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SIMON, Zoltán Boldizsár.

History begins in the future: on historical sensibility in the age of


technology. Disponível em:
https://www.academia.edu/27128018/History_Begins_in_the_Future_On_Historical_Sensibility_in
_the_Age_of_Technology
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Qual é o futuro da história? Há pelo menos duas formas de entender essa questão: primeiro,
como uma pergunta pela viabilidade e relevância do conhecimento histórico, bem como sua
capacidade de “sobreviver” aos desafios da contemporaneidade; segundo, como uma pergunta pelas
visões de futuro que atuam na produção desse mesmo conhecimento.
O texto de Zoltán privilegia o segundo sentido da questão para esclarecer o primeiro.

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O autor abre o artigo afirmando que nas sociedades ocidentais pós-1945, tornou-se um
consenso geral de que “história” (narrativa e processo) refere-se exclusivamente ao passado.
“In other words, you probably would not make any meaningful connection between artificial
intelligence and history because there has been a widespread and exclusive association between
history – understood both as historical writing and as the course of human affairs – and the past in
postwar Western culture” (p.1).
Essa afirmação pode soar estranha num primeiro momento. Haveria mesmo essa relação de
exclusividade entre história e passado? Não dizemos também, por exemplo, que o discurso de
Dilma no Senado Federal, no contexto do golpe de Estado em 2016, não foi “histórico” no sentido
preciso de que ele mirava agir mais no futuro do que no passado?

Seja como for, o ponto de Zoltán é que a partir do marco 1945, as sociedades ocidentais
teriam limitado o território conceitual do conceito de história apenas para o passado, desvinculando-
o cada vez mais do futuro. Ainda segundo o autor, essa limitação tornou problemática a própria
concepção de história como processo, “precisely because its engagement with the future” (p.2).
Para Zoltán, o conceito de história do “iluminismo” (Enlightenment) não significa apenas o
passado, mas o passado vinculado ao presente e ao futuro. Ora, é justamente essa visão de unidade
temporal entre passado, presente e futuro que teria se tornado problemática no pós-guerra. Assim, o
termo “história” deixou de ser entendido como esse todo temporal para se referir exclusivamente ao
passado – já que o futuro nos aparece cada vez mais fechado.
O artigo tem o propósito de negar esta concepção e propor uma alternativa.

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Tese principal do artigo: Na historiografia e na filosofia, surgiu um consenso de que tudo
que for relativo ao termo "história" está desde pronto separado de qualquer coisa que venha do
futuro. Ao contrário, o autor quer argumentar que não é possível nem mesmo pensar sobre a história
sem ter uma visão de futuro em primeiro lugar. Não há história sem visão de futuro (seja história-
processo, seja a escrita da história).
A história, portanto, começa do futuro.

O conceito de história anda sempre de mãos dadas com uma concepção de futuro e de
mudança. Consequentemente, as mudanças em torno do conceito de história devem ser
entendidas em relação às mudanças em torno da visão de futuro, (bem como da própria noção
de mudança).
A tese então é estruturada em dois eixos: a primeira é afirmar a relação de interdependência
entre os termos conceito de história, caráter da mudança e visão de futuro. O segundo eixo é
mostrar as transformações que, desde o pós-guerra, os dois últimos termos passaram, e delinear as
consequências disso para um novo conceito de história.
“This does not mean, however, that we must revive the concept of history demolished by postwar
criticism together with its corresponding vision of the future. It is only to say that a certain vision of the
future goes hand in hand with a certain concept of history, and that our present-day concept of history
has to tally with the vision of the future in Western societies today ” (p.2).

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Crítica às teses do presentismo (Hartog e Assmann). Para Zoltán, as teses do presentismo
confundem a orientação do futuro como tal, com uma orientação político-ideológica do futuro em
particular. Essa distinção é importante porque, no pós-guerra, os marcos de orientação de futuro
deixaram de ser fornecidos pela ideologia política para outras esferas da vida (sobretudo a tríade
armas nucleares, crise climática e tecnologia).
“Whereas the lack of political vision and the collapse of utopian political thinking is a
recurring postwar theme since the 1960s at least, our not (explicitly) political visions are thriving
and they introduce genuine novelty in our prospects for the future” (p.3).
As teses presentistas, embora críticas à situação "presentista", são elas mesmas o maior
obstáculo para a superação dessa mesma situação. Isso porque, ao afirmar a tendência do presente
para o absoluto, ela também desengaja, não motiva a ação. E principalmente, corta de saída a
possibilidade de se vislumbrar algum sentido de orientação pelo futuro nas sociedades
contemporâneas ocidentais.
Isso, como sugere o autor, é uma impossibilidade lógica.
Para o autor, a melhor forma de escapar do presentismo é simplesmente recusar/dispensar
(dismiss) a ideia de que as sociedades ocidentais vivem em um regime presentista de historicidade.
E isso porque ela torna inviável a priori qualquer tentativas de buscar pelas concepções de futuro
que estão presentes nas sociedades ocidentais contemporâneas.
Ainda para o autor, no momento em que percebemos que a orientação pelo futuro (future-
orientation) não é um assunto exclusivamente da política/ideologia, torna-se evidente o quão
implausível é o diagnóstico presentista – sucesso do gênero sci fi, por exemplo.

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Duas ressalvas:
1- Antes de prosseguir, é importante deixar claro que a intenção do artigo não é apresentar
qual é a visão de futuro das sociedades contemporâneas. Antes disso, seu objetivo é avaliar os
impactos que a orientação pelo futuro de nossa visão tecnológica (e o caráter da mudança que
ela promove) produz na sensibilidade histórica contemporânea.
As mudanças da orientação pelo futuro do iluminismo para os dias de hoje implicam a
necessidade de uma reavaliação qualitativa da maneira como estruturamos a compreensão histórica.
Essa orientação pelo futuro da nossa visão tecnológica desafia o desenvolvimento da sensibilidade
histórica que subjaz as visões de futuro do discurso político emancipatório.

2- Não se trata, conforme o autor, de afirmar que a (sua) interpretação sobre a nossa visão
tecnológica é a única visão de futuro que temos, nem que a interpretação dele é a visão dominante.
Trata-se, antes de afirmar que nossa visão tecnológica (assim como os prognósticos
ecológicos – o autor chega a mencionar o Antropoceno) é um caso paradigmático daquilo que o
autor chama de "mudança sem precedente" (unprecedented change).
E o caso mais pervasivo dessa mudança e futuro sem precedente é dado pela tecnologia –
que envolve inteligência artificial, bioengenharia, nanotecnologia, mind uploading (transferência
mental para um computador), etc.
Assim, o que o seria dominante é a percepção do caráter de mudança sem precedente dado
pela nossa visão tecnológica. Este é um aspecto central do argumento, pois aponta para a
necessidade de um novo conceito de história que possa dar conta dessa unprecedentedness de
alguns fatos contemporâneos.
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O argumento do autor não pretende separar radicalmente a tecnologia da política. Na
verdade, a visão de futuro tecnológica “está em todo lugar” (discussões públicas, academia,
laboratórios de pesquisa, cinema, literatura, etc).
Mas o que isso importa para o historiador? A resposta do autor é de que toda história começa
no futuro; e portanto, devemos considerar o conceito de história do pós-guerra à luz dessa visão de
futuro e da mudança sem precedentes – aberto pela tecnologia. Se a história começa do futuro,
então é preciso tê-lo em mente ao tratar do conceito de história.

O argumento é desenvolvido em 5 passos, comentados na sequência:

(1) Repetir a tese de que a história começa no futuro, isto é, depende uma visão de futuro;
(2) Defender a tese expondo a interdependência entre conceito de história, mudança e visão de
futuro;
(3) Dedução lógica do passo anterior, aqui o autor afirma que uma mudança na concepção de futuro
e de mudança implica uma reavaliação do conceito de história;
(4) Apresentar a visão tecnológica contemporânea a partir da noção de “mudança sem precedente”,
bem como o conceito de história correspondente (história disruptiva);
(5) Expor porque é tão importante tratar o “sem precedente” historicamente, afirmando que não
apenas a história começa no futuro, mas que todo futuro é também histórico.

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A primeira parte resumida em uma frase:
A história - a própria possibilidade da história - começa com a formulação de uma visão
sobre o futuro, isto é, com a postulação de um futuro diferente do presente e do passado.
A afirmação diz: (1) A mudança é condição sine qua para qualquer forma de história
(processo e narrativa); (2) A mudança pressupõe uma orientação para futuro dado por uma visão
que o difere em algum nível do presente e do passado; (3) Portanto, não há história sem visão de
futuro.
Com isso, a tese se contrapõe tanto às teses presentistas, quantas as do "fim da história"
(pois ambas implicam um fechamento do futuro).

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No passo 2, o autor retorna aos filósofos da história do iluminismo. “In their own respective
ways, they opened up a future that would be better than their past, and postulated a historical
process to account for all change leading to that better future” (p.7).
Em outras palavras, durante o iluminismo ainda vigorava uma visão unitária do tempo, que
impedia a história se reduzir exclusivamente ao passado. Essa visão resultou no conceito de história
processual, singular coletivo.
E mais à frente, Zoltán acrescenta: “(...) the Enlightenment meant less the actual state of
affairs and more the prospect of such enlightenment yet to be reached. It meant more the future
when things were expected to change for the better, and conversely, such change could place only
insofar as there was something like history, something like a historical process as the taking place
of such change” (p.8).
Para o autor, a formação do conceito moderno de história, a possibilidade da mudança e a
visão sobre o futuro foram inventadas como um único pacote no domínio da compreensão durante o
iluminismo. Os termos da tríade conjugaram-se e tomaram as seguintes formas próprias:

- a história tomou a forma de um desenvolvimento evolutivo de um "sujeito ontológico"


(ontological subject) - Humanidade, liberdade, razão...
- A mudança tomou a forma conceitual de estágios de um desenvolvimento durante o qual o sujeito
da mudança retém sua auto-identidade como substância de um processo histórico
- E a visão de futuro tomou a forma do cumprimento total desse desenvolvimento.

Claro que esta não era a única forma de arranjo conceitual disponível naquela época. Mas o
ponto do autor está em afirmar que os filósofos da história iluministas exibiam uma "certa
disposição" das noções interdependentes de história, mudança e futuro como sua condição
compartilhada.
Existe, portanto, uma interdependência das três noções – mas não fica claro no texto se essa
conjugação é exclusiva do iluminismo, ou se ela aconteceu em outras épocas e lugares.

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A interligação necessária entre história, mudança e visão sobre o futuro não impede, todavia,
que esses três elementos estejam abertos para inovações conceituais, isto é, podem ser entendidos
de diferentes maneiras.
A mudança conceitual em um dos termos implica a mudança nos outros dois. Assim, se a
visão de futuro mudou desde o pós-guerra, nossa noção de história e de mudança também mudaram.

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A visão de futuro contemporânea (pós-guerra) é entendida em termos de "mudança sem
precedente" – especialmente em função da nossa visão tecnológica.
E esse “sem precedente” significa: a mudança não pode ser compreendida ou narrada a
partir do conceito (iluminista) de história como desenvolvimento. O sem precedente refere-se não a
uma propriedade da mudança em si, mas a nossa percepção sobre ele.
(Ora, a percepção da Revolução Francesa não foi também sem precedente? E esse evento
não ensejou também uma série de reflexões que supostamente entrariam na lógica das filosifas
“iluministas” da história – Hegel e Kant, por exemplo?).

Essa forma da mudança não pode ser compreendida por um conceito de história como
desenvolvimento de um sujeito ao longo do tempo, simplesmente porque não há nada a partir do
qual ele poderia ter se desenvolvido.
Assim, por "mudança sem precedente" o autor entende o vir-à-existência de um sujeito
ontológico que não tem origem em um condição passada, da qual ele poderia ter surgido.

Mas então, qual o conceito de história que poderia acompanhar essa noção de mudança sem
precedente? Como dar conta da “historicidade” do “sem precedente”?
A mudança sem precedente assinala um evento disruptivo, que surge sem estar em
nenhuma continuidade.
Uma série de eventos disruptivos configura um conceito de história que engloba
(encompass) passado, presente e futuro. O autor justifica dizendo que o caráter de disruptivo está
não em uma continuidade ou desenvolvimento, mas sim no vir-à-existência de um sujeito prévio
que veio a ser por um evento disruptivo anterior.
(Pra mim não ficou claro – como a disrupção pode produzir um englobamento? A
temporalidade dessa história não seria a da mera sobreposição de agoras? Como alcançar uma
temporalidade autêntica com esse conceito de história?).
Assim, continua Zoltán, a própria noção de processo histórico deveria ser reavaliada
(abandonando a ideia de continuidade iluminista), e para isso o único caminho é abandonar o sujeito
definido do Iluminismo e configurar o processo histórico como a
sobreposição/substituição/superação (supersession) dos próprios sujeitos no curso dos assuntos
humanos.

Desse modo, o argumento que o autor defende é: A noção de história que acompanha nossa
visão de futuro da mudança sem precedente deve ser tal que seja capaz de configurar o curso dos
assuntos humanos como uma série de mudanças sem precedentes (disruptivos).
Para tentar esclarecer, o autor evoca Koselleck e sua tese sobre o conceito de História. Se o
conceito moderno-clássico de história é o de coletivo singular, o novo conceito de história seria,
melhor descrito como um "singular disruptivo" (disrupted singular).
A história é singular porque ainda postula um processo histórico ao deixar o futuro em
aberto e portanto também a mudança. Mas transforma-se em um singular disruptivo, pois a
mudança particular que vemos no futuro é sem precedentes, e o processo histórico que acompanha é
o da sobreposição/substituição (supersession) de sujeitos como séries de mudanças sem
precedentes.

Esses “eventos disruptivos”, entendidos como o motor de um novo conceito de história,


implica uma série de questões. Da forma como pretende o autor, esse novo conceito tornaria
possível compreender historicamente os resultados da bioengenharia, inteligência artificial, etc. Em
outros termos, o tema do “pós-humano” demanda uma forma de compreensão histórica que rompa
com a concepção iluminista (desenvolvimento), em direção à essa “história disruptiva”.

Não podemos compreender esses eventos disruptivos pela narração de estados de coisas
precedentes. Isso coloca um problema sério: se nós percebemos o futuro como sem precedente, o
passado não parece desempenhar nenhum papel na compreensão desses eventos.
(Trata-se, em outras palavras, da questão que coloquei antes – a fragmentação extrema do
tempo)
Para superar esse problema, é necessário refigurar essa noção de história como
desenvolvimento. Em vez disso, deve-se considerar a história como não-desenvolvimento,
transformações sem precedentes, um processo que já enreda o curso dos assuntos humanos como
uma série de mudanças sem precedentes.
E o modo de fazer essa transição seria “pensar sobre o "sem precedentes"
(unprecedentedness) como sendo o estado precedente dos assuntos humanos de tempos em tempos”
= “We can make sense of these prospects by postulating a historical process that moves along non-
developmental, unprecedented transformations, a process that already plots the course of human
affairs as a series of unprecedented changes. And the reason why we need to do so is that there is
no other way to make sense of the unprecedented as unprecedented than thinking about
unprecedentedness as being the preceding state of affairs from time to time” (p.13).
(A frase é obscura, mas no geral quer dizer que somente a sobreposição de eventos sem
precedentes anteriores poderia permitir compreender uma mudança sem precedente; ou, em outras
palavras, tornar familiar o não-familiar. Um exemplo poderia ser como os humanos reagiram a
essas tais mudanças sem precedentes [Hiroshima, Tchernóbil, etc] e como lidaram com esses
eventos, representando-os não como o desenvolvimento final de um estado de coisas anterior, mas
considerá-lo em seu caráter de disrupção).

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O autor finaliza levantando a questão: Por que é importante reconhecer historicamente
aquilo que é sem precedentes?
O autor encaminha duas respostas. A primeira afirma que as atuais “chamadas para a ação”
requerem esse tipo de reconhecimento. Mais uma vez o autor menciona a questão do Antropoceno,
como um caso paradigmático de mudança sem precedente. Ora, afirma Zoltán, representar o
Antropoceno a partir dos critérios iluministas da historiografia (isto é, contar essa história a partir de
uma continuidade) não ensejaria nenhuma chamada para a ação. Assim, em se tratando de
mudanças sem precedentes, a história/historiografia iluminista “desengaja”.
A segunda resposta reside no fato de que não há outra forma de reconhecer o "sem
precedente" como tal a não ser historicamente. O sem precedente se coloca como tal em relação a
um passado, ainda que essa relação seja de forma "negativa".
Isso, porém, desafia nossos melhores esforços de produzir sentido sobre algo. É impossível
compreender algo completamente não familiar.
Para dar sentido a algo sem precedentes, nós não podemos deixar de associá-lo com alguma
coisa que nos é familiar, a despeito do fato de que é por definição que ser "sem precedentes"
dissocia de tudo que nós conhecemos ou estamos familiarizados.
Como lidar com esse dilema acima? Como tornar familiar o completamente não familiar?
Para o autor, reunir (bring togheter) o não precedente com um estado de coisas precedente
permite a criação das condições históricas para tornar pensável/inteligível qualquer mudança sem
precedente particular, tornando o “gênero” (genus) da mudança sem precedente para ser o estado de
coisas precedente.
Isso é precisamente o que se alcança com o conceito de história como singular disruptivo.

Quando o futuro é sem precedente, o passado deve ser “sem precedente” também. Isso leva
à conclusão: não só a história começa no futuro, mas também que não existe futuro que não seja
histórico.

INTERTEXTUALIDADES

Chakrabarty.
Ambos os textos discutem os desafios que a compreensão ou sensibilidade histórica tem que
enfrentar na contemporaneidade. O ponto de partida de ambos está em afirmar que a compreensão
ou sensibilidade histórica moderna revelou-se incapaz de responder a esses desafios, o que implica
a necessidade de buscar outras formas de estruturar essa compreensão/sensibilidade.
Assim, ambos os autores destacam que o conceito moderno de história estava sustentando
em uma continuidade temporal que ligava passado, presente e futuro. Baseava-se numa noção de
desenvolvimento, e exigia por isso uma forma narrativa para dar sentido ao processo histórico. A
própria noção de história como processo se sustentava nessas premissas.
Assim, o ponto dos autores é afirmar que esse modelo de compreensão e sensibilidade
histórica não se sustenta mais, graças a novas balizas de orientação futura fornecidas pela crise
climática (Chakrabarty) e pela tecnologia (Zoltán).
Mas a partir desse ponto, as diferenças entre os autores começam a surgir (fruto, em parte,
do próprio aspecto do futuro discutido por cada um).
De acordo com Chakrabarty, a crise climática seria uma evidência de que vivemos num
presente alargado, e desvinculado de qualquer visão sobre o passado e o futuro. Este último, por sua
vez, estaria tão afastado que já não interfere mais na nossa sensibilidade histórica. Nas palavras do
autor, a crise climática precipitou “um senso do presente que separa o futuro do passado ao colocar
tal futuro além do alcance da sensibilidade histórica” (p.3).
Ora, esta é justamente a posição que Zoltán quer enfrentar no seu artigo. Para ele, toda
história começa do futuro; e a nossa visão de futuro (incluindo o Antropoceno) interfere sim na
nossa sensibilidade histórica (subtítulo do seu artigo), cabendo, porém, refigurar o modo como
entendemos essa sensibilidade.

Hannah Arendt (A condição humana - prefácio)


O prefácio de A condição humana é aberto com uma reflexão sobre o lançamento do
Sputnik e os impactos causados por esta e outros progressos da ciência e da técnica sobre a
condição humana.
Assim, poderíamos pensar esse texto de Arendt pela perspectiva de uma história disruptiva?
Mas o que significaria isso? Uma possibilidade é pensar esse texto como um reflexo (e reflexão) de
eventos disruptivos, eles mesmos dispostos no próprio texto como elementos sobrepostos.
Além disso, é interessante notar que, no final do prefácio, Arendt admite (de maneira muito
pertinente) uma lacuna não preenchida pelo livro:
“Contudo, a era moderna não coincide com o mundo moderno”. Cientificamente, a era moderna
começou no século XVII e terminou no limiar do século XX; politicamente, o mundo moderno em
que vivemos surgiu com as primeiras explosões atômicas. Não discuto este mundo moderno que
constitui o fundo sobre o qual este livro foi escrito” (A condição humana, p.14, grifo meu).

Se nos propormos a preencher essa lacuna, a direção seria historicizar o próprio texto. Como
proceder pelo caminho da “história disruptiva” proposta por Zoltán?

OBS: Este texto tem muitas passagens sugestivas

Hayden White
Os eventos disruptivos que colocam em xeque a compreensão e a sensibilidade histórica
herdadas do século XIX poderiam ser entendidos como exemplos de um “evento modernista”?
É possível identificar um aspecto de proximidade e afastamento. Por um lado, os eventos
disruptivos da tecnologia demandam novas formas de compreensão que não são fornecidos pela
concepção de história do século XIX. Elas desafiam, por exemplo, a estrutura tradicional da
narrativa com começo meio e fim, já que elas assumem o caráter de “sem precedentes”.
Uma sugestão (que Zoltán não chega a apresentar) seria seguir a proposta de White, qual
seja, buscar outras formas de representação além do romance realista oitocentista.
Por outro lado, existe também uma certa discordância de Zoltán com relação às teses de
White. Isso porque, para o historiador húngaro, White continua acreditando na noção de história
como desenvolvimento – como é o caso da noção de passados práticos, que se oporia ao passado
histórico justamente por “religar” passado, presente e futuro.
Além disso, o próprio diagnóstico do que foi a historiografia do século XIX de cada um é
radicalmente diferente. White considera que a formação da ciência histórica demandou uma
separação do passado frente ao presente e futuro, conformando um ideal de objetividade no qual
esse passado deveria ser estudado como um fim em si mesmo. Toda sua crítica à imaginação
histórica depende dessa caracterização.
Já para Zoltán, ao contrário, a historiografia do século XIX era baseada numa visão de
continuidade entre as três instâncias do tempo. O exemplo mais notável é o das histórias nacionais,
em que o “ponto final” residia não no presente, mas no futuro; não como uma simples descrição de
fatos passados que resultaram no presente, mas sim de prover orientações morais para o futuro.

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