atmosfera intelectualmente estimulante. Seu pai era um
conhecido advogado e desde cedo orientou-o no sentido das humanidades. Weber
recebeu excelente educação secundária em línguas, história e literatura clássica.

35
A Unidade
Braz Cubas
2 Sociologia da Educação

Para estudar Max Weber vamos para o AVA. Lá estão os materiais que apresen-
tam Weber e a sociologia weberiana. Não deixe de estudar todos os materiais antes
de realizar suas atividades e avaliações.

Bons estudos!

2.4  Considerações da Unidade II

É parte desta unidade a segunda teleaula. Lembre-se de assisti-la no seu am-


biente virtual de aprendizagem para complementar seus estudos. Com isso, você
aprofunda a compreensão teórica dos autores A. Comte, E. Durkheim e M. Weber. Ain-
da, terá contato com as discussões desses autores que podem ser proveitosas no
campo da educação.

Na plataforma você também terá disponível uma atividade para análise, fórum
de dúvidas e links para que você se aprofunde nesses aspectos. Não se esqueça de
buscar essas novas informações, inclusive, antes de testar seu conhecimento.

Na próxima unidade você contemplará a perspectiva sociológica chamada de


dialética, especialmente calcada na compreensão do pensamento marxista.

Bom trabalho!

36
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
3

Unidade III
3

A Sociologia dialética de Karl Marx e implicações


em Rousseau

Objetivos da Unidade:

• Mostrar as mudanças da concepção de estruturação e funciona-


mento das relações sociais a partir de uma nova visão sociológica,
isto é, a visão dialética.

Competências e Habilidades da Unidade:

• Percepção das mudanças nas relações sociais ao longo da história


e o claro entendimento das características principais da concepção
dialética.

3.1  Um histórico de vida a ser considerado

Nasceu em Trier (1818-83), na


Karl Marx região do Reno, na Alemanha,
de Família de origem

Estudou direito na Universidade de Bonn e Dou-


torou-se (1841) em Filosofia na Universidade de
Berlim, com uma tese sobre a diferença entre as
Filosofias da Natureza de Demócrito e de Epicuro,
filósofos da Antiguidade

Depois de ter entrado em contato com os


Quando se encontrava em Berlim, entrou em
discípulos de Hegel, tomou conhecimento dos
contato com os discípulos de Hegel, que eram
socialistas utópicos franceses como Proudhon e
conhecidos como “jovens hegelianos”, ou “hege-
Fourier e, em 1844 foi para Paris, onde conheceu
lianos de esquerda”.
Friedrich Engels.

Tornou-se amigo de Marx e colaborador de toda a vida, e leu


Friedrich Engels
a obra do socialista Saint-Simon.

37
A Unidade
Braz Cubas
3 Sociologia da Educação

Após ter se envolvido em problemas políticos teve de se transferir de Paris


para Bruxelas. Em 1847 fundou com Engels o Partido, ou Liga Comunista, cujo pro-
grama publicou em 1848 o “Manifesto do Partido Comunista”. Perseguido, exilou-se
em Londres, onde viveu o resto de sua vida escrevendo na Biblioteca do Museu Bri-
tânico, tendo em 1864 participado da organização Internacional dos Trabalhadores.

Marx não foi estritamente um filósofo, embora tenha uma obra filosófica im-
portante. Sua filosofia, bem como suas ideias revolucionárias, foram forças teóricas
e políticas fundamentais do séc. XX.

MARX

99 Foi historiador, cientista político, sociólogo, economista, jornalista, ativista político e


revolucionário, além de filósofo.

99 Via suas obras superando os limites estritos e os rumos tradicionais da filosofia teóri-
ca moderna.

Suas obras cobrem todos esses campos ditos acima.

Em economia, seus trabalhos mais


Em história
influentes foram:
destaca-se:

“Manuscritos econômico-filosóficos” de 1844, a “Crítica


“18 Brumário de Luís
da economia política” (1859) e “O Capital” (1876), uma das
Bonaparte”
obras mais célebres e influentes do período moderno.

Como jornalista, escreveu em diversos periódicos e revistas

socialistas e revolucionárias durante toda a sua vida.

“A sagrada família” (1845), em que critica os hegelianos e


Em filosofia suas
sua filosofia especulativa; “A ideologia alemã” (1845-46), e “A
obras principais
miséria da filosofia” (1847), em que ataca o socialismo utópico
foram:
de Proudhon.

Embora Marx considere a filosofia teórica da tradição como uma simples for-
ma de idealismo, desvinculada da realidade social concreta e, nesse sentido, inútil,
como diz a famosa “XI tese sobre Feuerbach”: “Os filósofos se limitam a interpretar o
mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo”, podemos situar seu
próprio pensamento como parte da tradição moderna da filosofia crítica.

38
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
3

Mais do que uma doutrina econômica, o Marxismo é uma concepção do ho-


mem e do mundo de caráter materialista que coloca o fator econômico, a produção
ou o trabalho como condicionante do comportamento humano. Sua filosofia pode
ser vista como uma crítica a Kant, mas em bases materialistas, através da teoria das
alienações religiosas, econômicas, social e política.

A alienação religiosa é uma das mais importantes premissas das demais críticas. Consistiria
no homem colocar em Deus o que lhe pertence, conformando-se com a exploração de que é
objeto.

A alienação econômica consistiria no fato do trabalhador não receber tudo o que produziu
com o seu trabalho, que ficaria com o capitalista (teoria da mais valia, desenvolvida em “O Ca-
pital”). Parte do princípio de que o valor dos bens é determinado pela “quantidade de trabalho
socialmente necessário para produzi-lo”. Assim, todo valor derivaria do trabalho e não do valor
de mercado, cujo valor determinante seria a escassez.

Já a alienação social e política consistiriam na submissão da classe operária pelo Estado


burguês. Para combatê-la, Marx desenvolve o seguinte:

Materialismo histórico

Materialismo dialético
É a teoria segundo a qual o homem teria surgido dos mamí-
feros superiores e se distinguiria dos animais pelo trabalho.
O homem se criaria a si mesmo criando coisas. O homem É a teoria segundo a qual o motor
seria apenas o conjunto das relações socioeconômicas. Com da história seria a luta de classes.
o trabalho teria começado a história. Assim, seria a infraes- Todo momento histórico geraria
trutura econômica que determinaria a superestrutura ideo- contradições em seu seio, que
lógica (religião, moral, direito, arte etc.): “Não é a consciência provocariam a mudança social.
dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, o
seu ser social que determina a sua consciência” (LUKACS).

A filosofia marxista caracteriza-se pelo materialismo e coloca no trabalho o fun-


damento ontológico e também motivo de alienação. O trabalho passa a ser entendi-
do como mediação material interposta entre os indivíduos, entre suas relações, de
modo que passa a ter um ponto positivo que é a objetivação do próprio homem, mas
também um ponto negativo em que poderia gerar a alienação. Por não distinguir
objetivação de alienação, Hegel não pode apontar como o trabalho prejudicaria a so-
ciedade. Ao constatar a alienação pelo trabalho, Marx coloca a emancipação humana
na esfera ou a partir dos meios de produção.

39
A Unidade
Braz Cubas
3 Sociologia da Educação

Marx

Desenvolve a sua filosofia partindo dos princípios filosóficos de Hegel e também de Feuerbach,
por isso a grande influência de Hegel nos seus primeiros escritos.

A base da ontologia marxiana é a economia ou o trabalho e, portanto, não se pode dizer com isso
que a ideia de mundo que Marx formulou seja fundada sobre o economicismo.

A parte da filosofia que levou Marx a se apegar ao material é a economia ou o trabalho para
também poder fazer frente ao que criticava em Hegel, pois segundo Marx, Hegel possuía uma
concepção de história muito abstrata, colocava uma materialidade inexistente vendo nas obras
do homem apenas a objetivação (entendida como reconhecimento nas obras) e esquecendo-se
da alienação, que é quando o homem não se reconhece nas obras.

A concepção que Marx elaborou sobre Feuerbach tem um duplo sentido, que é
o seguinte: o reconhecimento de sua virada ontológica como o único ato filosófico do
período de Marx; e ao mesmo tempo, a constatação de seus limites, ou seja, do fato
de que o materialismo alemão Feuerbachiano ignora completamente o problema da
ontologia do ser social. Critica Feuerbach porque este era materialista e esquecia-se
da história e, quando considerava a história deixava de lado o materialismo. Os es-
critos remetiam muito à natureza e pouco à política.

Segundo Marx, há uma só ciência, “a ciência da história”, que inclui a natureza


e o mundo dos homens. Por isso, não se pode considerar o ser social independente
do ser da natureza. Ambos possuem uma ligação. No aspecto da religião, Marx não
se contentou com a relação abstrata entre o homem e Deus. Aqui está um dos moti-
vos pelo qual o marxismo é tido como ateísta, ou seja, porque tudo o que existe está
na natureza e se Deus não está na natureza, não existe. Ao menos se levarmos sua
teoria às últimas consequências.

“A ciência se desenvolve a partir da vida; e, na vida, quer saibamos e queiramos


ou não, somos obrigados a nos comportar espontaneamente de modo ontológico”
(LUKÁCS, 1979, p.24). Com base nessa colocação, esta tendência pode ser acentua-
da, como pode também ser destruída. Através do espírito científico, Marx procura
sempre desenvolver a nível crítico as questões ontológicas que estão na base de
qualquer ciência. Quando se trata do ser social, ele assume um papel decisivo no
problema ontológico da diferença, da oposição entre fenômeno e essência. A ação
interesseira faz parte do ser social. O específico na relação entre fenômeno e essên-
cia no ser social atinge o agir interessado, e esse por sua vez, se apega em interesses
de grupos sociais, fazendo com que a ciência perca o seu papel de controle e faça
desaparecer a essência.

40
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
3

A totalidade do ser não é uma forma de pensamento, mas é a constituição


mental de que realmente existe. O ser tomado em sua totalidade não é abstrato, mas
é real e verdadeiro. O homem é primeiro um ser real, corpóreo, assentado sobre ter-
ra firme e compacta, que respira e expande todas as forças da natureza (esta é uma
concepção feuerbachiana tirada de Frederico).

do ponto de 1º. É o ser social, que existe independente do fato


vista metodoló- de que seja ou não conhecido corretamente.
Marx gico, separa dois
problemas muito 2º. É o método para captá-lo no pensamento, da
complexos: melhor maneira possível.

Quando afirmamos que a objetividade é uma propriedade primário-ontológica


de todo ente, afirma-se em consequência que o ente originário é sempre uma tota-
lidade dinâmica (força primitiva). O ente é a unidade de complexos. A totalidade de
um ente é dada sempre de modo imediato. Ex.: quando uma pessoa olha um objeto,
ela o vê em sua totalidade, não vê as particularidades do objeto em si.

Quando se atribui uma prioridade ontológica a determinada categoria com re-


lação a outra, entende-se o seguinte:

A primeira pode existir sem a segunda, enquanto o inverso é


ontologicamente impossível.

Eis aqui um problema enunciado por Marx entre ser e consciência. O ser pode
existir sem a consciência, mas a consciência não pode existir sem o ser. Portanto, a
consciência para existir precisa ter como fundamento algo que é. ”Não é a consciên-
cia dos homens que determina o seu ser; ao contrário é o seu ser social que deter-
mina sua consciência” (LUKÁCS, 1979, p.41). Nesse trecho, o mundo das formas de
consciência e seus conteúdos, não são vistos como produto da estrutura econômica,
mas da totalidade do ser social.

O sentido e o tipo das abstrações, dos experimentos ideais, são determina-


dos a partir da própria coisa, ou seja, da essência ontológica da matéria tratada. As
conclusões tiradas de um determinado objeto devem partir do que ele é em si. A
concepção ontológica de Marx sobre o ser social funda-se na unidade dialética (que
é contraditória) de lei e fato. A lei se concretiza no fato.

O homem na medida em que é homem e não apenas um ser vivo biológico,


não pode ser separado de sua totalidade social concreta. Com a crescente sociabi-
lidade da vida humana moderna, ainda há homens que alimentam a vã ilusão de

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A Unidade
Braz Cubas
3 Sociologia da Educação

poderem viver independentes da sociedade, de viverem isolados, sem compromisso


com nada. Aquilo que no trabalho e através do trabalho surge de humano baseiam-
se todos os valores. Os valores são fundados sobre os atos humanos. O mundo mo-
derno está deixando o homem cada vez mais insatisfeito, e quando nas poucas vezes
que o homem se satisfaz o mundo se torna inútil.

Apesar de toda a estrutura que o ser


social possui, é possível conhecê-lo. A
possibilidade do conhecimento não
sofre com a estrutura. Marx sempre
parte da concepção de trabalho para
explicar alguma coisa. O indivíduo é o
Fonte:http://metalurgicosdeminas.com.br/ próprio ente social. A sua manifestação
exploracao-do-trabalho-forcado-gera-lucro- de vida é uma afirmação da vida social.
de-us-150-bi-por-ano-diz-oit/. Acesso em
25/01/2016.

A relação do homem com a espécie humana é desde o início formada e me-


diatizada por categorias sociais (como trabalho, linguagem, intercâmbio etc...). Essa
relação somente se dá em nível de operação da consciência. Pelo trabalho ocorre a
objetivação social, por ele o homem muda o mundo e precisa adaptar-se ao que fez
e faz. Homem e natureza não são separados. O homem é assim um ser passivo en-
quanto ser de carências, necessidades, limitado, que precisa de um objeto exterior
para se objetivar, para se tornar algo real, material e criado pela razão. E também um
ser ativo, de movimento, que tem impulsos, de dentro para fora, que persegue obje-
tos naturais e sociais, relações com a natureza. Ser de paixões, aficionado e energi-
zado pelo objeto exterior.

3.2  Princípios Antropológicos

A questão antropológica trata da relação dos homens. A transformação da


relação do homem com a natureza acontece através do trabalho humano, e pelo
trabalho o homem se autoproduz como consciência. Para ocorrer a objetivação do
homem (como consciência) a condição de possibilidade é a natureza. O homem só
é homem (como ser de consciência) devido a possibilidade de ser um ser de relação
(com a natureza).

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Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
3

O homem como ser natural, ou como Marx o caracteriza: ser de capacidade,


atua objetivamente e não atua de outro modo, porque a objetividade faz parte de
sua determinação. Ou seja, ele cria os objetos porque é pelos objetos que irá ad-
quirir a legitimidade do trabalho. É por meio do trabalho, que o homem adquire
consciência de si, e automaticamente se diferencia dos animais. O homem age sobre
a natureza como um ser que possui capacidade de transformá-la, pelo viés do traba-
lho. Ao passo que os animais, relacionam-se com a natureza apenas para garantir a
sobrevivência ou a continuidade da espécie.

Fonte:http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.123/3519. Acesso em
25/01/2016.

O homem, entendido por Marx como ser ativo, atua sobre a natureza de forma consciente,
pois o mesmo se conhece como ser natural (ou ser de capacidade) somente diante da natu-
reza. Portanto, o seu produto (objeto) é um produto objetivo, porque apenas confirma uma
atividade também objetiva (o trabalho) e que ambas interferem na determinação do homem
como ser consciente de si e diferente dos animais. O objeto é estabelecido (criado) por uma
atividade natural (trabalho), que contém em si a virtude de transformação. Assim, o homem
é diretamente um ser da natureza. Marx o caracteriza como ser natural enquanto ser natural
vivo, dotado de poderes e faculdades naturais. Dessa forma, o homem enquanto natural
(com capacidade de transformar a natureza) é também um ser de necessidades ou um ser
que não é completo, que necessita de algo para suprir esta carência.

Essa necessidade (ou carência) é suprida pelos objetos ou pulsões que existem
fora do homem, como objetos independentes. Esses objetos que lhe são exteriores
são os objetos das suas necessidades, objetos que Marx define como essenciais e
indispensáveis para o exercício e a confirmação das suas faculdades. Justamente
porque enquanto o homem é um ser corpóreo (dotado de forças naturais) ele será
um ser de capacidade e também de necessidade, somente mediante essas duas con-
siderações é que adquirirá a legitimação de um ser natural.

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A Unidade
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3 Sociologia da Educação

3.3  A Alienação

ALIENAÇÃO: provém do Latim “alienare”, que significa pertencer a outro.

O conceito de alienação não é de criação de Marx. Ele recebeu o conceito de


Hegel e Feuerbach. Mas Marx mostrou que a gênese da alienação está instalada no
modo de produção.

É, antes de tudo, uma forma de relacionamento entre os seres humanos e,


ao mesmo tempo também, entre os homens e determinados objetos em
Alienação coisas que são exteriores. Toda essa forma de relação não é considerada
como natural, porque ela surge em um determinado momento, no processo
de desenvolvimento histórico das sociedades humanas.

Portanto, a alienação, do ponto de vista econômico social, é que o homem não


perde apenas a identidade de si mesmo, a consciência de si, mas passa a pertencer
ao objeto, à coisa, ao outro. Ou seja, o homem perde sua consciência pessoal, sua
identidade e personalidade, o que vale dizer, sua vontade é esmagada pela consciên-
cia de outro, ou pela consciência social. Além do mais, diz Marx, que a alienação é
entre a consciência de si, entre o objeto e o sujeito.

O trabalho é a forma de o homem sobreviver. O trabalho é o ato de autopro-


dução do homem, ou seja, atividade por meio da qual o homem se torna aquilo que
é como homem, segundo sua essência.

O trabalhador sofre muito para sobreviver, por-


que o salário que ele recebe para sua manuten-
ção é determinado pela luta amarga entre o capi-
talista e o trabalhador. Além disso, o trabalhador
é alienado à sua produção, ao seu trabalho, ao
outro ser humano e dessa forma à toda a socie-
Fonte:http://www.sintetel.org/novo/
dade. Há muitos tipos de alienação, mas a princi-
noticias.php?ID=3346#.VqYl81KPZfc.
pal em Marx relaciona-se à economia.
Acesso em 25/01/2016.

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Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
3

3.4  A Alienação do produto do seu trabalho

A alienação do produto do seu trabalho acontece quando o trabalho transfor-


ma-se em objeto e a apropriação do objeto manifesta-se como alienação, que quan-
to mais objetos o trabalhador produzir, tanto menos ele pode possuir e também
mais se submete ao domínio do seu produto.

O homem se objetiva no produto do seu trabalho. O trabalhador se objetiva no


que faz. A objetivação do trabalho é quando o produto do trabalho é o trabalho que
se fixou num objeto, que se transformou em algo físico. A própria objetivação está
contra o homem, pois quando o operário produz, os resultados não lhe pertencem,
fogem-lhes das mãos, é como perda, separam-se do seu criador.

O trabalhador é desapropriado do seu produto, enquanto o capitalista se


apropria do mesmo produto. O trabalhador se relaciona ao produto do seu trabalho
como a um objeto estranho, pois quanto mais o trabalhador se esgotar, maior e mais
poderoso se torna o mundo dos objetos. O trabalhador põe sua vida no objeto; po-
rém, agora ela não lhe pertence, mas pertence ao objeto, ou seja, o trabalhador vê o
seu trabalho realizado passar para o capitalismo que o asfixia.

Todo o trabalho deveria enriquecer e não empobrecer o trabalhador. A relação


que existe entre o trabalhador e o produto é uma relação de perda do objeto pro-
duzido. O produto do trabalho lhe foge de maneira sutil, deixando ao trabalhador
apenas uma quantia ‘X’ chamada salário.

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3 Sociologia da Educação

3.5  A Alienação no ato de produção

O homem é um ser de necessidades, na qual o trabalho é a sua sobrevivência.


Marx diz que a alienação no seu objeto se expressa na forma de que:

quanto mais o trabalhador produz, tanto menos há de consumir;


quanto mais valores cria, tanto mais sem valor e mais indigno se
torna; quanto mais refinado seu produto, tanto mais deforma-
do o trabalhador; quanto mais civilizado no produto tanto mais
bárbaro o trabalhador; quanto mais poderoso o trabalho, tanto
mais impotente se torna o trabalhador; quanto mais brilhante
e pleno de inteligência o trabalho, tanto mais o trabalhador di-
minui em inteligência e se torna material e servo da natureza
(Marx, Manuscritos, p.161).

Alienação

Manifesta-se essencialmente no trabalho e nas relações de produção. O trabalho em que o ho-


mem se aliena, é um trabalho de sacrifício de si mesmo, no qual o seu trabalho não é voluntário,
é algo imposto, é trabalho forçado e também não pertence a sua natureza, ou seja, a atividade
do seu trabalho não é a sua atividade espontânea.

A produção do trabalhador e a alienação implica a perda do objeto de seu produto, ou seja, o


homem produz e não se dá conta que o objeto é produto seu. Nesse caso, o homem só se sente
livre em suas funções animais (comer, beber, procriar, ou morar em casa ou se vestir), sentindo-
se como nada além de animal em suas funções humanas, isto é, no trabalho.

A alienação no objeto faz com que o ser humano fique mais pobre quanto mais trabalhar e
produzir riqueza. Portanto, a alienação do homem em seu produto significa não apenas que seu
trabalho se torna objeto, mas também que ela exista fora dele, independente dele como um
poder em si mesmo, o que significa que a vida que ele deu ao objeto agora se contrapõe como
hostil e estranha.

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Sociologia da Educação A Unidade
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3

3.6  O homem alienado de sua espécie

O homem é considerado um ser genérico no sentido de que ele comporta peran-


te si e perante a própria espécie presente, viva, um ser universal e, portanto, totalmen-
te livre. A pessoa possui uma vida genérica com base na física porque vive na natureza
inorgânica, na medida em que é o próprio corpo humano. Constitui a universalidade
porque mantém com a natureza permanente intercâmbio para não morrer.

O homem é um ser genérico, devido a sua


atividade vital que se dá de forma cons-
ciente. O trabalho, a atividade vital e a vida
produtiva é o único meio de o homem satis-
fazer a sua necessidade e também manter
sua existência física. Além disso, o homem
se manifesta como verdadeiro ser genérico
na ação sobre o mundo objetivo.

3.7  O homem alienado do seu semelhante

O que se verifica com relação do homem e ao seu trabalho, ao


produto de seu trabalho e a si mesmo, verifica-se também com
relação do homem aos outros homens, bem como ao trabalho
e ao objeto de trabalho dos outros homens. De modo geral, a
afirmação de que o homem se encontra alienado da sua vida
genérica significa que um homem está alienado dos outros, e
que cada um dos outros se encontra igualmente alienado a vida
humana (Marx, Manuscritos, p.166).

De outra forma, ainda, “a alienação do homem e, acima de tudo, a relação em


que o homem se encontra consigo mesmo, realiza-se e exprime-se primeiramente
na relação do homem aos outros homens. Assim, na relação do trabalho alienado,
cada homem olha os outros homens segundo o padrão e a relação em que ele pró-
prio, enquanto trabalhador, se encontra”. (Marx, Manuscritos, p.166)

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3 Sociologia da Educação

O ser humano é alienado do seu semelhan-


te, porque o homem se encontra alienado
da sua vida genérica. Isto significa que um
está alienado dos outros, e que cada um dos
outros se encontra igualmente alienado da
vida humana.

O homem alienado entre si - excluem-se


mutuamente entre si; o trabalhador reco-
Fonte:http://arnobiorocha.com. nhece o capitalista com o seu próprio não
br/2013/10/10/alienacao/. Acesso em – a existência, e vice-versa; cada um procura
25/01/2016. arrebatar ao outro a sua existência.

3.8  A Ideologia Alemã

A ideologia alemã assinalou o nascimento do materialismo histórico.

Marx tem sua formação cultural em vetores como: a dimensão ética recebida
de Kant e a dialética de Hegel. Ainda é fortemente influenciado por Feuerbach e seu
parceiro de carreira Engels; o surgimento do marxismo se dá dentro do movimento
operário do qual fazia parte.

Pelo fato de ter uma formação baseada em Hegel, Marx parece ter isolado al-
guns aspectos e a partir de então travado uma crítica contra todo o seu sistema.

Parte-se do pressuposto de fazer uma ligação com crítica e o meio material,


uma ligação entre a filosofia alemã e a realidade alemã. Parte-se de bases reais de
onde se pode abstrair na imaginação, sendo uma primeira condição de toda a histó-
ria humana a existência de seres vivos em que se distinguem humanos de animais,
logo que começam a produzir. A partir de então surgem relações entre os homens,
nações e passa a ocorrer uma divisão de trabalho.

A divisão de trabalho no interior de uma nação gera separação entre cidade e campo. Por
conseguinte tem-se as formas de propriedade, sendo a primeira a propriedade tribal, depois a
comunal, propriedade do Estado, e a terceira a propriedade feudal ou a dos diversos estamen-
tos, e dentro dessa tinha-se como principal a propriedade fundiária.

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Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
3

Das relações de produção entra-se em relações sociais e políticas, portanto, a


produção de ideias está intimamente ligada à atividade material ou ao comércio ma-
terial dos homens. Aparece claro aqui um pressuposto ligado à Aristóteles, em que
as repercussões ideológicas partem da vida real e não das ideias.

3.9  A história

A concepção de história marxista parece esquecer, ou então, esquece-se da di-


mensão espiritual e transcendente do homem, sendo inteirado apenas em relações
sociais. Marx tem também um pouco do conceito de historicismo idealista baseado
em Hegel e Nietszche e reconhece a ciência da história como a única ciência e que
engloba tanto a natureza quanto o mundo dos homens.

O primeiro fato histórico é a produção que permite comer, morar...; e depois a criação de no-
vas necessidades o primeiro ato histórico e cujos alemães nunca tiveram esta base materialista.
Uma outra relação que se dá é a família e da qual decorre uma “força produtiva”. Das forças
produtivas que o homem tem acesso resulta o estado social e que, por conseguinte, tem-se a
elaboração da “história dos homens”.

Dessa ordem física descobre-se a “consciência”, ou seja, o resultado da relação


que eu tenho com o que me cerca. A consciência é assim de início um produto social.
E é aqui que se toma efetivamente a divisão do trabalho (entre trabalho material e in-
telectual); a partir de então a consciência tem condições de se emancipar do mundo
e passar para a formação da teoria “pura”, teologia, filosofia, moral etc...

Porém, é preciso abolir a divisão do trabalho para que a força produtiva, o


estado social e a consciência não entrem em conflito, pois se destinam a indivíduos
diferentes. Para efeito agradável, só é possível se ocorrer simultaneamente em todos
os povos, pois não é possível vivenciar um comunismo em povos locais.

“A forma das trocas, condicionada pelas forças de produção existentes em todas as fases his-
tóricas que precedem a nossa e por sua vez as condiciona, é a sociedade civil, que tem por base
a família” (Ideologia Alemã, p.33).

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A Unidade
Braz Cubas
3 Sociologia da Educação

A história (fato), uma vez acontecida, é um processo sem volta. Pode-se per-
ceber isso em Heráclito quando afirma que não é possível banhar-se duas vezes no
mesmo rio. Nesse caso, a história, segundo Marx, tem a defesa de um determinismo
histórico, porém não rígido, se mostrando um tanto imparcial quanto a defender ou
não esse determinismo. É algo complexo, leva muito em conta.

Marx diz:

Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem de modo arbitrário, em circuns-
tâncias por eles escolhidos, mas nas circunstâncias que encontram imediatamente diante
de si, determinados por fatos e pela tradição (Lukacs, p.83).

O homem está incluso numa totalidade e tem uma relação da sua parte com o
todo e o social, não sendo, portanto, apenas um ser vivo puramente biológico. Está
incluso num complexo histórico-social.

3.9.1  Da produção da consciência

Coloca-se que os indivíduos estão submetidos a uma força que lhes é estranha
e que em última instância se revela como mercado mundial. Essa força que é impos-
ta como estranha só pode ser superada com o comunismo e por isso “os indivíduos
criam-se uns aos outros no sentido físico e moral” (Ideologia Alemã, p. 35).

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Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
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Essa concepção histórica “explica a formação das ideias segundo a prática ma-
terial” (Ideologia Alemã, p.36) e a “soma das forças produtivas, de capitais , de formas
de relações sociais, que cada indivíduo e cada geração encontram como dados exis-
tentes, constitui a base concreta da representação que os filósofos fazem do que seja
‘substância’ e ‘essência do homem’ (Ideologia Alemã, p.37).

Os alemães, porém, não usam essa concepção fazendo com que a ilusão re-
ligiosa seja a força que move as histórias, supondo que é do homem religioso que
parte toda a história.

Feuerbach

desenvolve a ideia de que o ser de um objeto ou de um homem é igualmente sua essência,


que as condições de existência, o modo de vida e a atividade determinada de uma criatura ani-
mal ou humana são aqueles em que a sua ‘essência’ se sente satisfeita (Ideologia Alemã, p.42).

Para Feuerbach a história não é vista do ponto materialista, ou seja, a realidade


e a história são para os alemães coisas separáveis, embora Feuerbach perceba o ho-
mem como “objeto sensível”, porém diferente da natureza.

Pode-se notar também que os dominantes têm o poder material e por tal
possuem também o poder espiritual; portanto entende-se aqui uma ideologia que é
dos dominadores. Possuem entre outras coisas “uma consciência e consequentemente
pensam” (Ideologia Alemã, p.48), e dominam as outras coisas. Porém há uma divisão
entre o trabalho na classe dominante entre o trabalho intelectual e o trabalho
material.

Há também uma classe que diverge e esta é a revolucionária, que no começo


surge como representante da sociedade em geral. Para fazer valer as suas ideias, a
classe dominante proclama como verdades eternas e diferentes das anteriores. En-
tretanto, há uma desvinculação das ideias e os dominadores passando assim a ser
um interesse geral ou universal como dominante.

Para se explicar isso tudo

devemos, portanto, partir dos devaneios dogmáticos e das ideias extravagantes dessa
gente, ilusão essa que explica simplesmente por sua posição prática na vida, sua profissão
e pela divisão do trabalho (Ideologia Alemã, p.54).

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3 Sociologia da Educação

3.10  Outras ideias gerais sobre o marxismo

Em 1848, Marx e Engels (1820 – 1895) escrevem o Manifesto Comunista, for-


mulando suas ideias a partir da realidade social por eles observada: de um lado o
avanço técnico, o aumento do poder do homem sobre a natureza, o enriquecimento
e o progresso; de outro e contraditoriamente, a escravização crescente da classe
operária, cada vez mais empobrecida.

O objetivo de Marx não era apenas contribuir para o desenvolvimento da ciên-


cia, mas propor uma ampla transformação política, econômica e social. Para Hegel, o
mundo é a manifestação da ideia. Marx e Engels ao contrário, dizem que a matéria é
a fonte da consciência e esta é um reflexo da matéria. Marx diz que:

A contradição é a fonte de toda a vida. Só na medida em que encerra em si uma contradi-


ção é que uma coisa se move, tem vida e atividade. Só o choque entre o positivo e o negati-
vo permite o processo de desenvolvimento e o eleva a uma fase mais elevada.

Naturalmente, Marx substituiu do pensamento de Hegel o espírito ou a ideia,


que são os elementos básicos de sua dialética, pelas relações de produção, pelos
sistemas econômicos, pelas classes sociais, ou seja, pelas condições materiais de
existência.

Marx contraria também a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” ela-


borada no período Iluminista, que diz que todos os homens são iguais política e
juridicamente, e que a liberdade e justiça eram direitos inalienáveis de todo cidadão.
Ele proclama que não existe tal igualdade natural e observa que o Liberalismo vê os
homens como átomos, como se estivessem livres das evidentes desigualdades es-
tabelecidas pela sociedade. Ele discordará de Durkheim, também, sobre o consenso,
dizendo que não existe consenso, mas sim uma eterna luta de classes.

3.11  O Manifesto Comunista

O Manifesto sugere um curso de ação para uma revolução socialista através da


tomada do poder pelos proletários. O Manifesto Comunista faz uma dura crítica ao
modo de produção capitalista e na forma como a sociedade se estruturou através
desse modo. Busca organizar o proletário como classe social capaz de reverter sua

52
Sociologia da Educação A Unidade
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3

precária situação, e descreve os vários tipos de pensamento comunista, assim como


define o objetivo e os princípios do socialismo científico.

Estudar o Manifesto Comunista e outros pontos que complementam o conteú-


do desta unidade é tarefa para ser realizada no seu ambiente virtual de aprendiza-
gem. Lá você encontrará outros textos, materiais e links para entender o assunto.

Bons estudos!

3.12  Considerações da Unidade III

É parte desta unidade a terceira teleaula. Lembre-se de assisti-la no polo e


no seu ambiente virtual de aprendizagem para complementar seus estudos. Com
isso você aprofunda a compreensão das relações sociais a partir da ótica dialética. É
sempre importante que você se pergunte: qual a relação com o cotidiano escolar? Na
plataforma você também terá disponível uma atividade para análise focada no con-
ceito de classe social, além de um fórum de dúvidas e alguns links. Assim você terá a
chance de compreender melhor os assuntos abordados até aqui.

Não se esqueça, também, de buscar novas informações, inclusive, antes de


testar seu conhecimento.

Na próxima unidade você poderá estudar algumas outras perspectivas gerais


da área de sociologia, como a compreensão do neoliberalismo, o fenômeno da glo-
balização, do consumismo via Indústria Cultural, dentre outros aspectos nessa mes-
ma direção.

Bom trabalho!

53
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
4

4 Unidade IV

Educação, Globalização, Neoliberalismo e Pós-


Modernidade

Objetivos da Unidade:

• Fazer um percurso pela educação e mostrar assim algumas possibi-


lidades de interpretação a partir da sociologia;

• Possibilitar a compreensão das diferentes relações pedagógicas a


partir da visão sociológica.

Competências e Habilidades da Unidade:

• Compreensão da educação enquanto um processo sociológico;

• Aplicação dos princípios apontados pela sociologia nos diferentes


momentos de relações educacionais e/ou pedagógicas.

4.1  Educação e Globalização ou Neoliberalismo

O título educação e globalização ou educação e neoliberalismo já de vista nos


sugere algo que transposto para o universal é muito complexo. Veja-se, primeiro,
que há uma incerteza quanto a definição se é globalização ou neoliberalismo. É isso
mesmo o que o mundo parece viver. Uma crise de incertezas ou do fim das certezas.
Se na história Marx e suas ideias fracassaram, por exemplo, não significa que a teoria
liberal de Adam Smith, criticado por Marx, esteja certa.

55
A Unidade
Braz Cubas
4 Sociologia da Educação

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Fonte:https://passeinafuvest.wordpress.

com/2015/08/21/guerra-fria/. Acesso em

25/01/2016.

Neoliberalismo Globalização

É uma fusão do modelo liberal É uma transposição dessas ideias para o universal,
com o capitalismo de manei- ou seja, para o mundo, de forma que todos adotem
ra que os princípios adotados esta política: o mercado é o controlador, ou então,
preconizam o livre mercado e tudo deve funcionar como uma empresa em que é
um estado mínimo, ou seja, uma preciso acima de tudo competitividade para sobrevi-
liberdade econômica. ver; tudo está sujeito a lei de mercado.

Pergunta-se, assim, pela educação.

Como se dá a educação através da lei do mercado?

Qual o discurso que perpassa pela educação?

Quem dita as normas e regras para a educação?

Como são os processos de avaliação da educação?

Qual a ideologia predominante?

Paulo Freire dizia que:

conscientização é o olhar mais crítico possível da realidade, que a desvela para conhecê-la
e para conhecer os mitos que enganam e que ajudam a manter a realidade da estrutura
dominante

56
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
4

Para a conscientização nada melhor do que educação e mais ainda conhecer


os mecanismos (ideologias) que perpassam a educação num meio dito globalizado. É
com essa perspectiva que se estruturou o texto a seguir. Numa primeira parte visa-se
localizar a educação no processo neoliberal e global e, em uma segunda parte, dis-
cutir a temática com maior profundidade das consequências ou interferência dessa
proposta na educação.

4.2  Globalização/Neoliberalismo

Sabe-se da vivência de uma era em que as mudanças se dão de forma repen-


tina. Tudo muda rapidamente, principalmente quando se fala em TICs (Tecnologias
da Informação e Comunicação). Enquanto escrevo este livro didático imagino que
já foram milhares as descobertas. Também milhares são as pessoas que nascem
e estão sedentas de uma formação, de um processo educativo que lhes garanta a
sobrevivência na sociedade ou no meio social. Marx e Engels já expressavam essas
visões de um novo tempo no Manifesto Comunista (1848):

Suprimiram-se todas as relações físicas, cristalizadas, com seu


cortejo de pré-conceitos e ideias antigas e veneradas; todas as
novas relações se tornam antigas, mesmo antes de se consoli-
dar. Tudo o que é solido se evapora no ar, tudo o que era sa-
grado é profano, e por fim o homem é obrigado a encarar com
serenidade suas verdadeiras condições de vida e suas relações
como espécie.

Nesse processo de mudanças muitas são as contradições que ocorrem. Segun-


do os dados das novas tecnologias, da FAO (Fundo das Nações Unidas para Alimen-
tação e Agricultura) e outras organizações, hoje é possível produzir alimentos para
12 bilhões de pessoas, porém quase 6 bilhões de pessoas passam por necessidades
alimentares e um bom grupo morre de fome a cada dia.

57
A Unidade
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4 Sociologia da Educação

Em meio a essas mudanças um fenômeno que surge é a chamada globalização.


Gaudêncio Frigotto afirma que “globalização não é algo novo e nem negativo em si
mesmo”. Da globalização são possíveis várias leituras, se bem que usa-se essa palavra
para explicar coisas variáveis ou muitas coisas. Está espalhada por toda parte. Todos
falam de globalização em textos de política, economia, literatura e muitos outros.

Para este momento explicito duas formas mais importantes. Dentre elas uma
mais linear e outra mais referencial.

Tem-se globalização como sinôni- Também perpassa um pensar de que é um


mo de progresso e desenvolvimento. processo irreversível, isto é, a ideia da ideologia
Como algo que proporciona mais in- dominante em que os sindicatos, partidos, as
tegração e menos diferenças. Tem-se próprias ONGs e outras organizações parecem
mais justiça, liberdade, mais igualdade estar impossibilitados de agir ou de criar uma
entre as partes de forma que todos barreira para conter algumas falcatruas ou de-
conjuntamente estarão evoluindo. vaneios da dita globalização.

Porém, tem-se outro lado que chamaremos de contradições e que, por sinal,
não são poucas. Vê-se então que nem tudo é tão globalizado como parece.

Do ponto de vista econômico, o capital é um fenômeno que não há como fugir, embora mais
ou menos 50% da economia do mundo é globalizada, o resto não. Escapa a isso principalmen-
te a economia, que tem a característica mais informal. Tem-se ainda a questão das línguas,
religiões, moedas, símbolos, que por mais globalizado que seja não desapareceu e nem vai
desaparecer tão logo.

58
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
4

Lembro-me aqui que algo parecido com globalização


foi o que ocorreu com o cristianismo nos primeiros sé-
culos de nosso calendário, ou seja, a concepção cristã
de mundo dominou até a Idade Média, no ocidente, e,
embora ainda existam pessoas cristãs, já há uma boa
parcela de pessoas que não baseiam mais suas exis-
tências em concepções míticas, místicas, ou religiosas.
Nesse caso, “global e local são partes mutuamente
constitutivas de um todo social contraditório”. Essas
contradições servem para mostrar que há limites e
que não há uma total globalização.

O que há na globalização é sim uma hegemonia da ideologia dominante, que


veda ou escurece muitos projetos viáveis e experiências diferentes que necessitam
ser vistas e avaliadas para se fazer notar que não existe somente a proposta vigente.
No momento, a proposta/projeto hegemônico é o neoliberalismo, que se instaurou
principalmente após a queda do murro de Berlim em meados dos anos 90. Esse
projeto neoliberal está principalmente sob o controle dos EUA, embora tem-se o G7
como emblema. É desse grupo e dos EUA que são vindas e ditadas as “normas neo-
liberais”, que na verdade são impostas basicamente aos países do terceiro mundo,
aos do sul, países em desenvolvimento ou, mais atual, às economias emergentes. As
normas fazem parte do “ajuste estrutural” que tendem a passar os países para che-
garem ao pleno desenvolvimento. Esse “ajuste” tem consequências principalmente
na educação. É sobre a educação no projeto neoliberal globalizante que tratará a
próxima análise.

4.3  E a educação?

Nos deparamos, cotidianamente, com a era da informação e o poder de se-


dução da imagem que nos leva a pensar novas estratégias, exige luta e proporciona
grandes desafios. Um desses desafios é ler o que Pierre Bourdieu chama de “Evange-
lho do Neoliberalismo”. Ou, conforme Harvey, que o

ritmo e o conteúdo da vida cotidiana tem se tornado mais efêmero e volátil, de modo que
os valores e as virtudes são da instantaneidade e da descartabilidade”. Isso tudo é propor-
cionado em última instância pelo “ajuste estrutural.

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A Unidade
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4 Sociologia da Educação

Isso é algo que vem de cima, dos dominantes, do tipo de globalização que re-
presenta uma Nova Ordem Mundial. Assim:

A educação moderna, o iluminismo, direito de liberdade e tal


não asseguram mais a possibilidade de uma escolarização que
ensine ‘valores’ (idealmente democráticos), as habilidades (ideal-
mente participativas) e a compreensão (idealmente global), mas
sim algo que convém para explicar a natureza da realidade (SIL-
VA, 1998, p.139).

Fonte:http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/questao-59-geografia.htm. Acesso em 25/01/2016.

A escola segue regras que são ditadas pelos EUA, que tem o Banco Mundial (BM) como con-
cretizador ou auxiliar para fazer acontecer a política norte-americana. O BM ou FMI tem esse
poder de intervir e ditar porque são organismos que emprestam dinheiro, financiam projetos
para os países em desenvolvimento. Em contrapartida, esses países adotam algumas políticas
como condição para o empréstimo, além dos juros. Essas políticas nem sempre são analisadas
e adotadas na íntegra e causam o chamado endividamento externo que cria mais dependência
dos países em relação ao BM e FMI.

Os projetos impostos ou programas de ajuste têm uma concepção liberal pri-


vada ou privatista que é imposta aos países subordinados, dentre eles o Brasil, e que
são um conjunto de normas, programas, projetos sob o prisma neoliberal que con-
vencionou-se chamar de Consenso de Washington (CW) do qual Herbert de Souza
(1996) faz uma crítica e escreve: “Quem governa o Brasil?” Para Souza nessa versão
globalizada o slogan adequado seria: “Basta de intermediários, o Banco Mundial para
a Presidência”.

60
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
4

Para melhor entender o programa educacional a partir do CW destacam-se


cinco eixos do mesmo:

Equilíbrio orçamentário, sobretudo mediante a redução de gastos


1
públicos.

Abertura comercial, pela redução das tarifas de importação e eliminação


2
das barreiras não-tarifárias.

Liberação financeira, por meio da reformulação das normas que


3
restringem o ingresso do capital estrangeiro.

Desregulamentação dos mercados domésticos pela eliminação dos instru-


4
mentos de intervenção do Estado, com controle de preços, incentivos etc.

5 Privatização das empresas e dos serviços públicos.

Tudo está baseado no liberalismo econômico. Temos uma interpretação da


globalização humanista em que aparece a igualdade de valores, respeito a diver-
sidade, uma visão democrática, busca de direitos humanos; tem-se também uma
interpretação economicista que conforme o CW coloca-se o neoliberalismo, direitos
econômicos, de propriedade e, principalmente, conceitos de produtividade, eficiên-
cia e “qualidade”.

Para os protagonistas do CW o que há é uma crise de eficiência, eficácia e pro-


dutividade. Tudo isso é causado porque o estado está impossibilitado de gerenciar as
políticas educacionais. Os culpados dessa situação são, acima de tudo, os sindicatos,
o estado ou o “público” já mencionado e a sociedade por que responsabiliza-se pelo
que acontece a todos. O único responsável pelo fracasso deduz-se o próprio indiví-
duo, pois é ele quem está incapacitado de competir. Os três elementos (eficiência,
eficácia e produtividade) têm o mercado como parâmetro dentro do discurso neoli-
beral. O que vale é a lógica do mercado, ou seja, a educação tem de ser privatizada, a
escola tornar-se uma empresa e o estado tem de ser mínimo. Apesar de o estado ser
mínimo é ele ainda, que na globalização, faz o papel de mediador ou intermediador
das transações que ocorrem.

Ocorre uma prevalência da lógica financeira de mercado sobre a lógica social e


educacional. São discursos instrumentais em que o válido é a lógica de mercado que
se autogesta. A educação passa para a esfera do mercado. A escola é um mercado e
o que se busca são “insumos”. Compra-se saber ensino e tudo mais. O indivíduo na
escola tem de competir, “passar por cima de outros”, numa visão mais pessimista.

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A Unidade
Braz Cubas
4 Sociologia da Educação

Vê-se então que:

a realidade educacional é ameaçadora, pois, além de tudo, as es-


colas passam a ser financiadas por corporações que funcionam
como indústrias de serviços para o capitalismo transacional e a
busca de lucro dos institutos burgueses de ‘pesquisa’ prevale-
ce na orientação da política e da prática educacional (…) (SILVA,
1998, p.88).

Fonte:http://123corujasdaestacio123.blogspot.com.br/. Acesso em 25/01/2016.

A escola nas mãos de particulares terá, segundo o discurso, mais dinheiro para implantar os
programas de qualidade total. Qualidade total já significa para alguns, ou para os “experts” que
conseguiram se destacar e ter méritos. O sucesso no mercado, o poder de competitividade fa-
zem parte da característica meritocrática. Enquanto que o indivíduo que não souber “escolher”
uma boa escola, terá queimado uma etapa e será por causa da “escolha” uma parte do seu in-
sucesso. Aqueles que souberam adquirir um bom “insumo” conseguirão um bom desempenho
em seus trabalhos, são consumidores “responsáveis” e também empreendedores.

Ressalto que o indivíduo neoliberal é sempre um consumidor e aqui um con-


sumidor de educação. Os méritos serão sempre de alguns que se “esforçam” mais e
terão seus ídolos e exemplos nos “experts”, ou indivíduos que conhecem a dinâmica
do mercado, com capacidade de competir e superar a ineficiência, ineficácia e impro-
dutividade.

Percebem-se cinco elementos de influência ao aspecto da educação, ou


tendências:

62
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
4

1 – Neoliberalismo: mercado e competição


.
2 – Nova economia institucional: escolhas
e ações de um ator supostamente ra-
cional.

3 – O que Lyotard chama de performatividad


e, isto é, seja eficaz ou desapareça
(isto é comensurável).

4 – Teoria da escolha pública.

5 – Novo gerencialismo: é a nova gerência


baseada no mercado de modos que
busca-se delinear, normalizar e instrument
alizar a conduta das pessoas a fim de
alcançar os objetivos que eles postulam como
desejáveis (Du Gay, 1996, p.61).

Pode-se dizer que são algumas tendências do neofordismo ou pós-fordismo


tendendo respectivamente a flexibilidade de mercado, privatização, individualismo
competitivo e investimentos em setores econômicos cruciais com desenvolvimento
do “capital humano”.

Está-se diante das reformas na educação num plano de que os economistas


manipulam em três citações:

Adequar os políticos educacionais ao movimento de esvaziamento das políticas de


1
bem-estar social;

Estabelecer prioridades, cortar custos, racionalizar o sistema, enfim, embeber o


2
campo educativo do campo econômico; e

Subjugar os estudos, diagnósticos e projetos educacionais a essa mesma lógica. (DE


3
TOMMASI; WARDE; HADDAD, 1996, p.11)

O princípio (filosófico) que guia a lógica do mercado parece constar de que os


mecanismos de mercado são melhores e superiores a qualquer outro quando se
trata da coordenação da atividade humana.

Esse princípio filosófico não foi, porém, testado, e o que se percebe é que as pro-
postas do BM para a educação raras vezes dão certas. Outras vezes são normas para
os outros países em desenvolvimento seguirem. Os EUA, por exemplo, não segue, de
modo que se pode considerar o nosso Brasil uma cobaia dos projetos do BM e FMI.

A educação passa a formar um “capital humano” na perspectiva neoliberal,


e, em segundo plano, um algo, ou instrumento para erradicar a pobreza. Podemos
ter consciência de que é difícil, senão impossível, separar crescimento econômico,

63
A Unidade
Braz Cubas
4 Sociologia da Educação

renda, qualidade de vida de educação, porém um crescimento “desregulado” e sem


limites, concentra ainda mais a renda nas mãos de poucos e gera empobrecimento,
exclusão e diminui a qualidade de vida da maioria. Quem poderá ter acesso (a boa
educação) são somente alguns “privilegiados”. Além de não se efetivarem as pro-
postas do BM, este não assume os danos causados e culpa-se a “mão invisível” do
mercado. Embora isso aconteça, é preciso exigir “da escola entre outras coisas uma
boa formação do ‘capital humano’ em vista de que se formem cidadãos não apenas
capazes da sobrevivência num mundo rapidamente em mudança, mas que estejam
permanentemente abertos à possibilidade de mudar a si próprios ou de serem mu-
dados” (SILVA, 1998, p.151).

Fonte:http://wikigeo.pbworks.com/w/page/36435174/Sistema%20Econ%C3%B4mico%20Capitalista.

Acesso em 25/01/2016.

O capitalismo cobre o mundo inteiro fazendo do trabalho de muitos a riqueza de poucos.


Transfere-se cada vez mais o capital das classes médias e trabalhadoras para as altas ou “es-
calões superiores”. Cabe a nós minar o projeto global da educação com novas propostas e
projetos, criando algo que seja útil para o Brasil, dando à utopia possibilidades e forma de con-
cretização. É o que Shakespeare fala de que “no próprio veneno existem remédios”. É se tornar
o que Paulo Freire chama de “construir a si mesmo e ser sujeito”. É nas palavras de Marisa V.
Costa “se emancipar através da conscientização”. É isso que a educação globalizada deve pro-
porcionar juntamente com uma visão democrática.

64
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
4

Nesse sentido,

nunca o conhecimento foi tão importante como nos dias em que


vivemos. E a tendência parece ser de que isso se tornará cada
vez mais crucial à continuidade saudável de nossas relações, de
nossos rumos. Afinal, não podemos mudar o que desconhece-
mos (SILVA, 1998, p. 451).

Assim, percebemos que o conhecimento é importante para, dentre outras coi-


sas, reconhecer que a globalização existe, seja humanista ou economicista, e que
uma nova ordem se instaura no mundo internacional. Também reconhecer que há
uma tendência da educação e das políticas sociais buscarem nos princípios liberais
os seus fundamentos filosóficos. Porém, isso é desastroso e só tendo consciência
desses fatos podemos mudar e dar novos horizontes de possibilidades à utopia.

Na noção focaultiana: “conhecer é governar”, porém “exercer o poder não sig-


nifica estar livre dele, pois o poder opera em várias direções, circula: quem narra
também é narrado” (SILVA, 1998, p. 239). É da ignorância de nossos representantes
que por vezes alguns projetos são falaciosos, pois do que vale montar um projeto
educativo sem conhecer as reais necessidades da sociedade?

Precisa-se sem dúvida, imbuirmo-nos do conhecimento das ideologias dominantes e hegemô-


nicas e miná-las, para que se tornem boas e se concretize a utopia de igualdade de valores,
justiça, liberdade, fraternidade, respeito à diversidade e tantos outros sonhos de um verdadeiro
processo de globalização que, com certeza, começa pela boa educação dos cidadãos no contex-
to global/neoliberal.

4.4  Darwinismo Social e Neoliberalismo

Há muitos anos um pensador chamado Charles Darwin ficou conhecido no


mundo intelectual por lançar, dentre outras coisas, uma nova teoria sobre a origem
do mundo, ou seja, as espécies que hoje existem não foram criadas por obra da mão
divina, mas sim foram mudando ao longo do tempo e constituindo-se na sua mais
íntima complexidade. Essa teoria está posta em seu polêmico livro “Origem das Es-
pécies” e é tida como “Teoria da Evolução”.

65
A Unidade
Braz Cubas
4 Sociologia da Educação

Vamos continuar este assunto e ainda finalizar o conteúdo da disciplina aces-


sando ao AVA. Lembre-se de estudar todo o material disponível antes de realizar as
atividades e avaliações.

Bons estudos!

4.5  Considerações da Unidade IV

É parte desta unidade a quarta teleaula. Lembre-se de assisti-la no polo e no


seu ambiente virtual de aprendizagem para complementar seus estudos. Com isso,
você aprofunda a compreensão das relações sociais e o contato com as algumas
discussões de âmbito mais geral da sociologia. Na plataforma você também terá dis-
ponível uma atividade para análise.

Lembre-se de que você pode se utilizar também do Fórum de Dúvidas para


esclarecer assuntos pertinentes à disciplina.

Leia, estude, busque informações, mesmo antes de testar o seu conhecimento.

Assim, chegamos ao final das discussões e desejo que tenhamos tido um ótimo
aprendizado.

Bom trabalho!

66
Sociologia da Educação A Unidade
Braz Cubas
4

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